Projeto: Memórias do Vale do Ribeira - Diálogos
Depoimento de Lucas Novaes de Albuquerque
Entrevistado por Danilo Eiji e Iamara Nepomuceno
Cananéia, 28 de julho de 2011
Realização Museu da Pessoa e Núcleo Oikos
Entrevista: MVRHV006
Transcrito por Quelany Vicente
Transcrição revisada por Ia...Continuar leitura
Projeto: Memórias do Vale do Ribeira - Diálogos
Depoimento de Lucas Novaes de Albuquerque
Entrevistado por Danilo Eiji e Iamara Nepomuceno
Cananéia, 28 de julho de 2011
Realização Museu da Pessoa e Núcleo Oikos
Entrevista: MVRHV006
Transcrito por Quelany Vicente
Transcrição revisada por Iamara Nepomuceno
Lucas Novaes de Albuquerque
P/1 – Para começar eu queria que você falasse seu nome completo, o lugar e a data de seu nascimento.
R – Meu nome é Lucas Novaes de Albuquerque, nasci no Vale do Ribeira, no Hospital de Pariquera-Açu, aí morei dez anos em Juquiá, depois passei a morar em Cananéia e vim para cá em 2001.
P/1 – Entendi. Desculpa, você nasceu no dia...
R –... No Hospital de Pariquera-Açu... O dia? 27 do seis de 89.
P/1 – 27 do seis de 1989, Pariquera-Açu...
R –... Fui criado em Juquiá, até os onze anos, depois comecei a morar aqui na cidade de Cananéia.
P/1 – Juquiá é aqui perto?
R – É. Vale do Ribeira, um pouco antes de Registro.
P/1 – E fica no alto? Juquiá fica mais para a serra assim?
R – É, em Registro vindo para São Paulo, mas é vizinho de Registro.
P/1 – Lucas, antes de começar a falar sobre você mesmo, eu queria que você me contasse um pouco sobre a sua família. Você conhece a história da sua família, você conheceu os seus avós...?
R – Meus avós não. Mas eu mais ou menos sei...
P/1 – Você sabe um pouco? O que é que você sabe da história da sua família? Conta pra gente!
R – Então, pelo que meu pai falava, ele era pernambucano, daí ele veio de Pernambuco para o Vale do Ribeira. Antes ele tinha uma outra esposa, outra família. Chegou aqui e passou a conhecer minha mãe, conheceu minha mãe, com eles fez a família. Eu tenho dez irmãos, fomos todos criado em Juquiá. E Sempre criado junto à lavoura, a gente morava em Juquiá, na cidade, mas sempre trabalhou com agricultura – agricultura e comércio, que era quitanda e essas coisas assim... Depois quando viemos para Cananéia foi para trabalhar com isso também: agricultura. Em Juquiá quando nós morávamos lá era com a agricultura convencional, que é com veneno, assim... Quando nós passamos para cá foi com a parte orgânica, que nós pudemos valorizar mais os produtos e tal... E... Então, daí sobre o meu pai...
P/1 – A gente vai falar sobre tudo isso, pode ficar tranquilo... Deixa perguntar: bom, então seu pai veio de fora e a sua mãe já era da região...?
R – Era da região, isso, ela nasceu em Pedro de Toledo. E meu pai em Pernambuco, em Feira Nova.
P/1 –... Pedro de Toledo...?
R – Fica no Vale do Ribeira também, para cima de Peruíbe.
P/1 – Entendi. E o que seu pai fazia antes de vir para cá...?
R – O que ele me diz é que sempre trabalhou em agricultura. Lá acho que ele chegou a trabalhar em fábrica de cana. Depois ele passou veio ao Vale do Ribeira, na época ele veio de navio, que foi aquele navio de... Maria Fumaça chamava assim porque era movido a carvão ainda, na época. Quando ele veio de lá, veio com 16 anos, ele nasceu em 1924, o ano passado ele faleceu com 86 anos.
P/1 – 86 anos... Você sabe como eles se conheceram ou não?
R – Sim... Pelo que eles contam é que meu pai tinha... Ele já era separado da outra mulher, tinha uma quitanda, minha mãe foi pedir emprego para ele, para trabalhar na quitanda, daí chegou lá e pegou o emprego, se adaptaram os dois (risos), ficaram até o ano passado quando ele faleceu.
P/1 – Se adaptaram é boa! (risos). Lucas, e me fala um pouco: seus irmãos? Dez irmãos? Você é o que?
R – Eu sou... Mais velho do que eu tem cinco, e quatro mais novos do que eu. Sou do meio...
P/1 – Entendi.
R – Mas são oito meninos e três irmãs. O total são onze, porque nasceu um mais novo...
P/1 –... E os irmãos são ciumentos ou não?
R – Não, não são ciumentos, está tudo bem.
P/1 – Então fala um pouco da sua infância, como é que foi a sua infância em Juquiá, conta pra gente!
R – Ah, lá eu ajudava o meu pai na horta, essas coisas assim: fazia feira com ele...
P/1 – O que é que é ajudar na horta? Como é que era...? Aonde vocês iam...?
R – É capinar na horta, ajudar a irrigar, transportar mudas. Também lá eu estudava e me divertia. Era cidade e não ligava muito para essas coisas, mas depois quando eu mudei para cá, me adaptei muito e estou até hoje trabalhando com agricultura.
P/1 –… Em Juquiá vocês moravam na cidade e você trabalhava com seu pai onde?
R – Na produção mesmo, era cidade, mas havia um terreno grande, era quase um alqueire e ali se cultivava as verduras e essas coisas.
P/1 – Entendi. Mas era uma coisa pequena?
R – É, era uma coisa pequena, os produtos que eram feitos ali eram vendidos na feira.
P/1 – Que feira? Feira da própria cidade?
R – Feira da cidade.
P/1 – Então vocês moravam na cidade, mas o que, na periferia? Descreve um pouco pra mim.
R – Não, o lugar onde a gente morava era centro da cidade mesmo, do lado do centro, por exemplo, era como no bairro de Vila Sanches e o principal bairro era Vila, eram vizinhos os dois bairros. Como a área do meu pai o terreno era grande demais, ele cultivava as plantas dele. E era comercializado na cidade mesmo. Porque a cidade de Juquiá não é uma cidade grande, as pessoas vivem mais de agricultura, a maioria, assim. Porque não tem essas indústrias e comércio. E aí passam a procurar essas áreas.
P/1 –... E a família qual era... Enfim, vocês iam para escola...? Como é que era?
R – É, todos iam para escola (…), os dez. Quando eu saí de lá acho que só tinha mais um... Quando eu saí de lá, acho que o último que nasceu foi em 2000, aí veio eu e mais os quatro, o resto já eram casados já e aí ficaram para lá.
P/1 – E como eram seus pais, eram pessoas que conversavam muito...? Eram mais rígidos, como eles eram?
R – Não. Eram simples assim, mas indicava a gente o caminho certo, o correto... Indicavam qual que era o lugar correto para a gente andar, essas coisas assim que os pais explicam mesmo para os filhos. E...
P/1 –... Entendi. E você se dava bem com eles?
