IDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Antônio Monassa Heide, nasci no Rio de Janeiro em 1938. Minha mãe tem família mineira e meu pai família austríaca, tem uma mistura de tudo o que se possa imaginar. FORMAÇÃO PROFISSIONAL Eu estudei no colégio de padres, irmãos Maristas, no Colégio São José. Fui ainda como estudante para o Southwest Louisiana Institute, nos Estados Unidos, gostei do campus da universidade. No próprio curso cientifico, decidi que ia para o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica]. Não sabia se ia passar no concurso que é muito difícil, mas com vontade firme eu consegui passar e fiz o curso de engenharia de aeronáutica e produção. Fui trabalhar na São Paulo Alpagartas, na Vale do Rio Doce, Petrobras. Esses foram os cursos básicos que eu fiz que me deram identidade para a vida. Me formei engenheiro. Meu pai e minha mãe eram médicos e diziam: “Não vá para medicina que você vai sofrer demais, não tem horário, chega de madrugada”. Papai era cirurgião, mamãe era ginecologista, às vezes atendia parto de madrugada, era uma vida muito dura de um casal modesto, que subiu na vida. INGRESSO NA PETROBRAS Eu queria ficar perto da minha noivinha, a Vale já estava no Espírito Santo, fiz concurso para a Petrobras e passei. Fui chamado e disse: eu vou. Tive oportunidade de fazer um curso de engenharia de equipamentos com alguns dos meus professores do ITA, que na ocasião foram contratados, havia americanos também. O Brasil não tinha nada, era uma época tão ruim que ninguém sabia nada de tubulação, apenas um ou dois na refinaria. Quando nós montamos a Refinaria Duque de Caxias, havia o Enzo, um italiano, os dois engenheiros chefes e um americano. O americano mandava intelectualmente, não sabíamos montar a refinaria, só tinha o Silva Teles – autor do livro “Tubulação industrial”, um clássico no Brasil, todos os engenheiros usavam. Ele era engenheiro da Petrobras...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é José Antônio Monassa Heide, nasci no Rio de Janeiro em 1938. Minha mãe tem família mineira e meu pai família austríaca, tem uma mistura de tudo o que se possa imaginar. FORMAÇÃO PROFISSIONAL Eu estudei no colégio de padres, irmãos Maristas, no Colégio São José. Fui ainda como estudante para o Southwest Louisiana Institute, nos Estados Unidos, gostei do campus da universidade. No próprio curso cientifico, decidi que ia para o ITA [Instituto Tecnológico de Aeronáutica]. Não sabia se ia passar no concurso que é muito difícil, mas com vontade firme eu consegui passar e fiz o curso de engenharia de aeronáutica e produção. Fui trabalhar na São Paulo Alpagartas, na Vale do Rio Doce, Petrobras. Esses foram os cursos básicos que eu fiz que me deram identidade para a vida. Me formei engenheiro. Meu pai e minha mãe eram médicos e diziam: “Não vá para medicina que você vai sofrer demais, não tem horário, chega de madrugada”. Papai era cirurgião, mamãe era ginecologista, às vezes atendia parto de madrugada, era uma vida muito dura de um casal modesto, que subiu na vida. INGRESSO NA PETROBRAS Eu queria ficar perto da minha noivinha, a Vale já estava no Espírito Santo, fiz concurso para a Petrobras e passei. Fui chamado e disse: eu vou. Tive oportunidade de fazer um curso de engenharia de equipamentos com alguns dos meus professores do ITA, que na ocasião foram contratados, havia americanos também. O Brasil não tinha nada, era uma época tão ruim que ninguém sabia nada de tubulação, apenas um ou dois na refinaria. Quando nós montamos a Refinaria Duque de Caxias, havia o Enzo, um italiano, os dois engenheiros chefes e um americano. O americano mandava intelectualmente, não sabíamos montar a refinaria, só tinha o Silva Teles – autor do livro “Tubulação industrial”, um clássico no Brasil, todos os engenheiros usavam. Ele era engenheiro da Petrobras e entendia um pouco de tubulação. A Petrobras representava uma oportunidade de emprego que pagava bem. Com o salário inicial de engenheiro, era possível comprar três fuscas por ano, era um salário muito alto. Eu era engenheiro da Petrobras, ganhava bem, dinheiro honesto. Mas o dinheiro não significava o símbolo da identidade com a pátria, porque a Vale também era, foi mais esse lado [que me fez optar pela Petrobras] e também para poder ficar perto da noivinha, com a qual eu me casei e que veio a falecer de câncer aos 30 anos. IMPLEMENTAÇÃO DO PERT Entrei na Petrobras em janeiro de 1963. Fui trabalhar na Reduc [Refinaria Duque de Caxias], na área de Planejamento de Manutenção, onde, eu e mais dois colegas do ITA, o Carlos Paiter e o José Nilo Martins introduzimos na Petrobras o Pert [Program Evaluation and Review Technique] que era uma tecnologia de planejamento nova. Fizemos a primeira parada de manutenção da Reduc, primeira parada 12/10 com o Pert, veio toda a diretoria visitar. A Petrobras despontava junto com a Dupont dos Estados Unidos como a primeira a usar a tecnologia de