P/1 – Antes de tudo, bom dia!
R – Bom dia.
P/1 – Obrigado por ter aceitado nosso convite. Para começar, você poderia falar o seu nome, data e local de nascimento?
R – Eduardo Hatada, 12 de agosto de 1978, eu nasci em São Paulo.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Aparecida Paulina Hatada e Kasumi Hatada.
P/1 – Você poderia contar um pouquinho dos seus pais? Como eles se conheceram, o que eles fazem?
R – Assim, (riso) que eles não são de contar muito. A minha mãe foi adotada, eu sei que a minha mãe foi adotada e ela se apaixonou muito por meu pai. Mas eu não tenho muitas histórias deles, como foi o conhecimento deles, sei que a minha mãe ficou muito apaixonada por ele. Eu acho que ela sofreu muito na infância, ela não teve uma infância muito feliz. Acho que o pai trouxe muita felicidade pra ela no começo do casamento, do relacionamento deles, enfim.
P/1 – E qual é a atividade deles?
R – Então, a minha mãe trabalhava em empresas de costura. Depois, quando ela casou, virou dona de casa. E o meu pai basicamente foi motorista a vida toda. Ele fez várias coisas, mas o foco dele foi como motorista, passou a maior parte da vida dele como motorista. A gente era uma família simples.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Eu tenho um irmão que é oito anos mais velho que eu, tem 38. Só que ele mora no Japão, atualmente.
P/1 – Qual é o nome dele?
R – Ele chama Ricardo Hatada.
P/1 – O que ele faz?
R – Ele trabalha... Ele é decasségui, então ele trabalha numa fábrica lá. A última fábrica que ele esteve trabalhando era a da Sony. Além de trabalhar, ele é operário. Também é pastor, pastor de igreja, ele é bem religioso.
P/1 – Em que bairro você nasceu?
R – Eu nasci no Jaçanã.
P/1 – Você pode contar um pouquinho como era o bairro quando você era pequeno?
R – Quando eu era pequeno era um...
Continuar leituraP/1 – Antes de tudo, bom dia!
R – Bom dia.
P/1 – Obrigado por ter aceitado nosso convite. Para começar, você poderia falar o seu nome, data e local de nascimento?
R – Eduardo Hatada, 12 de agosto de 1978, eu nasci em São Paulo.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – Aparecida Paulina Hatada e Kasumi Hatada.
P/1 – Você poderia contar um pouquinho dos seus pais? Como eles se conheceram, o que eles fazem?
R – Assim, (riso) que eles não são de contar muito. A minha mãe foi adotada, eu sei que a minha mãe foi adotada e ela se apaixonou muito por meu pai. Mas eu não tenho muitas histórias deles, como foi o conhecimento deles, sei que a minha mãe ficou muito apaixonada por ele. Eu acho que ela sofreu muito na infância, ela não teve uma infância muito feliz. Acho que o pai trouxe muita felicidade pra ela no começo do casamento, do relacionamento deles, enfim.
P/1 – E qual é a atividade deles?
R – Então, a minha mãe trabalhava em empresas de costura. Depois, quando ela casou, virou dona de casa. E o meu pai basicamente foi motorista a vida toda. Ele fez várias coisas, mas o foco dele foi como motorista, passou a maior parte da vida dele como motorista. A gente era uma família simples.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Eu tenho um irmão que é oito anos mais velho que eu, tem 38. Só que ele mora no Japão, atualmente.
P/1 – Qual é o nome dele?
R – Ele chama Ricardo Hatada.
P/1 – O que ele faz?
R – Ele trabalha... Ele é decasségui, então ele trabalha numa fábrica lá. A última fábrica que ele esteve trabalhando era a da Sony. Além de trabalhar, ele é operário. Também é pastor, pastor de igreja, ele é bem religioso.
P/1 – Em que bairro você nasceu?
R – Eu nasci no Jaçanã.
P/1 – Você pode contar um pouquinho como era o bairro quando você era pequeno?
R – Quando eu era pequeno era um bairro muito simples. Quando eu era pequeno eu era muito levado (riso). Eu não fui uma criança muito fácil (riso), tinha muitos amigos. A escola era perto, tudo era muito perto. Tinha de tudo no bairro, mas era um bairro muito simples. Acho que é isso que eu lembro.
P/2 – E o que tinha para você brincar lá no bairro?
R – Eu ficava o tempo todo na rua com os meus amigos, é isso que eu lembro. A gente jogava bola, brincava de corre-corre, empinava pipa... Basicamente isso. Próximo não tinha praças, não tinha muito lugar pra lazer, eu não lembro não. Mas eu morava numa vila, então ficava muito tempo nessa vila com os meus amigos.
P/1 – Geralmente em vila o pessoal tem certa relação comunitária, não tem?
R – Mais próxima...
P/1 – Você se lembra de alguma atividade comum, na vila?
R – Era em torno de sete casas, era pequena. É uma relação diferente de hoje, porque hoje, com a correria, ninguém... Mal se conhece, não sabe nem que é vizinho. Lá não, lá eu acho que até hoje. Eu não estou morando mais lá, mas a relação é muito mais próxima, são muito mais amigos. Todo mundo se conhece, todo mundo sabe da vida de todo mundo. A coisa é muito mais forte, o vínculo é muito maior que... Por exemplo, hoje eu moro num local que eu nem conheço meu vizinho, direito. Pela correria da vida, tanto minha quanto dos vizinhos, a gente acaba nem conhecendo.
P/1 – O pessoal fazia festa junina conjuntamente? Tinha isso?
R – Ah, isso acontecia. Por exemplo, todo mundo ia ao colégio, e lá tinha festa junina, quermesse. Então aconteciam esses eventos na escola ou na Paróquia, parece até interior, se compararmos. Era uma coisa bem nesse sentido.
P/1 – E você falou que era um menino muito levado. Tem alguma história?
R – Ah, não (riso). Eu aprontava muito, realmente. A minha mãe várias vezes foi na escola, foi chamada pela diretora pra conversar. Eu fui uma criança muito levada mesmo! Aprontei muito, me diverti muito. Mas minha infância foi maravilhosa, eu aproveitei muito, brinquei muito, me diverti muito. Tive uma infância, graças a Deus, muito boa.
P/2 – Você se lembra do dia a dia da sua casa quando você era criança? Como era o cotidiano da sua casa?
R – Assim, meu pai trabalhava muito. Foi uma infância muito humilde. Ele trabalhava muito, a minha mãe dona de casa, cuidava dos filhos, bastante dos filhos, muito focada. Ela era superprotetora.
P/2 – Você ajudava a sua mãe?
R – Ajudava, ela fazia a gente ajudar. Ela achava importante a gente ajudar na limpeza da casa, na organização. Ela é muito, a minha mãe é muito... Ela gosta de tudo em ordem, tudo limpo. Ela é sargentona (riso), gosta da coisa bem feita. Eu tive uma educação... Ela se preocupou muito com isso, uma coisa mais rigorosa. O meu pai também, ele é japonês, então tive uma educação mais rigorosa.
P/1 – E na escola? Você lembra quando você entrou na escola?
R – Eu lembro muito vagamente do EMEI [Escola Municipal de Educação Infantil], que era o prezinho, que eu também aprontava muito. Brincava muito com as meninas, aprontava muito com as meninas (riso). Furava fila, coisas assim. Eu lembro muito vagamente.
P/2 – Quando você tirou essa foto no EMEI, você lembra?
R – Eu me lembro. Engraçado que a gente lembra só de algumas coisas. Eu não gosto muito de falar, mas eu estava muito nervoso. Eu só me lembro que eu estava muito nervoso, lembro muito vagamente, mas me lembro. Me lembro... Colocando a roupa, colocando um chapéu, não sei como é o nome... Lembro muito vagamente.
