Projeto: Adc – Eletropaulo
Entrevistado por: Carmen Silvia Natali e Manoel Gianoli
Depoimento de: Elio Vicentini
Local: São Paulo
Data: 23/09/1994
Realização: Instituto Museu da Pessoa
Código: ADC_HV019
Revisado por: Izabel Cristina
P- Bom, Elio, a gente...Continuar leitura
Projeto: Adc – Eletropaulo
Entrevistado por: Carmen Silvia Natali e Manoel Gianoli
Depoimento de: Elio Vicentini
Local: São Paulo
Data: 23/09/1994
Realização: Instituto Museu da Pessoa
Código: ADC_HV019
Revisado por: Izabel Cristina
P- Bom, Elio, a gente começa pela sua identificação, local, data de nascimento,
dos pais...
R- Tá ok. Bom, sou Elio Vicentini, né. Nascido 17 de outubro de 1965. É... filho de
Gumercindo Vicentini, Albertina Martins Vicentini, ambos vindos do interior... é... se conheceram aqui em São Paulo, casaram, estabeleceram família, tiveram dois filhos. Eu, né, que sou mais novo e meu irmão, o Ênio que também, ele não só joga pela ADC [Associação Desportiva Cultural], como trabalha na Eletropaulo. Bom, o que eu posso falar da vida né? A vida... às vezes a gente lembra algumas passagens de infância, tudo. Então, começo com escola desde cedo, 5, 6 anos já. Minha mãe querendo me ensinar, né. Impor educação. Pra nós o que eles não tiveram, né, desde... desde pequeno. E através disso fui começando a crescer, né. E através da própria escola aí a gente começa a ter contato com o esporte. E... eu posso falar que eu tive uma infância um pouco diferente do pessoal da vila onde... onde eu moro hoje. Moro até ainda hoje, né. Porque o esporte me encaminhou para outro lado, que não o normal dos moleques daquela... daquela região. É estranho, porque, um país como o Brasil, né, os pais. Não os pais, o pai, né, quando tem um filho homem sempre prefere que o moleque jogue bola, jogue futebol, né. E... desde pequeno, graças a escola, meu irmão foi chamado pra jogar basquete no Juventus. Faziam uma seleção, né. Teve uma seletiva, ele era alto pra idade dele e ele foi convidado. Isso daí no início de 1974. E aquele envolvimento, né, com isso daí, com o basquete despertou o interesse meu e eu também fui atrás, fui nos passos deles. Então, a gente compara, né com os outros... as outras pessoas da infância. Todo mundo ia lá jogar bola, jogar futebol na rua e a gente pegava a nossa malinha e ia no clube jogar basquete. Éramos os diferentes da... da rua, né. Mas isso contribuiu muito pra... pra minha vida, porque... é... eu vejo que aquilo me serviu muito pra minha educação, me tirou da rua porque... Não desvalorizando o local onde eu moro, mas eu vejo que é através de uma adolescência assim passada numa vila, tal, você adquire certos vícios que eu fiquei isolado disso. Tanto eu como o meu irmão, né. Então, desde cedo, dez anos... início do esporte, né, começava os treinos, tinha o horário rígido, já pra cumprir, né. Tinha a escola de manhã, à tarde tinha que se preparar, ia treinar quase todos os dias. E acabei, quer dizer, podando essas coisas que o adolescente, né, a criança adolescente tem o conhecimento na rua. E me fez também ter um conhecimento de outro mundo que não conhecia, né. Você começa a ter contato com pessoas assim de uma elite intelectual um pouco melhor, né. Frequentar clubes, frequentar outras... outras casas de pessoas que está em condições financeiras um pouco melhor. Isso começa a te gerar um desejo de você realmente crescer na vida, né. Não seja só pelo esporte, como intelectualmente, ou você se aprofunda no estudo, né, e vai fundo nisso pra tentar subir na vida. Então isso me levou a não só me dedicar ao esporte, mas como ao estudo, né. Eu fui... eu fiz um colegial técnico muito puxado. Foi, assim, um choque até pra mim no início do curso, sofri bastante. Porque a gente tem uma... uma espécie de preguiça mental, né. Você vem de uma escola pública, que não te exige nada. Todo mundo sabe hoje, que o nível escolar aí das escolas não é aquilo que todo mundo deseja. Aí quando eu entrei nessa escola, embora seja pública, mas um nível já pouco... um pouco não, muito superior ao normal, foi um... um baque. Sofri bastante, mas com determinação eu consegui superar isso. E paralelamente continuei freqüentando, né, o clube, praticando esporte, por competição, era federado. Joguei vários anos no Juventus. Tive uma participação no Tietê e sempre fui muito ligado a isso, né. Só que tem uma hora que você tem que decidir a sua vida, né, ou você continua jogando, tenta se profissionalizar, tenta passar sua vida para isso. Ou você tem que escolher seu lado profissional, através dos estudos. Foi assim que eu tive que parar aos 21 anos eu parei de jogar, como federado. Eu entrei na faculdade, comecei a estudar Matemática. Terminei o curso de Matemática. Hoje estudo Engenharia Elétrica, eu estou no último ano, sexto ano. Se tudo der certo eu acabo, né, esse ano, espero que dê. Não, vai dar certo e estou aí na batalha. Mas nunca abandonei esse meu lado esportivo, porque sempre... sempre me acompanhou, né, desde pequeno eu acho que eu devo muito a ele, muito o que eu sou, pela minha formação intelectual, de pessoa, o que eu vejo assim, como as outras pessoas, como as coisas são. Eu devo muito ao esporte.
