Sempre gostei de receber muita atenção e desde criança fazia meus malabarismos e gracinhas para que os olhares ao redor me cercassem, desse jeito, já sentia que fazia parte e ocupava um lugar especial na minha família. Há quem diga que é culpa do signo, pois nascida numa bela manhã de agosto, sou leonina raiz. Há também, quem diga que por ser a caçula da casa e não ter outra criança da minha idade na família na época, eu fui muito mimada por todos. Já disseram que são traços de personalidade, e que eu fui “encomendada”. Cada uma dessas teorias sobre como eu era quando pequena tem um fundo de verdade, quero dizer, era a visão das pessoas sobre mim, e que hoje, aos 21 anos confirmo-as em grande maioria.
Meu pai escolheu o meu nome, Daniela, e a minha mãe diz que esperou o momento certo para que eu chegasse a esse mundo. Quando eu nasci, a minha irmã já tinha 7 anos, e fomos todos nos adaptando: eles com a chegada de um bebê na casa, e eu com todo esse mundo novo.
O tempo foi passando, eu fui crescendo e a cada dia aprendendo coisas novas, comecei a falar, andar e não parei mais; Meus chinelos tinham reforços com pregos em baixo, pois não suportavam o impacto de tamanhas correrias pela casa e por onde quer que eu estivesse. Em momentos mais tranquilos eu brincava de escolinha com a minha irmã, e foi assim que apenas brincando eu aprendi a ler e escrever antes de entrar na escola, e que aliás, já entrei direto para o primeiro ano.
Lembro-me de brincar muito com as minhas vizinhas que tinham idades iguais e bem próximas às minhas; brincávamos de pular corda, casinha, mamãe e filhinha, brincadeiras de mãos, outras brincadeiras com cordas, imitações de novelas que assistíamos na época, trocávamos figurinhas de álbuns, escavávamos no barranco que tinha na minha casa, entre outras brincadeiras, até mesmo pegávamos piolhos juntas. E a propósito, eu não gostava de brincar sozinha.
Sempre observei a minha mãe realizar as...
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Sempre gostei de receber muita atenção e desde criança fazia meus malabarismos e gracinhas para que os olhares ao redor me cercassem, desse jeito, já sentia que fazia parte e ocupava um lugar especial na minha família. Há quem diga que é culpa do signo, pois nascida numa bela manhã de agosto, sou leonina raiz. Há também, quem diga que por ser a caçula da casa e não ter outra criança da minha idade na família na época, eu fui muito mimada por todos. Já disseram que são traços de personalidade, e que eu fui “encomendada”. Cada uma dessas teorias sobre como eu era quando pequena tem um fundo de verdade, quero dizer, era a visão das pessoas sobre mim, e que hoje, aos 21 anos confirmo-as em grande maioria.
Meu pai escolheu o meu nome, Daniela, e a minha mãe diz que esperou o momento certo para que eu chegasse a esse mundo. Quando eu nasci, a minha irmã já tinha 7 anos, e fomos todos nos adaptando: eles com a chegada de um bebê na casa, e eu com todo esse mundo novo.
O tempo foi passando, eu fui crescendo e a cada dia aprendendo coisas novas, comecei a falar, andar e não parei mais; Meus chinelos tinham reforços com pregos em baixo, pois não suportavam o impacto de tamanhas correrias pela casa e por onde quer que eu estivesse. Em momentos mais tranquilos eu brincava de escolinha com a minha irmã, e foi assim que apenas brincando eu aprendi a ler e escrever antes de entrar na escola, e que aliás, já entrei direto para o primeiro ano.
Lembro-me de brincar muito com as minhas vizinhas que tinham idades iguais e bem próximas às minhas; brincávamos de pular corda, casinha, mamãe e filhinha, brincadeiras de mãos, outras brincadeiras com cordas, imitações de novelas que assistíamos na época, trocávamos figurinhas de álbuns, escavávamos no barranco que tinha na minha casa, entre outras brincadeiras, até mesmo pegávamos piolhos juntas. E a propósito, eu não gostava de brincar sozinha.
Sempre observei a minha mãe realizar as tarefas em casa, ela sempre foi cuidadosa e eram raros os momentos em que parava para descansar durante o dia. Quando eu tinha 6 anos, meu primo Igor nasceu, e desde então fomos criados juntos por 10 anos. Conforme o tempo foi passando, as pessoas foram tomando conhecimento de que ela cuidava de uma criança e além dele, haviam mais 3 primos mais novos que por vezes ficavam sob os cuidados da minha mãe, sem contar nos filhos de vizinhos e amigos da família que ela também cuidava de vez em quando. Resumindo: sempre ajudei a minha mãe a cuidar das crianças, e além de ter herdado toda a paciência que ela tem, fui cada vez mais gostando e me identificando com o mundo das crianças, cuidados, rotinas específicas; não éramos formadas, mas já tínhamos uma grande bagagem de experiência.
Meu pai e eu éramos companheiros do final de semana, saíamos para jogar bola, fazer rolo de passarinhos, ir ao mercado e às vezes na casa de alguns parentes. Ele acordava cedo, e bastava um assobio para sinalizar que já era a hora de sair e eu já estava pronta. Ele também me contava histórias para dormir quando eu era pequena, e quase sempre a mesma, do menino na floresta que não tinha fim, pois dormia antes de terminar de contar; as vezes, cantava umas cantigas e me ensinava algumas brincadeiras de dedos depois do jantar, que terminavam em cócegas; quando acordava para ir trabalhar, eu acordava também para tomarmos café da manhã juntos.
Eu era tão apegada ao meu pai por tantas razões que foi difícil aceitar a notícia de um dia para o outro, que ele havia sofrido um acidente no trabalho onde havia caído, batido a cabeça e permaneceria no hospital. Eu tinha 9 anos e não entendi o real estado, mas entendi que ele ficaria internado por uns dias, então, peguei uma foto da nossa família e pedi para que a minha mãe mostrasse a ele, caso estivesse com saudades. Foi aí que ela me disse que ele estava “dormindo” e que não teria como ver a foto.
A nossa rotina mudou drasticamente desde o dia do acidente: a minha mãe tinha que atravessar a cidade todos os dias para visitá-lo, eu ficava na minha tia enquanto a minha irmã estava na escola, em seu último ano. As duas só choravam enquanto eu me fazia de forte pensando que jamais poderia chorar na frente delas; minha irmã tinha crises de falta de ar, minha mãe não conseguia se conter quando alguém perguntava do estado de saúde dele. Estado que, a cada dia que ia passando se agravava até recebermos a notícia de que após 3 meses em coma, meu pai havia falecido.
Não foi fácil para a família, muitos se afastaram, as coisas jamais seriam as mesmas, mas aos poucos, cada um no seu tempo, foi internalizando e passando por suas fases de luto e assim, 12 anos depois estou aqui contando essa história que marcou a minha vida e da minha família.
Trago boas lembranças de toda a minha infância, e apesar de alguns fatos terem marcado negativamente, eu entendo que foram parte da minha história, de quem eu sou hoje e de quem irei me tornar amanhã.
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