P/1 – Você poderia falar o nome da escola que você estudou?
R – Depois do EMEI?
P/1 – Não, essa. EMEI Jaçanã?
R – Isso, que era o prezinho. Depois eu fui para uma escola que, se eu não me engano, era estadual, que chamava Cepef, que também era próximo de casa.
P/1 – Teve algum professor ou professora que te marcou?
R – Eu acho que só no colegial. No colegial eu tinha uma professora de Física... Aí já estudava em Santana, não era mais em Jaçanã, porque eu já tinha mudado pro Lauzane, onde atualmente eu moro. Eu tive uma professora, que era de Física, eu comecei a adorar física, nunca gostei de Matemática, dessa área. Mas eu comecei a adorar tanto que teve até colegas que eu acabei ensinando esses colegas na Física. Então eu me lembro muito, porque a professora passava de tal forma, que eu acabei gostando tanto, que eu ainda consegui ensinar outras pessoas. Consegui ajudar, não ensinar, mas consegui ajudar alguns colegas de classe.
P/2 – A matéria, então, que você mais gostava era Física?
R – É, mas não me pergunte nada de física (riso), não sei mais nada.
P/2 – Eu nem saberia o que perguntar (risos). Dessa época da escola, quando você estudou, você já tinha uma ideia, um sonho do que você faria profissionalmente?
R – Então, eu pensei muito em ser psicólogo, porque eu acho que sempre tive um ar de querer ajudar. Eu acho que esse é o gancho que tem muito a ver com a Fundação Gol de Letra. Então, assim, eu acho que eu tinha muito interesse na área mais de humanas, realmente. Pensei em lecionar a partir de então, por isso que eu acho que marcou. Eu pensei em lecionar, eu gosto muito. Hoje, por exemplo, eu sou administrador, mas eu sei que eu gosto muito mais de treinar, de lidar com o ser humano. Mesmo na Gol de Letra tem muitos voluntários que passaram por mim. Mesmo no serviço, no último trabalho que eu estava desenvolvendo profissionalmente, eu tive que treinar outra pessoa. Eu vejo esse meu lado de treinamento, de desenvolvimento,eu gosto de ver a pessoa crescendo, se desenvolvendo.
P/2 – Deixa só eu colocar um pouquinho. Você chegou até a tocar na questão da paróquia. A gente viu algumas fotos você sendo batizado, Primeira Comunhão. Você acha que tem o lance da formação religiosa por trás? Você teve essa ligação?
R – Então, os meus pais são muito católicos, meu pai principalmente. Mas eu nunca me identifiquei muito com a religião. Meu irmão, por exemplo, ele é pastor, hoje. Ele sempre foi muito religioso, fanático até, eu posso dizer. Mas eu não tive muito essa ligação, não tive.
P/2 – Grupo de jovens, essas coisas?
R – Sempre odiei (riso)!
P/1 – Sua família te incentivava a tomar algum rumo profissional?
R – Não, não. Os meus pais sempre batalharam muito pela minha educação, a gente não tinha muitas condições. O meu pai foi pro Japão, inclusive ele me ajudou a fazer a faculdade. Ele que, né, pagou a faculdade. Eles sempre... E eles têm uma formação... Eles têm só o primário, são muito simples. Eles sempre investiram muito na minha educação. Do meu irmão também. Meu irmão quis mais trabalhar, ele não... Talvez não tenha tido tanta oportunidade quanto eu; meu pai já estava no Japão e conseguiu ajudar na minha formação. Mas meu irmão não teve tanto interesse também pelos estudos. E os meus pais sempre se preocuparam pelos estudos. Mas eles nunca... Eles deixaram: "Olha, você escolhe o que te dá prazer".
P/2 – Quando seu pai foi pro Japão, você estava na escola, você era jovenzinho. Como foi isso pra você?
R – Ah, foi difícil (riso). Foi difícil, a gente sente muita falta. De certa maneira o meu pai... Assim, o mau pai trabalhava fora, trabalhava muito. Teve épocas que ele era taxista, então à noite ele estava na rua. Trabalhava de dia, trabalhava à noite, então eu via muito pouco o meu pai. Eu via ele no final de semana e olhe lá, quando ele não ia trabalhar também. Tinha épocas que ele trabalhava muito, mas mesmo assim eu senti muita falta. Eu acho que muito marcante pra mim ele ter ido pro Japão trabalhar e fazer a vida lá.
P/2 – Ele ficou quanto tempo lá?
R – Ficou em torno de três anos, quase quatro anos.
P/1 – Ficou direto?
R – Ficou direto. Foi muito difícil, a minha mãe chorava muito, meu irmão também. Depois o meu irmão foi pro Japão, aí minha mãe, eu acho que ela não tinha tanta... Quem cuidava muito da casa era o meu pai, financeiramente, quem administrava, e ela se viu sozinha com dois filhos, então tudo isso foi muito difícil, no começo, principalmente. Depois você vai acostumando. Eu lembro... Eu tenho uma memória fraca, eu lembro minha mãe chorando muito, a gente acabava chorando, se emocionando muito.
P/2 – Você também não quis ir lá pro Japão, ter uma experiência, trabalhar?
R – Não, eu nunca tive... Diferentemente do meu irmão, ele tem muito mais esse lado oriental. Eu não tenho muito, acho que eu puxei mais esse lado da minha mãe, que não é. Eu sou mestiço. O que acontece, no começo eu nunca tive muita vontade. Depois eu fui vendo que as pessoas vão pro Japão, e até o meu pai, e chegam aqui no Brasil elas já saíram do mercado de trabalho. Elas não conseguiam e nem conseguem se colocar, é muito mais difícil depois. No começo, quando o meu pai foi, dava um retorno financeiro muito grande. Muito grande não, mas dava um retorno financeiro bom. Agora não, agora principalmente, ou depois de uns cinco anos que eu meu pai foi pra lá, eu acho que o retorno financeiro é muito baixo. As pessoas voltam pra construir alguma coisa, às vezes não dá certo aqui algum negócio, aí voltam pro Japão e ficam indo e voltando, indo e voltando. Eu não quis isso pra mim, eu quis realmente: "Não, vou construir uma coisa mais sólida aqui". Quis investir nos meus estudos e desenvolver minha carreira aqui.
P/1 – Como é que você optou por fazer administração?
R – Ah, eu não sabia o que fazer (riso). Eu não sabia, tinha muita dúvida com relação ao que fazer. Tinham algumas coisas que eu gostava. Por exemplo, eu gostava de psicologia, mas todo mundo falava "nossa, mas vai ser muito difícil até você arrumar clientela e tal", e eu precisava de dinheiro, precisava trabalhar. Acabei fazendo uma área que dá um leque de possibilidades profissionais. Então eu posso trabalhar em marketing, posso trabalhar em RH [Recursos Humanos], posso trabalhar na área financeira. Posso desenvolver muitas atividades dentro da administração, então por isso foi o foco maior. Eu odiei a faculdade, inicialmente. Pensei várias vezes em parar. Mas depois, principalmente, eu acho, que o trabalho da Gol de Letra foi muito bom pra mim, para eu perceber o quanto foi importante a minha formação em administração, a aplicação, na prática.
P/2 – A gente chega lá na Gol, deixa só eu explorar um pouquinho essa época em que você entrou na faculdade. Você tinha um grupo de amigos? Como era isso?
R – Na faculdade?
P/2 – É. Você estava mais jovenzinho. Seu pai estava ainda no Japão, né?
