P/1 – Arthur, primeiramente eu gostaria de agradecer a sua participação. Pra começar, eu gostaria de perguntar o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – Meu nome é Arthur Augusto Gomes Cotrim, eu nasci em São Paulo, em 1989.
P/1 – Que dia e mês?
R – Dia 18 de Setembro.
P/1 – Está certo. Você poderia falar pra mim o nome dos seus pais?
R – Meu pai se chama Antônio Miguel Cotrim e minha mãe Wanda Gomes de Castro.
P/1 – E o que eles fazem, qual a atividade deles?
R – Eles têm uma produtora de vídeo, minha mãe tem uma produtora, meu pai é publicitário, faz campanha política também, todo o tipo de propaganda.
P/1 – Você pode descrever um pouquinho disto pra gente?
R – Meu pai, ele faz campanha política na verdade, campanha publicitária de eleição, de prefeito, sei lá, de político. Eu nunca soube direito o que ele fazia (risos). É sério. Minha mãe tem uma produtora, eles usam a produtora dela pra fazer propaganda, fazer tanto pro trabalho do meu pai, como pra outras coisas.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Eu tenho quatro irmãos.
P/1 – E como é você nessa escadinha?
R – Eu sou o único dos meus pais, minha mãe tem outros filhos e meu pai tem outra filha. Eu cresci sempre no meio dessa loucura, na confusão.
P/1 – E você conhece seus avós, chegou a conhecer seus avós?
R – Conheço meus quatro avós, um avô morreu já e tem três vivos. Eu me dou mais com as minhas avós, meus avôs são...
P/1 – (risos) E você conhece a origem da família?
R – A do meu pai, eu não sei, acho que eu nunca tive contato com eles, eu sou mais ligado na família da minha mãe. Eles são da Itália, meu bisavô, meus tataravôs eram da Itália, aí vieram para o interior, ficaram lá até a minha mãe vir pra cá. Minha mãe não, na verdade veio a minha avó com os filhos dela.
P/1 – E você disse que nasceu aqui em São Paulo. Você pode descrever pra gente a sua rua, na sua infância, na casa onde você morava?
R – A minha rua é sem saída, eu me sentia no interior. É muito calmo, não tem movimento de carro, a gente sempre brincou na rua. Até hoje minha sobrinha que é pequeninha ainda brinca lá, minha rua é ótima, eu não sairia de lá não (risos).
P/1 – E como era o Arthur criança, do que ele gostava de brincar?
R – Eu ainda sou o Arthur criança, né? (risos) Eu gostava de brincar na rua, desde moleque sempre odiei futebol, empinar pipa. Eu jogava taco, taco era legal. Na rua não tinha movimento de carro então dava, eu ficava lá.
P/1 – E você tem lembranças do comércio na sua infância, alguma loja que você gostava de ir com seus amigos?
R – Tinha. A minha rua era só de casas e tinha uma loja de sapatos enorme na frente da minha casa e tipo, nada a ver, ninguém ia lá comprar e a loja bombava, era muito cheia. Era Moni Calçados e a minha casa era estacionamento da loja, era muito legal, era um lugar que hoje não daria pra ter, não daria certo.
P/1 – Você mora no mesmo lugar até hoje? Que bairro que era esse?
R – No mesmo lugar. Moramos eu, a minha avó na frente, minha prima do lado, então a gente vai ficar mais tempo lá.
P/1 – E como é morar perto da família, ter esse contato assim tão próximo?
R – Eu não sei como não é sem ser assim, né? Mas eu acho ótimo. Dormir na minha avó, que é lá na frente. Cresci na minha avó. Enquanto meus pais trabalhavam eu ficava lá na rua largado, era ótimo.
P/1 – E qual a sua primeira lembrança do período da escola?
R – Não sei, lembro de chorar. Eu sempre odiei ir pra escola, de bater no professor, de espernear porque eu não queria ficar lá. É a primeira, mais pequeninho. Minha chorando, me deixando, eu chorando e entrando, ela vindo me buscar depois de meia hora, acho que é a primeira lembrança que eu tenho (risos).
P/1 – E depois tinha alguma matéria que você gostava mais, depois um pouco mais crescido?
R – Ah, artes. Sempre adorei, brincar, fazer coisas com a mão, manual, né? Eu acho que talvez era a única coisa que eu gostava. Depois, mais pra frente... Acho que não, de matéria eu nunca gostei assim, nem nada. Se eu pudesse eu não estudava nada (risos).
P/1 – Tem alguma lembrança divertida de algum professor ou algum amigo?
R – Só coisa de bêbado (risos). Depois, mais tarde. Mas de professor, eu não lembro não.
P/1 – Depois você foi crescendo, já adolescente e o que você gostava de fazer, com quem você saía, onde vocês iam?
R – Ah, eu comecei a namorar cedinho, acho que coisas de namorados né? Baladinha, bar, eu sou fã de bar, eu sempre fiquei nos barzinhos depois que eu comecei a ir com uns 16 anos, cinema, boliche (risos).
P/1 – Eram coisas ali no bairro mesmo ou vocês saiam pra outros lugares?
R – Eu chamo a Zona Norte de Minha Zona Norte, lá tem tudo o que eu preciso, eu só saio se tiver que sair de lá. Lá tem tudo (risos).
P/1 – Você terminou a escola e o que você fez?
R – Eu terminei a escola sofridamente, repetindo de ano várias vezes e eu já tatuava, já trabalhava durante o colegial e eu montei um estúdio com a ajuda dos meus pais, no segundo colegial e aí fui indo, tatuando os amigos. Aí terminei o colégio, a gente montou esse estúdio que é um pouco maior e estou lá até hoje. No meio disso comecei tentar a fazer faculdade, mas foi um pouco difícil porque tem muito trabalho na faculdade e estudar também não é fácil pra mim e aí eu dei uma parada e agora estou focando em trabalhar mais.
