Entrevista de Edmilson Munhoz
Entrevistado por Luiza Gallo
Sabáudia, dia 16/07/2024
Projeto: “Colhendo Histórias”
Entrevista número: COHIS_HV002
Realizado por Museu da Pessoa]
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Primeiro eu quero te agradecer demais por nos receber aqui, e topar dividir um pouco dessa história com a gente, para começar eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data e local de nascimento.
R - Eu que agradeço, vocês virem aqui, tentar tirar alguma história de mim aqui, eu sou o Edmilson Munhoz, nascido em dezesseis de outubro de 1969, no milênio passado. E eu nasci aqui na região mesmo… O que você tinha falado? A data de nascimento, você falou ou não?
P/1 - Seu nome completo, a data de nascimento e a cidade em que você nasceu?
R - A tá, então vamos de novo..
P/1 - Bora lá…
R - Ok, eu que agradeço por vocês terem vindo aqui, ouvir algumas informações nossas aqui, da nossa história, eu sou Edmilson Munhoz, nascido aqui em Sabáudia, em dezesseis de outubro de 1969.
P/1 - E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Exatamente não, mas o que eu sei é que foi parto em casa mesmo, que era, a média aqui.. Uma pessoa que faleceu agora há pouco tempo, esse ano ela faleceu, cheguei a conhecer ela, a parteira, que era a parteira da região toda, quando era para nascer alguém, corria para buscar ela. Mas, foi em casa aqui, na propriedade vizinha aqui, que morava no sítio do meu avô. Detalhes eu não tenho muito não, eu lembro mais da minha irmã, que também foi na mesma situação, na propriedade vizinha, que foi no sitio do meu avô materno daí, que eu ainda me lembro da correria, de busca parteira, também não sei se teve alguma coisa extra não, acho que não.
P/1 - E por que você se chama Edmilson? Tem alguma história com o seu nome?
R - Não sei, não tem nada com nome conhecido não, foi coisa da minha mãe mesmo aí, e esse d mudo veio só para complicar, porque toda vez...
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Entrevistado por Luiza Gallo
Sabáudia, dia 16/07/2024
Projeto: “Colhendo Histórias”
Entrevista número: COHIS_HV002
Realizado por Museu da Pessoa]
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Primeiro eu quero te agradecer demais por nos receber aqui, e topar dividir um pouco dessa história com a gente, para começar eu queria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, a data e local de nascimento.
R - Eu que agradeço, vocês virem aqui, tentar tirar alguma história de mim aqui, eu sou o Edmilson Munhoz, nascido em dezesseis de outubro de 1969, no milênio passado. E eu nasci aqui na região mesmo… O que você tinha falado? A data de nascimento, você falou ou não?
P/1 - Seu nome completo, a data de nascimento e a cidade em que você nasceu?
R - A tá, então vamos de novo..
P/1 - Bora lá…
R - Ok, eu que agradeço por vocês terem vindo aqui, ouvir algumas informações nossas aqui, da nossa história, eu sou Edmilson Munhoz, nascido aqui em Sabáudia, em dezesseis de outubro de 1969.
P/1 - E te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R - Exatamente não, mas o que eu sei é que foi parto em casa mesmo, que era, a média aqui.. Uma pessoa que faleceu agora há pouco tempo, esse ano ela faleceu, cheguei a conhecer ela, a parteira, que era a parteira da região toda, quando era para nascer alguém, corria para buscar ela. Mas, foi em casa aqui, na propriedade vizinha aqui, que morava no sítio do meu avô. Detalhes eu não tenho muito não, eu lembro mais da minha irmã, que também foi na mesma situação, na propriedade vizinha, que foi no sitio do meu avô materno daí, que eu ainda me lembro da correria, de busca parteira, também não sei se teve alguma coisa extra não, acho que não.
P/1 - E por que você se chama Edmilson? Tem alguma história com o seu nome?
R - Não sei, não tem nada com nome conhecido não, foi coisa da minha mãe mesmo aí, e esse d mudo veio só para complicar, porque toda vez que vai falar o meu nome: “Com d mudo.” O João é mais fácil, mas faz parte da história, né? Ficou diferente, aí para complicar eu coloquei na minha filha também Eloane, que também tem que estar explicando, como se fosse o da minha irmã Eliane, só falar todo mundo sabe… Da Eloane, Eloane, tá, tem que estar explicando, é isso. Não sei, coisas que vem na hora de colocar nome, inventa essas coisas, quer ser diferente, eu acho, mas está valendo, não vou mudar não.
P/1 - Não vai mudar não…E como você descreveria sua mãe, o jeito dela?
R - A minha mãe é guerreira, sempre puxou a frente das coisas aqui, meu pai um pouco mais devagar, ele entende mais, mas ela que puxa a frente “vamo, vamo” , pelo o que ela conta, do ínicio, que foi, era um trabalho que dependia dela. Quando eles casaram era plantação de café, então era tudo manual, no máximo tinha um arado com animal puxando, um burro, e o resto era enxada. E ela era aquela guerreira que pegava cedo e “vamo, vamo conseguir alguma coisa na vida.” Que ela casou e morava no sítio do meu avô, com meu pai, pai do meu pai, e tocava, mexia com o café do meu avô, uma parte do sítio, coisa que era loucura até, eu sei, coisa de cinco hectares, eu acho, só os dois. Aí outra parte do sítio era o outro cunhado e tal, por uns quatro, cinco anos, foram nessa lida do café, para conseguir comprar a primeira propriedade que foi essa aqui, já para ficar independente, “vamos mexer nossa área sozinhos.” Ela era uma italiana explosiva, conversava alto, xinga, faz de tudo, mas é coisa da raça italiana. Já meu pai não, meu pai já é mais, é italiano com mistura, é mais calmo, meu pai era bem tranquilo, aceita tudo, vai… Meu pai é mais espanhol, ele puxou mais para o lado espanhol. Eu também sou, eu sou, meus avôs são três italianos e um espanhol, eu sou mais do lado espanhol, sou mais quieto um pouco. Bem tímido até para esse tipo de coisa de entrevista, não sei como é que eu estou fazendo aqui com vocês hoje, mas vamos lá.
P/1 - E as suas irmãs, como é que é o jeito delas?
R - São bem tranquilas também, casaram, as duas estão morando na cidade, Araponga, estão perto aqui, mas estão na cidade, cada um com sua vida lá. E eu era mais velho, já estava na lida junto com meu pai aqui, na agricultura, eu que ajudava mais. Elas também ajudavam um pouco, mas depois casaram e foram embora, mas eu continuei aqui junto aqui, prosseguimento já no que o meu pai fazia, e até agora estamos aí. Agora passando para os meus filhos já, que eles que estão assumindo um pouco do que eu faço aí, ajudando bastante já.
P/1 - Quero saber disso já, já. E me conta uma coisa: seus pais nasceram aqui no Paraná?
R - Sim, não, meu pai veio pequenininho, meu pai nasceu no estado de São Paulo, em Sabim, ele veio, eu acho que, ele veio com quatro anos para cá. A minha mãe nasceu aqui, eu acho que foi até na propriedade vizinha mesmo. Não saímos daqui, só mudou de sítio assim, coisa de quilômetros, sempre na mesma região aqui, tudo por aqui. Meu pai veio pequeno de São Paulo, meu avô paterno é o único que eu acho que veio da Espanha pequeno também, ele é importado, os outros avós já nasceram aqui, acho que ele é o único que veio, pequenininho, mas veio.
P/1 - E por que que ele veio, você sabe?
R - Naquela época, eu acho que a dificuldade que era lá, não sei se foi guerra na época, pobreza, fome… Quis sair de lá, porque lá não dava mais, não sei bem o que eles faziam na época lá, essa história toda eu não conheço direito, o que que era, os meus bisavós o que que faziam lá. Deveriam ser empregados de alguém para vir para cá, não tinham propriedades, mas eu acho que naquela época foi fugindo mais de guerra, de pobreza mesmo, uma loucura para época, porque hoje eu não tenho coragem de fazer isso, e eles vieram aquela época de navio, que não sei que tipo de navio que era, e demorou tempo para vir. Vieram só com a mala, né? Chegaram em um país em que ninguém… Hoje você conhece outro o país, se quiser pegar o avião e ver lá o que que tem… O povo veio pelo que falavam, não sei se alguém trouxe a comitiva deles para cá, o que que foi… Se instalaram primeiramente no estado de São Paulo, aí a minha avó materna se casou e veio para cá, e o restante dos irmãos dela ficaram lá, estão até hoje lá, só ela que veio, os outros não são agricultores, ela só ficou aqui por causa do meu avô. E da parte do meu pai, também vieram, não sei direito como foi a chegada deles aqui, foi na mesma época também, na década de cinquenta, foi abrir mata aqui e plantar café, porque a cultura da época era o café, então derrubava as árvores, e queimava o que queimava os ______ e plantava o café, pulando os tocos, eu lembro que eles falavam que... Meu pai ainda chegou nessa época de passar o arado, aquele arado com o burro, e tinha as torras no meio da roça, não tinha trator para tirar, não queimava, não queria queimar, não sei,o burro tinha que pular aquelas toras, toras de quase um metro de altura.Ele falou que o burro chegava na tora, e pulava a tora, e ele com o arado atrás pulava também, parado no meio do café, das rotas de milho que tinham, alguma coisa assim de milho, era uma coisa incrivél para época, eu não cheguei a ver, mas ele conta…
P/1 - Por que seu pai veio para cá, você sabe?
R - Ele veio, você fala de São Paulo?
P/1 - É…
R - Ele veio porque meu avô veio, ele veio pequenininho, parece que quatro anos ele tinha, então, não veio sabendo o que estava acontecendo. Se instalaram aqui, meu avô na época comprou a propriedade.
P/1 - A, ele veio porque comprou a propriedade…
R - É, eles tinham propriedade aqui, os irmãos do meu avô também, parece que vieram juntos, aí, foi aqui, não teve mas, era só aqueles, dificuldades muitas, mas era o que tinha, para época era bom, porque já tinha o lugar dele para mexer, mas dificuldade muitas, não tinha cidade ainda, né? Sabáudia, Araponga, não existia, a cidade que eles iam era, a mais próxima ali era perto de Londrina, Rolândia, que já tinha uma cidadezinha, uma coisa, um comércio para fazer compra. Eles dizem que iam de… Quem tinha carroça,ou carrinho lá com o burro ia, mas era o dia todo, saia de madrugada para ir, coisa de trinta quilômetros, mas imagina as estradas que tinham aquela época, o dia todo, sair de manhã e voltar a noite, fazer as compras básicas, sal, açúcar e alguma coisinha assim. E outros iam a pé, têm vizinhos que falam que iam a pé, que às vezes não voltavam no dia, tinha que pousar na estrada para voltar, porque era muito distante, e na época da abertura do mato mesmo, que o pessoal fala que escutava as onças, chegava aqui e fazia uma cabaninha, um ranchinho que eles falavam de galhos e folhas, até conseguir fazer alguma coisa, rachar a madeira e fazer com as tábuas improvisadas. Aí escutava isso a noite, do meu avô eu não lembro, dos vizinhos poloneses, que essa região que eu moro aqui é mais polonesa até, a região dos italianos era da estrada para lá, onde eu nasci. Os poloneses falam que a noite escutavam os gritos das onças, não tinha o que fazer, era isso, isso lá em cinquenta e poucos, sei lá, 48, acho que chegou a maioria aqui. Loucura de pensar hoje, na situação nossa hoje, hoje está aparecendo onças aí de novo, não sei porque, têm muitas onças aí na beira de rio, o pessoal vê, fotógrafo já, as vezes fica assustado, mas imagina naquela época o quanto que tinha, que era só mato, o pessoal foram uns heróis, para fazer isso naquela época, necessidade, eu acho que foi, ninguém veio para ficar rico, era sobrevivência mesmo.
P/1 - E que recordações você tem dos seus avós?
R - Olha, meus avós paternos, que sempre moraram no sitío aqui, eles foram só no finalzinho da vida para a cidade, morar com os meus tios, irmãos da minha mãe, aí eles mudaram para a cidade para “estudar” os filhos e tiveram que ir juntos, mas só no finalzinho mesmo já… Dele trabalhando eu não lembro nada, naquela época não sei se o pessoal se esforçava demais, ficava velho mais cedo, eu lembro dele, quando eu tinha uns… Que eu morei até no sitio deles, antes de vir para cá, o último lugar que nós moramos foi com eles, no sítio do meu avô, eu lembro deles sentados lá, eles tratavam as vaquinhas, cortava um capinzinho para as vacas, depois sentava fumando um cigarro de palha, até eu lembro que um dia eu fiquei olhando, eu deveria ter uns cinco, seis anos, ele: “Quer fumar?” Sabe? Peguei o cigarro dele lá dei aquela engasgada com a fumaça, nunca mais botei um cigarro na boca, né? Coisa de avó, só para… Está curioso, né? Mas não lembro dele assim trabalhando, que era um touro para trabalhar, minha mãe fala que essas toras assim, que burro não consegue tirar, ele fazia, até minha mãe ajudava, na época, as irmãs dela. Minha mãe é em quatro irmãos, dois homens… cinco irmãos, dois homens e três mulheres, faziam o que ele mandava, era serviço bruto mesmo, pesado, coisa de… Aquela história de ________ café o dia todo, era o dia todo mesmo, com a peneira, coisa que eu tentei uma vez, não vai dez minutos, você senta… Mas, era costume, né? Era o serviço que eles faziam desde pequenos, naquela época não tinha menor não trabalha, já conseguia se mexer já ia fazer um servicinho lá. Ficava o dia todo na roça junto, não tinha com quem ficar em casa. Como a minha mãe me fala, eu nasci debaixo de um pé de café praticamente, porque trabalhava até na véspera de nascer, não tinha esse que está de 9 meses já não vinha para a roça, estava trabalhando, e talvez no dia antes estava na roça fazendo algum serviço, um pouco mais leve, mas estava, praticamente quase que nasci debaixo de um pé de café, era o que tinha para época, e ia nascer debaixo do pé de café mesmo, porque não ia para o hospital, ou era ali ou em casa. Coisas do passado que não volta mais, também não faz muita falta hoje esse tipo de serviço que eles faziam, porque coisa de loucos mesmo, tudo braçal, não tinha máquina nenhuma, máquina foi chegar aqui praticamente depois da geada de 75, que dizimou o cafezal do Paraná todo, não adiantava mais plantar, já tinha geado antes, replantar, então, aí foram as mudanças, começaram a aparecer as máquinas, os primeiros tratores, né? Em 76 que nós mudamos para cá que meu pai comprou o sítio, em 77 já conseguiu comprar um trator, ele junto com os meus tios, compraram um trator, que era… Como é que ia mexer na terra, no café é diferente, um matinho e tal, agora na terra toda mexer não tinha como sem maquinário, e daí para cá que começou a mecanização. Meu pai puxou a frente com os meus tios ali e conseguiu comprar maquinário e foi investindo nessa área, através de financiamento, alguma coisa ali. Meu avô, isso mais na parte do meu avô materno, meu avô paterno já não… Logo vendeu o sítio, foi para a cidade, já não se envolveu muito. Mas o outro meu ficou no sítio, mas ele que tinha o sítio, meu pai conta que precisava financiar o trator, ele ele não dava, muito medo, acho que já tinha perdido dinheiro no banco, não deu garantia do sítio para financiar, aí como meu pai tinha comprado aqui, consegui fazer aqui já, mas foi feito tudo em cima desse sítio aqui, meus tios que moravam com o meu avô, não tiveram como penhorar o sítio dele de garantia, porque ele não aceitava, ele não confia em governo, esse tipo de coisa assim, não entendia, né? Tanto que ele guardava o dinheiro, guardava o dinheiro e não comprava, o dinheiro acaba, desvaloriza, meu tio fala, poderia ter fazenda, dinheiro para comprar propriedades grandes a vista, e “não, comprar para que?” Que a cabeça era aquela que tinha que fazer tudo na enxada, e “não preciso de mais de vinte hectares de terra, não tem como, então comprar para que?” Os que tinham a visão mais aberta compraram, hoje tem bastante terra, nós ficamos com dificuldade, porque as terras subiram depois, o maquinário facilitou, né? Então, dava para ter mais área, mas aí já foi inviável comprar, muito difícil comprar terra hoje, né? Quem tem pouco para levantar saldo, muito caro.
