IDENTIFICAÇÃO Homero Vasques de Oliveira Ventura, nascido em Santos, São Paulo, no dia quatro de janeiro de 1958. INGRESSO NA PETROBRAS Quando me formei, em 1980, prestei um concurso de nível nacional para engenheiros, oferecido pela Petrobras, e fui admitido em cinco de fevereiro de 1981. Eu sou engenheiro civil. A Petrobras precisava de engenheiros de petróleo e não existia na época, hoje já existe em algumas faculdades o curso de formação em engenharia de petróleo. Então, a Petrobras contratava engenheiros ou recém-saídos da faculdade, mas os contratava como engenheiros estagiários, aí eles ficavam fazendo um curso de especialização em engenharia de petróleo em Salvador, Bahia. Assim, fiz um ano de curso em engenharia de petróleo após o qual houve uma seleção para diversos locais do Brasil e eu tive muita sorte, fui abençoado, porque foi a única turma de engenheiros de petróleo em que houve uma oferta de vagas para trabalhar na Braspetro. A Braspetro era a subsidiária da Petrobras que podia atuar no exterior, porque devido ao estatuto da Petrobras a empresa Petrobras não poderia fazer esse tipo de atividade. Então criou-se a Braspetro em 1972 e em 1981 foi a primeira e única turma de engenheiros em que houve disponibilidade de vagas para engenheiros recém-formados em engenharia do petróleo, até então trabalhavam na Braspetro somente engenheiros que já trabalhavam na Petrobras, já tinham alguma experiência na Petrobras trabalhando nos campos de petróleo do Brasil e aí sim eram cedidos a Braspetro. Nós éramos seis, nome de novela, né, Éramos seis, nós seis fomos selecionados do grupo de Salvador para trabalhar como engenheiros recém-formados em engenharia de petróleo na Braspetro. Eu nunca fui funcionário da Braspetro, sempre fui Petrobras cedido a Braspetro. Na época, não havia engenheiros da Braspetro, havia geólogos, geofísicos da Braspetro. E todos os engenheiros eram cedidos pela Petrobras,...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Homero Vasques de Oliveira Ventura, nascido em Santos, São Paulo, no dia quatro de janeiro de 1958. INGRESSO NA PETROBRAS Quando me formei, em 1980, prestei um concurso de nível nacional para engenheiros, oferecido pela Petrobras, e fui admitido em cinco de fevereiro de 1981. Eu sou engenheiro civil. A Petrobras precisava de engenheiros de petróleo e não existia na época, hoje já existe em algumas faculdades o curso de formação em engenharia de petróleo. Então, a Petrobras contratava engenheiros ou recém-saídos da faculdade, mas os contratava como engenheiros estagiários, aí eles ficavam fazendo um curso de especialização em engenharia de petróleo em Salvador, Bahia. Assim, fiz um ano de curso em engenharia de petróleo após o qual houve uma seleção para diversos locais do Brasil e eu tive muita sorte, fui abençoado, porque foi a única turma de engenheiros de petróleo em que houve uma oferta de vagas para trabalhar na Braspetro. A Braspetro era a subsidiária da Petrobras que podia atuar no exterior, porque devido ao estatuto da Petrobras a empresa Petrobras não poderia fazer esse tipo de atividade. Então criou-se a Braspetro em 1972 e em 1981 foi a primeira e única turma de engenheiros em que houve disponibilidade de vagas para engenheiros recém-formados em engenharia do petróleo, até então trabalhavam na Braspetro somente engenheiros que já trabalhavam na Petrobras, já tinham alguma experiência na Petrobras trabalhando nos campos de petróleo do Brasil e aí sim eram cedidos a Braspetro. Nós éramos seis, nome de novela, né, Éramos seis, nós seis fomos selecionados do grupo de Salvador para trabalhar como engenheiros recém-formados em engenharia de petróleo na Braspetro. Eu nunca fui funcionário da Braspetro, sempre fui Petrobras cedido a Braspetro. Na época, não havia engenheiros da Braspetro, havia geólogos, geofísicos da Braspetro. E todos os engenheiros eram cedidos pela Petrobras, nós somos os primeiros, mas nós entramos lá logo depois da formação em engenharia de petróleo. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Na época, quando nós seis chegamos, cada um foi para uma área específica, um segmento de atuação na indústria de petróleo: um foi para a área de Completação de Poços, outro para a área de Avaliação, dois foram para a área de Reservatórios e eu fui para a área de Acompanhamento de Produção, isso foi em 1982. Depois do curso eu fiz seis meses de estágio em diversos pontos do Brasil, para ter alguma experiência, viver na prática o que a gente tinha visto em um ano de curso. Em agosto de 1982, eu vim para o Rio de Janeiro - a sede da Braspetro era no Rio de Janeiro -, aí trabalhei como engenheiro responsável pelo acompanhamento da produção dos campos que a Braspetro tinha no exterior até 1987, quando foi criada uma área de Sistemas de Produção Antecipada, que era uma técnica que a Petrobras tinha praticamente inventado, em que você coloca um campo em produção antes da data efetiva de início da produção, para coletar dados e ter mais idéias sobre o tipo de campo de petróleo que era. Essa área foi criada na Braspetro e eu me interessei e fiquei trabalhando nela por dois anos, foi nessa área que eu tive a oportunidade de fazer a minha primeira viagem internacional. Nos primeiros cinco anos, fiquei no Rio de Janeiro sem viajar. Nesta função de Sistemas de Produção Antecipada fiz duas viagens, uma para a China e uma para a Índia, tentando vender um pouco da tecnologia que a Petrobras havia desenvolvido. Depois desses dois anos, eu recebi um convite para fazer Avaliação Econômica, porque havia aberto uma vaga na Gerência de Negociações. Pensei bem e resolvi aceitar, não demorei muito para aceitar, porque eu estava querendo mudar um pouco de ares e foi a melhor coisa que fiz na vida. Descobri o que eu gostava de fazer, aprendi, fiz um cursinho de aperfeiçoamento, mas foi onde eu realmente me descobri. Avaliação econômica dos campos de petróleo que a gente tem no exterior ou então que a gente quer entrar. A gente, às vezes, quer entrar e nós do setor de Avaliação Econômica fazíamos a avaliação econômica para ver se valia a pena entrar, quanto a gente podia pagar para ter direito aquela oportunidade. E assim eu fiquei muito tempo. Isso foi em 1989, tive oportunidade de viajar, não como residente, existiam dois tipos de missão, nós chamamos missão temporária e missão permanente. A missão temporária é quando você vai, resolve um problema, participa de uma reunião, faz um projeto e volta e a missão permanente é a que você vai com a família para uma unidade estabelecida e fica morando por no mínimo dois anos. Durante os 10 primeiros anos nessa atividade, eu fiz várias viagens, mas pontuais, temporárias, fui para vários locais do mundo, conhecer muitos lugares interessantes. Em 1999, me convidaram para ser Gerente Financeiro da unidade dos Estados Unidos, era a minha primeira experiência, porque eu nunca havia sido gerente. Eu era chefe de área, nunca havia sido gerente, nunca havia trabalhado na área financeira, nunca havia feito uma missão no exterior permanente. Pesei os prós e contras, tive o ok de minha esposa, que eu esperava que não tivesse, porque nós temos uma situação familiar peculiar, nós temos um cunhado que é doente, na época ele tinha 46 anos de idade e eu achava que a gente nunca iria sair do país. Eu sempre quis ter essa oportunidade de missão no exterior, missão permanente, para ter essa oportunidade de expor a minha família, os meus filhos, a isso, mas eu achava que não ia ser possível por causa dessa situação muito particular. Mas, surpreendentemente, ela pensou um pouquinho e, como a missão era nos Estados Unidos, poderia ter a assistência que o meu cunhado precisava, minha sogra já idosa, na época tinha 76 anos, se precisasse de alguma emergência médica eu poderia ir tranqüilamente. Nos Estados Unidos é vantagem serem espaços maiores, se fosse na Inglaterra os apartamentos são pequenos e não haveria possibilidade de passear com a cadeira de rodas para cima e para baixo com o meu cunhado, então resolvemos aceitar esse desafio e lá fomos nós. Eu sou casado, tenho dois filhos, mais meu cunhado e a minha sogra, eram seis. Então fomos para os Estados