P/1 – Essa foi a sua primeira atividade profissional?
R – É. Não gosto de trabalhar com outra coisa não. Foi a primeira.
P/1 – E como é que veio essa vontade de tatuar?
R – É como eu falei, acho que meu pai influenciou por também ter sido tatuador. Mas durante o meu crescimento eu não vi ele tatuando. Acho que quem me influenciou mais foi meu irmão que começou a tatuar antes de mim e tatua até hoje também. Sei lá, eu achava bonito ter a minha família tatuada. Acho que foi bem natural.
P/1 – E você se lembra de alguma vez que você viu o seu irmão tatuando, a primeira vez que você viu ele tatuando?
R – Ah, eu lembro da primeira vez que eu vi uns desenhos de tatuagem dele que eu achei sensacional. Lembro de querer ter uns daqueles primeiros que são meio que feios até hoje. Mas no dia que eu vi, eram lindos. Ele me tatuou, tatuou minha irmã, tatuou a minha prima e eu era uma criança, ficava olhando, gorando, né?
P/1 – E como é que foi, quando é que você fez a sua primeira tatuagem?
R – A primeira tatuagem, o meu pai, não sei se é verdade ou se ele inventou pra me zoar, que tinha que ser em mim mesmo a primeira tatuagem que eu tinha que fazer. Aí eu fiz, voltei da escola, falei que iria fazer e fiz pequeninha. Eu acho que era pra me zoar, eu nunca ouvi isso de outra pessoa.
P/1 – E o que era o desenho, como é que foi fazer?
R – É um diabinho, tenho ele aqui até hoje, todo feio, horroroso. Ninguém me ajudou a fazer, fiz em casa, sozinho. Fiz as agulhas, fervi elas de qualquer jeito pra limpar e fiz. Ficou horroroso (risos).
P/1 – E como é que você aprendeu a utilização desses materiais , até mesmo pra fazer em casa?
R – Ah, meu pai me ensinou tudo, ele sabia. Ele sabia como se fazia antigamente, né? Hoje em dia é bem diferente, mas a base é a mesma. Material também fui comprando com eles.
P/1 – E nesse começo você falou que estava no colegial, como é que foi pra abrir o seu estúdio com a ajuda dos seus pais?
R – O primeiro eu abri em sociedade com uma prima minha e meu pai por trás de mim me ajudando a montar. A gente montou lá perto de casa que é meio periferia, em cima de uma loja de vassoura meio nas coxas. Deu certo, não deu muito dinheiro, mas experiência cem por cento, né?
P/1 – Você lembra do seu primeiro cliente?
R – Nossa, não lembro, estava tão nervoso. Imagina, 16 anos e chega alguém querendo tatuar comigo e a minha cara de criança, totalmente insegura, né? Nem lembro.
P/1 – E quanto tempo você ficou nesse estúdio?
R – No meu colegial inteiro, foram três ou dois anos.
P/1 – E aí você já desenvolvia, já fazia os seus próprios desenhos? Como é que era, as pessoas chegavam com pedidos?
R – É como é até hoje, tem de tudo. Tem que desenhar, tem que criar. Às vezes a pessoa chega com o desenho pronto, é um desenho que ela quer, mas é horrível, tem que refazer ou tem que convencer ela de que está horrível. Às vezes já vem com o desenho prontinho, é só colar e mandar ver.
P/1 – E nesse período você já conheceu outros tatuadores ou você já trabalhava só em família, como é que era?
R – Meu primo tatuava comigo também, não era um bom tatuador, não me ajudou muito, mas sempre tive alguém do lado, tatuando também. Sozinho é difícil, tem que ter opinião, tem que ter a experiência do outro também.
P/2 – Como é que você definiria um bom tatuador? O que precisa ter pra ser um bom tatuador?
R – Ah, tem que ter uma sensibilidade artística na hora de criar e eu dou muito valor pra qualidade da tatuagem. Um bom tatuador tem que fazer o traço retinho, tem que pintar de uma forma homogênea, mas é isso. Tem os tatuadores brilhantes que são artistas e fazem uma obra de arte, mas comercialmente, no mínimo tem que ter uma tatuagem perfeita, um traço certinho, perfeito. Acho que é isso. É difícil falar quem é bom e quem é ruim.
P/1 – E como é que você se desenvolve nessa atividade, é a partir da prática mesmo ou é através de cursos? Como é que é?
R – Então, falam: “Nossa! Isso é dom”. Tatuar é um dom, uma arte, mas tudo é treino, tudo é prática, ninguém nasceu bom, tudo é treino. Existe curso, eu não fiz curso, não conheço ninguém que fez também e é só errar. Tatuador bom já teve que errar muito pra ficar bom, é só pegar e estragar a pele dos amigos, né? Todos os meus amigos têm tatuagens, todas horrorosas, minhas. Tenho vergonha, mas foi necessário, né (risos)?
P/1 – E como é que foi pra você chegar até o estúdio que você tem hoje? Você decidiu fazer parceria com outras pessoas, como é que surgiu?
R – É eu comecei novo, então nunca tive condição de fazer as coisas sozinho. Então, o primeiro foi com a minha prima, ajudando o marido dela também, a gente montou uma sociedade, não deu certo. Aí eu fiquei juntando dinheiro, tatuando amigos em casa, acho que por um ano, um ano e meio e com meus pais também me ajudando a procurar um lugar. Eu queria montar um negócio com a minha irmã, que ela é minha sócia até hoje e eles ajudaram a gente. A gente não tinha experiência, então meus pais acharam um lugar legal, que dava pra fazer lá em Santana e foi. Hoje eu estou com a minha irmã lá de sócio.