P/1 - E você lembra dessa geada de 75?
R - Não lembro, eu era pequeno, em 75 eu estava com cinco anos, seis anos. Visualmente assim eu não lembro de nada, o café queimado assim. Alguma coisa que eu lembro, mas foi, de algum café que depois queimou, mas daquela época mesmo eu não lembro. Eu sei que era muito café na época, foi um desastre, né? Porque era, o que o pessoal ia fazer? Só sabiam mexer com café, para mexer com outras coisas não tinha maquinário, foi complicado, a maioria foi para cidade, né? Arrumar algum serviço, porque se não ia passar fome. Ficou o proprietário, né? Quem conseguiu comprar alguma máquina, quem tinha, prestava serviço para os outros, foi se virando, e a evolução foi até rápida, pela época que não tinha nada, e começaram do nada, foi… Meu pai, em 77, comprou o primeiro trator, e já de sócio com os meus tios, já um ano, dois anos já passou o trator para eles, comprou outro só para ele, ficou um com cada um, e depois foi comprando os implementos que precisava, a grade, os arados, mas aos poucos, comprando usado, até hoje, ainda não é fácil, né? Você não consegue trocar os maquinários em um ano, é um por ano, nem isso, pegando os mais velhos, e pegando os mais modernos, isso é caro. O problema da agricultura é que gasta muito, né? Até ganha bastantinho, mas gasta muito, então não sobra, então você trocar uma máquina hoje, qualquer máquina aí é um milhão de reais. Como faz, sobra? Financiamento, entendeu? Comprei uma máquina aí em dez anos para pagar, mas vai uma boa quantia da sobra anual para pagar só essa prestação, necessidade, a gente acaba investindo, mas, se não, não consegue, vai parar no tempo, mas não é fácil. São máquinas caras, todas caras, e precisa de muita máquina. Hoje até diminuiu, por causa do plantio direto, que uma plantadeira faz todo serviço da grade, o arado, o efetivador, mas só que o preço também é lá em cima, não é fácil para a gente manter, sobreviver, né? Na agricultura, mas a gente sabe fazer o que gosta, vai levando, minha mãe sempre fala: “O que nós vamos fazer aqui? Vamos fazer outra coisa, vamos fazer uma granja de frango, bicho da seda.” Eu nunca gostei, porque esses tipos de criações não tem dia, né? É 365 dias por ano, não tem o domingo que você possa viajar, possa sair, e largar eles ali, você não vai dar dez reais para a vaca e se vira para comer, ela que comida ali, então eu não gosto de criação, mas a minha filha mais velha que está cuidando das criações aqui que meu pai cuidava, ele que tirava leite até pouco tempo, aí ele, agora com a idade, ele foi abandonando, também enjoo, e ela que assumiu, tanto que vocês podem até ver ali, os bois, as vacas, carneiros, são dela, ela que tirou o leite hoje cedo já, eu bebo leite que ela tira, mas eu não… Só ajudo quando ela “vem ajudar aqui a prender…” Fazer uma coisa, mas o resto não é do meu, meu negócio é máquina, é ferro, aí eu que cuido dessa parte, então. Já o meu filho do meio gosta um pouco também, mula, nunca tive o gosto de andar, montado em cavalo, ele já teve mula, burro, tem, anda, vai em cavalgada, fica três dias viajando para chegar, eles vão daqui a 150 quilômetros montados, ficam três dias assim andando com a comitiva, coisa que eu nunca imaginei fazer, não vou nem de moto junto, e ele vai, já foi, eu acho que três ou quatro vezes, esse lugar aí _______, que é aqui próximo, eu acho que 150 quilômetros, alguma coisa assim, pega aí em uma sexta-feira, sábado, domingo chega lá, fazendo comida na estrada, coisa que eu não sei da onde que sai, o pessoal da família: “da onde que puxou para fazer isso? Você não gosta…” Meu avô também não era muito, fazia aquele básico de cuidar da criação da propriedade só, coisa que parece que não sabe da onde, mas assim, mas está todo mundo na lida aí. Minha menina mais velha não quis estudar de jeito nenhum, não teve acordo, ele tentou, não quer, está aí, mexendo com gado, quer ficar aqui agora, não sei se vai casar, vai continuar aqui junto, mas ajuda bastante, está quebrando o galho aqui meu agora, que eu estava meio sozinho. Ela leva caminhão para a roça, ela vai passando trator atrás de onde eu vou colhendo, meu menino vai com caminhão ou colhe, nós três estamos se virando aí, o pequeno também já começando, não trabalha sozinho, mais levar, buscar uma caminhonete na roça, levar um almoço, já faz, com treze anos, já vai começar a dirigir também, para fazer serviço, aprende, tem a necessidade, e gosta, né? Se não gostar não vai, muitos filhos de agricultores aí que não fazem nada porque não gostam, não tem como obrigar a ficar na agricultura, isso aí.
P/1 - Como é para você ver seus filhos entrando na agricultura também?
R - Então, eu sei que é uma vida meio sofrida aqui, se bem que ultimamente não trabalho tanto braçal, mas não tem um futuro de enriquecer, mas é livre, né? Eles querem ficar eu apoio, o do meio agora está fazendo faculdade, mas está fazendo na área, agronomia, fazendo, acho que por fazer, não sei se vai sair daqui para trabalhar, vamos ver o que vira, mas pelo menos a gente é livre aqui. Se eu tivesse um emprego hoje eu não poderia estar aqui com vocês, não teria essa liberdade, então eu faço meu horário, eu tenho milho na roça para colher, poderia colher hoje, mas eu posso deixar para amanhã, eu faço meu horário. Então, como eu nunca gostei de levantar cedo, não preciso ficar madrugando que nem… Antigamente sim, minha mãe, três, quatro horas da manhã era direto na época da colheita para adiantar o serviço, porque era demorado a colheita de café naquela época iam meses colhendo, todo dia um serviço, se não adiantasse, fazer render no dia, ia passar da época, o café ia cair e não ia conseguir. Então, cada um vai fazendo conforme a situação do momento.
P/1 - E Edmilson, que recordações você tem da infância? Da sua casa, da rotina, bem pequeno, do dia a dia.
R - A primeira coisa que eu me lembro assim, quando eu estava, acho que começando a andar, meus pais mudaram para a cidade, fazendo um ano de idade, por aí, meu avô resolveu ir para a cidade, tinha uma máquina de arroz, limpar arroz, prestar serviço na cidade, e “vamos lá”, e mudaram para lá, aí não deu certo, com seis meses já voltaram,que lá não ia ter futuro, minha mãe: “não, vamos voltar para o café.” Eu me lembro que eu tinha, você já viu esses carrinhos de aprender a andar? De três rodinhas, sei lá, então meu pai, era fabricado pelo meu pai, não era comprado, eu me lembro alguma coisa disso aí, minha mãe fala, e eu me lembro de eu aprender a andar lá na cidade, com aquele carrinho, que eu andava, até tinha um lugar dentro da máquina de arroz que eu ficava o dia todo lá junto, que eu ia assim e tinha um degrau assim… um lugar bem mais baixo, o pessoal lá, os fregueses estavam limpando arroz, e eu ia correndo, andando, né? Começando a andar, aquele carrinho, aí chegava assim, o pessoal já ia para catar, ia um degrau assim, que eu ia cair, pensava que eu ia cair, eu chegava, levantava e virava, voltava, assustava todo mundo. Foi uma das primeiras coisas de infância assim que eu lembro, que eles contam, e eu tenho alguma lembrança disso, lembrança, acho que mais que eles me puseram na minha memória, né? Com um ano não devo lembrar esse tipo de coisa, eles falam que eu fazia isso, o resto aqui, depois quando nós mudamos para cá, eu tinha já seis anos, aí a minha escola foi na vila ali em cima, que dá uns dois quilômetros, era a pé, sozinho… Sozinho não, era com os colegas vizinhos, né?
P/1 - Andando?
R - Andando, sozinho, ia uns quatro colegas, ia e voltava sozinho, nas estradas, que na época eram estradas de terra, aqueles barrancos assim, até meio assustador para a época, mas é o que tinha para época, ninguém ligava, hoje parece que não dá mais nem coragem da gente ir quando é grande, ali até não vai, mas foram os quatro anos de primário na escolinha da vila, indo a pé sozinho, com o pessoal. Depois aí ______ ginásio, aí eu fui para Sabáudia, aí já na época tinha, não era nenhum ônibus que passava da prefeitura, era um caminhão, um caminhãozinho com um toldo em cima, tipo aqueles que, fala pau de arara, né? De boia fria que puxava, né? Mas, tinha um rapaz lá do final da estrada fez para levar todo mundo,em cima da carroceria, os quatro anos de ginásio desse jeito. Depois o segundo grau, que aí já era, só tinha a noite, aí já foi com uma kombi, a prefeitura cedeu uma kombi para nós, o mais velho que era lá de baixo passava pegando todo mundo, voltava, não tinha motorista da prefeitura, o aluno mesmo, que já deveria ter carteira, na época, não sei, e levava a gente, e voltava sempre a noite, porque não tinha segundo grau a noite na Sabáudia.
(26:05)
P/1 - O que você lembra da escola? Você lembra de um professor marcante, matéria, algum apronto na escola?
R - Na escolinha aqui era um professor para todas as turmas, né? Ficava… Não sei se todas as turmas eram no mesmo horário, eu acho que não, deveria ser o primeiro e segundo ano em um horário de manhã, e os outros dois de tarde. Mas, era junto, na mesma sala, na mesma lousa, metade aqui, uma tarefa ali, o professor daqui do sítio, morava aqui do outro lado do rio ali, ele vinha a pé da escola também, passando, nem ponte tinha, ele morava do lado lá do rio, era uma pinguela, que fala, põem duas madeiras, passava o riozinho pequeno, ele vinha a pé para a escola, escolinha ali, ele mesmo às vezes fazia a merenda, professor que faleceu agora, faz uns dez anos. Até o meu primeiro arrendamento em terra, quando eu comecei a trabalhar para mim, eu saí da faculdade, que eu parei de estudar, aí meu pai comprou trator para a gente trabalhar, aí o meu pai, arrumamos esse pedaço de terra foi desse professor, os primeiros sete hectares ali, eu arrendei do professor, por três anos eu plantei, primeiro plantação minha, só minha foi essa.
P/1 - O que era?
R - Era soja também, soja e trigo, que na época eu plantava, durante, eu acho que foi três anos que eu plantei essa área dele, ele era vivo ainda, professor meu da escolinha aqui que eu arrendei, coincidência até, que era professor que ensinou a gente aqui. Outra curiosidade que eu lembro que na escola que eu estudava junto com o filho de um oleiro, que fazia tijolo, que olaria, mas bem longe daqui, mas vinha na mesma escola, aí teve uma época, não sei porque, que foi ficando um trabalho de escola, alguma coisa, e esse meu colega, como era, o ramo dele era olaria, mexer com barro, eu lembro que ele fez um bonequinho, até era o saci, né? De uma perna só, um sacizinho de barro, trouxe, deixou secar, e trouxe na escola, não me lembro se era um trabalho de escola, ou ele fez por curiosidade, eu lembro desse sacizinho que ele fez, de barro assim, uma miniatura, de barro de fazer tijolo, e trouxe na escola, coisa que nunca esqueci, até conheço ele, mora aqui em Sabáudia esse colega aí. Todos da região aqui, estão todos por aqui ainda os colegas de escola, a maioria, quase todo mundo aqui perto,a gente se vê, a maioria dos alunos da escolinha aqui… quarenta e tantos anos atrás, pelo menos uma metade dos alunos aí a gente ainda se vê…
P/1 - Que legal…
R - Daria para fazer aquele encontro, né? De os alunos lá da formatura lá, do passado, fazer um encontro com todo mundo.
P/1 - E que músicas, você escutava música? Algum programa de TV que você lembra
dessa época, era comum?