planejamento desse tipo, desenvolvida pelos americanos. Nós copiamos a tecnologia através de um americano, professor do ITA. Recém-formado do curso, já estava montando o planejamento na Reduc. Viajei pelo país inteiro, mil e poucas pessoas fizeram o curso de Pert, em todas as refinarias, inclusive mestres e contramestres assistiram a um cursinho simplificado. O Pert, que também era chamado caminho crítico, funcionava assim: aos domingos não precisava botar ninguém na refinaria. Foi uma briga com os sindicatos porque identificávamos as tarefas críticas, tinha um engenheiro que comandava aquelas tarefas com mão de ferro, os outros tinham folga, você podia atrasar porque não mudava em nada o programa, o número de dias que a refinaria tinha lucro incessante. Eu disse: “No domingo, vamos programar só 20% da mão-de-obra”. O sindicato me procurou e disse: “Vocês são meninos, rapazes novos, já imaginou o problema social, todo mundo contando com esse dinheiro e não tem mais, porque vocês inventarem um tal de Pert, que no domingo só trabalha o essencial? Tem que trabalhar todo mundo”. E, dignamente, apesar de sermos jovens, entendemos e aceitamos deixar só para o outro ano. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Da Reduc fui para o Serviço de Planejamento da Petrobras, com o apoio do Doutor Ivan Maia Vasconcelos, que era o superintendente de Planejamento da Petrobras, ele disse: “Você vai coordenar com o Instituto Brasileiro de Petróleo [IBP] o Primeiro Congresso Brasileiro de Planejamento da Indústria de Petróleo.” Na ocasião, o IBP era dominado pela Petrobras, não pela iniciativa privada. Nós fizemos este congresso com alguma ajuda: o Roberto Campos que deu um apoio, o Mário Henrique Simonsen, e tinha aqueles vestais que deram um incentivo muito grande. O Golbery do Couto e Silva, deu um apoio indireto. DITADURA MILITAR Quando estourou a Ditadura foi um sufoco. Quando as Forças Armadas do Exército invadiu a Refinaria Duque de Caxias, nós prevenimos os militares que não podia dar tiro porque aquilo estava andando, não podia parar de repente, levava 24 horas para parar de um modo muito programado senão explodia. Metemos medo neles: “Se der um tiro e pegar um vaso desses não sobra ninguém, nem vocês” Guardaram as armas. Mas tínhamos um colega sufocado pela emoção, ele era anti-comunista ferrenho e enxergava comunista em tudo quanto era lugar, como eu vim da Aeronáutica, do ITA, possivelmente não era comunista e não era alvo de sua implicância, mas eu o via pegando uma metralhadora e pegar vários colegas e botar no ônibus para levar separado. Ele com a metralhadora na mão dizendo: “Você é vermelho de Moscou Você é comunista”, mas não deu para ver porque nós também fomos embarcados em outro ônibus, não sei a lista de todos, não sei se foram torturados por causa disso. Eu sei que anos depois dois ou três desses engenheiros não me contaram nada de grave a respeito de tortura, mas perderam o emprego, saíram da Petrobras. O episódio foi desagradável. Na Ditadura, mudaram o superintendente, era o Mirênio Lutterbach o tiraram e botaram outro, foi desagradável. O Mirênio era muito querido, estimado e era anti-comunista. Mas o sindicato tinha tal força que com o apoio do João Goulart fazia um ruído maior, como cachorro pequeno que late, mas não morde. O sindicato tinha pessoas comuns, sem nenhuma condição de fazer um alarido maior, mas ia em número, levava os seus instrumentos de trabalho, picareta, pá. No comício da Central do Brasil, teve ônibus da Petrobras levando as pessoas. Pessoalmente, eu nunca fui a nada disso, não me engajei na luta a favor de João Goulart, até porque vim de uma escola militar, muita disciplina, e aquilo de certa forma me incomodava. Mas reconheço que todos aqueles trabalhadores apoiaram o João Goulart por um ideal, não por nenhum interesse, porque nada na refinaria melhorou para os sindicatos durante o período do João Goulart, nem havia promessa nesse sentido. MONOPÓLIO DE PETRÓLEO [monopólio de compra e venda de petróleo] Disso me inteirei sim, quando o João Goulart caiu, o Marechal Castelo Branco tinha dois decretos polêmicos para tratar, que era prioridade zero da revolução, na área do petróleo: um que instituía o monopólio de importação de petróleo e outro que nacionalizava três refinarias: Capuava, Manguinhos e a Ipiranga. Eram refinarias pequenininhas, mas significativas. Quando o General Geisel veio, eu assisti a uma reunião para presidente da Petrobras em que ele comentou o seguinte: dos dois decretos o da importação devia ficar, as refinarias ele preferia devolver aos proprietários, porque ele achava que a Petrobras não ia ter um preço de refino se não tivesse outros que exigissem preço maior, a gente tomava carona. Nós não íamos fazer justiça social em cima dos custos da Petrobras, então era melhor ter uma base de contabilidade para saber o preço justo. Realmente deu certo porque tínhamos uma base referencial de preço dos nossos