P/1 – E como é ter alguém da família como sócio?
R – Ah, é bom. Ela é muito estouradinha e eu tenho que administrar, tem que ser com calma porque se você briga lá, você leva pra casa, né? Então, tem que tentar viver ao máximo em equilíbrio, mas é muito difícil, tem muita liberdade. Fala demais, briga muito fácil.
P/1 – Descreve pra mim o estúdio hoje, como é que é a fachada, como ele é por dentro?
R – A idéia da fachada foi do meu pai também, que é demais. A gente pegou uma fachada que é com o pé direito alto, tem um dragão pintado na frente, enorme. Acho que o sucesso do estúdio foi só graças à fachada porque ele em uma rua é recuado porque tem um estacionamento na frente, então não tem visão. A gente está lá há quatro anos e o pessoal passa e fala: “Pô, eu nunca vi isso aqui e eu passo aqui todo dia”, porque ela é bem recuada. Então a fachada lá, é o principal, é o cartão de visita.
P/1 – Qual o nome do estúdio? De onde surgiu a idéia do nome?
R – Skink, que é a mistura de skin que é pele e ink que é tinta. Aí meu pai também teve a idéia. Aí a gente colocou no Google e Skink é um lagartinho, então o símbolo é um lagartinho, então ficou três em um.
P/1 – Descreve pra gente o interior do estúdio. Existe uma recepção, uma salinha?
R – Tem, você entra é um balcão tem uma recepção com um monte de desenhos pra você ficar folheando. É divido só por um móvel porque a gente assistiu, com essa moda do “Miami Ink” porque lá o estúdio é totalmente diferente, é todo aberto, da recepção você vê quem está tatuando, aí a gente fez a mesma coisa lá. Então, se você vai tatuar com ela, você fica do lado dela tatuando praticamente. Então, é uma coisa que eu acho que fica mais divertido, mais descontraído. Então tem a recepção e a outra metade do estúdio é a parte de tatuagem, é tudo bem aberto porque as pessoas têm muito preconceito com tattoo, é uma coisa que tem que ser bem higiênico. Então, parece um consultório.
P/1 – E quais são os equipamentos que você precisa ter em um estúdio de tatuagem?
R – Uma maquininha de tatuar, uma fonte pra ligar ela, o bico e a agulha corre dentro batendo, são três coisas pra fazer funcionar e todo o material de ligar a máquina, que é uma fonte, um pedal. Cabe tudo em uma malinha.
P/1 – Onde é que vocês compram esse equipamentos ou até mesmo as tintas? São tintas especiais, como é que funciona?
R – É, tem tudo certinho. Agora a ANVISA está pegando pesado na fiscalização da qualidade e da higiene do material. Então, acho que no meio do ano passado acabaram as tintas, acabou tudo no mercado porque ninguém tinha conseguido a licença pra fabricar agulha, tinta. Então, hoje tem só duas marcas de tinta, que é liberado vender e a gente compra na Galeria do Rock. Lá é o centro da tatuagem, né? Então tem de tudo.
P/1 – Existem muitos produtos importados, você chegou a importar algumas tintas?
R – Então, dessas duas tintas que tem uma é importada. Eu gosto mais da nacional, mas tem muito nome as importadas. Pra mim eu uso cada tinta melhor de cada marca, cada agulha melhor de cada marca. Todo mundo chega lá e pergunta: “Ah, você usa tinta nacional ou importada?”, eu falo: “Eu uso a melhor que dá. Não é porque é importada que é bom!”
P/1 – Quantos funcionários tem ali no estúdio?
R – Eu, a Luana, dois tatuadores e a faxineira. São cinco.
P/1 – Como é que se deu a escolha desses outros tatuadores? Eram amigos ou pessoas que vocês já conheciam o trabalho?
R – Eu tinha um tatuador lá, normalmente eles buscam, eles batem na porta, levam um portfólio, a gente gosta e pega. Uma menina que está tatuando ali comigo, a Natália, ela é mulher de um tatuador que trabalhava lá. Aí ele saiu e ela entrou no lugar dele. Estou com o Bruno também que bateu lá um dia com o portfólio, a gente aceitou, estava precisando.
P/1 – Como é que é o horário de funcionamento, vocês têm dias específicos de atendimento?
R – A gente trabalha de segunda a sábado das dez às sete.
P/1 – É com hora marcada, como é que é?
R – A gente está em três tatuadores então se é uma coisa simples, você chega lá e tem um tatuador disponível, você faz. Mas se é uma coisa grande, mais complicada, tem que marcar horário. Sábado é muito cheio, tem que marcar umas três semanas antes.
P/1 – O serviço é cobrado pelo tipo de desenho, pelo tamanho de desenho, pelo tempo de demora?
R – Tem vários jeitos de cobrar. Tem gente que cobra por sessão, que é um jeito mais prático, você nem precisa estar conversando com o cliente pra cobrar. A gente não, a gente vai mais especifico, vê exatamente o desenho, o tamanho e o local do corpo, a gente vê a complexidade pra fazer e dá o valor fechado. Independente de quanto tempo vai levar, cobra o valor certinho. A pessoa já sabe quanto vai pagar antes de fazer, então se você vai por sessão você vai sem saber o quanto você vai pagar no final.
P/1 – Existem certas especificidades, por exemplo, em uma determinada região do corpo você precisa ter algum cuidado especifico ou usar algum tipo de material diferente?
R – A pele é elástica, então partes mais elásticas que esticam. Cotovelo, partes assim, que não cicatriza bem, a casquinha não forma legal, costela é muito difícil de tatuar também. Então, cada lugar é uma coisa, a gente cobra um valor diferente pra cada lugar, a gente mede tudo, né?