R - Música, quando pequeno não lembro nada, tinha um radinho, né? Mas, eu não sou muito de música também, nunca fui, nem quando primeiro carro de som, essas coisas, eu não sou, entendeu? Meu filho já não, dei o carro para ele, primeira coisa já vai colocar um som, uns auto falantes, uma potência. Eu não ligo, fico até bravo: “para que isso?” Não vai ligar isso alto.” Mas, música assim, música marcante? Não tem nenhuma assim não, de adolescência, não tive. Eu comecei a ir em bailes sozinhos com dezoito anos, antes não ia, eu me lembro que o primeiro baile que eu fui sozinho, antes até meus pais levavam, sempre aqui nas comunidades, né? Porque aqui nessa estrada nossa tem uma cinco comunidades assim, que tem a igreja, tinha a escola, que hoje não tem mais, desativou _______ o barracão que fazíamos os bailes, um colega de ginásio, do segundo grau, com os dezoito anos dele, na outra vila uns seis quilômetros aqui para baixo, convidou a gente para ir lá de tarde, os colegas mais chegados para passar a tarde, depois a noite teve um coquetel, uma coisa assim lá, não lembro, um bailinho, e a gente foi lá a tarde, e foi o primeiro baile, que depois nós ficamos, teve, a gente não fazia parte do aniversário, aí tinha um baile na comunidade lá, aí eu fui sozinho no baile lá, esse ficou marcado porque foi o primeiro baile que eu fui sozinho, depois meus pais foram à noite no baile, de lá,da onde eu estava, na casa dele, eu fui sozinho, um dos primeiros assim, bailes, com dezoito anos de idade, coisa até meio absurda para hoje, né? Hoje as crianças saem já com dez anos, já saem sozinhas. O meu mais novo pega a bicicleta, que eu não deixo ir de moto por causa da estrada, pega a bicicleta e vai lá nessa vila mesmo jogar bola todo sábado a tarde, de bicicleta, às vezes a gente leva também, vai buscar, agora ele está de bicicleta, umas coisas que eu não fazia, da época também, eu nunca ganhei uma bicicleta nova, os meus filhos, os avós dão, dá outra, dali a pouca já joga fora. Eu tive uma bicicleta ainda comprada usada, bicicletinha, mas era dificuldade da época, não é porque não queria andar, não podia mesmo.
P/1 - Quando você era pequeno, você pensava no que queria fazer quando crescesse?
R - Essa, acho que foi a questão mais difícil da minha vida, não sei se é pra todo mundo, até meus filhos estão agora nessa fase, o que fazer? Olha, eu até no dia de fazer vestibular, fazer inscrição eu não sabia o que eu queria, eu não queria nada, mas os pais querendo que faça alguma coisa, eu me lembro que a minha faculdade, eu saí de manhã aqui, vi a notícia no rádio, achou que era um curso desse, mas não era, era do segundo grau o curso, fomos lá em Rolândia, que está a uns trinta quilômetros ver, lá na cooperativa que anunciou na rádio, chegou lá: “não, mas não é…”O meu era faculdade, aí não deu certo lá, não era o que estávamos pensando, passamos na faculdade aqui em Araponga, entramos lá, o que que tem? Foi lá “esse curso, esse não…” Eu nunca gostei da parte de história, de letras, minha parte é números… “ O que eu vou fazer? Matemática? Não, não vou ser professor.“ Não sabia nem o que poderia fazer… “Acho que química, né? É mais para número…” Na hora assim, coisa de quinze minutos, “vou fazer química”, fiz inscrição, prestei o vestibular, passei, não sei se era uma área menos concorrida também, passei que eu me lembre, acho que em 16 º, não sei qual que era, mas bastante candidato, em torno de setenta, oitenta, passei em 16º, meio perdido. “Tá, vamos fazer então.” Até no dia de eu ir lá fazer a inscrição do vestibular, eu já tinha feito dezoito anos, meu pai tinha moto, estava trabalhando e eu fui sozinho, mas não tinha feito a carteira, porque eu faço aniversário em outubro, fim de ano complicado naquela época “vou deixar para fazer a carteira mais para o começo do ano.” E fui, eu acho que coisa de, não sei se foi dezembro, fazer a inscrição para faculdade, já tinha passado, sozinho de moto, fui por dentro aqui, por dentro da pista, mas chega na cidade tem que andar um pedaço, fui lá na faculdade fazer a inscrição, precisava da fotocópia de algum documento,”tá”, fui lá no centro, a faculdade aqui na saída, peguei a moto e fui, fui e voltei. “Está tudo certo, agora eu vou embora?” A faculdade aqui pertinho, vocês vieram e passaram no trevo, onde que vem para cá, a faculdade está ali a quinhentos metros. “Não vou embora pela pista, vou voltar lá para o centro para vir por dentro.” Uma blitz, já me pegaram, sem carteira, e tomaram a moto, já fiquei a pé,aí, imagina, acho que uma das primeiras vezes que tinha ido para cidade de moto, já… Nossa, que sufoco, aí eu lembro que eu peguei, o policial pegou a moto para guardar. “Você me dá uma carona até na casa da minha avó?” Que era ali perto do centro, o policial catou minha moto, eu montei na garupa, ele me levou, deixou o carro perto da casa da minha avó, e levou para o pátio a minha moto, aí fui na casa da minha avó. “Olha, vou pegar uma carona para ir embora, né?” Meu pai não tinha, acho que até tinha carro, mas não tinha telefone, também não tinha como, aí fui lá para avenida lá, já logo passou conhecidos indo embora, na entrada, desci tudo aquilo a pé, isso era, não, foi começo do ano porque era perto do carnaval, eu me lembro que meu pai falou: “Não, vai ter que tirar essa moto de lá, porque agora eles vão andar com ela no carnaval.” Se acha, que ideia, a moto está presa no pátio, não tem nada a ver. Aí na época um primo do meu pai era vice-prefeito, ou vereador, vice-prefeito eu acho que era na época, meu pai já foi lá falar com ele, porque ele não sabia como é que ia fazer para retirar, não pagou nada, das taxas, tirou a moto, foi embora. Logo em uma das primeira vezes que eu andei de moto sozinho eu já perdi a moto, mas acho que foi a única vez também que aconteceu alguma coisa de envolver polícia assim, de blitz, de tomar, eu já tomei alguma multa aí, mas coisinha boba, mas eu acho que o mais grave foi isso mesmo, andar sem documento, eu estava sem carteira na época, é isso…
P/1 - Logo no primeiro dia…
R - É, o meu pai trabalhava, não tinha como ele tinha o carro para levar. “Eu vou sozinho, vamos”, acho que não ia dar nada, mas aprendeu a moto, porque eu não levei o documento da moto, se não ia levar multa, mas a moto não ia ser presa, “como eu não tenho a carteira, não preciso levar o documento”, coisa de não entender do assunto. Mas, aí eu fiz a inscrição, comecei a estudar, uma dificuldade para estudar que, eu pegava um ônibus aqui em cima, que na época já tinha o ônibus, e ia até Sabáudia, o ônibus da prefeitura, aí em Sabáudia eu pegava o outro ônibus, que ia até Arapongas, tudo bem para ir, e a hora de voltar? Se eu esperasse o ônibus, porque esse ônibus não levava só até Arapongas, ele deixava um pessoal ali e ia até Apucarana, eu acho, levar mais, na volta, na hora que ele vinha trazer, ele ia chegar aqui, já tinha vindo daqui, eu tinha que pegar uma carona antes, para vir até Sabaudia, para pegar o ônibus lá de dentro, então a gente vinha naquela loucura, um dia vinha com um caminhão, o caminhoneiro parou lá, eu me lembro, que nós viemos lá com o senhor lá, acho que ele sabia, estava na porta da faculdade, parou, entrou aquela galera, não era só eu, tinha mais lá, tinha uns quatro, cinco dentro da cabine e vai, com aquele ______ que quase chegou, até vinha mais depressa, vinha embora naquele caminhão até Sabáudia, pegava o ônibus que estava saindo das outras escolas e vinha embora, tudo certo. Outro dia não dava certo, aí sabia que não tinha carona, aí começamos a pegar carona com um ônibus de outra cidade, que passava por aqui também que vinha mais cedo, conversa com o prefeito, vinha. Uma loucura, os primeiros trabalhos, como é que eu ia fazer trabalho eu aqui, os colegas todos lá da cidade? Tinha que ir lá para fazer junto, eu me lembro que eu fiz um trabalho só em equipe lá, que tinha uma parente lá, prima, que estudava até química junto, combinamos lá, fizemos, nem peguei o resultado daquele trabalho, o que que deu. Fiz algumas provas, não busquei nem o resultado, simplesmente chegou um dia que eu falei: “eu não vou mais.” O pessoal não me obrigou também, meu pai falou: “Então vamos comprar outro trator, e vamos trabalhar então, vamos tocar aqui.” E foi isso que ele fez, comprou o tratorzinho, um tratorzinho pequeno. O serviço que nós fazemos, que era tombar, grelhar, plantar com aquelas pequenas plantadeiras pequenas, nossa quantos anos nós ficamos saindo os dois, saia cedo e voltava a noite, plantar aqui, tinha que plantar bastante por dia, para aproveitar a umidade do solo, voltava tarde da noite. Eu me lembro um dia que a gente foi plantar lá, passando pela cidade de Arapongas, na saída com Maringá, com os dois tratores, isso já atrasado demais, o plantio, porque plantio geralmente é, naquela época era novembro que plantava, mas já final de dezembro, o pessoal pedindo ajuda para acabar de plantar, nós estávamos lá em uma frota, lá em uns cinco, seis pessoas juntas para plantar na área, e nós terminamos de plantar dia 31 de dezembro,isso, dez, onze horas da noite, nós viemos embora, pela pista, com semeadora, e já atrasado demais, eu e meu pai que eu me lembro, os dois, cada um com um trator, esse horário já, virada do ano e nós vindo embora da roça…
P/1 - Que ano?
R - Tarde da noite. Isso, que ano será que foi isso? Noventa e alguma coisa? É, eu tinha já seus 22 anos, por aí, eu acho.
P/1 - Você lembra de algum aprendizado assim, de algum dia marcante que seu pai tenha te falado alguma coisa sobre o trabalho, só vocês dois assim, indo trabalhar, algum ensinamento?
R - Especifico assim, alguma coisa assim, não me recordo nada, mas eu, meu pai quase nunca me ensinou nada assim, de ele falar “faz assim”, era eu vendo e aprendendo atrás. Tanto que hoje eu não ensino as minhas crianças, eu quero que eles saibam sozinhos, mas tem de ensinar, né? Porque… “Eu não sei fazer.” “Mas, não está vendo eu fazer?” Eu aprendi assim, via ele fazer, fazia e o que não dava certo fazia de novo, e pegar e ensinar mesmo, eu acho que muita pouca coisa. Desde dirigir, me lembro a primeira vez que eu andei com o trator, eu tinha sete anos, eu acho. É, quando meu pai comprou o trator, em 77, eu tinha oito anos, então não alcançava os pedais ainda. Foi aqui nas propriedades vizinhas, que até hoje eu arrendo ela, eram meu pai e meu tio que plantavam, e naquela época muito bagunçado as terras, a colheita, alguém veio colher, e ficou na beirada, né? Pés.. Aí ia arrancar com a mão, para plantar os pés que ficaram nas beiras do mato, aí depois tive que _______, com o trator e a carreta, foi jogando os pés encima para trazer, e bater na trilhadeira, para tirar os grãos. Aí como que tinha que ir mudando o trator, os outros eram os maiores que iam fazendo, meu tio: “Vai lá.” Meu tio era uns dez anos mais velho do que eu: “vai lá e traz o trator.” Aí os outros ficaram bravos: “Não, ele consegue.” Consegue, que o trator não tinha muito perigo, se ele afogasse ele parava, tal, eu fui e fui, quando conseguia sair já assim, mas isso ninguém tinha ensinado, é vendo ali, aí a hora de parar não consegui, não tinha forças para pisar na embreagem, e acabava afogando o trator, aí afogava e parava. Foi das primeiras vezes que eu lembro de ter dirigido um trator foi essa, com oito anos de idade, andar sozinho assim, e quando você já faz aquilo ali, da próxima vez já faz um pouquinho melhor, e já confia um pouco mais. Eu desde pequeno, foi sempre em cima de trator já, minha vida já foi em cima de maquinário, meu pai em 90, em 87, eu acho, ele arriscou plantar café, de novo, que a vida dele foi feita no café, era o que confiava, né? Aí ele plantou um bom tanto de café, aqui assim, coisas de uns três, quatro hectares, isso fazendo a muda aqui, eu me lembro de fazer as mudas, não é comprar pronta não, é cortar bambu, fazia uma cobertura de bambu, que hoje existe o sombrite, que é muito mais prático, que é para quebrar um pouco o sol, né? Fazia, enchia os saquinhos de plástico de terra, eu lembro de coar a terra em uma peneira, para tirar os torrões, misturar com esterco, preencher aqueles saquinhos, demorava uma eternidade, né? Com a mão, com a latinha, e milhares de saquinhos, enchia, colocava que nem um canteiro de horta assim, aí fazia aquela cobertura com bambu, para depois conforme a mudinha vai crescendo, vai tirando os bambuzinhos de cima para ir pegando mais sol para aclimatar, feito as mudas aqui, isso eu me lembro, em 87, quantos anos eu tinha? dez…
P/1 - Em 87…
R - É, então, isso foi, eu acho que em 86, 87, aconteceu isso de plantar o café, eu já tinha quase dezoito anos, é, dezesseis anos, por aí. Aí café, eu já estava animado com os tratores, mas o café manual, vai começar de novo, eu não mandava nada aquele tempo, tá, aí me lembro que já, o café com um ano e pouco, cresce até rápido, né? Começa a colheita… E agora? Fazer arruação, o que é arruação? É tirar toda a terra debaixo, deixar limpinho para o café cair, que catava do jão, para não ter terrão, folha, tinha que fazer na enxada, que era o que sempre foi feito, já tinha o trator, eu já começava a mexer com essas coisinhas, eu fiz uma tábua, lá colocando o trator para passar em baixo do pé de café puxando assim, tipo uma moto niveladora, tirando uma tábua leve, tirar a folha e ir raspando já, facilitou um monte, aí… É, e meu pai ajudando, eu que era o doido para não ter que pegar na enxada, né? Aí já a colheita na mão, não tinha outro jeito, por _____, ______ catar aquelas peneiras cheias, meu pai era acostumado, mas eu não tinha força para isso, não tinha nem vontade, eu falava: “não, se for continuar nessa colheita de café eu vou ter que fazer um abanador no trator, alguma coisa com motor elétrico.” Nessa época já tinha colocado energia aqui também, tinha energia, quando nós mudamos não tinha energia elétrica, energia foi posto aqui acho que em 77, até aí era lamparina, mas aí região aqui já não foi mais café, a geada já levou, teve uma colheitinha pouca, já matou o café, e teve que abandonar e voltar a lavoura branca, coisas aí que a gente lembra, que é até gostoso de lembrar, serviço pesado que era da época, hoje a gente trabalha bastante, mas não é tão braçal, então é mais a cabeça e os maquinários ajudam bastante.