produtos, senão o Governo ia tabelar. DITADURA MILITAR O Geisel era um homem muito firme, tinha porte imperial, eu trabalhei quase como assistente dele levado pelo General Pio dos Santos que era uma figura ilustre. Me surpreendi ao ler o livro das jornalistas, publicado post mortem, quando perguntaram a ele o que ele acha da tortura, ele disse que era contra, mas que se houvesse a necessidade de fazê-la que fosse intenso, um dia só, porque no segundo dia o sujeito assinava qualquer coisa. Eu que lidei com ele nunca vi esse traço de caráter, de violência, e de que os fins justificam os meios. Eu via coisas às vezes um pouco impróprias: “Senhores com relação à criação da Petrobras Distribuidora uns dizem isso com essas vantagens um, dois, três, quatro, cinco; outros dizem isso com essas desvantagens um, dois, três quatro, cinco, a minha decisão é essa agora gostaria de ouvir os senhores”. Ninguém falava mais nada. “Então tendo em vista que todos estão de acordo vamos implementar a decisão e daqui pra frente trabalhemos nessa direção”. Isso demonstra que ele já definiu antes em algumas ocasiões e a participação era menor. Mas se você comparar com hoje, por exemplo, nós temos uma ampla democracia o corpo técnico talvez seja menos usado do que o era pelos militares que não entendiam nada e sabiam que não entendiam. Os políticos de hoje chegam com a convicção de que conhecem mais talvez do que eles conheçam, e não se valem do técnico competente, vale do técnico que é mais amigo ou do que é filiado ao grupo, normalmente a um partido político. Houve uma mudança muito grande na Petrobras, com todo o problema da revolução. A impressão que eu tenho é que a revolução ouvia os técnicos, hoje ouve também, mas eu não sei se usa aquilo com tal grau de prioridade, com tal ênfase como eu acredito que faziam os militares. CRISES DO PETRÓLEO Não afetou muito não, nenhuma das três crises: nem o [fechamento do Canal de] Suez, nem o primeiro choque em 1973, nem o de 1979. A verdade é que nos dois choques seguintes, a Petrobras havia descoberto o campo de Majnoon, a maior descoberta no Iraque, só que não tínhamos densidade política para explorá-lo. Mas ficou a obrigação de pagar a Petrobras as despesas exploratórias e de produção, com petróleo e, também, garantir o suprimento do Brasil em caso de dificuldade, e os iraquianos cumpriram isso. Também tivemos a ajuda de multinacionais, houve uma negociação no segundo choque com uma das companhias de petróleo que estava perdendo muito posto para a BR. A negociação foi a seguinte: ela cedia petróleo para nós e a gente não tomava mais postos. Só que isso não podia ser escrito e eu era o superintendente de postos de gasolina Brasil da Petrobras em 1979, recebi uma ordem de alta autoridade e repassei para todos os gerentes regionais, era proibido escrever, só de boca. Quando vinha um proprietário de uma bandeira (bandeira é o símbolo de uma companhia como Texaco, Shell, Esso, Ipiranga) íamos para o proprietário do posto e dizíamos: “Nós vamos ter que consultar a sua direção, você tenta fazer um acordo lá, porque nós agora já crescemos o que queríamos...” Estava mentindo, mentira comercial, tinha que agir dessa forma, ninguém escreveu, era tudo de boca. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Antes da BR surgir nós tínhamos uma Superintendência de Distribuição ocupada pelo Flávio Chaves e depois pelo Sylvio Massa, que era ligado ao superintendente comercial Carlos Sant’Anna, que depois veio a ser o presidente da Petrobras. Ele era chefe da Divisão de Vendas da superintendência e já tinha os postos de gasolina e os lubrificantes que vieram da Petrominas, que o Geisel mandou comprar. A tese do General Geisel era a de que a Petrobras deveria ter crescido do posto ao poço, e não do poço ao posto, ele lutou muito por isso. Ele fez a subsidiária de fertilizantes, a Petrofértil, a Braspetro e a Interbrás, de todas eu participei do grupo criador, porque estava como assistente de diretor na cúpula da empresa. A de fertilizante foi criada porque o Banco Mundial queria abrir todas as contas da Petrobras para saber os custos, e o Geisel disse: “Eu vou fazer uma subsidiária e dou garantia total e vocês me dispensam de abrir os custos”. Foi na mesma época que ele acabou com o acordo militar Brasil - Estados Unidos, ele estava meio aborrecido com a pressão dos americanos que não emprestavam dinheiro de jeito nenhum, mas para fertilizantes sim. O Robert Strange McNamara era presidente do Banco Mundial e, entre outros, foi um dos que participou da negociação. Sobre o Banco Mundial, o Geisel mencionava que era um banco para fazer surplus, o preço do minério de ferro estava subindo muito, se faz uma planta na Índia ou no Brasil; o alumínio estava descendo muito, atrasa um pouco a planta no Canadá. Era um regulador de preço, mais um vigilante, um interferente na oferta e procura, muito menos um banco de fomento. MARCA TAMA O Collor extinguiu a