P/1 – Qual a preocupação que se tem com relação à esterilização ou alguma coisa assim?
R – É a gente tem a Autoclave, que é um método mais seguro de esterilizar e os materiais descartáveis. Muita coisa já vem esterilizada, só abre usa e joga fora. Os bicos que não são descartáveis, aquelas peças de aço pesado a gente tem que esterilizar, tem que ser tudo limpinho, tem muito contato com sangue.
P/1 – Todo esse material é comprado lá na Galeria do Rock?
R – É. O material de uso é da Galeria.
P/1 – Ou existem fornecedores?
R – Tem gente que bate lá e vende, mas não dá pra confiar no material, a gente vai nas lojas que é um pouco mais caro, mas primeiro garante a qualidade.
P/1 – Você conseguiria descrever um cliente específico da loja? Um perfil de pessoa?
R – Eu acho que a minha loja tem os clientes mais normais das lojas de tatuagem assim, classe média, acho que todas as classes. A gente não cobra um valor muito caro. Não dá pra descrever, mas eu acho que seria uma pessoa como você ou ela (risos).
P/1 – Então existe uma faixa etária específica?
R – Não, eu tatuo de todas as idades, mas do que a gente imaginava, tem de tudo. Até vovozinha tatuando uma borboletinha tem (risos).
P/1 – Você conseguiria descrever o tipo de cliente pelo tipo de tatuagem que faz? Por exemplo, o adolescente faz mais não sei o que, não sei aonde?
R – Dá, mas a gente se surpreende tanto com cada coisa que aparece lá também. Mas mulher faz o básico, borboletinha, estrelinha, essas coisas. Não dá pra eu olhar pra uma pessoa e falar o que ela vai fazer, o que normalmente se faz. Tem gente que chega lá e pergunta: “Mas onde que normalmente se faz?” “Não sei, né? Cada um tem uma personalidade, uma idéia”.
P/1 – Existe algum termo que o cliente tem que assinar ou algo do tipo? Porque não é um tipo de serviço que tenha devolução.
R – É, não tem devolução, não dá pra garantir a qualidade. Às vezes a pessoa se mexe. Então ela preenche uma ficha enorme, se ela tem algum problema de saúde, se fez cirurgia, se está grávida, se tem alguma doença transmissível e atrás tem os termos falando que a tatuagem não é uma impressão, depende da pele, depende dos cuidados, depende de como você se comporta durante a tatuagem, tem tudo isso. Ela está ciente de que a gente não é uma impressora, tem que estar ciente, senão fica infeliz, insatisfeito.
P/1 – Existe muita reclamação?
R – É, um pouco. Tatuagem dá retoque, ela depois que cicatriza, o corpo às vezes expulsa um pouco do pigmento, a pessoa volta fica cem por cento e vai. Isso é normal. Mas reclamação não.
P/1 – Existe alguma coisa do tipo os clientes se tornarem amigos depois?
R – Têm muitos. Nossa tem um cliente que vai à quatro anos lá, quase todo fim de semana, o Andrês. É amigão. Vai levar panetone pra gente no final do ano. Tem muito amigo cliente, um mesmo me segurou, por isso que eu quase atrasei. Chegou lá ficou batendo papo (risos).
P/1 – Qual é a principal forma de pagamento?
R – Por cobrar o valor fechado, a pessoa paga a tatuagem de uma vez só. É difícil a pessoa andar com muito dinheiro na carteira. Lá é só cartão. A maior parte cartão de crédito, débito.
P/1 – Existe algum tipo de tatuagem que seja a sua preferida, algo que você goste mais de tatuar?
R – Agora está na moda, uma moda boa, finalmente uma coisa legal que entrou na moda, que é maori, que são os tribais da Nova Zelândia, que tem muita coisa legal. O pessoal dá uma referência legal, eu gosto de fazer! Eu faço bastante maori, tatuagem colorida, eu não tenho um estilo que eu fale: “Ah, esse é o meu estilo, eu faço isso!”, eu tatuo o tempo inteiro, eu tenho que fazer de tudo porque muitas vezes chega alguém que quer fazer alguma coisa e o tatuador que faz não pode fazer aí eu tenho que fazer. Eu aprendi a fazer de tudo um pouco, mas o que eu gosto mesmo é maori, tatuagem bem colorida, grafite, chama new school. Mistura de grafite com tatuagem, que são tatuagens bem coloridas, cheias de volume, eu gosto de fazer também. Eu fujo do realismo, fazer rosto. Nessas coisas eu não sou muito bom não (risos).
P/1 – Me explica uma coisa, você estava falando dessas tatuagens coloridas, por exemplo, eu chego pra fazer um dragão, qual que é o passo a passo dessa tatuagem? Eu vou pra esse estúdio, você passa algum produto na minha pele?
R – Chega lá, decide o desenho, está pronto, vê se ele vai caber certinho no seu corpo. Tem um estêncil, que é como se fosse um carbono, você põe o desenho em cima do estêncil, desenha em cima do desenho e no verso fica o desenho gravado em carbono. Não é carbono, não sei que material é aquele, mas é de estêncil que a gente chama. Aí você passa uma barra que é à base de álcool, como se fosse um desodorante, tem em spray e tem em barra, tem que higienizar bem a pele com álcool, limpar bem. Aí você passa e gruda o desenho, quando você tira o desenho fica certinho. O tatuador na verdade só tem que copiar, passar em cima do traço.
P/1 – Primeiro vem o contorno, depois a coloração?