R – É, eu morei até o ano passado em que ele faleceu. Ele ficou com a minha mãe cerca de 35 anos. Minha mãe tem 53, e ele faleceu com 86. Mas tem a outra família dele também, que nós também nos damos bem. Com a outra esposa ele teve nove filhos, ao total parece que são 19 filhos.
P/1 – Mas a família que estava no Nordeste, é isso?
R – Não, ele veio com a família do Nordeste. Quando ele veio com a mulher dele do Nordeste para cá, acho que veio com dois filhos só, e aqui ele teve os demais.
P/1 – Poxa, e vocês se dão bem?
R – É, e a outra família dele tem gente que mora no Vale do Ribeira e para o sul. Mas todos nós nos damos bem.
P/1 – E me conta o que vocês faziam em Juquiá, quais eram as brincadeiras que vocês faziam...? Qual que era a diversão?
R – Ah, a diversão era brincar na rua, porque na rua moravam os vizinhos, brincávamos de esconde-esconde, pega-pega, queimada... Essas coisas... Empinávamos pipa, jogávamos peão... Eram essas coisas...
P/1 – Brincadeira de rua?
R – É, brincadeira de rua.
P/1 – Entendi, entendi... E você sempre ficou estudando e trabalhando, ou não? Desde criança?
R – Não, eu comecei a trabalhar acho que tinha sete, oito anos. Antes a gente ajudava o meu pai mesmo. Mas foi nessa faixa que eu comecei a trabalhar.
P/1 –... E qual foi o seu primeiro emprego registrado, por exemplo?
R – Nunca trabalhei registrado. Sempre trabalhei na agricultura. Por conta nossa mesmo.
P/1 – Sempre uma agricultura familiar...?
R – Isso.
P/1 – E como é que funcionava lá em Juquiá e como que funciona hoje? Conta pra mim como é que era lá e como que é hoje, por exemplo?
R – Antigamente lá ficava mais por conta do meu pai e da minha mãe, eu não sei te dizer mais ou menos, porque eu era criança e era entre eles. Lá eles trabalhavam na agricultura convencional. Com a produção, o que eles conseguiam por mês, mantinham, traziam alimento para casa, essas coisas assim... Gastavam também com produção química, para jogar na horta... Quando viemos para cá que eu estava mais a par das coisas, ficou eu e meu pai trabalhando nisto. Minha mãe começou a participar de umas reuniões da agricultura familiar da cidade e nós vimos o lado melhor, que era trabalhar na agricultura orgânica, porque além de trazer um produto saudável, ainda era mais fácil para gente se manter, pois não precisava gastar com química... Até hoje nós temos uns dois alqueires de plantação. Aqui nós trabalhamos com hortaliças e agro-floresta. Que são aqueles sistemas que enquanto uma planta está crescendo no processo, tem outra que já pode ser colhida. Que é plantado em um pequeno espaço e são plantadas várias plantas: frutíferas, bananeiras, verdura...
P/1 –... Desculpa, eu quero visualizar isso: me fala qual que é o tamanho da propriedade, como é que ela é organizada, como que você se organiza no trabalho...? Queria que você me explicasse um pouco como é que é a dinâmica hoje do trabalho de vocês?
R – No sistema atual em que nós trabalhamos são em etapas. Lá no sítio, somos eu, minha mãe e meu irmão que cuidamos. São 40 metros de frente do sítio, aí esses 40 metros são... Não, são 48 metros de frente, que é desmatado na beira da pista. Aí pega no sentido para Serra acho que uns 500 metros de fundo. Mas no sítio, o total acho que são quatro alqueires. Mas nós utilizamos acho que dois hectares que tem...
P/1 – Quatro alqueires, só para eu ter uma noção, quanto que é, assim, em campos de futebol, vamos lá! (risos).
R – Eu não sei. Mas em hectares são 9,68 hectares. Aí alqueires eu não sei.
P/1 –... É um quarteirão aqui...? Quatro quarteirões? Quanto que é só para eu ter uma noção?
R – Acho que dá uns dois campos de futebol, acho que deve ser.
P/1 – Tá, 48 de frente, só trabalham vocês três... Então vamos lá...
P/1 –... Nós três. Os outros três estudam. Aí eu sou o agro-floresta, aí onde tem a parte de agro-floresta, já a horta é separada onde se produz, porque ela tem que pegar a luz do sol, não tem como manter embaixo das árvores. Temos também um tanque de peixe, que é só para nós mesmo, para o consumo, criamos tilápia. E temos um viveiro de mudas, pois nós fazemos mudas para produção própria mesmo, onde tem estufa de mudas para horta e mudas frutíferas.
P/1 – Ah, vocês tem uma parte de frutas também?
R – Isso.
P/1 – E o que vocês estão produzindo ali?
R – Agora tem mais verdura mesmo, porque essa época não tem frutas.
É por época e chega a partir de maio a junho mais ou menos.
P/1 – E me explica como são as épocas? Como que é a dinâmica, vamos pensar no ano: esse ano, vamos lá, de janeiro até dezembro, como que é que conseguem...? Como é que vocês se organizam?
R –... A produção? De janeiro a março é a época de colheita de mandioca que nós fazemos, mandioca e milho. Só que eles são plantados no mês de agosto, são seis meses para poder colher. São de janeiro a março. De março, já no comecinho do inverno, que vai até agosto nós trabalhamos com a parte de horti, tudo variado. E entre essa etapa, de maio a agosto, colhemos frutos também. É que depende do clima também, porque aqui chove muito também. Depois de agosto, de agosto a dezembro, já tem pouca produção. A maioria das frutas que dão nessa época, minha mãe pega e faz processo em compota, para daí poder ter essas coisas... Com pesca a gente não trabalha.
P/1 – É pesca para vocês e a horta mais para vocês também...?
R – Não, a pesca é para nós... Pega também a parte da maré, mas pesca, essas coisas, a gente não trabalha...
P/1 –... Pega a parte da maré, como assim?
R – Por exemplo: o nosso sítio é repartido pela estrada, você indo pelo lado de cima que é a serra, e tem a parte que é o mar, do lado de baixo. E por isso que eu falo que tem uma época, tem canoa também, mas pescar a gente não pesca. A canoa é para se divertir, para passear. Também não nos ocupamos com pesca, porque não tem tempo.
P/1 –... Não?
R – Assim, tipo, tempo, a gente trabalha com uma coisa e se for trabalhar com outra não tem como, nós somos voltados mais para o trabalho com agricultura.
P/1 – Entendi. E me conta: por que é que vocês vieram para cá, para Cananéia?
R – Pelo que eu sei foi que o meu pai e minha mãe estavam em Juquiá, e como estava crescendo a cidade, a situação estava já meio difícil, muita bagunça. Ele queria tirar a gente daquela cidade, trazer para o sítio e também queria se adaptar mais, porque meu pai gosta de roça. Pelo que eu entendo foi isso que ele fez... Ele veio para esta cidade, veio conhecer o lugar, gostou, e ficou. Foi feita uma troca com um pedaço do terreno lá de Juquiá com o sítio daqui.
P/1 –... Vocês tem uma parte lá ainda?
R – Agora só tem uma casa.
P/1 – E vocês costumam ir para lá?
R – Não. Só nas férias que a gente costuma ir na casa dos nossos irmãos.
P/1 – Isso que eu ia perguntar: como é que ficou a família?
