Entrevista de Edgar Brazolotto
Entrevistado por Luiza Gallo
Cianorte, 22/07/2024
Projeto: Colhendo Histórias
Entrevista número: COHIS_HV006
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Vamos Lá. Para começar eu queria que você se apresentasse. Dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento?
R - Olha, meu nome é Edgar Brazolotto, moro aqui na estrada Opalina, município de Cianorte. A data de nascimento minha é 04/04/1961. Estamos aqui neste local desde o ano de 1970.
1:12 - E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Olha, hoje pra falar a verdade para você eu até fico contente por estar vivo, porque a gente morava em Nova Esperança e sem recurso nenhum, quando a minha mãe começou a sentir a dor ali, que eu vinha ao mundo, que eu ia nascer. Num lugar muito precário, sem recurso nenhum. Meu pai foi pegar um animal… Isso é história que eles contam pra gente. Colocar na carroça, ir até doze quilômetros, longe, buscar uma parteira, que era chamada parteira, que fazia o parto. E quando chegou, a chuva era muito forte, estava chovendo muito a noite. Isso eles contam pra gente. E a minha mãe… estava o meu vô e meu tio segurando um pano em cima da cama, cobrindo, protegendo ela para chuva, porque a casa era tão ruim, tão precária, que molhava dentro. Então essa história eu tenho para contar. Minha mãe conta. Meu pai contava, meu avô. Era uma época totalmente diferente, sem nenhum recurso, e ela, na medida do possível, aconteceu de eu nascer, deu tudo certo. Ela teve, comigo, mais seis. Todos eles não foi feito pré-natal em hospital, simplesmente todos eles foram parteira, aqui já foi outra mulher, mas foi da mesma forma. E estamos aqui!
P/1 - E deu tempo de chegar a parteira?
R - Deu tempo. Chegou, meu pai disse que na volta, para levar ela de volta, já passava da meia-noite, ele conta a história. E não parava de chover, uma chuva intensa. Tinha que fazer, não tinha outro caminho, era isso...
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Entrevistado por Luiza Gallo
Cianorte, 22/07/2024
Projeto: Colhendo Histórias
Entrevista número: COHIS_HV006
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Vamos Lá. Para começar eu queria que você se apresentasse. Dizendo seu nome completo, a data e o local de nascimento?
R - Olha, meu nome é Edgar Brazolotto, moro aqui na estrada Opalina, município de Cianorte. A data de nascimento minha é 04/04/1961. Estamos aqui neste local desde o ano de 1970.
1:12 - E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Olha, hoje pra falar a verdade para você eu até fico contente por estar vivo, porque a gente morava em Nova Esperança e sem recurso nenhum, quando a minha mãe começou a sentir a dor ali, que eu vinha ao mundo, que eu ia nascer. Num lugar muito precário, sem recurso nenhum. Meu pai foi pegar um animal… Isso é história que eles contam pra gente. Colocar na carroça, ir até doze quilômetros, longe, buscar uma parteira, que era chamada parteira, que fazia o parto. E quando chegou, a chuva era muito forte, estava chovendo muito a noite. Isso eles contam pra gente. E a minha mãe… estava o meu vô e meu tio segurando um pano em cima da cama, cobrindo, protegendo ela para chuva, porque a casa era tão ruim, tão precária, que molhava dentro. Então essa história eu tenho para contar. Minha mãe conta. Meu pai contava, meu avô. Era uma época totalmente diferente, sem nenhum recurso, e ela, na medida do possível, aconteceu de eu nascer, deu tudo certo. Ela teve, comigo, mais seis. Todos eles não foi feito pré-natal em hospital, simplesmente todos eles foram parteira, aqui já foi outra mulher, mas foi da mesma forma. E estamos aqui!
P/1 - E deu tempo de chegar a parteira?
R - Deu tempo. Chegou, meu pai disse que na volta, para levar ela de volta, já passava da meia-noite, ele conta a história. E não parava de chover, uma chuva intensa. Tinha que fazer, não tinha outro caminho, era isso aí.
P/1 - E você… São quantos filhos?
R - Somos em sete irmãos.
P/1 - Você é o mais velho?
R - Não, o mais velho é o Gilmar, depois eu, o Edgar, depois o Osmar. E depois uma irmã, a Edna, depois o Osmar, depois a Ednilva, não, a Edineia, depois o Eduardo e Edmilson.
P/1 - Todo mundo com E?
R - Todos. Só o Gilmar e o Eduardo, né? O resto saiu… Não, o Eduardo também com E. Exatamente. Naquela época tinha… não sei porquê, mas os pais, as mães, os avós… Normalmente eram os avós que escolhiam o nome do neto. Mas para mim não faz diferença.
P/1 - E como era a sua relação com os seus irmãos mais novos?
R - Assim, nós tivemos um período muito difícil, que eu acabei de falar para você. A gente sempre trabalhando, sempre ajudando o pai, a mãe, o avô. Meu avô que na verdade tomava conta de tudo. Meu avô sempre foi uma pessoa, que antes de vir ali com a gente, da gente conhecer ele, ele era administrador de fazenda, era aquela pessoa bem autoritária, aquela pessoa honesta, muito direita, muito certinha, mas sistemática. Era o perfil dele. Então a gente nunca apanhou, nunca tomou uma bronca do pai e a mãe, sempre do nono, não era nem avô, era nono, italiana fala nono. Então, quando o nono olhava pra nós, quando falava: “vai fazer isso, vai fazer aquilo”. A gente tinha que obedecer. E ele sempre tinha aquele lado dos mais velhos, como eu e o meu irmão Gilmar era mais velho, tinha que responder pelos mais novos. Mesmo que nós não tivéssemos feito algo de errado, mas passou por perto, estava junto. “Por que você deixou os irmão mais novos fazer aquilo que não é certo?” Então a gente apanhou bastante do vô, do nono. Mas eu não… Assim, não tenho rancor nenhum, ele nos ensinou, colocou pra nós que os irmãos mais novos teriam que ter uma doutrina, teria que seguir o que a gente fazia. E foi dessa forma que nós conseguimos estar entre a família e conviver todo esse tempo. Aí acabou, um vai casando, vai… sem querer vai ficando um pouco mais para o lado do filho, da esposa. Mas a gente teve uma convivência muito boa, eu, meu irmão mais velho, o outro, sempre assim, um respeito, e sempre sabendo que tinha que olhar, cuidar daquele que era mais novo. Foi muito bacana. Pra nós, sem dinheiro, sem recurso, sabe? Uma vida assim, precária, difícil. Porque hoje eu falo para você, muita gente chega e fala: “Ó Edgar, aquela época que era bom de se viver.” Não, eu discordo em parte, era muito bom para educar um filho, era muito bom para o filho obedecer o pai, que bastava olhar, estava tudo certo. Agora, recurso, não tinha. Não tinha. A minha mãe criou sete filhos sem recurso.
P/1 - Como foi a criação?
R - Foi muito difícil. Tipo assim, a casa não tinha piso, que a gente lembra, o colchão para dormir era de palha. Olha para você ver, fazia o colchão com palha de milho, quando você levantava cedo ficava aquele buraco no colchão, tinha que dormir dois ou três naquele colchão. O piso da casa era barro e passado uma cinza, isso toda semana tinha que passar, para não ter a questão do bicho barbeiro, para não ter inseto, para manter a higiene, ter a limpeza. Então, a mãe lavava a roupa na mina, no rio, descia com aquele monte de roupa, ia lá numa banca instalada lá e lavava e tal. Que dizer, hoje, falar para você Luiza, se a gente pegar dos itens que a gente tem hoje no dia a dia, aquela época não tinha nada, não tinha um sabonete, não tinha um Omo, não tinha um produto de limpeza. Então, eu falo pra você, a história nossa, de muita gente que tá aqui perto de nós hoje, foi muito doída, foi muito sofrida. Não foi… Hoje, se a gente se considera feliz, se considera muito bem. Hoje nós temos internet, nós temos água tratada, nós temos energia. Aqui neste local que nós estamos, nós mudamos aqui sem energia. Para assistir a Copa de 1970, a Copa do Mundo, nós ia na granja dos Menelo, era onde que tinha uma televisãozinha. Ia todo mundo. Brigava por um espaço, era briga pelo espaço, ou ia no patrimônio, numa máquina de café que tinha ali. E eles cobravam para assistir. A gente pagava para assistir o jogo. Então, olha para você ver como que era difícil. Aí alguém chega para mim e diz: “Ah Brazolotto, naquela época era muito bom”. Não! É sim, eu entendo, era muito simples, era um sistema de vida totalmente diferente, todo mundo respeitava todo mundo. A família era respeitada. Hoje já é diferente, hoje a gente não consegue fazer isso aí. Só que hoje temos recurso, né? Muitos recursos, né?
P/1 - Você se lembra de alguma história, algum ensinamento, alguma mensagem do seu avô que segue até hoje?
R - Olha, eu acabei de dizer para você, ele tinha… A gente tem isso aí e vai carregar pelo resto da vida. Ele dizia sempre assim: “Nunca mexa no que não é teu. O que é teu é teu, o que é do outro é do outro. Nunca. Nem uma melancia. Está lá perdendo, você vai lá e pede primeiro.” Ele sempre doutrinou, ele sempre educou nós, todos, o pessoal que vivia ao redor do meu vô. Não era só a família do meu pai e da minha mãe, tinha o meu tio, tinha o outro meu tio, tinha outro primo, tudo morava, assim, numa colônia. E era todos eles, obediente a ele, as ideias, as normas, pensamento dele. Como ele era muito rígido, muito honesto, então… Ele sempre falava para nós. “Eu não quero ver você mexendo em nada do vizinho. Nada, nada. Não deu? Fica quieto, não vai lá pegar. Não pega nada!” E até o vizinho podia até entender que você estava com vontade, que era criança, que ia pegar uma melancia, ia pegar um maracujá, ia pegar… Não, ele falava que não. Não, porque ele dizia para nós. “O que é seu é seu, o que é do outro e do outro.” Isso eu nunca vou me esquecer do meu vô. Então, vale para nós muito hoje, muito Luiza, a questão de ser honesto. Hoje a vida tá aí, todo mundo tem facilidade, internet, telefone, essas redes sociais, mas existe um lado muito bom, muito bom para nossa família, para nossa comunidade aqui, eu admiro muito ainda, é honestidade. Humildade e honestidade, isso meu vô deixou para nós, meu pai, minha mãe.
