Projeto Memória da Televisão Brasileira
Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira/Museu da Pessoa
Entrevista com Vida Alves
Entrevistada por José Santos e Sara Mendonça
Estúdio Lemos Brito
São Paulo, 23 de julho de 1997
Entrevista nº 05
Transcrito por Rosália Maria Nunes Henriques
Revisado por Teresa Magalhães
P/1 - Bem para começar a entrevista eu queria que você nos dissesse então o seu nome, local e data de nascimento?
R - Eu me chamo Vida Amélia Alves Gasparinetti, nasci em Itanhandu, cidade de Minas Gerais, em 15 de abril de 1938.
P/1 - Vida, você poderia falar um pouco dos seus pais?
R - Meu pai, eu digo sempre com satisfação, era um homem muito inteligente, muito dotado, muito culto, muito interessado por todas as coisas da vida. Era carioca, formou-se em engenharia não sei se em 1920, 1921, e escreveu alguns livros de poesia. Mas após a sua formatura ele ficou doente, ficou tuberculoso e a conselho médico foi morar em Minas Gerais na cidade de Itanhandu, que é uma cidade de montanhas, faz parte da Mantiqueira. Lá ele conheceu Amélia Guedes, Amélia Scarpa Guedes, filha de fazendeiros desse ramo mais pobre da família Scarpa e apaixonaram-se. E ele, com a sua esbeltez, para não dizer magreza, o seu talento acabou sendo professor e diretor do Colégio Sul Mineiro lecionando matemática, física e química. Também ele organizou um grupo artístico e teatral e de poetas e lançou uma revista. Esta revista chegou a ser conhecida inclusive até em Belo Horizonte, ele tem correspondência porque ele mantinha a correspondência até de Carlos Drummond de Andrade. Admirado, Carlos Drummond de Andrade admirado porque ele também estava montando uma revista em Belo Horizonte, centro bem maior com dificuldades. O meu pai também estava no sul de Minas nesta cidade pequenina, mesmo assim por vários e vários meses senão anos essa revista existiu e eles se correspondiam. Este é o meu pai. A minha mãe era uma jovem, filha de...
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Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira/Museu da Pessoa
Entrevista com Vida Alves
Entrevistada por José Santos e Sara Mendonça
Estúdio Lemos Brito
São Paulo, 23 de julho de 1997
Entrevista nº 05
Transcrito por Rosália Maria Nunes Henriques
Revisado por Teresa Magalhães
P/1 - Bem para começar a entrevista eu queria que você nos dissesse então o seu nome, local e data de nascimento?
R - Eu me chamo Vida Amélia Alves Gasparinetti, nasci em Itanhandu, cidade de Minas Gerais, em 15 de abril de 1938.
P/1 - Vida, você poderia falar um pouco dos seus pais?
R - Meu pai, eu digo sempre com satisfação, era um homem muito inteligente, muito dotado, muito culto, muito interessado por todas as coisas da vida. Era carioca, formou-se em engenharia não sei se em 1920, 1921, e escreveu alguns livros de poesia. Mas após a sua formatura ele ficou doente, ficou tuberculoso e a conselho médico foi morar em Minas Gerais na cidade de Itanhandu, que é uma cidade de montanhas, faz parte da Mantiqueira. Lá ele conheceu Amélia Guedes, Amélia Scarpa Guedes, filha de fazendeiros desse ramo mais pobre da família Scarpa e apaixonaram-se. E ele, com a sua esbeltez, para não dizer magreza, o seu talento acabou sendo professor e diretor do Colégio Sul Mineiro lecionando matemática, física e química. Também ele organizou um grupo artístico e teatral e de poetas e lançou uma revista. Esta revista chegou a ser conhecida inclusive até em Belo Horizonte, ele tem correspondência porque ele mantinha a correspondência até de Carlos Drummond de Andrade. Admirado, Carlos Drummond de Andrade admirado porque ele também estava montando uma revista em Belo Horizonte, centro bem maior com dificuldades. O meu pai também estava no sul de Minas nesta cidade pequenina, mesmo assim por vários e vários meses senão anos essa revista existiu e eles se correspondiam. Este é o meu pai. A minha mãe era uma jovem, filha de fazendeiro já um pouco com dificuldades financeiras mas cheia de vida, gostou deste rapaz, casaram e ficaram casados só oito anos porque ele veio a falecer. E deixou para ele cinco filhos cujos nomes são estranhos, são extravagantes porque houve na moda na época de se colocar, principalmente este grupo de poetas modernistas, era a época do modernismo, de se colocar nomes extravagantes nos filhos. Então os nomes dos meus irmãos são: a mais velha é Helle, que deveria ter sido a letra L porque o meu pai gostava de literatura, de liderança, de ler, várias palavras com “éle”, mas eu acho que o escrivão do cartório não quis registrar assim e escreveram como se fosse grego, de origem grega Helle. Depois Vida que sou eu que é o nome de registro, depois Homem, depois Poema que é uma mulher e por último Ritmo que é o meu irmão caçula. Nós estávamos a mais velha com 7 e o mais novinho com seis meses quando o meu pai morreu no Rio de Janeiro, com assistência médica num hospital. Mas enfim, foi assim a nossa primeira infância, cheia de dificuldade no sentido de perceber que nós iríamos ter a ausência do pai. Mas como muita alegria porque era uma vida cheia de acontecimentos artísticos e sociais.
P/1 - Na época que o seu pai era vivo você se lembra da sua infância, como era em casa?
R - Era uma infância, me lembro pouco porque eu estava com 6 anos. Era uma infância diferente das outras crianças, nós tínhamos uma horta e que deveríamos determinado horário plantar alguma coisa e tratar do bicho da seda e em outro horário tínhamos um quadro negro para escrever alguma coisa e para falar inglês um outro horário, francês em outro horário. Então tínhamos assim alguma coisa de cultura e jogos ao mesmo tempo. Acho que o meu pai foi um grande educador mas como ele mesmo disse pouco antes de morrer: “Fiz tantos doutores e para o meus filhos nenhum começo.” Na verdade a minha irmã mais velha pegou alguma coisa, aprendeu alguma coisa com o meu pai, e eu sinceramente quase nada.
P/1 - Vida, imediatamente vocês se mudaram para a cidade?
R - Nós mudamos porque a tuberculose nessa época, o meu pai faleceu em 1935, era mais ou menos como é a Aids agora, doença muito considerada ruim, contagiosa, embora nós filhos do Dr. Heitor como era conhecido o meu pai tivéssemos tomado as primeiras doses de BCG que ele mandou buscar não sei aonde, eu sei tudo isso por ouvir contar pela minha mãe e nunca tivemos nada, vivemos sadios, somos ainda vivos os cinco e sadios. Mas viemos para São Paulo porque a minha avó materna, mãe da minha mãe tinha vindo para São Paulo com os seus quinze filhos, catorze fora a minha mãe. Então chegamos nessa casa onde já havia uma senhora que também tinha ficado viúva há pouco tempo, seus catorze filhos mais a filha viúva com os seus cinco filhos. Chamávamos do nosso cortiço familiar porque éramos bem mais de vinte da mesma família, todos numa casa grande no centro de São Paulo na Rua Francisca Miquelina que é uma travessa da Rua Maria Paula pertinho da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, para quem conhece a cidade de São Paulo é bem central. Ali nós passamos a nossa infância já então pobre, diferente da primeiríssima infância que era um pouco mais abastada, agora bem pobre, com muita dificuldade mas sempre levando dentro aquele sonho do meu pai preservado pela minha mãe, de fazer arte, de fazer teatro, de gostar de cinema, de gostar de ler, de gostar de conversar, de ter amigos, enfim, assinar jornais, aprender piano, uma porção de coisas que aconteceram ainda durante o meu primário.