R – Ele ficou. No começo da faculdade ele ficou, depois ele voltou.
P/2 – Como é que você se divertia...
R – Ah, eu fui muito... Eu sou tímido (riso). Eu fui muito tímido, então não tinha muitos amigos. Eu tinha poucos amigos, eu tenho poucos amigos, mas que são amigos maravilhosos. Sempre fui uma pessoa mais reservada, mais tímida. Nunca fui muito baladeiro, então saía pouco. Sempre fui uma pessoa mais calma.
P/2 – E quando você saía, qual era a diversão?
R – Ah, ia ao cinema, ao shopping, coisa de paulista, né? Paulistano. Ir ao shopping, coisas básicas, não saía muito pra noite não, barzinho, muito pouco.
P/2 – Também porque você morava um pouco distante. Não tinha dificuldade de locomoção, pra vir pro Centro à noite? Não tinha esse problema?
R – É, eu também não me interessava. Eu era muito sossegado. Eu fui criança durante muito tempo, eu acho. Acho que eu amadureci durante... Eu demorei para amadurecer. Enfim, eu era muito criança. E não tinha muito interesse, eu fui muito tranquilo.
P/2 – E na faculdade, apesar de você não estar curtindo muito o curso, tinha alguma coisa que ficou marcada pra você, nessa época?
R – Na faculdade eu acho que eu ganhei muito conhecimento, acho que foi maravilhoso. Hoje eu vejo que a faculdade... Eu gosto de onde eu estudei, que foi no Mackenzie, eu gosto muito. Mas assim, o que eu percebo que eu mais ganhei foi a amizade da Denise, que é uma das minhas melhores amigas. O engraçado é que na faculdade as pessoas, elas... A gente começou juntos desde a primeira aula e terminamos juntos, e as pessoas, às vezes, eu sentia até não uma inveja, mas elas... Não uma inveja no lado negativo, mas elas sempre comentavam: "Nossa, mas a amizade de vocês, eu queria tanto ter uma amizade assim, que durou tanto tempo". E até hoje tem, eu conheço ela há tanto tempo, fui padrinho de casamento dela. Acho que essa foi a maior riqueza que eu tive (riso).
P/1 – Você lembra como vocês se conheceram?
R – Ah, lembro. Engraçado, né? Eu tenho uma memória ruim, mas algumas coisas são muito fortes. Eu lembro da gente no primeiro dia de aula, todo mundo se encontrou na sala, estávamos esperando o professor chegar. A gente aproveitou pra conversar e se conhecer, então formou uma rodinha na sala. Eu não sei se no começo da aula ou no final. Aí a Denise sentou do meu lado e falou: "eu moro no Edu Chaves", eu falei "nossa, eu moro na Zona Norte também, moro no Lauzane". A gente começou a conversar, e ficamos até o final, até hoje! A gente tem muito contato.
P/2 – Assim, você teve uma vida, família humilde, tudo. Você começou a trabalhar cedo, assim, antes de entrar mesmo na área?
R – Não, eu demorei para trabalhar. Depois do Exército, o meu pai segurou até o Exército.
P/2 – Você teve que passar no Exército?
R – Não, não cheguei. Porque antes do período do Exército é super difícil pro homem conseguir emprego. Então logo que eu passei por essa fase, que eu fui dispensado, comecei a trabalhar. Procurei, foi superdifícil, porque é o primeiro emprego. Eu fiquei muito tempo procurando, aí eu consegui encontrar emprego.
P/2 – Como foi esse primeiro emprego? Em que era?
R – Nossa! Até fechou a empresa, se eu não me engano foi no Mappim, daí eu trabalhei no Center Norte. Eu sempre trabalhei em shopping. Comecei minha carreira como atendente, vendedor, mas trabalhei pouco tempo lá, foi um emprego temporário. Comecei, assim, com empregos temporários. Depois eu acabei ficando como contratado na Siciliano, que também é no comércio, uma livraria. Então basicamente foi assim, aí eu comecei a minha carreira.
P/2 – Você lembra o que você fez com o seu primeiro salário?
R – Difícil (riso), não me lembro. Ah, era tão pouco! Era muito pouco.
P/2 – Você falou que era tímido, e trabalhar como vendedor é uma coisa que exige um pouco mais pra vencer a timidez. Você lembra da situação?
R – Ah, era difícil. Porque, assim, na realidade o que acontece? O comércio dá oportunidade pra quem não tem muita experiência, por isso foi a minha porta, porque se você faz... No escritório, para trabalhar, ele vai querer experiência de você, naquela época eu acho que era até mais difícil que hoje, na questão da experiência. Então foi esse o caminho, esse era o único caminho que eu encontrava. Precisava trabalhar, precisava de dinheiro, precisava até em função da faculdade, por exemplo. Então foi a porta que eu encontrei. Era difícil, tive que, na raça, aprender a falar. Era super difícil, imagina, falar! Mas foi super tranquilo depois de um tempo.
P/2 – Não precisou se esconder das pessoas que iam à loja?
R – Não, não (riso). Você aprende, você tem o apoio das pessoas. No comércio eu acho que tem, é um ambiente gostoso de trabalho. Eu tive muito apoio de pessoas mais velhas também, então foi super tranquilo.
P/2 – E assim, nos outros trabalhos, você passou pelo Mappin, Siciliano, a livraria, né? E depois?
R – Depois eu fiz empregos temporários, aí eu fui pro Centro de Voluntariado. Na realidade eu acho que era um período que eu estava desempregado, eu estava na faculdade, e eu queria de alguma forma aplicar já na prática os meus conhecimentos. Queria ao mesmo tempo ajudar pessoas, eu acho que esse é um traço muito forte que eu tenho.
P/2 – Mas você já tinha uma ideia da existência desse Centro de Voluntariado?
R – Então, isso foi em torno... Eu sou péssimo com datas, mas eu acho que foi em torno de 2000, 2001, que se eu não me engano foi ano que foi o boom do voluntariado. Era o ano internacional do voluntariado no mundo, então foi uma coisa muito forte aqui no Brasil, e eu entrei. Estavam divulgando muito a mídia, a mídia estava falando muito do voluntariado, foi o momento que eu conheci o Terceiro Setor.
P/2 – Você fazia administração, não é? Lá já falava alguma coisa de Terceiro Setor, na faculdade?
R – Muito pouco, muito pouco. Não tinha matérias focadas, hoje eu sei que tem, têm cursos que possuem. Mas não tinha não.
P/2 – E você se interessou por esse caminho?
R – Isso, porque estava muito forte na mídia. Se você pegava um jornal, você via voluntariado, já começavam a falar de ONGs. O trabalho voluntariado era muito forte na TV também, você ligava a TV ou o rádio, foi um boom muito forte.
P/2 – Aí você foi trabalhar lá no Centro de Voluntariado?
R – Isso.
P/2 – Como é lá? Como funciona?
R – Então, o Centro de Voluntariado é uma organização social que tem... Faz encaminhamentos de voluntários para as organizações. Ela tem o papel principal de incentivar o voluntariado na sociedade e fazer essa ponte do voluntário com as organizações, tanto para capacitar quanto para encaminhar. Então ela faz essa ponte, e eu comecei a trabalhar no atendimento. Eu comecei ajudando no encaminhamento dos voluntários até as organizações.
P/2 – É como se fosse uma agência, mesmo.
R – Isso.
P/1 – Que conhece todas as ONGs e vai encaminhando.
R – Isso, as ONGs estão cadastradas lá. Geralmente o voluntário passa por uma capacitação básica, um workshop...
P/2 – Como é essa capacitação?