P/1 - Tem uma história bonita que você me contou rapidamente, dele falando que é importante ter história. Como que é?
R - Isso! Ele falava para nós que o homem, o homem, a mulher também, lógico, não pegava numa geral, mas ele dizia sempre pra nós. “Feliz daquele homem que parte dessa para outra e deixa uma história para ser contada.” Ele falava. Seja ela um desafio que você teve na vida, seja ela uma alegria que você teve, seja se você foi bom de bola, jogou num time, você foi um açougueiro, você foi um bom retireiro. Alguém vai falar um dia, vai falar: “Olha, o Edgar foi…” Como nós falamos agora do Senhor Antônio, né? Você vê como essa pergunta tua é tão interessante. É uma história verdadeira, porque eu estou dizendo que o meu vô tinha esse perfil e a gente nunca vai esquecer. Ele passou para o meu pai, passou para nós e nós queremos passar para os nossos filhos. Estamos fazendo de tudo para passar para que nós possamos amanhã, depois, dizer: “Olha, se eu não consegui tudo, mas essa história eu deixei”.
P/1 - Conta pra gente essa história do Santo Antônio?
R - Você imaginar hoje… Eu falo pra você, hoje no mundo que nós estamos vivendo, se a gente parar um pouco e pensar, falar: “Olha, que bom que o meu tio, que bom que o meu pai, meu vô, fez tudo que fez e alguém aqui, nós, na nossa comunidade, na nossa família, está lembrando, lembrando mesmo dele”. Que eu acabei de falar para vocês agora pouco e vou repetir aqui para você, a questão dessa tradição religiosa que nós temos. Que foi uma promessa feita pelo meu vô, quando ele se acidentou. E aí os filhos chegaram e disseram: “Olha, se Santo Antônio abençoar que ele vai sarar, que vai melhorar, nós vamos construir uma igreja aqui no município, no distrito de Bilac, perto de Araçatuba. Isso era estado de São Paulo, eu não era nem vivo, mas a história ali para ser contada e verdadeira. Então, aquilo carregou com nós, com a família. Meu pai veio para o Paraná, chegamos aqui em 1960, 1961 e conseguimos manter essa tradição religiosa. É uma festa junina, hoje considerada festa junina, mas com fundamento, com pensamento na devoção, na religião. Então, a gente tem muito orgulho de estar falando isso e estar fazendo isso junto com os irmãos, é toda família envolvida, irmã. As vizinhas que moram aqui na cidade não vê a hora de acontecer essa festa junina, para vir ajudar a gente, para fazer com aquela alegria, aquela emoção. Aí, você vê na hora que levanta o mastro, você vê, você olha pessoa chorando, pessoa… de alegria, de devoção. Com aquilo que foi uma história verdadeira. Então, isso para mim marcou muito, para os meus irmãos, para a minha esposa, para os filhos. E vai ficar marcado para os netos, bisnetos, com certeza.
P/1 - Vocês mantêm a tradição da festa junina?
R - Mantém! Mantém já tem mais de cinquenta anos, todos aqui, você pode confirmar com outros vizinhos que eles vão dizer. “Não, a família Brazolotto faz isso todo ano.” Eu acho legal, bacana.
P/1 - E você sabe a origem da sua família?
R - Olha, eles vieram da Itália, meu vô.
P/1 - Seu vô veio da Itália?
R - Da Itália. A gente conseguiu falar bastante assim, a língua deles lá. Hoje não, porque faltou ele, então a gente estava acostumado a falar bastante italiano, porque o irmão mais velho ainda fala até hoje, meu pai, a gente convivia com ele, com a minha avó, que vieram da Itália e falava. O português para eles era meio complicado, eles falavam muito a língua italiana, tal. Então, a origem é de lá, da Calábria, na Itália. Se você entrar hoje na internet, tem muitos Brazolotto’s ainda lá, mas veio bastante para cá. Meu vô chegou em Lins, no Estado de São Paulo, ali ele ficou, conseguiu a família e tal. Depois vieram para
Araçatuba. Meu pai é nascido em Birigui. E depois vieram pra cá, naquela influência do café. O que trouxe esse povo aqui para região foi o café, nunca a gente esperava hoje está mexendo com soja, milho, cana. Era o café, era a peça fundamental, todos que vieram, vieram nessa intenção, sabe? Então, a origem da nossa família é Itália, a gente brinca, fala: “é italiano pé duro, teimoso, bruto”. Mas é bom, viu? É bom. Se arrepende de tudo que faz, volta na paz, é muito bom. Mas a origem é Italiana.
P/1 - E a sua avó, você tem recordações dela?
R - Tenho. Minha vó sofreu muito, ela ficou muito acamada antes de falecer. E antes de acamar a gente tinha que cuidar dela, tinha que ajudar meu pai. Ela tinha que caminhar, não era a fisioterapia, não tinha, não tinha hidro, então era colocando um pauzinho no chão para ela andar, pular aquele pauzinho. Então, um pouco era o Gilmar, o meu irmão mais velho, mais era ele, depois eu, até ela vir a falecer. Mas a gente tem uma lembrança dela, ela sofreu muito, ficou uns dez anos acamada. Mas assim, tudo valeu a pena, tudo. Tudo que elas passaram para nós foi muito bom, graças a Deus, muito bom.
P/1 - E os seus pais, como você descreveria eles?
R - Eu vou falar pra você, hoje todos que chegam, quatro, cinco anos que não me vê, fala: “Olha, tive a impressão que eu vi o Senhor Júlio.” Ontem mesmo a gente teve um amigo de Campinas que chegou, falou: “Nossa Edgar, como você está parecendo o teu pai, Seu Júlio.” Então, a gente tem essa lembrança dele. Eu falo: “Graças a Deus”. Eu tenho orgulho. Nossa, você já pensou se chegasse aqui e falasse que eu parecia com outra. Hoje eu me sinto orgulhoso de saber. Meu pai foi um homem totalmente, assim, trabalhador, honesto, simples, não gostava de luxo. A minha mãe está viva hoje… A minha mãe eu falo pra você com a maior segurança, se existe uma pessoa do bem, uma pessoa que só pensa em fazer o bem, uma pessoa que não tem maldade nenhuma, nenhuma, todos aqui são testemunha, Dona Cida, considera, conhecida, Dona Cida. É a protetora dos doentes, eu nunca vi ela… Se tiver alguém aqui a cinquenta quilômetros doente, que ela conheça, ela pergunta se dá para levar, ela não pede, ela pergunta. “Vocês conseguem me levar lá? Eu queria ir lá visitar essa pessoa.” Levar alguma coisa, sabe? “Vê se tá precisando de alguma coisa”. Ela chega e fala: “Passa tanto lá em dinheiro que eu quero ajudar.” Então, minha mãe tem essa característica, tem essa bondade enorme. E meu pai veio muito forte, trabalhando, trabalhando, até pegar uma doença de Alzheimer, coitado. Aí baqueou, aniquilou, é uma doença que todo mundo sabe que aniquila a pessoa, debilita a pessoa. E foi onde ele veio a falecer, uns três anos atrás. Mas temos uma lembrança muito bacana, muito bonita do meu pai, ele deixou um legado para nós que é a união da família, que é sempre estar juntos, os netos, bisnetos, as sobrinhadas toda nossa. Então, quer dizer, mesmo, às vezes, estudando um pouquinho mais longe, mas tem aquela recordação, tem aquela lembrança do que foi o Seu Júlio. Então, muito divertido, gostava de um baralho. Nossa, jogava muito baralho. Contrário de nós, que a gente hoje não vai muito atrás. Mas ele gostava muito. Então é bacana falar dele. É uma história muito legal mesmo.
P/1 - Tem alguma história com seus pais, assim, que é muito marcante para você?