P/2 - E onde a senhora estudava aqui em São Paulo?
R - Eu estudei, meu primeiro momentinho, aliás o curso primário no Externato São Francisco de Assis, desconhecido de todo mundo porque ele fica assim ao pé da Faculdade de Direito São Francisco, depois de uma igreja ou de duas igrejas.Melhor dizendo, há um pequeno externato onde eu estudei o curso primário. Eu estou assim com vontade de rir porque o Largo de São Francisco e a Rua São Bento foram o meu caminho da roça enquanto eu era garota, porque ali eu fiz do primeiro ao quarto ano primário neste colégio. Depois eu estudei num outro colégio que ficava perto da Estação da Luz, eu ia pela Rua São Bento inteiro e ali eu fiz o ginásio. Depois na Rua da Liberdade onde hoje é a FMU eu fiz o meu colégio naquele tempo clássico, era Colégio Paulistano. E voltei para o Largo São Francisco onde entrei e fiz, cursei a Faculdade de Direito. Então por muitos anos passei pela Rua São Bento, pelo Largo São Francisco, para mim eram lugares de casa, ali era a minha vida.
P/1 - Como se deu o primeiro momento que você sai para a vida artística?
R - Como eu disse já estava o embrião, já vinha do meu pai, não houve como em outras famílias aquele susto, “quer ser artista?”, “não”. E se deu até por necessidade econômica, eu me lembro do momento, são sempre flashes que eu vi no trem da Sul Mineira de Minas para São Paulo, eu lembro a minha mãe de preto com o bebezinho ainda mamando e ela chorando. E não me lembro quando porém, talvez dois ou três anos depois mas para mim as coisas são mais próximas, na memória a gente pula essas partes não interessantes e guarda as mais fortes, eu me lembro da minha mãe dizendo: “Vocês têm que colaborar, vocês têm que trabalhar.” E foi assim, sabendo que tinha que trabalhar que eu e mais uma irmã e acho que a minha mãe acompanhou, fomos até a Rádio São Paulo que também era na Rua Jaceguai, que é no bairro do Bixiga. Então a minha vida desde que eu vim a São Paulo foi no começo do Bixiga, uma região bem central. Na Rua Jaceguai inaugurou-se a Rádio São Paulo e a Rádio São Paulo lançou com Oduvaldo Viana, pai do Oduvaldo Viana Filho que talvez muitos conheçam, lançou a rádio-novela. A rádio-novela foi assim um sucesso, como se fosse hoje a novela das oito da TV Globo. A rádio-novela lançou grandes nomes, grandes elencos, grandes peças, grandes teatros em série principalmente no horário das oito, depois no horário das sete, depois no horário de seis e depois o dia inteiro. A Rádio São Paulo lançou, por exemplo, como escritor Dias Gomes, como ator Mário Lago e outros tantos. E lá estava no finalzinho da lista: “Vida Alves”. Eu digo no finalzinho ou quase no último lugar, porque no último talvez fosse a minha irmã, que era mais nova do que eu. E nós, principalmente a minha irmã, éramos pequenas, a minha irmã precisava subir num banquinho literalmente para ficar numa altura viável porque o microfone era pendurado no meio. Então ela não poderia ficar muito desigual, eu já tinha uma altura um pouco média porque eu já estava com oito para nove anos, esse foi o primeiro trabalho meu como atriz em novelas de rádio eu me lembro que a primeira novela se chamou “A vingança do judeu” e eu fazia um papel de garotinho. Voz de garota e de garoto de oito anos, nove anos a voz é igual e eu fiz um papel de Raulzinho. Eu me lembro que a minha irmã ganhava papéis maiores embora ela mais tarde tenha saído do rádio. E eu ganhava aqueles papéis pequenos, mas não me importava muito porque eu precisava era ganhar o meu cachê, como se dizia naquele tempo, e hoje em dia se diz free-lancer. Então eu fui free-lancer por um tempo na Rádio São Paulo. Antes disso porém, eu me faço um pouco de confusão, eu cantei ao mesmo tempo num programa na Rádio Difusora chamado “Clube do Papai Noel” que era dirigido pelo Homero Silva. E ali também eu e os meus irmãos, as minhas irmãs, os irmãos não, participávamos, eu como cantora e os programas eram feitos quase sempre em auditório. E ao mesmo tempo também já um pouquinho maior participávamos de uma peça montada semanalmente pela Sagramor De Scuvero, era uma mulher muito importante nos meios de rádio e ela tinha coragem de colocar um teatro infantil irradiado pelo rádio, mas visto por uma platéia de quase mil pessoas no Centro do Professorado Paulista, e uma peça por semana. E aquilo para mim era bom, para nós era bom porque sempre ganhávamos um par de sapato, um vestido, um brinde, alguma coisa. Para mim o interesse maior era sempre a obtenção de alguma coisa para colaborar no bolo familiar. A minha mãe dizia: “É como se vocês tivessem que pagar pensão.” E aquilo era muito claro para mim, nós comíamos e tínhamos que colaborar para a compra da comida. Só que isso era na minha vida aos oito, nove, dez, onze e doze anos, uma coisa rasgada, ninguém interferiria naquele meu conceito porque eu achava que a minha mãe estava absolutamente certa, como eu acho até hoje que estava. Ela não tinha nada melhor para fazer com os seus filhos do que o que fez, colocar muitas obrigações e vários direitos. E os nossos direitos eram esses principalmente: o de sonhar, o de ser artista, o de escolher o que queria fazer. E eu escolhi continuar dentro do rádio. A Rádio São Paulo porém foi dividida e Oduvaldo Viana comprou a Rádio Panamericana onde ele ficou por pouco tempo, ele não tinha tino comercial acho eu, ele foi com Oduvaldo Cozzi ou Júlio Cosi. Júlio Cosi, e eles foram para a Rádio São Paulo na Rua São Bento que é como eu digo era onde eu passeava, passeava indo para o trabalho, indo para a escola e lá eu passei já a ter um contrato mensal, feliz da minha vida quando foi inaugurada a Rádio Panamericana, hoje Jovem Pan.
P/1 - Vida, então você muito jovem já era profissional, adolescente ainda...
R - Menina ainda, antes de adolescente, pré-adolescente eu já era profissional contratada com carteira profissional inclusive, porque eu sempre, eu trabalhei em emissoras de televisão, ao contrário de pessoas que trabalharam em teatro, em pequenos grupos teatrais que se dissolvem a cada peça, a cada turnê, eu não, eu fiquei sempre em rádio, mais tarde, bem mais tarde fui para a televisão então eu tinha a minha vida registrada na carteira profissional do INPC, Instituto de Previdência dos Comerciários. Esta foi a minha base, a minha força que até me garantiria se eu quisesse uma aposentadoria bem precoce mas eu acabei até por demorar um pouco para me aposentar por outros problemas que eu posso falar depois.
P/1 - E a sua carteira era assinada como o quê?
