P - Boa tarde, Rose. R - Boa tarde. P - Obrigada por você ter vindo. R - Por nada. P - Você poderia falar o seu nome completo, data e local de nascimento? R - Meu nome é Rosivana Maria Rossi Gonçalves; eu nasci em Elias Fausto [SP], no dia 22 de junho de 1963. P - Rose, qual a sua função na Tetra Pak? R - Meu cargo é analista de materiais. P - Você poderia falar o nome dos seus pais? R - Meu pai chama-se Antônio Rossi; minha mãe, Doraci Bérgamo Rossi. P - Eles nasceram em Elias Fausto também? R - Nasceram em Elias Fausto. Meu pai é falecido, só tenho minha mãe. P - E qual a atividade deles? R - Meu pai tinha lavoura de tomates em uma área pequena e trazia-os para São Paulo, no Ceasa [Centrais de Abastecimento S.A.]. Minha mãe, quando ele era vivo, era doméstica; depois que todos os filhos casaram-se, ela resolveu trabalhar - está trabalhando até hoje na Prefeitura de Elias Fausto; é aposentada, mas também trabalha. P - Você tem irmãos? R - Tenho mais quatro irmãos – comigo, somos em cinco. P - Você poderia falar o nome deles e sua atividade? R - O mais velho chama-se Edson Antonio Rossi e tem uma loja em Elias Fausto - uma loja de diversos: calçados, roupas... Como a cidade é pequenininha, lá vende de tudo. O outro chama-se Rosivaldo Rossi e trabalha com caminhão; depois sou eu, Rosivana; tem a Regiane, que trabalha com o marido em um escritório de contabilidade; e tem a caçula, que se chama Rosemeire e é doméstica. P - E todos moram em Elias Fausto? R - Não. As três irmãs em Capivari [SP] e os dois irmãos em Elias Fausto. P - Rose, Elias Fausto é uma cidade que fica próxima de onde? R - De Monte Mor [SP] e de Capivari - é uma cidade que fica no meio de Capivari e Monte Mor; é uma cidade bem pequenininha, com 20 mil habitantes. Eu nasci e morei lá por 25 anos. P - E é uma cidade que funciona através de agricultura? R - O forte dela é a agricultura. Como vieram muitos japoneses morar em...
Continuar leituraP - Boa tarde, Rose. R - Boa tarde. P - Obrigada por você ter vindo. R - Por nada. P - Você poderia falar o seu nome completo, data e local de nascimento? R - Meu nome é Rosivana Maria Rossi Gonçalves; eu nasci em Elias Fausto [SP], no dia 22 de junho de 1963. P - Rose, qual a sua função na Tetra Pak? R - Meu cargo é analista de materiais. P - Você poderia falar o nome dos seus pais? R - Meu pai chama-se Antônio Rossi; minha mãe, Doraci Bérgamo Rossi. P - Eles nasceram em Elias Fausto também? R - Nasceram em Elias Fausto. Meu pai é falecido, só tenho minha mãe. P - E qual a atividade deles? R - Meu pai tinha lavoura de tomates em uma área pequena e trazia-os para São Paulo, no Ceasa [Centrais de Abastecimento S.A.]. Minha mãe, quando ele era vivo, era doméstica; depois que todos os filhos casaram-se, ela resolveu trabalhar - está trabalhando até hoje na Prefeitura de Elias Fausto; é aposentada, mas também trabalha. P - Você tem irmãos? R - Tenho mais quatro irmãos – comigo, somos em cinco. P - Você poderia falar o nome deles e sua atividade? R - O mais velho chama-se Edson Antonio Rossi e tem uma loja em Elias Fausto - uma loja de diversos: calçados, roupas... Como a cidade é pequenininha, lá vende de tudo. O outro chama-se Rosivaldo Rossi e trabalha com caminhão; depois sou eu, Rosivana; tem a Regiane, que trabalha com o marido em um escritório de contabilidade; e tem a caçula, que se chama Rosemeire e é doméstica. P - E todos moram em Elias Fausto? R - Não. As três irmãs em Capivari [SP] e os dois irmãos em Elias Fausto. P - Rose, Elias Fausto é uma cidade que fica próxima de onde? R - De Monte Mor [SP] e de Capivari - é uma cidade que fica no meio de Capivari e Monte Mor; é uma cidade bem pequenininha, com 20 mil habitantes. Eu nasci e morei lá por 25 anos. P - E é uma cidade que funciona através de agricultura? R - O forte dela é a agricultura. Como vieram muitos japoneses morar em Elias Fausto, a lavoura foi o auge - tomate, pimentão, tem de tudo. A lavoura é muito grande. Depois começaram a vir as indústrias, mas indústrias pequenas; hoje ela tem pouca coisa de indústria - não sei quantas, mas pouca coisa. E as pessoas realmente saem de lá para trabalhar e estudar, como foi o meu caso. (risos) P - Quando você era criança, no tempo em que você morou lá, o seu pai era agricultor e trabalhava com tomate? R - Isso. P - Vocês moravam na área rural ou no centro? R - Na cidade. P - E como era a cidade? Conta um pouquinho o que vocês faziam. R - Até hoje a minha mãe mora na mesma rua, desde que eu nasci. No começo eles tinham uma padaria, o meu pai e minha mãe, quando se casaram; quando o meu irmão mais velho nasceu, eles venderam-na e foram morar numa casa perto da igreja - só tem uma igreja em Elias Fausto. Depois, com os outros irmãos, nós moramos numa rua onde, até hoje, minha mãe mora. Não tinha asfalto, era uma cidade bem pequenininha mesmo. O costume era reunir os vizinhos para festa junina, tudo quanto era festa: reuniam-se os vizinhos, fazia-se fogueira na rua, andava-se de bicicleta. O quintal da minha mãe era de terra, então ela fazia tudo para brincarmos no quintal - fazia boneca de pano, carrinho para o meu irmão, essas coisas de antigamente que hoje não existe mais isso, porque é tudo comprado. A nossa infância foi muito boa; tinha bastante criança dentro da casa da minha mãe, vinha de tudo quanto é lugar para brincar. Somos em cinco e a minha mãe, sozinha - porque o meu pai viajava para trazer tomate para o Ceasa -, cuidava dos filhos e mais dos que estavam brincando lá. Eu gostava muito de aprender coisas: na minha infância, eu gostava de aprender a costurar, a tocar piano, violão, datilografia -antigamente não existia computador, era máquina manual. Foi muito boa a minha infância. P - Você sempre estudou em Elias Fausto? R - Sim. Depois, na faculdade, eu saí de Elias Fausto e fui para Campinas [SP], para estudar. P - Com quantos anos você foi para Campinas? R - Eu tinha 17 anos quando eu passei, porque eu faço em junho; eu terminei o colegial com 17 anos, prestei o vestibular para a PUC [Pontifícia Universidade Católica] e passei. Completei 18 anos em junho, mas com 17 anos eu fui estudar fora. P - E você foi morar em Campinas? R - Não, eu morava em Elias Fausto e estudava em Campinas. P - Você ia todos os dias? R - Todos os dias eu viajava. Com 18 anos eu fui trabalhar em Monte Mor, em uma empresa - até então, eu trabalhava em um escritório de contabilidade, em Elias Fausto. P - Qual foi o seu primeiro trabalho? R - O meu primeiro trabalho foi na padaria que os meus pais foram donos – eles não eram mais, mas com 13 anos eu fui trabalhar nessa padaria. O dono da padaria tinha um escritório de contabilidade e convidou-me para trabalhar; eu trabalhei quatro anos no escritório de contabilidade e fui fazer faculdade. Como era muito difícil, com o dinheiro que eu ganhava no escritório, eu pagava a minha faculdade. E faltava o dinheiro. Eu falei: “Não, eu quero trabalhar em um outro lugar para ganhar mais e acabar de pagar a minha faculdade”. Então eu fui trabalhar em uma loja – em uma fábrica de móveis - em Monte Mor, aos 18 anos. P - Você foi trabalhar na fábrica em contabilidade também? R - Eu trabalhava na parte de contabilidade e estudava à noite, em Campinas - eu chegava em casa todos os dias à uma hora da manhã. P - Nossa. R - Acordava cedo, ia para o serviço e depois para a escola. P - E isso de ônibus ou de carro? R - Tudo de ônibus. P - E qual era o nome dessa fábrica de móveis em Monte Mor? R - Montemóveis, mas