Interbrás no primeiro fim de semana do seu governo. Foi um enorme crime de lesa-pátria, nós já tínhamos 30% das exportações brasileiras numa única companhia, que dava credibilidade, mas tinha momentos em que não dava. Vocês souberam o negócio da marca Tama? Nós chamamos a Brastemp e dissemos, tira a marca Brastemp e põe Tama; chamamos a Polivox de equipamentos eletrônico: tira Polivox e põe Tama; com geladeira a mesma coisa, tira Consul põe Tama, me dá cinco, dez mil geladeiras, vamos encher o navio e levar para a África com a marca Tama. É palavrão em algum dos 120 dialetos africanos? Não é palavrão, foi feito um estudo, é bonito, chama a atenção, vende bem Tama, em todas as tribos? Quem fez a pesquisa e desenhou a marca foi o Aloísio Magalhães. Quem lançou o produto errado? A Petrobras. Erros da Petrobras. Chegamos lá, montamos uma assistência técnica, capital misto Brasil e um grupo africano, o Pelé fez um jogo pago pela Petrobras, o “deus negro” na África, no auge da sua carreira e lançamos Tama. Foi um dos maiores fracassos da Petrobras, porque o pino macho de ligar na luz não batia com o pino fêmea, eles cortavam o fio, com a trepidação o motor partia e parava, com o motor partindo e parando queima, tem a corrente de partida que é três, quatro vezes a corrente normal, queima. Também não pode botar aquelas botas, aquelas roupas africanas pesadas, de algodão pesado porque se põe demais a correia arrebenta, em um ou dois meses acabou a marca Tama. A iniciativa da marca Tama foi da Interbrás, da área de manufaturados leves. Aliás, teve um rapaz, na ocasião, contratado para ser diretor de algum manufaturado, pesado ou leve, aí dividiram e ele me disse o seguinte “isso é uma loucura, vou me embora da Petrobras, porque eu criei a área de manufaturados e agora a Petrobras está me fazendo uma oferta para eu ser a área de manufaturados ‘x’, manufaturados ‘y’, leves e pesados, eu fico só com a leve, criei uma coisa e vem um outro que nunca mexeu nisso para ser o meu chefe, sendo chefe das duas áreas, me deram o direito de escolher uma das duas, estou acostumado a subir com o que eu crio, tenho 40 anos, já venho de outras empresas, meu contrato é só para gerir, pedi demissão. E Heide você acha que a Petrobras é assim?”. A Petrobras tem esse terrível problema até hoje, você se esforça, cria alguma coisa, dividem em dois para você não aparecer, diriam os maledicentes, e também porque cresceu muito está incomodando. Você fica cristianizado – cristianizado quer dizer: fica dominado, não brilha mais, não aparece, fica só com o ranço e o travo amargo da desconsideração. É uma tradição cultural da Petrobras fazer isso, as outras empresas não fazem. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Saí da área de Planejamento, fui convidado para ser chefe da área de Registro e Análise de Vendas, que era um embrião da área de Marketing. Comecei a me interessar por essa área. Minha função era de prospecção de mercados, de preços, ações da concorrência etc. Dali, fui ser chefe de vendas, essa área é subordinada a mim, não mudou a estrutura, tinha uma área de engenharia de poços de gasolina e uma área de registro e análise de vendas de onde eu vim. Outra tradição na Petrobras: quando dois chefes de alto nível brigam saem os dois, não sai quem tem razão. Houve uma briga entre o Flávio Chaves e o João Vargas Moreira Brasiliano, que era a pessoa que ocupava o cargo antes de mim – muito mais experiente inclusive, era menino ainda quando fui para esse cargo – na briga o Sant’Anna, os dois foram tirados. Não me lembro das áreas, mas posso dizer que existia uma Área de Petróleo que era mais importante, compra de petróleo, senão o país parava. O mote subjacente da Petrobras em sua história até hoje é não pode faltar produto, não pode parar Recife, Cruzeiro do Sul, Acre, Manaus a termelétrica, não pode faltar. Às vezes, até pinga uma falta, aí o pessoal diz para ir à Shell, porque ela tem. A BR reclama ou a Shell reclama que está sem produto em São Luis, pede emprestado a BR, a área está abastecida. Às vezes, não conseguimos abastecer, nem hoje e nem no passado, todas as marcas de distribuição ao mesmo tempo, mas se faltar as cabeças vão rolar. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS No início de 1970 estava na prospecção de mercado. Era uma repartição pública sem essa objetividade que a Petrobras tem hoje. A administração melhorou demais, dão até prêmio ao abastecimento, o prêmio nacional da qualidade, não tem nem comparação, é indescritível. Agora, eu diria que algumas coisas não mudaram, e que são a base de tudo, exemplo: o traço autoritário. Um presidente militar da Petrobras, sem conhecer nada, foi visitar uma refinaria: éramos 33 engenheiros, perfilamos todos, e ele nos cumprimentou. Havia uma caldeira de CO que é um gás que não tem cheiro, mas mata – é esse gás que se você ligar o motor na garagem e fechar a porta morre, sem sentir cheiro nenhum. Aqueles que