P- Como é que era... a relação sua com o resto da sua família. Não só pai, mãe, irmão, mas primos ou tios.
R- Olha, foi normal, apesar que eu... não que eu seja, não seja sociável com eles. Eu tenho um bom relacionamento com eles. Mas a partir desse momento que eu comecei a frequentar o clube, né, eu abandonei um pouco esse ambiente familiar. Primeiro porque exige treinamento, né, dedicação. Então era treino toda sexta... toda segunda, quarta e sexta. Aos sábados de manhã e domingo sempre tinha jogo. Então, você acaba deixando um pouco a família de lado, né. Os pais acompanham, mas também acompanham até uma certa hora, né. Quando eles parecem que sentem que você está independente disso, começa nos 15, 16 anos, não é que seja falta de motivação, mas eles vêm que já não tem mais aquela necessidade de você... deles estarem presentes sempre. Mas com a família eu nunca tive problemas não. Apesar de eu ser um pouco afastado deles, mas eu tenho um ótimo relacionamento com todos.
P- E lembranças daquela época em que você... como é que é a entrada? Quem te levou no Juventus?
R- Então, me aconteceu o seguinte. Tinha um técnico no Juventus que... vamos dizer, ele é um caça-talentos, na época. E... através do professor de educação física, onde o meu irmão estudava no colégio estadual... ginásio estadual, é... esse professor de educação física indicou meu irmão para esse técnico, né, e esse técnico convidou meu irmão pra fazer os treinamentos. E ele, também, ele tem aptidão para o basquete, meu irmão. Então, ele começou a praticar tudo. O técnico gostou da performance dele tudo e ele passou a integrar a equipe lá do Juventus, né. E... nos treinamentos meu pai começou a acompanhar também, porque era não só novidade pra ele, para o meu irmão, pra mim como pessoa, mas também para o meu pai. Meu pai era um... jogava futebol. Foi futebolista na região, lá na Vila Prudente. Ganhou títulos desses campeonatos de bairros, tudo. E na... até uma pessoa conhecida lá, né. Como eles dizem, boleiro, né. E de repente os 2 filhos dele, aliás, um filho dele ser convidado pra jogar basquete, esporte de mão. "Que será que... o quê que eles vão fazer com o meu filho", né. Então ele começou a participar, a querer entender, né. O que que era aquilo. Então, ia meu pai, eu ia junto pra ver os treinamentos, tudo e aquilo me começou a empolgar. Então, o treinamento se realizava numa quadra e tinha uma quadra ao lado. E tinha a... a caixa de bolas. E eu, naquela hora que tirava um coletivo, né. A equipe lá que estava treinando, pegava uma bola e ia lá na outra quadra começar a brincar com a bola sozinho. Aquilo começou me despertar e nisso foi um ano praticamente inteiro de 1974 e o técnico começou a perceber o meu interesse, e tal, ver que eu tinha um pouco de habilidade para o negócio e no final do ano ele convidou para mim integrar a escolinha de basquete lá do Juventus... Aí foi uma felicidade, né. Eu não tinha altura na época. Era 9 para dez anos e aí realmente eu tava começando a dar os primeiros passos e era bem novo, né, porque a idade que se começa é 11 para 12 anos e tal. É a primeira categoria, mini, né, que o pessoal fala. E aquilo lá me deixou muito feliz e eu comecei a... em 1975 a treinar. E dali pra cá, daquele ponto em diante, né, eu me desenvolvi bastante. Eu fui aprimorando tudo e em 1976 eu me federei. Aliás, o clube me federou, né, achou que eu tinha condições de praticar o esporte e... eu fui em frente.
P- Essa atividade... de basquete, quase que todo o dia, onde você arrumava tempo para o lazer. Qual era o seu lazer naquela época?
R- Aí é que eu digo que eu era um pouco diferente dos... dos meninos da minha vila, né? Então, o que que acontecia? Aquilo lá me empolgou de uma tal maneira que... Aí eu me tornei sócio do clube é... eu ia de manhã à escola, chegava à tarde, 13h30, 14h eu ia para o clube. Eu não ficava na Vila. Não jogava mais bola com os meninos da Vila, não empinava mais pipa. Não fazia mais nenhum tipo de atividade com eles. Eu ia para o clube, eu ia na piscina, eu ia jogar bola com os amigos, com os novos amigos agora que eram do clube, sabe. É uma vida social diferente, e... já é um pessoal um pouco mais instruído, né, porque os pais deles tinham um pouco mais, assim, uma preocupação de educar... essas crianças, né, que agora eram meus amigos. Então, a gente a acaba absorvendo isso daí, também, né. Então, eu praticamente ficava o dia inteiro no clube, de segunda a domingo. Domingo não tinha... quando não tinha jogo, eu ía de manhã treinar com a porta do ginásio fechada. Eu ia treinar sozinho, inclusive eu era muito amigo do roupeiro que morava perto da minha casa e chegava no sábado, como eu passava o dia inteiro e tinha treino de manhã e ficava à tarde na piscina, chegava no sábado à tarde eu falava: "Bela", porque o nome dele era Bela, "Bela, deixa a chave já escondida lá no local". Porque ele já sabia o local que era para deixar a chave do ginásio. Eu ia lá abria o ginásio, abria a rouparia, que ele tinha uma tamanha confiança em mim. Eu pegava a bola, ficava na quadra, lá, batendo bola sozinho, duas, três horas no domingo, aquele sol escaldante. Ao invés de eu ficar, sei lá, me divertindo, indo lá na piscina, eu ficava lá das 20h até umas 23h horas treinando sozinho. Eventualmente, meu irmão ia, mas ele já era um pouco mais velho, então já ia mais atrás das meninas, tudo, né. Já atravessando mais a fase adolescente e foi assim e foi aprimorando e até que eu cheguei até um bom nível de disputa. Eu acho que se até eu tivesse me dedicado mais eu poderia até tá jogando em algum clube conhecido, mas a gente tem que fazer uma escolha, né. Tem... tem que ter uma consciência, um certa hora, porque, queira ou não queira, embora a carreira de atleta é uma vida gostosa. Eu gosto disso. Financeiramente é perigosa. Não só, o atleta do basquete ou atletismo ou do futebol mesmo, que se ele não tem é um... um apoio por trás, se ele não se sobressai é uma carreira que com 33, 35 anos já acabou. E daí, eu vou fazer o que? Ter uma profissão.