P/1 - Nessa época da juventude tinha alguma parte do serviço que você mais gostava de fazer?
R - Que eu me lembro mais é da parte de trator para cá, que já era maiorzinho, né? Era bem pequeno, a minha mãe trabalhou muito, pequena aí de dez anos, doze anos, trabalhava quase mais do que nós trabalhamos hoje, e eu não, porque nessa época foi a época que geou, já acabou o café, o serviço depois já não era para mim mais, serviço de colheita de arroz, que eram as primeiras plantações aqui das propriedades foram arroz, que era cortado na mão também, mas era serviço que criança não fazia, ferramenta perigosa, tal, mas eu lembro de eu não gostar de fazer, o que hoje eu falo para minha mãe, varrer aqui as folhas, tem muitas árvores, cai folha, tem que ficar direto varrendo e catando essas folhas, e a gente era louco para tacar fogo no montinho, porque era o mais fácil, né? Não, porque as folhas são estercos, ela ia varrendo, amontoando e nós tínhamos que ir catando com um balaio, com uma cesta atrás, para levar nos pomares, botar em baixo dos pés de frutas, era para tocar fogo. E hoje é o contrário, hoje nós brigamos porque ela vive tacando fogo em tudo quanto é canto, é até perigoso. “Mas não é para levar para esterco?” “Mas dá trabalho, vamos tacar fogo.” Eu era obrigado a levar embora, não podia tacar fogo, agora vocês fazem o contrário, onde taca fogo fica aquele monte de cinza, enfeiando o quintal, mas mudou tudo hoje, o que eu não gostava de fazer, agora, hoje vocês também não gostam, muda, né? Você vê que é, porque que eles mandavam, porque eles tinham o poder de mandar, e eles tinham força para fazer, a gente não tem muita força, nem vontade. Agora mudou, né? Como eles já não tem muita vontade, muita força mais, eles fazem o que não queriam que fizesse, e nós fazíamos, é engraçado essas coisas, como muda.
P/1 - E juventude. Vocês, então, já estavam plantando milho, trigo? É isso? E aí que serviços vocês faziam? Vocês iam também em outra propriedade prestar serviço?
R - Já, sim, o que nós tínhamos de maquinário, tratores, que na época eram poucos tratores, hoje todo mundo tem dois, três tratores na propriedade, na época era uma propriedade tinha, três, quatro, cinco não tinham, esse tinha que fazer, emprestar para todo mundo, né? Então, a gente, o meu pai puxou mais para esse lado, que era uma maneira de ganhar dinheiro, com uma propriedade muito pequena, como é que ganha dinheiro? Não tem como você aumentar nada, a plantação é aquela, é aquela, e é seis meses cada plantação, então o lucro era aquele e não tem como você expandir, então uma maneira de ganhar mais dinheiro era, como tinha trator já, ir prestar serviço. É o que tinha na época, quando começou, que mexia nas terras ainda, que não tinha o plantio direto, era o arado, para tombar a terra, cavava a colheita tombava toda a terra, virava a terra, cobrir toda a palha, depois a grades para tirar os terrões, e o pulverizador, que passava o herbicida, o cultivador ,como se fosse o arado de burro, só que com o trator, o burro era um, uma ruinha por vez, o trator já era sete, oito, um aparelho tinha sete, oito na mesma chapa, que fala, aquele bico que vai sucando, um em cada rua, do tamanho da semeadeira, né? A semeadeira geralmente tinha seis linhas naquela época, a gente plantava, tinha semeadeira para plantar soja, trigo, tinha plantadeira que era para o milho e o algodão, que era a outra plantadeira, diferente o sistema, a gente tinha duas de cada uma, dois tratores, e é isso aí, fazia o serviço na época, era aquele período de plantio, que hoje é mais curto, antigamente era mais longo e tal ,dois meses plantando, como não tinha maquinário, não fazia segunda safra de milho como faz hoje, era o trigo, o trigo já mais tarde, não tinha pressa, então não era tão apurado, fazia o trator pequeno, mas conseguia fazer bastante área pelo tempo que tinha disponível. Hoje já não faz mais, tem pressa, hoje até as cooperativas reclamam porque na parte de colheita eles não dão conta, por mais que aumenta secadora, aumenta recebimento, não dá conta, as máquinas muito grandes, muita máquina, em um dia chega um mundo de cereais lá para secar, eles não dão conta. Antigamente as maquininhas pequenas, bem devagarinho, davam conta de tudo, hoje mudou tudo, eles reclamam, falam: “Cada máquina de vocês compram aqui, quebram com nós aqui, porque não tem como nós acompanharmos.” Os secadores não dão conta, até eles estipulam um limite de umidade para colher, para não levar tão úmido lá, que demora muito para secar, né? Tem um milho lá que se você colher com 28 de umidade fica lá meio dia no secador, então eles estabeleceram até umas regras aí de, aqui nem tanto, porque esse ano está devagar, mas eu vejo na televisão umas regiões que o pessoal estipulou de 25 graus para baixo, acima não recebe, para deixar secando no sol, né?
P/1 - Qual que é, como é o processo? Não conheço, do milho…
R - Do plantio?
P/1 - É…
R - Hoje você pega a lavoura que está ali, acabou de colher, o milho, hoje é em cima do, praticamente em cima da soja, é a segunda safra que fala, no inverno, mas ele pode ser, até melhor ser plantado na época da soja, mas não é viável pelo preço. Então você planta soja no verão, e o milho é no inverno que ele se você conseguir plantar até fevereiro ele vai bem, se não gear cedo, esse ano não geou, não deu problema, deu seca não deu geada, você passa o pulverizador com veneno, que é o glicosado, o veneno que precisa matar o que mata, matou, não vai mexer em terra, não vai fazer nada, a sequência vai ser o plantio. A plantadeira faz todo o processo de cortar a palha, sulcador, ele vem com a haste e vai rasgando, fazendo um risco, amolecendo a terra e soltando o adubo,e atrás vem o disco, com o distribuidor que vai soltando a semente dentro, e as rodinha cobrindo, então passou, ficou pronto, só esperar nascer, e depois colhe, com tudo pulverizado hoje, com água, no pulverizador você põe para matar o mato no meio do milho matar o, consegue matar um pé de mato e não matar o milho com o veneno, seletivo, dependendo do mato, outros não consegue, e as pragas você vai eliminando, hoje muitas variedades resistentes a… O que era um problema era a lagarta, que entrava no ponteiro, comia, não tinha como matar, porque ficava lá dentro, hoje o milho já é tolerante a lagarta, não sei o que que mudaram no gene lá que a lagarta não gosta desse milho, ela não tem mais problema, na maioria. Tem outras pragas, um percevejo, você tem que estar em cima, tem uns agrônomos, tem agrônomos que dão ajuda, mas a gente já entende um pouco, se vira bem sozinho também, conforme a necessidade vamos passando o que precisa, isso são muitas pulverizações, geralmente umas cinco por plantações.
P/1 - Quanto tempo leva para crescer?
R - A média é uns quatro ou cinco meses, de plantio a colheita é. Soja é uns 120 dias de nascido para colher, milho um pouco mais, esse milho que nós estamos colhendo agora foi plantado no final de fevereiro, estamos colhendo agora, e adiantou a colheita ainda, porque a seca foi muito severa, e acabou matando _____, a produção caiu. Cada ano é de um jeito, não tem essa de você ter aquela regra e fazer sempre do mesmo jeito, eu vou plantar, eu plantei para colher trezentos sacos por alqueires, o investimento foi para isso, o primeiro eu joguei os 170, a seca judiou, não chove, não chove, uma chuvinha pouca, poderia não colher nada, se vem uma geada, quando ele está lá de milho verde, não sobra nada, perca total, mas não apareceu nehuma geada, não teve geada, tava prevendo frio muito forte, não sei se vai vir ainda, até agora não veio nada, eu acho que não vem, estão errando bastante a previsão, não sei porque, mas é um risco, a questão nossa é essa, não dá para você ter uma certeza do que vai acontecer, você joga um monte de dinheiro ali no plantio, e de repente não vem nada, se não tiver estruturado, para naquele ano, não consegue mais plantar, tem que ir atrás de financiamento, e financiamento com juros caros demora para você, o lucro vai ser bem menor. Nós estamos com um problema sério aqui já, nós aqui não, tivemos sorte, mas a região vizinha, coisa de dez, quinze quilômetros, não colheu soja, praticamente quase nada, pouquíssimo, não paga o custo, milho do mesmo jeito, vai no outro ano de novo, o pessoal está com dificuldade para continuar, não tem de onde tirar mais dinheiro para plantar, porque na hora de plantar gasta um monte, e morre, aí você tem uma reserva, planta de novo, não colheu de novo, acabou a reserva. É complicado, tem que estar, eu sou meio com um pé atrás, não faço loucura para estar tentando manter, não consegue crescer muito, mas também não tenho tanto risco de quebrar. Porque, se fizer loucura e der ruim, que hoje a nossa área mesmo é pequena, metade é arrendada, né? Pessoal que tem a propriedade e não planta a gente pega, mas o pagamento desse aluguel é caro, no ano normal é metade da produção, e no ano ruim? A parte deles tem que sair, a nossa vai faltar, então, a gente até poderia, tem maquinário para plantar três vezes o que nós plantamos tranquilo, mas não dá. Você vai arrendar uma terra com custo alto, vai ser prejuízo, vou trabalhar mais para não ter lucro, vou ficar quieto, vou mais devagar, alguma coisa que compensa a gente pega, o que não compensa, deixa passar. Para comer a gente faz, para comer a gente planta, queria fazer um futuro melhor para os filhos, né? Para comprar terra pelo menos, para cada um ter o seu… Mas, é difícil, hoje o preço de um alqueire de terra é anos para se pagar, se comprar aí, com a produção que está, vai anos. Minha primeira área que eu comprei, praticamente esses três alqueires que eu te falei que eu arrendei do meu professor lá, o meu pai deu ela plantada para mim para começar, plantou para mim, agora o que colheu é meu e eu planto de novo, o lucro desses três alqueires, eu praticamente comprei um alqueire, para você ver que o valor da terra era baixo, e o lucro era maior, o gasto também era bem menor. Naquela época a gente guardava a semente de soja, guardava. A gente colhia e guardava, plantava a mesma. Hoje você vai comprar uma semente, porque é transgênica, que não consegue fazer, é guardado em câmara fria, que tem que investir para fazer, acaba comprando, mas é caro demais, o custo do plantio fica caro. Adubação daquela época, como as terras eram mais novas, era derrubado o mato, usava-se um pouquinho de adubo, mas era menos, hoje tem que colocar mais, tem que investir em esterco, em calcário, a gente entende mais, faz análise de solo, vê o que precisa, né? Aí se não investir não produz, a produção, eu me lembro as primeiras sojas que meu pai plantou aqui eram setenta sacos, aqui a gente usa alqueires, o Brasil todo é hectare, mas no Paraná é alqueires, é difícil mudar essa relação que a gente tem, essa… A gente olha uma área, a gente fala quantos alqueires da ali, e hectares para fazer conta, não acostumou não muda, então alqueire, era setenta sacos por alqueires, quem colhia cem, nossa, “________ o que você fez, o que aconteceu?” Hoje 140 sacos é o mínimo para você pagar custo, hoje fala-se em mais de duzentos sacos por alqueires, produção de soja, quem investe mais, onde que corre bem, esse ano com toda seca que teve, eu fiz uma média, na minha área de 180 sacos, excelente, teve gente que colheu trinta sacos, porque, é porque, sabe um terreno mais arenoso, que sofre mais com a falta de chuva, nós temos mais, terra mais vermelha que fala, que aqui é região dos pés vermelhos, né? Você andou descalço ali o pé não limpa mais, é vermelho mesmo, diferente, mas vai da sorte, cada ano é um ano. Eu investi também no milho esse ano, e vamos ver, tem para colher ainda, o primeiro deu fraco, o segundo melhorou um pouco, vamos ver os outros, mas vai ser baixo já. E tudo que você colher a menos, vai sair do seu bolso do lucro, né? Porque o gasto é o mesmo, se você colher pouco ou colher bastante, então, por isso que tem que colher, o que faz o lucro é a produção.
P/1 - E como você começou a se envolver com a cooperativa?
