P/1 – Débora, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Queria começar pedindo para você falar para gente seu nome completo, a data e o lugar onde você nasceu.
R – Meu nome é Luzia Débora Feitosa de Lima Barbosa, eu nasci em 1980, aqui na cidade de Campina Grande, estado da Paraíba.
P/1 – Em que dia você nasceu?
R – 13 de agosto de 1980, dia 13 de agosto.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – Nome do meu pai é Joaquim Antônio e o nome da minha mãe é Luísa Feitosa da Silva.
P/1 – E qual que é a atividade deles? O que seus pais fazem?
R – Meu pai é sargento aposentado da Polícia Militar aqui de Campina Grande e a mãe é do lar e contadora voluntária de história aqui na escola.
P/1 – E faz tempo que a sua mãe é contadora de história?
R – Não, ela se tornou contadora de história aqui na escola depois que eu comecei a participar da formação lá na Alpargatas, promovida pelo Instituto Camargo Corrêa e empresa Alpargatas. Sendo multiplicadora aqui na escola comecei a incentivá-la também a contar histórias, ensinei a ela os passos da contação de história e ela se tornou uma contadora voluntária. Principalmente para inserir crianças com deficiência dentro da escola que estivessem à margem no período do recreio, no período da brincadeira, em que havia uma criança com um deficiência física, uma adolescente que se locomove por meio da cadeira de rodas e ela ficava sozinha. Então a minha mãe, a contadora de história, Luísa, ela contava histórias para essa aluna com a finalidade de atrair também as outras crianças a ouvirem as histórias junto com essa aluna e as outras crianças perderem o medo. Porque as crianças, por ela ser diferente na forma de estar sentada, de se locomover, as crianças tinham esse estranhamento. Então a partir dessa contação de história da minha mãe, as crianças passaram normalmente na hora do intervalo a ficarem...
Continuar leituraP/1 – Débora, bom dia.
R – Bom dia.
P/1 – Queria começar pedindo para você falar para gente seu nome completo, a data e o lugar onde você nasceu.
R – Meu nome é Luzia Débora Feitosa de Lima Barbosa, eu nasci em 1980, aqui na cidade de Campina Grande, estado da Paraíba.
P/1 – Em que dia você nasceu?
R – 13 de agosto de 1980, dia 13 de agosto.
P/1 – E qual que é o nome dos seus pais?
R – Nome do meu pai é Joaquim Antônio e o nome da minha mãe é Luísa Feitosa da Silva.
P/1 – E qual que é a atividade deles? O que seus pais fazem?
R – Meu pai é sargento aposentado da Polícia Militar aqui de Campina Grande e a mãe é do lar e contadora voluntária de história aqui na escola.
P/1 – E faz tempo que a sua mãe é contadora de história?
R – Não, ela se tornou contadora de história aqui na escola depois que eu comecei a participar da formação lá na Alpargatas, promovida pelo Instituto Camargo Corrêa e empresa Alpargatas. Sendo multiplicadora aqui na escola comecei a incentivá-la também a contar histórias, ensinei a ela os passos da contação de história e ela se tornou uma contadora voluntária. Principalmente para inserir crianças com deficiência dentro da escola que estivessem à margem no período do recreio, no período da brincadeira, em que havia uma criança com um deficiência física, uma adolescente que se locomove por meio da cadeira de rodas e ela ficava sozinha. Então a minha mãe, a contadora de história, Luísa, ela contava histórias para essa aluna com a finalidade de atrair também as outras crianças a ouvirem as histórias junto com essa aluna e as outras crianças perderem o medo. Porque as crianças, por ela ser diferente na forma de estar sentada, de se locomover, as crianças tinham esse estranhamento. Então a partir dessa contação de história da minha mãe, as crianças passaram normalmente na hora do intervalo a ficarem com essa criança com deficiência brincando.
P/1 – E quando você era pequena sua mãe costumava contar histórias para você?
R – Não, quando eu era pequena nós não tínhamos o hábito de leitura em casa, nem o meu pai, nem a minha mãe. Ele trabalhava muito, meu período de infância foi um período que aqui no estado da Paraíba havia períodos de dificuldades salariais, ou o salário não era bem remunerado, ele era apenas saldado, atrasava alguns meses, então nós passávamos algumas necessidades financeiras. Então eu fui uma criança que nós catávamos livros no lixo, cadernos velhos e livros de história pequenos. Meu sonho era ter livros de história e eu não tinha. Eu nunca comprei um gibi quando criança, e eu via quando criança, a minha vizinha do lado ela tinha livros belíssimos, eu lembro um que era o Soldadinho de Chumbo, quando você mexia a capa vermelha ele brilhava. E eu queria ter acesso aquela leitura, eu não sabia ler e eu ficava só pensando se um dia eu tivesse um livro daquele. Então quando fiquei adulta, após essas formações na Alpargatas, através deste trabalho da Escola Ideal, desse programa, eu comprei ano passado o meu primeiro gibi, aos 30 anos de idade. Fui numa banca comprei meu primeiro gibi. Eu na fila do banco comecei a rir sozinha e as pessoas não entendiam, mas para mim eu estava retomando aquilo que na vida foi me limitado durante um espaço de tempo, quando criança. Então assim a leitura para mim ela me libertou de vários temores da infância.
P/1 – E Luzia falando desse seu período de infância, você tem irmãos?
R – Eu tenho uma irmã, que faz universidade, Sociologia e Serviço Social, tenho um irmão, irmão mais velho, ela é a do meio, ele já terminou os seus estudos, entrou na universidade, mas ainda não concluiu, e tem o outro irmão que é encostado mais a mim que ele terminou os estudos no Ensino Médio, trabalha, mas não entrou ainda na universidade.
P/1 – Então você é a terceira?
R – Isso.
P/1 – Terceira filha. Você está em que ordem nessa escadinha, você tem mais dois irmãos mais velhos, é isso?
R – Eu sou a segunda, sou a segunda após o primogênito, eu sou a segunda filha, aí vem a menina do meio, vem o jovem do meio e depois vem a minha outra irmã que é a caçula, são dois homens e duas mulheres.
P/1 – Conta para mim então, você falou como é que foi a sua infância, mas vocês brincavam juntos, o que você gostava de brincar quando você era pequena? Como é que era essa...
R – Quando eu era criança eu não tinha brinquedos, então minha mãe sempre contava que ela veio do sítio, né, ela morava na zona rural até a adolescência dela e ela me contava que ela brincava com bonecas de milho, é um “sabugozinho” que vem no milho e você brinca, ela brincava com essas coisas, brincava com pedra. E então ela me ensinou a brincar assim também, então eu brincava com bolinhas de areia, eu fazia academia, amarelinha, eu fazia amarelinha no chão, na areia, brincava muito com as minhas amigas assim de amarelinha, de escolinha.
P/1 – Como que eram essas brincadeiras de escolinha?
R – Os recursos que nós tínhamos, os poucos lápis e papéis, então nós brincávamos de ler histórias, de contar umas para as outras e colocávamos as bonecas para ouvirem as histórias.
P/1 – E Débora fala para gente qual que é a primeira lembrança que você tem da escola? Da sua escola, da primeira vez que você foi para escola?
R – A primeira lembrança que eu tenho eu tava fazendo o jardim dois, eu acho que eu tinha uns cinco anos de idade, ou quatro, era uma escola pequena, particular e havia uma criança lá que ela tinha um problema muito sério na pele. Quando a mãe dela estava gestante, ela era empresária, então trabalhava com vendas e parece que exportações de cimento, alguma coisa assim, que na casa dela era próximo à fábrica ou à revenda do próprio cimento. Então, de tanto ela inalar aquele cheiro do produto que contém na formação do cimento, ela desenvolveu um problema na gestação dela,com o bebezinho, que quando ele nasceu ele tinha uma camada por fora, superficial em toda a pele, no rosto, em toda a pele igual a pele de um jacaré, igual a pele de uma tartaruga, era áspera e grossa, e exalava mau cheiro. Então as crianças não queriam sentar perto dele, e a tia dele era dona da escola, então era por isso que ele estudava lá, o nome da escola era Patotinha. Eu era pequena e lembro que eu nem sabia o que era diversidade nem o que eram direitos iguais. Eu não sabia o que era diferença, qualidades, potencialidades e eu ficava revoltada, porque as crianças não sentavam com ele na mesa e eu sentava, pegava na mão dele e conversava com ele. Ele viveu até os 12 anos de idade, morava perto da minha casa. Sempre que eu passava em frente à casa dele eu cumprimentava, mas não tinha muita intimidade de ir lá para brincar. E foi uma criança que eu nunca esqueci, e não entendia porque passei por aquela experiência. Hoje, casada com uma pessoa com deficiência física, meu esposo teve paralisia infantil com um ano e meio de idade, eu sou formada em Pedagogia pela UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) e a minha monografia, orientada pela professora doutora Lígia Pereira dos Santos, foi sobre inclusão social de pessoas com deficiência na arte. Então, todo o leque agora de estudo que eu tenho trabalhado é vinculado tanto à leitura, através desse projeto, como a inclusão de pessoas na sociedade, seja através de algum tipo de deficiência, de alguma limitação. No meu caso, a minha limitação e a minha exclusão quando criança, foi o não acesso a leitura. Na escola onde eu estudava, numa escola pública municipal durante toda a minha vida, nos primeiros anos do Ensino Fundamental não havia biblioteca na escola. E eu não lembro da professora nos estimular a leituras de livros literários, leituras assim prazerosas.