P- Você também participava na época da escola ou no curso técnico nos times?
R- Sim, eu participei nos... no meu curso técnico do time da escola. Mas foi muito... muito pouco a participação. Primeiro porque não... não tem o incentivo de se realizar um campeonato assim interescolas. Neste ponto é muito fraco. Tem... tem assim campeonato interno de escola, mas isso daí praticamente chega até
a ser até ridículo você comparar um nível seu de um atleta de clube, com pessoas que só fazem educação física, né, tem contato uma vez a cada dois meses com um bola de basquete e querer disputar alguma coisa, né. Mas... em termos de escola, tive pouca, mas foi... foi o que surgiu. Se não surgiu mais então não tive outras participações.
P- E naquela época de adolescência, você já tinha um sonho assim, ser um grande profissional do basquete ou...
R- É... a gente se empolga um pouco, porque as coisas começam a acontecer. Você vai jogando um campeonato. O campeonato paulista. De repente você consegue... sua equipe se classifica e aí você vai disputar um campeonato estadual no interior e você começa a conhecer times de outros lugares. Eu fui pra Campinas, eu fui pra Bauru, eu fui pra Piracicaba jogar, né. Então aquilo te empolga, né. Então, já pensou você é... conseguir um destaque. Jogar num time... naquela época o Sírio era um time
da categoria adulto que mais tinha destaque. Então, imaginava, pô, jogando no Sírio contra o time da Iugoslávia. Então, a gente tem esse sonho, né. Mas... e aí vai passando, você vai crescendo e você vai vendo que realmente a estrada está... está um pouco tortuosa, que não é bem assim o negócio. Tem um pouco de política no meio. É... o caminho não é tão... tão simples como a gente pensa.
P- Como é esse negócio de política?
R- Porque... embora... embora você seja um bom jogador tudo, você sente que tinha alunos... alunos não, jogadores de outros clubes que historicamente a situação financeira é melhor- um Paulistano, um Pinheiros, um Continental. Eles tinham... esses atletas tinham preferência de serem convocados para uma seleção paulista, tá. Ou de serem chamados para outro time de maior gabarito, apesar deles já estarem num time de bom nível, né. Por quê? Porque os pais desses atletas tinham um recurso financeiro de dar algum respaldo, caso necessitasse. A Federação não era uma entidade forte financeiramente, para dar um apoio para uma seleção mirim de basquete, infantil de basquete. A gente vê assim, sempre acompanhou, viu que sempre existiu a seleção brasileira de basquete. Mas o apoio praticamente vai só pra... pra categoria juvenil e principal. Pra restante se não é o pai de atleta desembolsar um pouco aquilo não sai do papel, né. Então, o Juventus sendo um clube de classe média, pessoas modestas, tal, não tem aquele poder econômico por trás, né. Não tem aquela máquina criando atleta, como tinha... eu me lembro muito bem que tinha um clube que era o Continental Parque Clube. Aquilo lá era uma máquina de criar atleta. Por quê? Ele via os atletas se destacando em algum outro time, e, selecionava pra eles. Mas em cima disso, eles faziam um preparo em cima dele incrível, desse atleta. Dava condições de estudos, pagava Colégio Objetivo que na época também era o máximo, né, pra molecada, pra adolescência. Pagava o Colégio Objetivo. É pagava a alimentação. Muitos chegavam até ser do interior pagava é... dava hospedagem pra eles. Dava o mínimo necessário pra eles. E dava dinheiro. E... a gente sentia isso, que tinha clubes que conseguia produzia atletas, né. Como o Zico foi produzido pelo Flamengo, tinha as... atletas sendo produzidos por esses clubes. O Continental ao meu ver era o que mais produzia esses times.
P- Dá pra perceber que foi um envolvimento forte com o basquete, né.
R- Foi. Foi muito forte.
P- E... em que momento começa a época dos namoros, e...
