Meu caneco de plástico azul
Lá pelos anos de 1971, eu vivia com meus pais e meus irmãos na roça.
Eu tinha apenas três anos de idade.
Tudo de bom que acontecia em nossas vidas de criança, acontecia na casa de vovô Juvenal e vovó Maristela.
Vovô não era desses avôs que se apegam muito aos netos e lhes dão muita importância, ele era um homem que havia colocado doze filhos na face da terra
Colocou a todos para trabalharem no cabo da enxada logo cedo o chão era seco e duro, era quase sertão, que só via chuva, uma ou duas vezes por ano.
Dizia que tinham que plantar para comer e para comer, teriam então que trabalhar e plantar.
Sua descendência era italiana e ele pronunciava algumas vezes, palavras que não conseguíamos compreender.
Minha avó dona Maristela, era uma pessoa completamente alheia às situações do cotidiano, não gostava dos afazeres domésticos e sempre estava se sentindo mal.
Gostava mesmo era de ouvir novela de rádio, num cantinho da sala, onde ninguém pudesse importuná-la.
Mas, o que vovó mais adorava na vida era viajar.
Isso sim!
Para tanto, vovó sempre dava um jeitinho de convencer meu avô a mandá-la para uma viagem a lugares que ela considerava importante para se restabelecer dos seus mal estares.
Essas viagens eram quase sempre constantes.
Quando vovó estava em casa, gostávamos de dormir meus irmãos e eu, na casa dela, porque eu particularmente, adorava me sentar no chão, junto aos seus pés, para ouvir novela de rádio junto com ela.
Como casaram-se ainda muito jovens, meus avós tinham três filhos que eram da mesma idade que eu e meus dois irmãos, ou seja, tios e sobrinhos com a mesma idade.
Por isso, dividíamos tudo, desde as roupas até os calçados, incluindo aí, até as escovas de dentes.
Não era hábito comum entre as famílias, essa coisa de escovar os dentes todos os dias e se era, na roça ninguém ligava muito para isso.
Minha mãe era instruída e tentava transmitir seu...
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Meu caneco de plástico azul
Lá pelos anos de 1971, eu vivia com meus pais e meus irmãos na roça.
Eu tinha apenas três anos de idade.
Tudo de bom que acontecia em nossas vidas de criança, acontecia na casa de vovô Juvenal e vovó Maristela.
Vovô não era desses avôs que se apegam muito aos netos e lhes dão muita importância, ele era um homem que havia colocado doze filhos na face da terra
Colocou a todos para trabalharem no cabo da enxada logo cedo o chão era seco e duro, era quase sertão, que só via chuva, uma ou duas vezes por ano.
Dizia que tinham que plantar para comer e para comer, teriam então que trabalhar e plantar.
Sua descendência era italiana e ele pronunciava algumas vezes, palavras que não conseguíamos compreender.
Minha avó dona Maristela, era uma pessoa completamente alheia às situações do cotidiano, não gostava dos afazeres domésticos e sempre estava se sentindo mal.
Gostava mesmo era de ouvir novela de rádio, num cantinho da sala, onde ninguém pudesse importuná-la.
Mas, o que vovó mais adorava na vida era viajar.
Isso sim!
Para tanto, vovó sempre dava um jeitinho de convencer meu avô a mandá-la para uma viagem a lugares que ela considerava importante para se restabelecer dos seus mal estares.
Essas viagens eram quase sempre constantes.
Quando vovó estava em casa, gostávamos de dormir meus irmãos e eu, na casa dela, porque eu particularmente, adorava me sentar no chão, junto aos seus pés, para ouvir novela de rádio junto com ela.
Como casaram-se ainda muito jovens, meus avós tinham três filhos que eram da mesma idade que eu e meus dois irmãos, ou seja, tios e sobrinhos com a mesma idade.
Por isso, dividíamos tudo, desde as roupas até os calçados, incluindo aí, até as escovas de dentes.
Não era hábito comum entre as famílias, essa coisa de escovar os dentes todos os dias e se era, na roça ninguém ligava muito para isso.
Minha mãe era instruída e tentava transmitir seu conhecimento para o meu pai e meus avós, mas quando ela estava ausente, tudo acontecia exatamente igual, tudo voltava a ser conforme eram, os hábitos deles.
De todas as coisas que usávamos juntos, a única coisa que eu não permitia que ninguém tocasse, era meu caneco azul de plástico.
Era de um azul claro parecido com a cor do céu em dia limpo, muito lindo!.
Gorduchinho em seu formato e com uma alça bem larga, onde eu podia encaixar toda minha mãozinha.
Parecia que ele me conhecia e às vezes, eu tinha a impressão de que ele me olhava do lugar onde estava, lavado, limpinho, escorrendo toda água, emborcado no escorredor.
Café com leite era o que eu mais gostava de tomar e meu caneco de plástico azul também, pois vez ou outra, quando eu cheirava o plástico do meu caneco, podia sentir em sua composição, impregnado em seu corpo gordinho, o cheiro do café com leite quentinho que vovó com muita preguiça me servia.
Eu gostava de beber bem devagarzinho, enquanto as outras crianças engoliam em três ou quatro goles, para correrem de volta para o terreiro e brincarem.
Encantada, eu observava meu caneco azul com certa paixão.
Com o passar dos anos, fomos para a escola e nessa época, a merenda era mingau de aveia, cozido bem cedo, no fogão à lenha pelas próprias professoras, uma delas era minha mãe.
Na hora de merendar, corria eu depressa para a fila, com meu velho e conhecido caneco azul de plástico, já meio arranhado e gasto de tanto ser lavado.
Cansado de tanto café com leite quente, água fria, suco e mingau de aveia, todos os dias, por muito tempo.
Já bem roto, de um azul desbotado, mas por mim muito amado, mesmo ele já estando um tanto disforme.
Meu caneco de plástico azul se perdeu pela vida, perdi o seu paradeiro, nem sei onde foi parar o meu fiel companheiro.
Cresci e trilhei outros caminhos, beijei tantos outros canecos, mas não me esqueço nunca, do meu caneco de plástico azul.
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