sentimos o cheiro são os aldeídos, um outro tipo de produto de combustão. Tinha uma caldeira para fazer vapor cujo combustível era CO, veio esse presidente da Petrobras – que eu não vou dizer quem é, mas vou mostrar o traço autoritário que estou tentando ilustrar –, as pessoas o gozaram até a morte – ele, com a maior seriedade, falou: “Estou sentindo um cheirinho de CO”, “Presidente o senhor está sentindo cheiro de CO?”, “Autêntico Conheço esse cheiro”. O que ele sentiu era cheiro de refinaria. O superintendente para fazer coro disse: “Heide, está sentindo cheiro de CO?” – passando a bola – “Um fedor de CO que eu não me agüento”. A turma toda perfilada com a cara de pau: “Que cheiro, né, presidente?”, “Terrível, tem que ver onde é o vazamento, meu nariz não falha”. E depois que o presidente foi embora, as pessoas ficaram gozando a autoridade, fazendo pouco caso por causa do autoritarismo. A nossa Área de Pessoal foi comandada durante 20 anos por militares, pessoas até do bem, mas era gestão militar. CONTRATOS DE CONTRAPARTIDA Eu diria que a Interbrás inventou muitos contratos de trocas comerciais, o mais famoso dele foi trocar o automóvel Passat por petróleo. Nós pagávamos o petróleo aos iraquianos com o Passat – houve uma porção de maledicências, de fofocas, mas a idéia em si era boa. Trocávamos sapato brasileiro, a Petrobras ia a Franca, a São Leopoldo, onde se fabrica sapato – sapato brasileiro nunca tinha ido para o exterior – e dizia: “Quer vender?” “Eu quero vender um número muito grande de sapato”. Era a produção do ano inteiro, a Petrobras dizia: “Eu compro e dou a garantia, sou eu quem forneço essa parte.” No Iraque e nesses países onde o Brasil queria comprar petróleo com mercadoria a garantia era a Petrobras, não era o sapateiro ou o fabricante. Era uma senhora garantia, porque a qualquer momento se arrestava um navio no exterior, os contatos eram abertos e permitiam isso: “se não chegar o par de sapato pega o meu navio”. A idéia era viabilizar a produção nacional e exportá-la mediante troca por petróleo, coisa que a Interbrás fazia e a Petrobras não podia fazer, por causa dos decretos etc. Eu não digo quem inventou, têm pessoas que dizem que foram eles que inventaram, mas isso sempre existiu, trocar doze galinhas por um porquinho, isso está na história da humanidade, o importante é fazer acontecer. Tinha muita interferência, por exemplo, eu soube de um caso que uma alta figura da República impediu a Petrobras de fazer exportação sem ele ter uma comissão, ele era parente de um presidente da República da Revolução. Houve a interferência desse presidente, junto ao presidente da Petrobras; o presidente da Petrobras avisou a Interbrás que ali só pagando comissão. COMERCIALIZAÇÃO Os engenheiros que foram fundar a Área Comercial vieram todos do refino, porque a coisa funcionava assim: no prédio ultramarino ao lado da Candelária funcionava a diretoria, havia reunião mensal, depois quinzenal. Nessa reunião, participavam os superintendentes de refinaria e o pessoal de programação. A trajetória da comercialização foi em função da importância relativa dos parceiros. O organograma, as funções não são criadas do nada, são criadas em função das necessidades e das pessoas que vão ocupá-las, não adianta a gente tentar mentir. Quais são as pessoas que eu tenho por cargo? Que cargos estão faltando? A gente vai e cria. Chegou-se a conclusão de que faltava ali uma logística, tinha uma fábrica de borracha ligada a Reduc, tinha refinaria em construção, começou a complicar. Resolveram botar uma logística na área Comercial. Com os anos, essa logística ficou muito invejada pelo Refino, que não tinha o modelo de programação linear, que foi usada pela Petrobras, o modelo de estudo, quanto deve comprar, para onde vai, quanto a refinaria recebe por cada petróleo, que produtos ela tem que disponibilizar a partir desse petróleo e para onde ela vai vender, mas fazia acontecer trocando informações entre refinarias. Dá uma frustração, eu sou um motorista que tem uma belíssima refinaria, Rolls-royce é o meu carro, eu não posso dizer para onde eu vou, onde ponho gasolina, que manutenção faço, porque tem uma área comercial condizendo o quê devo fazer? Foi uma luta de anos, departamentalizaram, criaram o prédio do Edise [Edifício Sede] e continuou a luta aguerrida, não é luta de cassetete, de ninguém bater em ninguém, mas de um fazer cara feia pro outro, lutando por isso. O Refino montou uma área de Logística também para competir, depois foi extinta, voltou de novo; vai e vem. Resolveram criar o Abast, o Abastecimento, para dar à logística uma identidade eqüidistante nas áreas em briga, não tenha dúvida, o objetivo foi só esse. Eu participei da criação, das discussões, levou-se uns três anos discutindo e foi criado há pouco tempo, há uns oito anos. DIRETORIA / DECISÕES Aos poucos os diretores foram se especializando. A diretoria, na realidade, não é bem um colegiado, nenhum diretor