R - Rádio-atriz. Não podia ser outra coisa e era isso que eu era, eu era uma rádio-atriz e as novelas, acreditem, tinham um sucesso e uma importância, o rádio-teatro tinha uma importância muito grande nessa fase. Citei alguns nomes, deixei de citar outros: Nélio Pinheiro, César Monteclaro, Hélio Ansaldo e tantos outros, Randal Juliano, Marcelo Tupinambá, quem não conhece, quem não ouviu falar, o grande maestro? Quando não eram novelas nós tínhamos teatros ou programas montados sobre algum assunto e esses programas montados num lugar que tinha o auditório, tinha um vidro e tínhamos nós no palco vestidas já então com catorze, quinze, dezesseis anos de vestido longo e os rapazes, os galãs de smoking, ou seja, no maior trato na pessoa porque nós tínhamos que respeitar o público que ali estava.
P/1 - E como era essa coisa do auditório? Os auditório sempre repletos, as pessoas brigando para entrar?
R - Auditórios mais elegantes, a moda toda era assim, ninguém ia assistir uma peça, alguma coisa assim que não estivesse bem arrumado, bem elegante. Nós tão chiques lá em cima e o auditório elegante mas sempre repleto, auditórios grandes, as emissoras de rádio todas tinham auditório para quatrocentas, quinhentas pessoas. Eu acabei de dizer que no Centro do Professorado Paulista o auditório era para mil e duzentas pessoas. Então estávamos acostumados bastante cedo a enfrentar este público grande e fazíamos com todo o profissionalismo. Eu gosto de lembrar Oduvaldo Viana que foi então um mestre pra mim, quantas vezes ele ensaiava e de que ele forma ensaiava? Primeiro em volta de uma mesa oval, grande ou retangular, me parece oval, não tenho certeza que se mandasse fazer de propósito, grande, cada ator com seu script na mão e ele de piteira, que era o seu vício, e uma caneta, prestando atenção em todos, marcando o que está errado, depois do que ele avisava o que estava errado e íamos para o aquário, chamávamos aquela sala de vidro ensaiar tudo já então com os microfones e com a sonoplastia e tudo mais. Me lembro de um amigo, eu gostava dele, Arlindo, que era sonoplasta e que um dia esqueceu de pegar um disco de passarinho, para não incomodar o Oduvaldo Viana, para não apanhar, enfim, sei lá o que é que poderia acontecer, não aconteceu é claro, estou exagerando um pouco, ele assobiou, ele cantou, ele imitou passarinho durante todo o capítulo da novela, na calma, fingindo de passarinho, era ensaio, acho que ele pensou, é ensaio, exagerado desse jeito. Claro que depois do ensaio no intervalo ele foi correndo buscar o disco. Mas tinha uma terceira fase, essa terceira fase era a minha morte, alguém que ainda assim errasse ia pra sala do Oduvaldo e lá ia eu tantas vezes chorando: “Vida, fulano, beltrano, pra minha sala mas um de cada vez. Agora você, Vida”. Eu já ia com bico, chorando: “Você não está comendo sanduíche? Por que é que você está falando com essa voz? Engrossa essa voz, afina essa voz, fala essa palavra direita”. Só que tinha uma coisa, ele tinha bom coração e eu sabia disso. Então várias vezes eu saí de lá com um bombom Sonho de Valsa. Me apaixonei pelo bombom Sonho de Valsa, sempre que estou triste até hoje sinto vontade de comer um bombom Sonho de Valsa porque isso que fazia com que eu chegasse lépida na minha casa e depois eu contava pra mim mãe isso: “Chorei, do castigo mas tudo bem, acabei sendo consolada pelo Oduvaldo Viana”. Só que ele ficou apenas um ano ou um ano e meio na Rádio Panamericana. E aí ele foi pra Rádio Difusora levando o que havia de melhor. A São Paulo continuou com outras pessoas, continuou sua vida de rádio-teatro que foi longa, o Oduvaldo Viana foi para a Difusora e começou também um pouco mais modestamente um pouco de teatro na Rádio Tupi. Eu, porém, fiquei na Panamericana, perdi o emprego depois de um pouquinho. E passei um ano perdendo várias vezes de emprego, eu tinha quinze anos. Então eu perdi uns quatro, cinco empregos porque foi um ano político em que vários donos de emissoras venderam para políticos e vários políticos compraram e assim houve muitas mudanças: Rádio Cosmos virou Rádio América, Rádio Cruzeiro virou Rádio Piratininga, Rádio Cultura continuou Rádio Cultura e eu passei por todas elas e cheguei na Rádio Tupi, fui contratada pelo Walter Forster, a quem eu já conhecia de vista, ele fez alguma coisa na Rádio Bandeirantes que era na Rua São Bento. Então eu já o conhecia como grande galã. Então eu fui fazer o meu teste de rádio-teatro com Lima Duarte, que era apenas sonoplasta, isto na Rádio Tupi,1947, sendo que eu já era uma profissional de sete anos ou cinco anos, fazendo coisas menores, coisas difíceis ou fáceis, eu já era uma profissional registrada de três, quatro anos e free-lancer de mais um tempo, isto em 1947.
P/1 - Você lembra deste seu teste qual que foi?
R - O Lima Duarte lembra-se melhor do que eu. Me lembro que me deram um capítulo de novela e eu li com alguém, não sei direito. O Lima que quando se encontra comigo fala: “Eu fiz você entrar na rádio”. E realmente o teste foi feito por ele, ele como sonoplasta. Eu sei que eu fui contratada, achei a Rádio Tupi longe porque era no bairro do Sumaré, hoje considerado um bairro central praticamente de São Paulo, é o centro expandido que atinge até o Sumaré, pra mim era o fim do mundo porque eu estava acostumada era ali na Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, na Rádio São Paulo, na Rádio Panamericana, todas ali bem próximas ao centro, ao meu querido centro de São Paulo.
P/1 - Vida, nesse ano de 1947 você também entrou na Faculdade de Direito?
R - Entrei, entrei. Prestei o meu vestibular, porque como eu digo, nós temos todos uma herança familiar e a herança do meu pai é que os seus irmãos eram formados, havia uma preocupação com a cultura e então minha mãe disse muito claramente: “Vocês têm também que estudar”. Como conjugar isso não era problema dela, era problema nosso. E eu entrei na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, não se publicava nomes em jornal, eu precisei ir lá olhar na tabela. Mas eu tive sorte porque eu comecei a olhar por baixo e já não me lembro se a coisa era por ordem alfabética ou por ordem de nota, eu sei que eu achei logo o meu, Vida, lá no fim, achei ótimo, fui pra minha casa correndo, ou melhor, iria pra minha casa correndo mas os meus colegas cercaram ali o Largo São Francisco, tinha até um bonde passando, era época dos bondes, cantando a musiquinha pra mim e uma musiquinha que eu guardei porque foi engraçadinha, era assim, pelo menos a letra: “A vida é boa, boa, boa, muito boa, tão boa que eu não sei o que lá”. Uma coisa qualquer assim, agora eu me esqueci. Eu cheguei na minha casa voando, espalhafatosamente: “Entrei, entrei”. E realmente entrei e prestei todos os exames e fui até o final e peguei o meu diploma, peguei esse diploma, coloquei na parede, perdi o anel e só, nunca trabalhei em direito.
P/1 - Mas você conciliava então a faculdade com a rádio.