P/1 – E como é que era nessa escola? Você falou para gente que estudou o jardinzinho na escola...
R – Essa foi a particular, no pré...
P/1 – E aí então...
R – Então, minha mãe me colocou na primeira série, já que não tinha mais condições de pagar a escola. Na primeira série eu fui para uma escola pública municipal aqui de Campina Grande, não, desculpe, fui para uma escola pública estadual aqui em Campina Grande, e estudei desde a primeira série até a oitava série na mesma escola, que hoje é primeiro ano até o nono ano. E depois eu fui para uma escola de nível Médio, que aqui em Campina Grande escola estadual que lá já tinha biblioteca, a escola estadual daqui de Campina Grande, a parata, muito conhecida. E lá tinha, às vezes, eu ia para biblioteca ler lá, mas ali já o teor da minha visão sobre leitura era estudar para passar no vestibular, era ler os livros literários para estudar no vestibular, eu ainda não tinha aquela visão e aquele olhar sobre a leitura por prazer, o degustar de uma leitura, o saborear de uma leitura.
P/1 – E nessa primeira escola que lembrança você tem marcante? Algum professor que te marcou? Que lembrança que você tem dessa sua primeira fase escolar no Ensino Fundamental?
R – Do Ensino Fundamental?
P/1 – É.
R – Algumas professoras, eu era muito tímida, muito calada e retraída, não era comunicativa como eu me desenvolvi e sou hoje. As professoras me estimulavam me colocando para participar das danças que tinham na escola, cheguei a desfilar na escola no período do Ensino Fundamental, trabalhei em gincanas, participei também de mostras pedagógicas na escola e assim elas foram desenvolvendo a minha oralidade.
P/1 – Então esse trabalho delas foi uma coisa que te marcou dessa primeira escola?
R – Isso. E outra coisa muito forte que me marcou é porque a escola não tinha sala de vídeo, então existia uma propaganda do MEC que era para você ligar para um 0800 naquela época, eu não sei se era o mesmo, 616161 e você dizia o que você queria que melhorasse na sua escola. Então tinha um orelhão na nossa escola, eu tava na sétima série e eu liguei para o 0800 e disse, “Olha eu gostaria que fosse montada na minha escola uma sala de vídeo”. Eles ouviram a minha gravação, acharam muito interessante a iniciativa de uma adolescente fazer isso naquela época e entraram em contato com a escola e trouxeram uma sala de vídeo para escola através dessa minha ligação. Então foi uma coisa que me marcou nessa escola pública onde eu estudei até a oitava série.
P/1 – Ai que legal, e como é que foi para você depois ver a sala de vídeo ali...
R – Eu fiquei muito feliz, a gestora também ficou, de meu os parabéns, os professores pelo incentivo, porque eles ficaram muito felizes em perceber que alunos que queriam que a escola melhorasse e tiveram a iniciativa de fazer aquela ligação.
P/1 – E como é que foi para você depois da oitava série mudar de escola?
R – Eu queria muito estudar nessa outra escola, porque em Campina Grande as escolas estaduais são bem conceituadas, né, que é a estadual da prata. Então eu fui estudar lá, foi desafiador, um nível profundo de leitura, eram leituras mais densas. As professoras de Língua Portuguesa que eu tive lá foram excelentes. Os professores de História também marcaram muito a minha trajetória da educação.
P/1 – E o que mudou para você nessa mudança assim, até de faixa etária, idade mais jovem assim no seu cotidiano? Você continuava estudando de manhã como é que era esse dia a dia assim?
R – Enquanto eu estava na estadual da prata, eu estudava pela manhã e em casa eu estava em casa, não fazia nenhuma outra atividade. Nos finais de semana eu era manicure para ajudar na renda, tanto em casa para me ajudar nos meus próprios estudos, xerox, materiais. Então, eu achava muito difícil a questão de ser professora, quando eu era criança eu dizia a todo mundo que ia ser professora. Depois que eu fui crescendo, convivendo com outros professores que às vezes estavam muito desmotivados com a classe, desmotivados com a questão financeira, eles me influenciavam a não ser mais professora, diziam que fosse qualquer coisa na vida, menos professora. Alguns professores eu encontrava assim com essa situação, mas outros professores eu encontrava e diziam a mim “Não, é verdade que a classe dos professores não tem um salário tão satisfatório como gostaria de receber, mas se você focar no objetivo maior que é de ensinar essas crianças e fazer com que elas voem outros vôos e elas cheguem a lugares que elas nunca imaginaram a chegar, então é importante ser professor”. Então quando eu terminei o Ensino Médio, eu procurei emprego no comércio, não encontrei, precisava muito trabalhar, questão financeira, mas então a porta aberta estava para a escola normal, minha mãe foi a pessoa que me ajudou muito, porque ela junto com a minha professora da alfabetização que eram amigas, sempre me influenciavam a querer ser professora. Então as duas conversaram comigo e disseram que eu deveria me inscrever e fazer a matrícula lá na escola normal, aqui de Campina Grande, a escola que ensina os professores a se tornarem polivalentes. Então eu fui, me inscrevi, passei no primeiro ano, fiquei entusiasmada em querer ser professora. Logo no primeiro ano eu tive um período de estágio como professora e decidi então continuar.
P/1 – E como é que foi a escolha do estágio, como é que foi o seu primeiro contato com o grupo de crianças?
R – No primeiro contato foi um estágio com 42 crianças numa escola estadual. A princípio eu fiquei assustada, mas como a escola Normal, realmente, naquela época para mim ela foi muito importante, ela nos preparava pedagogicamente, nos ensinava estratégias de ensino, a metodologia, os objetivos, os conteúdos, como ter a interação entre professor e aluno em sala de aula, então eu conseguia interagir com a turma de forma harmoniosa e conseguia conciliar essa minha inexperiência com esse novo desafio e o que eu estava aprendendo na escola. Então no segundo ano eu entrei num cursinho, fui fazer um cursinho público para entrar na universidade, fiz vestibular para Pedagogia, passei e então passei a fazer universidade de Pedagogia na UEPB e à tarde eu fazia escola Normal.
P/1 – E aí isso foi durante um tempo, porque o curso na escola Normal foi...
R – O curso na escola Normal tem uma duração, na época em que eu entrei, ele tinha uma duração de quatro anos, então no segundo ano eu entrei na universidade, em Pedagogia, na UEPB. Então eu cursava de manhã e na escola Normal eu cursava à tarde. Quando eu terminei a escola Normal, eu ainda fiquei mais um ano de universidade, foi aí que houve concurso na prefeitura de Campina Grande, eu estudei o que era necessário para o concurso e na minha fé, acredito que o senhor Deus me abençoou grandemente, eu passei no primeiro concurso e sobrou vagas, então com cinco, seis meses ele fez outro concurso de novo e eu fiz novamente e passei. Então no primeiro eu fui chamada logo e no segundo eu fiquei na lista de espera, com um ano eu fui chamada. Então eu sou bem recente no município, eu só tenho três anos e meio como professora, minha matricula, minha portaria é aqui nessa escola, vim ensinar aqui pela manhã a crianças do primeiro ciclo final, que nós aqui no município trabalhamos com ciclo, a segunda série, e a tarde eu fazia parte de um programa também do município chamado (PAPI?), que era um programa de aceleração de aprendizagem das crianças. E que no turno da tarde em outra escola municipal de Campina Grande eu atendia crianças que tinham dificuldades de aprendizagem. No ano seguinte eu fui chamada para a minha segunda matrícula aqui no concurso, passei a trabalhar nessa escola manhã e tarde, no primeiro semestre, segunda série manhã e segunda série tarde, que é o primeiro final, manhã e primeiro final tarde. Só que em junho aqui na escola a coordenadora especial aqui de Campina Grande, (Yara?) de Moraes Gomes, ela veio informar nossa escola que o MEC (Ministério da Educação) estava nos enviando uma sala multifuncional. É uma sala especial que atende crianças com deficiência, transtorno globais de aprendizagem, deficiência física, deficiência visual, deficiência intelectual, surdez, então como eu tinha um histórico tanto de ter sido bolsista de PIBIC (Programa de Iniciação a Docência), como ter feito minha graduação na área de educação especial, então eu fui convidada a estar nessa sala de aula. Então eu comecei a ficar no ano seguinte na terceira série, segundo ciclo inicial, num horário e na sala do AEE (Atendimento Educacional Especializado) multifuncional a tarde. Foi nesse período que o Instituto Camargo Corrêa e a empresa Alpargatas estavam desenvolvendo já há um bom tempo o programa Escola Ideal e começaram a desenvolver essa inovação da leitura prazerosa, que é o Pró Biblioteca, projeto Ler, prazer e Saber. Então nessa escola eu me ofereci para ser uma multiplicadora desse projeto e estou aqui como tal.