R – É muito básico. É um workshop que vai explicar como é o trabalho voluntário, qual é o perfil do trabalho voluntário, o que uma organização espera, o que ele vai encontrar. São as principais dúvidas que até hoje as pessoas que têm interesse em ser voluntárias possuem.
P/2 – Assim, se eu quisesse ser voluntária, qual teria que ser o meu perfil? Como é o perfil de um voluntário?
R – Perfil geral é basicamente ter o comprometimento com a organização. Não é porque é um trabalho voluntário que você vai fazer de qualquer maneira, que você não vai ter responsabilidade. Se está chovendo hoje: "Ah, eu não vou porque está chovendo", e não vai se importar com o trabalho final. Então basicamente é aquela pessoa que tem o comprometimento e a responsabilidade. É um perfil de um trabalho voluntário, mas profissional. Não é mais aquela coisa amadora, não é "eu vou quando eu quero". É uma coisa que realmente vai ter um profissionalismo, mas na realidade eu acho que daquele ano até hoje eu vejo uma evolução muito grande. As pessoas hoje têm uma consciência muito maior desse profissionalismo no voluntariado.
P/2 – Lá no Centro de Voluntariado você passou em que ano mesmo?
R – Eu já me perdi nas datas. Foi em torno de 2000, 1999, 2000, uma coisa assim.
P/2 – Você lembra, quando você estava trabalhando lá, de uma realização: "Poxa, consegui encaminhar tal pessoa para tal local"?
R – Ah, a Organização, de um modo geral... Porque assim, você lida com pessoas maravilhosas, acho que é no terceiro setor como um todo. Você lida com pessoas maravilhosas, que às vezes têm um sofrimento ainda maior e que querem contribuir com outras pessoas. Acho que isso é um retorno muito positivo, lá eu tinha esse retorno do voluntário. Na Gol de Letra, por exemplo, eu começo a comparar. Na Gol de Letra você tem um retorno que é o retorno do atendido, do jovem, da criança, que é enorme. É uma satisfação enorme que dá. Também eu tinha esse papel do voluntariado muito forte na Gol de Letra. Aí você tem também aquele retorno voluntário, você ver o voluntário querendo ajudar, contribuir, e o quanto isso é importante.
P/1 – Do Centro de Voluntariado você foi pra Gol, direto?
R – Não. Eu fui pra uma empresa... Fui fazer um estágio. Porque eu precisava fazer um estágio, aí eu falei "não, então vou para uma empresa, até para ter um conhecimento do mercado". Aí eu trabalhei na área financeira de uma empresa. Como essa empresa me liberava toda quarta-feira pra fazer um trabalho voluntário na Gol de Letra, que foi uma coisa que eu pedi logo no primeiro dia de trabalho, eles negociaram. Foi super tranqüilo, eles acharam ótimo. Eu comecei, então... Aí foi o começo na Gol de Letra.
P/2 – O que era a Gol de Letra que você escolheu?
P/1 – Você se lembra de quando você ouviu falar dela?
R – Na realidade, que eu me lembro... O contato que eu tive foi assim: o Raí foi no Centro de Voluntariado, se eu não me engano ele era repórter do Canal Futura, eu não tenho certeza. Mas ele era repórter de uma emissora de TV, e ele foi lá fazer uma matéria sobre trabalho voluntário. Aí eu fiquei conhecendo, mesmo, a Gol de Letra, fiquei sabendo que tinha a Gol de Letra. Aí quando eu saí do Centro de Voluntariado, me deu uma vontade enorme... Eu estava trabalhando numa empresa, mas me deu uma vontade enorme de fazer um trabalho voluntário, de ajudar, de contribuir. E eu ficava angustiado, porque eu queria voltar para o Terceiro Setor. Então eu tive essa oportunidade de escolher uma organização. A questão da Gol de Letra é que ela é próxima de casa, ela está ali na região do Horto, e eu moro nessa região do Horto, estava próximo de casa. Eu pensava: "Eu quero ajudar a comunidade". Eu não conhecia nenhuma organização, porque eu acho importante você ajudar na sua comunidade, e em Lauzane eu não conhecia. Hoje eu conheço algumas organizações que tem lá, assim, vagamente. Eu não conheço o trabalho de perto, mas eu sei que tem. E a Gol de Letra ficava muito próximo, aí eu falei "ah, é meio contramão, mas é próximo, eu vou na Gol de Letra".
P/1 – O que você sabia da Vila Albertina antes de você ir pra lá?
R – Nada, não sabia nada. Sabia que era uma comunidade menos assistida, menos favorecida. E óbvio que eu queria trabalhar... Eu não queria trabalhar numa ONG que tivesse em outra região, eu queria trabalhar numa ONG mesmo ali, de atendimento direto. Até porque o Centro de Voluntariado não tem um atendimento direto, então eu fui pesando muito isso, eu queria uma ONG de atendimento direto. Pelo fato de trabalhar com crianças, isso me chamou a atenção, além da questão da educação. Porque eu acredito que a educação é muito importante, e eu acho que a transformação se dá pela própria educação.
P/2 – Você pegou quase no início da Gol de Letra, praticamente.
R – Isso.
P/2 – Você se lembra qual a primeira impressão quando você chegou ali na Vila Albertina? Você esperava o que você encontrou?
R – Se eu não me engano eu fui também pra uma reunião, eles estavam começando a montar o grupo de voluntários. Eu lembro que quem coordenava, naquela época, era a Célia Hara. Eles estavam organizando o grupo de voluntário, estavam fazendo, se eu não me engano, uma palestra que teve. Eu tive mais da organização, não tanto da comunidade. Porque eles apresentaram, falaram da comunidade, falaram um pouco da Gol de Letra. Mas a primeira impressão foi de profissionalismo, eu já me encantei: "Nossa, que trabalho profissional! Como as pessoas são profissionais aqui", isso me chamou muito a atenção. Isso até foi um dos fatores que me fez ficar lá, porque o profissionalismo lá é enorme.
P/2 – Você lembra, por acaso, nessa época que você estava entrando, qual era a atividade, programa ou projeto que estava se discutindo, na época? "Nós vamos fazer tal coisa", tinha isso?
R – O trabalho lá, principalmente no começo, ele era marcado pelo trabalho pedagógico e pelo trabalho social. O voluntariado estava mais ligado ao trabalho social, como área social. Então, assim, naquela época eles estavam construindo toda a área social, eles estavam desenvolvendo esse departamento, era área social lá. Eram os "Gols de Cidadania" que estavam sendo desenvolvidos; era a mobilização, em si. Tanto é que o voluntariado vem aí, é mobilização da sociedade, não só da comunidade, mas da sociedade como um todo. Eu me lembro muito fortemente disso, era bem o comecinho mesmo da área. Eu não tinha tanto contato com os programas pedagógicos, mas foi o Virando o Jogo... Eu acho que era o começo do Virando o Jogo, que é o carro chefe da Fundação que atende as crianças, o foco é nas crianças.
P/2 – E no começo você ia às quartas-feiras, né?
R – Isso, eu ia toda quarta-feira, ficava o dia todo lá.
P/2 – Que atividades você começou a exercer lá?
R – Eles já me focaram no trabalho... Como eu já tinha experiência no Centro de Voluntariado, eles me colocaram na questão do voluntariado na Gol de Letra. Como eles estavam montando, começando, eles falaram: "Olha, vamos utilizá-lo na construção do Programa de Voluntariado.” Então a gente começou organizando a admissão daquele grupo de voluntários. A maior parte, acho que 99%, era da área social mesmo. Então cada voluntário desenvolveu um projeto, e aí eu ajudava na articulação desses grupos desde a parte administrativa. A gente começou a montar bancos de dados dos voluntários, começou a pensar no relacionamento com os voluntários, desde pensar em fichas de voluntários, de cadastro, até a motivação, avaliação desse voluntário. Depois, no recrutamento, seleção desses outros voluntários que estavam chegando, então a gente estava estruturando ainda os processos.
