Luiz Gonzaga de Medeiros

Memória Petrobrás

Depoimento de Luís Gonzaga de Medeiros

Entrevistado por Eliana Santos

Rio de Janeiro, 09 de março de 2005

Realização Museu da Pessoa

Entrevista PETRO_CB299

Transcrito por Viviane Fuentes

P/1 – Bom dia.

R – Bom dia, Eliana.

P/1 – Eu queria começar pedindo para o senhor falar nome completo, local e data de nascimento.

R – Eu sou Luis Gonzaga de Medeiros, eu nasci na cidade de Buri em São Paulo, em 7 de junho de 1954.

P/1 – O senhor pode contar para a gente como que foi e quando foi seu ingresso na Petrobrás?

R – Bom, eu ingressei na Petrobrás em fim de 1977 num concurso que eu fiz em Curitiba, eu estudava na Universidade Federal do Paraná, eu fui admitido como bolsista para concluir o meu curso de engenharia química na Universidade Federal do Rio de Janeiro, então meu primeiro contato com a Petrobrás foi aquele, eu me transferi para o Rio de Janeiro, fiquei aqui estudando um ano, durante 78 todo, e fevereiro de 79, aí efetivamente eu fui contratado pela Petrobrás para trabalhar na Refinaria Replan em Paulínia no Estado de São Paulo.

P/1 – Qual foi a área que o senhor foi atuar? Conta pra gente um pouquinho da sua atividade.

R – Eu cheguei em Paulínia e fui trabalhar na área de transferência de estocagem, que é o ____________ oleodutos e movimentações, mistura de produtos, eu fui fazer um estágio nessa área de mais ou menos seis meses até eu ter um conhecimento um pouco mais profundo dessa atividade, depois eu trabalhei com análise de processo ligada a essa área e mais tarde eu me encaminhei para outras áreas, logo em seguida, um ano depois, eu já estava em programação de produção.

P/1 – O senhor pode contar pra gente como que as refinarias tiveram que se adequarem aos óleos recebidos da Bacia de Campos. Como que o senhor viu isso ao longo da sua trajetória?

R – As refinarias são projetadas para processar óleo do Oriente Médio, normalmente baixo leve, árabe leve, árabe pesado, (kafti?), esses óleos que são do Kuwait, todos do Oriente Médio, normalmente, esses óleos tem um grau PI que a gente processava coisa de 28, 30 PI, que é um óleo bastante leve para os padrões atuais, quando nós vimos que a Petrobrás descobriu óleo na Bacia de Campos, aqueles campos começaram a pipocar as descobertas, no começo era um óleo relativamente parecido com isso, Cabiúnas, (garoupas?), mas conforme foi se avançando em direção ao mar, águas profundas, os óleos vieram bem mais pesados e também com outra característica, acidez naftêmica, então nós percebemos que aquilo não era processado com a planta existente que, por caso da acidez naftêmica, ela tinha que ser levada e, por causa de ser muito pesadão, dava muito fundo e pouco diesel, gasolina, que são as ______ mais nobres, isso tornava as operações da refinaria bem mais difícil, abordando o ângulo da acidez naftêmica, processando o óleo daquele tipo, as torres, os vasos, os (suplementadores?), seriam corroídos em pouco tempo e, por ser um óleo daquele, não atenderia o mercado, porque ele geraria muito óleo combustível e pouco diesel e gasolina, imediatamente se verificou que se tinha que tomar uma atitude, principalmente com relação a acidez naftêmica e, em seguida, quanto ao perfil de refino, foi o que as refinarias começaram a fazer, a cada nova parada de andar de processo, ela sofria algumas adaptações para aumentar a capacidade de processar o óleo naftêmico, a acidez naftêmica, e também para processar óleo mais pesado e obter um rendimento mais adequado em leves.

P/1 – O que isso mudou na sua atividade?

R – Pois bem, como eu trabalhei em várias áreas da refinaria, eu tenho me envolvido com várias áreas, basicamente naquela época eu estava em formação de produção, os petróleos brasileiros eram reservados só para produzir óleo combustível BTE, que era a grande especialidade deles e depois praticamente todos os óleos viraram BTE e já não tinham mais especialidade, então o desafio era como fazer os derivados que se fazia antes, tipo querosene de aviação que ficou difícil de fazer, águarraz, porque as qualidades...

P/1 – São produtos mais nobres...