R- Então, como eu frequentava, né, o clube, praticamente todos os dias da semana. Então começa os namorinhos, porque nós tínhamos treinos aos sábados e as meninas do vôlei também tinham treinos aos sábados, acabava conhecendo as meninas, né, aquela... Chega a ser... não sei se chega a ser rivalidade. Porque a gente falava pra elas: "É, a gente ganhou de tal clube vocês perderam de tal clube". Mas da mesma maneira que nós íamos assistir os jogos delas, elas assistiam os nossos jogos. E, começava, né. Principalmente os namorinhos entre o pessoal do basquete e as meninas do vôlei. E ainda o pessoal que frequentavam a piscina tudo. Eu não posso falar de escola, porque, é... onde eu estudei, eu fiquei até um pouco traumatizado, porque era um colegial técnico e tinha pouquíssimas mulheres, tinham pouquíssimas. O curso profissionalizante pra técnico hoje ainda está tendo um pouco de procura de mulheres. Mas naquela época não tinha. Era praticamente 98% de homens. Então lá, esquece, esquece de namoros. Então eu tinha que partir para outro lado. E tinha bailes no Juventus, e eu como sendo atleta do clube eu tinha o privilégio de não pagar nenhum baile. Então carnaval, as domingueiras, esses tipos de coisas eu ia tudo de graça. Mostrava a carteirinha e entrava. E lá ia as meninas do vôlei, ia as meninas que frequentavam a piscina e formavam aquela turma, né, e acabava surgindo os namorinhos, tudo. Mas namoro sério mesmo nunca tive nenhum até os 21 anos de idade. Que eu arrumei minha primeira namorada fixa, que foi na faculdade, estou com ela até hoje. Mas...
P- Como é que ela chama?
R- Rosana, Rosana.
P- Como foi? Como foi a aproximação?
R- A aproximação foi até gozada, porque... hoje onde eu trabalho tinha... tenho um amigo que começou a estudar na sala onde ela estudava e eu ia... era a mesma faculdade e às vezes eu ia na sala dele, pra conversar, tal, encher o saco,
tal, vou mexer com ele. E ela me via na presença dele. Aí começou a pedir informações minha, tal. E surgiu uma oportunidade de nós sairmos juntos. Aí começou tudo. Depois briga, volta, sempre tem discussão mas... ela foi a primeira, fixa foi ela.
P- E o primeiro trabalho?
R- O primeiro trabalho foi na Eletropaulo. Assim... meu caminho na Eletropaulo começou pelo estágio. Em 1984 eu fui admitido como estagiário e eu passei o ano inteiro trabalhando numa regional. Regional naquela época chamava Norte. Estagiei, tive contatos com pessoas, são grandes amigos meus até hoje. É... eles até hoje falam quando é que eu vou me transferir de novo para aquele setor que eu deixei realmente grandes amizades lá. E passado esse estágio, eu fui ... como que é, vamos dizer... fui demitido entre aspas, né. Fiquei aí esperando uma oportunidade para ser efetivado, e fiquei três meses parado, procurando emprego, até que tive a oportunidade e fui efetivado em 1985. E estou no mesmo setor até hoje, né, no setor que eu fui efetivado.
P- Como foi a efetivação?
R- Minha efetivação foi meio tumultuada, porque quando acabou o estágio o coordenador de estágios da regional fez uma seletiva entre todos os estagiários da regional para serem dois admitidos, que tinha a disponibilidade de dois vagas naquela regional. E eu e outro rapaz nós passamos nessa seletiva. Então nós iríamos ser admitidos em dezembro de 1984. E o rapaz que tinha sido aprovado como eu, ele havia casado fazia pouco tempo e a esposa estava grávida. E esse meio tempo de efetivação, um... um funcionário do escritório central que era na... Xavier de Toledo, pediu uma transferência para o local onde eu ia trabalhar e absorveu uma vaga. Então ficou, dois pessoas que haviam sido escolhidas pra uma vaga e a pessoa lá, o coordenador que iria determinar quem iria ocupar, ele deu preferência para o outro rapaz, por causa das condições sociais que ele se encontrava, né. Eu, 19 anos, não tinha responsabilidade nenhuma, né. Eu acho que isso pesou muito na hora da escolha dele. O outro rapaz era... tinha um pouco mais de idade, é casado, ia ter filho, tudo. Então isso pesou na escolha e acabou admitindo ele. Só que nisso, que aconteceu, a vaga dessa pessoa que veio... que ocupou a minha ficou em aberto. Então teoricamente eu teria que ir pra lá ocupar essa vaga. Mas não foi o que aconteceu. Quando eu fui falar com o responsável do setor, né, onde teoricamente eu deveria ser admitido, ele me falou o seguinte: "Eu não posso te admitir, porque aqui passaram outros estagiários e não vai ser justo eu efetivar você", embora ele achava também que não era justo eu perder a vaga, "Mas eu tenho que fazer um outro teste com você, com as pessoas que estagiaram aqui". E ele tinha uma certa preferência pelas pessoas, por quê? Já conheciam o serviço. E eu vinha de outro local que não tinha nada a ver com o serviço que era desenvolvido naquele setor. Bom, conclusão, eu fiz outro teste com mais essas duas pessoas que estavam, que eram candidatos a essa vaga e não me informaram o resultado. Simplesmente falaram que eu não tinha passado, não obtive a melhor nota e que o rapaz que tinha estagiado lá, iria ficar com a vaga. Até... até nesse ponto eu estava meio conformado, porque eu sabia da dificuldade que seria ser efetivado lá. E... só que o pessoal que eu ... que estudou comigo no colegial, nós éramos muito unidos, né, e sempre nós saíamos à noite, no final de semana, pra comer uma pizza, ir jogar boliche, fazer alguma coisa. Numa dessas reuniões, no final de fevereiro eu fiquei sabendo que essa... essa pessoa que tinha sido escolhida para esta vaga havia repetido de ano. Então, ela não poderia ser efetivado como técnico, porque a vaga era destinada a técnico de eletricidade. Mais do que depressa, eu acionei, acionei as pessoas que eu poderia contar, né, que seriam onde eu fiz o estágio. Falei pra eles, "Ó, a pessoa que está destinada aquela vaga ela repetiu de ano, ela não pode ocupar a vaga. Vê o que vocês podem fazer por mim". Essa pessoa que eu tenho muita admiração, infelizmente ela já faleceu, que é o José Carlos de Souza. Ele foi... foi atrás pra mim. Ele foi e batalhou. Ele insistiu com esse, que foi meu gerente, né na admissão. Ele falou: "Ó, o rapaz é competente, ele merece essa vaga. O rapaz que vocês tinham escolhido ele não pode exercer a função porque repetiu de ano, e tudo". E tanto ele fez, fez, que fez
que é o... esse antigo gerente meu falou: "Está bom, então vou admiti-lo". E... em 22 de março de 1985 eu finalmente consegui entrar na Eletropaulo.