R – Tem cinco que moram lá e cinco aqui e um em Registro.
P/1 – O pessoal trabalha com que? O que é que aconteceu com os dez irmãos?
R – Dois trabalham em posto de gasolina, um trabalha no mercado, dois trabalham em mercado e um trabalha na prefeitura em Registro. E a outra é só casada mesmo.
P/1 – Vocês estão aqui em Cananéia: você, seu irmão e sua mãe?
R – É, eu e quatro irmãos mais novos e minha mãe.
P/1 – Entendi. E o pessoal mais novo também ajuda?
R – É, ajuda. Mas quem trabalha sou eu, o que é um pouco mais novo do que eu, que tem 19 anos. Eu, meu irmão e minha mãe só.
P/1 – Quando você mudou para cá, você estava com quantos anos, Lucas?
R – Eu estava com onze para doze.
P/1 – Como foi a chegada em Cananéia, como foi a recepção das pessoas, como foi...?
R – Quando eu vim de lá para cá, como eu morava na cidade, chegando aqui eu não queria, por exemplo, essas coisas... Eu não me adaptava porque era sítio. E lá eu morava no centro da cidade. E quando eu cheguei aqui com tudo, e trabalhava com horta e essas coisas, eu levei um choque. Mas pela recepção na escola foi bacana, as turmas são bem parceiras. Devido a isso que eu fui me adaptando mais. Hoje se me pedir para sair não saio, porque eu já acostumei aqui.
P/1 – O que é que você fazia no centro da cidade, quando você diz que foi um choque, como era essa vida no centro?
R – Ah, lá acho que era porque tinha mais pessoas. Como eu vim ainda criança para cá com 12 anos deixei lá mais amigos. Eu cheguei aqui e era meio neutro, só tinha a gente no lugar. Uma família com distância de 50 metros e outra. 50 metros não, uns dois quilômetros. E criança quase não tem no bairro, só mais gente de idade. Devido a isso acho que no começo não me acostumei, mas agora, hoje, já sou acostumado. Se me falarem, porque tem muitos que falam. “Você está morando no sítio ainda? Por que não foi para cidade grande?”. Eu respondo: “Ah, porque eu não quero, porque eu me adaptei aqui e tudo!”.
P/1 –... Como que é morar num sítio, me conta como é um dia seu...?
R –... Ah, eu acho que é pelo sossego... Que eu gosto muito de passarinho, gosto muito de mexer com mato, essas coisas assim...
P/1 –... Descreve para gente um dia seu... (pausa) Acho que alguém abriu aqui...
R – Descrever um dia o que eu faço, assim?
P/1 – É, se acorda de manhã, se acorda meio-dia... (risos).
R – Não. Eu acordo... (risos).
P/1 – É alguém? Deixa ir lá... Deixa ele... Tudo bem? Então, eu tava querendo que você me contasse seu dia, o dia normal no sítio.
R – Eu acordo sete horas da manhã, vou irrigar a horta – que tudo é feito manual, que não tem bomba; depois termino – mas também eu tomo café antes de tudo. Depois de terminar de irrigar vou mexer um pouco em cada coisa: eu desbasto a bananeira, jogo esterco nas plantações. No dia-a-dia você vê. Eu mexo lá num canto aqui, mexo no outro.
Porque somos só eu, minha mãe e minha irmã, no caso para poder manter os dois alqueires, precisa mexer todo dia, um pouco em cada coisa. Então tem que cuidar direitinho, porque tem umas criações também de galinha e umas coisas assim...
P/1 – Eu queria entender, assim: porque vocês trabalhavam de um jeito lá em Juquiá e quando vocês vieram você falou que foram trabalhar com a questão orgânica, né? Como foi essa transição, eu queria que você me explicasse melhor, vocês tiveram que aprender um jeito novo de fazer...?
R – Então, no começo lá em Juquiá, meu pai tinha um pequeno pedaço em que trabalhava com frutíferas e banana, que ele já plantava no sistema, mas em Juquiá ele chamava de roça baiana, era como se falava antigamente. (…) É, era conhecido como roça baiana, quando viemos morar na cidade, ele começou a plantar assim, no mesmo sistema que ele plantava em Juquiá, aqui é que deram o nome de sistema agro-florestal e ele conheceu como isso, mas na verdade ele já trabalhava com isso.
P/1 –... E como que é esse sistema agro-florestal?
R – Agro-florestal é, por exemplo: você chega em um lugar e se tiver árvore nativa você tem que manter ela e tem que fazer com que suas outras plantas se adaptem àquele local e se desenvolvam. Porque depois quando estiver no porte certo de tamanho, você faz a poda daquelas árvores nativas, mas não chega a eliminá-las de uma vez. E se você está mantendo as árvores nativas e está consumindo também da terra.
P/1 – E ele já fazia isso em Juquiá (…) sem nem saber...
R –... Sem nem saber que trabalhava com isso, então, mas aí a questão... Lá em Juquiá ele trabalhava no convencional, e aqui passou ao orgânico, porque minha mãe que quis mais passar para o orgânico, porque a saúde do meu pai estava meio ruim e os médicos falavam que era devido ao veneno e as coisas que ele improvisava, assim. Minha mãe começou a participar de reuniões, de debates sobre orgânicos, essas coisas... Aí...
P/1 –... Aonde?
R – Aqui na cidade mesmo, em reuniões dos agricultores daqui do município.
P/1 – E você já participou de uma dessas?
R – Já participei.
P/1 – Conta para mim uma, como que é?
R – Então lá no debate eles vêm, é tipo um intercâmbio. Um agricultor de outro bairro conta como planeja, como é o planejamento do sítio dele, aí outros levam... debatem. Analisam qual o método mais correto, tem sempre um especialista que entende mais e ajuda em como lidar com isso, com a situação.
P/1 –... Quem é o especialista que sabe mais?
R –... É tipo um agrônomo que vem nas reuniões, são convidados. Tem a Rede de Cananéia, que acho que desde 2006, 2007... eles agora passam... Os agricultores são afiliados a eles e são com o SINTRAVALE (Associação de Trabalhadores da Agricultura Familiar do Vale do Ribeira e Litoral Sul de São Paulo – Sub-Sede Cananéia) que daí hoje em dia, os agricultores por exemplo, quando estão em dúvida sobre alguma coisa, pegam e falam para eles: “Ah, nós queremos, estamos em dúvida assim, assim”. Eles correm atrás dos profissionais da área para poder fazer uma palestra, para discutir sobre a forma correta...
P/1 –... SINTRAVALE...? O que é que é a SINTRAVALE?
R – Ah, não sei se agora eu vou lembrar... É uma coisa dos agricultores, tipo agricultura familiar...
P/1 – Você faz parte?
R – Minha mãe faz. Nosso sítio lá faz. SINTRAVALE é sistema... Não vou conseguir lembrar agora... Do trabalhador... É alguma coisa de trabalhador rural, tipo busca verbas do governo. Eles são responsáveis, por exemplo: se o governo manda uma verba, eles repartem entre os agricultores para fazer reunião, para o transporte, por exemplo: tem muitos que moram longe, e se vai ter reunião em tal dia, eles pegam e conseguem uma ajuda do governo, de custo, conseguem buscá-los para participarem. Aí são feitas... Mas hoje em dia a parceria já está maior, pois têm agricultores, pescadores, artesãos... Já estão participando das reuniões também. Que eu me lembre pelo menos, é isso.