R - Olha, falar pra você, na época, não é muito tempo, a dificuldade era tanta. Ele levava a gente no dentista, por exemplo, em Jussara. E ele… Eu estava comentando esses dias que a gente fica até pensando, como que ele conseguia? Ele passava aqui no rio, em cima de uma ponte de cabo de aço, com a bicicleta, nós ia em três e ele, quatro, na bicicleta, não tinha outro meio de locomoção, não tinha. Passava ali, ele deixava nós dois para o lado de cá, ou eu e meu irmão, meu irmão e o outro, e pegava um no colo e a bicicleta e passava na ponte. Ia do lado de lá, deixava a bicicleta e deixava um de nós lá, voltava pra cá buscar aqueles dois de novo pra ir lá, pra ir no dentista. A gente ia ao dentista. Ele está vivo, esse dentista, eu tenho foto dele, Doutor Leonel. E a gente fica lembrando, como que podia meu pai fazer aquilo lá, gente? Um sol quente na hora de voltar, extraia um dente, não podia, sabe que hoje não pode ficar tomando sol, temperatura alta. E a gente vinha embora de bicicleta. Ele fazia isso, sem nunca reclamar, nunca reclamou pra nós, nunca. Mesmo depois de velho, mesmo depois numa situação cômoda, que aí ele tinha condição de vida, estava vivendo, assim, sossegado, mas ele nunca reclamando, chegar em nós e falar: “Vocês deram muito trabalho, eu tive que fazer isso, fazer aquilo.” Então, essas lembranças a gente tem do meu pai. A minha mãe está hoje aqui, que ainda, falar para você Luiza, ainda para nós hoje já quase passando aí da terceira idade, na terceira idade, a gente tem ainda hoje o respeito de dizer que o esteio da família é a minha mãe. Esse grupo da família, que estamos os quatro irmãos juntos, as três irmãs ainda. O pilar principal é ela. Não vou dizer pra você que ela vai opinar, que ela vai tomar decisão, mas nós queremos passar para ela primeiro de tomar uma decisão, porque acostumamos com o meu vô, acostumamos com o meu pai. Então, hoje a mãe tá ali, quietinha, na casa dela, vivendo a vida dela. Mas nós temos um respeito muito grande, muito grande mesmo, em tomar alguma decisão, dizer: “Mãe, a senhora acha que vai dar certo isso que nós vamos fazer?” Recentemente nós tivemos uma ideia de instalar uma usina de energia solar e fomos perguntar pra ela o que ela achava. E ela disse: “Ah, filho, eu não entendo disso aí, eu não entendo disso aí. Na minha época…” Coitada, nunca nem energia normal não tinha, né? Mas nós fomos pedir pra ela. Eu acho… benção. Muito bom.
P/1 - E me conta um pouquinho mais da sua infância, o que que vocês gostavam de fazer? Como era o dia a dia? As dificuldades, as belezas dessa época?
R - Nós não tínhamos muita opção no começo, era trabalhar e estudar. E no final de semana bola, jogar bola. Uma dificuldade enorme, chegava no domingo, todos nós não víamos a hora de almoçar, ir pro campo aqui, a gente tinha um time chamado Gênova, tem aqui os quadro nossos, que fomos campeão dos campeonato Verdão, Municipal, tá aqui. Até eu brinco: “Gente, se vocês acharem eu, meu irmão aqui, ganha uma caixinha de cerveja. Quem descobrir onde nós estamos aí.” Era totalmente diferente, isso foi em 1984, que eu parei de jogar. E os irmão também. Mas nós tínhamos esse tipo de divertimento, para divertir era isso aí. Trabalhar, estudar. A gente vinha da escola, a gente ia quatro quilômetros, até o Vidigal de bicicleta, ou de a pé, estudava, voltava e ia trabalhar. Limpar tronco de pé de café, fazer os montes pro pessoal, meu pai, meus tios, o pessoal chegar e abanar. Que dizer, era trabalhado, não tinha esse negócio de… Ah, ir numa exposição, ir num parque, não, não tinha. Não tinha meio de se deslocar, ia de quê? De ônibus? Não tinha jeito. Nós aqui nem asfalto tinha na época, era tudo estrada de chão. Muito difícil. Então, a nossa infância foi baseada nisso aí, na comunidade, um terço que tinha, aqueles brinquedos, que era passar anel, contar história. Na verdade, a gente tinha os primos mais velhos que gostavam de tocar um violão, então, chegava à tarde, todo mundo cansado, mas todo mundo feliz, tomava o banho, jantava e ia num pontilhão assim, eu me lembro como se fosse hoje, subia todo mundo ali em cima, meu primo pegava a viola ali, o violão e começar a cantar, e a gente ficava em volta dele ali, até da hora de dormir. Que aí a mãe, o vô chamava, tinha que ir. Então, foi uma infância assim, tranquila, ninguém falava em drogas, ninguém falava em crime, não se sabia nada. O jovem como nós fomos e tivemos essa oportunidade, nós vivemos uma época assim, de pureza. De pureza, de humildade, nem nada de maldade, nada, era trabalhar, estudar e brincar de futebol, é isso aí.
P/1 - E os mais velhos contavam histórias?
R - Contavam histórias.
P/1 - Tem alguma que você lembra?
R - Ah, eram aquelas histórias, que aquela época de assombração, que hoje ninguém vê mais. Mas naquela época se falava do lobisomem. Gente do céu, a gente chegava na Quaresma, todo mundo tinha medo, ninguém saía de dentro de casa, porque tinha um lobisomem aqui. Eu não sei se foi lenda, o que foi, porque hoje não vê, né? Hoje você não vê um jovem falar: “Ah, eu vi uma assombração. Apesar que eu vou falar para você Luiza, aquela época andava muito a pé, muito a pé, a diferença acredito que tá aí. Então, qualquer coisa, eu vou falar que o medo, a cisma, provoca um monte de situações complicadas, é verdade. Hoje um jovem não anda de a pé, ou é de moto, ou é de carro, ele não vai ver essas coisas. Então, nós temos uma estradinha, essa estradinha nossa, Opalina, que é famosa, todos falam que muita gente viu a luzinha, uma tal de luzinha, que se você pegar hoje alguém que já viu, não desce aí à noite, não desce. Porque aparece uma luz. E ninguém provou para nós até hoje que é coisa que vai fazer mal para você, de repente é do solo, um minério, algo assim. Que a gente não sabe definir, porque não temos estudo para isso. Mas chegou trazer Padre aqui, chegou a vir Padre para benzer, pra nunca mais ver. Então, são umas histórias, que você pensa assim: “puxa vida”. E hoje, não tem então, né? Não existe assombração hoje? Não existe o lobisomem? Não é? Não sei, aquela época tinha. Porque todo mundo tinha medo. Essa história que você falou. Como é que contava. Aí, aquele primo mais velho, aquele tio, falava: “Ó, eu ia passando na ponte e vi um cidadão pendurado assim e assim, com uma roupa branca e tal. Era uma assombração. Só que hoje nunca mais ninguém viu. Então, eu fico pensando, ou era lenda, ou existia porque andava muita gente a pé, todo mundo ia no baile e era a pé, ia na missa, era a pé. E quando vinha embora tarde da noite, um passarinho que voava no pé de café, o cara: “Nossa, eu vinha vindo, chacoalhou o pé de café, tinha uma assombração ali embaixo. Aquilo espalhava na comunidade, todo mundo achava que tinha mesmo. Acreditava naquilo ali. Então, são fatos que acontecia, que hoje não acontece mais. Eu não vejo falar, né? A gente tem contato com a juventude hoje, muito, aqui. Mas eu não vejo ninguém falar disso. Eles falam que foram numa festa, aí viu uma pessoa drogada, matar o outro, dá uma paulada. Hoje uma pessoa, um menino com quinze anos é perigoso pegar uma arma de fogo e lá e matar uma de sessenta, né? Então, existe isso aí. Tem essa essa diferença. E aquela época era a questão de assombração.
P/1 - E tem alguém parente que foi muito importante na sua infância? Algum primo, algum tio, tia?
R - Sempre tem, né Luiza? Sempre tem aquele que se destaca, aquele que te ajuda nas horas difíceis, né? Porque, imagina, se hoje nós temos desafios, imagina naquela época, quanto que a gente não precisava, por exemplo, tomar uma decisão. Você não tinha conhecimento, né? Hoje você pesquisa na internet, você vai a fundo, você consegue tomar uma decisão, às vezes, não acertar 100%, mas quase 100%. Você tem informação. Naquela época a gente não tinha. Então, sempre você tinha alguém aliado a você, alguém que você considerava mais experiente, que podia te orientar nisso aí. Eu tinha um primo, hoje ele está em Curitiba, Odair. Nos orientava muito, ele sempre foi o cara, foi aquele protetor da família, nunca cobrou nada de nós, nunca. Por ensinar, explicar para nós. Então, eu falo pra você, tenho sim, tem alguém, sempre tem alguém que fez a diferença.
P/1 - O que ele te explicou?
R - Ah, tudo, tudo. Até, tipo assim, eu queria estudar fora. “Será que compensa, será que eu vou me acostumar?” Que nem o meu outro irmão, o mais novo, foi para Seminário, para estudar para padre. Não foi o que ele queria, voltou atrás. Mas alguém disse para ele: “Vai, experimenta, tenta. Pelo menos tenta fazer alguma coisa.” Não é verdade? Você não está indo pra morte, você não está indo fazer uma coisa errada. Vai tentar. Então, esse meu primo sempre falava, quando eu fui estudar fora mesmo, pedi pra ele. “Vai lá, tenta. Se não der certo, você volta. Mas você não vai se arrepender do que você fez. Um dia você pode se arrepender do que você deixou de fazer, agora fazer isso aí pensando no teu melhor, na tua vida. Faz”. Ele, até hoje a minha esposa fala muito com ele. Ele sofreu um câncer na garganta, ele está impossibilitado de falar, então ele conversa com nós por gesto, escrita. Mas eu tenho assim, uma gratidão enorme, muito mesmo, por ele, pelos ensinamentos, pelo que ele fez por nós.
P/1 - Que bonito! E você falou que aqui não tinha energia, quando você chegou. Como era a vida?