P/2 – E tinha muitos voluntários?
R – Naquela época eu acho que entrou em torno de uns 15, de 15 a 20 voluntários. Foi o primeiro grupo.
P/2 – Eles vinham de onde? Eram da região?
R – Não, eles eram de São Paulo. Até porque a Fundação sempre teve uma divulgação muito forte na mídia, então ela acaba chamando toda São Paulo.
P/2 – Qual a faixa etária, mais ou menos, dos voluntários?
R – Estava na faixa dos 20 a 30. Acho que a maior parte estava nessa faixa aí.
P/1 – De diferentes áreas também?
R – Isso. Tinha administrador, tinham pesquisadores. Eu lembro que uma área forte era a de pesquisas sociais, que eles, já no começo da Gol de Letra, estavam querendo medir a comunidade. Eu lembro que eram pesquisas lá do...
P/2 – (Cead?)?
R – Isso, acho que era. Eu sei que é um órgão importante de pesquisa, e foi para saber como era a comunidade. E em cima dessa pesquisa ter uma estratégia de atuação mais forte.
P/2 – E tinha projetos que eram ligados diretamente às crianças? De atuação direta?
R – No começo não. A Gol de Letra tem essa característica, o atendimento não é tão focado do voluntário com a criança. Porque a gente, infelizmente, tem alguns problemas com o voluntário. Tem, por exemplo, voluntário... Se você for, por exemplo, um voluntário que dá aula, ele não pode estar todo dia para dar aula. E não dá pra ter em uma matéria... Cinco professores pra ir segunda, terça... Então é complicado, temos esses problemas que ficam inviáveis.
P/2 – Então ele acaba atuando assessorando, na pesquisa de projetos, na questão administrativa?
R – Exatamente. A gente teve muitos voluntários na parte de captação. Nossa, tivemos um desenvolvimento muito grande. Por exemplo, hoje tem o Torneio Gol de Letra, que veio da França, do exterior, que o Raí trouxe a ideia, mas quem desenvolveu aqui todo o projeto do Torneio Gol de Letra, que é o maior evento da Gol de Letra, foi um grupo de voluntários que a gente chamava de Comitê de Mobilização da Fundação. É um grupo de voluntários ligados à captação, então tinha mais esse foco também, o voluntário. A gente tem voluntários que trabalham no atendimento direto... “A gente”, eu não estou mais lá (riso), é o costume de falar. Mas a Fundação tinha voluntários, mais psicólogos que atendem às crianças, mas aí é mais no consultório. Ou dentistas, a gente tem... A Gol de Letra tem a parceria com o Adotei um Sorriso, que é da Fundação Abrinq, que encaminha as crianças aos voluntários dentistas. Esse é um contato direto com o público atendido.
P/2 – Nesse tempo que você ficou lá, quais trabalhos você achou muito legal, que você acabou se envolvendo como voluntário?
R – Então, meu foco como voluntário realmente foi essa questão da gestão do voluntário, de estar se preocupando com motivação, de estar se preocupando com o processo seletivo, com a coordenação do programa de voluntariado. Basicamente eu fazia isso, fiquei um ano desenvolvendo isso.
P/2 – Mas deu pra você participar de eventos que a Gol chegou a promover? Por exemplo, o Dia de Fazer a Diferença. Você lembra quando foi a primeira vez que foi feito, você participou?
R – Eu lembro muito vagamente do Dia de Fazer a Diferença, que foi um movimento também com muitos voluntários. Eu lembro que a gente precisava integrar os voluntários e ao mesmo tempo mostrar... A gente tinha uma ação que eu acho que era na época que estava tendo muita dengue na religião, que estava precisando de mais esclarecimentos. Eu lembro que nós mobilizamos o grupo de voluntários e aí foi um momento, até pra mim, de conhecer a comunidade. Nós fomos até a comunidade fazer a orientação, distribuir os panfletos, orientar as... De casa a casa. Eu me lembro muito fortemente porque esse momento foi o primeiro grupo de voluntários da Gol de Letra. Foi um momento que teve a realidade ali, porque uma coisa é você falar da comunidade, ver lá no Datashow, outra coisa é você ir à comunidade. A maioria − acho que todos −, pelo menos não era da comunidade. A gente foi numa região que eu acho que chama Vila Nova, e essa região é a mais precária que tem lá. Acho que foi impactante para todos os voluntários. Eu lembro que os voluntários saíram todos impactados, falando "nossa, realmente eu tenho que trabalhar aqui". Acho que eles saíram muito mais motivados, tiveram o impacto do conhecimento da comunidade.
P/2 – Como vocês eram recebidos pelas pessoas da comunidade? Como era? Vocês iam às casas, como era isso?
R – A gente ia às casas, mas a gente estava com os agentes sociais, porque a gente não conhecia, não faz parte da comunidade. Eu acho que foi mais um momento de conhecimento mesmo, de integração, de ver o trabalho sendo aplicado até de uma capacitação. Serviu como capacitação para o grupo, mas a gente acompanhava a área social. Era mais um acompanhamento, né?
P/1 – Você falou que teve um impacto. Quando vocês entraram na comunidade, mesmo, o que mais chocou?
R – Ah, é difícil. Porque, assim, você não está acostumado a entrar naquelas vielas. Eram casas de madeira, era uma região com lama. Se eu não me enganos é um local que foi ocupado pelas famílias indevidamente, então era um local muito precário. Você via os fios, o ambiente em si. Você via os fios na sua altura, que são os famosos gatos da fiação elétrica. Eu acho que tudo, as famílias muito humildes naquela lama, era na época que estava chovendo no morro ali. Então eu acho que foi pelo ambiente mesmo. Aí você vê que aquelas pessoas não têm o conhecimento, precisam do conhecimento. Você vê que são coisas básicas.
P/2 – Você se lembra de algum diálogo da época? De vocês conversando com alguém, você se lembra disso?
R – Ah, eu não me lembro, é super difícil.
P/2 – Falam que aquela região tem muita criança, né? Como é isso?
R – Ah, nesse momento que você fala?
P/2 – Sim.
R – Ah, na rua... Eu lembro que na época não era asfaltada, era lama, e as crianças passando por lá. Eram casas muito menores do que essa sala, de madeira, muito apertadas. E eram vielas, eu não lembro, mas eram vielas, e as crianças no meio da rua, sentadas na lama, uma coisa mais ou menos assim, muito vagamente, que eu lembro.
P/2 – Você falou de eventos, chegou a comentar que na época da dengue vocês iam à comunidade. Tiveram mais eventos? Eu acho que é legal a gente buscar bastante.
R – Dos eventos eu lembro do Fazer a Diferença. Assim, que eu lembro muito fortemente são os eventos de captação, como o Torneiro Gol de Letra, que é um evento muito forte na Gol de Letra e que tem uma importância grande de trabalho voluntário. De eventos eu lembro basicamente disso.
P/2 – É difícil esse trabalho da captação ou nome da Gol é forte e entra no crivo pra fazer essa atividade?