R – Ah, tem muitos jeitos de fazer, tem tatuagem que nem contorno tem, tem tatuagem que é só contorno, tatuagem que é preta e cinza. Mas o passo natural é o traço, depois a sombra que dá o volume e depois são as cores.
P/1 – Durante a tatuagem existe algum tempo de repouso da pele, vocês param alguns minutos, como é que é?
R – Nossa cara, tem um monte de técnica que os caras inventam, falam que tem que dar uma abaixada para os poros fecharem. Eu não. Se o cara agüentar eu vou direto, sem parar. Tatuagem muito grande é cansativa, é dolorida, o cara começa a se mexer muito tem que dar uma pausa, tomar um café. Mas por mim eu ia direto.
P/1 – Você percebe que houve uma mudança no seu público ou é o mesmo?
R – Totalmente. Tem uma advogada federal que tatua com a gente, ela é uma loira, alta, magrinha, você nunca iria imaginar que ela tem tatuagem, tudo fechado. Nas férias ela faz uma tattoo novinha, qualquer coisa e vai embora. É uma pessoa que eu nunca imaginei que iria fazer, antigamente talvez, nunca faria. O público é de surpreender lá, tem muita gente.
P/2 – Como é a relação da loja de vocês com o entorno onde vocês estão? Você já contou como é a fachadas, mas onde ela está, quem são os vizinhos? Como é que vocês lidam com o espaço lá em Santana?
R – A gente se dá super bem, a loja não tem problema com ninguém em volta. A gente está de frente pra um prédio comercial alto, que tem muito cliente nosso lá, é bem grande. Lá em volta a gente tem tudo. Tem restaurante, tem uma escola de inglês na frente também, no lado tem um aluguel de roupa de noiva, loja de roupa também. Eu estou lá no meio do centrão que é bem comercial, então tem tudo em volta de mim. Estão construindo mais dois prédios do lado, ali. Pelo menos na minha rua vai melhorar, vai aumentar cada vez mais o movimento, já é um trânsito infernal na frente, vai piorar. Pra mim melhorar, né (risos)?
P/2 – Como é que está a concorrência no seu…?
R – Então, não tem nenhum estúdio porque a maioria dos estúdios são sobreloja, são aquelas portinhas que você sobe e lá não tem concorrência pra mim, pelo menos são todos esses que sobem na Voluntários da Pátria, que o mais popular, mais comercial, tem estúdios lá. Mas acho que não são os mesmo clientes que eu. Tem um estúdio que compete comigo que é legal, a gente se dá bem também, que é pelo menos uns dez quarteirões pro lado, um pouco longe, que é na rua também, que tem uma fachada legal. Mas só esse. Da Zona Norte inteira acho que não tem nenhum que é de rua, que tem fachada, acho que o pessoal tem medo de investir, eu estava conversando com o meu pai, os tatuadores não tem coragem de descer e montar uma loja de verdade, fica só naqueles estúdios menores.
P/1 – Vocês trabalham com algum tipo de divulgação, vocês fazem propaganda?
R – Então, a gente já fez muita propaganda e na fichinha que você preenche quando você vai tatuar, tem como você chegou no estúdio, tem por indicação, pela fachada, andando na rua e tem lá por anúncio. Quando a gente anunciou, gastamos muito dinheiro em anúncio em revista de tatuagem, almanaque, anunciamos em vários lugares e quase ninguém coloca que veio por anúncio. Eu acho que quando você vai fazer uma tatuagem você tem que ver, gostou e aí você pergunta: “Onde você fez?”. O boca a boca é muito melhor do que qualquer anúncio pra gente lá. A gente anunciou nesses “Groupons” da vida, de internet, bombou o estúdio. Vendeu em um dia 90 tatuagens, ficamos seis meses tatuando que nem loucos lá, isso foi legal, de graça né (risos)?
P/1 – Como é a relação de vocês com esses sites de compras coletivas, vocês fecham um pacote dependo do desenho, como é que é?
R – A gente fez um voucher, um vale, que no caso foi um voucher de duzentos reais por 80. Então, você podia gastar duzentos reais e pagava só 80. Pra gente vinha só a metade, 40, então era péssimo. Só pagava o que gastava pra fazer, não ganhava nada. Mas o nosso site, por exemplo, teve 16 mil, 20 mil acessos em um dia, então pra divulgar funcionou. Agora, pra lucrar não. Eu faria de novo.
P/1 – Você falou do site, vocês montaram um portal, como é que foi?
R – Não, temos um site, um amigo meu montou. O site é simples, tem um portfólio lá, mostra como é dentro do estúdio. Não é um portal.
P/1 – E os clientes que chegam na loja você percebe que eles olharam o site antes?
R – Ah, muita gente olha o site, manda e-mail porque é como eu falei, se você não vê a tatuagem da pessoa você tem que ver uma foto, alguma coisa assim pra você ter certeza da qualidade da tattoo. Então, pelo site tem. Eu montei um estúdio de fotografia lá atrás, tive que aprender a tirar foto, pra tentar deixar a coisa um pouquinho mais profissional. Meu portfólio era aquela foto batida na hora, cheia de sangue, então fiquei um ano combinando de as pessoas voltarem, eu tirava foto, uma foto por semana até montar um portfólio decente.
P/1 – Acontece muito da pessoa chegar já com uma tatuagem pensada ou escolhe lá, qual é a maior parcela?
R – A maior parcela já pensa, chega lá bem decido, só precisa de ajuda pra achar o desenho certo, a forma do desenho certo.
P/1 – Eu queria que você falasse agora sobre como foi a escolha do ponto, por que naquela região, por que naquela rua.