R - Difícil. Difícil mesmo Luiza, muito difícil. A família grande, um poder aquisitivo baixo. A gente trabalhava aqui para poder tirar o sustento, não tinha essa questão de financiamento. Hoje qualquer um compra uma chácara financiada, vai lá, financia energia solar, financia… a própria empresa Copel hoje, que é aqui do Paraná, ela te oferece energia gratuita, só para depois você pagar a mensalidade. Naquele tempo não tinha. Então, quer dizer, estudar dentro de uma casa dessa ali, sem a luz, você já viu? Na lamparina a querosene, derramava aquele querosene, era um pavio que tinha ali dentro. Não tinha uma geladeira, a gente matava o porco, que era o sustento, uma criação que nem o porco. Tinha que cozinhar a carne e colocar na gordura e guardar uma lata. A linguiça era temperada, preparada e pendurada num bambu do lado da dispensa. A gente chegava da escola, eu me lembro como se fosse hoje, com uma fome, uma fome, corria minha mãe, não queria que mexia, porque ia estragar a janta e era a mistura da janta. A gente ia escondido lá com uma faquinha e cortava um pedaço daquela linguiça e comia com pão. Olha, para você ver! Quer dizer, tudo porque não tinha energia, não tinha energia, não tinha geladeira, não tinha um ventilador, não é? Não tinha um ar condicionado, você não tinha uma bomba no poço para puxar água, era tudo no… Tomar banho eram aqueles baldes que puxava na corrente, quando caia quebrava a clavícula, arrebentava alguém. É assim, sabe? Então, olha pra você ver o que é a energia. Quando veio a energia aqui, revolucionou, aí passou nós a ser o alvo, porque aí o pessoal que não puxou, vinha aqui. Meu pai ganhou uma televisão, lá do Estado de São Paulo, um amigo dele, amigo, irmão, deu uma televisão pra ele, ficou com dó, porque a gente tinha energia, mas não tinha dinheiro para comprar televisão. Aí, o Mauro Capriste, já faleceu, mandou a televisão para cá, preto e branca. Aqui, nessa casa aqui, a televisão ficava na sala, ficava tudo na janela, a vizinhança toda para assistir a novela, para assistir o jornal, para assistir um jogo de futebol. No domingo até na hora… Só que aí ele dizia, vocês vão assistir até tal programa tal, tal. Mas na hora da missa todo mundo vai assistir a missa. Era assim, ele ditava as normas. Mas a energia revolucionou. Aí começou a gente comprar uma bomba para puxar água, colocar um motorzinho ali para poder gerar alguma coisa diferente que você conseguia fazer com aquilo lá, que era tocada a energia. Uma serra para serrar carne. Tudo foi mudado, tudo foi mudando. E mudou para melhor, né? Hoje a gente não consegue ficar meia hora sem energia, não consegue. Por quê? Se tiver no calor você não suporta, tem que estar o ar ligado, se tiver no frio, mesma coisa. Então, a geladeira, você olha aqui, ó! Hoje tem três freezers aqui, duas geladeiras. Se você pegar na nossa propriedade aqui hoje, entre os irmãos tudo, eu fiz a conta outro dia, tem nove freezers, deve ter umas quinze geladeiras. Então, olha para você ver o que é o recurso. O que essa abençoada dessa energia trouxe pra nós. E nós passamos tantos anos sem nada.
P/1 - E é interessante porque vocês vieram sem energia e hoje, uma usina.
R - E energia solar aqui. Hoje… a gente pagava dois mil e oitocentos, três mil reais de energia, instalamos a energia solar, tá aqui em cima do barracão as placas, 64 placas. Hoje nós temos uma economia, praticamente de três mil reais, porque nós pagamos hoje a taxa mínima de 25 reais. Com a energia solar. E te dar uma abertura enorme. Hoje nós temos uma quadra de tênis aqui para os meninos brincarem com refletor. Não tem mais que regular. Liga aí e deixa eles tudo, fica o dia, todo mundo brinca. Por que? Porque tem a facilidade de ter energia solar. Olha, pra você ver como que a inovação, como que o progresso veio, chegou até nós. Chegou aqui, hoje eu não tenho preocupação nenhuma, nenhuma mesmo Luiza, em sair daqui, não tenho. Porque tem energia, tem água tratada, tem Internet, tem… Temos um lugar que se reúne sábado, domingo, a família toda, numa tranquilidade, igual nós estamos aqui debaixo desse pé de manga que tem uns setenta anos, eu acredito, fazendo sombra pra nós. Dizia a minha filha. “Esse pé de árvore, pai, precisa de doze a treze aparelhos de ar condicionado para fazer o ar puro que ele faz.” E é verdade. Então, gente, a energia veio somente somar, somar. Como foi a água tratada, água encanada. Hoje nós temos água tratada da SANEPAR. Já viu que facilidade? Pagamos, tem um custo de trezentos reais por mês na associação, mas são 22 famílias que usam a água tratada. Tratada igual vocês estão lá em São Paulo, está em Maringá, nós temos. Então, é muito bom.
P/1 - E o trabalho?
R - Continua, continua.
P/1 - Na infância ainda.
R - Ah, na infância foi aquele trabalho sem preocupação, só o trabalho. Você não tinha boleto para pagar, você não tinha banco para ir lá ver as coisas, você não tinha cooperativa, correr atrás, financiamento. O que que era o trabalho? Era cedo, enxada, uma moringuinha de água, aí meio-dia, hora do almoço, a mãe, a vó, o vô, levava o almoço, à tarde a merenda, tarde vim para casa, ou pra escola, e depois tomar banho e escutar as histórias dos parentes. Então, trabalho existia sim, trabalho assim, significava para nós, porque não tinha outra coisa para atrapalhar aquele trabalho. Já hoje é diferente, né? Hoje você trabalha, você tem que ter um na família, um no grupo para cuidar da parte burocrática, o outro cuidado a parte política, o outro cuidar da parte mecânica, que é manutenção das máquinas, o outro fazer a compra de defensivo, insumo, tudo que você imaginar, adubo, semente, tudo. Então, olha bem pra você ver como é diferente o trabalho na nossa infância, e o trabalho hoje nosso da terceira idade. Porque podemos considerar que estamos aí, eu tô com 63 anos, então eu me considero uma pessoa que passou do meio da vida. Então, tenho experiência, tenho história para contar, mas tem hoje essa tamanha dificuldade, que é burocracia, que é a política, que envolve um monte de coisas. Não tem mais como ser aquela simplicidade que era na infância. O trabalho na nossa infância era assim, era doído, trabalhado, mas assim, fisicamente, você deitava na cama, descansava. Era isso. Hoje não, hoje muitas vezes você deita, você fica imaginando o tanto de coisa que você tem que fazer, os compromissos, as reuniões, eu tenho que ir em tal lugar, eu tenho isso, eu tenho aquilo. É difícil, difícil. Mas também eu não sei se tinha que ser igual lá atrás, porque aí estaria parado, estagnado, né? Hoje existe uma diferença tão grande, naquela época não tinha Bolsa de Valores, não tinha cotação de dólar. Hoje alguém diz: “Ah, mas eu vou vender a soja a hora que…” É a questão cambial, eu tenho que ver a questão do câmbio, a questão do dólar, tal. Quando que o meu pai, meu avô, nós mesmos, falamos isso? Quando que na escola alguém ensinou para nós que o dólar valia R$ 5,45 e amanhã ele podia estar R$ 5,30. Então, tudo isso faz a diferença.
P/1 - Nem máquinas?
R - Nem máquinas. Hoje nós temos máquinas aqui, e não somos nós os mais modernos, tem gente muito mais moderna. Mas nós temos máquinas hoje que tem que fazer um curso, porque é computador. Aquele passador de veneno que você está vendo ali, alguém teve que ir na fábrica fazer um curso para operá-lo. É meu irmão mais novo, Eduardo. Porque é tudo, ele dá uma precisão de quase 100%, ele vai passando, no lugar que ele já passou, ele corta automático, é uma sessão, corte de sessão nós chamamos. Naquela época a gente plantava de matraca, Luiza. Plantava o milho de enxadão.
P/1 - Queria te perguntar da escola, que recordações você tem?
R - Olha, às vezes, a gente fica imaginando o quanto foi difícil estudar também, pela dificuldade que a gente tinha de transporte, né? Mas não tinha. Hoje que tem uma aluna… a minha filha estudou aqui já, o ônibus pegava cerca de vinte metros do quarto dela, deixava aqui também. Nós… é que nem eu comentei com você, era de bicicleta, de a pé também. Então, que recordações você tem, bons ensinamentos, professor bom, que a gente… Gravou na mente que aquilo que eles passaram para nós foi fundamental, foi muito importante pra nós. Eu começo a imaginar nós, a família aqui, os irmãos, sem estudo, sem ter feito primário, sem ter feito o ginásio. Que falava ginásio, o segundo grau. Também a dificuldade deixou muitos sem estudar, muitos ficaram sem estudo por causa da dificuldade. Agora, nós que o pai, o vô, exigia que a gente estudasse, mesmo com a dificuldade tinha que ir. Então, eu me recordo assim, eu tenho hoje professor vivo, que foi professor de educação física, professor de matemática, professor de história. Que a gente se encontra, eles dizem: “Olha, que bom né Brazolotto, foi bom, né?” Eu sempre fui destaque na sala de aula, assim, como liderança. Quando eu fui para o colégio lá em Santa Cruz do Rio Pardo, tinha uma boa amizade com diretora, com diretor, com inspetor. E sempre consegui ser algo diferente assim, dentro da sala de aula, para poder… ser um monitor, por exemplo. Naquela época falava o monitor da sala de aula, tal. Então, trago boas recordações, boas. Eu acho que eu podia ter continuado, feito uma faculdade, mas pela dificuldade, a gente deixou de lado. E hoje, às vezes, falta pra nós. Mas você se anima e fica feliz por ter o filho estudado, né? Hoje você vê o filho formado, a filha. Então, você fala: “Poxa, eu não consegui, mas o filho e a filha conseguiram, as sobrinhas conseguiram. Que bom! Que bom! Deixo uma mensagem assim, Luiza, pra quem eu puder falar: Estuda. Eu acredito muito assim, um valor que é o conhecimento ninguém rouba, a sabedoria, ninguém rouba, ninguém, ninguém. O ladrão pode passar em cima, mas ele não consegue roubar um conhecimento teu, um estudo teu. Então eu falo: “Eu me arrependo sim de não ter seguido, estudado mais.” Às vezes por uma necessidade de ajudar o pai, ajudar os irmãos, a gente parou, mas podia ter dado assim, um jeitinho, feito um esforço maior e continuando. Não ia ser nada a mais. Ia ser, assim, para falar: “Ah, mas você hoje tem conhecimento, tem tudo.” Mas eu queria hoje ter um diploma, né? Seria muito bacana hoje ser formado. Que nem meu filho formou em agronomia, né? Que legal. Ainda bem que ele vai dar segmento no que a gente faz hoje, Eu falo assim: o estudo para mim foi fundamental, pouco que eu estudei, mas… E eu aconselho todos a estudar, todo mundo. É muito bom.