P/1 – Como é que foi a primeira vez que você ouviu falar desse projeto do Pró Biblioteca? Você se lembra como é que foi?
R – A gestora da nossa escola, Socorro Normando, ela foi informada de que teria esse projeto na escola em que todas as escolas de Campina Grande estariam sendo contempladas, e que de início seria uma média, acredito, que de 35 escolas, não tenho bem certeza disso. E que ela deveria escolher uma pessoa aqui da escola que tivesse essas características de gostar de contação de história, de gostar de trabalhar com as crianças a importância da leitura, para ser a multiplicadora da escola para todos os professores e os alunos. Então um fato que deve ter chamado a atenção dela para ela me convidar para ser a representante da escola é porque quando eu cheguei aqui na escola ela também tinha acabado de chegar como gestora. Ela tanto era recente na escola como eu, então essa escola não tinha sala de leitura ainda. Então havia uma sala bem pequena, apertadinha, atrás da sala dos professores que tava lá vazia, então eu pedi a ela permissão e montei ali a biblioteca da escola, fizemos uma salinha de leitura com cadeiras, com os livros, com tapete e não cabia as crianças. Nossas crianças são em média, nossa classe de 35 á 40 crianças, então ou entrava dez e ficava 20 fora, ou entravam as 35 e ficavam todas apertadas no tapete para poder ouvir a história. Então algumas professoras preferiram pegar os livros e lerem para as crianças, porque lá era muito apertado. Mas eu tinha tanta vontade, tanto desejo de ter uma sala de leitura na escola que eu espremia todas as 32 crianças lá no tapete, outras nas cadeiras e lá nós contávamos e líamos história. Então assim para mim como marco foi essa salinha, essa salinha de leitura que eu organizei, que cataloguei os livros, que etiquetei foi um marco que fez com que a gestora me convidasse para ser multiplicadora do Pró Biblioteca.
P/1 – E o que te motivou a montar essa salinha de leitura?
R – Porque eu queria que os meus alunos não tivessem a carência que eu tive quando criança. Quando criança eu não tinha sala de leitura e não lembro de minha professora me levar a salas de leitura. Então eu queria que minhas crianças agora, já que eu tenho esse acesso a livros, o MEC tem contribuído com isso enviando muitos livros para escola, o Instituto Camargo Corrêa e Alpargatas nos doaram 200 livros pela primeira vez, né, que veio no baú, no carrinho itinerante chamado. E com a nossa premiação, que nós fomos uma das escolas, foram duas empatadas, no prêmio ano passado de ações de leitura. Então nós ganhamos como prêmio também mais 200 livros para escola através desse programa, então nosso acervo só tem se multiplicado.
P/1 – Como é que foi para você, o que você sentiu ao ser chamada para ser uma multiplicadora? Qual que é o papel de uma multiplicadora?
R – Ao ser convidada para ser multiplicadora eu fiquei entusiasmada e muito feliz com a possibilidade de aprender novos conhecimentos que pudessem possibilitar uma nova visão sobre a leitura. Então quando chegamos na Alpargatas, na sede da Alpargatas, onde estavam ocorrendo as formações, minha formadora era a Cris. Ela era excelente nas formações, ela nos encantava com as suas histórias, eu me sentia uma criança ouvindo histórias, foi como se aquilo que eu não tive na infância ela tivesse me resgatado enquanto adulta. Ela nos sentava no tapete e pedíamos para levarmos almofada, colocava bombons em cima dos livros, às vezes, ela se vestia de cigana, às vezes, ela se vestia de outros personagens para fazer um aquecimento na roda de leitura e para nos contar histórias. Havia rodas de empréstimos e que nós levávamos um livro que a gente tinha gostado da história e nós trocávamos entre os outros companheiros da formação. Também havia Amigo Livro em que havia um momento a cada término de período de formação em que nos presenteávamos com livros, um para com os outros, era muito interessante.
P/1 – E qual que é a importância de ser multiplicadora?
R – É muito importante ser multiplicadora porque muitas vezes a criança tem até vontade de ler, mas ela não sabe por onde começar. Ela não sabe se começa pela primeira página, se começa pelo título, se aprecia a espessura ou o tamanho ou as formas daquele livro. Ela não sabe se deve começar e terminar aquela história com entonação, não sabe muitas vezes como recontar aquela história ou como aprofundar-se na própria imaginação, se adentrar, se sentir personagem. Se for a história de um navio se sentir dentro daquele navio, as ondas batendo, o ar passando pelos seus cabelos, o vento gostoso. Então para a criança se descobrir nessa contação de história, nesse encanto da leitura, muitas vezes é necessário que o professor medie essa ação, mas para que o professor medie essa ação ele precisa ser encantado. Então como um professor pode encantar uma criança se ele não foi encantado? Então um multiplicador ele vai ter essa ação primeira de encantar os professores da escola. Minha ação primeira nessa escola foi de encantar e ler para os professores, foi de fazer rodas de leituras e de ouvir as histórias. Desenvolvemos uma metodologia na hora do intervalo em que os professores escolhiam os livros que queriam ler, e no dia seguinte eles liam para os colegas na hora intervalo. Desenvolvemos também outra metodologia, em que as crianças liam para os professores e para as classes. Existe um momento da acolhida que nós recebemos as crianças na escola, cantamos músicas, fazemos a oração da tarde ou da manhã e também nesse momento envolvemos a leitura: líamos e continuamente temos lido, tanto os professores têm, como as crianças também. Duas professoras da escola se destacaram grandemente nisso, (Mele?) e Dioneide, elas passaram tanto a se desenvolver na leitura, no hábito prazeroso de ler, na contação de história, que esses livros de gênero de cordel, né, que muitas pessoas aqui na área do sertão são repentistas, contam histórias assim rimadas e elas fizeram um duelo de um livro que nós recebemos. Foi o duelo de Dandão e Dedé, e elas recontaram essa história bem caracterizadas para as crianças. Então assim, houve várias situações na escola que despertaram nas crianças essas ações. Existem momentos de rodas de leitura na escola que toda a escola para, em todos os espaços livres da escola nós fazemos roda de leitura. Nós (titulamos?) que o título é “Lendo para quem lê”, porque até as crianças da educação infantil, do pré um e pré dois, por mais que elas não decodifiquem a letra, a palavra, elas sabem contar a história por meio da imagem, da ilustração. Então elas lêem, por isso que o título é “Lendo para quem lê”. Então as turmas maiores lêem para as turmas menores, em alguns momentos de ações de leituras que nós temos aqui no pátio em que as crianças sentam ao ar livre, debaixo das árvores, na praça da escola, em tapetes, em várias situações nós promovemos leituras aqui na escola.
P/1 – Débora conta para gente como é que foi todo esse processo de formação? Porque é importante manter o professor capacitado, informado?