R – Lá, pelo menos a gente faz tudo em Santana. Como eu falei, lá a gente tem tudo. Então, o grande centro comercial da região é Santana. A gente estava procurando faz tempo, mas meus pais tinham uma visão bem melhor que eu de localização tal, acharam aquele lugar e eu falei: “Meu, não é possível, esse lugar deve ser um aluguel absurdo” porque é uma fachada muito grande e aí a gente ligou e era viável, aí fechamos. O estacionamento também é uma coisa que ajudou a gente porque hoje em dia não dá pra parar em nenhum lugar, é uma rua que não tem onde estacionar, então eu acho que se não tivesse o estacionamento também não tinha dado tão certo. O pessoal passa, para o carro lá, pergunta sobre tattoo e às vezes já faz na hora e nem queria, mas só pela facilidade de encostar... Se fosse pegar a chave no estacionamento e voltar na loja, ele não tatuaria.
P/1 – Quais você acha que são os maiores atrativos do seu estúdio hoje? Por que você acha que as pessoas vão pra lá?
R – Ah, acho que o maior diferencial é o visual de lá, que é muito aberto, tudo muito claro, é na rua. Primeira coisa que diferencia acho que é o visual.
P/1 – Você estava comentando que sempre morou ali na Zona Norte, a sua Zona Norte (risos).
R – A minha Zona Norte.
P/1 – Eu queria que você falasse quais foram as principais grandes mudanças, que você percebeu na região ou mesmo no bairro em que você tem o estúdio, de uns cinco, dez anos até hoje?
R – Acho que eu nem tenho isso. Há dez anos eu tinha dez anos (risos), eu não lembro como que era antigamente. Eu percebo de dois anos pra cá como estão construindo prédio lá, como o trânsito aumenta. Aí tem o metrô Santana ali também, que é um formigueiro de gente, que é dois quarteirões pra baixo da minha loja. Eu percebo de pouco tempo pra cá, muita gente construindo lá, abrindo coisa. Mas de dez anos pra cá eu não lembro não (risos).
P/1 – Arthur, eu gostaria que você falasse pra mim qual é o seu dia a dia. Como é que é o seu horário, que horas você acorda?
R – A loja abre às dez, eu chego lá às 11 horas, a minha irmã abre, normalmente eu fecho sempre, ela também fecha. Normalmente eu tento marcar uma tattoo pra antes do almoço, preparo tudo certinho, às vezes almoço e tatuo com calma durante a tarde, mas se eu não fiz isso, é isso que eu quero fazer agora e é isso. Fechamos às sete horas, tentamos não marcar nada pra não passar desse horário, marca tatuagem pra até umas quatro horas. Lá é perigoso ficar de noite, já fomos assaltados uma vez lá, então a gente prefere fechar enquanto é de dia, ficar o mínimo no escuro, de noite.
P/1 – Existe uma média de tatuagens que você faz por dia, como é que é?
R – Lá cada tatuador faz em média duas tatuagens por dia, em mês bom. Em mês mais frio, mais pro meio do ano, dá uma tattoo por dia. A gente está em três tatuadores.
P/1 – Então existem épocas do ano que as pessoas tatuam mais?
R – Tem, no final do ano e até no começo do carnaval, dobra o movimento. No frio ninguém quer tirar a camiseta, ninguém quer sentir dor, todo mundo quer ficar debaixo do cobertor vendo Sessão da Tarde. Mas no calor não. Começa a tirar a roupa: “Esse braço aqui está muito pelado, eu tenho que fazer alguma coisa” (risos). Começa a perceber que não tem tattoo, né?
P/1 – Você chegou a aconselhar o cliente depois de fazer a tatuagem, do que você precisa pra manter ela ou coisas do tipo?
R – A única coisa que pode prejudicar a sua tattoo é sol, então o único cuidado depois da cicatrização é o protetor solar diariamente. É a única coisa, o resto já está na pele, não tem nada que vai tirar ela.
P/1 – Você estava comentando que você pretende terminar a sua faculdade, você tem previsão?
R – Ah, eu quero depois que estabilizar, que eu conseguir deixar mais seguro o estúdio, eu vou fazer uma faculdade, terminar a minha. Eu não pensaria em outra, acho que eu vou terminar a minha, fazer Design. Design ajudou muito pra mim na tattoo, me fez crescer muito artisticamente e eu fiz só dois anos, então se eu terminar vai ser bom.
P/1 – Você estava comentando do seu portfólio, em que período do dia você senta pra desenhar ou você já tem o seu pronto, como é que é?
R – Meu portfólio é só de tatuagem, não tem nada de desenho lá. Eu tenho séries de desenhos também que a gente tenta vender nas convenções mas pra mim não é muito importante, meu portfólio é só de fotografias de tatuagens feitas por mim. Eu já desenhei muito, eu quero voltar a desenhar, mas hoje em dia eu não estou conseguindo, desenho só pra cliente, desenho específico. Agora, artisticamente, desenhar pra mim, faz tempo que eu não desenho e algo que eu realmente gosto de fazer e não estou podendo fazer. Mas eu pretendo fazer também mais.
P/1 – Você comentou dessas convenções, como é que são? São convenções anuais, como ocorrem?
R – Então, o tatuador que tatuava comigo ele é louco por convenção, vai em todas, ganha todos os prêmios. Tem durante o ano inteiro, todo mês tem em alguma cidade, alguma coisa, tipo muita convenção. Em Taboão da Serra tem duas por ano, no interior tem um monte, no sul muita convenção também. Eu fui em umas três convenções só, mas é legal, tá super organizado.
P/1 – Mas aí vocês vão como tatuadores ou vocês vão representando a Skink?
R – A gente vai com a Skink pra divulgar a marca no meio dos tatuadores, mas tem gente que vai só pra concorrer. A gente não, monta um stand legal, montou nessas vezes que a gente foi e concorremos também, ganhamos alguma coisa também (risos).