P/1 – Você lembra de alguma coisa que você aprendeu nesses encontros que mudou a sua forma de agir...?
R – É... Pelo meu entendimento assim do orgânico, que no convencional meu pai trabalhava assim, mas como eu era criança eu não ligava muito para verdura e tal. Mas aí hoje em dia eu já sei ver qual que é o orgânico, qual que é o químico e diferenciar. E o motivo de trabalhar com isso é também porque é uma forma de cuidar da nossa própria saúde. O orgânico... É onde está o alimento mais saudável também...
P/1 –... A diferença é ter veneno ou não...?
R – Não, a diferença é o sabor, aí...
P/1 –… Não, mas qual que é a diferença da agricultura convencional para orgânica, é só ter veneno ou não?
R – É.
P/1 –... A forma de plantar, de irrigar, de trabalhar a terra é igual?
R –... É a forma de trabalhar na terra é igual só que no caso do convencional você vai jogar adubo químico – é tudo químico. Você vai comprar adubo químico, veneno, essas coisas... No orgânico você usa mais esterco de galinha, esterco de gado no lugar do adubo químico. Para substituir o veneno com casa de lagarta entre outras coisas, é feita numa produção do sítio mesmo, você usa pimenta, álcool... Para matar inseto e essas coisas, faz tipo uma mistura. (…) Minha mãe coloca pimenta, arruda, álcool, deixa eu ver que mais... Essa pimenta, arruda e álcool é para matar inseto de folhas, agora tipo formiga e esses insetos minha mãe usa folha de gergelim, farinha de trigo, farinha de milho... Porque a farinha de milho tem uma substância que conforme ela embolora ela tem um tipo um ácido, essas formigas quando levam para o ninho, lá esta mistura embolora, e esse ácido acaba matando as formigas, que é uma forma de substituir o veneno químico. E as sementes também, porque são tratadas com química as de envelope, por isto a semente são tiradas da própria produção. Deixa ver mais... Só você perguntando para eu lembrar agora...
P/1 –... É que a gente não sabe nada dessa cultura de trabalho orgânico. Deixa eu perguntar: daí fica a família no sítio ali, não tem uma comunidade que vocês trocam, que se reúnem no fim de semana... Têm representantes no lugar que você mora, como funciona...?
R – Assim, representante não tem, mas no caso de reunião é só uma vez por mês que tem, debate e essas coisas...
P/1 –... E é pela SINTRAVALE
R – É pela SINTRAVALE, isso!
P/1 –... Você está no bairro...?
R – Bairro Aru eira.
P/1 – E nesse bairro é tudo essa situação: sítios, familiares, é assim...?
R – É, tem várias famílias, mas que trabalham com agricultura mesmo acho que somos nós e mais duas famílias, o resto trabalha com a pesca, a maioria trabalha na pesca. Ali no bairro somos nós, mas tem os outros bairros. No total, na cidade, que trabalha com agricultura acho que tem mais ou menos umas 50 famílias, acho.
P/1 – E você costuma vir para cidade...?
R – É, nós fazemos a feira do agricultor na cidade no sábado, que é tudo com produto orgânico. E tem a feira de terça-feira aqui na cidade, só que é feira... Mas é produção de fora, do que vem de fora. Por exemplo, é como feira livre, aí vende roupas, frutas, essas coisas assim... Agora na de sábado é só de produção orgânica dos agricultores, vende diversas coisas, desde o fruto, até processamento de compotas e essas coisas, que eles trabalham.
P/1 – E a opção de vocês terem ido para o orgânico é só pela questão da saúde ou foi uma questão monetária também? Dá mais retorno?
R – É pela saúde e pelo retorno também.
P/1 – Dá mais retorno? O mercado melhora?
R – É, no dia de hoje o mercado está melhor, mais voltado para o produto orgânico. E também por causa do preço dos produtos químicos. Na época em que o meu pai e minha mãe começaram a trabalhar com o orgânico foi devido a isso. Mas também o orgânico foi uma forma deles conseguirem trabalhar. Devido a ser uma área de reserva, que tem rio perto, tem mar, essas coisas assim... Não podia usar muito produtos químicos. Foi por isso também que eles passaram a trabalhar com orgânico.
P/1 – Entendi. Onde você mora tem lugar de reserva?
R – É, tem reserva, dos quatro alqueires tem dois que estamos utilizando e que podemos utilizar, aí os outros são reserva. Tem reserva permanente, reserva marinha, essas coisas assim...
P/1 – Entendi. Vocês tem permissão para uma certa…?
R –... Para trabalhar isso... (…) Isso...
P/1 – E tem uma discussão da comunidade de querer aumentar isso, mudar a lei...? Tem alguma reivindicação da comunidade assim...?
R – Não, eles estão lutando com isso. Tem o conselho municipal da cidade, daqui da prefeitura, que trabalha para isso. Então, e essa Rede Cananéia que eu falei para vocês, eles estão trabalhando – acho que não vou lembrar o nome também – deixa eu só ver se eu trouxe... Opa, desculpe (abre zíper). Não sei se eu trouxe... (mexe em coisas).
INTERRUPÇÃO
R –... Que tem... Que fala do projeto... Esse daí é o projeto da feira, dos agricultores...
P/1 –... Ah, o SINTRAVALE... Tá! E esse livro é...?
R –... Esse livro é o que foi feito de plantas medicinais da cidade. Comunidades Tradicionais Caiçaras de Cananéia...
P/1 – Você conhece plantas medicinais?
R – Conheço. Então, esse daqui eu trouxe para mostrar porque tem algumas plantas, algumas ervas que são lá do sítio, algumas fotos aqui são lá do meu sítio (…). São as ervas que tem lá. Aí como...
P/1 – Dá um exemplo aí pra mim...
R –… Como erva-baleeira, a mandioca, a hortelã...
P/1 –... E serve pra que...?
R – A erva-baleeira é para a pessoa que tem varizes, coloca a folha dela no álcool, deixa por uma semana para se decompor ali dentro e você passa na perna que tem varizes ou para dor também. (vira páginas). E tem...
P/1 – Ô, Lucas, e me fala: quais são as... Você tá falando da Rede Cananéia, do SINTRAVALE... E você participa ativamente dos grupos assim ou não?
R – Então, quem participa mais é minha mãe.
P/1 – Sua mãe.
R – Essa que está aqui. (…) É minha mãe.
P/1 – Olha só! Entendi.
R – Então, aí ela que participa mais disso daí.
P/1 – Entendi. E você, cara, qual que é a sua relação...?
R – Agora eu tô... No ano passado eu me filiei ao Terra Madre, não sei se você já ouviu falar...
P/1 – Terra Madre? Não.
R – O Terra Madre é um programa que é mundial, que é o slow food, são voltados para área orgânica, desde o produtor até a gastronomia, por exemplo, restaurante e essas coisas assim. Eu me filiei a eles pela forma como trabalham. Que é mais voltado para alimentação, e que é a parte que eu mais gosto e me identifico. Porque tem o sabor e essas coisas...