R - A cooperativa quando entrou aqui, foi uma necessidade, na época do meu pai, né? Quando fez a primeira cooperativa aqui em Sabáudia, meu pai já foi um dos primeiros associados, por que você vai vender pra quem soja? Café tinha as máquinas de café que compravam, aí soja quem que ia comprar? Aí a cooperativa foi, a cooperativa foi feita até para o café, em 63 que a maioria das cooperativas foram fundadas aqui na região, do Paraná todo eu acho, em 75 já geou, acabou o café, e aí eles adaptaram tudo para soja, milho. Meu pai foi um dos associados logo no início, que a cooperativa que meu pai é associado é na região de Rolândia aqui, Londrina, que hoje ela faliu até e agora a de Maringá que assumiu, que é a Cocamar, que era a Coral aqui. Meu pai, aquela cooperativa na época já tinha, eu acho que cinco municípios que atuava, cinco ou seis. Meu pai era o cooperado 965, então foi bem no início, um dos primeiros aqui, que ela, a matriz dela é Rolândia, então aqui em Sabáudia demorou mais para vir, quando veio já tinha bastante associado daquela parte, foi um dos primeiros aqui. E eu, quando eu comecei já a mexer com a lavoura, que eu abandonei o estudo e fui mexer com plantação também, eu já me associei, porque era o que tinha para a gente comprar, comprar o sumo adubo, e vender, é facilidade, é garantia, por aqui que é um negócio que a gente que é os donos da cooperativa, somos associados, então, nós somos os donos, não tem um dono, é nós que somos, é um negócio mais seguro, né? Se acontecer igual a primeira que eu entrei aqui quebrou, foi falha da diretoria, alguma coisa assim, mas aí a outra assumiu, para nós não teve prejuízo. Por sorte, quando ela faliu, nós estávamos com toda a nossa produção lá dentro, se a outra não entra nós iríamos perder toda a produção, a outra assumiu com troca do arrendamento, e nos pagou, e eu estou até hoje. Eu sempre fui, meu pai participava dos conselhos da cooperativa aí, comunitários, mas lá dá… Mas, lá dentro não, os de bairro aqui sempre participou, aí eu fui entrando no lugar dele também. Da Cocamar eu comecei a participar, dos jogos, das coisas que tinha aí, eu sempre estava ativo ali, aí me chamaram para ser do conselho consultivos, que é o conselheiro da nossa unidade, do município, isso já, a Cocamar está, já era da Coral desse tipo, da Cocamar eu já entrei logo do início, ela está aqui desde 2010, que ela assumiu, eu sempre fui conselheiro consultivo, em 2019 me chamaram para ser do conselho fiscal, eu até falava: “eu não vou ser isso”, eu não me dou muito com esse tipo de coisa, de estar em reunião assim, eu fico ouvindo, eu não sou de tomar a frente, mas conselho fiscal tal, vieram aqui o gerente tal, me ligaram, a vamos arriscar, é um ano só, vamos ver no que dá. Fui, é um ano só, conselho fiscal, uma experiência, nossa, boa mesmo. Tem que perder tempo, tem reuniões direto, visitar as unidades, Cocamar é muito grande hoje, eu visitei, eu acho que pelo menos a metade das unidades dela, de setenta unidades que tem, uma metade eu fui, que a gente viajava, saia os seis do conselho fiscal, das regiões mais longes, pousava fora, ficava. Uma coisa diferente, que eu nem imaginava fazer e fiz, passou, não sei se foi aproveitada a minha época lá, mas participei junto lá, viagem mesmo, fomos para Brasília, um grupo do conselho, conselho de administração, fomos visitar lá a Esplanada, coisa que eu sozinho, talvez _______, mas nem pensava em ir, foi, porque na época era para nós irmos para os Estados Unidos, o foco, todo ano, junta um grupo para ir para os Estados Unidos conhecer lá as fazendas lá, o modelo deles lá, mas nessa época que eu fui, foi a época que estava em crise aqui, economizando, aí mudou, fomos para Brasília, Curitiba, conhecer o _______, uma experiência totalmente diferente, que a cooperativa proporcionou para gente, a gente se doou em tempo, em horas, de dias, disponível ali para fazer as visitas, reuniões. E até hoje, agora eu estou no conselho consultivo ainda, semana passada, semana retrasada, eu fui em uma reunião lá em Maringá, perde o dia, isso é de fase, uma época a gente consegue ir, tudo bem, está folgado vamos lá, é gostoso, conhecer amigos, metade do Paraná está lá, o pessoal de outras regiões, trocando informação, bom para a cooperativa, precisa, demanda disso, e para a gente como associado, como produtor, ganha experiência, cursos, fica sabendo das notícias primeiro, tudo que vai acontecendo lá a gente está sabendo primeiro, acontece lá alguma coisa lá que tem para pouca gente, a gente é os primeiros a serem notificados, se quer fazer um contrato, um pouquinho aqui, tal. Bom, tem horas que a gente cansa de estar sempre indo lá, mas passa vai, não é todo dia, é gostoso, sei lá até quando vai isso, eu já falei para eles: “Da próxima vez me deixa fora disso para descansar um pouco.” “Não, não tem outro, vai você de novo”, estamos aí, mas eu já estou aí, eu acho que quase trinta anos aí envolvido no cooperativismo aí, meio por fora, mas envolvido.
P/1 - E quais são os aprendizados, os ensinamentos assim, que você tem? Mudou muito a produção, o jeito de produzir, os conhecimentos que você tem?:
R - Alguma coisa, na parte de conselheiro nem tanto. Sempre tem umas palestras diferentes lá, mas a gente acaba participando de cursos que fazem aqui mesmo, aqui nas unidades, no bairro aqui, sempre tem, e dias de campo, a gente acaba participando mais, coisa que não ia, eventos, plantações que a gente vê, plantar desse jeito tal, só tem a ganhar, né? Se a gente ficar só aqui não vê o que está acontecendo aí, quando mais você sair, a experiência, isso deve dar certo. Essa semana tivemos o evento da Expotécnica aqui, já conhecida nacionalmente aqui, muita gente aí foi dessa exposição, desse evento, que nasceu o plantio direto aqui para nós, com os primeiros encontros que teve aqui foi com adaptações de máquina, as máquinas que a gente ia fazendo a terra mexida, adaptar ela para mexer na terra com palha. Eu mesmo, na época, já mexia com solda ainda, adaptei máquinas aí, colocar aço em uma máquina, colocar um disco para cortar, uma roda para cobrir melhor, foram feitas muitas coisas nesse sentido, depois veio as máquinas, e a gente foi conseguindo comprar as máquinas prontas, as primeiras com bastante deficiência de funcionamento, as novas já mudaram, e cada vez melhor. Hoje tem máquina aqui de um milhão de reais só uma plantadeira, mas tem sistema, tem tanta coisa envolvida em uma máquina, que não é mais só uma máquina que risca, solta semente e planta, ela joga um adubo ali químico, e ainda joga um líquido que você consegue colocar nesse líquido um tratamento de semente, pro bicho… Um adubo, um inoculante, que é uma bactéria que vai na semente e joga, e joga em cima semente, dentro do suco, fica na terra, bactérias vivas, está tudo acoplado em cima da plantadeira ali, que vocês viram lá, coisas que eu até fiz aqui mesmo, para não comprar, feito aqui mesmo, funciona. E liga o monitor de semente para saber se está caindo a semente mesmo, ou parou lá, que é um lugar difícil de você saber, pode entupir, hoje tem o monitor lá,o monitor dentro da cabine trator, e o sensor lá que sabe quantas sementes por metro estão caindo, aí eles já fazem o cálculo de quantas sementes por hectares. No caso do milho, que é o mais preciso, que têm a quantidade certa por alqueires, por hectares. Eu não entendo essa parte, meus filhos já estão querendo colocar, mas, porque aí não precisa ninguém estar lá em cima da plantadeira, andando junto para ver se entope ______, lá se entupir, tem um mundo de coisa. Hoje não, há uns dez anos surgiu, não sei se vocês repararam, que a minha roça está verde aqui, a roça do meu pai, esse verde aí não é mato, esse verde foi plantado, junto comigo, plantei o milho, e junto ao milho colocou uma caixa, uma outra semeadeira acoplada que vai jogando a semente da braquiária, que é o mesmo capim que a vaca come, que ela vai nascer junto com o milho, só que o milho tampa ela, ela fica meio ali por baixo, devagar, não vai atrapalhar. Agora que eu colhi o milho, ela tá, esse ano pegou bastante, porque a seca, o milho não cresceu, então ela conseguiu subir, está maior, geralmente ela fica menor. Agora está ali aquela palhada, que eu já passei um implemento, que é fabricado aqui, para cortar ela, tipo como se fosse uma roçadeira, só um rolo faca que fala, um rolo que vai rolando com umas facas que cortam, para ela brotar de novo, essa branqueada desce a raiz a cinco metros de profundidade.
P/1 - Mas ajuda no solo isso?
R - Ajuda no solo, a cobertura, agora eu vou por soja, agora eu vou dissecar ela em setembro, vou passar o veneno e matar ela, então todo aquele pasto que vai estar ali, vai secar, vai ficar como uma cama, essa cama quanto maior em cima, dificulta um pouquinho o plantio, mas imagina estar um sol que estava quase cinquenta graus em uma terra vermelha, e você vai embaixo a terra está fresquinha, com a braquiária, isso ajuda muito na produção, economiza até na adubação, essa decomposição dessa palha vai virar esterco, é o futuro, já faz alguns anos que a gente está fazendo isso, na maioria das áreas eu faço isso, e é a tecnologia nova que vem surgindo. Antigamente não podia ter um pé de mato, que carpia, que ia atrapalhar, hoje você planta outra cultura no meio, só para você cobrir tudo. Pode sugar um pouquinho do milho? Alguma coisa assim no primeiro ano, mas depois, só o que produziu a mais. Eu falo que a minha produção de soja foi, um ano ruim foi a melhor produção minha, que eu tive, por essa cobertura que segurou umidade no solo, o solo não pega, não esquenta, não evapora, manteve água para o solo conseguir até o final, mesmo com falta de chuva. É a evolução, né? Os pesquisadores fazem isso pela gente, a gente tenta e aprimora, cada região de um jeito. Hoje surgiu também a integração lavoura pecuária, não sei se você já ouviu falar, vou citar, mas aqui para nós não tem importância, é mais nas partes de arenito, né? Aqueles areiões que vai, o solo seca, é uma praia praticamente, só areia, aí está se fazendo o seguinte, planta eucalipto, uma carreira de eucalipto, faz a largura mais ou menos que o pulverizador, que é o maior,cabe, né? Vinte metros, trinta metros, sei lá, planta outra carreira, planta-se soja no meio, tirou soja, planta-se a braquiária,vira pasto, aí então no inverno, lá não vai plantar milho, ou planta o milho com a braquiária, aí tira e solta o gado, tem os eucaliptos que você vai vender a madeira, dai seis anos, está em uma distância, esses eucaliptos de hoje não atrapalham tanto a sugar, os eucaliptos _______ que eles falam é uma espécie nova que foi fabricada, que é um eucalipto mais leve, e ele não dá tanto prejuízo assim na sombra, na raiz, que os eucaliptos antigos, tinha uma árvore aqui, em metros em volta não produz nada, esse aí produz até no troco dele… Aí você tira a soja, e a braquiária depois, tirar a braquiária já planta, aí vai soltar o gado, aí vai ficar com boi de fevereiro até novembro, com o boi, você já está com a área cercada, tem a sombra, o gado, tem o pasto, aí não está com o boi em um pasto muito quente, um pasto menor, aí vai jogar um líquido, ficar aquele pasto bonito, a terra que você adubou soja, que o pasto saí rápido, a terra foi mexida ali pouco, e depois dessa época da bráquiaria planta soja de novo, integração da agropecuaria que se deu muito bem. A Cocamar parece que por aqui foi uma das pioneiras, já está o Brasil todo sabendo disso, e vindo ver, funcionou, eu não conheci de perto ainda eu vejo na televisão. Na nossa região não é tão viável, porque não tem tanto gado, pessoal não mexe muito com gado, não tem nem área para deixar o gado com o plantio de soja, porque não tem aquela quebrada de quem planta _____, e a terra roxa aguenta, dá para fazer a segunda safra tranquilo, mas nesses arenitos com espaço para erosão que não dá nem para ter o gado mais, que não vai, a terra é ruim, foi a solução, você ajeita o solo, esterca, calcária, planta a soja, a soja vai, se adubando, ele vai em terra fraca em terra, e pasta o boi. Coisa que surgiu a pouco tempo, e recuperar terras que não estavam produzindo mais, e ficam normal a produção, quase igual a nossa aqui, em terras que eram um deserto praticamente, as novidades que vão surgindo, a gente vai nas reuniões, vai aprendendo e vamos adaptando para a gente.
P/1 - E quais são os aprendizados de se trabalhar com e na terra?
R - Ah, é um… uma coisa até estranha, você joga a semente ali, e ela faz por você, você cuida, mas você não tem como fazer um pé de nada crescer, você, você, é tudo coisa da terra, as plantas. Então, a gente só cuida, né? A gente faz nossa parte, você sabe que quanto mais bem feito, mais será a produção, e chega até a colheita, aí na colheita você vai saber o que você fez de errado e fez certo, no que a natureza te ajudou ou não, e a parte que a gente não consegue fazer nada é a parte da natureza, se não chove tem até as irrigações, mas na nossa região não tem água, né? Não tem rios grandes para fazer inundar. É gostoso, para quem nasceu aqui, não sei se porque não conhece outras áreas, é o que sabe fazer e gosta, eu gosto do que eu faço, não me arrependo de não ter estudado, não ter me transformado em um doutor, alguma coisa, deu certo, eu não reclamo, é um serviço sujo, é, mas é, a gente está aqui, não tem que estar bonito para ninguém, é isso aí. Às vezes eu estou trabalhando no domingo, como foi o domingo passado, nós saímos daqui, eu e meu filho duas horas da tarde, estava marcando chuva, o milho está quase bom para colher, se deixar para manhã vai chover, se chover não tem problema, mas o vento derruba, se vier vento. “Vamos colher”, saiu eu, ela e o namorado dela, fomos em um horário ali, vamos experimentar como é que está, parece que não estava bom, fomos colher, estávamos tirando amostras de 25 graus, não ia colher, levei pro meu caminhão 20 graus, aí o tempo já mudou, vai amanhecer chovendo, três para quatro horas da tarde já, domingo, aí eu liguei para o meu filho que estava em uma cavalgada, chegando. “Está chegando, vem para cá que nós vamos detonar isso aqui, ficamos até nove e meia da noite lá, acabamos com ______ tinha para colher, tinha mais para colher, mas aí "se não chover amanhã cedo nós vamos lá para tirar o que der “, mas aí não deu tempo, já amanheceu chovendo, não deu vento, não tem problema, estava lá. O problema é cair, né? Porque o vento, nessa época, com o milho seco, se der um vento um pouco mais forte ele deita, aí a máquina não cata, aí tem que ir lá de mão, sufoco danado, já aconteceu muitas vezes.
P/1 - É?