Unidos, ficamos lá por quatro anos e meio. A experiência como gerente financeiro de uma unidade da Petrobras foi bastante difícil no começo. Depois eu fui me adaptando e acabou sendo uma boa experiência e finalmente fiquei lá de 1999 até começo de 2004. Agora sou Gerente de Portfolio, voltei a fazer o que eu fazia antes, só que agora a posição virou uma gerência, teve uma promoção da posição, foi bom para mim, eu estou realmente bastante satisfeito. COTIDIANO DE TRABALHO Nesse momento nós temos duas vertentes no trabalho: uma vertente dos negócios já existentes e a vertente dos negócios que ainda vão existir, as oportunidades que chegam. Nos negócios já existentes, a gente monitora o desempenho das unidades do exterior, coleta dados de produção e de reservas e projeção de investimentos, coloca tudo isso na salada do contrato daquele país – cada país tem o seu contrato, as suas regras fiscais, os seus impostos, os seus royalties, suas partilhas de produção, suas divisões de lucro, cada um tem a sua particularidade. Então a gente coloca todos aqueles dados dentro da salada daquele contrato, mexe e sai o valor de cada um dos nossos projetos, a gente consolida em nível de país e depois consolida todos os países aqui na sede. Na outra vertente, a área internacional, tem uma gerência executiva que trata das novas oportunidades, essa gerência executiva identifica as novas oportunidades. A gente acaba participando como provedor do serviço de fazer análise econômica dessa oportunidade, então a área de novos negócios nos contrata para calcular quanto vale aquilo, a gente faz a mesma coisa que faz para a vertente dos existentes faz para os novos, então analisa o contrato do país, todos os sistemas de royalties e impostos que existem, parte de produção, coloca tudo no liquidificador, que é o computador, faz o programa de avaliação econômica e diz: essa oportunidade vale a pena pagar X milhões de dólares. Tem diversas modalidades de se fazer negócio, não é só dinheiro, vale a pena participar com uma participação desproporcional em relação ao que você está ganhando, você paga 20% de um poço para ganhar 10% de participação na licença, coisas assim, desse tipo, que se chama farm-in. Existem diversas modalidades. Então, na verdade, a gente faz a mesma coisa, mas em duas vertentes diferentes. PETROBRAS INTERNACIONAL A atuação depende do nosso planejamento estratégico. O planejamento estratégico diz se a gente deve focar. Nesse momento, o planejamento estratégico diz que a gente deve ser líder na América Latina e ter uma expansão seletiva em outras áreas-foco, então o comitê estratégico se reúne e decide que vamos procurar oportunidades nesse país, nessa região, aí a inteligência de mercados começa. Existe um setor nesse desenvolvimento de negócio que é a inteligência de mercados, que começa a analisar como é atuar naquele país, qual é o cenário que a gente vai enfrentar: econômico, fiscal, político e aí tem essa oportunidade. Nós temos que ser líder na América Latina, mas o ideal é expandir. Nesse momento, na Área Internacional, essa nova estruturação que está valendo a partir de agosto de 2004, nós temos duas gerências executivas regionais, uma que cuida de Cone Sul e outra cuida do que não é Cone Sul. Eu faço parte da gerência do resto do mundo: Américas, África e Eurásia, um nome muito grande, a gente fala o resto do mundo, o que não é Cone Sul é comigo. Então, atualmente, a gente tem atividades na Colômbia, nos Estados Unidos, na Nigéria, em Angola, no Irã, na Tanzânia e na Líbia. A gente fica monitorando essas atividades. Fora isso, existem várias outras linhas de atuação, nesse momento tem vários outros países sendo atacados, no bom sentido, atacados com a nossa inteligência, para ver se vale a pena a gente entrar ou não. São vários estágios. Primeiro, a gente entra numa área completamente virgem para explorar, correndo risco. A área de exploração é uma área de muito risco, entre cinco poços que você perfura, se achar um você está satisfeito da vida, mas às vezes a gente procura oportunidades e coisas que já foram descobertas e