R – São produtos mais nobres, o petróleo era obrigado a fazer para atender o mercado e esses petróleos novos e com os processos existentes eles não davam rendimento satisfatório, então, na verdade, foi assim um correr atrás da dificuldade que apareceu, quanto mais processava esse óleo mais dificuldade tinha, então, na minha função na época, a dificuldade era atender o mercado, tipo mercados especiais, que esse tipo de petróleo causava dificuldades.

P/1 – Conta um pouquinho pra gente que não entende muito, como é que é o processamento do óleo? Explica em linhas gerias pra gente entender um pouco.

R – O petróleo sai da Bacia de Campos, vai por navio ao (Temar?) o terminal (Moreira?) Barroso, lá no Temar é descarregado, colocado em tanque e é bombeado para quatro refinarias em São Paulo, Recap e __ pelo oleoduto (Osbati?) que vai até Cubatão, e pelo oleoduto Osbati que vai até Revap e Replan, esse óleo chegando na Replan, ele é colocado num tanque onde se tem um preparo, tipo tira água, um pouco de água e sal dele, deixa algumas horas de repouso, ele é tratado nesse processo, depois ele é alinhado, ele é enviado para a unidade de processo, cada petróleo é seu tempo, muitas vezes tem petróleo que faz asfalto, mas está numa época específica do mês, quando até cai do asfalto tem espaço, tem petróleo que faz que _________ tem petróleo que não faz , e assim por diante, tem as campanhas específicas e, às vezes, o óleo fica guardando uma campanha específica que ele vai ter que fazer, mas em geral ele chega na refinaria e processa logo, algumas horas de repouso e ele está apto a ser processado na refinaria, se o teor de água e sal já se enquadra na chegada, não precisa nem preparar, é só processá-lo, enviado para a unidade de processo, ele é pré-aquecido, tem um sistema de troca de calor de produtos quentes que estão saindo com o petróleo frio que está entrando para melhor eficiência energética, o ____ dele é salgado, o teor do sal dele é removido na faixa de 500 partes por milhão, para 3 partes por milhão, a água é removida também, sei lá, de 1% e 1/2% de água, ele é removido praticamente traços de água só no petróleo, e aí ele está adequado para o processamento mesmo, ele começa as separações nas torres de destilação, tem a torre _______ que tira nafta e GLP, tem a torre periférica que tira a nafta pesada, querosene e diesel, de leve para pesado, e depois tudo que foi possível tirar dessas torres é tirado em seguida é levado para um outro processo que se chama vácuo, onde é tirado o gás óleo, aí é submetido a um vácuo profundo, tipo 80, 100 milímetros de mercúrio de pressão e lá se tira o gás óleo, esse é carga do craqueamento catalítico, o fundo que sobra de vácuo, que era o grande problema, hoje em dia se destina grande parte de umidade dele para as unidades de coque que vão produzir diesel, basicamente, e gasolina, então, na verdade, o processamento ocorre por aí, as grandes mudanças foram destinar resíduo de vácuo numa unidade que transforma ele em produtos mais nobres.

P/1 – Ainda nesse assunto, eu queria perguntar para o senhor quais foram as tecnologias desenvolvidas para o refino nesses últimos anos, principalmente decorrentes desse óleo oriundo da Bacia de Campos.

R – A primeira tecnologia que se trabalhou foi nas próprias torres, se fez colocação de aço inox em diversos pontos das torres para agüentar a acidez naftêmica. A segunda tecnologia, também essa tecnologia é Petrobrás, a segunda tecnologia usada foi aumentar a capacidade das refinarias de lidar com produtos de fundo, nós chamamos de (revampe?), aumento de capacidade ou adequação que se foi fazendo, também com tecnologia nacional, aí surgiu uma outra questão, se gerava muito óleo combustível e a refinaria conseguia trabalhar com isso, gerar, mas tinha que vender esse produto muito mais barato no mercado internacional, daí o Cenpes entrou num acordo tecnológico em FP francês e começou a instalar unidades de hidrotratamento, hidrotratamento pega correntes instáveis, mais o diesel pesado de Marlim que tem compostos hidrogenados que são nocivos à qualidade, compostos de enxofre, e nós começamos a instalar hidrotratamento nas várias refinarias.

P/1 – Isso mais ou menos quando?