P/1 - Você ia a pé ou bike?
R - Bike e a pé, bike e a pé. E longe, viu Luiza? Longe, longe, a noite... No final, quando a gente fez os quatro anos no Vidigal, era a noite. Você imagina quatro, cinco quilômetros voltar meia-noite, chovendo, de bicicleta, estrada de chão. Então, difícil, difícil! Mas nada que não vale a pena. Valeu a pena. A gente via o sofrimento do pai, da mãe, do irmão mais velho, ali, lutando pra gente estudar, então você tinha que… Hoje você tem que falar: “Graças a Deus”. Eu falo assim, eu penso assim.
P/1 - E juventude, como foi esse momento de grande descobertas? Tinha baile?
R - Tudo quando a gente é novo é gostoso, né? Vamos falar a verdade. Mesmo com essa dificuldade que eu acabei de falar, mas é gostoso. A gente participava de tudo. A gente, quando começou aí na adolescência, eu sendo um dos mais velhos, com o meu irmão junto, já tinha aquele direito de pegar o carro, dirigir, levar os outros, levar as vizinhas, tal. A gente tinha um tratorzinho que quando ia no cinema ia com ele, com a carretinha, levava aquele monte de menino, menina, no cinema, no baile, na missa. Aí você já começava a ser o cara, né? Ser valorizado, fazia diferença já na comunidade. Então, a infância nossa, além do futebol, foi muito gostoso, porque era muito unida. Essa região nossa aqui tinha muitas famílias, era café, então morava em cada sítio duas a três famílias. E aí não tem uma propriedade dessa que não tinha uma, duas, ou um ou dois rapaz que morava. Jovem igual a gente, na mesma idade, assim, e frequentava as mesmas coisas, que era o baile, que era a quermesse, que era o cinema. Tudo aquilo com a maior simplicidade, não tinha roupa bonita, não tinha como… Um calçado hoje, por exemplo, um jovem tem um tênis de quatrocentos, quinhentos reais. A gente não tinha, não tinha. Porque também não tinha poder para isso, mas era feliz. Tivemos uma juventude saudável, sem drogas, sem muita bebida, sem assim, maldade nenhuma. Isso valia a pena. E valeu a pena, valeu a pena.
P/1 - Quando que você conheceu sua esposa? Foi nessa época?
R - Nós namoramos seis anos mais ou menos. Hoje temos trinta e poucos anos de casados. Então, quer dizer, são quarenta anos atrás, eu tinha aí dezenove anos, vinte anos, na época. Era a fase mesmo da juventude, dos bailões que tinha aqui, das festas. Aqui saía umas festa muito boas.
P/1 - É?
R - Nossa, justamente aquilo que eu falei para você, tinha muita gente, morava muita gente na região da ___, na região do Rodeio, região de Vidigal, do distrito, a nossa aqui que era Gênova, São Cristóvão, que é a região perto aqui, que a gente frequenta até hoje a igreja São Cristóvão ali. Então, sabe, era uma população grande, tinha muitos jovens, muitos jovens. E aí passei a conhecer ela através do campo de futebol, ela vinha assistir o jogo, a gente jogava bola, e acabamos nos conhecendo. Depois nos bailes e tal. E ficamos namorando aí, uns seis anos mais ou menos. A minha finada sogra, a mãe dela, era bastante rígida, tinha que ser nas normas, não tinha… Então, aquela história, só depois do casamento e acabou, não tinha conversa. Mas foi muito bom, foi muito bom. Teve um namoro que a gente se conheceu mesmo, deu para aperfeiçoar tudo, tirar todas as dúvidas. E ela tinha um compromisso, que ela tinha perdido pai muito novo, perdeu com 28 anos, o pai dela morreu com 28 anos e ela que ajudou a criar as irmãs, uma família de seis irmãos. Então a gente reconhecia, sabia daquele compromisso que ela tinha, daquela dificuldade, às vezes, de sair, porque tinha que cuidar junto com a mãe. Então… Mas foi bom, foi bom. Foi um namoro aí que eu acho que hoje muita gente não tem. Muita gente hoje se conhece aí, fala: “Estamos ficando juntos.” Vai lá e fica junto mesmo, muitas vezes não dá certo. Até eu acho que é por isso, porque acaba não se conhecendo muito. Mas nós tivemos essa tranquilidade, essa calma de se conhecer.
P/1 - E aí vocês casaram?
R - Casamos aqui na Capela São Cristóvão, foi a festa. Casou em Cianorte, na Igreja Matriz. Lembro como se fosse hoje, Luiza. Fazia muito tempo que não chovia, na hora que o padre perguntou para mim. “Edgar Brazolotto você está de acordo com o casamento e tal.” Na hora de eu falar sim, deu um trovão tão forte, foi a chuva. Aí acabou a cerimônia, acabou tudo, aquela coisa, viemos pra cá para a festa. Chegamos aí, tinha molhado todo o barracão, aqueles papéis que estavam na mesa tinha molhado, muita chuva, muita chuva. E aí, o Padre dizia: “Foi abençoado esse momento.” Porque estava seca, estava perdendo tudo. Foi na hora de eu falar o sim deu o trovão e a chuva veio. Então, essas são as lembranças também que a gente tem. Há trinta e poucos anos atrás. Aí, depois passou… tem os casamentos dos irmãos, também ali na capela. Aí fizemos o casamento do meu pai de cinquenta anos ali na capela. Casou na Capelinha mesmo, fez a festa no barracão da igreja. E assim, a gente tem até hoje esse compromisso, essa devoção, vai na missa ali. Tem Cianorte, tem distrito, mas tem a Capelinha que uma vez por mês tem a missa, Capela São Cristóvão, que é a razão de tudo na verdade, porque ali casou os irmãos, nunca procurou um clube, nada, foi feito aí. Aquela carne no espeto de bambu, matava-se um boi ou dois, e o frango, aquelas coisas, o macarrão. Não existe mais hoje, né? Você vai hoje é buffet, aquela coisa totalmente diferente. Mas a gente teve esse prazer, essa satisfação de poder fazer para os amigos esse tipo de festa. Então esse foi o meu casamento, minha data que eu não consigo esquecer, não tem jeito.
P/1 - Apesar da chuva aproveitaram um monte?
R - Que benção, que benção. Na hora que deu aquele trovão e veio a chuva. Foi difícil, chegamos aí, tudo bagunçado, porque choveu muito, gotejou em cima, mas valeu a pena.
P/1 - E os filhos, chegaram quando?
R - Eu tive um com dois anos de casado, que é o Kleber, três anos mais ou menos, nasceu o Kleber. E aí depois passou-se nove anos, mais ou menos, veio a Débora, um casal. Foi onde a gente deu encerrada, porque imaginava conseguir criar sete igual a minha mãe, né? Que inveja. Não seria essa palavra, mas que a gente fica até assim, pensando: “Poxa, como que a minha mãe conseguiu criar sete, né?” A gente tem dois, tem um casal, tá bom. Foi também aquela coisa que aconteceu de bom na vida da gente. O casamento tem que ter filho. Tem que ampliar a família, você tem que imaginar que você casou com um objetivo. De se dar bem, de viver bem com a esposa, mas também de construir uma família. Ainda mais aqui, que tinha o pai, que é meu pai e vó deles, no caso, avó. Que gostava muito deles. Nossa, maior alegria, os netos perto. Então, hoje eu sou muito grato a Deus, eu sou muito grato a meu pai, minha mãe, a minha esposa que me proporcionou isso aí na verdade. A gente ter esse casal maravilhoso. Nunca ouvimos falar de coisa errada, nunca se envolveu em coisa errada, que hoje é difícil, muito difícil. A educação de um filho, de uma filha. Tem sempre um morando sozinho, saíram cedo daqui para estudar, estudar em Maringá. Fizeram faculdade ali. Acabaram ficando assim, fora de casa, uma verdade é essa, fora. Mas muito perto no pensamento, no sentimento, na educação. Então, hoje faz a diferença. Ele é um homem formado, responsável. Ela uma arquiteta, na produção dela, muito elogiada, graças a Deus. A gente só ouve elogio, elogio. E ela muito bem também. Então, que bom. Que bom.
P/1 - E a vida mudou muito depois que chegaram os filhos?
R - Muda, muda. Com certeza, porque não é que acaba a tua liberdade, mas você tem um compromisso a mais, que é a educação, que é você ensinar o filho. E aquela história, sempre você pensa: “Poxa, eu hoje tenho que dar educação, eu tenho que ver eles formados.” E dá uma encurtada naquilo que você fazia antes, um passeio, coisa… Não que a gente deixou de fazer tudo isso, mas diminuiu. Muda um pouco sim, viu Luiza? Falar pra você, hoje tem a creche, tem os lugares para você deixar uma criança, com seis meses já está numa creche e tal. Mas o costume nosso, da família, essa família de origem italiana, nunca teve esse costume. Teve o filho, tem que criar. Não é avó, não é avó. Eles vão dar suporte, mas não é eles que vão cuidar, né? É você, pai e mãe. Então, a educação, tudo que você vai querer de bom, é você que tem que passar. Então, fica um pouco restrito, dá uma segurada naquilo que você tinha liberdade de fazer. Por exemplo, sair num baile, sair numa festa, já não dá mais. Você tem a criança, às vezes, não vai dar certo. Então, mudou para esse lado, mas é um lado bom da coisa, pode ter certeza.