R - Já então a televisão porque foi em 1950 e já então o casamento.
P/1 - Que foi em 1949.
R - Foi no último dia de 1949. No último dia de 1949 eu me casei com um engenheiro italiano que veio ao Brasil, vindo da guerra, Segunda Guerra, capitão do exército italiano e ele então montou, ajudou a montar a torre da televisão e ele nesse trabalho que ele fez, claro, conheceu a Vida Alves e nós nos casamos.
P/1- Qual era o nome dele?
R - Giane Gasparinetti.
P/1 - Ele era engenheiro eletrônico também?
R - Engenheiro eletrônico.
P/1 - Vida, a gente estava falando então de 1949, do seu casamento, nessa época já se comentava sobre a existência da televisão nos bastidores?
R - Foi uma coisa meio repentina, fazíamos rádio, só rádio todos nós, um grande elenco, quando de repente, quem conta mais é o Walter Forster, ele era diretor de rádio, então ele tinha uma conversa mais com a cúpula, ouviu falar que iria se instalar a televisão. E até parece que o Chateaubriand chegou pra ele, Walter Forster, e disse: “Vocês estão jogando peteca nesse lugar, desacostumem-se porque aqui será instalada a torre de televisão”. E quando ouvimos falar isso, me lembro que como tola, dezoito anos por aí, dezenove talvez, brincávamos: “Será que vai enxergar a gente dentro do banheiro? Será que vai enxergar...” Não tínhamos noção de como seria feito, nada, nada, nada. Só que foi rápido, mal falou e já o Chateaubriand que era um gênio esteve em Santos buscando o material e instalou realmente no mesmo local ao lado, construiu um galpão maior, modificou um pouco o prédio, deixou a rádio preservada mas fez a televisão. Só que eu estava mais interessada no meu namoro, no meu casamento e em 1950, logo no comecinho do ano eu engravidei e em outubro a televisão inaugurou-se a 18 de setembro de 1950 e eu dei a luz em outubro de 1950 ao meu primeiro filho, nem participei dos primeiros quarenta dias da programação, depois do que eu já deixei o meu bebê, Heitor, nome do meu primeiro filho, pelo menos algum momento porque eu amamentei, eu o levava junto, algum momento eu deixei para fazer as minhas primeiras aparições na televisão.
P/1- Vida, quais são os nomes das pessoas que tiveram assim nesse primeiro ano da televisão?
R - Dionísio Azevedo, Cassiano Mendes que era o nosso diretor mais próximo, depois o Demerval Costa Lima que era o diretor geral, o Walter Forster, o Ribeiro Filho, o Jota Silvestre, a Lia de Aguiar, a Yara Lins que foi talvez a primeira apresentadora, a Yara Lins, a Sônia Maria Dorce que foi o primeiro rosto a aparecer na televisão, era garotinha, tinha quatro, cinco anos, não sei, o Homero Silva, que foi o meu conselheiro eterno, o meu amigo eterno, aquele que fazia os programas com as crianças e vários outros.
P/1 - E foi automático a sua passagem da rádio para a televisão?
R - Foi obrigatório, era uma coisa que o dono comprou e ele contava já com o pessoal da rádio, foram passando alguns para a televisão, por uns dois, três anos fizemos ao mesmo tempo, concomitantemente, sobrecarregados rádio e televisão e depois foi sendo feito uma separação natural. Eu brinco que quem tinha rosto bonito ia pra televisão, quem tinha voz bonita ficava no rádio, acho que a minha voz não era considerada bonita embora seja uma voz marcante e acho que a minha cara naquele tempo era legalzinha então eu fui para a televisão. Eu não sei se foi assim exatamente, mas estou dando assim uma chutada, mas é mais ou menos isso para que compreenda.
P/1 - E qual foi o seu primeiro trabalho na TV?
R - Não me lembro, pequenos esquetes que se fazia, pequenas apresentações de cantor, coisas assim ou fazia quase papel de figuração como hoje tem aquelas que dançam atrás de um cantor, eles colocavam uma ou duas pra fazer algum jeitinho com o corpo para enfeitar um pouco o quadro. Até que veio já em 1951, aconteceu a primeira novela e eu estrelei essa primeira novela chamada “Sua vida me pertence” com direção do Walter Forster e interpretação do Walter Forster e eu, a Lia de Aguiar, o José Parisi, alguns dos que participaram na novela “Sua vida me pertence”, onde aconteceu o famoso primeiro beijo. Então o primeiro beijo foi em 1951, uma novela curta de vinte e cinco a trinta capítulos em que o final de um trio amoroso, a resolução era o Walter Forster me dando um beijo na boca que ficou famoso porque aquilo chocou muita gente, as melhores famílias acho que não gostaram muito, porque não se usava beijo na boca, principalmente pela televisão que entrava nos lares, mas não usava no teatro também, no cinema pouco e na ruas mesmo ainda, a coisa era mais delicada. E o beijo nosso foi delicado, foi aquilo que se chama hoje em dia de “selinho” mesmo assim virou um acontecimento, um marco e eu fiquei conhecida até hoje como “aquela que deu o beijo”.
P/1 - Vida, e isso foi no último capítulo da novela, o beijo.
R - Foi no último capítulo da novela. Segundo Walter Forster depois de muita conversa lá com a diretoria, o que eu me lembro que houve bastante conversa foi aqui na minha casa mas no final tudo bem.
P/1 - Bem, aí você seguiu estrelando outras novelas, outros tele-teatros.
R - Outros tele-teatros, usávamos mais do que novelas, não sabiam se as novelas iam emplacar, usava-se mais adaptação de grandes temas, grandes livros, grandes filmes, grandes peças de teatro, tudo o que houvesse de literatura passou pela televisão, tudo, Dostoiévski, Sartre, isso entre os internacionais, Gorki, Ionesco e outros brasileiros e assim muitos, muitos, muitos.
P/1 - Isto era na TV de Vanguarda?
R - TV de Vanguarda, havia as segundas-feiras o Grande Teatro Tupi e TV de Vanguarda aos domingos. E depois de alguns anos, nos intervalos porque um domingo sim e um domingo não tinha TV de Vanguarda quinzenal e nos intervalos no outro domingo montou-se o TV de Comédia pra fazer coisas mais brejeiras, mais brasileiras e também ali eu participei muitas vezes, com direção do Geraldo Vietri.
P/1 - E como era trabalhar com o Geraldo Vietri? Ele era meio bravo, né?
R - Eu o amava muito, muito. Ele era um tipo franzino, tinha algum problema de estômago que acabou até por levá-lo, ele já não mais existe mas ele fazia daquilo uma família, ele amava aquilo que ele fazia a ponto de confeccionar na sua casa as toalhinhas de mesa, as rendinhas de cortina, tudo aquilo já vinha pronto porque se fosse esperar as costureiras e as camareiras, era tudo um pouco, era pouco, estávamos no começo. Eu mesma levei muito material da minha casa para os programas que eu produzi, então piscininha do meu filho ia pra lá, enfim, as coisas, os enfeites da minha sogra lá iam pra televisão, depois a gente carregava de volta. Então aquela coisa que o Vietri tinha mais do que os outros, um amor eterno, só que ele dava bronca, não deu certo ele brigava, brigava feio, aparentemente feio mas transbordando sempre de amor, sabendo respeitar aquele que fosse pontual, aquele que fosse, zangava com aquele que sumia, era natural, que sumia na hora da gravação ou da peça, ainda não existiam gravações, eu estou misturando um pouquinho.