R – A leitura ela promove novos saberes, novos conhecimentos, desperta novas curiosidades. Então, à medida que as crianças tiverem o hábito de ler, não só os livros paradidáticos, com os conteúdos curriculares pré escritos para que as crianças aprendam dentro daquele ano, dentro daquele período de tempo aqueles conteúdos estabelecidos, mas se elas tiverem o hábito de ler livros literários, contos, histórias em quadrinhos, poemas, lendas, contos de ficção, contos de assombração, contos de aventura. Então o campo de entendimento, de desenvolvimento também mental da criança, ele vai sendo aprofundado, a bagagem que elas terão de conhecimento, de fazer interferência sobre a vida, sobre situações do cotidiano, vão ser ampliados, porque os livros, eles trazem várias situações, vários questionamentos, várias histórias que fazem parte da nossa própria vida, quem não gostaria de ser Cinderela? Quem não gostaria de casar-se com um príncipe em que ele dê a ela uma nova história? Quem não gostaria de ser dos três porquinhos, aquele que fez a casa mais forte e que o lobo veio soprou, soprou, mas não conseguiu derrubar? Quem não gostaria de ser chapeuzinho vermelho que depois de tanto sofrimento, o lobo querendo devorá-la, ela conseguiu ficar feliz no final com a sua avó? Então são vários personagens, várias histórias que perpassam a mente das crianças que fazem parte da nossa história. Outro dia eu estava lendo a história da bonequinha que perdeu a sua dona: era uma boneca de pano, muito linda e ela procurava a sua dona, porque a sua dona era uma criança. Elas foram para a praia, e por algum momento de descuido da dona o mar levou ela, e a bonequinha de pano todos os anos, que a maré baixava ela vinha procurar na beira da praia a sua dona, e uma grande tartaruga, gigantesca, ajudava ela, pedia para ela pular em cima dela e então ela voava naquelas ondas do mar para procurar a dona. Os anos foram passando, ela foi envelhecendo, foi perdendo a cor, perdeu um olho, a roupa foi se rasgando e os anos foram passando e ela não conseguia encontrar a dona. E ela ficava triste porque ela dizia que era a única amiga que ela tinha, e todos os anos a tartaruga tão fiel levava ela para a beira da praia. Chegou um certo dia que ela se cansou e disse “não procurarei mais minha dona, ela não lembra mais de mim”, e a tartaruga calada, cabisbaixa só olhava para ela, e ela então entendeu “por quê procurar outra dona, outra amiga quando eu já tenho amiga?”, então ela abraçou a tartaruga e felizes foram nadar no mar. Então essas histórias elas retratam a nossa vida, quantas vezes não somos rejeitadas por pessoas? Quantas vezes por algum motivo alguma pessoa não nos vê mais com aquele brilho que elas acham que a gente não tem mais? Porque a gente não tem mais para oferecer aquelas pessoas o que antes oferecíamos? Então essa leitura parazerosa que faz com que as professoras e os professores instiguem nos alunos um novo saber fazer, uma nova aprendizagem, um novo encanto, uma nova descoberta, desperta outras possibilidades de conhecimento, desperta outros ares que elas nunca puderam ter imaginado, desperta também outros lugares que elas gostariam de ir e fisicamente talvez nunca irão, mas através da leitura elas descobrirão aqueles lugares.
P/1 – Certo. Você se lembra do que você... você falou das formações com a Cris que você se sentia voltando no tempo, por que as formações foram importantes para você? Como que elas te ajudaram na sua prática ou na sua função de multiplicadora?
R – A principal característica das formações da formadora Cris não era a teoria, ela trazia a teoria, ela trazia todo o material preparado para nos entregar, líamos o material, discutíamos as apostilas, mas a principal, que me chamou a atenção, era a prática. Cris não só nos ensinava a fazer rodas de leitura, ela lia para nós, ela fazia com que nós fizéssemos rodas de leitura uns para os outros. Formávamos grupos, fazíamos rodas de leitura com determinado tema abordado sobre qualquer questão, e então nós contávamos histórias uns para os outros, ela também fazia com que nós relembrássemos o nosso passado. Havia rodas de leitura que ela pedia para gente trazer para o momento da leitura objetos especiais da infância que nos lembrasse em algum momento especial, havia momentos de rodas de leitura que ela pedia para que a gente trouxesse cartas, bilhetes, poemas, textos, histórias que tivessem feito parte da nossa história enquanto infância para podermos desenvolver o trabalho.
P/1 – Por que para você foi importante essa formação? Por que é importante do professor se capacitar e aprender coisas novas? Se isso mudou alguma coisa na sua prática na sala de aula.
R – Essa formação foi muito importante tanto para mim quanto para a escola, acredito que os professores já desenvolviam muito bem ações de leitura, mas por meio desse programa e desse projeto Ler, prazer e Saber, tanto eu quanto as professoras da nossa escola passaram a ter novas estratégias, um novo olhar mais especial para essa área da leitura, nós nos presenteamos com livros, presenteamos à todas com livros para que nós tivéssemos continuamente esse hábito de leitura parazerosa, nossos alunos têm lido, nós temos uma programação para o ano inteiro de ações de leitura. No mês de junho nós estaremos lendo no pátio com as crianças, leituras voltadas para temas juninos. Haverá uma grande roda de leitura na escola no mês de junho que estaremos contando leitura de cordéis, perguntas, várias questões que envolva tema junino. No mês de julho nós estaremos fazendo uma semana de leitura na escola em que as professoras estarão também lendo para as crianças, as crianças estarão lendo para as professoras e o nosso maior objetivo no mês de julho é que as crianças elas tenham cantinho da leitura em casa. O ano passado através desse projeto, eu desenvolvi o projeto Sapataria da Leitura para que todas as crianças tivessem o cantinho da leitura em casa, para que eles fossem alunos letrados e eles tivessem acesso à leitura. Então eu pedi que cada um trouxesse uma caixinha de leitura, uma caixinha de sapato, conversamos muito na sala como seria o título dessa caixinha de sapato e ficou assim Sapataria da Leitura: meus primeiros passos como leitor.Então uma caixinha que a gente cobriu ela com papel de presente, fizemos uma faixa para cada caixinha, eu sou um leitor, este é o meu cantinho da leitura. Então toda a minha turma montou na sua casa um cantinho especial para leitura. Passamos a fazer trocas de empréstimos de livros, fizemos banquinhos de garrafa pet para que as crianças em qualquer ambiente da escola pudessem ler livremente suas histórias e alguns dos depoimentos muito interessantes que eu tive é porque o meu foco principal foi as crianças terem acesso a leitura e ampliou-se isso. As crianças começaram a me contar que quando chegavam em casa seus pais estavam sentados no chão com a caixinha da leitura no colo e rindo sozinho lendo os livros. Então eu percebi que o que começamos com uma criança em especial começou a interagir com toda a família. Então esse ano nós queremos no mês de julho que todas as crianças da escola tenham a Sapataria da Leitura nas suas casas. Outra questão também que nós estamos desenvolvendo, é porque minha irmã faz Serviço Social, e eu tenho essa facilidade de sair puxando toda a família para as questões de leitura. Como minha mãe agora é contadora de história, então a minha irmã está num programa com o professor dela de serviço social junto com outras alunas que é uma acessibilização... é uma socialização das (apenadas?) daqui de Campina Grande, né, das presidiárias aqui de Campina Grande, é um projeto muito bem elaborado que ele está realizando com as alunas e os alunos dele. E eu me dispus para que escola também pudesse contribuir nesse projeto dele, então eu vou a cada 15 dias ler histórias para as presidiárias de Campina Grande e levar histórias para elas ouvirem e construir uma coletânea de histórias delas mesmas de quando elas eram crianças, quais histórias elas gostavam de ouvir. Outro projeto que estamos desenvolvendo aqui na escola é que até o mês de outubro que é 15 de outubro, data do aniversário dos professores, mês dos professores, né, data comemorativa do dias dos professores, nós vamos fazer uma coletânea de histórias dos professores, dos funcionários da escola para que eles contem nessa coletânea que histórias eles gostavam de ouvir quando crianças. E eles vão contar com as próprias palavras para que seja um novo acervo aqui na biblioteca, na sala de leitura para as crianças possam ter contato, que seus professores também quando criança eles liam histórias.
(troca de fita)
(continuação da entrevista)
P/1 – Então Débora, voltando, queria que você falasse quais foram as primeiras atividades do programa aqui na escola? Então vocês passaram pela formação e aí o que foi feito? Quais eram as suas atividades?
R – A medida que recebíamos a formação lá na Alpargatas vários professores, alguns funcionários da equipe técnica, a coordenadora geral, Socorro Arruda, então a medida que a gente recebia essas informações nós, multiplicadores, voltávamos para as escolas e iniciávamos as formações. Então ao longo dos seis meses de 2009, de junho a dezembro, 2010 durante o ano inteiro e esse ano, 2011, nós temos continuamente feito formações com os professores. Nós entregamos o mesmo material que temos recebido na Alpargatas, da professora Cris, desse projeto. Nós trabalhamos aqui em sala, nessa sala de leitura fazemos as formações, cada professor dessa escola ele tem um portfólio onde ele vai armazenando todo o material que ele vai recebendo, ele conta histórias, ele tem acesso a pegar os livros emprestados, as crianças também pegam livros emprestados e assim nós vamos desenvolvendo o projeto. Nós temos várias ações pontuadas até dezembro deste ano.