P/1 - E qual é a história daqui, dessa propriedade?
R - Aqui nós começamos com café, vou falar para você. Aí, começou uma dificuldade enorme, que era um lugar baixo para geada, toda geada pegava. E a gente começou a imaginar que não ia sobreviver mais com o café, porque todo mundo, do lado da estrada, do outro ____ produzia, nós aqui não conseguia mais. Aí, meu vô, como gostava demais do café, quis plantar café de novo, fizemos um plantio no meio daquele café velho que tinha, não deu certo. Ficou ruim. Aí começamos a imaginar: “Vamos arrancar, vamos partir para a soja.” E veio o pensamento de arrendar a área, porque aí já estava os irmão crescidos, junto. Meu pai pensava em comprar um tratorzinho, mas não tinha também. Aí, apareceu um rapaz de lá de Maringá, o Afonso. Hoje faz parte da Cocamar, está no conselho administrativo da Cocamar, Afonso ______, que é um dos grandes responsáveis por essa garagem, por esse barracão, tudo que a gente tem. Ele fez… pegou meu pai, meu irmão mais velho, levou em Maringá, fez um jeito de comprar um tratorzinho e trazer aqui para o meu pai pagar a hora que pudesse. Eu não sei como foi feito, mas fez. E meu pai… meu irmão começou a trabalhar. Arrancamos o café aqui, plantou soja, começamos arrendar umas áreas.
P/1 - Que época?
R - Isso foi em 1978, mais ou menos, 1979.
P/1 - Depois da geada grande que teve?
R - Isso. Depois da de 1975, que foi uma evasão enorme para a Cidade Grande. Você sabe que todos que mexiam com o café foram embora para Campinas, para Limeira, para Jundiaí. Aqui nós temos muitos amigos hoje que moram em Campinas, pelo fato disso aí, da geada. Porque acabou, a geada aqui não deixou nenhuma opção para ninguém. Não tinha poder, não tinha como comprar trator, mecanizar. Então apareceu essa oferta de arrendamento. Aí nós começamos. Deu certo. Comprou o trator, comprou o outro, e foi. Então nós passamos assim, uma dificuldade enorme aqui nesse lugar, porque não era bom para produzir café. E na época era o café que era o carro chefe. Mas com toda dificuldade, ainda nós fomos. Aí o que veio no pensamento? Agora, uns quinze anos atrás, meu pai gostava muito de café, meu vô, sempre pensando no que eles queriam fazer, no que eles gostavam. “Vamos plantar um pedaço de café?” Aí, veio um novo modelo de café, café adensado, que em um alqueire você plantava oito mil pés de café, dez mil pés. Naquela época você precisava de quatro alqueires, para ter cinco mil pés de café. Por isso também não produzia. E agora, com esse novo plantio, chama café adensado, ou você aproveita mais a área, tipo assim, com um alqueire, hoje eu consigo ter oito mil covas de café, Então facilitou. E veio a mecanização, já não era mais necessário ter tanta mão de obra, um tratorzinho, hoje uma pessoa só planta, cuida de cinquenta, sessenta, oitenta mil pés de café. Olha para você vê a diferença. A história dessa propriedade nossa voltou ao café, justamente por causa disso. Depois foi se animando, animando, hoje nós voltamos. Aí, faleceu o meu vô. Mas hoje nós temos cem mil pés de café já. E mexe com grãos, que é o trigo, que é… Aqui é muito difícil, mas é mais milho, a soja, a cana de açúcar. Muitos partiram para a rama, que é o plantio de mandioca. Então, diversificou bem. Mesmo nessa propriedade, nós temos hoje aqui soja, milho e tem o café. Então, essa é a história aqui da nossa propriedade.
P/1 - Vocês também tem cana hoje?
R - Tem.
P/1 - Tem?
R - Temos! Hoje nós temos uns cinquenta hectares de cana, própria, nossa mesmo. Numa parceria com a Companhia Melhoramento, mas quem faz todo o trabalho somos nós. Eles só vem fazer a colheita e paga a gente do que deu e tal. O plantio e a colheita são eles que fazem, agora a manutenção da área, somos nós. Então, é aquela história, diversificou. Hoje Luiza, é muito bom ser diversificado. Muito bom.
P/1 - Por quê?
R - Você erra menos. A chance de você errar é menor, se um produto tá em baixa o outro está mais ou menos, o outro está em alta, faz uma média. Hoje nós temos o café aqui… Só um exemplo que eu vou citar pra você, como você perguntou da nossa história aqui. O café hoje tá mil e trezentos o saco de café limpo. É muito bom. É muito lucrativo. Hoje se produz numa área de café aqui com um alqueire, hoje chega a produzir setenta sacos de café limpo. Você quer dizer, isso resumindo, no que eu tô falando para você, são setenta mil reais num alqueire, ou mais. Você tira um custo aí para manter, de 30, 40%. Ainda sobra muito. Então, hoje a diversificação faz a diferença. Milho tá ruim de preço, soja tá bom, você faz uma média. A cana tá ruim, mas a mandioca tá boa, você faz uma média. Então, quem puder hoje, quem puder, principalmente pequeno produtor, eu aconselho a ter diversificação. Diversificar o produto, que você erra menos.
P/1 - Quando vocês entenderam isso?
R - Ah, depois que meu pai parou de mexer, porque antes dificilmente você ia falar para ele arrancar um pé de café, que ele não ia aceitar, meu vô não ia aceitar. Então, diante da dificuldade que nós vínhamos passando, apareceu a oportunidade. As melhores oportunidades na vida da gente aparecem com as dificuldades. Pode ter certeza. Você é obrigado a dar os pulos, você é obrigado a buscar novas alternativas. E você parte para esse lado, que é a diversificação. Nós já chegamos até a mexer com gado, agora não, mas já tive até gado também, guardava as novilhas tudo, porque é interessante. Você está lá precisando de mil, dois mil, vou vender duas, três cabeças de gado ali, você já dá uma aliviada. E não é o caso da soja, soja você tem que plantar, cuidar, esperar quatro, cinco meses para colher, para depois vender. O café um ano, a cana um ano. Por isso que eu tô dizendo para você, quando você tem vários produtos, você tem essa facilidade, você consegue fazer uma média. E hoje a nossa região é muito boa, muito rica, muito importante, por causa disso aí. Que tem a diversificação. Hoje nós estamos com um projeto de café do município aqui, já foi plantado em dois anos, mais de quinhentas mil mudas de café. O Prefeito adquiriu e passa para o produtor a custo zero a muda, da assistência, você planta, cuida. Hoje todos, quase todos, já tem a mecanização, muitos tem a irrigação, que é melhor ainda. Então, olha pra você ver como é importante diversificar. E o café está fazendo a diferença. Hoje você chega numa propriedade… Nós temos duas famílias parceiras com nós, duas famílias, 45% é deles, 55% é nosso. Só que em contrapartida nós damos adubo, esterco, veneno, o suporte. E eles fazem a colheita, prepara tudo e passa para nós 55%. Mas é importante, hoje os parceiros nossos estão bem, são meninos novos na agricultura, que não pensa embora, compraram casa, compraram terreno, compraram caminhão, compraram carro bom, compraram moto, com 45%. Então, falo pra você, olha a importância do café hoje na agricultura. E o nosso prefeito enxergou isso aí, ele gosta muito e ele veio com essa inovação. Esse ano ele vai passar mais umas… Deve entrar no projeto aí, no grupo, mais uns quinze produtores, vai dar em torno aí, de quarenta, 45 produtores aqui na região. Produzindo café. Que faz a diferença, porque você sente que eles estão felizes, estão ganhando dinheiro, estão bem, uma propriedade pequena. Hoje aquele que tem dois alqueires de terra, ele tem quinze mil pés de café plantados, produzindo. Isso aí é significativo, isso aí financeiramente é bom. Tudo isso eu falo pra você, tem que voltar o café. Volta a mão de obra, volta um morador perto de você, cada sítio desse de café que o prefeito conseguir plantar, formar, vai ter uma família, vai voltar pro agronegócio a importância da rentabilidade e da vizinhança, daquele pessoal junto com você e perto na comunidade. Isso é a diferença. Então, nós aqui neste sítio temos café, no outro tem café, depois se vocês quiserem a gente vai lá ver. Tem outro lá também. E as famílias felizes, a família morando, não precisa está na cidade, está morando no sítio e feliz.
P/1 - Quando você começou a tocar mais à frente aqui, em que momento?