R – O hidrotratamento, na Replan, por exemplo, ele foi inaugurado em 99, mas refinarias como Revap e Regap já tinha isso desde a década de 80, até no princípio, quando surgiu essas unidades, nem sabiam bem nem para o que elas serviam, mas logo em seguida nós percebemos que elas são uma ajuda, e a lei ambiental foi mudando com o tempo, ficando bem mais rigorosa, e se viu que essas unidades são fundamentais para acertar a qualidade, então essa tecnologia foi implantada pelo Cenpes, Centro ______ Básicos, o serviço de engenharia contratou a montagem e a refinaria condicionou essas unidades para a partida. O HDT, o hidrotratamento, ele ainda está intimamente ligado a uma outra unidade que é coque, o coque ele pega então o resíduo de vácuo e transforma em diesel, sai 50% de diesel dessa unidade e o resto é gasolina, GLP, gás e coque, essa unidade gera um diesel de qualidade ruim, que não é adequado para o consumo, que tem que passar no hidrotratamento para virar um diesel de altíssima qualidade.

P/1 – Quer dizer que já está saindo dessa fase, do hidrotratamento ele tem que passar por mais um processo?

R – Exatamente que é o coque, isso gera uma grande quantidade de diesel, perdão, o coque é primeiro, primeiro você passa no coque e gera um ocorrente de diesel de qualidade ruim, esse diesel de qualidade ruim entra no hidrotratamento e vira um diesel de qualidade boa, ambientalmente correto, em termos de desempenho do motor, em termos de estabilidade do produto muito boa, então, na verdade, hoje em dia você tem um conjunto praticamente casado de coque e hidrotratamento, o hidrotratamento pode vir até sozinho, se você só quer remover enxofre do produto, vá lá, mas o coque não vem sozinho, porque o coque gera esses 50% de óleo diesel de qualidade, é impraticável para você usar como óleo diesel, então na verdade ele requer o hidrotratamento junto, são duas tecnologias desenvolvidas, o coqueamento é inteiramente do Cenpe, o hidrotratamento, ele tem um auxílio do IFP para projetar as unidades, onde ele projeta por si só e os craqueamentos catalíticos, que são unidades antigas, nós temos um que é de 72 e o outro que é de 92, por aí, eles foram adaptados com o passar do tempo para processar um gás óleo que é a matéria prima dele bem mais difícil de processar, outras matérias primas, tipo resíduo atmosférico, bem mais difíceis e o Cenpe também foi gerando tecnologia para que se colocasse cargas bem mais difíceis de se tratar, de processar nessa unidade de processamento de craqueamento catalítico, para gerar basicamente gasolina, 50% de gasolina, mas gera também uns 20% de diesel, 20% de GLP, então na verdade o diesel dela também vai para o HDT para ser tratado e virar um diesel de alta qualidade, a gasolina já sai quase que pronta, do FCC, então essas unidades foram modernizadas também em várias unidades, nós temos um programa de fundo de barril que as destilações foram modernizadas para pegar óleos mais pesados, o coque foi feito para processar esses resíduo de vácuo que veio da unidade que faz o óleo mais pesado, para transformar em diesel e gasolina, e o FCC foi melhorado para pegar cargas mais difíceis e transformar em produtos.

P/1 – Qual foi que o senhor sentiu como maior desafio para vocês nessas transformações?

R – Um desfio que eu reputo de grande, que eu tinha abordado até agora, é os óleos por serem muito pesados, por ser muito viscosos, eles tinham uma dificuldade de salgação muito grande e a (desalgação?) é a etapa que você aquece o óleo, em 120, 150, quanto mais alto melhor, você aquece os petróleos até essa temperatura para tirar sal e água, e os óleos brasileiros por serem muito viscosos, muito pesados, não separavam da água, então como você não pode mandar água para a torre de destilação, o que acabava acontecendo é que ia um pouco de óleo junto com a água para o sistema de tratamento, estações de tratamentos industriais, e nós acumulamos grandes quantidades num negócio chamado (islope?), de resíduo de TDI, __________, ele é separado da água e óleo, e esses resíduos foram se avolumando, aí nós tivemos que mexer na tecnologia de salgação para pegar esse óleo pesado, viscoso, e mesmo assim separar a água dele, isso foi feito com mais temperatura, foi feito com mais desalgação, ao invés de duas salgaduras nós começamos a trabalhar com quatro salgaduras, e o pacote de produtos químicos que punha lá dentro para separar o óleo e água teve que ser melhorado, então isso foi um desafio também, não se compara como o um desafio do Cenpe de projetar um coque, um HDT, mas para o pessoal local foi um desafio bastante grande de chegar, é uma fronteira, ninguém sabe se isso vai dar certo ou não até você estudar, projetar, implantar, e operar “deu certo!”.