P/1 – É e algumas delas você já contou que era a partir da festa junina, do tema junino, depois do dia dos professores?
R – Isso, no mês de novembro nós teremos o dia ‘D’ da leitura, o ano passado nós tivemos o dia ‘D’ da leitura em que todos os professores se uniram e fizeram uma peça para as crianças do livro a ‘Bela Borboleta’. Então foi muito interessante ver as crianças perceberem que os próprios professores também se encantam com a leitura, com o despertar da leitura.
P/1 – E como é que foi a chegada da primeira parte do Pró Biblioteca, dessa biblioteca itinerante, qual que foi o impacto dessa chegada?
R – Quando a biblioteca itinerante chegou em nossa escola no período de 2009, novembro a dezembro de 2009, nós começamos a formação em junho, mas como era uma quantidade muito grande de carrinhos para serem confeccionados, de livros para serem separados então ela chegou entre novembro e dezembro. Então nós fizemos uma grande festa na escola. Eu me vesti de jornal, porque um dos projetos também é o jornal da escola, né, que faz parte deste programa maior Escola Ideal. Então nós temos o jornal na escola, o jornal moto noticia, e eu me vesti de jornal, toda vestida com o jornal, fiz um vestido e fui o jornal a ser entrevistado e a professora (Caliandra?) ela foi a jornalista. Então nós preparamos um estúdio para que as crianças vissem a peça e ela me fez perguntas sobre a importância da chegada do jornal na escola e a importância do carrinho itinerante, do pró biblioteca na escola. Mostramos a todas as crianças o carrinho, o acervo dos livros, fizemos várias rodas de leitura durante a semana, ele circulava por todas as salas, por causa das rodinhas, que o objetivo dele maior era ser essa flexibilidade, por ele chamar de carrinho itinerante. E as crianças ficavam fascinadas e maravilhadas com todas essas ações de leitura na escola.
P/1 – E como é que funcionam esses dois programas, projetos? Como é que eles casam, a importância do jornal com a leitura, com a biblioteca? Qual que é a importância disso para escola?
R – A escrita da criança perpassa por vários períodos de aprendizagem, né? A escrita dela, ela não está pronta à partir do momento que ela sabe ler, mas ela vai conhecendo a gramática, a ortografia, ela vai compreendendo o que é coerência, o que é coesão em um texto. Então são várias etapas que a criança
vai vencendo nesse desafio de escrever aquilo que ela lê. Então o jornal ele é um grande instrumento tanto para a escrita, porque as crianças vão ser os próprios autores, né, dos textos ali trabalhados na sala de aula, dos textos publicados. Ele vai entender... As crianças daqui da escola entendem a importância da publicação, a importância do editorial do texto, a seleção dos textos, a edição do jornal, então é perfeito o casamento entre o jornal moto notícias e o Pró Biblioteca através do carrinho itinerante, por quê? Os dois pontos centrais da leitura, os dois pontos centrais da Língua Portuguesa da criança estão sendo ali fortemente trabalhados, a escrita, por meio do jornal, e a leitura, ao ler os textos dos colegas e ao ler os próprios textos encontrados. Então é perfeito também esse instrumento que é o jornal na escola. A qualidade da escrita das crianças melhorou, a forma delas se expressarem, a leitura das crianças, então foram dois instrumentos aqui dentro da escola que possibilitaram uma maior aprendizagem das crianças.
P/1 – Ainda assim focado no Pró Biblioteca, nessas ações focadas na leitura, Ler, prazer e Saber, o que isso trouxe para criança? Você percebe alguma diferença no aprendizado, no comportamento, na relação dela com a escola?
R – As crianças a princípio quando a gente organizou essa sala de leitura elas não tinham muita curiosidade para ler livros, elas ficavam inquietas, elas conversavam muito, elas ficavam se mexendo com os livros. Então a medida que fomos fazendo rodas de leitura, que fomos mostrando o repertório do acervo da escola, a diferenciação de livros literários para as crianças, então cada aluno começou a se desenvolver na leitura, começou a despertar a curiosidade para o início da história, o quê está acontecendo na história? O clímax, a trama, o enredo, onde acontece essa história? O quê os personagens estão fazendo? Quem é o vilão, quem é o protagonista, quem é o antagonista? Quem é o mocinho, quem é o bandido? Então todas essas questões que estão em volta fizeram com que as crianças desenvolvessem a atenção em sala de aula, porque para haver roda de leitura é preciso que as crianças tenham atenção. Ao ouvir aquela história que está sendo contada ou daquela história que está sendo lida ou dramatizada. Então todas essas questões são extremamente importantes para as crianças.
P/1 – E você sabe assim como é que funcionam as parcerias da escola com o Instituto?
R – Eu sei que aqui na escola vários projetos são desenvolvidos por meio dessa parceria com o Instituto Camargo Corrêa, Alpargatas, empresa Alpargatas e Secretaria da Educação de Campina Grande, do nosso município. Nós temos educação por meio do esporte, que é um trabalho em que o professor aqui da escola de educação física faz com as crianças. Nesse programa, todo o material e recursos necessários para as aulas de educação física para as crianças têm sido disponibilizados: dama, xadrez, bolas de vôlei, bola de futsal, as roupas para os meninos específicas para jogar o futebol. O professor está desenvolvendo um novo trabalho aqui na escola que é o aprendizado no xadrez na sala de aula com as crianças. E assim estão sendo desenvolvidos vários projetos.
P/1 – Certo. Você tava me contando das rodas de leitura, das rodas de histórias, do aquecimento, qual é o ritual de se contar história? Como é que a professora ou o contador de história desenvolve essa atividade?
R – Bom, a contação de história da forma que nós fomos impulsionados a aprender prazerosamente durante essas formações ela tem três etapas: aquecimento, o desenvolvimento e o desdobramento. O aquecimento envolve toda aquela atenção em que você vai buscar das crianças, então você faz perguntas sobre um determinado tema. Por exemplo, se você for contar história de ‘Chapeuzinho Vermelho’, você pode trazer a capa vermelha para o aquecimento e perguntar se eles conhecem algum personagem, alguma história que já usou aquela capa, pode trazer uma cesta com frutas e perguntar as crianças se eles conhecem alguma história, né? Ou pode trazer a máscara de um lobo, ou representar rapidamente, ou cantar alguma música que lembre essa história. Durante o desenvolvimento você vai contando a história, você não pode esquecer o ritmo, a entonação, você tem que fazer com que a criança sinta que aquela história está acontecendo ali ao vivo, entre você e a criança e a história. Então você conta com a entonação, com entusiasmo, você respira fundo, suspira, chora, se alegra junto com a criança e a história. Ela penetra de tal forma dentro de você que você começa a se sentir dentro da história, vivenciando aquele imaginário. Então a criança ela passa também a fazer parte daquela história. E o desdobramento é quando você vai conversar com a criança, o que ela achou, quem foram os personagens, qual parte que ela achou mais interessante, se ela conhece outra versão daquela história, que nova versão ela daria. Então a criança ela aprende de forma cronológica e linear o espaço de tempo que ela entende, o aquecimento, ó, vai vir uma história, então é a hora de ouvir, qual será? Com o aquecimento eu vou ver se o que a professora está falando eu descubro que história que é essa. Então ao longo do desenvolvimento ela entende, escuta e no desdobramento ela pode se expressar, contar o que ela gostou, o que foi significativo para ela.
P/1 – Certo. E você falou assim que logo assim que chegou na escola você fez todo um esforço para montar a primeira salinha de leitura, que ela era pequenininha, que mal cabiam os alunos, e agora a gente está aqui conversando nessa sala grande, espaçosa, cheia de livros. Como é que foi a passagem daquela primeira salinha que você fez para essa daqui? Como é que essa sala chegou a ter o nome que ela tem hoje? Queria que você contasse um pouquinho sobre isso.