estão sendo desenvolvidas, ou então áreas que já estão em produção, depende do momento. A Braspetro foi criada em 1972, o nome era Petrobras Internacional S.A., que era conhecida como Braspetro. Essa empresa existiu até 2002, com a quebra do monopólio em 1999, 1998, agora esqueci, a Petrobras deixou de ter aquela limitação de não poder atuar no exterior, foi a razão pela qual foi criada a Braspetro 17 anos antes, então a Petrobras resolveu que ela mesma iria atuar no exterior, então no ano 2000 ela criou a área Internacional, houve uma reformulação na Petrobras, tinha a Diretoria de E&P, a Diretoria de Abastecimento, a Diretoria de Serviço, outras diretorias e a Diretoria Internacional foi criada no ano de 2000 e dois anos depois houve a incorporação da Braspetro dentro da Petrobras. A Braspetro deixou de existir, então a Petrobras hoje é uma companhia una que tem uma Diretoria Internacional, porque foi criada a área de Negócios Internacional, foi criada já em 2000, em 2002 foi incorporada a Braspetro, a Braspetro deixou de existir. O que era interessante na Braspetro, foi na época que eu entrei, é que a Braspetro era uma mini-Petrobras, fica isolada, inclusive isolada fisicamente, era um outro prédio, ela tinha contabilidade, finanças, parte jurídica, parte tributária, engenharia, geologia. Ela tinha tudo o que a Petrobras tinha, em um prédio de oito andares. Então dava uma experiência muito interessante para quem trabalhava lá. A pessoa para trabalhar na Braspetro precisava saber de tudo um pouco, enquanto que quem trabalhava na Petrobras precisava saber muito de uma coisa só. O pessoal da Braspetro precisava ser mais eclético, porque você não via só a sua área de atuação, você sabia que tinha implicações legais, você conversava com o advogado, sabia que tinha implicações contábeis, conversava com o contador, mudava de andar, rapidamente conversava. Engenheiro não falava só com engenheiro, falava com geólogo, falava com advogado, com tributarista, com contador, com economista, toda hora, isso era a beleza de trabalhar na Braspetro e foi essa a época que eu peguei. Quando a Braspetro foi incorporada, quando a área internacional foi criada - na prática, a Braspetro terminou em 2000 -, nós fomos todos migrados, inclusive fisicamente, para trabalhar na grande Petrobras e eu já estava fora, estava nos Estados Unidos, deu para sentir que houve um certo choque desse pessoal todo que trabalhava na Braspetro, quando entrou na grande Petrobras, a Petrobras é grande, é gigante, então as coisas demoram um pouco para acontecer, na Braspetro era assim, num estalo de dedos, a gente tinha uma certa autonomia e as coisas resolviam muito mais rapidamente do que quando a gente entrou. Agora a gente já está acostumado, a gente conseguiu fazer com que alguns dos processos da própria Petrobras ficassem um pouco mais ágeis e a gente acostumou também um pouco a nossa velocidade para não ficar tão frustrado. Então é isso, a minha vida sempre foi muito interessante, muito ágil, sempre tive noção de todos os aspectos da indústria do petróleo, pelo fato de trabalhar na Braspetro. E, por causa desse mesmo fato, o ambiente na Braspetro é bastante amigável, parece que nós somos todos do mesmo barco e o relacionamento é muito bom, além de ser várias culturas diferentes o relacionamento faz com que a gente fique mais amigo, o que muitas pessoas não sentem na grande Petrobras. O investimento nessa área aumentou muito, porque o problema é o seguinte, aumentou a importância da internacionalização, a criação da área internacional, que foi em 2000, começou a dar um foco maior, antes a gente era uma coisa pequenininha, a Braspetro. Você perguntava para o pessoal da Petrobras o que é a Braspetro, quem é a Braspetro, a Braspetro não é nada, a gente tinha uma produção muito pequenininha. Alguns escritórios espalhados no exterior, mas o pessoal nem sabia disso. Com a criação da Área Internacional começou a aumentar o foco, a importância da internacionalização dentro do sistema Petrobras e, certamente, aumentou muito o nível de atividade profissional para