P- Começou em que setor? Em que local?
R- Lá, na Xavier de Toledo, né, terceiro andar. O Departamento é Projeto da Distribuição, e a divisão é Divisão de Estudos da Distribuição Aérea, na qual trabalho até hoje.
P- E que lembranças você tem daquela época da Xavier de Toledo?
R- É... O que eu tenho de lembrança é que foi um período rápido a minha estada lá na Xavier de Toledo. Mas eu fiquei assim deslumbrado pelo prédio, né. Porque o prédio da regional, onde eu estagiei um ano, era humilde, era um prédio pequeno, né, comportava poucas pessoas. De repente eu troquei meu universo,
eu estou indo para o órgão central, para a central da companhia. 3 mil pessoas trabalhando no mesmo lugar. É um prédio com uma carga histórica importante pra cidade de São Paulo, né. Ali começou-se a desenvolver praticamente a cidade. Eu via aqueles corrimões de bronze, todos polidos, aquele elevador de porta sanfonada, escadas de mármore, carpete. Um prédio com o pé direito alto, né, secador de mão no banheiro, um negócio que eu nunca tinha visto na minha vida. O banheiro parece uma galeria de arte, cheio de armários, com os vasos assim, enormes, diferentes da concepção atual, né, era um... negócio antigo, mas bonito, né, bonito de se ver, diferente, um negócio requintado.
P- E depois, você foi pra onde?
R- Depois, o meu setor foi transferido para 9 de Julho, pra avenida 9 de julho quase com a Santo Amaro. Lá, embora protestos de todo... de todo mundo que foi deslocado para lá, foi o melhor local de trabalho.
P- Por quê?
R- Porque, primeiro que o prédio, a área por andar era pequeno. Então você ficava praticamente isolado. Sua... seu setor ficava isolado num lado do andar. Então você tinha mais liberdade pra fazer as coisas. Não ficava aquele... é... aquela pressão de uma outra pessoa, de um outro setor te vigiando. Como acontece hoje onde eu trabalho. É... não que seja uma coisa de propósito, mas é meio, meio desagradável. Por exemplo, você olha aqueles filmes norte-americanos, né. Como uma pessoa que trabalha na imprensa. Então ele tá lá na sua mesinha e você olha pra trás vê aquele monte de pessoas nas suas mesas, aquele barulho. É toca o telefone, é micro funcionando, é pessoa datilografando, é outro gritando conversando, falando alto, né. Isso daí... interfere no seu rendimento, no seu desempenho do serviço. E lá na 9 de Julho não era assim. Era só seu setor. Tinha aquelas as 20 mesas da... minha divisão e acabou. Então era tranqüilo, eu era... eu trabalhava no terceiro andar, a copa das árvores estavam bem... bem na janela. Vinha passarinho cantar, porque o local do prédio é próximo aos Jardins, é uma área bem arborizada. Então era um ambiente gostoso de você ficar lá trabalhando. Você via verde, né. E não via aquele monte de pessoas, não tinha uma poluição sonora, né... te incomodando o dia inteiro. Hoje não, hoje por exemplo, no andar onde eu trabalho que é lá na Granja Julieta, são mais de 120 pessoas. Tem 12 micros funcionando com impressora. Aquilo é altamente irritante, ar condicionado, são fatores negativos para o seu desempenho. Coisas que irritam, né, no seu dia a dia.
P- E o lazer na Granja Julieta?
R- Lazer na Granja? Isso é a grande briga minha com os diretores da ADC, né. Aliás, uma das brigas, né, porque embora a gente fale que é briga, mas sempre visando o melhor da associação, visando o melhor para todos os associados, né. Porque, infelizmente, a Granja não dispõe de área de lazer. Eu sempre falo com eles, né. Puxa vida, a Granja é o local de maior concentração de funcionários, merecia uma... uma área de lazer destinada a estes funcionários. Porque nós vimos prédios de regionais, com 50 ou 60, talvez até com lugares com menos, e tem um cantinho de lazer. Tem uma mesa de sinuca, tem uma mesa de pebolim, tem um pingue-pongue. Tem uma área reservada para o lazer do funcionário. Fora outras... outras sedes que chegam a dispor de piscinas, de quadras. Nós temos em Sorocaba um ginásio belíssimo. Não que eu seja contra a esse tipo de coisa. Eu acho que todo mundo tem o direito a ter o lazer. Mérito deles, lógico. Mais que nós ficamos um pouco esquecidos, ficamos. E isso eu cobro deles até hoje. E é uma das minhas brigas.
P- E... Você frequenta a ADC?