R – Bom, aqui na escola o trabalho que é feito nessa escola ele é muito interligado, eu comparo a um quebra cabeça: em que todas as partes elas estão unidas com o objetivo de apresentar uma imagem e cada parte sentir sua peça importante, fundamental. Então aqui nós temos as gestoras da escola, Socorro Normando e Nivonete, temos a equipe técnica da escola, que faz a articulação de vários projetos aqui na escola, principalmente o SGI (Sistema de Gestão Integrado), pela supervisora da escola. Nós temos esse trabalho integrado, então essa sala aqui de aula,hoje que é a sala de leitura, ela era uma sala que não estava sendo oferecida nessa escola, por quê? Essa escola ela está cedida, essa estrutura física está cedida ao município de Campina Grande, então essa escola pertence ao SESI (Serviço Social da Indústria), que ao sair dessa escola deixou todas as salas disponíveis para haver aulas. E essa sala era a direção, a administração do SESI, então ela permanecia fechada, com todo o equipamento. Enquanto isso, nessa salinha pequena aqui eu consegui, disponibilizamos um cantinho da leitura para as crianças e para os professores terem acesso ao acervo de livros da escola. Quando eles saíram, quando o pessoal do SESI tirou todo o material que eles tinham dessa sala e ela ficou livre para ser usada, nós conversamos com a gestora da escola acerca da possibilidade de se tornar sala de leitura. Como a escola já estava com uma aceitação excelente acerca de ações de leitura e todos os professores da escola estavam trabalhando com esse bem comum da leitura, então ela viabilizou com grande alegria esse espaço e ela já estava com essa pretensão mesmo de desenvolver leituras aqui. As ações de leitura que têm sido desenvolvidas na escola tem trazido grandes riquezas a essa escola, né, como eu já falei anteriormente eu sou professora da sala de educação especial de crianças aqui nessa escola, junto com a professora (Caleandra?). Então ao observar e ver o acervo de vários livros que nós tínhamos na escola, nós percebemos que as crianças da sala de leitura, desculpe, as crianças da minha sala de aula de atendimento educacional especializado, elas poderiam escrever histórias das suas próprias limitações, das suas próprias possibilidades e potencialidades. Então nós construímos junto com as crianças, eu no turno da tarde, e a professora (Caleandra?) no turno da manhã, nós produzimos dois livros, que a Secretaria da Educação de Campina Grande viabilizou 800 exemplares dos dois, então o meu livro é ‘Artur faz a diferença na escola’, e o da professora (Caleandra?) é ‘Aprendendo libras com Aline’. Foi uma construção coletiva os dois livros, as nossas crianças que são atendidas nessa sala, porque nós temos na escola uma criança surda que tem os seus embates da linguagem, tem os seus embates da questão de vencer esse desafio do não ouvir como nós ouvimos, mas de ter o instrumento da libras como a sua primeira língua de comunicação. E nós temos, também, a outra criança na cadeira de rodas, que ela precisava também desse acesso na escola, tanto o acesso arquitetônico, né, como o acesso social. Então essa construção de livros foi junto com eles, diariamente, construindo a história, eles que fizeram as ilustrações dos livros. E eles ficaram maravilhados com essa oportunidade. Então foram mais dois exemplares, né, que adentraram na sala de leitura para servir como acervo disponibilizado às crianças para desenvolver a leitura.
P/1 – E como é que foi essa construção coletiva? Como é que surgiu a idéia de fazer um livro desses?
R – A idéia partiu da seguinte questão, nós atendemos essas crianças na sala no horário oposto da aula delas, né, para desenvolver as potencialidades de cada um, a pintura, a música, a linguagem, as ações que precisam ser desenvolvidas em relação ao seu desenvolvimento psicomotor. Então o que aconteceu? Ao eu receber as formações lá na Alpargatas então a gente passa a pensar muito sobre leitura, passa a pensar muito sobre ações de leitura, então essas formações na Alpargatas contribuíram significativamente para que eu e a professora (Caleandra?) resolvêssemos desenvolver esse trabalho com as crianças acerca da construção dos livros literários.
P/1 – E qual que foi o desafio de se montar esse livro?
R – O maior desafio foram os recursos, né, estamos falando de escola pública, de realidade educacional, então como construir esses livros, partindo do que? Então com o próprio material pedagógico que a escola dispunha nós construímos esses livros, com as crianças, em papel, com pinturas, com desenhos, nós fizemos oficinas de desenhos, oficinas de rodas de leitura em que contamos várias histórias para as crianças, elas recontaram várias histórias. Em seguida fizemos a construção desse livro, né, de forma manual, bem artesanal e apresentamos a Secretaria da Educação de Campina Grande. A coordenadora da educação especial de Campina Grande, né, a coordenadora Yára Gomes de Moraes ela resolveu falar com o secretário da educação para viabilização dessa publicação de livros. Então ele permitiu a viabilização, publicamos, fizemos uma exposição desta publicação no dia ‘D’ da leitura do ano passado junto com os alunos e foi muito significante.
P/1 – E o que você sentiu quando você viu esse livro impresso, pronto e pôde compartilhar com a turma? Qual que foi a sensação que deu?
R - Nós ficamos muito felizes, tanto eu quanto a professora (Caleandra?), de saber que o nosso trabalho e o trabalho das crianças foi reconhecido e não só reconhecido, mas que outras pessoas puderam ter acesso para utilizá-lo como instrumento de leitura, porque foi entregue um exemplar para cada escola de Campina Grande que tivesse a sala multifuncional.
P/1 – Você falou que a escola recebeu um prêmio por conta das ações de leitura, que prêmio foi esse?
R – O ano passado foi criado pelo Instituto Camargo Corrêa e Alpargatas uma maneira de estimular e incentivar as práticas de leitura nas escolas. Então, nessas escolas no município de Campina Grande e nas imediações nos outros municípios circunvizinhos, os professores que desenvolvem hábitos de leitura, de ações de leitura com as crianças, seriam contemplados com notebook, certo? Através do seu relato de experiência e as escolas que tivessem ações de leituras comprovadas, através de um portfólio que fizessem, estariam concorrendo a 200 livros para o acervo da biblioteca da escola. Então nesse sentido a nossa escola desenvolveu várias ações de leitura, que nós já fotografávamos, registrávamos, colocávamos no computador, porque o nosso portfólio foi em mídia, em CD (do inglês, compact disc). Então foi muito interessante, teve o depoimento dos pais das crianças, dos professores, a filmagem de peças, dramatizações, de rodas de leitura, então nós fomos contempladas e ficamos muito felizes.
P/1 – Essa sala diretora que a gente esta foi dada a ela com o seu nome, como é que foi isso pro SESI, o que você sentiu ao receber essa homenagem?
R – Para mim foi uma surpresa, sabe por quê? Porque essa sala de leitura ela foi pensada e preparada justamente no período das ações de leitura que a escola estava desenvolvendo, então assim, ela não tinha um nome na sala de leitura, né? Então através dessas ações que nós desenvolvemos na escola, eu como multiplicadora, então os professores junto com a equipe técnica, a gestora geral, e a gestora adjunta da escola pensaram em me homenagear com o meu próprio nome, então a sala de leitura ficou Sala de leitura Professora Luzia Débora, pelo meu histórico de vida, das questões de leitura que eu sempre quis ter, o acesso negado a história na infância, a importância de que eu me dedico a questão da leitura na escola, as rodas de leitura com os professores, com as crianças. Fizeram um banner em que conta a minha história de vida e colocaram na sala de leitura para que as crianças tivessem acesso e lessem. Eu fiquei muito maravilhada, eu fiquei muito feliz, eu me senti assim, não só reconhecida e valorizada, porque todos os professores aqui da escola eles mereciam esse mesmo reconhecimento e essa mesma valorização que eu tive, mas eu me senti privilegiada, mais do que reconhecida, eu me senti privilegiada. Porque são poucas as pessoas que têm a oportunidade de serem homenageadas em vida, saber que o seu nome foi colocado num determinado setor em homenagem ao trabalho que você desenvolvia.
P/1 – Luzia queria saber também, essa escola desenvolve vários projetos do Programa Escola Ideal, e um deles é o Sistema de Gestão Integrada e aí você falou também que sente a participação do trabalho na escola como um quebra cabeça. Eu queria saber o que esse programa, esse projeto, trouxe para escola de diferente, como é que isso muda a sua prática em sala de aula? Como isso pode somar as capacitações do próprio ________, das capacitações de ações de leitura?