tentar adquirir novas oportunidades, isso aumentou bastante. O processo de internacionalização da Petrobras foi muito rico, principalmente para nós da Braspetro, porque a gente sempre estava na linha de frente, já negociando com outras companhias, enfrentado contratos completamente diferentes que se tem aqui no Brasil. O Brasil não tinha nem contrato, era uma empresa do governo que só produzia para o governo, enquanto nós da Braspetro estávamos submetidos a uma miríade de diferentes cenários econômicos, diferentes cenários contratuais, fiscais, então quando tinha se essa idéia de que o monopólio ia ser quebrado a Petrobras começou a se preparar para isso então chamou muita gente da Braspetro para ajudar, a Braspetro já tinha essa experiência, então o que houve foi uma certa migração de pessoal que trabalhava na Braspetro para ajudar na abertura da Petrobras, foi um período muito rico, que fizemos cursos, explicamos como é que funcionava lá fora, que a gente tinha que tirar essa idéia que não estamos mais sozinhos no mundo, vamos ter que competir, não vai cair tudo na nossa mão para a gente trabalhar, a gente vai ter que lutar por isso, avaliar e tal, então foi uma mudança de cultura grande para o pessoal da Petrobras e a Braspetro teve participação nisso, em apresentar esse mundo, apresentar - Petrobras esse é o mundo que você vão enfrentar a partir de agora - então a experiência da Braspetro ajudou muito, acho que se você entrevistar alguém da Petrobras vai ter esse mesmo tipo de resposta. TRAJETÓRIA / MISSÕES EXTERNAS A primeira missão foi para a China, onde fiquei duas semanas, e marcou muito. Já foi direto um país de cultura completamente diferente. Eles não falavam inglês, nós não falávamos chinês. Então todas as nossas apresentações duravam o dobro do tempo, tinha que falar em inglês, eles traduziam para o chinês, aí o chinês falava, o interprete traduzia para nós, a gente entendia, depois falava, era o tempo em dobro, o intérprete era muito importante naquela época. Hoje em dia ele ainda não está espalhado, mas está bem melhor. A China está crescendo que nem uma condenada e a importância do inglês para eles é fundamental. Mas na época foi interessante. Quando eu cheguei na Braspetro, a gente já tinha sido expulso pelo governo iraquiano e não peguei o Iraque. Minhas missões mais interessantes foram em Londres, onde eu fiquei um mês fazendo avaliação, num período de uma licitação, e participando de todas a fases, mas não houve nenhuma história assim não, fora a do Décio Odonne. Com certeza, o Décio tem muitas histórias, ele morou muito tempo fora e tem muita histórias, eu não tenho não. O interessante da minha missão no exterior foi que na Petrobras da América, onde eu estava, eu diria que tinha até americano, porque tinha uma quantidade enorme de nacionalidades: chineses, tailandeses, indianos, peruanos, venezuelanos, mexicanos – todos naturalizados americanos, mas não nascidos na América. Eram ao todo 12 nacionalidades, se não me engano, cada um com uma cultura completamente diferente, então era um problema entender como essas outras pessoas pensam, nos pequenos acontecimentos do dia-a-dia, às vezes a gente interpreta achando que é uma coisa e na verdade não é isso. A gente leva umas cacetadas: “Poxa, não foi isso que eu falei, o cara entendeu errado.” É muito difícil. O inglês não é a língua original deles nem a minha, mas a gente tem que falar inglês, então, quando eu estou passando uma mensagem, eles estão trabalhando na cabeça deles às vezes de uma maneira diferente. A Petrobras teve mais essa riqueza, que é o desafio cultural. GESTÃO DE PORTFÓLIO Eu ocupo a Gerência de Gestão de Portfolio que cuida dessa metade do mundo, do resto do mundo. É o seguinte, há países que não são do Cone Sul: Peru, Venezuela e Equador são países que não estão dentro do Cone Sul, mas lá ficaram porque quando a gente comprou a Perez Companc, que é a maior companhia privada da Argentina, essa companhia já tinha ativos no Peru, na Venezuela e no Equador. Então por uma questão de gestão esses ativos ficaram sob domínio da Gerência