P/1 –... Você trabalha com isso também?
R – É eu trabalho, eu faço... Quando eu estou na feira, chega gente, eu faço a feira de sábado. A feira do agricultor, chega uma senhora, um senhor, por exemplo, que vê um pé de chicória e fala: “Ai, mas eu não sei... eu só como ela refogada, não sei para que mais serve...?”.
Como eu tô estudando para ser voltado a parte de alimentação, eu explico para ela uma outra forma de usar a chicória. E ah, no caso eu tô pesquisando também os pratos regionais típicos da agricultura. A gente pega, por exemplo, a produção que o pequeno agricultor tem lá no quintal dele, vai e vê: “Ah, você tem abóbora, mandioca, um pé de alface...”. A gente pega, explica para eles... “Ah, mas eu não gosto muito desse alimento”. Aí a gente vai, faz um prato para ele com abóbora e mostra qual o valor do que tem no quintal ao invés de um produto que vem de fora. Valorizando mais o que tem na nossa região, de alimentação.
P/1 –... Só um minutinho... Vamos trocar ou não? (…) Só trocar aqui... De fita... Passa rápido, você viu? (risos). Tá tudo bem aí?
INTERRUPÇÃO
P/1 – Me fala uma coisa: você diz que você tá estudando para isso...
R – Não fazendo faculdade, eu falo estudando...
P/1 –... Eu sei, mas como que você tá estudando? O que é que você tá vendo...?
R – Eu vou lendo livros que falam a respeito, converso...
P/1 – Mas você vai atrás da onde para ter essas informações...?
R – De livros? Então, através do Terra Madre, que é uma ONG e como eu sou afiliado deles, algumas coisas que eu não sei eu vou e converso com eles e tudo...
P/1 – Mas é internet, o que é que é?
R – Internet, isso! Por e-mail, essas coisas...
P/1 – Você no seu sítio tem acesso?
R – Não, tem que vir na cidade, mexer em Lan house. Então nós estamos voltados porque aqui na cidade como vem muito turista, eles querem... Eles vêm e a maioria quer ver a cidade e vai para cachoeira e essas coisas, mas na agricultura eles são um pouco chegados quando tem a feira, quando chega o dia de feira eles passam lá, eles são meio curiosos também, por isso mais que eu e um pessoal que está querendo desenvolver isso da alimentação, que é: eles vêm, veem os monumentos, mas é uma coisa que sempre vai estar ali. Com a alimentação eles vêm, vão degustar, vão ver, vão levar na mente deles aquele sabor, é isso que nós estamos querendo desenvolver para eles. Eles vêm de fora e comem uma verdura da agricultura, daqui do local, mais do que do mercado e essas coisas que vem de fora...
P/1 –... Mas você está falando para um rumo da gastronomia, assim? Uma gastronomia caiçara...?
R – É, uma gastronomia caiçara, é como tem nesses negócios de... Na parte de livro gastronômico que são feitos aqui, as pessoas que já são voltados para essa outra área, eles fazem essas pesquisas, vão na casa de agricultores, pedem para eles cozinharem um prato, mostrarem... indicar os ingredientes corretos, e essas coisas...
P/1 –... Me fala aí um prato típico que você sabe preparar? Me fala a receita...
R – A receita de cor?
P/1 –... É, não sei, meu, qual que é a sua especialidade? Vamos ver...
R – Tem, por exemplo... Mas aí preparar direitinho eu não sei, eu sei falar os produtos.
P/1 –... (risos) Mas você cozinha?
R –... Cozinho um pouco. (…) Só em casa mesmo. Para fora assim...
P/1 – Mas aí para trabalhar com os gostos e etc. está indo para questão da gastronomia, né?
R – É, então, quem anda com a gente tem um próprio gastrônomo que trabalha com isso...
P/1 –... Tem com vocês?
R –... É, que anda com a gente, o Adriano – não sei se você já ouviu falar nele – que ele é voltado para isso.
P/1 – Mas fala aí, fala uns pratos típicos daqui, bem típicos da gastronomia caiçara, fala pra mim.
R – Os pratos têm... De pesca, por exemplo, tem a ostra que é feita com mandioca. Um prato, por exemplo, abóbora – esqueci o nome que dá direito – vai abóbora, purê de abóbora – no lugar da batata, purê de abóbora com mandioca, ostra, vai camarão... E inhame... São mais massas, não tem verdura, são massa: abóbora, mandioca, inhame... Aquela batatinha e açafrão – não sei se você já ouviu falar?
É um tempero. É feita essa abóbora cozida, tudo em pedaços, depois dos pedaços você tira a massa dela, e você faz aquele purê, tempera com coentro, salsinha...
aí vai diversos: alecrim...
São vários.
Faz aquela massa, e aí são ostras: é feita na casca mesmo. Ostra... Ostra, camarão e mexilhão... São feitas assim, mais ou menos... É que o nome agora eu não sei de cor. Eu devia ter trazido o livro, eu não trouxe...
P/1 – Não, fica tranquilo, cara! Então fala assim, pensando na comunidade em que você vive, as ações que você tem feito... Bom, tem o trabalho comunitário, faz parte de uma associação e essa linha pra desenvolver a gastronomia, é isso?
R – Isso.
P/1 – E qual o plano de vocês assim a longo prazo? Onde que vocês querem chegar?
R – Ah, o plano é incentivar mais os agricultores. O plano é fazer com que eles produzam mais... porque tem muitos agricultores que estão abandonando o ramo. Porque os idosos, por exemplo: já estão ficando de idade e os filhos estão indo para outra parte. Eles estão mais voltados para parte jovem, fazendo uns projetos para poder segurar os jovens nos sítios e na comunidade, para dar mais valor a ela.
P/1 – Você vê que o pessoal da sua idade está indo embora...?
R –... Estão indo embora é, para a cidade grande... (…) Estão indo buscar futuro na cidade grande. Os projetos hoje em dia, nós estávamos conversando também: os projetos que estão querendo fazer são voltados a isso, tentar segurar eles aqui.
P/1 – Por exemplo: fala algum projeto aí, conta alguns pra gente...
R – Por exemplo, vou citar um da comunidade da ostra. Tem, por exemplo, os pais deles que começaram com as ostras, com produção em pequena escala, hoje em dia já são uma cooperativa, mas essa cooperativa já está se fechando porque os jovens estão indo embora porque eles não querem ficar com o costume do pai – isso muitas vezes são os pais que incentivam: “Ai, meu filho, você vai ficar aqui? Sendo que olha, eu pelejo, pelejo, pelejo e não saio disso”. Os pais mesmo estão incentivando a sair. Então por isso que eles estão querendo incentivar os pais a educarem os filhos deles com as coisas daqui mesmo, que são singulares aqui.
P/1 – Mas esses projetos são de quem? Quem faz esse projeto?
R – Esses projetos são feitos pela Rede Cananéia (…) que eles se juntam, vão, conversam com os agricultores, veem, tudo... Aí eles levam tudo para lá e começam a fazer parte com os governos, para trazer palestrantes para cá...
P/1 – Você já participou de algum projeto, de alguma formação?
R – Formação e projeto não. Não, eu estou em algumas... Quando eles perguntam alguma coisa para mim, assim, eu passo algumas ideias para eles, mas de coisas tipo registradas, assim, não.