R – Bom, o SGI que está sendo implantado em todas as salas aqui da nossa escola desde o ano passado, é um sistema que ele tem contribuído significativamente, né, de forma proveitosa as nossas salas de aula. A minha sala em especial, né, o segundo ciclo inicial, terceira série, percebemos através dos instrumentos que utilizamos, que o SGI nos oferece, nos disponibiliza, temos o painel de desempenho na sala, o positivo delta, o plano de ação, os portfólios. Então através desses instrumentos nós fazemos um mapeamento de como está o nível de aprendizagem das crianças, então em especial eu gostaria de relatar na área da leitura. Então, ao fazer esse mapeamento, ouvir a leitura de cada aluno da minha sala, nós construímos um gráfico coletivamente com os alunos, para detectar os alunos que liam decodificadamente, com menor fluência e com fluência, para que eles pudessem se encontrar naquele gráfico e saber em que nível eles estavam e em que nível deveria chegar. Então, através do painel do desempenho nós colocamos os gráficos expostos para que eles pudessem observar ali o nível da leitura, né, por meio dos gráficos, quantos por cento de crianças estavam com leitura decodificada, quantos por cento estavam com leitura com menor fluência e quantas estavam com leitura fluente. Em seguida nós fomos para as metas, então no portfólio existe a missão da turma, do aluno e da professora. Então o que é a missão, né? A missão é aquela ação enquanto aluno, enquanto professor que eu vou ter como primeira, como prioridade para desenvolver no ano inteiro para que eu tenha êxito, né, a minha missão. Então em que meta eu estou a cada período, porque as metas elas são modificadas à medida em que nós as atingimos. Então nesses dois primeiros meses, nesse primeiro bimestre, nossa meta da leitura, nós colocamos como meta prioritária que as crianças lessem fluentemente, a meta do ciclo. Mas cada criança ainda tem a sua própria meta individualizada as estratégias de como alcançá-la. No positivo delta nós avaliamos constantemente todas as ações que acontecem na sala de aula, uma atividade que foi desenvolvida com eles, fizemos uma gincana de leitura das mães. Vários temas vinculados à leitura nós fizemos para homenagear o dia das mães, então foram as mães junto com os alunos. Retratamos histórias das leituras que elas gostavam na infância, mães leram para nós, então foi uma gincana bem legal. Então fizemos o positivo delta, colocamos o que estava excelente, foi muito bom na gincana e no delta, nele nós colocamos o que deveria ser melhorado, o que nós poderíamos melhorar. No quadro de plano de ação que vem a seguir é aquilo que precisa ser melhorado do delta, então o que precisamos melhorar, quem, como e quando vai melhorar. Então, todas essas ações ajudam as crianças a refletir como elas estão, em que nível elas querem chegar e qual ainda se existem outros níveis para alcançarem. Então é muito importante esses recursos, esses instrumentos porque faz com que nós sejamos agentes do processo. As crianças a todo momento estão em construção no seu próprio processo de aprendizagem. Quando elas estão olhando a missão delas, quando estão revendo a meta de aprendizagem, quando estão revendo o que atingiram, o que precisam atingir. E no portfólio ficam os gráficos, as atividades que têm sido avaliadas e o que elas têm alcançado e atingido dentro daquela meta.
P/1 – E o que a inclusão dessas ferramentas na sua prática em sala de aula o que isso mudou?
R – Em relação à minha prática de sala de aula eu comecei a refletir e a pensar melhor sobre minha própria prática, o que precisa sempre ser melhorado, o quê que eu preciso pontuar melhor, o quê que eu preciso focar. Então em relação à leitura, nós fazemos caixas com vários textos para que tivéssemos mais acesso às crianças a leitura, já que a nossa meta de leitura foi aprendizagem de uma leitura fluente, com entonação e com interpretação textual. Então nós escolhemos o gênero fábula, colocamos uma caixa em cima da minha mesa com várias fábulas e as crianças tinham total acesso para ler, e eu estou gravando a leitura de cada um e nós vamos fazer um CD de fábulas lidas pelas crianças. Para que eles possam compreender o nível de leitura que eles estavam e que nível agora eles atingiram.
P/1 – E Débora, quais são os resultados que você acha que viu desses projetos aqui na escola?
R – Eu percebi que a nossa prática pedagógica dos professores ficou mais sistematizada, né, ela ajudou para trabalharmos em conjunto com todos os professores para que o planejamento pedagógico de toda a escola fosse mais coeso, porque toda a escola precisa trabalhar com fins na publicação do jornal, com fins na leitura parazerosa, nas rodas de leitura com as crianças. Então toda a escola precisa trabalhar utilizando os instrumentos do SGI para que haja mais aprendizagem, para que as crianças possam entender a importância do estudo, por que estudar? Por que aprender? Por que vim a aula? Então todas essas questões, né, que estão envolvidas nesse leque de situações viabilizaram um novo processo de ensino e aprendizagem na escola.
P/1 – Certo. E quais são as suas perspectivas em relação a essa parceria com o Instituto?
R – Eu espero que ele se amplie cada vez mais, que novos programas venham para escola, espero que continuem as formações do Pró Biblioteca, acredito que esse ano haverá novamente a premiação, o ano passado foi a primeira vez, que esse ano haverá novamente a premiação de práticas e leituras. Espero que mais professores em outras escolas possam também se despertar por esse prazer da leitura, por esse despertar do imaginário e espero que todas as escolas do município de Campina Grande elas possam estar se desenvolvendo com a mesma velocidade que nossa escola está se desenvolvendo.
P/1 – E você iniciou assim nessas formações, todos esses momentos de contação de história, alguma história que te marcou? Algum momento que te marcou que você gostaria de contar?
R – Durante as formações do Pró Biblioteca várias histórias foram apresentadas pela coordenadora Cris, aprendemos muitas, mas teve uma que me marcou que foi os ‘Dois turrões’, né, é uma história de um casal idoso que eles são bem turrões e a porta da casa está batendo batendo, ela está fazendo um pudim e ele está sentado com o cachimbo dele na cadeira se balançando e vai dar um vento muito forte, é com ventania, uma chuva muito forte e vai vir, e o barulho fica intenso e fica batendo o tempo todo a porta. E a porta bate, bate, bate mais uma vez e continua batendo e a esposa dele diz assim “marido, tá batendo a porta. José, tá batendo a porta!”, e ele diz “não, você vai fechar a porta” e ele continua a se balançar na cadeira e ela diz “mas está batendo a porta, eu estou ocupada, estou fazendo pudim” e ele diz “não, vai você bater a porta” e fica os dois naquela discussão quem é que vai fechar a porta, e você fica ouvindo o tempo todo a professora contando a história e no final ela disse “se vocês quiserem saber o final da história, leiam a história para descobrir quem realmente vai fechar a porta”. Então essa história foi trabalhada aqui na escola, foi apresentada comigo e com uma aluna da minha sala o ano passado, então foram histórias que eu não conhecia e que através da dramatização, da forma lúdica da leitura parazerosa as crianças estão percebendo que é possível se divertir, se encantar, rir, sorrir com a leitura.
P/1 – E quais são as suas metas enquanto multiplicadora desse programa e da própria da leitura?
R – Bom, se a gente deixar de ter a vivência do imaginário da utopia nós morremos, né, então assim a utopia do imaginário, do que tudo é possível e de que tudo vai ser perfeito e de que tudo vai dar certo é maravilhoso, esse gostinho, esse sabor nos nossos lábios. Então assim no meu imaginário, no meu pensamento eu gostaria que todas as crianças da minha escola elas se desenvolvessem na leitura, tornam-se amantes da leitura, absolutamente todas, 100%. Segundo dados estatísticos nem sempre tudo é 100%: podemos chegar a 90%, 99% mas não 100%. Mas minha principal meta é que todas as crianças da nossa escola elas possam ser atraídas por esse sabor da leitura, elas possam ser atraídas por esse despertar da leitura parazerosa, do imaginário, do encanto. De que elas têm várias possibilidades de pedir vários presentes aos pais, mas elas preferem pedir um livro, ela podem pedir aos pais para passearem em qualquer lugar, mas elas preferem ir à biblioteca, ao museu, à uma banca de gibi para comparar uma revista.
P/1 – Débora como é que você se sente depois de ter participado desse processo de formação, de ter entrado nesse mundo da leitura, de tentar espalhar esse encantamento pelo ler e tal, como é que você se sente depois que a sua mãe também está participando, sua irmã de alguma forma desse projeto?
R – Eu percebo que a leitura ela não só fez parte de um novo saber que foi apreendido por mim, mas que ela agora faz parte da minha vida, né? Então as pessoas que se aproximam, que começam a conversar comigo, na primeira oportunidade eu ofereço livros, minhas amigas que vão lá em casa constantemente, meus amigos, familiares, eu sempre estou emprestando livros. Tenho comprado livros, tenho feito uma biblioteca em casa de livros para que eu possa estar constantemente influenciando as pessoas. Meu esposo fala que é muito engraçada a minha vontade de ler porque às vezes eu começo a ler um livro, não paro, e às vezes quando ele olha tem cinco, seis, sete livros na cabeceira da minha cama, porque eu quero ler tudo ao mesmo tempo, e eu quero conhecer novas coisas ao mesmo tempo, mas aos poucos a gente chega lá.