R - O pé está doente, deu uns ataques de umas cigarrinhas, que é um inseto que detona com o pé de milho que ele fica fraco e cai, esse ano parece que não tem muito disso, já, as variedades já resistentes, passamos venenos, então parece que não caiu nada, nem fui ver, mas aqui do que eu vi não caiu, tudo bem, deu sol, agora marcando vários dias de sol, tranquilo, vamos colher o milho seco agora. Mas é assim, no domingo está colhendo, na segunda feira estamos aqui, não sabe o que faz, poderia ter deixado para hoje? Poderia, mas e se o tempo muda? Aí dorme tranquilo, descansa melhor, e na segunda feira está passeando, domingo todo mundo passeando, e nós trabalhando. É desse jeito, e é a época do ano também, os dias de plantar e colher é sufoco, o resto não tem aquela urgência, mas o plantio tem hora certa por causa da umidade do solo e da época, se não plantar hoje e chover de novo, vai ficar mais três dias para secar, se não chover vai atrasar uma semana, se atrasar o plantio da soja, vai atrasar a colheita, vai atrasar o plantio do milho que tem hora certa para plantar, se eu plantar março já quase não é viável mais plantar milho para nós aqui, então… porque vai pegar o frio e ele não está formado ainda, então quanto mais cedo, o milho seria para plantar junto com a soja, antigamente era isso, ou plantava só um ou plantava metade soja e metade milho. Acabava a colheita ia plantar, ou trigo, aveia não plantava, era ou trigo ou alguma coisinha de trigo, o resto não plantava nada, muitos nem plantavam nada, ficava a terra ali. Quando se iniciou o plantio do milho no inverno, aí teve que apressar o plantio de soja, tanto que a soja se plantava sempre, nós plantamos sempre depois de finados, dia de finados não vai plantar, se estiver o tempo bom, depois de finados começa a plantar, em novembro. Hoje não tem mais roça para plantar em novembro, hoje começa quinze de setembro alguns já por aí, mas 25 de setembro se tiver choveu, vai plantar, até quinze de outubro estar terminado. Muitas máquinas, máquinas maiores, aí planta rapidinho, você escolhe que momento que é, agora é hora certa, vai dia e noite para plantar na hora certa, e não planta tudo naquela chuva, para não arriscar botar todos ovos no mesmo cesto, faz aí em, nós que somos pequenos, plantamos em duas chuvas, dá para plantar, planta metade e metade, então pega aí, virada do mês, começo de outubro plantou soja, até dia quinze se chover, outra chuva plantou tudo, aí antecipa, é? Nós colhemos esse ano soja em meados, começo de fevereiro, né? Isso aí é a pressa do milho, então a hora que tem mais apuro é essa época, está a colheitadeira colhendo, estão os dois caminhões levando, está o trator plantando, outro trator com adubo, a semente em cima, e aí gente para tudo isso ao mesmo tempo? Aí que entrou a molecada tudo aí, geralmente eu que colho, aí era o meu pai que puxava, um para dois caminhões da certo, um vai o outro fica, né? Aí ele parou, bagunçou tudo, porque, aí quem que vai? Eles não tinham carteiras, só eu que tinha carteira de caminhão, ia deixar eles menores aí, não podia deixar, uns dois anos eu arrumei motorista, mais uma dificuldade tremenda para ajudar a gente para trabalhar, a gente não é acostumado com funcionário, não se adapta, não faz do jeito que você quer, ficou uns dois anos aí depois… A gente reduziu prestação de serviço para fora, hoje eu estou fazendo bem pouco, antigamente era o principal era prestação de serviço, hoje já não é mais, aumentei um pouquinho as áreas nossas arrendadas, e estamos aí. Agora eles, os dois mais velhos estão plantando, esses anos aí, a gente dava um embalo lá, estavam os dois plantando, o menor vem cuidando, agora na escola, ajudando, levando o caminhão para a roça, eu colhendo, a hora que precisa levar, ele vem colher, se está perto eu vou levar, agora a partir dessa safra que ele fez carteira, ele está indo com o caminhão lá, eu na colheitadeira, agora não está plantando, então está mais tranquilo. A menina está fazendo outro servicinho que precisa no trator, ela que faz. Devagar e vamos fazendo.
P/1 - E tem alguma história, passagem, algum dia marcante assim, que você se lembre em relação ao trabalho? Ao longo da vida…
R - A gente meio que assim, não faz muita extravagância, então não acontece nada assim muito diferente, que poderia lembrar, uma coisa… Eu me lembro, uma vez, nós estávamos, no tempo eu e meu pai, na primeira colheitadeira, trabalhando longe, uns dez quilômetros lá embaixo, aí a gente colhia para um, o vizinho já queriam, então a máquina já ficava lá, e era correria, porque a máquina pequena, tinha que trabalhar horas para fazer o serviço, a máquina não tinha como fazer o rendimento alto, eu trabalhava até tarde da noite. “Vamos acabar esse sítio aqui”, aí tá, acabamos aquele sítio, tarde, já meio ruim do orvalho, o caminhão encalhou no meio da roça, na época não tinha celular, longe, ninguém nem sabia o que estava acontecendo aqui em casa, e eu com a colheitadeira, que ia embora de colhedeira, o caminhão cheio, atolado no meio da roça, que carregou no meio da roça, não tinha caminho tal, foi sair, não saiu, isso dez, onze horas da noite. “E agora?” O caminhão não tinha o que fazer, não ia acordar ninguém lá para puxar caminhão aquelas horas, o caminhão fica aí, saltamos a máquina, eu e meu pai viemos até aonde era para nós virmos no outro dia, até em uma vila ali, chegamos lá na casa do senhor, todo mundo dormindo, eles moravam na comunidade na beira… Dormindo, até bati palma: “Está dormido. Fazer o quê? Deixa aí.” Deixei a máquina lá em um canto. “Vamos embora a pé, né?” Isso sete quilômetros daqui, fazer o quê? Nós chamamos, não sei nem se estava em casa ou não estava, para trazer a gente, pedir apoio pra ele, batemos palma lá um pouco não acordaram, não sei se não tinha… Vamos embora a pé, sem janta, eu lembro que era umas onze horas, porque no caminho encontramos um ônibus que vinha da escola de volta dos alunos, deveria ser dez e meia, onze horas, viemos de lá aqui aquela hora, carona não existia, isso foi em 97 por aí, eu acho, batemos a pé, de lá aqui, chegamos em casa onze e meia, sei lá, depois de um dia inteiro trabalhando, naquela época comendo poeira, que era máquina sem _______, e bora a pé de lá aqui. E no outro dia voltamos lá, o homem lá: “ por que não pegou o carro? Eu estava até com a chave lá” “Eu vou pegar o carro? Vocês estavam em casa?“ Eu bati na janela, mas eu acho que eu bati de um lado da casa e eles estavam do outro, fomos embora a pé, meu Deus, vim embora a pé toda essa distância, mas acho que foi uma das únicas vezes também, depois já apareceu celular, já conseguia comunicar, já tinha caminhonete para a mulher ir atrás buscar e para trazer, tal, mas naquele começo lá foi difícil, essa parte, aquele tempo era trabalhado, que nós tínhamos muitos serviços para uma máquina pequena, então tinha que trabalhar muitas horas por dia para dar conta do serviço. O pessoal até admirava, o pessoal que tinha máquina mais nova, “nossa, você colhe mais que eu, e eu com essa máquina nova que não vai, está quebrando.” Os caras não sabem arrumar, eu não, a máquina quebrava? Quebrava, mas sempre tinha aquele jeitinho para acabar o dia ali, uma gambiarra ali, para acabar o dia sem parar, para depois, de manhã, quando corre para consertar, sofrido. Nossa, quando comprou uma máquina nova, conseguiu, meu Deus, pelo menos uns cinco anos de alívio, não precisar consertar nada. Depois. agora já está ficando velha, começa a dar as suas quebradinhas também, mas sair de uma máquina que não trabalhava, furar pneu, coisas absurdas, furar pneu, ter que remendar pneu no meio da roça, e não é que ligava e o borracheiro vinha arrumar ele, não, desmontava e já levava os preparos juntos da máquina, as ferramentas de desmontar, macaco, os reparos todos, remendo, desmontava o pneu no meio da roça, lá onde furava, da colheitadeira, consertava, montava e ia trabalhar, perdia uma hora e meia de serviço. Nossa, serviço bem pior do que estava fazendo, porque serviço de borracheiro não é fácil em um pneu grande desse. Fazia, tinha que fazer, hoje ninguém mais faz, eu ainda faço, nós aqui temos, eu falo, serviço de borracharia nosso aqui, eu faço aqui em casa, e os vizinhos também já sabem, quando eu estou em casa vem aqui também para não ir na cidade, domingo mesmo, foi domingo? É, antes de eu ir trabalhar, o pessoal de motocross aí vem fazer trilha, furou o pneu lá em cima, “eu lembrei que uma vez eu já vim aqui há muitos anos, arrisquei descer.” Depois do almoço fui lá, remendar o pneu do rapaz, não é para ganhar, é só para ajudar, né? Aí desmancha, arruma, não sei se eu gosto muito, serviço de borracheiro é muito bruto, pesado, ainda mais em um pneu grande, mas fazia. Quantas vezes que eu arrumei o pneu do trator, que a colheitadeira não vai água dentro do pneuzão, mas o trator vai, por causa de peso, para não patinar, todo trator tem água no pneu, imagina aquele pneuzão cheio de água, você tem que tirar a água dele, deixar sair, demora, não sai tudo, desmontar, eu já fiz isso sozinho, na época que eu estava trabalhando, o pneu furou, só que pneu com água, quando ele fura, furinho pequeno ele não vaza, não murcha, se começa a jogar água, você vê que vazou, dá tempo de você correr em casa. Então, vinha lá dez quilômetros, aquele pau para poder chegar antes de murchar, jogando água, e chega aqui não tem ninguém para ajudar, sozinho, eu já desmontei um pneu, eu gastei, eu lembro que o primeiro pneu que eu desmontei sozinho do trator, um trator pequeno naquela época, hoje os pneus são muito maiores, eu gastei quatro horas, sozinho, porque você tem um pneu desse tamanho, que pesa duzentos quilos, aí você desmonta ele de um lado e você tem que virar, e para virar sozinho? Eu patinava ali, virava, arrumar e voltar no serviço ainda, colocar água nele depois que você remenda, montou tudo, tem que pôr água com a mangueira, demora um monte, por isso que é demorado também, até a água entrar dentro, coisa de trezentos litros de água ou mais. Eu fazia, coisa que eu fazia, mas hoje já, ainda faço, mas bem mais devagar, porque é bruto o serviço, tanto que eu fui abandonando, eu fazia esse serviço no começo era mais para ganhar dinheirinho mesmo, quando meu pai deixou a oficina para mim aí, que ele fazia,comecei a mexer. Se quisesse eu fazia serviço pros vizinhos aí, o pessoal está perto, já sabia que eu fazia e vinha, mas serviço pesado, eu fui abandonando agora, não preciso mais disso, quando eu faço é para ajudar, a pessoa chega com uma moto com o pneu furado, vou falar para ele empurrar essa moto dez quilômetros, chamar um guincho, vamos arrumar, mesmo de domingo, arrumo, mas, até cobro para não ter despesa, mas é para ajudar mesmo.
P/1 - Que outros serviços que a gente está falando? Você é agricultor, né? Poderia ter vários outros nomes, né?
R - É, aqui é praticamente faz tudo um pouquinho, não é profissional em nada, mas a parte de mecânica abrupta a gente faz tudo, solda, pneu, remendo, borracheiro, engenheiro, tem que inventar máquina, as maquineta tem que inventar, adaptar uma máquina na outra, já tem, essa máquina que eu te falei que é de plantar a braquiária no milho, uma semeadeirinha, umas caixinhas, que jogam a semente miúda junto com o milho, e eu quis plantar só a braquiária, sem o milho, eu falei: “Eu não vou passar com a plantadeira”, que é uma máquina grande, só para jogar aquela sementinha, então eu peguei aquelas caixas, e adaptei em cima da grade, porque a grade é só os discos, né? Um negócio mais simples, são uns dias de serviço aí, eu adaptei, até esses dias eu mandei foto para um pessoal ali que quer fazer isso, conversando ali, “como é que eu vou plantar essa braquiária?” “Olha aqui.” Passei a foto para eles, “está aqui ó, eu ponho assim.” Esse tipo de coisa a gente sempre está fazendo, faz, desmancha, muda.
P/1 - Você gosta disso?
R - Gosto, essa parte é que eu gosto, pegar uma coisa velha e ver o que dá para virar aquilo, então é, não pegar do zero assim, já não sou muito, mas pegar alguma coisa que está começada e transformar em outra coisa útil. Todos os implementos do trator que vai ficando ultrapassado, vai ficar abandonado, eu vejo muitos vídeos assim, que eu assisto muito no youtube, fazendas américas que eles não vendem os velhos, não sei porque, não tem valor lá, então vai ficando aqueles barracões lotados de coisas que já não usam mais, não compram novas, a velha fica lá, eu não tenho nada disso aqui, eu tenho um ferro velho que é para tirar peça e ferro só, mais implemento velho que não usa mais eu não tenho, ele vai virar outra coisa, ele vai ser montado, não vai ficar ali amontoado. Tanto que quando vocês falaram que era a reportagem do museu, eu falei: “Nossa, eu não tenho nada nessa parte de museu”, as coisas todas eu destruo tudo, elimino até, me arrependo de muitas maquininhas assim, o debridador de milho manual, que eu desmanchei na adolescência aí, desmontei não sei porque, eu poderia ter guardado em algum lugar para hoje ter, que hoje valeria até alguma coisa. Mas, eu sou assim, eu não gosto de coisas atrapalhando, eu destruo, elimino, vendo no ferro velho, vai amontoando o que não presta, já logo levo embora, para não ficar aqui aquela coisa inútil. E, gente, a parte de eletricista, toda instalação elétrica daqui da propriedade foi feita, eu, meu pai que fazia, eu que faço hoje, daquele jeito simples, mas faz. A parte de pedreiro, todas as construções aqui, começou pela casa do meu pai, eu vi que ele fez, depois eu já, ele fez eu tinha doze anos na época, onze anos, não ajudei quase nada, foi ele e minha mãe que fizeram a casa, mas daí para cá que eu comecei a fazer, as construções aqui foram eu e ele, a minha casa foi eu e ele que fizemos, não pagamos nada praticamente. Nunca tinha assentado um piso, assentou, ficou bom o primeiro, o segundo melhorou um pouquinho, não fica aquelas coisas, mas é… Começou pela questão de não gastar, não ter recurso para pagar, que é muito mais gostoso você pagar e ficar olhando, mas é caro, e você vai aprendendo. Na época que nós prestávamos serviços ainda, eu e meu pai, para fora com o trator, nós trabalhávamos de pedreiro na entressafra, não tinha serviço mais, era de pedreiro. Não fazendo casa, mas fazendo assim, granja, chiqueiro, reforma de banheiro pros vizinhos, pé caixa de água, isso tudo. Quando eu comecei já a fazer alguma coisa eu lembro, fazer um pé para caixa de água, você faz o concreto, né? Antigamente era tudo de madeira, e foi caindo, o pessoal viu o nosso e “vamos fazer”, eu fazia toda a caixaria em casa de madeira, assim, de madeira, o quadrado, a ferragem, a mesa em cima, e montava lá pros vizinhos todos aqui. Nossa, eu vou agora para os sítios vizinhos, você vê lá “esse aqui fui eu que fiz, tudo ali.” Nossa, isso foram dúzias que eu fiz,até a cidade eu ia fazer, ia fazer essas coisas, até comprar a colheitadeira, aí quando comprou a colheitadeira, a colheitadeira foi um divisor de águas na nossa vida, aí mudou tudo, a colheitadeira tira um tempo, tanto de manutenção, como a prestação de serviço que, quando os outros faziam para nós, no dia que ia colher o nosso, ficava olhando, acabou, acabou, a colheita era aquilo só, hoje não, a colheita toda está envolvida, porque está colhendo aqui, está colhendo lá, colhendo do vizinho, até não acabar a colheita você está envolvido, você não consegue fazer mais nada, e também não foi precisando mais, paramos com essa parte de construção para fora, mas foram muitos anos fazendo, muitas construções aqui envolta foram feitas, nós que fizemos. Uma coisa interessante que nós fizemos algumas vezes também foi reformas de túmulos no cemitério, os vizinhos queriam reformar, né? Colocar piso, eu me lembre, aqui em Sabáudia foram feito dois, em Araponga foram vários, até era um negócio estranho no começo, foi no primeiro dia, depois não ligava mais, ir lá e fazer o túmulo, aqui não se faz muito de mármore, de granito, aquela época era assentamento de piso, azulejo, né? A gente fazia aqui “vais lá para mim?” “Faço!” , ia lá, eu e meu pai, o dia todo dentro do cemitério lá, meio estranho no começo, depois sentava em túmulo, não estava nem aí, não ligava mais, foi até uma coisa, até boa para gente, a gente parece que tinha um receio de cemitério, hoje não liga mais. Aquilo me ajudou bastante, também nesse ponto, quanto túmulo que nós revestimos, que até hoje, em dia de finados que a gente costuma ir lá, ficar mais um tempo olhando, “esse aqui foi eu que fiz, ainda está aqui.” Nós fizemos de tudo nessa vida, meu Deus.
