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Personagem: Hugueta Sendacz
Por: Museu da Pessoa, 7 de novembro de 2018

Hugueta: regente da sua história

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Hugueta: regente da sua história

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Corro por um quintal bem grande, e esse quintal era de uma casa onde eu morava. Na verdade, de uma casa onde meus pais alugavam um quarto, recém chegados da Europa. Eu devia ter menos de dois anos de idade e essa é a primeira imagem que me vem à memória, da infância. Fazia pouco tempo que meu pai desembarcara em Santos, com mulher, um bebê e oito dólares no bolso. O trem os trouxera até a Estação da Luz; abrigaram-se nessa pensão no Bom Retiro. Desse bairro eles nunca saíram. Tampouco eu.

Meu pai era boneteiro - produzia bonés. Foi trabalhar em uma fábrica de bonés. Logo conseguiu montar a própria. Que depois virou confecção - roupas, não é? Ainda imagens da infância: uma casa propriamente dita - quando eles puderam alugar - e os cinco anos de idade passados na cama, com sarampo, chorando por não poder ir à festinha do meu aniversário. E mais: uma outra casa, maior, que chamavam porta e janela - um janelão na sala, que dava direto para a rua.

Na época certa, fui para a escola. E, à tarde, íamos - eu e os coleguinhas - para o Jardim da Luz. Sozinhos. Apenas alguém nos atravessava, que passava bonde. Lembro dos livros de história que alguém do governo distribuía; provavelmente onde se originou o meu gosto pela leitura. Por que meus pais emigraram? E por que o Brasil? Bom, primeiro pelos efeitos da crise de 1929, e depois pelo antissemitismo em ascensão na Polônia, de onde vieram. E o Brasil especificamente, pela propaganda segundo a qual aqui “crescia dinheiro em árvores”.

Tinham a imagem de que aqui eles iriam poder. E depois, eles queriam que a filha deles crescesse em um país onde não houvesse esse antissemitismo.

Um período que me marcou demais - eu tinha 13 anos - foi o da Segunda Guerra Mundial. Foi um sofrimento que atingiu a todos nós, mas especialmente aos meus pais. Afinal, a família deles quase toda na Europa; já eu, saí de lá bebê. Meus pais sempre foram muito politizados, então compreendiam...

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30 anos do coral

Apresentação comemorativa dos 30 anos do Coral, em 15 de dezembro. Quando terminou, dona Hugueta foi presenteada com um buquê de flores, na Casa do Povo.

período: Ano 2018
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Primeira foto

Primeira fotografia de dona Hugueta. A mãe de dona Hugueta, filha única, tinha uma ampliação da foto que ficava em cima da sua cama. Quando dona Hugeuta ficou maior, quando começou a ficar adolescente, pedia pra mãe tirar a foto pelada da parede, por vergonha. E a mãe sempre se negava a tirar. Hoje, a ampliação está guardada no baú da sua casa.

período: Ano 1927
local: Polónia / Lodz
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

"Parece intelectual!"

Como quase todos os imigrantes da época, o navio parava em Santos, pegava-se o trem no cais que vinha para a estação da Luz. Seus pais, imagina, devem ter tirado a foto para enviar à família na Polônia, tendo os avós e tios na Polônia. Dona Hugueta gosta bastante dessa foto: destaca a pose, as pernas cruzadas: “parece intelectual”!

período: Ano 1930
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Formatura de piano

Formatura de piano de dona Hugueta no Conservatório Dramático e Musical. Hugueta conta que não teve a entrega do canudo, como acontece nas formaturas. Mas aconteceu o baile no Palácio Trocadeiro, nos fundos do Palácio Municipal. Ela recorda-se dos fundos coloridos de vidro, por onde saíam as luzes, “o lugar mais chique na época”. Seu pai dançou com ela a valsa.

período: Ano 1943
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

De ficar arrepiada

Foto de fotógrafo, que dona Hugueta diz ficar arrepiada quando a vê: a foto foi encontrada no meio das fotos que o marido dela tinha. “Como se explica?” Dona Hugueta disse que chegou a perguntar para a mãe se algum dia ela tinha dado a ele alguma foto e ela disse que não. Perguntou ao marido e ele também não sabia que tinha a foto. Descobriu nos materiais do marido, quando juntaram os trapos. “Acho que fomos predestinados um para o outro. Entre o céu e a terra existe mais coisa que a filosofia nos explica. Pra mim, isso não existe explicação.”