hoje não existe mais essa fábrica. P - Quando você entrou na faculdade, você foi fazer qual curso? R - Economia. P - Você sempre gostou dessa área? R - Da área contábil sempre gostei. Eu fui fazer a faculdade e trabalhava em Monte Mor, mas eu não aguentava mais estudar e tranquei a matrícula, em Campinas. Eu falei: “Vou trancar a matrícula.” Tranquei a matrícula na PUC e saí de férias desta empresa, da Montemóveis. Eu falei: “Vou transferir o curso para uma cidade que seja mais perto de Elias Fausto e que seja menos para pagar”. Fui para Capivari, porque meu irmão tinha se formado em Administração de Empresas, e transferi o meu curso para lá. Quando eu tranquei a matrícula - eu estava na Montemóvel -, caiu a ponte por onde íamos para a rodoviária porque deu uma chuva muito forte e não tinha como irmos para Monte Mor pegar o ônibus. A minha mãe vinha com o carro e levava-me até a rodoviária, mas tinha que dar a volta e passar na frente da Tetra Pak – até então eu não conhecia a Tetra Pak. Eu falei para a minha mãe: “Mãe, acho que eu poderia fazer uma entrevista nessa empresa, não? Eu não aguento mais trabalhar nessa Montemóveis – ganha-se tão pouco, não dá nem para pagar a faculdade.” Nós íamos para a escola de ônibus de estudante, para Campinas; conversa com um, conversa com outro e eu conheci a Odete, que trabalhava na Tetra Pak. Conversando com ela, eu falei: “Não estão precisando de ninguém para trabalhar na Tetra Pak?” Ela falou: “Nossa, que coincidência Tem uma moça que pediu a conta da Tetra Pak e eu não tenho ninguém para fazer o serviço.” Eu falei: “Mas o serviço qual é?” “É cardexista”. Eu falei: “Mas o que é isso?”. Ela falou: “É controle de entrada e saída de materiais.” Eu falei: “Eu não conheço... Só conheço a parte de contabilidade.” Ela falou: “Você não quer mandar o seu currículo?” “Mando.” Ela levou o meu currículo - naquela época, datilografado - e a Ana Maria, do RH, chamou-me para fazer um teste; a Ana Maria estudava em Capivari, em Administração de Empresas - e eu já estava estudando em Capivari. Ela chamou-me para fazer o teste - só tinha eu de mulher, o resto era tudo para produção -; fizemos o teste e ela chamou-me para fazer o teste de datilografia. Fui embora para faculdade. Quando veio o resultado, eu não tinha passado. Falei: “Tudo bem, não tem probrema.” No outro dia, ela foi para a faculdade, à noite, encontrou-me e falou: “Rose, você pode estar na Tetra Pak amanhã?” Eu falei: “O que aconteceu?” “Eles estão te chamando.” Eu falei: “Está bem, eu vou” - eu estava de férias. Fui. O chefe chamava-se Claudionor Edélcio Martins, da área de Planejamento; ele falou: “É possível você começar amanhã na Tetra Pak?” “Posso começar, eu estou de férias - eu peço a conta do meu serviço” - porque a empresa estava à falência. Fui na empresa, pedi a conta, eles deram a baixa na carteira e eu fui trabalhar na Tetra Pak. P - Em que ano foi isso? R - Em 1983. P - Foi tudo muito rápido. R - Foi tudo muito rápido. Foi uma coisa que, até então, parecia um sonho, porque eu queria trabalhar em uma empresa grande. Eu fiz o teste e não passei; de repente, ela fala: “Rose, o emprego é seu porque a menina que foi chamada não vai ficar, outra empresa chamou-a.” Eu falei: “Só que eu não conheço nada sobre cardex” “Não tem problema.” Era uma caixa desse tamanho - eram umas requisições, notas fiscais - até hoje são notas fiscais para dar entrada. E era um armário desse tamanho, cheio de fichas, que se chamavam cardex; cada fornecedor tinha uma ficha e cada produto era uma ficha. Eu tinha que escrever todas as notas fiscais e dar baixa em todas as requisições. O Izidoro foi ensinar-me a trabalhar no cardex - como eu não sabia nada, ele berrava comigo e eu chorava, porque eu não sabia fazer nada do serviço. Eu trabalhava de sábado, domingo, feriado: “Você tem que fazer isso urgente São três meses Nós temos que fazer o custo para a contabilidade” Eu não sabia nem o que era custo de contabilidade; foi uma loucura fazer todo aquele trabalho sem conhecer nada. P - Foi sofrido o começo. R - Foi sofrido, com o Izidoro falando: “Você não sabe fazer Tem que fazer rápido” Era engraçado. P - E era tudo manual? R - Tudo manual. E um armário gigante, cheio de fichas - eu ficava perdida nas fichas de fornecedores. Era muito engraçado. P - Como foi para você vir de uma fábrica de móveis para a Tetra Pak, que era completamente diferente, acredito que bem maior ? Como é que você se sentiu? R - Foi um susto muito grande, chorava todos os dias. Eu falava: “Eu não vou trabalhar mais nessa empresa” Minha mãe falava: “Você vai. Deixa que o Izidoro que fale, deixe, ele já se acostuma...” – eu tinha 19 anos, nunca tinha trabalhado em uma empresa grande e vinha de uma cidade pequenininha... (risos) Mas meu Deus, era só sofrimento Mas fui, acostumei-me com a pessoa, peguei o jeito do serviço e comecei a fazer, depois de um mês, tudo certinho - mas foi muita escrita; só depois é que veio o computador, em 1988. P - Só voltando um pouquinho: como era a Tetra Pak quando você entrou? Porque ela ainda era muito recente na região. R - Ela começou em 1978 e eu entrei em 1983. Era bem pequenininha, uma empresa que você conhecia todas as pessoas - o nome e o apelido. Eu trabalhava em uma sala onde uma janela dava para uma máquina laminadora; na minha sala tinha os supervisores de produção e o gerente de controle de qualidade. Tinha um corredor, que era a sala de planejamento, onde ficava o meu chefe e o pessoal que fazia a área de Planejamento - a Odete, o Izidoro e o Euzias, que hoje não trabalha mais lá. A Produção era uma impressora, uma laminadora e uma cortadeira, e não existia telefone dentro da fábrica - todas as ligações de produção era eu quem atendia. Às vezes, uma pessoa ligava: “Quero falar com tal pessoa” - era apelido, mas eu já sabia - e eu ia chamar a pessoa. Hoje está muito mudado, muito grande, mas era muito gostoso trabalhar naquela época, porque todo mundo era unido, sentávamos na hora do almoço e conversávamos. O restaurante era na entrada da Tetra Pak, onde hoje é o escritório, e o pessoal que fazia a comida espremia a laranja, espremia o limão – era suco mesmo; o pessoal que servia a comida sentava-se conosco para almoçar, então era muito gostoso. Na recepção tinha o telex, que era uma máquina gigante; fazia-se fila para passar telex, com aquelas fitas – digitava-se, saíam aquelas fitas que você tinha que passar e só dava ocupado; você ficava horas passando um telex P - Era muito difícil. R - Era muito difícil. Tinha máquinas para fazer uns controles, um absurdo - umas máquinas gigantes que não tinham nada a ver Mas era gostoso trabalhar com 200 pessoas, era muito bom. P - Era muito pequeno, certo? R - Pequenininha. P - E era muito novo ainda esse tipo de embalagem. R - Ninguém conhecia esse tipo de embalagem porque muito poucos tinham condições de comprar uma embalagem desse tipo, era muito caro – hoje, não, é mais acessível. Antes era complicado, porque o pessoal comprava leite do leiteiro, não iam comprar de caixinha; imagina se alguma mãe ia comprar suco de caixinha Para colocar na cabeça das pessoas que a embalagem era uma coisa boa foi um pouco difícil; saía mais para o Estado de São Paulo, não para o interior - no interior você não via embalagem da Tetra Pak, porque ninguém queria comprar.P - E como foi isso em Monte Mor? R - Na cidade de Monte Mor eu não sei como foi que o povo enfrentou essa realidade da caixinha longa vida porque