P/1 – Você tem algum amigo próximo que foi embora?
R – Próximo, tenho bastante.
P/1 – E conta aí como é que foi essa conversa, o que é que ele falou pra você?
R –... Ah, então, é como eu falei para você: tem muita gente que me incentiva a sair, então ele foi um desses que me incentivou, mas foi o que eu falei para ele:
eu não queria. Mas ele já está voltando, porque ele não se adaptou lá. Então, no caso ele foi para lá e com um mês ele voltou, aí falou: “Vamos para lá, não sei o que, lá é assim, assim, tem essas coisas...”. Tem, tipo baladas – essas coisas que eles falam de cidade grande. Daí eu falei: “Mas aqui também tem, tem festa, coisas da comunidade”. “Ah, não sei o que...”. E aí faz três meses agora que ele voltou, e já voltou com uma cara mais diferente, que não está se adaptando lá. Aí foi o que eu disse para ele: que muitos saem daqui, mas não se adaptam muito.
P/1 –... Ele foi lá pra trabalhar?
R – Foi lá para trabalhar.
P/1 – E você sabe no que?
R – Em fábrica, lá em Curitiba. Em indústria, essas coisas assim...
P/1 –... Ficou empregado...?
R – Ele está empregado ainda, mas está com cara de que já tá querendo voltar!
P/1 – Ele mora onde?
R – Vizinho mesmo, no bairro...
P/1 –... Mas em Curitiba: está no centro ou tá na periferia...?
R – Está na periferia. Tem que pegar não sei quantos metrôs ou trem, aqueles ônibus, para chegar no lugar de trabalho... É bem movimentado, ele disse, o trabalho dele...
P/1 –... Entendi. E você ficou com vontade? Nem passou na cabeça...?
R – Ah, porque quando eu vou para São Paulo em evento – porque nós somos evangélicos. E quando nós vamos em evento de igreja, eu já quero voltar o mais rápido possível. (…) Eu não me adapto muito!
P/1 –... Quando foi a primeira vez que você foi pra São Paulo?
R – A primeira vez? Foi quando morava lá em Juquiá ainda, com seis anos.
P/1 –... Pela igreja também, não...?
R – Pela igreja também.
P/1 – Você lembra, assim, dessa primeira viagem? O que é que te chamou mais atenção na sua primeira viagem?
R – Ah, o que me chamou mais atenção, como eu era novo ainda, foram os prédios, a movimentação dos carros. Mas agora, nos dias de hoje, quando eu vou para lá... Acho que eu não me adapto muito pelo ar, pelo clima, porque a gente é acostumado com ar puro e chega lá e vê aquele sufocamento na garganta.
P/1 – Você passa mal?
R – É, e a barulheira também, tudo isto. É que aqui a gente fica mais ouvindo o barulho de passarinho, essas coisas... É silencioso o lugar. Agora você vai lá você vê buzina para cá, buzina para lá. Aí troca o canto do passarinho pela buzina.
P/1 – Entendi. (risos). E você falou que tem as diversões aqui, quais são as diversões?
R – Ah, tem as festas da comunidade que tem... Acho que cada mês tem uma festa da comunidade: no Bairro Mandira eles fazem a festa da ostra; em outro bairro faz Fandango; aí são diversos... Aí tem tipo esses bailes da comunidade mesmo que eles fazem.
P/1 – Entendi.
R – Mas são mais voltados para cultura caiçara, os bailes, essas coisas...
P/1 – Você se considera caiçara?
R – Eu me considero.
P/1 – Ah, é? Por quê? O que é que é ser caiçara?
R – Eu acho que todo mundo que nasceu no Vale do Ribeira eu acho que é caiçara, se não me engano. Mesmo os que não querem, eu acho que eles são. Mesmo que não queira ser, mas são caiçaras.
P/1 – Tem os que não querem ser?
R – É, eu acho que tem, os de nariz em pé... (riso). Mas eu acho que todo mundo que nasce na costa brasileira são caiçaras, tipo litorânea do estado de São Paulo, eles são considerados caiçaras.
P/1 –... Mas o que é ser caiçara?
R – Caiçara no meu entendimento é ser da roça, a forma de falar, o hábito de comer, os hábitos que tem... São mais voltados... Tipo: não liga muito para as produções industriais. Isso no meu entendimento é que é ser um caiçara. São mais para aquelas comidas típicas... Uma pessoa ser caiçara é gostar disso. Aí, por exemplo: troca uma música eletrônica por um toque de fandango. Isso que é ser um caiçara.
P/1 – Entendi. Vocês ali na sua comunidade vocês fomentam isso? Tem baile de fandango, tem artesanato tradicional...?
R – Tem. Na minha comunidade, no bairro onde eu moro não, mas nos bairros vizinhos tem.
P/1 – No seu bairro não?
R – Não, porque são poucas pessoas, então não tem centro comunitário e essas coisas assim para elaborar uma festa...
São mais nos bairros vizinhos, eles são bem voltados a isso.
P/1 – Entendi. Bom, você falou um pouco da relação das pessoas, de como funciona essa relação... E o Estado, como é que ele aparece para o pequeno agricultor? No é que ele ajuda, no que ele atrapalha, como é que ele surge pra vocês, assim? Ou não surge, né? (riso). Como é que aparece o Governo perto de vocês?
R – Ah, ele aparece pelos projetos, nessas coisas: verba. Essas coisas voltadas a transporte, saúde. Mas no caso da agricultura eles mandam, no meu entendimento eles mandam verbas, falam como plantar, dão uma área certa, determinada. Tipo se você está cultivando daqui, chega lá na frente, daqui dez anos, se você for ver, ele ajudou aqui, e em dez anos pega de novo, o que ele ajudou, entende? Por exemplo: sobre... Eu acho que o Governo é voltado mais para as grandes indústrias. Então ele ajuda o agricultor em tal parte, dali a dez anos, esse agricultor acha que tá sendo ajudado, mas depois deste período a indústria está de novo lá na frente porque o Governo a ajuda mais.
P/1 – A região tem problemas com as indústrias, não?
R – Não, indústria de fora, porque aqui não pode construir indústria, devido ao ambiente. Mas indústria de fora, a comercialização que é forte aqui...
P/1 – Você frequenta culto, você é uma pessoa religiosa...?
R – Sim.
P/1 – A comunidade é muito religiosa...?
R – Dali do bairro é só a minha família mesmo, os outros são católicos mesmo.
P/1 – São católicos?
R – Mas eu falo religioso assim, porque minha mãe vai a igreja, mas eu não vou muito, só vou uma vez por mês, por exemplo. Porque devido aonde eu moro não ter transporte para vir direto na igreja, aí fica meio ruim para me deslocar. Tem para vir, mas no caso de voltar de noite embora não tem. E nós não temos carro.
P/1 – Como é que você faz pra vir?
R – Vem de ônibus, aí é ônibus particular, de firma.
P/1 – E as compras, como é que você faz? O material, produção... Como é que você faz pra vir aqui?
R – Para trazer? Eu trago de ônibus! Na bagageira de ônibus. Antigamente tinha o caminhão da feira, que trazia as produções orgânicas da turma, mas depois parece que tinha estragado o caminhão, e o prefeito não deu mais andamento, então deu uma parada. Agora parece que estão querendo retomar de novo.