período: Ano 1937
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Criação de figurino

Quando dona Hugueta trabalhava na Confecção Agar Modas, estava desenhando figurinos. Ela trabalhava na parte de criação.

período: Década 1980
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Loja de confecção

Dona Hugueta na loja da Confecção.

período: Ano 1970
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Jardim da Luz

Hugueta diz que foi a mulher mais fotografada do mundo. Seu fotógrafo era seu marido. Na Rua Prates, recorda-se que o jardim não era com duas pistas, como hoje. “O roseiral vinha pra dentro de casa. Nós vivíamos no Jardim da Luz”.

período: Ano 1953
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Formatura do segundo grau

Hugueta lembra-se que se formou no Colégio Stafforld, só para meninas, onde hoje é o Museu da Energia.

período: Ano 1942
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

La pequeña

Dona Hugueta é a que está no centro. Era chamada “La pequeña” pelo maestro, o Vaslav Velchek, que veio ao Brasil na época da foto, sendo o fundador da Escola de balé. Hugueta recorda-se de sempre ser a mais baixinha.

período: Ano 1942
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Algo em comum

O coral fez o curta-metragem, Algo em comum: um menino negro corre desesperadamente pelas ruas da metrópole. Um coral de velhos judeus ensaia músicas do holocausto: barbárie e encontro. “Uma comparação entre as crianças de rua do Brasil e as crianças do holocausto”. É um curta-metragem com as duas imagens. Na foto, dona Hugueta está ao lado de uma criança que representou o grupo de crianças de rua. O curta foi filmado durante as oficinas culturais da Três Rios, no MIS. “Fugindo, ele sai correndo e escuta o coral ensaiando em ídiche.”

período: Ano 1999
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Cena de filme

Cena da filmagem do curta-metragem Algo em comum no MIS. Dona Hugueta ressalta a troca de olhares que tem com o garoto que representa o grupo de crianças que moram na rua.

período: Ano 1999
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Levante do Gueto de Varsóvia

Apresentação em comemoração de 72 anos do Levante do Gueto de Varsóvia na Casa do Povo. Todo ano, realizam o coral em lembrança, desde 1944 em São Paulo. Com as famílias, são acendidas também sete velas, cada uma representando os milhões de pessoas que morreram durante o holocausto.

período: Ano 2015
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Aniversário de 90 anos

Convite para o aniversário de 90 anos de dona Hugueta na Casa do Povo.

período: Ano 2016
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Seu lugar

Dona Hugueta na festa dos 90 anos, apoiada no piano, “seu lugar”, na Casa do Povo. Sua filha Marina gosta muito dessa fotografia.

período: Ano 2016
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Família

Com a família, os filhos e noras com os netos, na Casa do Povo.

período: Ano 2016
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Família completa

Hugueta com a família toda: filhos, netos, bisnetos, afilhadas, na Casa do Povo.

período: Ano 2016
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Nas nuvens

“Nessa foto, estão me jogando pro ar!” Homenagem à dona Hugueta, na festa de 90 anos na Casa do Povo: quando estava lá em cima, perguntaram como ela estava se sentindo. De prontidão, respondeu: “Estou bem! Afinal, estou nas nuvens!”

período: Ano 2016
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Casamento

Foto do casamento, em 15 de dezembro de 1946 com José Arron Sendacz. Em off: como gostava muito da cor azul, decidiu casar-se de azul. Todos, recorda-se, ficaram embasbacados, mas a aprovação foi geral. O casamento foi em dois lugares: como não quiseram casar na sinagoga, pois não eram religiosos, casaram na casa do rabino, “que tem o mesmo valor”. A festa era pra ser no Centro de Cultura e Progresso, que foi mãe da Casa do Povo, o IBIC. No entanto, seu pai contratou um buffet pra fazer a festa com todos os convidados servidos à francesa. “Tinha que ser!”, mas o dono do buffet, senhor Max, um judeu alemão, muito quadrado “como todos os alemães”, foi medir o salão e percebeu que só dava 49 centímetros por pessoa, quando o correto, pra ele, seria 50 cm. E se recusou a fazer a festa. Seu pai foi atrás de outro salão, pois queria muito o buffet, conceituado na época. O salão embaixo da sinagoga tinha um salão maior que chegava aos 50 cm, fazendo, então, a festa de casamento no subsolo da sinagoga. Assim foi o casamento. A foto foi tirada na casa da sua cunhada, irmã do José, na Rua Prates.