R- ADC, a ADC eu frequento por esporte. Porque eu jogo no time da... seleção de basquete. Então, praticamente a minha participação na frequência do clube, é praticamente esportiva. Eu não usufruo da... das piscinas que o clube possui em outras sedes, nem na própria Praia do Sol, que seria o grande clube da associação. Não frequento pela distância. É muito longe da minha residência. Eu acredito que também a frequência desse clube seja baixa até hoje, por causa disso. Por se localizar muito longe da concentração da moradia dos funcionários da Eletropaulo, que hoje, eu posso te afirmar com certeza, mais de 80% dos funcionários que trabalham na Granja, que são em torno de 5 a 6 mil, ou moram
Zona Norte ou Zona Leste. Conclusão, eu, por exemplo, para mim deslocar até a Praia do Sol eu tenho que andar 42 quilômetros e pra ir até o Juventus eu ando seis, com trânsito fácil. Então isso pesa muito na hora de... de você praticar o lazer, né. Então só se for algo realmente especial, combinar entre os amigos, "Olha, vamos fazer um churrasco. Então vamos lá na ADC". Então é assim a minha frequência. Realmente a minha frequência é limitada lá, mas é... se deve puramente a isso aí. Eu gostaria, realmente eu gostaria de enfrentar mais. Gostaria de tornar esse clube mais de coração do que ele é, mas é difícil.
P- E, participação em chapas.
R- É, a ADC ela é um pouco atípica as outras associações, né. A ADC sempre concorreu com chapa única. Talvez, não sei se falta o interesse de alguém assumir essa responsabilidade, ou se o pessoal tá contente com a atual administração ou o quê que acontece, mas a minha participação aí política na ADC, hoje eu sou conselheiro. Já fui... é o segundo mandato de conselheiro e... eu tento colaborar da maneira possível né, que me é cabível desempenhar isso daí. Eu tento levar... o que, o que o associado pretende e deseja, né, da associação. E um dos anseios realmente é alguma coisa de lazer na Granja. Então, a minha participação resume-se a isso, mas eu não sou uma pessoa que efetivamente participa da política
esportiva. Eu até prefiro ficar um pouco fora. Eu não... não gosto de jogo de palavras. Eu gosto é determinação, né. Meu negócio é mais prático.
P- Elio, como é o seu cotidiano hoje?
R- Meu cotidiano hoje. Espero que este cotidiano esteja assim terminando, ano que vem eu mude um pouco, né. O cotidiano hoje é levantar 6h, 6h15 da manhã. Se trocar correndo, toma banho, ai pega a moto, vou para o serviço, desempenho as funções que tem de ser desempenhadas lá. 16h30, 16h45 saio correndo volta pra casa, tomo banho, janto, vou correndo para a faculdade. Volto lá umas 23h e pouco e durmo.
P- E o trabalho dentro da empresa?
R- Dentro da empresa? Olha...
P- Como é a relação até com a chefia... com os amigos?
R- Eu até que sou bem visto lá. Não tenho... nunca tive desavença com ninguém. Sou até calmo, né, para o trabalho. Embora as atividades, lá sejam bem diversas, né, e, às vezes, requer certa urgência na hora da... da execução da tarefa. Porque, meu serviço é bem... bem diversificado. Eu faço atendimento a consumidores de grande porte, né. Então shoppings centers. Eu sou o rei dos shoppings centers, lá, né. Então nós... a equipe na qual eu trabalho, nós analisamos o shopping center de cabo a rabo. Desde a sua concepção, né, na parte elétrica. A gente dá um suporte para os projetistas, tudo. A parte interna. Até por exemplo a parte externa. Eu elaboro projeto para a ligação deles. Então... a gama de conhecimento que nós temos que ter, é grande. Então envolve é... você tem que... pesquisa,
você tem que ir atrás de dados. Realmente utilizar aquele conhecimento que você aprendeu na escola. O que não acontece, como eu... como eu já tive essa experiência na regional. Você na regional você aplica 1% do que você aprendeu na escola. E lá não, no meu setor é bem ativo em relação a isso, né. Eu posso dizer que... é... é bem, é um setor bem técnico. É bem técnico o meu serviço.
P- E que... grandes projetos que você já participou dentro da empresa?
R- Grandes projetos? Ligação do West... West Plaza. Do Shopping Plaza Sul, do Shopping Miramar, do Shopping Taubaté, do Shopping... o de Jundiaí... me escapou o nome dele. É... Max Shopping Jundiaí, Esplanada Shopping de Sorocaba. Estou fazendo, o São Paulo Marketing Place, que é ao lado do Shopping Morumbi, fora outras... outros consumidores, né. Por exemplo, o Itaú Conceição, ali próximo da estação Conceição do metrô eu participei do projeto. É... o túnel do... que atravessa hoje o canal do rio Pinheiros. Então são... são realmente projetos de vulto, são grandes empreendimentos, tá. Então a gente cuida não só da parte de atendimento a ele, mas quanto na qualidade de fornecimento de energia. Que nós vemos também qualidade de tensão que tá chegando no camarada, né. A gente precisa manter uma... um certo nível, né, de atendimento.
P- Você vai fazer dez anos de casa, né?
R- dez anos de casa.
P- E nesses dez anos, Como é que era no começo? Como é que você vê a empresa hoje?