P/1 - E tudo isso você aprendeu observando?
R - Só olhando, nunca foi feito curso de nada, de nada, nada. Eu, curso que eu me lembre de fazer alguma coisa, foi agora a pouco tempo, foi até porque falou que ia precisar ter, para pulverização, né? Para saber como se pulveriza certo, e eu fiz um curso de pulverização que eu me lembre assim, mas também o que eu aprendi lá eu já sabia tudo, foi mais para ter o certificado. Mas, curso para aprender a fazer, nem nada, tudo, agora a última obra que foi feita aqui foi a piscina em casa, resolvi fazer uma piscina, aí: “vamos fazer, vamos fazer.” Comprei uma piscina e instalei, até não deu para inaugurar, porque eu cavei ela e agora o frio chegou, está ali a piscina a ali para o próximo verão, mas eu nunca havia instalado, eu instalei a piscina ali do meu jeito, e o pessoal: “desse jeito não funciona”, “funciona.” “Não, se você esvaziar ela vai estourar.” “Mas, por que vai estourar? Não vai estourar.” Eu teimei e fiz do meu jeito, já esvaziei, não estourou, a piscina de fibra colocada no buraco, mas eu não coloquei bomba, filtro, como nós temos o poço artesiano tem água a vontade e barata, né? Eu não vou ficar tratando uma piscina a vida inteira, todo mundo reclama que tem piscina e tem que ficar cuidando, não, eu quero piscina para o verão, eu vou encher ela, já está com a estação toda pronta que a água dela eu uso para passar, pelo pulverizador para passar veneno, agora a piscina não vai sujar, quando ela está cheia que eu preciso esvaziar, eu abro o registro, já está na mesma, que o encanamento que eu tinha…
P/1 - É sustentável…
R -... Que eu já tinha feito antes, preparado para a piscina, que eu uso a água lá, lavo ali, ponho a água limpa, está limpa. Vamos ver se vai da certo, até agora deu, terminei ela em janeiro, mas já estava frio, não deu nem para dar um mergulho direito ali, próximo verão eu acho que vai funcionar.
P/1 - E me conta uma coisa, vocês têm algum cuidado especial assim, alguma preocupação com o meio ambiente?
R - Sempre, foi pedido para fazer isso, mas a gente sempre teve a consciência de não fazer nada que afete tanto. A nossa propriedade aqui não tem rios, então essa parte de cuidado da mata ciliar aqui não envolve, mas a gente, na outra propriedade, na minha mesmo, aqui é do meu pai, não tem, na minha tem, tem a mata ciliar, a gente não mexe na beira do Rio, a parte de vasilhames, das embalagens de agrotóxico, antigamente você sabia o que fazer, não tinha um destino, usava os galões para outros fins, eu já vi coisa até que cortava, fazia um balde de flor, fazia um cocho para tratar vaca, usava, e no final acabava queimando. E há muitos anos já que foi conscientizado, têm a devolução, tem os dias certos para devolver tudo, fica registrado que devolveu, é obrigado a devolver todas as embalagens, já há muitos anos devolvia, então tudo vai ficando armazenado ali, no local, já fura ela para não reutilizar, e depois leva de volta, não se usa mais praticamente para nada, essas embalagens. Eu me lembro que antigamente era, no tempo em que as roças eram mexidas, as terras, então usava um veneno, falava que aquilo ali você passava, jogava, passava a grade, misturava na terra e não deixava nascer nada, e esse veneno vinha em umas latinhas de… cinco litros de lata, não era um veneno, era um herbicida, um veneno, mas era um veneno, era um agrotóxico, e meu pai usava essa latas para, eu me lembro que ele começava ali a abrir essa lata, lavava, e usava para moer a cana para dar para os porcos, da garapa para o porco, que o porco gosta, dali a pouco você já via ele bebendo um gole da lata, e usava essa lata. Tinha gente que usava os galões plásticos até para colocar pinga com jabuticaba para curtir, coisa absurda, não tinha consciência, achava que lavava e ficava limpo, né? Mas isso eu via, essas de plástico agora não, mas lá atrás meu pai acabou usando, usava para o porco comer, lavava bem, lata, não sei, alguma contaminação ficava, depois eu cheguei a ver ele bebendo a garapa, o caldo de cana naquela lata que era de herbicida, é coisa de louco que antigamente que existia, isso lá atrás, né? Hoje quando a gente já tem consciência já corrigiu essas falhas aí, e hoje não usa, nem para plantar flor eu não deixo mais usar essas embalagens, não pode para nada, até se uma fiscalização vir aqui e ver usando, se chegar e ver uma embalagem de agrotóxico usando para outros fins pode dar multa, ela tem que estar em um lugar certo. Quando começou a ficar sério mesmo, a gente deu uma cantada no que estava usando para outras coisas e substituiu, né? Porque antigamente, como é que você achava uma embalagem? Você não tinha acesso a comprar um balde, comprar um balde só para balde, você pegava um galão e transformava em balde, usava o balde de tinta mas o de rémedio acabava indo também, então lá atrás foi muito, a coisa não era muito bonita não, mas depois as informações chegam, todo mundo toma consciência, hoje mudou muito, já não se faz mais essas loucuras não, mas na época meu pai chegou a fazer.
P/1 - E como você conheceu a sua esposa?
R - A época que eu comecei já a sair sozinho, foi isso já com vinte anos eu acho, eu comecei com dezoito o primeiro baile que eu te falei que eu saí sozinho, ia nos bailinhos aqui da redondeza mesmo, e foi nos bailes aqui que nós íamos, ela também, os pais dela que levavam, era no município vizinho, que mais frequentava, era lá na beira da pista no campinho e o ______ aqui, que é no município de Arapongas, foi nos bailinhos aqui de comunidade, de igreja, aquele lugar que se encontrava, que hoje acabou tudo. Hoje tem o celular, mas na época era o lugar que se encontrava alguém era assim, por isso que todo mundo casava com vizinho, como que você conhecia a pessoa de longe se não viajava, não saia, não tinha como conhecer ninguém, eu ainda fui longe, que daqui até lá dá quanto? Dez quilômetros da casa dela, mas meu pai era vizinho, minha mãe era vizinha assim, colado um sitío no outro, tanto que os meus avós tinham dois sítios no meio, meu avô aqui, o outro meu avô aqui, eu nasci nesse sítio do meu avô do meu pai, e minha irmã nasceu nesse sítio do meu avô da minha mãe, porque depois mudou para lá, que depois veio para cá, e a outra minha irmã nasceu aqui, cada um em um sítio, mas aqui, três de distância, todo mundo aqui.
P/1 - E aí vocês se conheceram e logo começaram a namorar? Como foi?
R - Não foi muito demorado não, acho que coisa de um ano que nós nos conhecemos, até, nós nos conhecemos mais por causa dessa parte de prestação de serviço, assim, tem alguma coisa a ver, porque um colega de escola meu, que era amigo de ginásio, ele começou primeiro que nós com máquina, prestando serviço assim, e eles colhiam para o pai dela, então ele conhecia ela, os irmãos dela, no caso o pai dela e depois nós entramos também, ele era colega, e nós íamos juntos em baile, então ele conhecia a família dela, já sabia quem era, ele conheceu primeiro, sabia mas lá do que eu, aí eu fui saber quem… conhecer o irmão dela que já era mais velho, já era conhecido do meu colega, e foi mais ou menos nessa direção aí.
P/1 - E vocês casaram, teve festa? Como que foi?
R - Teve, festa no sítio…
P/1 - Aqui?
R - Não, foi no salão da comunidade ali, vizinha ali, já tinha um salão grande, novo ali. Foi logo que inaugurou o salão, foi acho que o segundo, terceiro, acho que primeira festa de casamento que teve naquele salão… Da tua irmã foi o primeiro… O casamento foi em Arapongas, porque ela é de lá, eu sou de Sabáudia, o casamento foi na igreja de Arapongas lá, e a festa foi ali na vila ali, no salão ali. Aquela festa de antigamente, com mesona florida, o churrasco, o pessoal, os amigos vindo servir o churrasco na bandeja, quem queria saber de carne vinha, punha em um pratinho, ia na mesa. Nada de chique, de coisa, de frescura não, bem rústico mesmo, fomos um dos últimos que fez desse tipo, dali pra cá já começou a mudar de pé e gastar dinheiro. O pai dela deu o boi, um boi, na época acho que foi bastante gente, acho que foi quase seiscentas pessoas, porque era muito conhecido, né? Como eu era aqui, e ela ali do outro lado, juntou os conhecidos, porque não era só os parentes convidados, vizinhos no caso, então emendou, os mesmos vizinhos que quase que eu tinha que convidar, ela também estava chegando ali, então emendou toda aquela região, e aqui. E parentes, os nossos parentes todos aqui perto, um monte de parente, dela já menos os parentes, os parentes da mãe dela acho que são todos lá de São Paulo, de Americana, do pai também está bem esparramados, então não foram muitos, mas mais amigos mesmo, conhecidos, muita gente, muita gente, o salão grande aqui, não era mesinha de oito pessoas não, era aquela mesona emendada que ia sentando onde dava certo, era o que tinha para a época, mas gostoso, coisa diferente, mais informal, o pessoal se divertia até mais, todo mundo se conversava, não é que nem hoje que você senta ali na mesa, não vê quem está do lado, ninguém sabe. Se as crianças forem fazer, poderiam fazer um negócio desse tipo assim que eu acho que era muito mais barato e mais gostoso, alguma coisa assim, mais confortável, mais na roça mesmo.
P/1 - Você estava nervoso, você lembra?
R - Um pouco sim, mas eu acho que nem tanto, que eu, eu acho que hoje eu ficaria até mais, parece que não teria coragem de repetir assim, essas coisas assim, que eu sou meio quieto para essas coisas ______. Nosso casamento foi até diferente na igreja, nós enganamos até os fotógrafos…
P/1 - Como assim?
R - Porque não conversamos com eles, nós fizemos diferente, eles ficaram perdidos. Porque geralmente é aquele, entra os padrinhos, aí entra a mãe com o noivo, fica esperando na frente, depois entra o pai com a noiva, né? E se encontra lá no meio. Nós não, foi um negócio, minha mãe não queria, começou: “não, você não vai entrar assim.” Parece que trocava, como a minha mãe ia entrar e o pai dela com ela, ia sobrar a mãe dela com meu pai, tem uns casamento entrava trocado, aí ficava uma coisa meio estranha, minha mãe: “eu não vou entrar com o pai dela”, mas nem precisava. “Ah, então vamos fazer diferente.” A igreja ali tem a porta principal, dentro assim, a porta principal no corredor, mas tem mais duas do lado, a santíssima trindade: “vamo entrar, você entra lá e eu entro aqui, nós nos juntamos ali, nós vamos juntos.” Ela topou, fizemos assim, esquecemos de avisar o fotógrafo, o fotógrafo não convenceu não, que o noivo está lá, a noiva ia entrar, se preparou para filmar, a hora que vai entrar, não abriu a porta do centro com a noiva, abriu as duas da lateral, e eu de um lado e ela do outro, tiveram que se aprumar e filmar. Como é que ia filmar dois lados ao mesmo tempo, depois foi até uma bronca: “Vocês não me avisaram.” “Foi esquecido que nós tínhamos combinado desse jeito.” Mas, aí foi assim, nós já entramos cada um em uma porta até, eu estava lá, ela chegou. ”Não, não é para ver, não é para ver.” Estávamos no mesmo hall de entrada ali, e aí entramos, ela entrou em uma porta, eu na outra, a gente entrou depois de vinte metros se encontrou, e o corredor foi nós dois juntos, nós que decidimos casar, não tinha que ninguém nos levar. Foi um negócio que eu nunca mais vi ninguém fazer desse tipo assim, nós que inventamos na hora lá, na época, deu certo, todo mundo ficou feliz.
P/1 - Inovaram. E os filhos, como foi se tornar pai?