P/1 – Essa iniciativa foi feita por vocês, não é?

R – Todas as refinarias tiveram de alguma forma que tomar uma iniciativa, a Replan, eu entendo que é pioneira nesse sentido, hoje em dia ela tem um estoque de resíduo baixíssimo, zero, tem 800, 900 metros cúbicos, nós tivemos 60 mil de islopes na refinaria, sem muita chance de usar, só ficava trancando os tanques, custando só, parado em dinheiro.

P/1 – Vocês tinham que ficar parado porque não tinha como processar?

R – Nós, a nossa parte, nós trabalhamos para resolver esse problema, e conseguimos, hoje em dia não há praticamente _____ de óleo, junto com a salmoura, é um produto que sai lá do desalgador por baixo que é uma solução de água mais sais, ela não pode carrear óleo, porque se não esse óleo, o meio ambiente, você tem que separar e o óleo que vai para a desalgadora não pode ter água, então é um processo de separação muito fino, então os produtos químicos, mais temperatura, mais tempo de residência no desalgador tem que ser mexido.

P/1 – E quanto barris mais ou menos são processados por dia, em média?

R – A Replan processa em média por dia 370 mil barris por dia, essa é a nossa carga.

P/1 – Isso em comparação com as demais?

R – A Replan representa 22% do refino no Brasil, mais ou menos 22%, atualmente. A gente fala entre 1/5 e ¼ do que o Brasil processa, é a maior refinaria, praticamente são duas refinarias inteiras lá, tem um conjunto de destilação, FCC e coque HDT e tem outro, produto igualzinho, destilação FCC e coque HDT, então são duas refinarias dentro de um só, e mais elas operam como características de terminal, ela recebe produtos de outras refinarias e faz misturas e tudo mais e bombeia para outros destinos, então ela tem características de ser uma refinaria dobrada e de ser um terminal de derivados também.

P/1 – Então a gente pode dizer que são duas unidades dentro da refinaria ou não?

R – São duas refinarias dentro de uma só, isso pode dizer, mas unidades são várias, são mais de dez.

P/1 – Ah, está, só para entender.

R – Uma de destilação, de coque é outra, HDT é outra, então são várias unidades, mas refinaria é um conjunto desse inteiro, na verdade então, nós temos dois conjuntos completos, não temos lubrificantes, porque o Brasil produz lubrificantes na Reduc e na Reland, é suficiente para abastecer o mercado nacional e não faz sentido ter uma fábrica em São Paulo, essas duas fábricas são plenamente satisfatórias, então não tem lubrificante.

P/1 – Senhor Luis, existe diferença entre o óleo oriundo da Bacia de Campos e do resto do país, ou não?

R – Tem, não é tanta, eu diria o seguinte, que o óleo da Bacia de Campos tanto faz o Rio de Janeiro ou Espírito Santo são bem parecidos. No Espírito Santo se descobriu algumas bacias mais ao Norte que são mais leves e na Bacia de Santos os furos que foram feitos resultaram em óleos mais leves, mas em pequeníssimas quantidades, então não dá nem para comparar, em Santos descobriu-se uma bela acumulação de gás, de 10, 400, no litoral paulista que é uma, já é um petróleo muito maduro, virou petróleo, virou gás até, esse negócio ficou alguns milhões de anos aí, agora o petróleo no Nordeste também não é muito petróleo, da Bahia é bem mais leve que aqui no Rio. Do Rio Grande do Norte, Ceará, também são mais leves, mas comparados com o Rio de Janeiro, com 1.400 milhão e os outros estados que produz, somando tudo são 200 bacias, é bem pouco comparado ao Rio de Janeiro, o Rio de Janeiro realmente é a grande jazida de petróleo que nós temos é a Bacia de Campos.

P/1 – Mas ele é mais pesado?

R – Mais pesadão, o Rio de Janeiro é mais pesado que o resto, mas como ele é a grande maioria, a gente só considera ele, porque o resto é pouco coisa, o Rio Grande do Norte, _____ uma reserva pequena, importante, mas pequena, é uma boa reserva, mas comparada com Campos, Campos realmente tem uma reserva, tem mega reserva, um dos grandes campos que foram descobertos no mundo, depois da 2º Guerra Mundial, é em Campos, para a sorte nossa.