P/1 - Como era essa coisa de trabalhar ao vivo sem poder errar?
R - É trabalhar ao vivo sem poder errar, uma responsabilidade que faz de nós pioneiros, ainda hoje quando se marca um encontro às duas é às duas, se é pra terminar às três é pra terminar às três, faz de nós pessoas um pouco mais, vou usar a palavra sérias e os mais novos vão dizer: “Nós também somos sérios”, mas éramos um pouco mais rígidos, talvez essa palavra se encaixe porque isso já vinha do rádio. No rádio aquele programa era aquela hora não em qualquer hora, a não ser que seja gravado hoje em dia senão hora de gravação também é hora. Isso nos disciplinou muito, nós éramos muito disciplinados, é claro que havia de vez em quando uma falha, algum erro, um acontecimento inteiramente que não se podia contar, uma vez eu estava fazendo um personagem um pouco caboclo eu tinha cabelos pretos e médios por aqui assim mas queriam uma trança longa. Então pegaram o meu cabelo e trançaram emendando no meu cabelo uma trança longa, pesada, e eu andando de um cenário para outro enrosquei a minha trança em alguma porta e terminei vários minutos ou meia hora ou mais do que isso sem a trança. Então eu escutava só: “Fica de frente, fica de frente”, “Mas será o Benedito? Porque é que estão me enchendo a paciência?” Porque havia sempre um diretor de estúdio te andando orientações: “Não vire de costa, fica de frente”, eu não estava entendendo, eu estava sem a trança. Então a mesma pessoa continuando as suas cenas de amor, as suas conversas, as suas falas, as suas dicas com o cabelo totalmente diferente.
P/1 - Parece que foi no “Madame Butterfly” que teve uma história também pitoresca.
R - Não foi no “Madame Butterfly”, foi numa peça em que eu fazia uma chinesa também teve uma história pitoresca, porque pela primeira vez me compraram uma roupa, me parece que a roupa foi comprada numa loja especializada do centro de São Paulo, do centro mais chique na época Barão de Itapetininga, por aí. Me compraram uma roupa de seda fina bordada e havia um, não sei se é um jaleco, tem o nome diferente, uma japona, não sei, e a calça comprida amarrada, por isso é que eu sei que não era japonesa, japonesa já tem o quimono inteiro. E também uma piteira, uma enorme de uma piteira: dois palmos de piteira, eu nunca fumei, que se segurava com toda a elegância mas antes de se fumar era necessário acender a tal piteira que ficava aqui na ponta e eu tive muita dificuldade porque acho que ensaiei pouco, não sei. Então acendi, coloquei o fósforo, preocupada com aquilo eu me despreocupei e amarrei mal a minha calça e ela caiu, simplesmente a calça comprida caiu, fiquei com a calcinha e também os colegas diziam: “Só close, só close” e não podia me avisar, nem me tirar de cena, nem coisa nenhuma, nem substituir, nem ir pra outra. Eu continuei fazendo a minha representação muito devagar é que eu percebi envergonhadamente que eu estava de pernocas de fora.
P/1 - Vida, e você fez grandes personagens como Dama das Camélias, Madame Butterfly...
R - Fiz, fiz. Fiz uma sequência porque como esse teatro, como eu digo, aconteceu por muitos anos e de forma repetida, a cada quinze dias uma nova peça, uma nova peça, havia um rodízio de atores e atrizes principais. E eu muitas vezes fiz papel principal em peça dirigida pelo Walter George (Durst?), Dionísio Azevedo, pelo Cassiano Mendes, pelo Benjamim Cattan, por muitos, pela Wanda Costa, estou citando os principais.
P/1 - E você podia falar um pouquinho sobre... nesse período haviam as garotas-propaganda.
R - Eu também fui um pouquinho de tempo garota-propaganda, porque a propaganda, não existiam ainda esses filmes que são inseridos dentro da programação vindos de agências de propaganda. A agência de propaganda vendia e se fazia um tipo merchandising, mais ou menos isso, ou seja, vamos dizer que eu estivesse vendendo esse óculos, colocava esse óculos numa mesinha e eu garota-propaganda vinha e dizia: “Aqui estou para mostrar para vocês o óculos tal, que mexe assim e assado, custa X e pode ser encontrado na loja tal, número tal”. Simples, aparentemente simples, houve uma vez que eu... porque eu fui só garota-propaganda no Mappin, por um ano talvez um pouco menos, isso foi em 1953 me lembro porque eu parei de ser garota-propaganda do Mappin porque engravidei da segunda filha então não podia também aparecer. Me lembro que uma vez eu estava com uma mesa desmontável e essa mesa deveria ser, estava apresentada de um jeito e eu devia desdobrá-la, qualquer coisa assim. E aquilo deveria ser feito com um jogo de mãos muito rápidas e terminava com uma frase: “Viram como foi fácil?”. Só que eu não conseguia abrir, eu sempre fui um pouco inabilidosa com negócio de mão e puxa pra cá, puxa pra lá, comecei a suar e quando terminei, chorei: “Viram como foi fácil?”, chorando.
P/1 - Vida, você podia falar um pouquinho então você como atriz e advogada acabou fazendo o “Tribunal do Coração”.
R - Ah, foi. Eu freqüentei a faculdade, fiz os seminários, fiz os trabalhos, fiz as visitações externas, fui à Casa de Detenção, fui à penitenciária e fui muitas vezes ao Fórum e claro anotei como era aquilo, achei bonito, me empolguei e aí comecei em princípio a escrever coisas menores, “esquetezinhos” e depois cheguei ao diretor da rádio, inicialmente depois televisão e falei que queria fazer um tipo julgamento, ele conversou comigo, ele deu palpites, era o Theófilo de Barros. E o Theófilo concordou comigo, fizemos realmente uma coisa que foi sensacional, modéstia à parte foi um grande programa que durou por vários anos depois saiu do ar, depois voltou, teve uma segunda fase em que se fazia exatamente um julgamento. Como é que é? Um cenário com um tribunal, uma figura de advogado de defesa, um promotor e um juiz e um corpo de jurados de sete pessoas. Num outro canto do estúdio se fazia a encenação de uma história real que nos vinha por cartas. Então na metade do programa, vamos dizer uma meia hora, encenava-se uma pequena historieta, é a mulher cujo marido ficou doente, ela teve um caso com um médico para conseguir remédio, qualquer coisa assim, foi culpada ou foi inocente? Após o julgamento vinham os debates e após o debate o juiz, que era o Dionísio Azevedo, tinha duas saídas: culpado ou inocente. E os jurados tinham tabuletas em que eles colocavam culpado, inocente, culpado e a câmera ia seguindo e a votação final o juiz dizia: “Por sete votos foi considerado culpado ou por cinco a dois...”. E assim fazíamos uma empolgação muito grande. E um programa interativo só que ao invés de telefonarmos e darmos brindes e prêmios, chamávamos pessoas do público para participar e dizer exatamente qual era o pensamento delas. Esse foi um programa que fez bastante sucesso.
P/1 - Vida, você então como produtora e criadora de programas o que mais você poderia destacar?