R - Eu, por ser o segundo, não ser o mais velho, o Gilmar é o mais velho, mas às vezes, Gilmar se preocupou muito na questão de trabalhar, trabalhar e acho que veio desde o início, né? Com esse objetivo, tenho que cuidar dos irmãos mais novos e tal, pra ele. A parte mais burocrática passou para mim. Assim, política, trabalhar, buscar alternativa, tal, sempre junto com as lideranças, cooperativa, Cocamar, esse pessoal sempre nos orientando. A EMATER, antiga EMATER, que hoje não é mais, mas sempre… Eu tomei a frente disso aí. Então, lá quando eu voltei do colégio, em 1981, 1982, voltei com uma mentalidade diferente, já de mecanização, de financiamento e tentar evoluir, tentar fazer com que a propriedade crescesse dentro daquilo que você tinha, mas o objetivo era crescer, não era ficar só naquela cultura. E meu pai, meu irmão foram pegando a guerra, concordaram comigo. Hoje eu tenho o irmão Osmar que cuida de toda a parte burocrática, papelada. Ele gosta na verdade, então faz isso. E eu fico aí mais nessa parte de cooperativa, prefeitura, questão de banco, uma reunião. Então, me sinto bem hoje. Me sinto bem, muito bem mesmo. Que nem eu falei para você, dividir as tarefas, meu irmão na parte de mecanização, de compra de produto, o outro na parte de oficina, manutenção das máquinas. E está dando certo. Não sei, que eternidade não existe para sociedade, uma dia vai acabar, a gente sabe. Não existe uma sociedade que seja eterna, mas enquanto a gente poder tocar dessa forma. Aí com ajuda desse pessoal que eu falei para você, principalmente da cooperativa, Cocamar. A parte técnica é importante e eles fornecem para nós. Eles fornecem hoje, assim, assistência 100%.
P/1 - Como funciona isso?
R - Olha, Luiza, você tem hoje… Não é uma obrigação, mas você tem um compromisso de comprar as coisas na Cocamar e entregar. Isso é fato claro, tem que ser dessa forma. Porque se você tem o benefício da assistência, você tem o benefício… a confiança, a segurança, porque hoje, a transparência da Cocamar, do cooperativismo Paraná, no Brasil, todas as cooperativas, seja se for de serviço, seja prestação disso, daquilo, mas a seriedade é muito importante. Então, pra nós hoje, aqui pra nós, nós temos de volta da Cocamar, todos esses benefícios. Tem o ICMS, que se você compra lá depois é descontado, por exemplo, óleo diesel, volta o ICMS, você pode ir lá pegar o implemento, pode pegar algo assim. Você tem uma um fundo de participação que no final vai agregar valor, um bônus, por exemplo. “Ah, eu fiz um seguro na Cocamar 100% segurei a minha safra.” Tem um bônus a hora que você paga. Tem o rateio, que é a famosa sobra no final do ano, que ninguém faz isso. Revenda nenhuma faz isso, você vende, faz, faz, acabou, acabou. Agora, na Cocamar não, chegou no final do ano a tua família consegue ir na praia passear, consegue fazer uma viagem, consegue fazer… Com a sobra daquilo que você vendeu. Então, por isso que eu falei pra você no início da nossa história, da nossa conversa, que o cooperativismo fez a diferença na nossa família e em muitas famílias, muitas famílias. Hoje é um dos setores que mais emprega no agronegócio. É o setor que mais mantém o PIB do nosso país, é nosso Estado fortalecido, foi a agricultura. E isso, nós temos uma organização fantástica, é o ________ que cuida dessas cooperativas, não deixam elas ficarem fazendo coisas erradas. Então, eu falo pra você, hoje é fundamental o que a Cocamar, o que a Cooperativa faz para nós. Tanto a de produção, que é a Cocamar, como a de crédito, que é a Sicredi. Que eu não vou falar dos outros, porque as outras a gente não está envolvido, mas essas duas eu falo para você que é a maior tranquilidade, a maior segurança, é muito… É a segunda casa nossa, posso falar para você. Então, com informação, com inovação, com tecnologia nova. Você hoje tem que estar acompanhando, mas você tem eles. Nós temos aqui na unidade dois agrônomos que te dão assistência de 100%. É muito bom. Muito, muito importante.
P/1 - Quando você se tornou cooperado?
R - Olha, eu vou falar para você, a minha carteirinha chegou a amarelar, tá amarela, faz tempo! Na Sicredi, que era antiga ____. Falar um exemplo para você, na de crédito foi lá por 1980, 1981, mais ou menos. E a Cocamar não foi diferente não, tem mais de quarenta anos. Mais de quarenta anos. Meu pai… Você imagina, muito mais. A gente era sócio da Cocamar e não tinha Cianorte, era Jussara.
P/1 - Seu pai também era?
R - Era lá. Começou lá em Jussara. E como nós, viu Luiza, como nós da Cooperativa passamos por um momento difícil também, uns desafios. Você sabe que questão política, tudo… Aconteceu coisa que não foi fácil, mas eles foram firmes. Nós, cooperados, juntos, abraçamos a causa juntos e hoje tá aí. Esse tamanho dessa cooperativa que nos dá uma estrutura enorme, enorme. Hoje nós temos que falar assim: “Olha, é tudo para nós, é tudo a Cocamar, cooperativa”. Então, eu sempre falo: “Gente, vamos viver o cooperativismo.” Não é só imaginar. “Ah, eu vou só tirar da cooperativa.” Não, tem hora que você tem que ceder alguma coisa, tem hora que você também… você tá num globo aí, você tem que girar junto e tem… Então, mas sempre, o objetivo da Cocamar hoje, das Cooperativas, é fazer você crescer. Tem um slogan, você vai concordar comigo. “Quem coopera, cresce”. Esse aí é verdadeiro, quem coopera, cresce. Eu não vi ninguém, ninguém, dos anos oitenta pra cá, que não participou do cooperativismo, que não quis entrar na cooperativa, crescer. Eu não vi, não vi não. De jeito nenhum. Então, eu falo pra você, é muito… Por isso que eu até perguntei: “Falar da minha história?” Eu gostaria muito de falar da história da Cocamar. É muito importante. Foi importante para o meu pai, foi para nós, vai ser para os meus filhos, para os netos. Com certeza.
P/1 - Quais são as vantagens e os desafios de trabalhar coletivamente?
R - Tudo é melhor, tudo é melhor. Você nunca está sozinho, troca opinião, troca informação. Você sabe hoje numa reunião que a cooperativa faz, por exemplo, citar um exemplo, uma safra técnica aqui em Floresta, você lá, você conhece variedades diferentes, variedades que se adapta melhor aqui para nós, ou lá, como fazer isso aí produzir mais. Tudo isso é vantagem. É a Cocamar, é a cooperativa que te trás. Com aquele pessoal da área técnica, aquele superintendente que está lá em Maringá hoje, que são muito sérios, que procuram levar com transparência, confiança. Eu chego a falar assim, o fato que mais me deixa feliz na Cocamar é a transparência. Hoje eles tem uma transparência enorme, eles não escondem nada, tudo que acontece o cooperado sabe. Através do conselho construtivo, através do conselho fiscal, através do conselho administrativo, através da superintendência, através dos encarregados. Nós temos um regional, cada região de unidade, nós temos um Regional que frequenta, que vem, que traz todas as informações. Então, é muito bom. Hoje ela está em todo setor, a Cocamar. Hoje você vê, até energia solar eles estão colocando, estão incentivando, fazendo os projetos. Olha para você ver que história. É muito bom.
P/1 - E quais são os maiores aprendizados de trabalhar com e na terra?
R - A terra te ensina tudo, tudo. Você hoje tem a oportunidade de tá aqui com um pedacinho de terra, você aprender todas… tipo assim, as modalidades, as diferentes variedades de produto que você nem imaginava que ia ter um dia, você tem hoje. Por exemplo, café, eu falei para você, nós temos hoje plantado, mais de cinco, seis variedades de café. Aquele café que é resistente a nematóide, aquele café que é resistente à geada, aquele café que é resistente à doença do solo. Olha pra você vê como é importante você trabalhar na terra e saber de tudo isso, porque hoje qualquer pessoa que pegar uma chacrinha, três mil metros. “Eu vou produzir uma horta.” Ele tem que ter essas informações, porque senão ele fica pra trás, ele não consegue produzir, não consegue avançar. E aí que eu falo pra você que vem a assistência, que vai te ajudar muito, muito. Então, hoje na terra você aprende muito, não é igual antigamente que era uma cultura e era aquilo lá e acabou, é café, café, até morrer. Hoje não, hoje dentro de um lote aí de dez, vinte hectares, você tem um monte de opção, dá para se fazer tanque de peixe, dá para fazer barracão de frango, fazer uma leiteria, fazer uma horta, instalar uma usina de energia solar. Agora uma coisa nós precisamos pensar, viu Luiza, eu vou falar para você. Na minha história e que isso sirva de exemplo pra mais gente, sempre sustentável, sempre que você imaginar fazer uma produção, mas seja sustentável, nunca você atingir o meio ambiente. Coisas que muitos produtores fizeram e hoje se arrependem. Chegar e arrancar uma árvore sem necessidade nenhuma, provocar uma erosão sem precisar, fazer um soreamento num rio, não deixar uma mata auxiliar. Então, tudo isso hoje a terra precisa que você faça. Pra você produzir, assim: “Ah, eu tô produzindo uma energia solar, mas é sustentável, eu não tô degradando meio ambiente. Eu tô produzindo…” vamos supor, eu tenho uma leiteria, mas eu não vou fazer, jogar alguma coisa da leiteria no rio. Eu tenho um tanque de peixe, eu tenho que ter a mentalidade, o pensamento que é sustentável, que eu não vou prejudicar o meio ambiente, o clima. Então, isso é importante. Na terra você tem que ter esse pensamento, quero produzir, quero viver da terra, mas eu quero fazer com que amanhã, depois, ninguém cobre de mim. Fale: “Oxe, você detonou aquilo lá, você acabou com aquela propriedade, você estragou aquela nascente.” Não pode. Nós precisamos pensar sempre em fazer uma agricultura sustentável.
P/1 - Você sempre teve esse pensamento ou foi mudando?