nós quase não participava da cidade, ficava fora. Mas eu acho que como Elias Fausto, Montemor e Capivari, que são cidades perto, não se comprava a embalagem; acho que nenhum supermercado - antigamente não era supermercado, chamava-se mercado - comprava a caixinha. Acho que devido a muitas pessoas trabalharem na empresa e conversarem com os outros, além dos clientes, que foram trazendo amostras para os mercado, é que começou a divulgação da caixinha. P - E você acha que a Tetra Pak contribuiu para Monte Mor desenvolver-se? R - Bastante. Eu não sei se ela foi uma das primeiras em Monte Mor, mas ela contribuiu bastante para a cidade e para a região – assim como eu, que não sou de Monte Mor mas de uma cidade vizinha, muitas pessoas que começaram a trabalhar ali vieram de cidades próximas. Ela é uma multinacional que veio para uma cidade pequena, próxima de outras cidades pequenas - então deve ter contribuído muito.P - Você é casada? R - Sou. P - Você tem filhos? R - Tenho uma filha de 15 anos. P - Você poderia falar o nome do seu marido, sua atividade e o nome da sua filha? R - Meu marido chama-se Vanderlei etrabalha na prefeitura de Capivari, no Departamento de Água; minha filha chama-se Mayara, tem 15 anos e é estudante. Eu formei minha família trabalhando na Tetra Pak. (risos) P - Você entrou como cardexista. Quanto tempo você ficou nessa função? R - Até hoje eu sou cardexista, só mudou o nome - chama-se Entrada e Saída de Mercadorias, mas é o mesmo serviço, entao não mudei de função. O que acontecia antes é que eu fazia o cardex, ajudava o pessoal no controle de qualidade e o pessoal na produção. Antigamente existia a função de secretária, então eu fazia um pouquinho de tudo; quando a Tetra Pak foi crescendo, eu continuei nessa mesma função, de entrada e saída de mercadoria para a produção - com a evolução do computador, continuou o mesmo jeito de fazer a entrada e saída. O que aconteceu é que como a Tetra Pak cresceu muito, não tinha mais como apoiar uma outra área, você só fazia a sua função. Hoje eu estou nessa função, só que eu trabalho na área de matéria-prima: nós temos o armazém, que recebe a matéria-prima e entrega para a produção. Nós trabalhamos com uma equipe muito grande de empilhadeiristas, apesar de ser pequeno o número de pessoas no escritório do departamento; nós tomamos conta de toda essa área, além de fazer todo recebimento no computador, a entrada e saída, tomamos conta de 19 empilhadeiristas. P - Nossa, é bastante coisa. (risos) R - Bastante coisa. Mas a função sempre foi a mesma, não alterou em nada. P - O seu cotidiano, quando você começou, qual era? R - Era fazer as fichas de entrada e saída, fazer a parte de secretária do controle de qualidade e secretária da produção. P - E o Izidoro era seu chefe? R - O Izidoro ensinou-me o serviço - ele planejava as ordens de produção para entrar nas máquinas -, mas o meu chefe era o gerente, o Claudionor Edélcio Martins. Como não tinha ninguém para ensinar-me o serviço, o Izidoro teve que me ensinar; aprendi tudo o que eu sei hoje a ele. P - Ele está desculpado então? R - Ele está desculpado. (risos) P - Comparando o seu cotidiano de hoje com o do passado, ele mudou? R - Bastante. Eu não sou líder do departamento, mas todos os empilhadeiristas dependem de uma pessoa para ajudar, que sou eu. Antes não tinha essa do pessoal: “Rose, eu preciso de tal coisa; Rose, está acontecendo isso na produção; Rose, estourou um saco de polietileno; Rose, estourei uma bobina.” Hoje é bem diferente de quando eu entrei, muito diferente. P - O seu cargo tem outro nome, não é mais cardexista. R - Hoje eu sou analista de materiais. Era cardexista; passou a ser secretária; depois, a assistente; por fim, passou a ser analista. P - O que mudou mais nessa trajetória? R - O que mudou muito foi o sistema na Tetra Pak: em 2003, nós passamos a ter o SAP [Systems Applications and Products]. Foi como se eu tivesse saído da Tetra Pak em 2002 e voltado em 2003, porque tudo o que eu sabia eu tive que apagar, é totalmente diferente o SAP do antigo sistema. Em 2003, quando começou o SAP, o medo foi muito grande - há 20 anos você conhecia aquele serviço e ter que enfrentar um serviço novo dá um medo muito grande, do começo até a adaptação. Eu falei: “Acho que eu não vou me adaptar a esse tipo de serviço. Bom, tudo bem...” Convidaram-me então para trabalhar na matéria-prima - até então eu trabalhava no Planejamento -, mas fazendo a mesma função: “Você quer trabalhar na matéria-prima com esse novo sistema? É melhor você estar no local da entrada do que estar no local de fora.” Eu aceitei ir trabalhar na matéria-prima fazendo a mesma função - só que ganhei mais funções. Mas eu gosto do que eu faço. P - Além do sistema do SAP, existem outros sistemas de integração entre as áreas? R - O SAP é o único sistema integrado, porque engloba a contabilidade, a matéria-prima, a expedição, a parte de contas a receber e contas a pagar, a tesouraria, o recebimento fiscal - englobou tudo. Fora isso, nós temos um sistema integrado para a parte de meio-ambiente, de segurança e ISO [International Standards Organization], mas é um sistema onde você coloca os documentos da sua área - como você empilha o material, por exemplo. É um procedimento, diferente do SAP. P - Você citou o ISO. Mudou do começo em relação a hoje, que se prima muito mais pela qualidade e tem-se mais sistemas de qualidade? R - Antigamente a pressão era menor, porque você não tinha tudo isso documentado: como se faz um controle numa impressão? - não tinha isso documentado; como se faz um empilhamento de bobinas? - não tinha isso documentado. O pessoal trabalhava sem pressão nenhuma, quer dizer, pressão no sentido de “através do sistema, você tem que fazer isso”. Sobre o controle de qualidade dos produtos, sempre foi muito bem controlado, mesmo não tendo o ISO; eu acho que a perda de materiais, em geral, era maior, porque como não se tinha muitos detalhes, você perdia muito mais material em máquina – hoje, a perda é menor. Temos a parte do PRS [Planta de Resíduos Sólidos] dentro da Tetra Pak, que é um departamento de onde não sai nada da Tetra Pak sem ser todo picotado; antigamente, saíam pedaços de bobinas impressas de um cliente, por exemplo - às vezes, o cliente nem tinha colocado o produto no supermercado e já estava exposto em algum lugar, porque fazia-se aqueles ranchos de tomate com o material. A Tetra Pak vendia esse material impresso e faziam-se aqueles ranchos para tomate; passava algum cliente e falava: “Mas como é que a minha embalagem está à vista para todo mundo?” Isso fazia com que os clientes fossem ficando descontentesm então parou. O surgimento do reciclado foi a melhor coisa que aconteceu, porque a embalagem pode ser reciclada e o material que se perde dentro da produção é todo picotado na Tetra Pak. Não sai mais para serem colocados de enfeite - o pessoal gostava de fazer enfeite com a impressão dos clientes. Mas sobre antes e hoje, hoje é muito documento, antes não existia. P - Você acha que facilitou ou você teve que se adaptar mais ao seu serviço? R - A adaptação teve que ser maior, por serem documentos; não que você faça o trabalho só olhando documentos, mas você tem que ter sempre os documentos atualizados - é mais burocrático. Mas eu acho que tem que ter documentos, porque se você vai ter uma auditoria, o que você vai mostrar para ela é um documento. P - E a matéria-prima da embalagem vem de onde e fica onde até chegar na parte da