P/1 – Eu queria que o senhor falasse um pouquinho em relação a essa preocupação, como o senhor mencionou com a questão do meio ambiente, o que o senhor acha que influenciou muito na atividade de vocês já que foi uma necessidade nacional, internacional.

R – O meio ambiente requer produtos, cada vez mais, com melhor desempenho ambiental, que jogue menos poluentes na atmosfera, no mar nem pensar, no chão também não, então, na verdade é basicamente atmosfera, combustível, uma vez queimado, ele gera gás carbônico, ele gera óxido de enxofre, óxido de nitrogênio, de hidrocarbonetos não queimados, então teve duas evoluções, primeiro, a do automóvel, o automóvel foi evoluindo de tal forma que ele consegue queimar todo o combustível e não gera compostos (podeínos?), cetonas, hidrocarbonetos não queimados que seriam poluentes. Da nossa parte, nós tivemos que evoluir e tirar a nitrogênio e enxofre, que são dois outros poluentes, que iriam para a atmosfera causando chuva ácida, então, na verdade, foi uma evolução conjunta, e também foi mundial, no mundo inteiro está ocorrendo isso, Europa e Estados Unidos um pouco na frente de nós, Brasil, e nós acompanhando eles dentro do possível, normalmente, nós pegamos a legislação européia com três, dois, quatro anos de defasagem e implantamos no Brasil, quer dizer, a gente prevê isso com muita antecedência, de fato a gente tenta chegar perto dos padrões europeus e perto dos padrões americanos, vai chegar uma hora que nós vamos empatar com eles, porque na verdade eles são países que consomem muito mais hidrocarboneto e combustível fóssil que a gente, eles têm problema de poluição bem maior, mas nós não vamos nos fiar nisso, nós vamos realmente transformar nosso combustível num combustível internacional.

P/2 – Você estava falando em relação a essas iniciativas tomadas por cada refinaria, vocês tiveram relacionados a algum programa de incentivo à tecnologia para refino?

R – Vários. No começo, nós começamos, por exemplo, como você gerava muito óleo combustível, e óleo combustível requer uma grande quantidade de diesel para diluí-lo, tipo 60% é resíduo de vácuo, a matéria prima vale pouco, e 40% é diesel. A matéria prima vale muito para vender por um preço que não é tão compensador assim, então a primeira tecnologia desenvolvida ao longo do refino foi incentivar a nós mesmos e depois incentivar os clientes a consumir óleo mais viscoso, que vai menos diesel, quando você __ óleo, vai 40% de diesel, pega o óleo 2 é 30, pega o óleo 3 é 25, pega o óleo 4 vai 20%, pega um óleo 7 vai 10% de diluentes, você percebe? Então nós fomos reduzindo a quantidade de diesel que se tem, o óleo fica mais viscoso, tem que ser transportado em temperaturas mais altas e consumido e estocados em temperaturas mais altas, por um desconto de preços, nossos clientes toparam isso, então tem um programa de óleos ultraviscosos, que nós chamamos, então normalmente para cliente tem que ter o óleo 1, o óleo 2, o óleo 3, o 4 e o 7, são todos óleos mais viscosos que o 1 e o 2, o 7, foi uma formas encontrada de reduzir consumo de diesel nas indústrias que, na verdade, a indústria estava consumindo uma mistura de RV mais diesel, quando mais você reduz o diesel, você consome o RV, resíduo de vácuo, que é a matéria prima mais barata. Os nossos clientes aceitaram bem o desafio e nós também passamos a consumir óleos mais viscosos no país inteiro.

P/2 – Em relação ao óleo da Bacia de Campos, o senhor apontaria algum programa específico visando tratar esse óleo?