R - Destaco também um outro que se chamou “Você é o autor” e durou pouco. Esse não rendeu nada porque era muito trabalhoso, também era uma coisa interativa. Eu escrevi o primeiro capítulo, vamos dizer, de um história seriada, não uma novela ou uma novela e o segundo capítulo dependeria das cartas que chegassem pra eu escrever o segundo e o terceiro e o quarto e o quinto. Acho que não durou mais do que um mês ou dois porque realmente era muito trabalhoso, eu não tinha tempo de abrir as cartas.
P/1 - Chegavam muitas cartas?
R - Muitas cartas e a nossa equipe de trabalho era muito pequena. Então eu contratei um secretário, dois secretários para me ajudar a abrir as cartas, selecionar, etc. E isso foi mais ou menos feito na garra, no pioneirismo, acho que é o meu temperamento. Este programa recebeu muito elogio no primeiro dia mas depois ele esmoreceu.
P/2 - Eu gostaria de perguntar para a senhora como era nesse início a parte técnica? Como as equipes eram formadas, os profissionais da época?
R - Nós éramos jovens, inteligentes, corajosos, audazes, sonhadores. Então pra jovem sonhador tipo comparando mais ou menos com o Amir Klink, será que ele precisa de muitos técnicos em volta dele? Ou basta a sua vontade, a sua coragem? Nós fizemos televisão sem nunca termos visto televisão, todos nós colaborávamos com tudo, éramos realmente criaturas que nos dividíamos: fazíamos rádio e fazíamos televisão, fazíamos de dia, fazíamos de noite, entrávamos no estúdio sem perceber que já tinha anoitecido, que já era madrugada, quando recebíamos uma bandeja de sanduíches e íamos comer, íamos olhar eram duas, três horas da manhã ou quatro ou cinco ou seis ou sete da manhã. Claro porém que fomos nos profissionalizando deste rasgo inicial, fomos nos profissionalizando e havia um diretor de estúdio que era pra ajudar os atores e que era pra ver quem que tinha que entrar, quem tinha que sair, havia um ponto que ficava agachado perto de nós, havia a pessoa que ficava no som, a outra que ficava na luz, sempre uma pessoa só. Só isso, um maquiador que bem mais tarde começou a aparecer aquilo de vir no estúdio ver se tem brilho ou não tem brilho, os rapazes passaram a colocar pó só trinta anos depois da televisão ter iniciado, no começo nunca, era sempre de rosto lavado, as moças faziam maquiagem, o maquiador existia. A costureira foi aos poucos sendo contratada uma, depois a outra, fazendo o guarda-roupa de cada, como eu falei já se comprou em 1953 alguma roupa pra mim, aos poucos fomos deixando de carregar de casa e formando equipe. Algumas pessoas pensam: mas e a formação, onde estudaram? Acho que isso é a grande curiosidade. Claro que em nenhum lugar, fizemos televisão, os diretores que aí estão inclusive nas maiores emissoras ou na maior emissora brasileira atual que é a Globo, os antigos diretores, ninguém fez estudo de televisão, estudo de técnica de televisão não, são pessoas que foram aprendendo e é claro que os jovens já vêm com formação cultural de jornalista ou de não sei o que, não havia, é claro que não havia. Ao contrário, o próprio governo veio permitir a estes profissionais antigos que se registrassem como jornalistas, eu não me registrei porque eu não quis porque eu fiz telejornalismo durante muitos anos, escrevendo uma crônica diária eu própria e lendo a minha crônica, apresentando, como hoje fazem poucos que tem o direito de escrever e ler o seu próprio trabalho. E eu não me registrei porque várias vezes me chamaram: “Vida, tem o tempo certo, você foi, você não foi”. Eu não fui, só por relaxamento porque eu achava desnecessário, ou seja, não trabalhávamos como profissionais dizia o Amador Aguiar: “Não quero pessoas que venham com diplomas quero que venham com vontade”. Então nós trabalhávamos com pessoas que tinham vontade, diploma não existia, porque não existia a televisão, como é que ia existir uma faculdade de televisão?
P/1 - Vida, você estava citando aí agora a sua participação no jornalismo, você fazia um programa chamado “Edição Extra”.
R - Esse foi um dos programas e foi talvez o principal foi com o Maurício Loureiro Gama, foi ele que foi no estúdio me buscar: “Vida, quero fazer parceria”. Tinha saído o Tico-Tico famoso que era parceiro do Maurício Loureiro Gama: “Quero fazer parceria com uma mulher, quero experimentar você”. E eu participei por muitos anos, tenho ainda uma grata satisfação de lembrar disso porque foi uma fase bem boa, um trabalho bem bonito que eu fiz, bem marcante que era exatamente... porque antes eu fazia a mesma coisa dentro de programas femininos, nunca na vida gostei de programas femininos porque nunca achei que mulher só gosta de bordado e maquiagem, sou mulher mas gostei da faculdade, gostei do que eu fiz, a minha mãe era mulher mas conseguiu estudar depois de viúva e formar os seus filhos. Então não tinha pra mim esse preconceito, juro por Deus, não existia, nunca senti isso nem minha casa nem fora da minha casa, até hoje eu estranho pessoas preconceituosas porque eu nunca fui. E então eu realmente já vinha fazendo mas foi no programa do Maurício Loureiro Gama que a coisa ficou bem profissionalizada, os assuntos eram os que eu queria, assuntos gerais, o Maurício fazia assuntos políticos e marcou também bastante pra mim: “Edição Extra”.
P/1 - Vida, como era o seu processo de trabalho? Você ficava o tempo todo dentro da televisão ou você também escrevia em casa?
R - Construí uma casa perto e resolvi o meu problema, escrevia muito mais na minha casa do que na televisão, às vezes à noite, até hoje tenho o hábito sem necessidades, acredito eu, ou por hábito mesmo de escrever à noite. Naquele tempo a minha máquina esquentava, cheguei a prender a máquina Olivetti, a prendê-la com parafuso porque senão ela caía, quando eu estava com vontade, um capítulo de novela, uma história, uma sinopse era uma coisa bastante rápida, até hoje sou assim e levo uma prancheta para perto da minha cama e todo o meu trabalho entre um intervalo se eu estiver descansando, assistindo uma novela, eu não assisto inteira, assisto pedaços e trabalho alguma coisa, ou então se tenho alguma insônia rende, acho até bendita insônia, muitas vezes.
P/1 - Vida, e como é que foi a transição da TV ao vivo pra TV com videotape? O videotape foi essa maravilha toda no início?
R - Foi uma coisa grande, importante, cara, que devíamos respeitar, ou seja, só se cortava aquilo na gilette mas de vez em quando, não se cortava com a máquina, como é que se fala? Não se cortava a não ser fisicamente, cortada e emendada, ou seja, era um gasto muito grande. Então se tentava pelo menos ficar meia hora sem nenhum corte. Então era quase, foi uma transição lenta, ao vivo hora meia ou duas para ao vivo meia hora e depois ao vivo quinze minutos, foi feita aos poucos e o videotape, a parte técnica essa é que foi ganhando muita força não só na televisão mas em tudo quanto é lugar e a parte técnica foi favorecendo os profissionais, aí o videotape facilitou muito.
P/1 - E, quer dizer, do outro lado da televisão, a recepção, porque no início quando a TV surgiu não existiam praticamente aparelhos de TV.