se mete na área do outro, você tem as pautas, o assistente vê as pautas, mas se meter mesmo na área do outro não; com isso ganha a vantagem de fazer o que quiser, porque no colegiado ninguém dá palpite nas suas pautas, porque é assim que você faz. São feudos – me parece –, salvo melhor juízo, são coisas independentes que se unem quando se vai discutir planejamento estratégico, mas isso é com data, com hora, em sala; as decisões do dia-a-dia, até pela sua natureza, devem caber mesmo a um diretor sozinho. Não é um colegiado, porque em um colegiado todos correm um enorme risco com a decisão errada, é até um alívio, porque eu levo uma decisão que estou com dúvida e o colegiado aprova, para todos os efeitos, eu digo que a versão foi da diretoria, não foi minha. O Ueki quando foi presidente da Petrobras, em conversa privada comigo disse: “Heide, eu não quero mais que ninguém escreva carta para mim começando com: como é de conhecimento de vossa excelência, eu não conheço nada É uma maneira de me coonestar, de dizer, presidente o senhor sabe, como é do conhecimento de vossa excelência estamos fazendo uma tomada de preço para comprar petróleo na Terra do Fogo”. Ele nunca ouviu falar disso e já mandam aquilo tudo: “Recebo as coisas de maneira que não tenho como opinar, já vem tudo pronto, tudo amarrado ou sim ou não, eu não adiciono valor, e ainda todos os expedientes começam com ‘vossa excelência’ para querer me pegar, para me tornar aliado antes, para melhorar a leitura, não quero mais isso” CONTRATOS DE RISCO Quando se abriu o mercado, eu era assistente de um diretor financeiro. Em uma dada manhã, o pessoal estava muito macambúzio, muito triste, na diretoria porque o presidente da República, o Geisel, iria fazer um discurso para a nação inteira, dizendo que abria a plataforma para as companhias estrangeiras. Nós soubemos três dias antes e foi um clima de consternação total. Esse diretor se chamava Doutor Scholl Isnard, era de fora da Petrobras, ele era diretor comercial. Lembro-me que um advogado e um engenheiro ilustres o questionaram dizendo: “Vocês não trabalharam para defender a Petrobras?” O Geisel deveria ter motivos que a história um dia vai esclarecer, a pressão era muito forte, eu vi um documento não sei se apócrifo, aonde estava escrito indiretamente onde é que o Brasil, quebrou ou quase quebrou, podia investir, não podia investir na plataforma de Campos. Nós ficamos anos com investimento menor do que queríamos em Campos para auto-suficiência, petróleo é realmente o melhor negócio do mundo, todo mundo abre o olho. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Eu sou engenheiro de equipamentos e sou consultor de negócio, provisoriamente, enquanto me quiserem. Meu trabalho é de gestão. Minha missão é ingrata, de fomentar os conceitos de gestão moderna, exemplo: antigamente quando havia um problema, um negócio que dava errado, logo perguntávamos quem foi o culpado? Hoje, quando há um problema, buscamos uma causa, o porquê de ter ocorrido. Esse é o ponto. Dentro da comercialização existem áreas, eu estou na área de Planejamento e Controle, mas procuro me relacionar com o Marketing, com as outras áreas através desses canais informais, chamo para almoçar, troco informação... O consultor deve procurar difundir conceitos, ele é guardião de conceitos. Eu procuro fazer isso, pelo menos, essa é a orientação que tenho. Adiciono valor na medida em que as pessoas captam o que está por trás dos conceitos. CRISE ECONÔMICA MUNDIAL / 2008 Existe pouquíssima interferência nos negócios da Petrobras, me desculpe o Presidente que está fazendo economia, ele está certo em reduzir custos, mas, na verdade, estão pintando um quadro negro da situação da Petrobras para ela se endividar, para continuar e fazer as suas obras. É claro, não vai dar para fazer tudo, vamos ter que selecionar, ninguém faz três, quatro refinarias. Nenhuma companhia no mundo faz, só a Exxon poderia fazer isso, mas não tem petróleo para botar lá, vai ficar com a refinaria parada, não tem acesso a fonte. Eu acho que quem tem essa quantidade potencial de petróleo que nós temos no pré-sal, vai conseguir dinheiro aos poucos, tem sempre a garantia pra fazer o que quiser. LANÇAMENTO DO LUBRAX Tudo prontinho para o lançamento do Lubrax, aquele BR, não é que o Tony Tornado se mete nisso? Festival da Canção: Tony Tornado, aquele rapaz enorme fazia uma pirueta cantando: “Na BR três, na BR três..” Quando nós chegamos no dia seguinte para fazer uma reunião com o General Barros Nunes e o General Geisel, (já ungido presidente da República, escolhido pelo alto comando, o número das caminhonetes que o acompanhavam pelo aterro eram três, com doze homens, não era mais uma com quatro homens, todos os sinais exteriores mostravam que apesar de ser presidente da Petrobras, de fato, já o era presidente da República) quis o destino que o General visse na televisão o Tony Tornado. Ele disse: “Senhores, tudo suspenso”, “O