P/1 – Certo. E agora contando uma parte sua, mais pessoal, para gente encaminhando pro final, você falou que é casada, como é que você conheceu seu marido? Como é que foi esse...
R – Bom, eu sou casada, muito bem casada, meu esposo é filósofo e sou muito feliz. Ele me conta as histórias que ele teve que eu não tive, ele estudou numa escola particular durante toda a infância e lá tinha o hábito de ler livros, ele lia muitos livros, ele é muito culto, ele lê muito bem e ele sempre lê histórias. E ele me conta as histórias que ele lia quando criança e as estratégias de como desenvolver com as crianças na sala de aula, como a professora desenvolvia com ele. Ele fala tanto na professora dele que eu não esqueço que era a professora Vanda, que ela desenvolvia muitas leituras com eles na sala de aula, na quarta série, né? E isso me marcou, então eu o conheci, somos... eu conheci através de uma amiga que me apresentou, falou dele, nós somos evangélicos, somos da mesma igreja, temos uma vida assim bem harmoniosa entre os dois, estamos nos preparando para termos filhos, mas antes de comprar fraldas, mamadeira ou até mesmo de engravidar, eu tenho comprado livros. Eu não posso ver um livro de criança que eu compro para os meus filhos, já tenho comparado, feito a biblioteca deles antes mesmo de comprar o enxoval do bebê. Então nós já somos casados há quatro anos e é isso.
P/1 – Certo. E você sente assim alguma, você falou que seu marido é deficiente e tal, que ele teve paralisia infantil, você sente algum preconceito quando vocês estão juntos, você sente alguma dificuldade em relação a isso?
R – Eu não sinto preconceito por parte das pessoas ao nosso redor, as pessoas que convivemos, os amigos, a vizinhança, as questões que eu vejo que ele mais precisa vencer são as questões arquitetônicas mesmo do próprio sistema. Hoje em dia aqui na cidade de Campina Grande, né, com assinatura de um documento do prefeito nenhum ônibus mais pode ser comparado se ele não for habilitado para pessoas com deficiência, então hoje todos os ônibus que ele sobe são habilitados. Às vezes têm lugares que ele precisa ir que tem muitas escadas, é necessários corrimão, e às vezes não tem, ele anda normal, usa um aparelho na perna para poder se locomover melhor. E são essas as questões que eu percebo assim que ele enfrenta, a locomoção. As ruas às vezes que não são bem estruturadas para que... amplas, para que ele possa se locomover melhor nas calçadas.
P/1 – Débora, como é que está distribuído o seu dia a dia atualmente? Como é que você distribui todas as atividades e atribuições da escola, seus momentos de lazer, como é que é o seu dia ?
R – Bom, eu trabalho oito horas por dia aqui nessa escola, oficialmente, mas nós sempre permanecemos mais tempo na escola, fazendo outras atividades, porque nós somos bem comprometidos, todos os professores aqui da escola, nós somos bem comprometidos com o trabalho aqui. Então eu faço uma especialização à distância da sala multifuncional, práticas da sala multifuncional AEE para crianças com deficiência e terminei esse mês outra especialização que foi praticas educativas, pela Universidade Federal de Campina Grande, a UFCG. A especialização que eu faço a distância é pela Universidade Federal do Ceará, UFC.
(troca da fita)
(continuação da entrevista)
P/1 – Então Débora para gente encerrar, o que você gosta de fazer nos seus momentos de lazer? Quando você tem tempo livre?
R – Bom, quando... nos meus momentos de lazer eu gosto de jantar fora com o meu esposo, gosto de passear, gosto de ir a igreja, né? Na minha fé eu vou muito a igreja, sou instrumentista na igreja, toco louvores, canto ao Senhor. E gosto de passear, gosto de ler livros, histórias, gosto de assistir filme, gosto de viajar, conhecer outros lugares.
P/1 – E Débora você_________________________________ escreveu um livro, como é que foi esse ato de escrever sozinha, sobre o que era a história?
R – Bom, por meio dessas formações e através de levar os livros, contar histórias para as crianças, eu quis construir um livro para que eu pudesse sentir também como escritora. Então eu fiz o livro ‘A bela borboleta olhos de vidro’, é a história de uma borboletinha que quando era uma lagarta ela tinha um problema de visão e ela precisou ir ao oculista com a mãe e ela necessitou usar óculos e ela ficou muito triste porque andava com aqueles óculos pesado. E então chegou o grande dia dela ir para escola, ela começou a estudar e ia com aquele óculos para escola, mas a vontade dela, enorme, era deixar de usar aquele óculos e ela imaginava que quando um dia ela se tornasse uma borboleta, então todos iam ficar maravilhados, porque ela não iria mais usar óculos e ia voar e todos iam ver a beleza dela. Os dias foram passando e lá naquela cidade, bem longe, lá na borboletânea todas as borboletas conversavam, várias lagartas gostavam de estudar e um determinado dia ela sumiu, todos procuraram ela pela boroletânea e não acharam, de jeito nenhum, ficaram impressionados com o sumiço dela. Então quando acharam um casulo, numa árvore bem enorme aí disseram “Ela só pode estar ali”, passaram-se alguns dias e então ela surgiu bela, batendo suas asas, brilhando, cores azuis, vermelhas, amarelas, lilás, por todo o seu corpo. Mas ela estava cabisbaixa, então a mãe chegou para ela e perguntou “porque estás tão triste? Bela borboleta te tornaste” ela disse “Mamãe eu continuo usando óculos, mesmo tendo depois de me tornado uma borboleta”, então a mãe dela disse “Minha filha, nessa nossa vida todos nós temos desafios que precisam ser superados, cada um tem o seu e o seu é viver de óculos”, e então ela entendeu aquela fala da mãe, desde aquele dia se dedicou nos estudos, na leitura, história se encantou, se tornou uma grande escritora e passou então a contar histórias para as pequenas lagartas.
P/1 – Débora sabe o que eu queria te perguntar, se tem um pouquinho de... se a sua inspiração é autobiográfica. Você pensou em você para escrever?
R – No momento que eu escrevi essa história eu pensei nas crianças que têm deficiência, principalmente as que têm baixa visão ou deficiência visual, porque esse meu livro que eu espero algum dia alguma editora querer publicar, ele é todo em alto relevo, né, eu fiz ele em EVA (acetato-vinilo de etileno, do inglês: Ethylene Vinyl Acetate) e você... as asas elas são enormes, o livro ele é bem grande, eu acho que é 40 por 50 centímetros, comprimento e largura, e as asas são enormes. Aí você toca nas asas mesmo com os olhos fechados você consegue entender o livro, você balança as asas e sente as asas balançando, para que as crianças com deficiência visual possam entender o bater das asas da borboleta. Quando você abre o livro ele tem um sequência de bichinhos e ilustrações em alto relevo para que você ou toque ou escute, porque eu gostaria que ele fosse audiovisual, para crianças com baixa visão. Ele tem bastante cores e para as crianças com deficiência visual total ela iria ouvir a história e ela iria tocando na sequência. Então ele tem uma sequência, primeiro você toca e tem uma grande árvore e o Sol, você sente a árvore e o Sol, e você toca e tem a lagartinha pequena, tem os óculos, tem os portões bem grandes que se abrem da escola, você toca e tem a linda borboleta que bate as asas. E tem um livrinho no final que ela se torna contadora de história e ela escreve o livro, e tem as páginas do livro e você sente, então esse foi o principal objetivo.
P/1 – Certo. E assim qual que é o seu sonho hoje, atualmente, seu maior sonho?
R – Meu maior sonho hoje na área de leitura é um dia eu ter uma sala de leitura, uma sala de leitura ou um ambiente de leitura, para que as pessoas pudessem ir a esse local, como se fosse uma biblioteca, um local aconchegante onde tivessem muitas almofadas, onde os pais pudessem deixar os seus filhos por um período de tempo para que eles pudessem ler as histórias.
P/1 – Certo, e pessoal?
R – É pessoal.
P/1 – Está certo. Como é que foi para você sentar e contar a sua história para gente, o que você achou?
R – Eu achei um pouco assustador e desafiador contar a minha própria história para que outras pessoas conhecessem.
P/1 – Mas você gostou?
R – Gostei, foi muito bom.
P/1 – Então está bom Débora, obrigada.
R – Obrigada também.
- - - FIM DA ENTREVISTA - - -
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