R - Isso foi uma coisa engraçada da qual eu nem tomei conhecimento. Foi o seguinte, o Assis Chateaubriand montou a televisão e de repente ele se lembrou poucos dias antes que não tinha ninguém pra assistir então ele comprou, não me lembro, não sei se duas mil peças ou duzentos televisores e doou para o Mappin, para a Antártica, os antigos amigos dele que também ajudaram a comprar todo aquele material e aí eu digo que nem tomei conhecimento porque eu estava longe de poder comprar um aparelho de televisão o que aconteceu talvez um ou dois anos depois. Esta fase eu trabalhava em televisão mas eu não assistia televisão.
P/1 - A gente estava falando sobre os aparelhos de TV, de audiência, a partir de quando começou a ter uma audiência grande?
R - Audiência era grande mas era só na cidade de São Paulo. Ela não era ligada a outros locais mais distantes, isso foi acontecendo aos poucos, me lembro que a equipe de esportes parece fez um link com o Rio de Janeiro, colocando postes pelo Vale do Paraíba, subindo montanha, descendo montanha pra poder fazer uma retransmissão ou para o papa benzer, alguma coisa assim, não me lembro exatamente, era uma coisa muito cheia de sacrifícios. O meu marido participou só os dois, três primeiros anos da televisão, depois ele saiu e depois ele montou uma fábrica de televisores, isso também foi acontecendo aos poucos no Brasil, aparecendo fabricantes de televisores porque não existia, não existiam televisores eram importados e nem programas então não podia ter audiência, não tinha quem assistisse por falta de aparelhos mas isso, é claro que o comércio e os homens de visão vão sempre correndo atrás de onde pode dar dinheiro e essa coisa foi acontecendo naturalmente. Eu não me lembro quando eu comprei a minha televisão, eu não me lembro mas deve ter sido um ano ou dois depois do início que nós fomos comprando e me lembro que quando eu comprei a minha, vários colegas não tinham e iam assistir na minha casa. Houve muito tempo a imagem do televizinho. Poucas pessoas foram comprando e muitos já foram assistindo, porque já eram um espetáculo bonito mesmo sendo em branco e preto. A televisão colorida só veio em 1972, bastante tempo depois, o videotape veio antes, veio em 1965 por aí mais ou menos. E então a grande audiência mesmo foi com o advento do satélite, então a imagem ficou sendo nacional e hoje até mundial. Então pode um programa hoje ser feito na, sei lá onde, na Rússia e ser assistido no Brasil mas isso não existia nos começos, nem nos outros países. Eu falei em Rússia e em 1959 eu já fiz várias viagem e uma delas à Rússia e achei que a nossa televisão já era melhor do que a televisão da União Soviética ou de outros países, mesmo da Alemanha, também estive nessa época, mesmo da Áustria, ou seja, não apenas o leste na Europa mas também a parte de cá, toda a televisão era mais inferior talvez só a americana fosse superior, dizem que a de Cuba que parece foi mais antiga do que a nossa um pouquinho tinha um trabalho bem feito e hoje ela é muito simples mas parece que ela tinha um trabalho tanto que chegaram ao Brasil várias novelas cubanas, escritores cubanos, porque...
P/1 - Glória Magadan.
R - A Magadan eu não sei se era cubana acho que era, o Félix (Canhé), alguns autores cubanos que mandaram novelas para cá ou scripts não sei exatamente. Aí então é que veio com o advento das redes a grande audiência e a grande popularidade e a grande riqueza de alguns donos de emissoras e até de alguns artistas que nada disso acontecia, éramos todos pessoas batalhadoras, não que esses de hoje não sejam mas eram pessoas que faziam aquilo mais pelo amor, como eu digo, pelo sonho, pelo prazer de fazer do que pelo interesse financeiro ou até pelo interesse de ser conhecida, isso era só uma conseqüência que foi vindo aos poucos.
P/1 - Vida, voltando às emissoras, além da Tupi você participou de trabalhos em que outras emissoras?
R - Eu fiquei durante vinte e dois anos contratada das Associadas, Associadas em São Paulo que eram do Chateaubriand era Rádio Tupi, Rádio Difusora, Televisão Tupi e tinha também Diários Associados, jornais e “Diário de São Paulo”, esses eu nunca trabalhei mas nas emissoras de rádio e televisão eu fiquei vinte e dois anos até que eu saí, a emissora estava um pouco ruim quase balança mas não cai, eu saí antes que caísse. Mas eu fui pra TV Excelsior que caiu mas depressa do que a Tupi, um ano antes faliu a TV Excelsior. Aí eu fui pra TV Gazeta fazendo sempre programas meus, comecei a ter horários meus, adquirir horário, a ficar um pouco mais independente a não ficar mais contratada, fui pra Gazeta que nunca cresceu muito, pelo menos em matéria de programação, embora eu tivesse em horário nobre um programa meu de entrevistas, depois fui pra TV Record e por fim eu fui pra Rádio Mulher, terminei a minha carreira por volta de 1977, mais ou menos 1978 na Rádio Mulher tendo um programa à tarde, um programa de variedades com entrevistas e curiosidades e enfim.
P/1 - E Vida, como foi passar da Tupi para outras emissoras? Tinha uma diferença técnica muito grande?
R - Falava-se muito bem da Excelsior e realmente tudo o que havia de melhor na Tupi tinha ido para a Excelsior. Mas eu gostava mais da Tupi e gostei menos da Excelsior até por uma questão de antiguidade e não vi muita diferença. Mas era uma televisão de primeira, a Televisão Excelsior. E também quando faliu antes que falisse quase todos foram para a Globo. Então Tupi houve essa saída para Excelsior e de Excelsior para a Globo mais ou menos assim. Eram emissoras de grande qualidade.
P/1 - Vida, nesses primeiros anos da televisão, nos anos pioneiros, a programação, ela tinha uma duração menor de tempo, não era uma televisão vinte horas por dia.
R - Não, não era. Inicialmente poucas horas, depois foram ampliando, uma coisa normal. E depois quase dezoito horas, dezesseis horas um tempo comum, permanece até hoje mais ou menos igual. Programação que tem começa às cinco, seis, sete da manhã e vai até meia-noite, uma, duas, mais ou menos a mesma coisa. Você queria que eu lembrasse mais alguma coisa e eu me lembrei que também fiz programas com crianças, foram programas, foram duas séries em que eu utilizei crianças e começaram algumas pessoas que permaneceram, começaram comigo como a Débora Duarte, eu tinha um programa chamado “Ciranda, Cirandinha” em que eu fazia às seis horas da tarde um encontro entre meninos, esses encontros que acontecem ou quintal de um ou na rua, meninos de doze, dez anos fazendo bolo, fazendo brincadeira, fazendo lição de casa, copiando a mãe, essas pequenas coisas. Rendeu bem, foi bem. Nós tínhamos também liberdade porque éramos menos vinculados ao Ibope que ele foi aparecendo aos poucos. Então com o Ibope e com o dinheiro, mais dinheiro, foi havendo mais controle da parte dos patrocinadores e dos diretores. No meu tempo pelo menos praticamente sempre houve bastante liberdade de criação, criávamos, experimentávamos vários tipos de trabalho e vários tipos de coisa. Fomos empurrando e fazendo a televisão.
P/1 - Vida, você então na TV Mulher terminou suas atividades em televisão.
R - Rádio Mulher.
P/1 - Rádio Mulher.