R- A empresa hoje? Bom, no começo pra quem nem imaginava que fosse trabalhar na Eletropaulo, né. Era... achava aquilo lá, o máximo, apesar que eu acho hoje, eu acho meu emprego, meu serviço de grande importância, de grande valia, né. Mas a gente se decepciona um pouco com as... as mudanças que ocorrem por causa das mudanças políticas, né. São coisas que independe de você. Você vê que a empresa deixa um pouco de evoluir, no aspecto técnico, né. Você no aspecto profissional, um pouco por causa disso... da interferência política. Então uma pessoa, por exemplo... eu fiz inscrição para estágio, nem imaginava que fosse trabalhar na Eletropaulo, eu fui porque quando eu estava terminando o colegial é necessário você fazer um estágio para obter o diploma de técnico, né, então vai aquele pessoal da sua turma. "É vamos fazer estágio... inscrição no Metrô", aí vai todo mundo. "É vamos fazer estágio na Etel", que fabrica transformador, vai todo mundo. "Vamos fazer estágio na Eletropaulo", a
inscrição, foi lá fazer a inscrição. Acabei fazendo inscrição na Eletropaulo. Acabei passando. Aí de repente abriu um horizonte que eu nunca tinha imaginado, que seria trabalhar lá. Aí eu vou para uma regional, fico fazendo estágio. Aí depois sou admitido no escritório central. Aí achei aquilo lá... quer dizer, acho que foi o passo mais importante da minha vida... em termos profissionais. E você começa a ter contato com... Principalmente nesse tipo de atividade que eu... que eu faço, na minha divisão, a gente tem contato com grandes empreendedores, com pessoas que realmente tem o poder econômico e político muito grande, tá. São pessoas que... que dispõem de milhões para investir. Porque o investimento de um shopping não é coisa pequena. Então, você começa a frequentar ambientes assim, como o Centro Empresarial Lubeca. O Condomínio Lubeca. Puxa vida, logo de cara você recém-admitido, você começa a ir lá, verificar as condições do consumidor, tudo. Você fica deslumbrado, né. Você se empolga. E com o passar do tempo, como eu disse, né. Você se decepciona, porque você deixa de crescer, você vê que a empresa deixa de crescer por interferência de terceiros. Por problemas políticos, né.
P- A sua expectativa dentro da empresa. Qual é?
R- Olha, eu tenho... vamos dizer duas expectativas, né. A longo prazo, né, e a curto prazo. Bom, a longo prazo, né, como eu estou terminando o curso de Engenharia, eu quero seguir a minha carreira aí. Porque o funcionário da Eletropaulo, ele... eu acho que ele é um pouco diferente dos funcionários das outras empresas, sabe. Ele veste a camisa, ele... é...uma coisa meio familiar lá dentro, tá. Você percebe porque... pelo tempo de casa de muitas pessoas, lá. Você conversa com um, tenho 20 anos, outro tenho 30, muitos tem 35, já estão em fase de aposentadoria, e foram... foi o primeiro emprego. Você sente lá o ambiente meio familiar, que a pessoa se identifica com a empresa. Eu percebo isso porque, eles falam muito, os antigos, "é quando era Light era assim" e mesmo passando de uma empresa privada, para uma estatal que é hoje, né, eles perderam financeiramente, mesmo assim eles não desistiram, ficaram lá. Tiveram, vamos dizer, um amor a empresa e deixaram, porque eles poderiam ter procurado outro campo profissional, outras empresas, que, pela bagagem que ela dá, com certeza, seriam admitidos em outras empresas.
P- E a longo prazo?
R- Então, esse é o meu longo prazo.
P- E a curto...
R- O curto prazo. O curto prazo está enrolado, porque esse negócio de privatização deixa a gente meio inseguro. Então a minha esperança, a minha expectativa, seja que mesmo privatizando não mude. Não mude essa consciência que existe lá hoje, tá. Porque o pessoal fala privatização é sinônimo de corte, demissão, arrocho de salário... é... então, você fica meio assim, na expectativa, não sabe o que vai acontecer, né. Ainda mais eu, que estou numa fase de transição, sou técnico hoje, daqui três meses me formo. Vou... vou pretender, né. Quero ser engenheiro lá dentro... eu sei das dificuldades que vai ser pra mim ser promovido. Então, a gente sente que não vai ser fácil pelo menos esse início aqui da... porque é uma nova era política que está começando, né. Você não sabe o que vai acontecer porque com certeza o governo que está lá não vai se manter. E... o que virá você não sabe o que esperar dele.
P- Você sabe como são os critérios de promoção dentro da ...
R- De promoção? Eu não posso lhe dar a certeza, né. Mas esse ano, dos dez anos que eu trabalho, essa é a primeira vez que eu ouvi falar num concurso interno de aproveitamento de recurso, né, de recurso humano interno. Então o que acontece? Havia muitas pessoas formadas em engenharia e que não conseguiam a promoção, não conseguiam passar para engenheiro. Agora, os motivos eu não sei... se era... realmente a qualidade técnica da pessoa, ou se não havia a disponibilidade de vaga, ou se... é a chefia não... não achava que não era adequado pra passar essa pessoa, né. Pra promover essa pessoa. E... então eu conhecia pessoas com três, quatro anos formadas e não eram promovidas. Aí, esse ano aqui, aconteceu essa abertura, né, teve um reenquadramento de pessoal. Aconteceu. Mas uma vez em dez anos, e eu não sei o que pode acontecer daqui em diante.
P- Você trabalha de manhã e à tarde, estuda à noite.
R- Estudo à noite.
P- Onde você arruma tempo para o lazer? E qual é o lazer? O quê que você gosta de fazer?