produção? Você saberia falar sobre isso? R - Sim, é a minha área. A matéria-prima da Tetra Pak vem de vários locais: o principal, que é o papel virgem, vem da Klabin, de Telemaco Borba, no Paraná –é nosso único fornecedor -; ele vem em bobinas, é descarregado no armazém de matérias-primas – onde eu trabalho - e é locado no que hoje chamamos de bins, que são ruas estipuladas para as matérias-primas, para os papéis. Temos também o alumínio, que vem da Alcoa, de Pernambuco - também nosso único fornecedor. E temos o filme, as tintas. Nossos fornecedores são muito específicos, não é de qualquer fornecedor que eu vou comprar matéria-prima para a Tetra Pak. O armazém é todo dividido por áreas - nessa área eu coloco o filme, nessa área eu coloco o alumínio. O SAP facilitou muito isso, porque toda matéria-prima principal eu escaneio, bobina por bobina, para alocar na sua rua; se eu for hoje no sistema, eu sei que eu tenho o filme na rua tal. Depois, eu faço o processo do lançamento da nota. P - E antes isso era feito como? R - Isso era tudo manual, alocava-se em qualquer lugar; quando a contabilidade tinha que fazer o inventário do armazém de matérias-primas, que era uma vez por ano, demorava-se de quatro a cinco dias – hoje, você faz em uma hora o armazém inteiro. Antes não se tinha locação de nada; hoje, está muito mais simples trabalhar - o SAP simplificou muito. P - E a relação com os fornecedores? Você acha que o fato da Tetra Pak modernizar os sistemas e modernizar sua parte interna faz com que os fornecedores também tenham que correr atrás do prejuízo para alcançá-la? R - Sim, eles têm que ser muito parceiros com a Tetra Pak. Por exemplo, eles têm que trazer o produto com a especificação correta – todo produto vem com um certificado de qualidade, só que você não leva uma amostra no controle de qualidade para certificar-se que aquela espessura está correta. Antigamente, todo papel que chegava tirava-se uma amostra e o controle de qualidade ia validar; hoje, não. A parceria do fornecedor é muito grande: ele assume que tem que trazer com aquela especificação, porque senão não consegue passar em máquina; se dá alguma divergência, é feito uma discrepância dentro da produção que envolve o fornecedor que trouxe o material errado - mas isso é muito difícil, porque a parceria dos fornecedores com a Tetra Pak é muito grande. Mas eles têm que correr atrás para poder trazer um produto bom porque, vamos dizer, eu vendo para a Tetra Pak e vendo para outro o mesmo material - então ele tem que ser muito específico. A Klabin fez uma reforma muito grande para trazer uma máquina que conseguisse comportar todo o papel para trazer para a Tetra Pak - ela traz para Monte Mor, para Ponta Grossa [PR] e para a Argentina, para o Grupo Tetra Pak. Como ela é a única fornecedora, ela tem que ter máquinas com capacidade de entrega porque, se não tiver, nós paramos, não temos como produzir. P - Então a confiança aumentou? R - A confiança é muito grande, com qualquer fornecedor - se ele não produzir mais o alumínio, não temos como produzir a caixinha. P - Você consegue lembrar-se de algum momento que tenha sido o maior desafio em relação a esses fornecedores? R - Não tenho lembrança de nenhuma. Só acho que temos que desenvolver fornecedores - que seria Compras -; seria um desafio desenvolver fornecedores para a Tetra Pak, mas não conseguimos ter novos fornecedores - é muito complicado ter novos fornecedores de matérias-primas principais. De diversos, não - que seriam os acessórios e que você consegue ter fornecedores facilmente -; mas matérias-primas principais... Mas eu não lembro de nenhum caso com fornecedor. P - Rose, quanto chega de material na Tetra Pak? É diário? R - Diariamente e é uma loucura: são 17 carretas de papel, sendo que cada carreta comporta de 17 a 18 bobinas; eu recebo de três a quatro carretas de alumínio; tem também os filmes e materiais adicionais, que são os tubos, os forros, os pallets... O volume diária de caminhões é muito grande - uns 30 caminhões por dia. E as matérias-primas não são pequenininhas como um parafuso - elas são gigantes O armazém de matérias-primas é muito grande, porque a matéria-prima é monstruosa, muito grande. P - Quando você começou na Tetra Pak o armazém já era lá? R - O armazém de matérias-primas era lá, só que era pequeno; na realidade, ele era junto com expedição - onde hoje é a expedição, era a expedição e o armazém de matérias-primas. Depois, ele foi construído no fundo, onde estou hoje; não lembro o ano em que foi construído aquele armazém, mas teve-se que fazer um armazém muito grande porque onde se colocava o material acabado não tinha mais condições de se colocar a matéria-prima. Construiu-se então esse armazém, que são dois barracões enormes - mas que também ficou pequeno. Eu não consigo lembrar a quantidade de caminhões que chegavam antigamente, mas era bem pouco – não se compara com hoje. P - Você lembra-se dos clientes daquela época? R - Quando eu cheguei tinha a Paulista, que fazia aquela embalagem que parece um triângulo, para o Long, que era leite sabor chocolate, sabor morango; tinha a Parmalat, que é a mais velha; e acho que tinha a Elegê - acho que eram uns três clientes. Tinha também os clientes de exportação. Mas para se ter uma noção, tínhamos um caderninho desse tamanhinho, onde anotávamos os nomes dos clientes, de tão poucos que eram (risos) P - Nossa. (risos) Mudou muito R - Mudou muito. P - Você entrou em 1983; quem era o presidente? R - O Tommy Bartschukoff; o seguinte eu não me recordo, mas quando entrei era ele. Ele era sueco, uma pessoa muito agradável, cumprimentava todo mundo, do faxineiro a pessoa que trabalhava no alto nível, ele não tinha separação; era uma pessoa muito boa. P - Pelo que você fala, naquela época eram 200 pessoas, você conhecia todo mundo pelo nome e sobrenome, todo mundo morava na região. Tinha pessoas que eram seus vizinhos e que trabalhavam na Tetra Pak? R - De Elias Fausto, só tinha eu - mas tínhamos pessoas de Capivari e de Monte Mor. As pessoas que eram gerentes, como o meu chefe, eram de São Paulo - ele morava em Monte Mor, mas era de São Paulo. Mas as pessoas do escritório e da produção eram todos de Capivari, de Monte Mor, de Elias Fausto. P - E por ser tão pequeno, tudo muito próximo - hoje dividiu-se mais -, acredito que você tinha mais contato com toda a Tetra Pak, com a produção. Você ia aprendendo um pouquinho como se faziam as embalagens? R - Nós tínhamos contato com todo mundo, escritório e produção - até porque o escritório era pequeno, então você tinha contato com todo mundo -; o Departamento Técnico, onde o Jando trabalhava, também era pequeno, tudo ali. Na entrada da Tetra Pak ficava o escritório todo: Técnico, RH, Contabilidade, Tesouraria - era um bloco só; hoje é muito dividido, tem muitas divisões - área técnica é outro departamento, muito longe, quase não vamos a esse departamento, não sabemos nem quem são as pessoas que trabalham lá. Mesmo dentro de produção, às vezes você vai numa festa de natal ou do meio do ano e você não sabe quem são as pessoas que trabalham na Tetra Pak; antes, a festa de natal era no estacionamento da Tetra Pak - não tínhamos a festa do meio do ano, só tinha a do natal. E era naquele estacionamento pequenininho - só tinha um estacionamento, que era onde fazíamos a festa. Todo mundo conhecia a família de todo mundo: quem era o filho, quem era o esposo, todo mundo. Hoje é completamente diferente. P - E não tinha o clube? R - Não. O Clube era onde hoje é a cantina e fazíamos os eventos; cobriu-se hoje, mas tinha uma piscina e uma churrasqueira. Então no final de semana, depois do expediente, era muito comum que todo mundo fosse reunir-se e ir na cantina fazer um churrasquinho; o Mário tocava aqueles instrumentos grandes, era muito divertido. P - Devia ser uma delícia. R - Era muito gostoso P - Ainda dava tempo... R - Dava tempo Hoje, não se consegue falar bom dia ou boa tarde, quanto mais ficar na área de esporte. P - Você lembra-se, nesses anos em que você está na Tetra Pak, dela ter passado por alguma crise? R - Acho que a crise foi antes de eu chegar, poucos meses antes: teve uma crise onde foram mandadas embora muitas pessoas - eu cheguei em março de 1983 e ela estava já sem crise. Quando foi chegando perto do final de 1983, ela contratou todas as pessoas que tinha mandado embora; não sei a quantidade de pessoas, mas muita gente tinha sido mandada embora. P - Foi um número grande. R - É. Mas no tempo que eu estou lá, nunca teve crise - são 24 anos, nunca teve crise. Tem queda de vendas - não crise, queda de vendas -, que no mês seguinte recupera-se, porque um mês pode ser um pouquinho mais fraco de vendas do que outros. P - Por conta do mercado. R - Teve uma crise do tomate: em junho, a Tetra Pak fazia muita embalagem para molho de tomate; eu não sei o que aconteceu com os tomates naquela época, mas não conseguiam fazer o molho de tomate. Nós paramos de fabricar a caixinha e ficamos bem ociosos, porque não se fabricava mais caixinhas de tomate - era sempre no meio do ano a fabricação de caixinhas de molho de tomate. Passou aquele ano e nunca mais tivemos uma crise da qual eu me lembre. P - Você falou do sistema, do SAP, que foi uma grande mudança - na sua vida, no seu trabalho, na sua função -, que foi um desafio. Você teve outros desafios? R - Acho que os desafios maiores foi esse do SAP e essa mudança de ir para o armazém de matérias-primas, que foi uma mudança muito grande: eu trabalhava dentro de uma área de planejamento, fazendo o mesmo serviço; tive que ir para essa área de matérias-primas, para o armazém de matérias-primas, e ter esse contato com todas essas pessoas, com 19 pessoas, fora o trabalho de escritório, fora o pessoal de produção, que corre tudo conosco, porque nós somos os fornecedores da produção - o cliente é a produção; se eu tiver algum probrema dentro do armazém, isso vai afetar a produção. Acho que o desafio maior foi esse. P - E a produção tá cobrando o tempo todo. R - A produção cobra. (risos) Bastante. P - Muito. (risos) R - Muito. (risos) P - Pelo que temos visto na Tetra Pak, ela investe muito nos funcionários, tem muitos cursos - isso desde que você entrou. Quando foi que você começou a sentir que isso foi mudando, foi aumentando? R - Quando eu entrei na Tetra Pak, ela pagava a faculdade 100%. Quando eu já tinha trancado a matrícula na PUC, ela falou: “Eu pago 100% da faculdade.” Nossa, para mim foi um sonho tão grande Eu arrependi-me de ter transferido o curso, mas já tinha transferido e estava cursando. Mas ela investe na faculdade, no curso de inglês, tem um convênio médico que não cobra dos funcionários - ela investe bastante. E tem cursos paralelos, fora o inglês - todos os cursos que eu tenho hoje, eu devo à Tetra Pak, como o inglês, a faculdade... Aliás, eu fiz a minha vida lá, porque 24 anos é uma vida formada na Tetra Pak; tudo o que eu tenho, como a minha casa, foi com o dinheiro meu e do meu marido - porque só ele também não conseguiria ter. Eu devo tudo à Tetra Pak, tudo o que eu tenho hoje. P - Você entrou com 19 anos, certo? R - Com 19 anos. Morava com a minha mãe, não tinha meu pai, mas você não tinha compromisso de uma casa, de uma família. Tudo o que eu formei foi com a Tetra Pak. P - E ela dá cursos dentro da Tetra Pak? R - No começo eu tinha cursos dentro da Tetra Pak - quando veio o computador, todo curso de computador foi dentro da Tetra Pak, nós não íamos em escolas fazer fora. Com a evolução, ela passou a dar treinamentos e cursos fora da Tetra Pak; treinamento para a parte de ISO, de meio-ambiente, são dentro da Tetra Pak, mas de outros tipos, são todos fora. P - Voltando ao SAP, se eu não me engano teve um grupo de pessoas que ficou trabalhando alguns meses nisso. Você fez parte desse grupo? R - Não, não fiz parte. De cada departamento saiu uma pessoa para fazer o treinamento para o SAP, na Suécia. P - Foi feito na Suécia? R - Foi feito na Suécia. Foram seis meses e eles ficaram afastados, só para o treinamento. P - Nossa R - Como não tinha ninguém - o departamento é muito enxuto -, eles pegaram pessoas como, por exemplo, supervisores da área, para poder levar porque, no caso, teria que ter uma pessoa que fizesse o serviço daquela pessoa para ela poder sair - foi um pouco complicado. Mas não fiz parte da formação. P - Durante o processo de criação do SAP, criou-se uma expectativa dentro da Tetra Pak? R - Muito grande. P - Deu um medinho? R - Nossa Foi o que eu falei: acho que eu nunca passei um medo tão grande como quando começaram a falar desse sistema. Quando começou a falar desse sistema, eu falei: “Acho que eu não vou fazer mais parte do quadro da Tetra Pak porque não é possível” - 20 anos com PAS, eu sabia detalhes inteiros dentro do sistema. Eu falei: “Não acho que vou aprender...” Quando fuii fazer os treinamentos do SAP com meu supervisor - nós começamos a fazer os treinamentos -, eu falei: “Não vai dar Não vai ser, não vai acontecer Eu vou estar fora mesmo, porque é impossível aprender esse sistema Muita coisa, muito detalhe... Não vamos conseguir” Quando fomos lançar a primeira nota fiscal no SAP, estava o meu supervisor e o meu gerente atrás de mim: “Rose, lança aquela nota ali.” “Espera um pouco que eu vou buscar o manual de como lançar a nota.” Porque você faz o treinamento, vai lançar a nota e é diferente. Peguei o manual e comecei – mas não conseguia, não saía nada Eu falei: “Espera um pouquinho, deixa eu prestar atenção nesta tela.” Hoje você faz as coisas sem o manual, sem nada, mas foi muito difícil a entrada do SAP. P - Foi um novo primeiro dia. R - Foi como se eu tivesse entrado na Tetra Pak naquele dia, no dia primeiro de outubro de 2003. P - Além do SAP, quais outros avanços tecnológicos você sentiu dentro da sua área ou dentro da Tetra Pak? R - Fora o sistema, eu acho que nas máquinas dentro da produção foram feitas muitas coisas. Enclausurar as máquinas com aquele barulho, aquelas laminadoras, impressora... Hoje é menos barulho. Na minha área um avanço foi colocar a empilhadeira elétrica, porque elas eram todas à combustão, com um barulho irritante. Agora, com a modernidade, eu estou com 13 empilhadeiras elétricas dentro do armazém; é um silêncio tão grande que quando eles trocam de empilhadeira e colocam a de combustão, você não aguenta. Então o avanço maior de tecnologia na matéria-prima foram as empilhadeiras elétricas. Tem a parte de computação também, com a evolução do monitor do computador, o que facilitou muito - principalmente para quem usa óculos, esse monitor plano é excelente. Eu acho que, além do sistema, os equipamentos também foram modernizados. P - Dentro da sua área, o transporte da matéria-prima, do armazém para a produção, é todo feito com empilhadeiras? R - Todos os materiais são com empilhadeiras. P - E tem alguma parte que é automatizada, algum robô, alguma máquina específica? R - Não, não tem. O que também mudou é que as empilhadeiras, antigamente, entravam