R – É o que eu te falei, esse programa de consumir óleos mais viscosos começou a aumentar a quantidade de viscosos e, logo em seguida, nós passamos a trabalhar nesses projetos de coque, HDT, FCC para pesados o FCC só refinava coisa mais leve, passamos a colocar produtos bem pesadões dentro do FCC, tipo o resíduo atmosférico, foi uma forma de em gerando muito óleo combustível, como é que vivia com isso? Tem que reduzir essa coisa, como é que reduz isso para valer? Na unidade de coque, mais o HDT junto. Enquanto ela não está pronta o que é que eu posso fazer? Incentivar os consumidores a consumir um óleo mais viscoso, a gente mesmo a consumir um óleo mais viscoso, e processar parte desse óleo viscoso no FCC, pegar o ________ que a gente chama, resíduo para craqueamento, resíduo atmosférico para craqueamento e jogar na FCC, foi isso que a gente fez, enquanto esperávamos a unidade de coque aparecer, hoje nós temos duas unidades de coque em Cubatão, duas em Paulínia, uma na Regap e já estamos nos preparando para construir mais, Reduc, Refap, Repar, Revap, todo mundo está se preparando para construir outras unidades de coque que é ela que acerta o problema da sobra de óleo combustível de uma forma por atacado, aquelas atitudes que nós estávamos tomando era mais para varejo, o funcionário formou-se, e funciona até hoje, o que funciona mesmo é você instalar uma unidade de coque em maior quantidade.

P/2 – Eu queria que o senhor contasse para a gente alguma história interessante que tenha marcado sua trajetória ou engraçada, que o senhor possa contar para a gente, nesse tempo de trabalho.

R – Tem tanta coisa que acontece, não é? Eu trabalhei um tempo em turno e o pessoal de turno era muito animado, era um pessoal assim, eles trabalham num horário diferente da gente, eles rodam num horário diferente, então eles têm uma vida social à parte, o horário que coincide para quem está no Grupo 3, só quem está no Grupo 3, não adianta ficar no Grupo 5 ou no Grupo 1 ou no Grupo 2, ele está num horário diferente, então eles têm uma amizade entre eles, as famílias vão fazer churrasco junto, vão viajar junto, vão jogar bola junto, vão jogar baralho junto, eu achava interessante essa coesão que eles tinham dentro do grupo. Teve uma época que eu cheguei na refinaria e nós estávamos treinando o pessoal da Revap, então tinha bastante gente, era animado, mas depois o pessoal da Revap foi embora, nós passamos por vários processos de enxugamento de pessoal, a mão de obra foi um processo, que a empresa entrou nessa e fez com sucesso, mas era muito divertido ver todo aquele pessoal várias vezes, parecia um timinho de futebol, as pessoas tinham que estar juntas, não tinha outro jeito, quem estava de folga só o cara do grupo dele é que estava, daquela unidade onde trabalhava e de outras, a coisa que eu achei muito importante é a coesão que eles tinham, espírito mútuo e tudo mais, e o que a gente viu também é que o pessoal de turno é muito esforçado, muito deles estudavam, tinham que fazer trocas de turno para poder freqüentar a faculdade, ou seja, pegava aquele turno bem de fim de fazer, de zero hora, com o amigo dele que fazia para ele 8/16, que ele ia na faculdade, ou 16/24, seria a noite, é um horário bom de fazer, então na verdade ele estava sempre trocando pelo zero hora que ninguém queria, então tem muita gente esforçada extremamente esforçada para concluir uma faculdade, o grau dos nossos operadores é muito elevado em função de que o grande número deles é formado em alguma coisa, mas grande parte do nosso pessoal de nível médio, é formado em alguma coisa, são pessoas com formações de importância aí fora e tudo mais, mas esse grau de coesão, o jeito que eles trabalhavam, o jeito que eles faziam as coisas me impressionou muito. O que me impressionou muito também foi à habilidade que eles têm com a mão, de montar coisa, consertar e fazer e construir, eu achava aquilo, porque eu não tenho essa habilidade, de fato, eu nunca tive, minha habilidade é raciocínio rápido, foi isso que Deus me deu, mas eu nunca fui páreo para eles, aquelas coisas todas que eles tinham, fui coordenador de turno lá, praticamente dois anos lá na refinaria, é impressionante a habilidade que eles tinham, a acolhida que eles tinham para gente também, eles inventavam de fazer comida na casa de controle, naquela época não era só servido lanche, hoje em dia só é servido comida, hoje está mais difícil, foi muito bom aprender com aquele pessoal, aquele ato de solidariedade que eles tinham, a vida que eles levavam, eu aprendi muito também da técnica que eles tinham, a gente tem uma formação acadêmica forte, mas quando você vê a técnica, o cara usando, você aprende rápido também, devido ao grau de formação que a gente teve, mas foi muito bom passar em turno, foi muito bom conhecer muita gente e ver que eles têm uma habilidade que a gente nem sonha em ter.