P/1 – A-ham. E você está casado, não?
R – Não. Solteiro.
P/1 –... Namorando?
R – Não, solteiro também.
P/1 – Tá certo. E o que você acha mais interessante nessa região, na região de Cananéia? O que te encanta aqui?
R – Acho que a beleza natural, tipo mata, mar...
P/1 – Qual que é a sua relação com esses lugares?
R – Relação?
P/1 – É, você trabalha muito, né?
R – É, trabalho na agricultura. (…) A relação? Acho que me adapto mais. Acho que é isso, o amor pela natureza! Acho que por isso que eu gosto daqui.
P/1 – Tem muita caça ainda na região?
R – Tem bastante.
P/1 – Você já viu uns bichos assim?
R – Pássaros diversos e animais só tatu, raposa e capivara.
P/1 – E a onça, cara?
R – Onça dizem que tem, mas eu nunca vi.
P/1 – (risos). Já teve uns problemas assim?
R – Dizem que tem, mas eu nunca vi...
P/1 –... Tem umas lendas, umas histórias assim? No bairro tem umas lendas, como que é...?
R – É, no bairro lá dizem que tem história de pescador. Do mar, assim, que diz que vê coisa na água... Eu mesmo não sou voltado muito para lenda, assim...
P/1 –... Não ouviu nada?
R – Não ouvi nada (riso). (…) E como eu moro e tem estrada que passa, aí dizem que como tem muito acidente, muita coisa na estrada, dizem que tem fantasma, mortos andando, essas coisas... Mas também nunca vi nada.
P/1 – Tem muito acidente na estrada?
R – Tem. Onde eu moro tem.
P/1 – É mesmo? Atropelamentos?
R – Não, de carro cair capotando.
P/1 – Você já viu isso?
R – Já vi carro capotando. É, na frente da minha casa mesmo tem. Minha casa mora numa na reta, mas aí terminando a reta é uma curva, e aí como é uma reta, os carros chegam ali numa velocidade alta, chega na curva e não tem como brecar e capotam. Perto da minha casa mesmo tem uma cruz de um que morreu. Aí por causa dessa cruz falam que tem lenda e essas coisas. Mas da cruz e do morto eu não cheguei a ver que eu não morava aqui ainda. Acho que foi um ano antes de eu vim morar para cá que teve esse acidente. Mas aí os outros eu vi, mas não faleceu ninguém, é isso, saiu tudo intacto.
P/1 – E o pessoal da comunidade já foi atropelado, já teve esses problemas assim?
R – Já foi atropelado cachorro, assim, agora gente eu nunca ouvi falar.
P/1 – E essa cruz aí quem é que foi que fez?
R – É de São Paulo, parece, o cara.
P/1 – E foram moradores daqui que fizeram?
R – Não, foi familiar.
P/1 – É... Qual foi a sua maior dificuldade que a comunidade ali já enfrentou, no seu ponto de vista? Que você viveu, que você acompanhou...?
R – A maior dificuldade? Do meu bairro mais ou menos?
P/1 – É.
R – (pausa) Até o dia de hoje acho que a dificuldade é o transporte e a saúde. É mais voltado para isso, a dificuldade.
P/1 – Quando alguém passa mal o que é que acontece?
R – É, então, ou às vezes como não pega muito o telefone lá, dependendo da sorte mesmo. Porque fica difícil para ligar pra ambulância... Não tem posto de saúde. É devido a isso: o transporte e a saúde.
P/1 – E escola tem ali?
R – Escola tem no outro bairro, mas tem o ônibus escolar que vem buscar a turma, isso é fácil. Em 15 minutos está na escola.
P/1 – E as vitórias da comunidade? O que é que você considera que foi uma grande vitória do pessoal que mora ali, do pessoal do bairro...?
R – (pausa) De vitória, vitória... (pausa) Poxa, acho que do bairro mesmo eu não sei não. Agora para nós lá foi a licença do desmatamento, acho que é uma vitória, quando nós chegamos aqui era mata fechada, para nós foi ter conseguido a licença através do meio-ambiente para poder desmatar e plantar. Isso eu vejo como uma vitória.
P/1 – Vocês quando chegaram tinha mata...?
R – É, um pedaço só que era desmatado, o outro era mata. O outro alqueire a gente queria para desmatar e poder produzir mais, trabalhar com...
P/1 – E vocês conseguiram isso na Justiça?
R – É, conseguimos na... É! Eu, minha mãe, começamos a correr atrás, aí conseguimos ter tudo documentado, o licenciamento para desmatar.
P/1 – E você acompanhou? Como que ela conseguiu essa licença?
R – Então, foi através dessas reuniões que ela participava no começo, participação dos agricultores... Todos os agricultores, parece que se reuniam uns dez agricultores, foram batalhando, até chegar no órgão mais alto deles lá e conseguiu trazer essa licença. Mas era só para desmatar ou utilizar um pouco das madeiras para o sítio mesmo – não vender madeira e não queimar. Tinham umas regras. Foi assim que eles conseguiram.
P/1 – Como você tá imaginando a comunidade, o trabalho de vocês daqui uns dez anos, como você tá imaginando...?
R – Uns dez anos... Eu acho que vai estar bem avançado, porque no nosso planejamento estamos com o planejamento de fazer uma cozinha para fazer processamento de frutas e essas coisas. Da produção do sítio mesmo. Porque daí caso de embalagens, etiquetas, é um processo que já está bem andado também. Fazer tipo uma pequena indústria, nossa mesmo. Agora da comunidade, do bairro, acho que vai ter avançado também. Porque mesmo que eles sejam voltados para pesca, agora eles estão com projeto de esterco e essas coisas. Daí vai estar bem avançado. Porque eles estão mais voltados para aquela pesca de não pegar peixe pequeno.
P/1 – Qual que é o seu maior, sei lá, seu maior sonho, Lucas? O que é que você está... O que é que você espera para...?
R – O meu sonho? Ah, eu sonho... Sonho não sei, eu tenho objetivo: de crescer, fazer com que o sítio seja de produção mais avançada... Construir uma casa com um ambiente mais confortável para minha mãe... Esse é o objetivo que nós estamos falando. E ter um carro também... Meu objetivo é esse. E saúde. Que não pode faltar! (riso).
P/1 – (risos) É verdade. Deixa eu perguntar: Lucas, tem alguma coisa que você gostaria de contar e que a gente não perguntou...? Porque tem várias coisas na sua vida, né, a gente vai vendo algumas coisas e tal, e tem alguma coisa que a gente não perguntou e você gostaria de contar aqui pra mim, pra gente...?
R – Não sei muito bem... Deixa eu... (pausa). (Suspiro). (Pausa). Eu acho que não, acho que perguntaram tudo já.
P/1 – (risos). Tá certo. E o que é que você achou de dar essa entrevista?
R – Achei bacana, ótimo!
P/1 – Foi tranquilo?
R – Foi tranquilo.
P/1 – (riso) Deu pra lembrar algumas coisas?
R – Deu, mas então, no caso o que eu queria perguntar também: essa entrevista vocês estão fazendo com quantas pessoas aqui da cidade?
P/1 – Aqui só quatro.