dentro da produção para levar uma bobina de papel, levar o alumínio, e ficava marca de pneu. Com a evolução, eles fizeram as antecâmeras, que são duas portas - fecha uma dentro da produção e abre uma para eles colocarem. Eles fizeram um trilho, onde é colocado na porta o rolo e esse rolo vai até a máquina, então a empilhadeira não vai até a produção para levar nenhum material - ela fica limpinha, sem cheiro e sem sujeira, porque a empilhadeira não entra até lá. P - Você falou que em tudo o que você conquistou na sua vida, a Tetra Pak esteve presente. Com relação aos investimentos sociais da Tetra Pak, o que você teria a falar sobre isso? R - A Tetra Pak ajuda muito nessa parte social. Em Monte Mor, por exemplo, temos pessoas voluntárias que ajudam a arrecadar, na época do frio, cobertores e roupas, e leva, para as entidades da cidade. No final do ano, quem gostaria de ajudar leva o nome de uma criança de uma creche de Monte Mor e essas pessoas voluntárias doam um brinquedo e uma roupa. Então eu acho que ela ajuda muito - em Campinas também, uma entidade chamada Casa da Criança Paralítica. Ela preocupa-se muito na parte social, mas antes não tinha isso; quando eu entrei, não tinha nada de ajudar creche, ajudar isso. De uns tempos para cá, ela começou a preocupar-se muito - e as pessoas que trabalham na Tetra Pak fazem parte desse processo, ela não é sozinha; ela fez um grupo onde todo mundo colabora. Não sei se ela ajuda mais em algum outro processo, mas o nosso são as pessoas carentes. P - E você lembra mais ou menos quando e como começou? Qual foi o primeiro? R - Não me lembro porque eu não faço parte desse grupo - eu ajudo, mas não faço parte. Não lembro o ano em que começou. P - Rose, você troca informações da sua área com Ponta Grossa? R - Sim. Por exemplo, quando começou Ponta Grossa, na parte de matéria-prima, do armazém da matéria-prima, veio uma pessoa, o João Luiz Munhoz, aprender comigo o serviço. Ele ficou em Monte Mor um tempo aprendendo; depois, ele foi embora para Ponta Grossa e até hoje está lá, fazendo a mesma função que eu faço hoje. Mas sempre conversamos - se tem alguma coisa que ele faz lá e eu não faço aqui ou eu faço aqui e ele não faz lá, nós trocamos idéias. Mesmo com o supervisor da área lá, que é o Osvaldo Gomes, se tem alguma dúvida quanto à empilhadeira, quanto ao armazém, nós trocamos e-mails. P - Eu acho interessante você estar falando isso porque, apesar de estar ligado mas não ser a sua área, você conhece muito bem a produção. R - É porque eu sempre trabalhei junto com o pessoal da produção, então você conhece, dá para ter uma noção geral do que é. P - E tem alguma mulher trabalhando na produção? R - Não, na produção são só homens, não tem mulheres. Mesmo na empilhadeira, são só homens. P - Quando você entrou – lógico, era bem menor a Tetra Pak do que é hoje - o número de mulheres era menor naquela época? R - Bem menor. Eu acho dava para contar nos dedos quantas mulheres tinham, porque eram bem poucas. Contabilidade, por exemplo, eram duas pessoas; RH, eram duas pessoas, também mulheres; matéria-prima com planejamento, duas pessoas. Eu acho que se tivesse dez mulheres, era muito quando eu entrei. P - Era tranqüilo trabalhar com tantos homens naquela época ou existia um certo incômodo? R - Não, sempre foi tranqüilo trabalhar com o pessoal de produção, como é hoje. Eu acho que o respeito é muito grande dentro da Tetra Pak; sempre trabalhei com homens - no meu departamento, sempre foi só eu de mulher. Depois que agrupou o Planejamento com a Administração de Vendas, com Compras, começaram a surgir bastante mulheres no departamento. Mas no contato com a produção, que eram só homens, nunca tive problemas. P - E seu marido tinha ciúmes? R - Também não, graças a Deus (risos) Hoje, também não - graças a Deus Acho que jamais eu casaria com uma pessoa que não entendesse o meu trabalho, porque não tem como você trabalhar – e eu fui sempre independente. Como eu perdi meu pai muito cedo - eu tinha 15 anos quando eu perdi meu pai -, o que aconteceu com a minha mãe foi que, com cinco filhos, cada um que teve que se virar, então a independência era muito grande. Eu ia estudar sozinha, sempre fui muito independente. Eu jamais pedia dinheiro para o meu pai, para a minha mãe, então no dia que eu não tinha mais dinheiro nem para pagar a faculdade, eu tranquei a matrícula, porque não tinha mais condições - eu não gosto de pessoas que são dependentes de outra para sobreviver. Então acho que, graças a Deus, eu escolhi a pessoa certa e deu certo; nós vivemos muito bem, ele não tem ciúmes de nada, nunca teve - mas acho que também nunca teve motivo. (risos) P - Nesses anos todos em que você está lá, sempre tendo contato com muita gente, sempre trabalhando muito perto da produção, deve ter acontecido coisas, “causos” e coisas pitorescas que você, de vez em quando, lembra ou as pessoas quando se reúnem, comentam. Você poderia contar alguma coisa para nós? R - No tempo em que eu trabalhava com a produção e que recebia todos os telefonemas, eram muitas mulheres ligando para as pessoas dentro da produção. Eu chegava e “Fulano, é Cicrano, é Cicrana”. “Fala que eu não estou” As pessoas, às vezes no telefone, queriam contar para mim o que estava acontecendo, com quem tinham saído; era muito engraçado, parecia que eu era uma pessoa que tinha tempo de ficar escutando as conversas no telefone (risos) Mas isso acontecia muito dentro da produção, era muito engraçado. E tinha pessoas que trabalhavam na produção assoviando, cantando, era uma alegria muito grande. O que acontecia e era muito gostoso é que no Controle de Qualidade, que era ao lado da minha sala, quando chegava o final do ano era aquela alegria: “Mais um ano que acabou, graças a Deus” E eles faziam muita brincadeira; nós íamos chamá-los e eles colocavam vaselina na porta ou no telefone; você chegava, abria a porta para xingar ou você grudava na porta e tinha vaselina. Era muito divertido. Fora os outros casos, mas que agora eu não vou lembrar porque foram tantos dentro da Tetra Pak - coisa muito absurda, precisava ter anotado na época, de tanta coisa que acontecia. (risos) Hoje em dia, para lembrar de alguma coisa, está complicado. Para o Jando, que lembra até do número do RG e do CIC; eu falei: “Eu não tenho memória suficiente...” P - A Tetra Pak dá muitas palestras para os funcionários lá dentro? R - Dá bastante palestras. Quando é a época da CIPAT [Comissões de Prevenção de Acidentes de Trabalho], que é o evento sobre segurança, ela trazia pessoas para dar palestras sobre segurança, fazia teatro sobre segurança. Agora vai ter um evento do meio-ambiente; ela faz muito evento dentro da Tetra Pak: ela comemora aniversário da Tetra Pak, comemora aniversário da GR, comemora aniversário da ISO, comemora aniversário do meio-ambiente - ela gosta muito de comemorações. E ela também dá muitas palestras lá dentro. P - E todo mundo participa? R - Participa. Na CIPAT desse ano foi um pouco diferente, porque foi só um passeio dentro dos departamentos para saber onde é que estavam coisas fora, como um fio solto, e sobre segurança. Mas todo mundo participa, todo mundo gosta de participar dos eventos - mesmo não tendo tempo. Como eu falei, terá o evento do meio-ambiete, mas será que vamos ter tempo de ir? Tem épocas em que você não consegue participar dos eventos, mas a maioria das pessoas participam dos eventos. P - E tem um programa na Tetra Pak, que se não me engano é o