P/1 – Atualmente o senhor está como...

R – Eu estou como coordenador da otimização da refinaria. O que é que eu faço? Programo a produção da refinaria junto com a equipe, todas as matérias-primas que vão chegar, que vão ser processadas e todos os produtos que vão ser feitos, o que vai ser entregue aos clientes, na verdade a gente programa a produção em consonância com a logística da sede, que é a que programas as refinarias com um todo, a união das refinarias é com a logística da sede, esse é um trabalho que eu faço para atender os clientes internos, que são as unidades, providenciar todas as matérias primas para todas elas, o tempo todo, para nenhuma sofrer redução de carga ou paralisação por falta de matéria prima, é uma vergonha muito grande se acontecer isso. A segunda é preparar todos os derivados para os nossos clientes levarem, então nós estamos atendendo os clientes, para os meus clientes internos que são as unidades que têm que operar, segundo os clientes externos que são as companhias que compram os produtos junto a Replan e junto aos oleodutos abastecidos pela Replan e mesmo os que estão lá fora, Singapura está comprando o óleo nosso, sei lá, Porto Rico também compra óleo combustível.

P/1 – Quais são os principais produtos, são todos ou existe uma diferença?

R – Não, existe uma diferença fantástica, hoje em dia os produtos que valem numa refinaria standard, o produto que vale, dizem que é o _____ de aviação, esses produtos estão hoje na faixa de U$ 70 por barril, que a gente importa e traz tudo aqui com frete e tudo dá U$70 por barril, você pega uma nafta, uma gasolina está na faixa de U$50 por barril, a nafta importada, gasolina exportada está na faixa de U$45 o barril, bem menos, quando você fala em exportar um óleo combustível a U$25 comparado com um diesel 70 não tem a menor graça, então tem que fazer é diesel, na verdade eu tenho outra atividade lá dentro, que eu sou coordenador de otimização, é fazer com que tudo vire diesel, tudo que for possível virar diesel, tem que virar diesel, porque a empresa importa e isso é muito caro, é um dispêndio de divisas imenso com isso e o lucro vai para o ralo, então tudo que é nafta, que tem alguma característica em diesel, que eu possa agregar ao diesel, tudo que é parte pesada do petróleo que eu posso colocar diesel e, ainda assim, atender qualidade, atender todos os requisitos da legislação, tem mais que fazer, que realmente ele vale muito, ele vale demais.

P/1 – Vocês priorizam o diesel, mas também atendem os demais produtos?

R – Atendemos tudo, porque para nós o cliente é muito importante, eu falei de um cliente, que é o cliente interno, o cliente externo e tem o acionista, o acionista é um grande cliente nosso, que é quem nos contratou para fazer o serviço que ele, acionista, achou que é importante fazer, então, na verdade, nós estamos sempre tentando, sempre trabalhando para atender todos os clientes internos, todos os clientes externos com economicidade que é o que atende os nossos acionistas.

P/2 – O senhor continua também na refinaria?

R – Eu trabalho coordenando essa atividade dentro da Replan, de modos da gente fazer os derivados que dê mais retorno na empresa e atender tudo que a cliente necessita.

P/1 – Eu queria perguntar o que o senhor achou de ter participado do Projeto Memória Petrobrás e ter contribuído com esse depoimento.

R – Eu acho muito bom, porque a gente já está numa fase da carreira que nós estamos transferindo coisas para os outros mesmo, já é um projeto pessoal meu começar a preparar novos, para assumir funções para que a empresa continue tendo esse desempenho, crescendo, precisa de gente, porque gente é a coisa mais importante que tem, a gente já está numa fase de contar o que a gente sabe mesmo, para os novos, para o Projeto Memória, para os gerentes que estão chegando e tudo mais, então é uma hora de a gente fazer com que aquilo que a empresa permitiu que a gente aprendesse seja compartilhado com todos, eu acho muito bom e daqui a alguns anos se eu ver em algum lugar, eu vou dizer: “olha! eu estou lá, eu estava lá ajudando o pessoal a contar essa história da Petrobrás.” que é um negócio muito importante.

P/1 – A gente agradece demais, gostamos muito.

R – Eu que agradeço o convite e a oportunidade.

Fim da entrevista 11

Fim do CD