P/2 – Lá tem essa de juntar piercing com tatuagem?
R – Tem. Lá é tattoo e piercing, a Skink tattoo e piercing. É muito piercing que sai. Menininha, todo mundo quer um piercing. É muito fácil, muito rápido de fazer, tem umas jóias legais lá e pessoal faz. Lá tem de tudo.
P/2 – São os mesmos que fazem?
R – Não. Tem a tatuadora que tatua lá, minha irmã ensinou ela a colocar piercing também. Mas piercing é um pouco mais complicado, tem que ter o curso, a minha irmã fez o curso também, ela é muito boa e ela fica lá.
P/1 – Você acha que o maior volume é de tatuagens ou é de piercings?
R – Ah, se for ver no geral é de tatuagem porque é mais caro e a gente está em três tatuadores lá. Piercing é tão bom quanto tatuagem, mas pro estúdio tatuagem rende mais.
P/1 – Quem são os fornecedores dessas peças, dos piercing?
R – De piercing?
P/1 – Isso
R – Minha irmã compra na Galeria do Rock também algumas coisas, tem gente que vai lá na loja vender as jóias, mas basicamente na Galeria também.
P/1 – Você falou dessas convenções, você falou que vocês montam um stand. As pessoas fazem tatuagem nessas convenções, vocês demonstram?
R – Muita gente faz porque tem uma categoria, normalmente nos concursos, que é a melhor tatuagem feita no evento. Então, os tatuadores que estão competindo ficam 48 horas tatuando, pegam os dois dias fazendo a mesma pessoa, detonando. Enquanto eu estava tatuando muita gente pedia pra tatuar, mas a gente não faz, não dá tempo. Não é o intuito ganhar dinheiro lá, é divulgar, mostrar o trabalho. Eu acho um pouco anti higiênico tatuar muito cliente lá, não tem como levar o material esterilizadinho, eu levo pra uma tatuagem e dá pra fazer, agora, comercialmente, em convenção não dá.
TROCA DE FITA
P/1 – Arthur, você comentou no começo da entrevista que o seu pai fazia tatuagem, só que era muito diferente do que é hoje. Eu queria que você falasse o que mudou pra o que é hoje, como o ramo se desenvolveu, o que tem de diferente.
R – Ah, antigamente eu acho que não tinha um indústria da tatuagem, não tinha uma fábrica de agulhas próprias pra tattoo. O meu pai me ensinava a pegar agulha, quando eu aprendi já tinha agulha de tatuagem, mas ele usava qualquer agulha que tinha, ele amarrava com linha porque são várias agulhas, então eles amarravam com linha, usava tudo meio que improvisado, os bicos de caneta Bic. O pedal pra ligar era uma Havaiana com uma campainha. Então, era outra coisa, totalmente improvisado, né? Hoje tem uma indústria enorme de materiais, está cada vez melhor, as agulhas são super precisas, são fininhas, por isso que muda na qualidade das tatuagens que tem hoje pras de antigamente, né? Aquele época era improvisação.
P/1 – Você acha que esse seguimento de tatuagem ele cresceu na cidade de São Paulo?
R – Com certeza. Depois do “Miami Ink” que teve na televisão, a tatuagem virou outra porque a pessoa começou a ver a tatuagem como uma coisa artística, não como uma coisa de bandido, né?
P/1 – Você poderia dizer que São Paulo é uma cidade que se destaca pelas tatuagens, pelos tatuadores? Vem gente de fora pra cá por causa disso?
R – Vem. São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia são onde eu conheço os melhores tatuadores, os melhores estúdios. Não conheço muito, mas são os três pontos que são mais os focos de tatuagem. São Paulo é muito grande, tem muita gente.
P/1 – Deixa eu te perguntar. Existe alguma associação, alguma entidade que agregue vocês tatuadores? Vocês mantêm contato, como é que funciona?
R – Eu não conheço não. Têm os grupos, meu irmão faz parte do Grupo de Tatuadores de Florianópolis, que ele é de Florianópolis. Mas não é uma coisa organizada não, não tem um sindicato, uma associação, não sei. Se tem, não chegou até a mim.
P/1 – O que você gosta de fazer quando você não está tatuando, nas suas horas de lazer?
R – Eu ando de moto, então o máximo de tempo que eu posso eu ando de moto. Esse ano também eu vou tentar viajar mais porque no ano passado eu coloquei um tatuador novo na loja, então eu ficava muito preso lá. Eu gosto de andar de moto, de me divertir, de sair de noite, eu saio quase todo dia de noite. Durante o dia eu tenho que ficar na loja então eu fico lá, organizando, organizando os tatuadores. Durante a hora de trabalho, eu estou trabalhando, não tem o que fazer (risos).
P/1 – Você gosta de fazer compras?
R – Eu não sou um comprador, inclusive eu sou até meio muquirana pra comprar coisa, eu prefiro não gastar não. Eu gasto com festa, com diversão, mas com calça e tênis eu prefiro usar a mesma durante cinco anos (risos).
P/1 – Você acha que a sociedade vê a sua profissão de uma forma valorizada ou não? Ainda existe preconceito, como é que é?
R – É, eu acho que tem um pouco de preconceito, está acabando muito rápido, está melhorando muito, mas ainda existe porque as tatuagens ainda não são cem por cento artísticas, tem muita coisa muito feia, muita coisa que não significa tatuagem. Mas tatuagem de verdade, quando é bem feita, quando é do jeito que é pra ser feito, não tem preconceito. Até as menininhas que vão com o pai, o pai odeia tatuagem, fica lá, quando terminam, o pai gosta, aceita, volta pra fazer uma também. Acho que preconceito sempre vai ter, sempre vai ter gente que tem outra opinião, mas acho que está evoluindo graças à Deus.