R – Não, é difícil mesmo pra Gol de Letra. Mesmo os voluntários que chegam na Fundação: "Aqui deve estar chovendo dinheiro". Muitos voluntários até chegam a falar isso: "Vocês têm recursos, vocês são uma ONG rica". Não é bem essa a realidade, é muito difícil. Facilita, sem dúvida nenhuma. Raí e Leonardo, eles têm uma credibilidade enorme que passa para a Gol de Letra, que também já tem um trabalho sólido, e isso contribui também. Eu acho que tem a figura dos instituidores, tem a figura da Gol de Letra, que contribui com o próprio trabalho, que dá credibilidade, então facilita isso sem dúvida nenhuma. Como a Gol de Letra está sempre na mídia... Talvez agora nem tanto, mas ela já esteve muito mais, então isso também facilitará captação.
P/1 – Você falou bastante do Torneio Gol de Letra. Eu queria saber como funciona.
R – O Torneio Gol de Letra é uma disputa de futebol que ocorre entre empresas, se eu não me engano em torno de seis empresas, eu não vou lembrar. Mas é entre empresas, ela faz uma doação para a Gol de Letra a título de participação no torneio. Essa doação toda é utilizada nos programas da Fundação, ela participa dessa disputa que vai ocorrer aqui em São Paulo no sábado e domingo. Geralmente ocorre em outubro de cada ano. O que vai acontecer? Os ganhadores dessa disputa de sábado e domingo vão disputar a grande final no estádio do Morumbi, na segunda-feira, logo em seguida, à noite. É como um time de celebridades, Raí versus o Leonardo. É um evento que tem um apelo muito grande, as pessoas adoram, tanto as empresas quanto os funcionários. Todo mundo adora trabalhar, contribuir nesse evento. E ao mesmo tempo gera uma receita muito importante pra Gol de Letra. É um recurso que não está vinculado diretamente a um projeto; é um recurso solto que pode ser utilizado em qualquer necessidade da Gol de Letra, então isso é importante.
P/2 – Legal. Você falou que o grupo de voluntários que bolou esse projeto?
R – Exatamente.
P/2 – Você lembra como foi a elaboração...
R – Organização, tá? Eu lembro que o comitê de mobilização se encontrava para as discussões. Se eu não me engano, no começo a gente se encontrava no final do dia e à noite com o Raí, com os sócios, com a diretoria, e era no Novo Hotel, a gente tem a parceria com o Novo Hotel. O grupo discutia desde como ia ser a logística até como ia ser pra vender. O grupo ajudava a vender, geralmente esse grupo de voluntários... O perfil desse grupo de voluntários é de diretores de empresas, profissionais de marketing, então é um grupo diferenciado, e eles nos ajudavam desde vender até a logística, a planilha de ato do evento e até mesmo na operacionalização do evento, no dia. Então começou como piloto...
P/2 – Você lembra o ano, só pra gente situar?
R – Se eu não me engano está no sexto, esse ano agora é o sexto. Então teve o piloto e mais cinco, se eu não me engano é isso, pelas minhas continhas. Eu tenho de resgatar.
P/2 – Que empresas participavam? Você lembra, pode falar?
R – Geralmente são grandes empresas: Accor... Agora deu branco (riso). Mas são grandes empresas que têm já uma política de responsabilidade social, a Peugeot, a Accor, a Mundial, são várias empresas que já participaram.
P/2 – Ah, legal. Me diz uma coisa, qual é o maior desafio, dificuldade do voluntário?
R – Voluntário? Desafio, você fala com relação ao desafio do voluntário em trabalhar ou da organização em lidar?
P/2 – Da organização com o voluntário.
R – Ah, o que eu acho que é importante no trabalho voluntário é você se identificar com o trabalho. A partir do momento que você se identificou, eu acho que tudo fica mais fácil. Na realidade eu acho, assim, que muitas vezes você tem a motivação que está relacionada em ajudar, sem dúvida nenhuma, contribuir, essa coisa de contribuição mesmo. Mas você tem uma coisa que é sua, pessoal, e às vezes o voluntário não consegue identificar. Por exemplo, quando eu fui ser voluntário eu queria ser... Eu queria, além de ajudar, contribuir, eu tinha uma necessidade de colocar meus conhecimentos em prática, principalmente em prol de alguém. Aí o que é que acontece? O voluntário não consegue identificar isso, e ele acaba se desmotivando durante o trabalho voluntário. Então eu acho que esse é um ponto importantíssimo no trabalho voluntário, e que às vezes ele não consegue identificar, então fica uma semana num trabalho voluntário e não dá certo, aí vai pra outro que também não dá certo. Muitas vezes ele também não é orientado corretamente, e aí você fica quicando em organizações.
P/2 – Quando você atuou, você sentiu que era um grupo forte, bem comprometido? Ou vocês chegaram a ter algum problema?
R – Não, sempre foi. O grupo de voluntários... Eu sou suspeitíssimo pra falar, porque eu coordenava, sempre batalhei muito pelo trabalho voluntário na Gol de Letra, mas sempre foi um grupo muito responsável.
P/2 – Então você chegou a coordenar os voluntários? E como era esse trabalho de coordenação?
R – Isso. Era um trabalho de incentivar na própria Gol de Letra um trabalho voluntário, que tinha total apoio da diretoria, ela sempre viu a importância do trabalho voluntário, então era incentivado em todas as áreas. A gente começou num momento em que as áreas não absolveram o trabalho voluntário, alguns tinham até certa resistência, normal de um trabalho novo. Era selecionar voluntário, recrutar o voluntário, motivar... Porque é uma coisa difícil motivar uma pessoa. Enfim, era esse o trabalho.
P/2 – E como você motiva uma pessoa? O que é que você fala pra ela?
R – Motivar eu acho que são ações durante o seu trabalho. Motivar, quanto mais profissional você for, o voluntário também vai ser. O simples fato de você ser profissional, ele vai se motivar. E você o encarar como um profissional, isso também motiva. Na realidade eles têm uma exigência, pelo menos na Gol de Letra eu percebi isso muito; eles têm até... Eles se exigem muito também: querem um trabalho profissional, querem um resultado, querem ser cobrados. Mas eu acho que a motivação vai dele perceber que você percebe que o trabalho dele é importante; colocá-lo numa atividade que é importante; de você valorizar o trabalho; de você reconhecer; de dar feedback, nem que seja em 30 segundos, dizer "olha, seu trabalho foi assim, o resultado assim, impactou assim, olha a importância do seu trabalho; de você integrar ele na sua equipe. Não dá para você deixar o voluntário que vem uma vez por semana e não se preocupar com a integração dele. Porque ele vem uma vez por semana, ele vai estar completamente... Não vai ter um relacionamento com a equipe semelhante a de um profissional que está toda semana lá, então são essas ações que motivam o voluntário.
P/2 – Legal. Você falou de resultados. Você se lembra de resultados importantes da atuação dos voluntários?
R – Então, a gente teve... Aí tenho que pensar. A gente tem resultados, por exemplo, torneio. Um resultado imensurável, né? Tem resultados que você não consegue... Que é o atendimento direto, eu não saberia te dizer.
P/2 – E de retorno do voluntário, chegar pra você e dizer: "Gostei desse encaminhamento pra onde você me mandou". Ou alguma coisa assim, tem isso do voluntário dar um retorno?
R – Da realização do trabalho dele? Ah, sem dúvida. Isso mesmo informalmente você vê o voluntário "nossa, estou adorando, é isso mesmo que eu queria". Eu ouvi muito "nossa, aqui vocês são tão profissionais". Eu sempre enfatizo isso, porque eu vi isso na Gol de Letra e ouvi os voluntários falando muito isso: "Como vocês são profissionais", "como vocês se preocupam", "como é bom trabalhar". Então a gente teve profissionais que ficaram comigo cinco anos na Gol de Letra, cinco, seis anos porque realmente eles gostavam do trabalho.
P/2 – E você tem uma relação ainda com os voluntários da Gol?