R- Meu lazer. Bom, viajar é imprescindível, né. O basquete vem, lógico, em primeiro lugar porque eu devo muita coisa a ele... minha formação pessoal, como pessoa influiu muito, né. Gosto de jogar futebol, gosto de nadar, ando muito de moto, gosto de fazer umas trilhas por aí. É... não sou nenhum profissional, eu vou assim, espontâneo, nada de velocidade, alguma coisa assim, mais radical, né. Ou pra curtir mesmo a natureza, ou andar com a moto na praia, caminhos pelas montanhas, tudo. Eu vou muito para o interior, estrada de terra, né, Serra Negra, vou bastante. Indaiatuba. Vou muito para Ilhabela. E... então, esse espaço eu arrumo... feriados, sábado, eu costumo quando... quando eu tenho condições, dar uma matada na aula, eu vou... vou bater uma bola no clube. Eu jogo pela ADC, sábado à tarde tem o treino, né. Domingo... a gente... eu prefiro já ficar lá no Juventus... a gente bate lá uma bolinha, o pessoal faz um rachão, depois curte uma piscina, fica entre os amigos porque da mesma maneira que eu tive que abandonar o esporte, né, o basquete de uma maneira, vamos dizer, profissional, né. Meus amigos também tiveram que abandonar. Então a gente tem aquela panela, se reúne. Fala: "Pô, se lembra quando a gente jogava assim e assado, aquele jogo do fulano de tal". Então... Começa a bater um papo. E hoje, jogando pela ADC, que seria um basquete empresa, né, que a gente chama. A gente acaba encontrando as figuras que a gente defrontou quando era adolescente. Agora, o cara está trabalhando numa firma, por exemplo, está trabalhando na Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo] e o cara da mesma maneira também teve que abandonar para optar por uma profissão. Mas ele é uma pessoa como eu, ele não deixou o basquete, pratica pela empresa. E você acaba encontrando ele... por exemplo, na Sabesp, na Voith, em outras empresas por aí, ou mesmo campeonatos independentes é... de centros educacionais. A gente encontra muito, muitos caras que você já... já viu pela vida, que você defrontou, né, em clubes. E é gostoso. Porque você acaba matando saudades, tem recordações saudáveis daquilo lá. Porque era uma rixa, né? Nós tínhamos richa entre os clubes, mas era altamente saudável. Era um negócio gostoso. Eu me recordo uma vez que nós fomos para um estadual em Campinas. Então ficou... num alojamento ficou a delegação do Palmeiras, do Espéria, do São Bernardo, a nossa, a de Piracicaba, a do Luso de Bauru e uma de São José de Rio Preto que eu não me recordo o nome do time. Então, ali, em média é 15 adolescentes por cada time. Multiplica por sete, quanto vai dar isso? Vai dar 95 pessoas. Então, era uma farra, era uma coisa incrível. E você recorda aquilo lá com uma... sabe, uma felicidade. Que são coisas que não vão sair da sua mente. Então quando você encontra essas pessoas, você fala, puxa, você se lembra daquilo. Embora eu não me considere velho, porque a pessoa que se considera velho, acho que está perdendo com ela mesmo, né. Mas sinto que eu tenho um passado, né. E é gostoso recordar isso.
P- Pra finalizar, já que você está falando do passado. Você mudaria alguma coisa na sua vida?
R- Se eu mudaria alguma coisa na minha vida? É às vezes... é... as pessoas sempre falam, eu não me arrependo nada do que eu fiz, eu me arrependo daquilo que eu não fiz né. Mas não é bem assim não, viu? Tem coisas que você faz e que você acaba ponderando. Fala: "É, não é bem isso", né, porque a gente aprende muito com os erros. Eu acredito que... eu poderia ter sobressaído um pouco mais se eu não... se eu quisesse. Às vezes, o excesso de humildade acaba prejudicando, porque... você tem que... embora você não seja o líder do grupo, de alguma coisa, você tem que impor a sua vontade. E muitas vezes eu deixei passar oportunidades, por exemplo, pra jogar em algum outro clube de maior fama, por humildade, por pessoas fazerem a minha cabeça. Por exemplo, eu tive convite do Monte Líbano, tive convite do Paulistano pra jogar lá. E... então o quê que acontece? Você como adolescente, você... pra você ser liberado de um clube pra jogar em outro você tem que pedir uma carta, né. A Carta de Liberação. Aí o quê que você fazia, você ia conversar com o diretor. "Ó, eu tenho a intenção de jogar em tal clube que o pessoal está me chamando, eles vão me pagar. Assim, assado, tal". Aí o cara vinha e falava: "Pô, você vai deixar seus amigos. Você vai jogar naquele clube, é longe da sua casa. Você vai ter que tomar ônibus. Seus amigos moram todos... são todos daqui, você frequenta o clube. É perto de sua casa. Você vai deixar esse ambiente". E você acaba... se deixando levar, né. E nessa hora que você devia ser mais firme. Olhar para o outro lado e falar. "Não, o melhor para mim é eu sair daqui. Então deixa eu me impor, não vou ser humilde e concordar com isso". Eu vou... é, tá legal, tem que abaixar a cabeça. Não, não era bem isso que eu deveria ter feito. Eu deixei certas oportunidades escaparem. Não vou falar que eu me arrependo. Eu não me arrependo porque talvez o fim seria o mesmo. Eu estaria hoje aqui, não teria sido um jogador profissional, de um clube, mas é... a minha história poderia ser um pouquinho mais alegre no final, né, porque quando eu deixei de jogar, é... eu senti muito, senti mesmo, não só o aspecto físico porque está acostumado a treinar sempre, mas o aspecto psicológico. Não parece mais abala porque você vê hoje um jogador de futebol, joga 15, 20 anos, é difícil ele abandonar, é difícil. É um vício, chega a ser um vício o esporte tá, e... é saudável, pelo menos esse vício é saudável.
P- Elio, muito obrigado pela entrevista.
R- Ok, muito obrigado vocês de ter a oportunidade de eu falar um pouco do que eu penso, do que eu sou.
P- Tá legal.
R- Obrigado.Recolher