R – Só quatro. Mas pegaram de cada bairro...?
P/1 – Mais ou menos. É...
R – Bom, então daí eles vão poder reforçar mais, né?
P/1 – Vocês tem alguma questão?
P/2 – Eu tenho curiosidade dos mutirões, cara!
R – Os mutirões?
P/1 – Como funcionam os mutirões na comunidade?
R – Os mutirões são feitos, tipo: o agricultor, o responsável da roça, vem todos os agricultores, a prefeitura cede o transporte para estar levando esses... Pegando na porta esses agricultores e levando até lá. Mas aí os agricultores que os receberão, cedem a alimentação.
P/1 – Mas então, por exemplo: você vai fazer uma roça no seu sítio e a prefeitura pega...?
R –... Os agricultores que são do mutirão, que são interessados nisso.
P/1 – Mas quem que organiza o mutirão, por exemplo?
R – São feitos pelos agricultores mesmo. Aí, por exemplo, são dez agricultores que se reúnem: “Ah, tal dia nós vamos trabalhar, por exemplo, no meu sítio”. Eles vão lá, minha mãe cuida da alimentação, a prefeitura passa na casa deles para pegar e trazer. Ali mesmo no fim daquele dia e combinam qual será o sítio e vão fazer. Aí estão indo com transporte.
P/1 – Mas quem organiza é o SINTRAVALE?
R – É o SINTRAVALE.
P/1 – Através do SINTRAVALE, que é uma associação dos moradores, é isso?
R – Isso. Associação dos agricultores.
P/1 – Entendi. E você já participou de vários?
R – Mutirão? Mutirão já. Mutirões sim.
P/1 – Conta um pra gente que tenha sido bem interessante, que você tenha gostado. Ou tanto pra bem, tanto pra mal, enfim, mas um que tenha sido marcante pra você.
R – Ah, pra mim o mutirão é assim: eles discutem, por exemplo, uma coisa, chega na hora do mutirão lá, os agricultores, por exemplo: “Vamos fazer tal roça de igual para todo mundo”. Por exemplo: quer fazer igual a forma que um fez, querem fazer para o outro. Chega na hora e já começa a mudar. Aí o outro: “Ah, não, eu quero do meu jeito mesmo, que para mim vai ser mais fácil de cuidar”. Aí assim: os mutirões são voltados para estocamento e plantação, são realizados para as tarefas mais difíceis, não são para tudo. Porque o mais difícil é que você não vai dar conta. Por exemplo: eu tenho uma área para destocar, tirar os tocos, neste caso você chama o mutirão, porque isto é mais difícil e você tem ajuda, nisto tudo.
P/1 – Então o mutirão é só para as coisas mais difíceis, né? Estocar, é?
R – É para as coisas mais difíceis. É estocar toco, é arrancar toco, tipo aqueles tocos podres e que estão enraizados, se você quer fazer uma horta, uma lera, aí você faz um mutirão para ajudar a tirar os tocos que tem, para fazer aquele terreno plano, eles são voltados para isso.
P/1 – Entendi. E vocês vão passando de sítio em sítio?
R – De sítio em sítio.
P/1 – E quantas pessoas que se reúnem no mutirão, por exemplo?
R – Agora são dez. Nesse ano até agora não fizeram nenhum mutirão. Até o ano passado eram dez agricultores que estavam fazendo, em dez sítios.
P/1 – E esse ano nenhum?
R – Esse ano até agora não reuniram nenhum.
P/1 – O que é que aconteceu?
R – Acho que não tem muito serviço difícil para fazer. No meu entendimento é isso, eu acho.
P/1 – Mas conta um que você participou, descreve pra gente como é que foi?
R – Ah, teve um que eu participei que nós fomos, aí no caminho eles vão contando história... Chegando lá tomo o café da manhã, com a produção da agricultura mesmo, aí vamos para o trabalho... Não é muito trabalho forçado, eles vão mais trabalhando e contando história e depois tem a hora do almoço. Depois tem a parte de tarde de novo, tem reunião, tem uns que são voltados para baile, aí faz um bailinho no final, com umas bebidas... Que são voltados para isso. Tipo uma comemoraçãozinha no final... Que eles falam... (…) O dono da casa organiza, quer fazer aquilo para eles e faz. Aí tem uns... Tem bairro que é maior, quando tem dia de mutirão, eles já se reúnem lá, aí tem o centro comunitário, no final os agricultores eles saem dali, e vão para aquela festa, conseguem arrecadar dinheiro, essas coisas...
P/1 – E mutirão junta gente de todo o Vale, assim, como é que é?
R – Os dez?
P/1 – Ah, são só dez pessoas?
R – Não, o mutirão participa quem quer ajuda... Mas aí, por exemplo, se um agricultor está hoje... Os dez agricultores estão num sítio aqui, aí tem um que quer entrar, aí primeiro ele vai ter que trabalhar nos dez sítios do que já estão, para aí depois entrar no dele...
P/1 – Ah, entendi! São dez sítios, aí tem dez representantes de cada... Um representante de cada...
R –... Tem um representante de cada sítio... Aí depois: “Ah, tem mais um que quer entrar”. Aquele um vai ter que trabalhar naqueles dez, pra daí depois trabalhar no dele. É assim, dessa forma.
P/1 – E você ano passado participou dos nove, dos dez contando com o seu...?
R – Oito. Minha mãe foi em outros dois. Aí tem também... Eles fazem para essa parte de encher saquinho também de terra, para poder fazer transplante de muda.
P/1 – Entendi. Conta um pra gente que o pessoal foi pro seu sítio? Conta pra gente esse dia...
R – Teve um dia que eles foram lá no meu sítio para encher saquinho de terra, para fazer mudas do palmito juçara, teve uma parte das pessoas que foi colher, outra que foi secar semente, enquanto o restante já estava enchendo saquinho... Depois quando de tarde já estava seca a semente, todos foram plantar. Mas o baile, a festa, isto nós não fazemos, minha mãe é religiosa, isso ela não faz. Isso ela corta.
P/1 – (risos) Tá certo. Ô, Lucas, quando você pensa assim... Enfim, nessa trajetória de vida – você é um cara novo, né? Qual que é a história que vem mais marcante para você na sua vida? O que é que vem assim de falar: “Poxa! Aconteceu isso comigo!”.
R – Que aconteceu já?
P/1 – Ou sabe: de nascimento de filho, não é o seu caso. Ou, sei lá, as pessoas quando casaram... Na sua vida, assim, qual que foi mais marcante pra você? Uma das coisas, né? De você falar: “Poxa, isso foi muito legal!”. Ou o contrário...
R – Marcante... (silêncio). Ah, eu acho que foi o nascimento do meu irmão em 2001, mais novo, o caçula. Que todo mundo se apegou a ele, aí tal... também era a cara do meu pai também. O marcante mais alegre que foi nesse sítio aqui. E de triste foi o falecimento do meu pai no ano passado. Eu acho isso... Meu irmão veio para dar mais alegria também na família. Mas, é, eu acho que é isso... O nascimento do meu irmão caçula!
P/1 – Tá certo! Bom, em nome da equipe aqui, a gente queria agradecer você, obrigado por ter dado essa entrevista.
R – Obrigado vocês.Recolher