Decorridos os anos dourados da infância, vi-me aos 14 anos. O primeiro oficio que me surgiu, como para todos garotos daquela época: ser mensageiro. Era com honra o estágio para subir na vida dentro de uma empresa.
As primeiras correpondências, as primeiras ruas que descobria distraidamente – digo isso pois era aquela pergunta ingênua:
- Ô seu moço, como faço para chegar na Rua Direita?
O sujeito olhava-me com olhar de pena e ironia nos lábios, acendia calmamante o seu cigarro, e levantava os olhos para a placa da rua apontando:
- Você está na Rua Direita rapaz, preste atenção por onde anda.
Eu, sem graça desculpava-me como se fosse o maior pecado do mundo, e desta forma circulava pelo centro da cidade e bairros distantes na dura missão de mensageiro.
Pegava ônibus errado, trocava as correspondências dos destinatários, chuva e sol na cabeça e, ao final do dia, os calos e bolhas nos pés eram meus prêmios por mais uma batalha vencida.
De ônibus, saía do Jaguaré para Perdizes, Casa Verde, Bom Retiro, passava no Brás, Belém, voltava para Pinheiros, Itaim Bibi, Moema...
Hoje meu filho de 16 anos é o office-boy da empresa. Sua vida? É trem na Leopoldina, Lapa, Barra Funda...do Centro, Sé, vai prá qualquer lugar: Brás, Tatuapé, Carrão, Anhangabaú, República, Santa Cecília, Liberdade, São Joaquim, Vergueiro, São Bento, Luz, Tiradentes. Adora fazer baldeações. O Metrô e suas linhas... Quando penso que está no Jabaquara, já chegou no final da outra linha. Vejo hoje o quanto de benefícios esta evolução causou, chega-se mais rápido e tranquilo.
(História enviada em dezembro de 2003)