R - A nossa família, graças a deus… A nossa família, tem o meu irmão mais velho, o ______ ele fica muito preocupado, sempre foi assim, sempre. E eu falo pra você, é importante esse pensamento. Nós precisamos cuidar… Isso aqui tá aqui pra a gente viver feliz, viver muito bem, produzir, mas nós precisamos ter esse pensamento, cuidar do solo, corrigir o solo. Porque tá aí, você vai tirar o teu sustento, a tua produção vai sair dali. Então, você tem que cuidar, tem que ser altamente sustentável.
P/1 - E você percebe as mudanças climáticas? Como está sendo isso pra vocês?
R - Ah, tem uns anos agora que tá mudando. Está mudando. Provavelmente estamos pagando pelo que alguém fez lá atrás de errado. Com certeza, a natureza está cobrando. E nós estamos percebendo sim, viu Luiza? Hoje, se você não tiver variedades, ir adequando variedades que suporta essa mudança climática, você vai ficar patinando. Tem que ter o seguro, porque tudo pode acontecer. Você está vendo agora, dois, três anos aí, a gente teve dificuldade, e é tudo por questão de clima, variação climática. Nós tivemos de nove a dez ondas de calor na soja, detonou. Mas calor, calor mesmo. Você está vendo que nós não tivemos inverno aqui na nossa região, tivemos um friozinho agora, muito pouco. Uma tendência de estiagem agora, até setembro. São as previsões que dizem, mas pode acontecer. Quer dizer, estamos vivendo um fenômeno que pode ser que ano que vem mude tudo, mas mude para muita chuva, nós precisamos nos adaptar também. Então, existe sim. Você tocou num assunto aí, é uma história que começou a acontecer, que amanhã ou daqui dez anos, alguém vai falar: “Nós vivemos um período difícil de variações climática frequente.” São rios grandes secando, a gente está vendo isso aí. Que dizer, coisas que nunca aconteceram na agricultura, acontecendo. Esse pé de manga aqui, por exemplo… Só um exemplo, ele floriu fora de tempo, ele tinha manga até outro dia atrás, coisa que nunca vimos isso, em setenta anos, nunca vimos. Meu pai, meu vô, não viu. Então, existe uma variação climática, está acontecendo. O clima está diferenciado. E a gente precisa cuidar. Cuidar porque não vai adiantar nada ter um monte e terra e não conseguir produzir.
P/1 - E teve alguma pessoa que você trabalhou junto, em algum momento da vida, trabalhou com você ou para você, que te ensinou algo importante, que você carrega até hoje?
R - Sim, meu pai. Com certeza. Cuidar bem, procurar fazer o que eu acabei de falar para você, fazer uma agricultura que pode ser pequena, mas sustentável. E fazer as coisas acontecerem dentro daquele limite, nada que você consiga… “Ah, crescer o olho.” Por exemplo, que o pai e avô nosso falava. “Eu quero aquela caminhonete, eu quero aquele…” Não, vai devagar, vamos pé no chão, vamos trabalhar.” Vai conseguir. Não tem problema, demorar um dia, dois, um ano a mais, mas vai conseguir. Isso meu pai, meu tio, meu avô, todos eles tinham esse pensamento: “Vamos devagar, vamos pé no chão, não vamos fazer loucura.” Hoje a gente não é uma família poderosa, mas temos lugar para morar, para viver, temos uma condição assim, hoje, que eu falo pra você: Muita gente queria ter a condição de vida que nós temos. Então, tudo porque não fizemos loucura. O que o meu pai ensinou, era ir devagar, pé no chão. Dívida, ele sempre tinha uma preocupação muito grande com dívida. “Cuidado, você tem crédito, o banco fornece, você pega. Mas e depois para pagar?” Precisa tomar cuidado. Cabeceando as coisas. Fazendo acontecer dentro do possível, não querer fazer o impossível. Meu pai me ensinou.
P/1 - E o que você gosta de fazer quando não está trabalhando? Além do trabalho.
R - Olha, Luiza, eu sou, eu me considero muito participativo, gosto de estar envolvido politicamente, não, hoje, diretamente, indiretamente eu gosto, gosto de ver o município crescer, gosto de ver a comunidade bem. Além do que eu faço, eu tenho um prazer enorme em ajudar as pessoas, por exemplo, se eu puder, alguém que está numa necessidade, está precisando de uma consulta, está precisando de um encaminhamento. Se eu tenho amizade com o secretário da saúde, eu vou lá, peço para ajudar. Alguém que precisa fazer fisioterapia, ele sofreu um AVC… Eu falando na questão de doença, eu gosto muito de ajudar, de estar participando. Eu participo do Sindicato, sou da diretoria, sou vice-presidente da associação aqui, já tive a minha participação na política como vereador. Hoje me dou muito bem com o prefeito, com quem quer ser prefeito, ou com quem vai ser candidato. Quer dizer, eu tenho uma participação, que hoje eu acho fundamental na minha vida. Além do que eu posso fazer para mim, ajudar os outros, eu gosto muito.
P/1 - E quais são os seus sonhos?
R - Ah, esses são vários, né? Tem sonho que você sonha porque é de graça. Gosto de sonhar, que a gente dificilmente vai conseguir. Mas ó, eu acho que o sonho que eu teria já está acontecendo, família unida, tá tudo bem, com saúde. Família nossa é tão grande, mas tão grande, você não ouve falar que alguém se acidentou, que alguém mexeu com droga, que alguém tá envolvido numa facção, num negócio. Nossa, eu fico pensando, eu sou feliz e de repente não sei, não é verdade? Eu tenho uma história que repercutiu na família, isso me deixa muito feliz, me deixa muito tranquilo, assim, eu acho que eu tenho uma missão quase cumprida, dá para fazer mais coisas, mas eu penso que eu tenho uma missão bem assim já, bem aliada. Faço parte hoje da cooperativa, tenho amizade com todo o pessoal da cooperativa, hoje a gente tem uma facilidade enorme no poder público, na política. Eu fico muito contente. Eu até acho… de repente eu não merecia isso não. Mas tá aí, vamos aproveitar.
P/1 - Você gostaria de acrescentar algo que não tenha perguntado, alguma passagem, alguma pessoa marcante?
R - Olha, Luiza, eu vou falar pra você, se fosse mesmo para falar a gente iria ficar aqui até amanhã. Porque é uma história, é uma vida, 63 anos num lugar, amizade, a família, primeiro lugar a família. Então, eu falo pra você, vai ficar coisa sem eu falar, tenho certeza. Em outra oportunidade eu tenho certeza que a gente pode falar. Mas tudo que eu falei pra você eu queria que ficasse gravado, que é de coração, é verdade. Tenho uma tranquilidade em poder estar falando isso, porque não estou inventando nada, não estou querendo acrescentar algo no que é a minha história. Minha história, da minha família, do meu pai, do meu avô, da minha mãe, da minha esposa, dos irmãos, é essa. É uma história bonita, é uma família tradicional, é uma família que tem um lado religioso que segue. Tem um lado de fazer o bem. E nunca pensou em fazer mal pra ninguém. Eu fico até pensando assim, poxa, Deus foi muito bom com a gente, com a minha família, comigo. E peço que continue assim. Agradeço demais vocês que estão aqui, que vieram aqui, que me deram essa oportunidade. Não sei falar bonito, todo mundo vai acompanhar, vai ver, não sei. Mas as palavras são verdadeiras.
P/1 - O que você quer deixar de legado para as próximas gerações?
R - Siga uma parte disso que nós fizemos, do que eu fiz. Que bom que seus filhos, que os vizinhos, que a comunidade conseguisse fazer o que a gente está fazendo. Não que eu sou mais do que ninguém, não sou não. Sou pequenininho. Mas assim, fazendo o que eu acho certo, que eu tô fazendo, eu acho que é um legado que eu vou deixar e que essa história vai ser contada pra muita gente, da família Brazolotto, do Edagar Brazolotto, da comunidade aqui da Gênova. Da política que eu falei, da Cocamar que eu falei. Esse é o legado que eu gostaria de deixar, que todos pensassem numa forma assim, não só em mim, pensasse na comunidade.
P/1 - E qual é a sua primeira lembrança da vida?
R - Ah, foi bem, bem novinho mesmo, bem novinho mesmo. Olha, falar pra você, hoje se com 63 anos, se eu pudesse voltar lá atrás no primeiro ano da escola, do que a gente sofreu para estudar, a gente ia pra escola não tinha bolsa, era uma sacola, era feito daqueles fardo de açúcar, comprava na verdade, porque não tinha condição. E a gente ia feliz pra escola. Então, nossa senhora, aqueles momentos lá da infância mesmo, de criança mesmo, que a gente nunca mais vai esquecer, nunca mais, de jeito nenhum. Hoje tudo que tiver de melhor, tudo que tiver de recurso, mas você volta naquele tempo lá atrás. E diz: Ai que bom se eu pudesse estudar o primeiro ano, voltar aquelas professoras no primeiro ano. Aquelas mulheres que deram a vida para ensinar a gente. Esse não volta mais, não tem jeito. Só saudade, só.
P/1 - Só na lembrança!
R - Só na lembrança! No Museu, né?
P/1 - E para a gente encerrar, como foi dividir um pouco dessa história com a gente hoje?
R - Gratificante. Uma satisfação enorme, enorme, vocês devem estar vendo na minha feição a felicidade. Me sinto na obrigação de contar tudo isso, porque é uma história verdade, é uma história de uma família tradicional, que não falei para você. Então, isso tem valor pra mim, tem muito valor. Amanhã, ou depois, se eu não estiver aqui, mas eu deixo essa história. Eu deixo esse Museu da Pessoa, que é o projeto de vocês. Nem sabia que tinha isso. Fico feliz, viu Luiza, Saulo? Muito obrigado. Minha palavra é essa, é gratidão.
P/1 - Nós que agradecemos muito. Obrigada!
R - Obrigado vocês!
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