P/1 – Hoje você mora ali perto do estúdio?
R – Onde eu moro deve dar uns 15 minutinhos do estúdio.
P/1 – E você mora sozinho, com a família?
R – Não, eu moro com os meus pais ainda. Estou começando, né (risos)?
P/1 – Como é que ter uma família toda de tatuadores?
R – Toda de artistas, né? Meu irmão não mora mais comigo, ele mora em Florianópolis e meu pai quase não tatua, faz outras coisas. É mais uma família de artistas. É ótimo porque eu não sei fazer tudo, na verdade eu não sei fazer nada ainda e é bom ter ele lá pra me ajudar, pra dar opinião.
P/1 – Se você tivesse filhos, você gostaria que eles tivessem a mesma profissão que você?
R – Ah, com certeza! A minha profissão é a melhor profissão do mundo! Imagina! Só desenhar, só se divertir, os clientes te procuram, você não tem que ficar correndo atrás, implorar pra trabalhar, as pessoas vem. É gostoso, eu não troco o meu emprego por outro! Nem terminando faculdade, nem nada, eu não mudo!
P/1 – Você tem alguma história engraçada, de algum cliente, alguma coisa que aconteceu ali no estúdio?
R – Tem uma que eu lembro, trágica, é que homem quer escrever nome de mulher. Então, veio esse cara que ele ia escrever o nome da ex-mulher dele, Marilda, Matilda, sei lá como é que era. Só que a pessoa escreve pequeninho que é pra fazer um h com a menina. Mas não, ele escreveu aqui inteiro: “Nunca vou te esquecer”, ela tinha acabado de chutar ele, de terminar com ele. O tatuador fazendo lá e a gente só atrás: “Meu Deus, o que ele está fazendo?”, o que ele estava fazendo com a vida dele, né? Aí chega a mulher, uma mulher enorme, entra lá não fala oi pra ninguém, entra direto na sala, senta na frente dele e fica olhando pra ele. Aí foi todo mundo ver, ela ficou olhando pra ele uns 15 minutos e ele olhando pra ela, o tatuador começou a suar e aí ela foi embora. O cara terminou a tattoo não falou com ninguém, foi embora atrás dela. Sei lá no que deu, mas está pra sempre aquele dia, está pra sempre nele, em mim, em todo mundo, constrangedor (risos).
P/1 – Acontece muito isso? Por exemplo, uma pessoa tem uma tatuagem e pede pra fazer outra coisa em cima ou então, de repente, tem uma cicatriz e quer esconder?
R – A gente aconselha a não fazer o nome de ninguém, faz filho que é pra sempre, mesmo assim às vezes briga, mas a gente aconselha e faz. O cara é maior de idade, ele sabe o que faz da vida, a gente aconselha a não fazer. Quase todos que fazem, depois de alguns meses voltam pra cobrir com a gente, então cobertura lá é o tempo inteiro, tatuagem velha, tatuagem antiga, vai reformar, refazer tatuagem antiga, tem muito. É quase metade porque as pessoas se arrependem, fazem sem pensar, depois querem voltar e dar um jeito de consertar. Normalmente não dá, não fica bom. Às vezes a gente até rejeita, não faz. Tem de tudo.
P/1 – Qual é o seu sonho pro futuro?
R – Eu quero uma rede de estúdios, eu quero um monte, eu quero franquia. Esse ano a gente vai abrir um segundo. Tá difícil achar lugar, mas eu vou pegar esse três meses primeiros, vai ter que sair outro estúdio. Eu quero abrir um estúdio por ano, é o sonho. Comercial é esse
P/1 – E esse outro estúdio seria na Zona Norte também?
R – Não, senão a gente fica com concorrência de nós mesmos, né? A gente está querendo no Centro, tem mais gente, fazer um negócio um pouco maior também, ali perto da Augusta que está muito ligado à tattoo também.
P/1 – Qual é a coisa mais legal e a maior desvantagem do seu segmento? O que você mais gosta dessa profissão e o que você menos gosta?
R – Ah, esse segmento é péssimo se o cliente fica insatisfeito, não tem o que fazer, está lá e na maioria das vezes não tem o que fazer. É o único mal. Não é um mal, é uma característica da tatuagem. Não tem volta, né? Mas eu só vejo qualidades. Os meus amigos que trabalham, ele sofrem muito mais, com cliente, de estresse do que eu. Pra mim é super tranquilo lá. Desvantagem? Não vejo, de verdade. Senão não estava...
P/1 – Agora sim, pensando muitos anos pra frente. Como você vê o segmento daqui uns dez anos?
R – Ah, eu não tive oportunidade de ir pra fora do país porque a gente consegue ver como é que vai estar mais avançado aqui nos países que estão mais avançados lá e é outra coisa, né? As pessoas respeitam muito mais, é muito mais valorizada financeiramente, artisticamente a tattoo. Aqui vai ser a mesma coisa, vai ter muito mais estúdio com qualidade, muito mais tattoo com qualidade, muito mais gente tatuada. Esse é o futuro próximo, muito pra frente eu não sei (risos).
P/1 – Está certo. O que você achou de ter dado essa entrevista aqui pra gente?
R – Pô, legal. Eu nunca tinha falado tanto de tatuagem assim. É legal, nem tinha parado também pra pensar.
P/1 – E tem alguma coisa que você queira falar que a gente não tenha perguntado?
R – Não sei, agora? Façam tatuagem! Sei lá (risos).
P/1 – Então está certo, Arthur. Em nome do Museu da Pessoa e do SESC São Paulo, eu agradeço muito a sua participação.
R – Valeu, obrigado eu!
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