R - Bem tranquilo, da primeira, da Eloane, ela nasceu em 2002, dois anos depois dela, passou um susto na barriga. Foi um caso que aconteceu ali, nós tínhamos, acho que no ano seguinte eu comprei o meu sítio lá, junto com meu pai, consegui comprar a nossa propriedade, e ficou uma parte para pagar depois, e aí eu tinha, acho que aveia para vender, até o cara que vendeu: “Pô, mas vai pagar o sítio com aveia.” Que é um negócio que não é plantado para visar lucro, nós já tínhamos isso de guardar para vender para semente, aí só vamos fazer dinheiro na época de plantar, então ficou uma parte lá para pagar depois, aí eu não sei se subiu as coisas, o dia de pagar deu certo os preços deram, conseguimos vender para pagar lá, eu sei que daí “uhul”, comemorando assim, aqui, e tal, conseguimos vender para pagar, minha mãe soltou um rojão aqui. Nessa conversa minha mãe soltou um rojão de três tiros “tá, tá, tá.” “Uhul, vamos fazer melhor?” Tinha um rojão daquele de doze tiros lá em casa, mas ninguém estava sabendo, ela soltou aqui, corri lá dentro, peguei rojão: “Vamos soltar escondido”, e eu lá dentro de casa assim, acendi o rojão, eu e ela, né? Estava grávida de cinco meses, seis meses, acendi o rojão, para não me mostrar para minha mãe, fazer o mais bonito, acendi o rojão agachadinho, atrás da porta da cozinha, acendi. Para acender, demora um pouquinho, sai fora. Eu acendi o rojão e ele já explodiu, as bombas bateram no forro, caiu tudo ali nos nossos pés, ela lá grávida do lado, já caiu sentada para trás, e foi aquele monte de tiro. Imagina os tiros de um rojão dentro da varanda, embaixo do carro, arrancou pedaço do piso, olha no fim ficou tudo… Não deu nada, mas olha, que sufoco que foi aquele dia, que eu nunca vou esquecer isso, para fazer uma bobeira, quase que nós nos matamos ali, e um rojão de doze tiros, foi tiro um atrás do outro, tudo dentro de casa. É que eu troquei o piso da varanda, mas tinha lá o piso, que era novinho, nem dois anos que eu tinha feito a casa, a bomba maior arrancou um pedaço do piso, nos nossos pés ali, loucura, coisa para aprender. Daí para cá já não tenho nem coragem de soltar rojão mas nem normal, corre longe. E normal, aí tivemos a primeira, depois de dois anos o Renan, 2004 o Renan. Aí tinha dado um tempo até, nem era para ter mais, foi e apareceu o… Em 2010, então tá bom. Mas tudo, os dois primeiros parto normal, ela é corajosa, não em casa, igual minha mãe, no hospital, mas só o último que não porque fez laqueadura, mas se não ia normal também, bem tranquilo. Nossa, as coisas diferentes que você faz, não fui assistir não, que essa parte eu não…
P/1 - Não assistiu?
R - Não é para mim não, todo mundo vai, meus cunhados vão, assistem os partos lá junto, não é comigo esse tipo de coisa não, porque eu já desmaiei em hospital. Cirurgia do Renan da amígdala, lá dentro lá, na hora que ele chegou lá da cirurgia da amígdala, saindo sangue babando, tiveram que socorrer eu, no lugar de socorrer ele, para essa parte aí eu sou fraco, desmaio por qualquer coisinha, já desmaiei na cadeira do dentista por causa de anestesia, muitas histórias de desmaio. Meu pai uma vez cortou a mão na circularia, e eu perto lá, cortou a mão, e eu nem vi, só imaginei, né? Porque uma circularia, circularia cortar a mão, você imagina o estrago. Ele foi lá, disse que foi espremer o limão em cima do corte, eu dali a pouco estou levantando com a boca cheia de terra que eu tinha desmaiado lá, só de pensar, lá sozinho lá, desmaiei, acordei. Então desmaiar para mim é bem normal. Agora faz tempo que eu não desmaio, mas alguma coisa meio grave assim, e minha filha puxou igual…
P/1 - Ah, é?
R - Desmaia por qualquer coisinha, quantos dias de buscar ela na escola porque passou mal, desmaiou. A primeira vez fui buscar, nas outras: “não, é normal”, ligava aí “espera um pouquinho que já volta, é normal.” Aí foi fazer exame para ver se era alguma coisa, não era, isso aí é hereditário, mas é, alguma coisa meio grave aí que me emociona, sou meio fraco para isso. Então ir ao hospital lá para assistir alguma coisa, nem pensar. A última “desmaiada” minha, lembrei agora, foi dentro do hospital de novo, nas minhas três cirurgias, cirurgias não, fui tirar uma pedra do canal do rim, na hora de aplicar a anestesia, só de pensar em aplicar a anestesia, eu nunca tinha entrado em um centro cirúrgico, eu já falei: “Eu vou desmaiar” “não, não, não tem nada não.” O médico lá, enfermeiro, eles seguram, daqui a pouco eu estava deitado lá, tiveram que aplicar anestesia comigo deitado, que era para ser sentado, né? “Não, vai deitado e tal”. Acho que foi a última desmaiada minha, há uns três anos, mas é assim, o psicológico, né? Deve ser, vai passando, meu pai também é meio fraco para desmaiar também, vai vindo de um para o outro e vai passando, acho que não tem cura isso não.
P/1 - E quais são seus sonhos?
R - Ah, sonho. Da parte financeira, se eu continuar do jeito que está até o fim, está bom. Um pai de família, a família continuar unida do jeito que está, todo mundo aí com condições, se der certo até o fim, todo mundo aí junto, perto, muito bom. De repente tem filho que vai longe, fica famoso, rico, mas tá lá não sei aonde, lá, não consegue nem se ver, também não é muita vantagem não, o dinheiro não é tudo não. Ter o básico é bom, ter dinheiro, é preciso ter, mas sobrando dá até medo. Ainda ontem teve o assalto de um colega aí em Sabáudia aí, de manhã, disse que o pessoal pulou o muro durante a noite, ficou a noite toda dentro do quintal, de manhã assaltaram assim que levantaram, caminhonete, um medo… Você quer ter um conforto, dá um medo danado, porque aí você fica preocupado, até o último carro que eu comprei agora, comprei uma caminhonete mais cara aí, meu maior medo é esse, você fica mais visado, você perde um pouco do sossego, sabe como… Sábado fomos em um show do Chitãozinho e Xororó, que minha irmã mais velha é apaixonada por eles, aí o show era em Londrina, nunca fui. “Vamos conosco?” “Vamos.”, fomos nós quatro… Aí deixaram o carro na rua lá, que medo. “O que a gente faz? Tem seguro?” “Tem.” Mas, você fica lá preocupado. “Será que quando eu sair vai estar lá?” Se você tem um carro mais velho, você não liga muito, é o preço do conforto. Essas são as preocupações que a gente aqui no sítio, um lugar visado, teve uma época que era roubo direto, um medo danado. Até que esses dias eu estava em uma reunião, com pessoal da cooperativa, em um churrasquinho, em um sítio vizinho aqui, que mora um pessoalzinho, ele, um funcionário: “Eu não tenho coragem de morar aqui não, sozinho aqui, nesse lugar, não”.” Mas eu vou fazer o quê? Lá na cidade também rouba, hoje está mais, um pouco mais, por conta do celular, né? Mas, ainda tem também… Mas, já fomos roubados aqui, assaltados nunca, mas roubados fomos, um domingo que nós saímos, estávamos na casa da minha irmã, o domingo todo, nós chegamos de noite aqui, as duas casas arrombadas, levaram tudo que coube no carro, acho que não levaram mais porque não tinha onde por. As coisas principais, não tem grandes coisas, mas as partes eletrônicas, roupa, ficamos só com o básico mesmo, do trabalho, roupa melhor foi tudo, aparelho eletrônico foi tudo, computador, televisão, foi a primeira vez que a gente passou por isso assim, mais grave, foi complicado, mas vai fazer o quê? Vamos sair daqui por causa disso? Ir para onde? Não tem lugar seguro, né? Hoje tem, a gente consegue se comunicar melhor, tem uma câmera, agora tem a patrulha rural que foi instaurada no Paraná, né? Tem os números de emergência, localização para vir mais rápido, um pouquinho mais de segurança, mas não total, mas acontece, teve roubo de trator aqui ano passado, no vizinho, complicado, medo dá, mas não tem um lugar seguro, então é aqui mesmo, tudo bem que aconteceu esse… Para nós aqui mesmo, acontece… Mas, é um tanto quanto complicado essa parte.
P/1 - E você gostaria de acrescentar algo mais que eu não tenha perguntado, algum momento da vida? Alguma pessoa importante que não foi falada? Qualquer coisa…
R - Acho que a gente está aqui mesmo, nessa situação, nesse convívio aqui, dependeu tudo dos meus avós, né? Largaram tudo, os bisavós que vieram de outro país, de outro lugar para cá, se eles não tivessem tido essa coragem, não ia saber onde nós estaríamos hoje, se nós existiríamos, né? Muita coragem desse povo que veio, não é que nem hoje, você vai de avião, você tem conforto. Eles vieram no escuro, sem nada, sem dinheiro, no meio do mato, então, parabéns para eles que tiveram essa coragem, que eu não tenho hoje nem com tudo que a gente tem já nas mãos, a facilidade. Daí para cá foi só a sequência, os pais não tinham outra opção também, continuaram aqui, e nós nascemos aqui, não temos muita visão de sair para outra coisa, né? É o que você está de pequeno vendo fazer, é o que você aprende, e continua, por isso que dá sequência assim, as vezes alguns saem, porque, hoje tem internet que você vê coisas: “Ah, eu quero aquilo, não quero isso.” Alguns vão para longe, mudam radicalmente a opção aqui que seria, mas nós aqui, parece que não vamos mudar não, todo mundo envolvido aqui, mas se mudar também, nunca sei. Do jeito que está aqui, não reclamo da minha vida não, eu não esperava que ia ser tudo isso que está acontecendo não, parecia que ia ser mais difícil mesmo, eu lembro no inicio, que “vocês tem que estudar, essa vida não dá, isso aqui não dá futuro.” Mas vamos arriscar, vamos levando, eu acho que a minha vida foi melhor do que a da minha mãe, menos trabalho, mais conforto, então será que o futuro vai ser diferente? Pode ser pior ou pode ser melhor, não sei, tem que deixar o tempo ir passando, a gente vai contornando, chega em um ponto que não vai, muda para outros, tem opções, né? Dá para ir levando, eu por mim, aqui está prato cheio, para o resto da vida.
P/1 - O que você gostaria de deixar como um legado para os seus filhos? Para os futuros netos talvez, uma mensagem?
R - É, o que a gente sempre preza é por ser honesto, tudo que ganhou, que nem minha mãe fala… Tem gente bilionária, mas ninguém ganhou honestamente. “Quem tem muito, é muito difícil uma pessoa que subiu rápido na vida honestamente, sempre teve um desvio daqui, passou alguém para trás”, ela fala. Eu também acho, porque a gente trabalha muito e cresce pouco, em vista de muitos que não trabalham tanto e já tem um mundo de coisa, então tem alguma coisinha diferente, você cava devagarinho, você descobre que fez alguma coisa errada, passou um herdeiro para trás para pegar para ele, alguma coisa assim. Nós não, estamos sempre do mesmo tamanho, tudo que meu pai tem aqui nunca foi de herança, eles conseguiram comprar o primeiro sítio com ajuda dos meus avós, depois pagaram de volta e cresceram só com o suor do trabalho mesmo. E eu também do mesmo jeito, quando estava lá começando a minha vida, aqui sozinho assim, fazia, trabalhava pra mim, né? Que eu sempre trabalhei separado, depois dos dezoito anos, quando eu arrendei a primeira terra, eu tenho o meu tacho, e meu pai tem o dele, os maquinários são juntos, a meia, no caso, para eu conseguir ir pagando metade e ir comprando os novos de a meia, mas é repartido, cada um nesse sítio aqui, é dele a roça, eu moro aqui, mas a roça é dele, nós que trabalhamos para ele, tudo, mas a produção é dele, a minha está no meu sítio, é tudo separado, então cada um faz o seu, conforme pode, e ninguém vai passando ninguém para trás, e dá certo. É melhor ter pouco honesto, do que ter muito e tá com a cabeça aí que não dorme, isso é muito bom, né? Quantidade não muda nada. E para que ter um monte de terra? Só para trabalhar mais? Eu vejo pessoas aí que só querem comprar terra, comprar terra, já tem lá um monte de terra, agora não tem sossego mais, porque tem as terras e vai fazer o quê? Tem que trabalhar. Tem dia que eu estou, que nem eu estou hoje aqui tranquilo, e eles estão lá colhendo, porque tem que colher, tem trinta vezes mais que nós, como é que faz? Eu tenho básico, necessário, é o melhor, não adianta perder a cabeça e querer fazer um monte de coisa e não dormir direito, tem que ter as ideias no lugar, e se fizer coisa errada não tem sossego, ser honesto e vai embora. Trabalhar tem que trabalhar mesmo, não dá para aposentar não, que nem o meu pai? Cadê ele? Está desde cedo arrumando a bicicletinha velha dele ali, deve estar lá, mexer em outra coisa, é assim, e não pode parar também, porque se parar, ele mesmo, ele deu uma baqueada boa depois que a gente tirou ele de dirigir, porque trabalhava, e o volante era o principal, que estava perigoso, ele fica aí na oficina, mexendo nas coisinhas, eu deixo lá, ele não vai mais para a roça lá, tem que mexer, se fosse sentar em um banco o dia inteiro eu acho que ia acabar logo a vida, porque a vida inteira foi trabalhando, desde criança, tem que continuar até o fim. Um trabalho mais leve, mas é saudável.
P/1 - E para finalizar, como foi contar um pouco da sua vida para a gente?
R - Olha, eu nem esperava que eu sabia falar dessas coisas, que eu lembrava, coisas que fui lembrando agora, coisas que eu nem lembrava mais, e vai voltando a memória, né? Você foi ajudando aí fazendo algumas perguntas, e muito bacana isso, deve ter muito mais coisa que não lembrou, mas um momento aí, um básico, como eu falei, a minha vida não tem muito, tem gente que tem história, que viajou, que morava lá…
P/1 - Mas olha quanta história…
R - Eu só sou local aqui, então parece que é sempre, desde que eu comecei assim na agricultura, parece que é sempre a mesma coisa, mudou pouca coisa, então, mas tem essas variações assim.
P/1 - Muitíssimo obrigada, e muito gostoso. Um filme na cabeça, né?
R - De nada, obrigada você, por fazer eu voltar esse filme também aí, muito legal sim.
P/1 - Oba, que bom!
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