R – Eu tenho, porque você acaba criando um vínculo muito forte. É muito engraçado, eu tenho bastante. São pessoas muito queridas, não tem como não ter.
P/2 – Várias Denises, não é?
R – Ah, com certeza (riso).
P/2 – Então você ficou na Gol por qual período?
R – Eu fiquei de 2000 até 2008, são sete anos.
P/2 – A gente está fazendo um resgate dos dez anos, você viu quanto tempo você tem desses dez anos?
R – É, bastante.
P/2 – Nesse tempo que você conviveu com a Gol de Letra, o que você diria que você percebeu de transformações na Gol de Letra?
R – Você fala na unidade, na...
P/2 – É, na Gol mesmo, na atuação ou na comunidade.
R – Eu vejo uma evolução, vejo que era muito diferente. A Gol de Letra ganhou um espaço muito maior na comunidade, uma aceitação muito maior, um respeito muito maior. Eu vejo até pelos depoimentos informais que você vê com a comunidade, com as pessoas às vezes que até trabalham lá, o quanto é importante a Gol de Letra pra família, o quanto o bairro... Às vezes eles falam assim: "Olha, o caminhão de gás nem chegava aqui! O caminhão do lixo nem chegava. Hoje até isso a gente conseguiu com o trabalho". Então você vê a evolução da própria comunidade falando. Ou você pega um jovem que fala "olha o quanto foi importante, o quanto eu me desenvolvi", então eu vejo isso de resultado, de evolução. Eu vejo essa evolução. Assim, eu vejo que a organização cresceu muito. Antes a gente era uma salinha pequenininha, tudo era muito pequeno, os computadores eram muito mais velhos, então era tudo mais difícil. Aí você vê o quanto foi evoluindo, o quanto foi crescendo, foi se desenvolvendo. Como foi até fisicamente se expandindo, os profissionais foram aumentando. Então nesse período eu identifiquei isso.
P/1 – Como esse trabalho refletiu na sua vida?
R – Na minha vida (riso)? Assim, eu acho que foi realmente uma realização muito grande profissionalmente, eu aprendi muito. Cresci, nossa, milhões por cento. Pessoalmente também foi uma realização muito forte poder contribuir com o próximo, poder contribuir para uma comunidade é muito importante, de realização pessoal. Como eu falei, eu era muito tímido, e não conseguia nem falar, sem dúvida nenhuma. Que nem eu, dei uma palestra na ONG; há dez anos eu jamais iria dar uma palestra na ONG. Não só pela questão do conhecimento que eu adquiri, mas pela questão do desenvolvimento. Imagina, eu tremia até eu não querer mais, igual eu estou tremendo aqui, mas ia ser muito mais difícil, então, assim, eu vejo até nessas pequenas coisas o quanto eu me desenvolvi, o quanto me fez... Olha, o quanto me fez ter valores importantes. Então pra mim é muito importante, não tenha dúvida. Acho que foi o emprego que eu mais me realizei, que eu mais gostei, sem dúvida nenhuma. Lá eu comecei a trabalhar, eu sempre me falo isso, eu comecei a trabalhar por um prazer enorme, não ganhava nada. Daqui a pouco eu comecei a trabalhar, fui remunerado, fui contratado, recebi esse convite pra trabalhar numa coisa que eu adorava fazer. Eu senti um tesão enorme, eu sempre brinco lá na _______, que voluntário tem que sentir tesão, funcionário tem que sentir um tesão enorme. E ainda era pago pra sentir um tesão, então pra mim eu acho que foi fantástico.
P/2 – A gente está quase finalizando, estamos fazendo o finalzinho. Só uma curiosidade, eu não mencionei essa palavra.
P/1 – É a primeira vez hoje.
P/2 – Geralmente quando o pessoal fala da Gol de Letra, aconteceu isso na entrevista, eu não sei se foi com o (pitching?) que a gente fez. A gente vai falar com as pessoas e elas pensam que é uma escolinha de futebol.
R – Ah, sem dúvida (riso).
P/2 – Não é isso? Existe certa confusão, né? E você, que trabalha como voluntário próximo até com captação, como era isso, tinha essa confusão?
R – Nossa! Hoje eu acho que tem mais, mas mesmo assim, se eu pego o telefone: "Ah, eu quero matricular meu filho pra jogar futebol aí, pra aprender a jogar", ou pensa que é formação de atletas. Isso é... Voluntário então, entra... Muitos vêm por causa dos dois que são jogadores, os dois instituidores. Então sem dúvida nenhuma é muito forte essa imagem. No começo isso era impressionante. Por exemplo, eu fazia a seleção dos voluntários, aí naquela época, de cada dez, seis a sete achavam que era uma escolinha de futebol, porque era ligada só à figura do Raí ou o Leonardo, e que não conheciam esse trabalho social. Hoje não, hoje eu vejo que as pessoas já conhecem mais o trabalho social, que teve uma divulgação maior. Eu acho que o trabalho de comunicação foi muito importante na Gol de Letra, foi muito importante para a captação, porque as duas áreas andam muito juntas. Então hoje é menor, mas mesmo assim as pessoas ainda associam à escolinha de futebol, mas bem menos. Eu acho que em cada dez mães que a gente atendia, sete achavam que era uma escolinha de futebol. Sócios também, eu trabalhei muito com a questão dos sócios, porque eu entrei lá, fiquei como voluntário, fiquei coordenando o trabalho voluntário, mas como funcionário eu fiquei muito mais na questão também dos sócios, e os sócios também achavam que estavam contribuindo pra um trabalho que era mais focado só no futebol. É impressionante como eles viam a questão do futebol. Eu lembro que naquela época a nossa estratégia era mesmo transmitir esse conhecimento do trabalho social da Gol de Letra para esses associados, pra comunidade, pros voluntários, pra sociedade, de uma maneira geral.
P/1 – Você chegou a trabalhar com os sócios também?
R – Isso, seis anos que eu fiquei como funcionário foi com os sócios. Na realidade eu fui pra captação, aí eu absorvi o trabalho de voluntariado, que era da área social, e também a questão do sócio, (defendi?) muito também o sócio lá. A gente desenvolveu muito a questão do sócio. Agora, quando teve uma divulgação, a Gol de Letra participou... Estava num processo de reestruturação, foi no final do ano passado, e eu me desliguei. O sócio estava um pouco parado, mas a gente investiu muito em sócio, na captação.
P/2 – Reestruturação que você fala é...
R – A reestruturação da equipe... No final do ano passado teve a reestruturação da Gol de Letra, né, da equipe.
P/2 – Você chegou a pegar a reestruturação de 2000, 2001?
R – Eu cheguei, fui um dos profissionais que foram contratados logo após essa reestruturação que teve. Nessa época eu era voluntário, então eu conheci um pouco de como estava o ambiente lá, como é que estava a situação...
P/2 – Como é que estava a situação nessa época da reestruturação? Você se lembra?
R – Eu lembro (riso). Lembro que era um momento delicado da Gol de Letra, que estava mudando os departamentos, basicamente eu me lembro disso. Estava num momento um pouco delicado da Gol de Letra.
P/2 – Você chegou a pegar a inauguração de Niterói, do Caju?
R – Eu não cheguei a participar, mas eu já estava na Gol de Letra.
P/2 – Você falou de sócios. Como é que é? Vocês ligam para as pessoas e elas ligam de volta? Como é que funciona isso?