SWiM [Supporting Women in Management]... R - De mulheres, certo? P - É. Como que você vê isso? R - Eu não sei muito bem como funciona porque eu não participo, mas eu acho muito interessante - se eu tivesse cadastrado-me na época, eu estaria trabalhando com eles. Não sei como é o procedimento deles lá dentro, mas eles também fazem palestras na Tetra Pak; acho que foi esse ano que teve uma pessoa, o Navarro, que fez uma palestra sobre essa parte de emprego, sobre as mulheres. O SWiM é formado por mulheres para falar sobre o emprego, sobre a evolução da mulher - é muito interessante. Cada vez que eles surgem com um evento social, lá dentro mesmo, é muito interessante. Mas a participação minha está um pouco falha. (risos) P - (risos) Você anda trabalhando muito, não está conseguindo... R - Estou muito doida, não estou conseguindo. P - Eu gostaria que você falasse um pouquinho dos valores da Tetra Pak: como são esses valores? R - Ela sempre coloca que você tenha a sua liberdade, só que você saiba usá-la; os valores da Tetra Pak deixa-nos muito à vontade – é a liberdade com responsabilidade, como se fala sempre para as pessoas. Por exemplo, todo mundo lá dentro tem internet, todo mundo tem acesso ao telefone; eu acho que todo mundo teria que cumprir os valores dela, porque não é qualquer empresa que tem esse acesso, elas são muito restritas: você acha que qualquer empresa daria internet para todo mundo? Até o aprendiz, que é o guardinha, tem internet. Eu acho que ela valoriza muito as pessoas dentro da Tetra Pak, mas as pessoas têm que saber dar valor para tudo o que ela dá e tudo o que ela faz. P - E você acha que esses valores que ela prega, que ela faz bem, são valores que passam para a vida pessoal das pessoas fora da Tetra Pak? R - Eu acho que sim. Por exemplo, a liberdade com responsabilidade: eu acho que ela consegue - vamos pôr entre aspas - “educar” as pessoas. Lá não vai ter nenhuma pessoa que vá sair da Tetra Pak e vá ao supermercado para roubar porque ela educa muito bem; ela prega conceitos de que as pessoas têm que ter uma índole boa para trabalharem em uma empresa – e isso também fora, na sua casa. Tanto é que eu acho que a minha vida, o meu jeito de ser, é tudo da Tetra Pak, porque ela ensina muita coisa; nós trabalhamos com muitas pessoas, então uma vai passando para a outra aquele processo. Eu acho que até os filhos nós conseguimos educar de uma outra forma por estar dentro da Tetra Pak: eu noto a diferença da minha filha para o filho de uma pessoa que não trabalha na Tetra Pak. Então eu acho que ela valoriza muito. P - E ela contribui também - fora da Tetra Pak, para os funcionários - nesse lado ambiental, nessa questão da reciclagem? R - Sim. A educação da reciclagem na Tetra Pak vai até às escolas e ensina os alunos, que vêm até a Tetra Pak para ver como é que funciona. Eu acho que ela criou a reciclagem fora da Tetra Pak - as pessoas têm consciência, jogam os lixos separadamente. Por exemplo, na minha cidade não tem lixos seletivos, mas eu faço na minha casa o lixo separado - da embalagem, da comida, tudo separado. Então ela ensina e educa; a minha filha é educada para a reciclagem e as escolas, com os folhetos e todos os preparativos, informam como você deve fazer o processo da reciclagem, onde você deve jogar, que não se deve jogar nenhum lixo nos rios. Eu acho que ela evoluiu muito nessa parte da reciclagem; no Estado de São Paulo eu acho que está muito grande essa parte da reciclagem, o pessoal está bem consciente de tudo isso. P - É, isso é positivo. R - É positivo. P - Rose, você falou das empilhadeiras, que eram à combustão e foram para as elétricas. Quais foram os maiores avanços que você percebeu - não que você seja técnica nessa área - na produção? R - Dentro da produção é o que eu falei, que foi enclausurar as máquinas para não ter muito barulho. Elas têm novos sistemas de setup, como o fly setup, que não pára a máquina para trocar, como antigamente: cada tamanho de embalagem vai um papel e, para trocar aquele papel, tem que se mudar todo o sistema - tem que diminuir o cilindro, tem que diminuir um monte de coisa. Hoje em dia, tem uma maior facilidade - eu não sei explicar tecnicamente como funciona - mas a facilidade para uma troca de tamanho de embalagem facilitou-se muito. Então a evolução foi muito grande. Por exemplo, o material que corta, que vai passar o stretch, sai através de um robô; ele sai, vê uma esteira e vai cair dentro da máquina onde vai passar todo aquele stretch, que vai para o cliente. Eles fizeram um túnel para poder passar essa embalagem - ela não sai mais com a empilhadeira, então não pega tanta poluição; ela sai dentro do armazém da expedição. Antes, ela saía pela empilhadeira, que trazia até a paletização para poder passar aquele filme e cobrir a embalagem para ir para o cliente. Hoje, ela sai por uma esteira, que chamamos de robô; a esteira vem e traz todo esse material para dentro da expedição, onde tem a paletização e vai passar o stretch. Foi uma evolução muito grande dentro da produção. P - Você acha que, falando em evolução, a Tetra Pak, revolucionou o setor alimentício? R - Revolucionou muito. Imagina que você pensaria que compraria molho de tomate em caixinha Antes era só o leite e o Toddynho, o Nescauzinho, o Longuinho. Hoje, você tem uma variedade muito grande - temos os sólidos, que é o Tetra Recart, que importamos a embalagem para poder colocar ervilha, milho. A goiabada, quando surgiu em caixinha, nossa, era uma coisa extraordinária: “Imagina Goiabada na caixinha” A maionese na caixinha também. Teve óleo em caixinha, mas não deu certo. Mas a evolução foi muito grande de produtos dentro da caixinha; hoje, você quase não vê nada em lata, você compra tudo em caixinha - o leite condensado, o creme de leite. A facilidade dessa embalagem é muito grande hoje em dia - e a um preço acessível, que qualquer pessoa pode ter dentro de casa. P - Rose, na sua opinião, qual é o diferencial da embalagem da Tetra Pak no mercado? R - O diferencial é que ela é longa vida, não é igual à caixinha normal; ela é longa vida e pode ter leite, coisa que outras caixinhas não podem. Eu acho que o cliente é muito criativo nas embalagens, tem um visual muito bonito. Por exemplo, a embalagem que é metalizada por fora, com a impressão em cima do metalizado, é uma embalagem muito bonita. Você entra num mercado e olha aquela embalagem na prateleira: “Nossa, que embalagem linda” Você vai ver é um suco, é uma água de coco, é um danone que tem aquelas embalagens. Eu acho que ela tem um diferencial muito grande comparada com a lata: a embalagem longa vida é muito mais bonita no mercado do que a lata. E as caixinhas normais, como a caixa de Maizena, é somente um papelão, não é longa vida - você não consegue colocar um alimento que dure muito tempo dentro. Então ela é diferente. P - Na sua opinião, como é que você acha que os consumidores vêem os produtos que vão na embalagem da Tetra Pak? R - Os consumidores finais, que somos nós, ainda não têm uma visão muito grande de como é o produto - muita gente fica imaginando como é que é feito esse produto. Acha-se também que a Tetra Pak coloca o produto dentro da caixinha, não o cliente. Eu acho que a divulgação em cima do produto da Tetra Pak tem que ser maior para os consumidores finais: nós que trabalhamos aqui, tudo bem; mas quem não trabalha não tem noção nenhuma de como é o funcionamento. Quando saiu aqueles problemas de numeração nas bobinas, que ninguém