de Cone Sul. Então, o Cone Sul, além de Argentina, Bolívia, Uruguai e Chile, tem Peru, Equador e Venezuela. E todo o crescimento vai vir pela Inter-AFE – Internacional Américas África e Eurásia, eles têm muito mais produção do que nós. Nós temos muito mais perspectiva de crescimento. Eles já têm uma produção grande, têm 190 de 250 mil barris por dia que a Área Internacional produz, uma coisa assim, então eles têm muito mais produção, a receita também é muito maior no Cone Sul do que na nossa área. Então, a nossa área tem mais o crescimento, para onde expandir, é por aqui que a gente analisa. Analisamos recentemente a entrada na Argélia, estamos analisando Guiné Equatorial, lugares da África Ocidental. A Guiné Equatorial é na África Ocidental, Argélia é Norte da África. Estamos analisando oportunidades na Índia. Então, o interessante é a diversidade de locais e ambientes contratuais em que vamos nos inserir. Não estamos parados nos países onde a gente está. A gente já está na Nigéria, mas está sempre avaliando oportunidades de crescimento, a gente já está nos Estados Unidos, mas avaliando a oportunidade de aquisição de companhias para aumentar o leque de projetos, permanentemente, tentando crescer. O foco do resto do mundo é a parte de West África, África Ocidental, que é aquela dobra da África. Nós temos um foco ali porque há uma certa similaridade com o que temos aqui no Brasil, uma similaridade geológica, porque a África era junto da América, depois se separou, então há uma certa similaridade. A gente conhece muito do Brasil e também conhece um pouco da geologia da África, naquele lado, porque antes, milhões de anos atrás, eram juntos, então tem esse foco. GOLFO DO MÉXICO No Golfo do México, também trabalhamos em águas profundas e ultra-profundas. A gente está sempre atento, já tivemos um grande sucesso lá recentemente. A gente fala que o risco exploratório é de um para cinco, normalmente. Mas nos Estados Unidos a gente furou quatro poços com quatro descobertas, uma atrás da outra, nesse perfil de águas ultra-profundas, mas ultra mesmo, mais que 2.500 metros de profundidade de água, e nesse caso também reservatórios ultra-profundos, mais 10 mil metros de reservatório, uma coisa operacionalmente difícil. Foram sucessos interessantes, porque descobrimos um play, um atrás do outro, encontramos óleo, então a gente está atento para esse crescimento no Golfo do México também. NIGÉRIA Com certeza, a gente já foi para a Nigéria por causa disso, na Nigéria quando nós descobrimos os campos de Agbami que foi em 1998 e Akpo em 1999, posso estar enganado nos anos, mas já foi em busca desse cenário de águas profundas e ultraprofundas. A gente tem esse expertise, pode usar, apesar de não sermos operadores, não sei se alguém já falou de operação para você. A gente quase nunca entra sozinho, entra em grupo, só que não fica um grupo de três, quatro companheiros trabalhando, uma das companhias é que trabalha mesmo, perfura os poços, constrói as facilidades, constrói as instalações de produção, constrói os oleodutos e as outras, primeiro, pagam a parte delas e agem ou não em conjunto com a operadora. Existem operadoras que não querem saber da opinião dos sócios, existem operadoras que gostam de saber da opinião dos sócios, a gente procura escolher aqueles operadores que gostam de saber a opinião, porque a gente gosta de dar a nossa opinião, então a gente participa ativamente da exploração, do desenvolvimento, analisa em conjunto, mas quem faz mesmo é o operador, a companhia operadora. Na Nigéria essas duas descobertas não foram feitas por nós; nós ajudamos na descoberta, mas não como operadores, nós participamos das decisões e dos estudos e fizemos essas duas descobertas, nós temos intenção em operar em águas profundas e assim o fizemos também na Nigéria, já operamos um poço exploratório em águas ultra-profundas que foi um sucesso operacional, mas não comercial, então a nossa primeira tentativa de operação em águas ultra-profundas fora do Brasil, e foi uma luta tremenda mas deu tudo certo, não houve nenhum acidente, os sócios