que isso General?” “O Tony Tornado cantou BR3 ontem no Festival da Canção, e BR de Lubrax, de Petrobras pode ser associada a pico na veia, pode ser associado, fez um pequeno gesto, á coisas que não devemos nem pensar, como eu vou fazer um lançamento associando... tudo suspenso”. Houve interferência do Roberto Marinho, que já tinha os espaços todos comprados. A agência Alcântara Machado estava com todos os comerciais de 30 segundos prontos, inclusive um com umas freiras representando pureza, com seu chapéu de freira, véu, aquela coisa toda, elas iam ter a sua pureza afetada pelo Tony Tornado, o General Barros Nunes ainda tentou argumentar, mas foi secamente cortado pelo General Geisel. Passou-se um mês e meio, mais ou menos, houve nova reunião. O General Pio dos Santos me chamou – eu era queridinho dos generais porque era formado pelo ITA, “esse menino é nosso”, é o que eu sentia que eles achavam, sorte pra mim –, e disse: “Você vai falar em nome do pessoal que quer lançar o produto”, “Eu?” “Vai pro sacrifício, meu filho, quando der a palavra eu passo pra você, eu falo com o Barros Nunes”. Todo mundo agradeceu, eu falei “General, vou fazer uns argumentos, o senhor permite? Pra não perder seu tempo eu alinhei e escrevi, posso ler?”, “Pode”. Para surpresa de todos, ele perguntou: “Alguém mais é a favor?”, com esse tom o pessoal achou que tinha um ranço, então ninguém quis correr o risco de me acompanhar na proposição, eu fiquei sozinho, apavorado. O General disse: “Está bem, passado esse tempo e ouvindo, só lamento que ninguém quis argumentar contra”, aí vira um engraçadinho e diz: “General, contra já tem o senhor, não precisa mais ninguém, o senhor é plenipotenciário na sua argumentação com muito respeito”. E aí ele cedeu. RELACIONAMENTO COM CLIENTES Essa reunião foi há dez anos atrás, até então a Petrobras não tinha reunião nenhuma. Odeio cliente, é uma necessidade, o ideal era não ter cliente, ninguém nunca pensou que o cliente paga o nosso salário, ele tem que estar satisfeito, cliente é o meu inimigo, quem é o cliente? Shell? E a Shell mesmo jogava para acabar com a Petrobras, visivelmente Em todos os fóruns que eu fui via que era uma idiossincrasia, “essa maldita Petrobras, temos que acabar com essa empresa estatal”. Os empresários: “Como você consegue trabalhar numa empresa dessas? Você que tem espírito de iniciativa privada. Essa porcaria de empresa” A raiva era mútua. Na medida em que a Petrobras foi encantando o cliente, atendendo, retornando o telefonema no mesmo dia, mantendo um 0800 para os clientes, reconhecendo até pelo nome do cliente de que empresa ele era; registrando não pode mais apagar, gravando não pode mais apagar; se o colega não responder num determinado prazo aquilo vai direto para o chefe. Foi uma mudança de cultura tremenda. Lá no Hotel Glória foram 80 colegas da Petrobras e não mais do que cinco ou seis clientes. Os salgadinhos sobraram, não foi um cliente. CERTIFICAÇÔES / RELACIONAMENTO COM CLIENTES A certificação ISO 9000 e BVQI [Bureau Veritas Quality International]. O BVQI é um Bureau que faz uma auditoria em cima de uma determinada norma de gestão, ele usa várias normas. No nosso caso, era a norma ISO 9000, de gestão. Ele vai lá e vê se está tudo conforme. O BVQI tinha uma side letter, uma carta por fora, dizendo que não certificava empresas aéticas que tivessem caixa dois – a Petrobras não é aética, não tem caixa dois – e que não tivessem 0800 para cliente, tivemos que implantar esse troço A primeira side letter fomos certificados por seis anos, era pesquisa de satisfação de cliente. A primeira pesquisa de satisfação de cliente foi feita por um chileno, o Julio Lobos; ele nunca tinha ido a Petrobras e foi pessoalmente para dizer que nunca tinha visto isso na vida dele: uma empresa odiada por seus clientes. Ele deu os dados: só 8% dos clientes achavam que o desempenho da Petrobras com relação ao relacionamento com o cliente era bom; excelente ninguém, 92% ruim ou péssimo. Isso foi um choque. Nos reunimos, eu fiquei na porta, todos os gerentes que saíam eu cumprimentava: “meus pêsames”, comandado pelo Castilho, que hoje é o chefe de escritório de Pequim. Ele disse: “Vai lá para porta e dá os pêsames para todo mundo”. Alguns colegas disseram palavrão: “pô, quero que se...” Coisa feia gente. O Castilho disse: “Deixa dizer Heide, dá os pêsames”, “Meus pêsames, meus pêsames”. Á 30 a 50 gerentes, não me lembro quantos, eu dei os pêsames. A partir disso, tudo mudou. Hoje, nas pesquisas de relacionamento com os clientes, temos: satisfeitos e muitos satisfeitos na faixa de 78 a 80%. RELACIONAMENTO COM CLIENTES Hoje temos um canal cliente pela internet, temos o 0800, temos visita de cliente, seminários e congressos patrocinados pela Petrobras, visita ao cliente indo um diretor da Petrobras, cara a cara com o cliente, conferência pela internet. O cliente não é mais odiado. Eu pedi a IBM alguém para fazer uma palestra, liguei para o