comprava mais o leite, o que aconteceu? As pessoas achavam que se passava várias vezes o mesmo leite Para você explicar para elas que o cliente só recebe a bobina e que ela vai para uma máquina que coloca o leite foi muito difícil – teve escolas com professores ensinando aos alunos para não comprarem leite em embalagem da Tetra Pak P - Nossa R - Ia passando de um para o outro para poder entender o que estava acontecendo. Mas eu acho que os consumidores finais não sabem como é que funciona o produto; eles não têm noção que vai para uma máquina todo aquele suco, aquele leite pasteurizado - eles não têm noção. Eu acho que tinha que ter uma evolução maior em explicar o que é o produto, o que é a embalagem, como funciona dentro do cliente, como que ele coloca aquele leite, aquele suco dentro da caixinha e que jamais essa caixinha poderá voltar para o cliente, que só pode voltar em bobina. Eu acho que a Tetra Pak tem que investir em marketing para o pessoal do consumo final, principalmente aquelas pessoas que têm uma certa idade e que não conseguem ainda entender, porque eles só querem o leite do leiteiro: “Como é que eu vou comprar esse leite? Como foi colocado dentro daquela caixinha aquele leite?” Para você colocar isso na cabeça das pessoas é sempre um pouco complicado. P - A Tetra Pak, este ano, está com 50 anos de Brasil. Como que é isso para você? Você conhece um pouco da história dela? R - Eu conheço pouco a história sobre o escritório de São Paulo, quando chegou, a pessoa responsável - eu não lembro quem era a pessoa que veio para o Brasil da Suécia. Essa pessoa foi para São Paulo e depois achou uns amigos, que tinham um sítio em Monte Mor, e ela achou interessante comprar um sítio em Monte Mor - daí começou a descobrir Monte Mor. Ele queria uma cidade como se fosse da Suécia, uma cidade pequena, para poder implantar; vendo a cidade, de não sei quantos habitantes naquela época, surgiu a fábrica em Monte Mor. Mas a parte do escritório mesmo eu não sei nem quantas pessoas eram, se tinha brasileiro... Por exemplo, o Renato, que trabalha na Tetra Pak, era do escritório de São Paulo e fazia a parte técnica das máquinas, essas coisas. Mas eu não sei quantas pessoas vieram da Suécia, por exemplo, para esse escritório em São Paulo, nem quantos brasileiros tinham quando vieram para Monte Mor. P - E você acha importante essa iniciativa da Tetra Pak em estar fazendo esse projeto de memória, ouvindo os funcionários contando a história da Tetra Pak nesse tempo em que trabalham, pensando em fazer um acervo - você acha que isso é importante? R - Eu acho muito importante, mesmo para conhecer a história da Tetra Pak. Eu trabalho lá há 24 anos, mas não sei a história dela inteira. Tendo esse livro nós vamos conhecer melhor como ela começou e depois passar isso para os nossos filhos, ir passando de geração para geração, como é que ela iniciou. Então é muito importante ter isso dentro da Tetra Pak. P - Rose, nós estamos no final; ainda tem mais umas perguntinhas, mas eu queria perguntar se você quer falar mais sobre alguma coisa que nós não perguntamos ou até que nós já falamos, mas que você acha importante estar falando um pouquinho mais. R - Eu acho que nós já falamos um pouco de tudo, na realidade. P - Você quer falar um pouquinho sobre o SAP? R - Eu acho que falei bastante sobre o SAP, não tenho mais nada para acrescentar. P - Algumas mudanças que ocorreram nesses anos em que você esteve lá? R - As mudanças eu já falei, sobre os departamentos. Eu falei o que eu lembro da união quando a Tetra Pak era pequena e que hoje sinto falta, por mais que se fale: “Seu primeiro chefe era chato” Esse meu primeiro chefe não cumprimentava ninguém, só cumprimentava o departamento; mas era você chegar na sua sala e ele vinha falar bom dia - só para o seu departamento. Ele olhava para a sua cara e falava: “Hoje você não está bem, você tem algum problema. Pode vir na minha sala agora” E você realmente, naquele dia, tinha algum problema, estava passando por alguma dificuldade. Então era uma união muito grande entre os departamentos antigamente, desde o chefe até nós; ele entender o que nós tínhamos, o que estávamos passando, acho que hoje eu sinto muita falta disso. Tinha comunicação, diálogos que não fossem só sobre serviço – hoje, o diálogo é só serviço; antes, não. E ele fazia de tudo para ajudar: “O que você precisar, eu estou a disposição. Você vem, bate um papo.” Você chegava, às vezes, sem batom, e ele olhava para a sua cara: “O que aconteceu? Não tem batom na sua casa?” (risos) Ele era muito detalhista, mas eu falo que é uma pessoa com quem eu aprendi muito, esse meu chefe, o Claudionor Edélcio Martins; e com o Izidoro, que está na Tetra Pak de Ponta Grossa. Tudo o que eu sei hoje, eu devo a eles. E a exigência do serviço eu devo a eles também, porque o Izidoro falava: “Tudo o que você quiser bem feito, vá e faça. Nunca peça para ninguém.” Hoje, eu falo para eles: “Se você quiser bem feito, vá e faça” (risos) P - (risos) E tem ainda tem muita gente que está na Tetra Pak desde que você entrou? R - Ainda tem bastante pessoas: o Izidoro, que está em Ponta Grossa, mas está mais conosco em Monte Mor; o Luiz Ribeiro, que é antigo; o José Rodrigues, vulgo Paca - ele entrou junto comigo, no mesmo dia; tem o pessoal de escritório, que está comigo, que é a Ana Maria e a Catarina, que são as mais antigas que eu; depois veio a Tânia. Do restante, saíram todos. Na produção, temos muitas pessoas antigas: umas que se aposentaram, outras que ainda estão trabalhando na produção. P - E você acha que a Tetra Pak Brasil tem uma cara mais de Brasil ou ela tem - ou tinha - uma cara mais de empresa européia? R - No começo, eu acho ela tinha cara de uma empresa sueca, internacional. (risos) Hoje, não; ela é totalmente brasileira. Se você entra ali, você não sente a diferença de ser uma empresa multinacional - acho porque os suecos são diferentes; são mais amigos, não são pessoas fechadas. Eu acho que deixaram a empresa muito à vontade e com a cara do Brasil. P - O lema da Tetra Pak é “Protege o que é bom”. O que é bom para você? R - Para mim, o que é bom é, por exemplo, tomar um leite de qualidade ou um suco de qualidade que ela nos fornece - que é com muita qualidade, por isso é que ela protege o que é bom. Ela protege a caixinha e o produto. Para mim, o importante é que seja um produto de qualidade. P - Nós estamos no final; você quer deixar algum recado para a Tetra Pak, para os seus colegas? R - (risos) O que é que eu poderia falar? Que nós sempre continuemos sendo pessoas amigas, que quando precisarmos de uma pessoa ou de outra, sempre possamos contar com aquela pessoa porque, quando se está no tumulto do dia-a-dia, às vezes, não temos tempo de ligar para aquela pessoa que está doente e falar: “Você sarou?” Eu acho que temos que continuar sendo pessoas amigas e fortalecendo uma a outra, no dia-a-dia, conversando - não só sobre a Tetra Pak, mas sobre tudo: a família, como é que está, como não está. Acho que tem que ter amizade entre as pessoas, não rivalidade; a amizade é o principal. P - O que você achou de dar o seu depoimento hoje? R - Eu achei formidável. (risos) É a primeira vez que eu estou dando um depoimento - estou gelada Mas foi muito bom. (risos) P - Não doeu... (risos) R - Não doeu. (risos) P - Rose, agradecemos por você ter vindo conversar conosco; a Tetra Pak agradece. Muito obrigada. R - Obrigada a vocês.
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