elogiaram a nossa atuação, mas o poço, como todo bom poço exploratório é um poço de risco, alguma coisa não deu certo naquele estudo que eles fizeram e não encontrou óleo. Mas isso faz parte também do risco da indústria do petróleo, furar e não ter o retorno. Essa nossa tecnologia é reconhecida mundialmente e até recentemente, às vezes a gente não percebe o quanto a Petrobras é reconhecida fora do Brasil, nós somos muito orgulhosos de trabalhar na Petrobras, sabemos do que ela é capaz, mas às vezes não vê como as outras empresas enxergam a Petrobras e a gente recentemente tem tido a oportunidade de ter feedbacks muito positivos com relação a atuação da Petrobras, tanto na área de tecnologia, mas muito na área de transparência, nós somos considerados uma companhia muito transparente, sempre explica todos os nossos sucessos como os nossos fracassos, isso é muito elogiado aí no exterior, onde as companhias são mais fechadas, não quer nem saber de dar explicações, então nós estamos sendo elogiados por isso e elogiados pela nossa internacionalização, nós como companhia estatal querendo se internacionalizar, não são muitas que fazem isso, em mais de 30 quatro ou cinco tem a idéia de internacionalização. INCORPPORAÇÃO DA BRASPETRO Foi benéfica, com certeza. Agora o caixa único, a grande Petrobras, está financiando essa nossa expansão. Claro que eles não vão financiar coisas que não valem a pena. Antes, com a Braspetro, nós éramos muito pequenos, então tínhamos pouca liberdade de atuação, não podíamos sonhar alto, mas dentro da Petrobras podemos. Se a gente chegar e apresentar um projeto que seja melhor que os projetos que a Petrobras tem aqui, a gente consegue os recursos para fazê-lo, como tem sido com a Nigéria, as duas descobertas foram recentemente aprovadas para serem desenvolvidas, com certeza a incorporação foi boa por causa disso. RISCOS Nesse momento não me vem nada que tenha me traumatizado. Mas haverá entrevistas em que vocês vão achar coisas muito interessantes e engraçadas, como seqüestros de guerrilheiro, essas coisas, simples. O petróleo não dá em lugar bom. Petróleo não dá em Nova Iorque e Paris, se você está na indústria de petróleo, tem que ir onde o petróleo dá, onde aparece, não tem jeito. Na Colômbia tem guerrilheiros, mas pergunta se o pessoal que mora na Colômbia quer voltar para o Brasil. Não precisa, não quer voltar. Não em Bogotá. Nós temos essa visão Colômbia, mas em Bogotá é tudo isoladinho, tem o seu perigo. Claro que quem vai ao campo corre o risco de ser seqüestrado. Houve seqüestro no começo da nossa atuação lá, três profissionais foram seqüestrados, ficaram um mês em poder dos seqüestradores, mas é só ter cuidado. Estamos agora no Irã, voltamos para o Irã. O Iraque está aí, de repente podemos voltar para o Iraque, daqui uns dois, três anos. A gente tem que estar onde o petróleo está, não tem jeito, essa é a vida do petroleiro. PROJETO MEMÓRIA PETROBRAS Eu fiquei muito feliz em dar esse depoimento, não por causa do meu depoimento em si, mas por saber que esse projeto vai encontrar histórias muito ricas sobre a nossa atuação, tanto da área internacional como da área nacional. Como eu falei, só a Área Internacional dava um livro de histórias de pessoas, relacionamentos, diferenças de linguagem e comportamento. Só isso já dava um livro, um livro engraçado, você ia rir em uns momentos ou chorar em outros, propostas no Iraque, propostas que fizeram a um cara para comprar a mulher dele e o cara chegou a considerar bem. Foram coisas desse tipo, histórias engraçadíssimas de diferenças de linguagem. Eu não vou contar as histórias aqui porque quem vai contar as histórias é o pessoal. É muito bom esse projeto, a gente sempre pensou nisso lá na Área Internacional, por conta dessas histórias todas. A gente não pode perder isso, tem que registrar em algum belo momento, senão vai se perder, ninguém vai saber disso. A gente sempre achou que alguém tinha que guardar essas informações e nós recebemos muito bem a idéia do projeto e estamos aí para colaborar.
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