presidente da IBM o Mário Bethlem, que era meu colega de turma do ITA: “Mário estou precisando de um diretor seu para fazer uma palestra para a diretoria da Petrobras”, porque a IBM ganhou prêmio de qualidade de gestão na fábrica de Sumaré, foi a primeira a ganhar, isso tem uns 12 anos, 13 anos. Aí o Mário disse: “Não posso mexer nisso, tem que falar com gerente da conta Petrobras”. Aí me liga uma pessoa e diz: “Tudo que é Petrobras é comigo, inclusive palestra, eu sou gerente da conta da Petrobras, qualquer reclamação é comigo, a Petrobras é um cliente muito especial”. Hoje, nós imitamos, nós temos gerente da conta Shell, gerente da conta Esso; isso é uma novidade inimaginável. O que mudou foi a cabeça do funcionário, não o sistema, o sistema ajuda a conduzir as ações efetivas, mas nenhum software muda a cabeça de ninguém, até porque é virtual (risos). HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Foi um momento de pegar os postos do aterro, que eram da Shell. Eu fui a uma festa da Shell, na Ilha do Governador, e na hora de entrar o Jornal Nacional eles puseram um telão e passaram um Jornal Nacional falso, com os mesmos atores. Entrou no mesmo horário dizendo: “A Shell acaba de ganhar o certificado ISO 9000, antes da Petrobras, parabéns a Shell”. Todo mundo viu que era brincadeira. Vi o pessoal da Shell dizer: “Shell, Shell, Shell, Shell, Shell”, com igual fé e ardor juvenil que os empregados da Petrobras não o fazem, nunca vi ninguém gritar Petrobras, Petrobras, Petrobras. O ardor, a dedicação etc., não tem nada a ver com a cor da companhia, é um clima que você tem na companhia, por isso a Shell sempre se destacou entre as distribuidoras como o nosso maior oponente. O que eu destaco é como tiramos esses postos deles, foi uma dor no coração, todos se dedicaram e o General Geisel também. Nós combinamos com o governador do Estado de fazer um edital em que valia quanto se dava em dinheiro de luvas e também as vantagens colaterais. Ficou um negócio meio que como depósitos em bancos, conta corrente, no Banerj, que era o banco do Governo do Estado do Rio de Janeiro. A Petrobras propôs botar 100 milhões no Banerj, não havia luvas e a Shell perdeu, foi contra, foi para a justiça dizendo que era um critério muito vago, com toda razão, as vantagens colaterais. O General Geisel chamou um grupo, eu fui um dos chamados, para procurar os desembargadores, com carinho nas suas residências, chamou os advogados da Petrobras e os engenheiros, para procurar o desembargador Orozimbo Nonato, procure o desembargador Martinho Garcez. Um colega chegou à Lagoa, onde morava o desembargador, e o segurança do prédio disse: “O quê o senhor tem?”, “Eu sou da Petrobras, tenho uma mensagem do presidente da Petrobras, Dr. General Ernesto Geiseil, para o desembargador”. Uns desciam, outros mandavam subir: “O quê o General mandou pra mim? Está assinado?”, “Não, é verbal, está aqui a minha carteira da Petrobras, a minha posição é essa, meu telefone é esse, meu cartão está aqui. O senhor acredita se quiser, é uma mensagem verbal”, “Qual é a mensagem?”, “Ma próxima quinta-feira, o tribunal dos desembargadores deve se reunir e vai haver um caso Petrobras – Shelll, o General Geisel, futuro presidente da República, pediu que fosse visto com carinho os interesses da Petrobras na estação”. Adivinha qual foi o resultado? Foi de 33 a zero a favor da Petrobras, eram 33 desembargadores, o que mostra como era efetiva a metodologia de procurar um por um e só pedir um carinho. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS A história do meu broche: ele é o antigo emblema Petrobras, é de ouro puro veio num estojo H. Stern, foi a Petrobras que me deu, quando completei 20 anos de trabalho. Tinha dois brilhantes. Com 30 anos, ela não deu mais (eu estou com 47 anos), e eu botei o terceiro brilhante, depois desisti de botar o quarto, daqui a pouco o quinto. É um emblema que não se usa mais, é a antiga marca da Petrobras, mas eu guardei com carinho aqui no coração. Não distribuíram mais, por uma razão muito simples: O Globo fez um pequeno editorial dizendo que a Petrobras estava distribuindo ouro para os seus empregados; isso deu uma convulsão, os jornais todos começaram a reproduzir e não ficava bem dar ouro a um funcionário. Eu fui apurar na H. Stern, era bobagem, valia menos que uma aliança, porque se fazia uma quantidade muito grande e era estampado na folha, não tinha o trabalho de ourives. Então, essa é a história desse escudinho. MEMÓRIA PETROBRAS Eu quero registrar o meu agradecimento pelo interesse em me entrevistarem. Espero ter estado à altura do interesse de vocês, ter correspondido. Eu achei muito bom, muito agradável, nunca fui entrevistado, até porque não tenho muita coisa para dizer. Achei que o entrevistador foi motivando e eu falei até mais, em alguns momentos, do que devia, mas na maioria eu falei bem menos, estejam certos.
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