R - Passei aí meio rapidamente uma fase que foi bem difícil que foi quando eu fiquei viúva, meu marido faleceu e foi exatamente quando a Excelsior faliu, muita gente foi para a Globo. Eu não quis, a Globo sediava-se no Rio de Janeiro, São Paulo ficou praticamente sem nada para depois voltar a ter e hoje em dia está voltando a ser pólo, todas elas construindo suas sedes até em São Paulo mas por um largo espaço de tempo foi só Rio de Janeiro, eu estava com os meus filhos já grandinhos mas quinze, dezesseis,dezessete, dezoito por aí, preferi ficar com eles e comecei a trabalhar por minha conta, mesmo estando na TV Gazeta e mesmo estando na TV Record ou mesmo estando na Rádio Mulher. Depois disso eu tive sempre independência, porque eu montei empresa própria e hoje dia isso é até meio comum. Eu tenho firma própria então eu passei a não ser mais funcionária de ninguém. E sendo assim eu tive três empresas pequeninas, duas duraram pouco e uma já está há mais tempo mas longiva. Primeiro foi uma academia de rádio e televisão em que eu treinava, foi com uma colega chamada Célia Rodrigues em que treinávamos primeiras aparições em rádio e televisão e fornecíamos para as emissoras. Isso foi interessante. Passaram por nós, por exemplo, o Walter Negrão, que começou o seu trabalho artístico estudando comigo. Isso depois eu fechei, quis passar um tempo na Europa, comecei a gostar de viajar, isso fechei depois de cinco anos. A segunda empresa foi quando eu estava na Rádio Mulher, então eu gravava programas já de rádio e enviava para uma rede grande de emissoras do interior ou até de outros estados, enviava para cinquenta emissoras, principalmente programas para dias especiais, como por exemplo o “Dia do Papai”. Mas eram fitas que tinham que ir via malote ou via automóvel, qualquer via e tinham que voltar pra mim, era uma coisa um pouco trabalhosa, não era nada fácil como hoje pra quem tem computador, hoje tudo vai rápido para o mundo inteiro. Isso também acabou por me cansar e eu também fechei para uma série de viagens internacionais. E a terceira que é a minha do momento, acho que vou ficar até o fim, que são cursos Vida Alves de comunicação ao lado da minha filha Taís que também foi minha sócia na minha segunda empreitada e hoje também é minha sócia quando treinamos pessoas na arte de falar, na arte de se apresentar, na arte de ficar tranqüila, é uma arte, quase todas as pessoas ficam nervosas em reuniões, em palestras, em debates. Não são só os políticos que nos procuram mas também empresários, também executivos, também professores, também estudantes, também vendedores, há uma série de pessoas que precisam expor o que pensam, o que sabem e sentem dificuldades, ficam nervosos, trêmulos, vermelhos, suados e a gente treina um pouco e melhora bastante a performance de cada um. Isso é o que eu faço atualmente e é aquilo que eu mais gosto de fazer, já treinamos, hoje 1997, vinte e seis mil pessoas, é um número bastante grande se você colocar assim numa fila, muitas vezes é um só, outras vezes três, quatro, outras vezes dez, muitas vezes é um só e às vezes é um grupo maior de uns trinta, quarenta, varia bastante. Isso é o que eu faço atualmente ao lado da minha filha.
P/1 - E como surgiu a idéia de se criar a Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira?
R - Acho que foi saudade, eu conto uma pequena história que é verdadeira, eu fui ao enterro do Cassiano Gabus Mendes e diante do corpo dele meio que num sonho sem ser sonho eu tive a impressão de que ele me falava: “Vida, olha a escalação”. Eu estranhei aquilo porque eu não vejo escalação a quantos anos, a não ser as minhas escalações de aula, mas escalação de televisão, eu fiquei com aquilo me atormentando um pouquinho, conversei com a minha filha, conversei com o meu filho, depois conversei com alguns colegas e aí eu falei: “Acho que eu tenho que fazer alguma coisa pela televisão. Eu nasci praticamente no rádio, na televisão, abandonei. O que é que eu poderia fazer?” E começou me vir a idéia de constituir, de instituir a Associação. E assim ela nasceu um tempo depois somando várias pessoas, várias ideias, hoje ela está existindo e a finalidade principal, aliás a finalidade não é só essa mas um dos desejos maiores é levantarmos o Museu da Televisão, alguma coisa que se encaixará um depoimento como esse e outros tipos de entrevista que possam contar ao povo, às pessoas como foi a televisão, como era a coisa antiga, porque existimos e porque existiram as coisas que vocês nem sabem que aconteceram, mas que aconteceram porque a televisão registrou a mudança desse mundo principalmente o nosso. A televisão influenciou na mudança de costumes, na mudança de hábitos do Brasil inteiro. Então eu acho que deveríamos e deveremos e faremos erguer esse museu e construir alguma coisa que fique para sempre e dar de presente à sociedade que nos acolheu sempre com tanto carinho.
P/1 - Vida, estamos chegando no final da entrevista, eu queria que você pudesse fazer uma comparação entre a TV dos primeiros anos e a TV de hoje.
R - Não gosto de fazer essa comparação porque eu tenho que dizer o que a gente repete sempre, a parte técnica é muito melhor não se compara nada que é técnico de hoje com aquilo que é de dois anos atrás, agora digamos, de quarenta e sete anos atrás, completamente diferente. Mas a parte humana não teve o mesmo crescimento e nem poderia, a criatura humana tem o seu limite por mais que sejamos antigos podemos ser tão ou até mais inteligentes, ou tão ou até mais dedicados. Então a televisão feita no meu tempo era realmente feita na base que me faz sempre lembrar a minha mãe: fazer o melhor possível, fazer o melhor possível, não importa, não importa. Hoje em dia eu não sei se é exatamente assim, há mais estrelismo, tenho a impressão, não me queixo de ninguém, mas tenho essa impressão. Há menos pontualidade, estou falando de pontos que a mim me afetam e eu não gosto e pela televisão mesmo há mais exageros sem a preocupação exata de quem está vendo, eu em muitas e muitas e muitas coisas preferiria ver um programa antigo se bem que eu penso: será que eu agüentaria uma televisão branco e preto, mal feito, com uma atriz que começa com trança e termina sem trança, eu iria dar risada quando não era um peça cômica? Ou seja, eu gosto do que está aí mas eu gostaria que o está aí tivesse uma elevação interior um pouco maior do que a que tem.
P/1 - Vida, então você gostaria de ter uma palavra final aí do depoimento?
R - É bom deixar isso registrado se é que vai ser assistido por alguém, eu acredito que sim porque quem fala aqui, Vida Alves, é uma pessoa que viveu tudo isso e está falando pra vocês. Sou atualmente presidente da Associação dos Pioneiros da Televisão, queremos realmente estar próximos daqueles que nos conheceram, que nos assistiram e daqueles que nunca ouviram falar em nós mas que devem imaginar que a gente existe ou existiu porque a televisão está aí, ela continua sendo uma realidade, ela realmente fez o divisor de águas, a vida era uma antes da televisão e outra depois dela e portanto, nós, aqueles que construímos este muro, que fizemos esta diferença, merecemos, eu acredito, algum respeito, alguma admiração por parte de vocês. Quero agradecer a simpatia de vocês que estiveram aqui comigo e me colocar às ordens.
P/1 - Muito obrigada pela entrevista.
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