período: Ano 1946
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Casamento II

Foto do casamento, em 15 de dezembro de 1946 com José Arron Sendacz. Em off: como gostava muito da cor azul, decidiu casar-se de azul. Todos, recorda-se, ficaram embasbacados, mas a aprovação foi geral. O casamento foi em dois lugares: como não quiseram casar na sinagoga, pois não eram religiosos, casaram na casa do rabino, “que tem o mesmo valor”. A festa era pra ser no Centro de Cultura e Progresso, que foi mãe da Casa do Povo, o IBIC. No entanto, seu pai contratou um buffet pra fazer a festa com todos os convidados servidos à francesa. “Tinha que ser!”, mas o dono do buffet, senhor Max, um judeu alemão, muito quadrado “como todos os alemães”, foi medir o salão e percebeu que só dava 49 centímetros por pessoa, quando o correto, pra ele, seria 50 cm. E se recusou a fazer a festa. Seu pai foi atrás de outro salão, pois queria muito o buffet, conceituado na época. O salão embaixo da sinagoga tinha um salão maior que chegava aos 50 cm, fazendo, então, a festa de casamento no subsolo da sinagoga. Assim foi o casamento. A foto foi tirada na casa da sua cunhada, irmã do José, na Rua Prates.

período: Ano 1946
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Aniversário de 80 anos

Dona Hugueta com os netos na comemoração dos 80 anos, na Casa do Povo.

período: Ano 2006
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia

Apresentação do Coral

Apresentação comemorativa dos 30 anos do Coral, em 15 de dezembro, na Casa do Povo. Quando terminou, dona Hugueta foi presenteada com um buquê de flores.

período: 15/12/2018
local: Brasil / São Paulo / São Paulo
imagem de: Hugueta Sendacz
crédito: Acervo pessoal
tipo: Fotografia
Palavras-chave:

Dados de acervo

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Entrevista de Hugueta Sendcz

Entrevistada por Karen Worcman

São Paulo, 07 de novembro de 2018

Entrevista número PCSH_HV707

Revisado e editado por Paulo Rodrigues Ferreira

P/1 - A gente vai parar um pouquinho para começar esta entrevista. Pedir para a senhora fechar o olho um pouquinho, respirar um pouquinho e fazer uma longa viagem: ver qual seria a primeira imagem da sua vida que vem à sua memória.

R - A primeira imagem que vem à memória acho que, em grande parte, não sei se ela é bem uma imagem de verdade ou se olhar as fotos faz com que eu me lembre. Eu devia ter, no máximo, uns três anos de idade e eu me vejo chegando aqui.... Não, já estava aqui no Brasil, porque eu cheguei com menos de dois anos de idade. Eu me vejo correndo em um quintal muito grande, onde meus pais tinham alugado um quarto para morar quando eles chegaram ao Brasil. Porque, como todos os imigrantes daquela época, com certeza, meu pai contava que ele desceu do navio com mulher e um bebê praticamente - eu - e ele tinha oito dólares no bolso. Eles desceram do navio em Santos, e ali onde o navio ancorava, logo em frente, tinha uma estação de trem, que hoje em dia foi transformada em um centro cultural, mas ela existe ainda. Ali eram os cais em que paravam os navios de passageiros. Naturalmente, pegaram o trem para São Paulo e vieram parar na Estação da Luz. Tanto que acabaram morando no Bom Retiro, de onde eles nunca saíram. E eu até hoje continuo no Bom Retiro. E eu me lembro dessa casa. E eles contaram - porque isso eu não me lembro - que eles primeiro ficaram em uma pensão na rua Três Rios. Isso foi em março de 1929, eles chegaram ao Brasil em pleno carnaval. Uma coisa curiosa, eu não tenho muita lembrança disso, e sim do meu pai contar que foi o ano em que teve aquela tempestade de março. Naquele tempo, o Tietê extravasava e inundou a rua, a Três Rios ficou inundada, alagada e meu pai contava que o carnaval foi adiado, não teve carnaval por causa da...

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Título: Hugueta: regente da sua história

Data: 7 de novembro de 2018

Local de produção: Brasil / São Paulo / São Paulo

Personagem: Hugueta Sendacz
Entrevistador: Karen Worcman
Autor: Museu da Pessoa

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