(...) Eu acho que foi meu sofrimento... Minha infância... Mas toda vida foi assim... No interior mesmo, lá em São Gonçalo, a gente tinha que vender na rua pro pessoal... Eu tinha cinco anos e saía sexta-feira pra vender aqueles charutos pra minha prima, que me criou... Quando eu voltava... A gente passava nos matos assim, era mato, interior, tinha plantação... Aí tinha aquelas senhoras na porta... “Ô Lalinha, vá vender charuto pra mim que eu estou precisando comprar café e açúcar” e eu: “Ô, tia Antônia, numa hora dessas?” Aí eu voltava e ia vender pra aquelas criaturas... Voltava... Minha prima me batia, batia, batia mesmo, de cinta, e eu ficava toda marcada, me xingava... Mas eu nunca deixei de fazer não... Nunca, nunca... Aqui eu comecei a ter filhos... Aì um dia fazia coisa... Quando a vizinha pedia, eu carregava, enchia o tonel dela, lavava roupa... Mesma coisa ela fazia pra mim.. Deus quer que a gente faça, a gente tem que fazer... Por que eu vou te ajudar? “Você não acha chato não?” eu digo: “Não...” O bem que a gente faz pras pessoas... Não foi pra aquela pessoa não, foi pra nós mesmos.. A ajuda é pra nós mesmos...Porque a pessoa que não ajuda: “Ah, que nada, não vou ajudar aquele ali não...”. Às vezes a pessoa precisa cair e precisa de um irmão pra levantar... Às vezes a pessoa cai “Que nada, deixa ele lá porque eu não gosto de ajudar as pessoas...” Não é assim... Queira ou não queira... Eu não tenho inimigo, graças a Deus... E é isso, Deus me amou... Deus ama a gente assim... Eu sempre ensino meus filhos... Tem que conversar e perdoar... Minha neta aí, de manhã chegou assim.. Eu digo: “Minha filha, não é assim...” Deus é amor, não tem que guardar ódio... Tem que fazer de conta que não aconteceu e vai tratando aquela pessoa normal...