R – Então, a mobilização se dá... Porque assim, a Gol de Letra tem muito essa questão da mídia, ela está muito na mídia, então isso facilita o trabalho de sócio, principalmente, facilita mais. Porque o que é que acontece: o sócio já entra ou liga pra gente e a gente... É um trabalho mais passivo pra gente, é receptivo. A gente fez muitas ações, porque no começo era muito receptivo. A gente começou a fazer campanhas, então fazia campanha com o Novo Hotel, fazia uma campanha no Torneio Gol de Letra, que é um evento, mas a gente utilizava também para captar sócio. Então a gente começou a ir muito, muito mais ativo. Tivemos um boom, chegamos a ter 800 sócios. A gente começou com 200, chegou a 800 sócios, por aí, quase 900 sócios, teve um boom com essas ações. Depois a gente deu uma parada até por outros focos da área de captação. A área de captação não focava mais tanto no sócio, mas quando eu entrei na área de captação, o foco muito forte era o sócio. Então a gente mudou de uma postura mais receptiva para uma postura mais ativa. A gente não, (riso) não utiliza... A Gol de Letra não utiliza a questão de telemarketing, de ficar ligando. Isso sempre foi uma postura da diretoria, e os profissionais todos concordavam de que não era a postura mais adequada pra captação, não era a nossa estratégia. Nossa estratégia seria de uma maneira ativa, sem dúvida nenhuma, mas de uma maneira mais sutil, com outra estratégia.
P/2 – Sobre a abrangência dos sócios, eles são mais de que região? Pega o Brasil inteiro?
R – Pega o Brasil inteiro, mas o foco é mais em São Paulo − sem dúvida nenhuma −, Rio de Janeiro e Brasília, estas são as regiões que têm mais sócios, eu acredito ainda que deve ter...
P/2 – E tem personalidades, assim, da...
R – Isso, que contribuem. Porque tem o sócio titular, que é sócio que contribui com recursos financeiros, então é uma contribuição de 20 reais por mês, por exemplo; e tem o sócio de honra, que contribui com a imagem. Por exemplo, Sócrates é um sócio de honra, que contribui. Em todo evento ele está lá contribuindo, além dele fazer parte do Conselho, ele também contribui como sendo um sócio de honra. Eu acho que tem a Maria Paula, tem alguns famosos que contribuem com a imagem.
P/2 – O Chico Buarque.
R – O Chico Buarque, é verdade.
P/2 – A Hebe Camargo...
R – A Hebe não. A Hebe é sócia titular, ela faz questão de contribuir. É muito legal, todo ano ela contribui.
P/1 – E tem algum feedback que a Gol de Letra dá para os sócios?
R – Então, a Gol de Letra dá o retorno. Na realidade a gente se preocupou muito com a captação, mas muito com a questão do retorno para o sócio. É como eu falei, muitos sócios ainda estavam vinculados à imagem do Raí e do Leonardo. A gente quis fazer um trabalho de comunicação pra vincular muito mais a causa, pra que ele conhecesse um pouquinho mais a causa, pra ele investir. Então a gente teve um trabalho de comunicação muito forte que impactou nisso, no relacionamento. A gente dá muito retorno de resultado via boletins, e até uma prestação obrigatória de contas todo ano. Então a gente... “A gente”, não (riso)! A Gol de Letra tem a prestação de contas todo ano para os sócios, tem boletim todo mês. Às vezes a gente faz um relacionamento muito forte com relação a brindes, e esses brindes sempre estão relacionados ao trabalho das crianças. A gente entrega um mousepad, que é um simples agradecimento pros sócios da contribuição dele, mas com imagens das crianças ou com o trabalho das crianças. A gente também tem os brindes, que na realidade é um marketing de relacionamento, a gente linka com todo o trabalho, que de alguma forma transmite como é que está esse trabalho, qual é esse trabalho. Então tem um relacionamento muito intenso.
P/2 – Agora a gente está fechando mesmo.
P/1 – Pra você, qual seria a importância da Gol de Letra fazer esse trabalho de memória?
P/2 – Espera aí, só uma coisinha antes. A Gol de Letra, se você pudesse traduzir em uma palavra ou várias palavras, como é que você traduziria?
R – Em várias (riso)! Mas eu acho que uma seria “oportunidade”. Eu acho que ela dá oportunidade para comunidade, para o funcionário, para o voluntário. Dessas oportunidades é que vem a transformação, que faz uma transformação ativa também. Então eu acho que talvez seria oportunidade, que eu vejo muito. Eu tive muito contato com os voluntários, eles falavam: "Nossa, como é bom estar aqui, eu já estive em várias organizações e nunca tive a oportunidade de fazer esse trabalho que eu estou fazendo". Aí você vê um jovem: "Eu tive oportunidade de estar nesse curso e hoje eu estou empregado não sei onde, estou desenvolvendo isso". Pra gente, que foi funcionário... Para o funcionário também é uma oportunidade de desenvolvimento, uma oportunidade tanto profissional quanto pessoal. Há uma oportunidade de contribuição, então eu acho que é a oportunidade.
P/2 – E no caso de uma missão que é colocada, aquela coisa de você contribuir para que a pessoa transforme a sua realidade. É essa a idéia?
R – É, eu acho que é por aí. Acho que, se falar de ter oportunidade, de fazer com que o outro transforme a sua realidade... Mas sem dúvida nenhuma, na Gol de Letra eu acho que é muito forte isso, ela te dá, mesmo você sendo um profissional jovem, mesmo você sendo um voluntário, ela te dá muita oportunidade de ação, ela não te limita. É claro que tem os valores da organização, mas ela não te limita, te dá muita oportunidade pra você desenvolver o seu trabalho, pra você contribuir, isso é muito marcante na Gol de Letra, deu muita abertura. Quando eu comecei eu tinha uns vinte e poucos anos, era muito novinho, e eu tive muita oportunidade para desenvolver o meu trabalho, pra fazer aquilo que eu gostava. Você estar direto com o Raí discutindo: "olha, eu não concordo com isso", "olha, eu concordo", "eu acho legal". Então tem muita abertura, acho isso importante. Tem abertura pra um voluntário que vai um dia só, como pra um funcionário, eu acho que isso é importante.
P/1 – Para você, qual é a importância da Gol de Letra fazer esse projeto de memória?
R – Qual a importância? Ah, eu acho que é importante resgatar pra ver o resultado de um trabalho. Acho que com isso você consegue até medir o resultado de um trabalho no depoimento das pessoas. É importante para que outras pessoas possam também utilizar, ver esse exemplo da Gol de Letra, que eu considero como um exemplo a ser seguido, que possam se motivar a construir trabalhos sociais como a Gol de Letra desenvolve, que são tão importantes. Eu tive lá atendimentos direto, eu trabalhava na parte administrativa, mas eu tinha contato com a comunidade, e é difícil explicar. Eu não sou um comunicador, então é difícil pra explicar, mas você vê o impacto que é, o quanto é importante pra aquela família, para aquela criança, para aquele jovem. Então o quanto é importante um trabalho social, é um exemplo que deve ser seguido.
P/1 – O que você achou de ter dado a entrevista?
R – Eu estou nervoso (riso). Ah, eu gostei, achei muito interessante. Eu agradeço, fico honrado, agradeço muito a oportunidade de estar... Eu acho que foi super tranquilo, vocês estão de parabéns. Vocês me deixaram − embora eu esteja nervoso − mais à vontade, eu acho isso importante.
P/2 – Tem alguma coisa que a gente não tenha abordado e que você gostaria de deixar registrado? Que a gente não tenha te estimulado a falar?
R – Não, eu acho que não. Acho que nesse contexto vocês absorveram tudo.
P/2 – A gente te agradece demais.
R – Obrigado!
P/2 – Sábado, né?
R – Eu espero que contribua (riso).
P/1 – Com certeza!
P/2 – É isso aí.
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