P1 - Oi, Jonatas. Tudo bem com você?
R - Olá, Grazielle. Tudo bem!
P1 - Que bom! Para começar, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Bom, meu nome é Jonatas Machado Ibernon, eu sou de Manaus, nasci em Manaus no dia 29 de julho de 1995.
P1 - Seus pais, sua família, eles te contaram como é que foi o dia do seu nascimento?
R - Cara, acho que um dia normal, assim, não teve muitos problemas. O parto da minha mãe foi uma cesariana, então acho que foi tudo muito controlado, sabe? Acho que a questão engraçada é que, o médico que ia fazer o parto da minha mãe, ele tinha meio que uma superstição de que ele não fazia parto no mês de agosto, então ele deu uma adiantada no meu parto para dia 29 de julho, porque ele tinha uma superstição de não fazer parto no mês de agosto. Olha só, né, engraçado isso.
P1 - E chegaram a te falar o porquê dessa superstição?
R - Não, não. Acho que nunca chegaram a perguntar para ele [o] porquê, não sei se ele não gostava muito do signo de quem (risos) nasce em agosto. Mas é isso, acabei nascendo leonino, meio que, por opção do médico, quase.
P1 - Que legal! E qual o nome da sua mãe? Você pode falar um pouco sobre a parte da família dela?
R - Bom, a minha mãe, ela se chama Maria do Rosário, ela é do interior do Amazonas, então vem de uma família de produtores, né? Eu já nasci na cidade, então não sou um produtor, mas tanto a minha família por parte de mãe, como por parte de pai, são pessoas que vieram do interior. Eles são parintinenses, digamos assim, porque são de uma terra que é próxima a Parintins, interior de Parintins, e sempre tiveram meio que essa atividade de agricultura familiar, né, meio que para a subsistência, então plantavam de tudo um pouco, pesca, tudo que, meio que, pagava na época, eles estavam plantando. E quando eles foram atingindo ali a maioridade, e também os pais foram ficando mais velhos, eles...
Continuar leituraP1 - Oi, Jonatas. Tudo bem com você?
R - Olá, Grazielle. Tudo bem!
P1 - Que bom! Para começar, eu gostaria que você dissesse o seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Bom, meu nome é Jonatas Machado Ibernon, eu sou de Manaus, nasci em Manaus no dia 29 de julho de 1995.
P1 - Seus pais, sua família, eles te contaram como é que foi o dia do seu nascimento?
R - Cara, acho que um dia normal, assim, não teve muitos problemas. O parto da minha mãe foi uma cesariana, então acho que foi tudo muito controlado, sabe? Acho que a questão engraçada é que, o médico que ia fazer o parto da minha mãe, ele tinha meio que uma superstição de que ele não fazia parto no mês de agosto, então ele deu uma adiantada no meu parto para dia 29 de julho, porque ele tinha uma superstição de não fazer parto no mês de agosto. Olha só, né, engraçado isso.
P1 - E chegaram a te falar o porquê dessa superstição?
R - Não, não. Acho que nunca chegaram a perguntar para ele [o] porquê, não sei se ele não gostava muito do signo de quem (risos) nasce em agosto. Mas é isso, acabei nascendo leonino, meio que, por opção do médico, quase.
P1 - Que legal! E qual o nome da sua mãe? Você pode falar um pouco sobre a parte da família dela?
R - Bom, a minha mãe, ela se chama Maria do Rosário, ela é do interior do Amazonas, então vem de uma família de produtores, né? Eu já nasci na cidade, então não sou um produtor, mas tanto a minha família por parte de mãe, como por parte de pai, são pessoas que vieram do interior. Eles são parintinenses, digamos assim, porque são de uma terra que é próxima a Parintins, interior de Parintins, e sempre tiveram meio que essa atividade de agricultura familiar, né, meio que para a subsistência, então plantavam de tudo um pouco, pesca, tudo que, meio que, pagava na época, eles estavam plantando. E quando eles foram atingindo ali a maioridade, e também os pais foram ficando mais velhos, eles se mudaram para cidade, se mudaram para Parintins. Então uma boa parte da minha família mora em Parintins, por parte de mãe, e alguma outra parte da família por parte de mãe já veio e se mudou para Manaus. E quando vieram para cá, foram fazendo, meio que, esses bicos, né, então cuidando, né, de empregados, cuidando dos filhos de algumas famílias. Tudo [isso] até se estabelecerem aqui e conseguirem uns empregos melhores.
P1 - E qual é o nome do seu pai?
R - O nome do meu pai é Jonatas, eu carrego o nome do meu pai. É Jonatas da Silva Ibernon.
P1 - Você tem alguma lembrança da família dele também?
R - Eu tenho mais lembrança da família da minha mãe do que a do meu pai. O meu pai, ele veio de Cruzeiro do Sul, fica no interior do Acre. Acho que uma região ali de fronteira. É uma cidade com uma atividade, assim, um pouco militarizada, até pelo fato de ser no interior. Meu avô era policial, e também eles eram de uma família de seringueiros e até hoje tem uma área lá, de seringal, que não estão utilizando, né, porque a família teve esse êxodo rural aí. Todo mundo foi para [a] cidade, então poucos ficaram no interior. Então boa parte da família do meu pai, assim, se eu for falar [dos] que eu conheço, são os que vieram junto para Manaus, então, minhas tias, que são as irmãs dele e essa família… E a minha avó, porque o meu avô morreu cedo, então não cheguei a conhecer o meu avô. Mas essa é a lembrança. Eu tenho mais lembrança por parte da minha mãe, de visitar Parintins, de tá com eles, de ir para o interior, do que da família do meu pai.
P1 - E você sabe como é que seus pais se conheceram?
R - Sim, sei. História engraçada. (risos) Os meus pais se conheceram aqui em Manaus, quando eles se mudaram para cá. Então, a minha mãe morava na casa de um senhor e eles cuidavam ali, era como se fosse uma empregada doméstica. Na época, geralmente, a empregada doméstica até morava junto, né, com quem estava ali empregando, e ela morava ali no bairro São Jorge… Na verdade, até hoje a minha tia mora nessa casa, porque depois eles compraram essa casa. Ele se mudou, o dono e eles compraram essa casa. E o meu pai morava no São Jorge também, porque depois que o meu avô morreu, eles se mudaram para cá, para Manaus, e ficaram na casa de um tio avô. Era assim, uma irmã dele veio para cá, ele morava… Meu tio é pastor, e aí, essa igreja ficava no bairro de São Jorge e ele acabou morando lá também, na casa dele, que ele morava no São Jorge também, e aí acabaram ali em um dia. Ele estava andando na rua, viu uma moça na rua; e foi engraçado porque foi… Não foi aquela coisa, “quero chamar para sair, quer isso, quer aquilo”, não, ele viu a minha mãe estava brincando; tinha uma brincadeira, que assim, elas ficavam assobiando, chamando os meninos da rua e se escondiam, chamavam os meninos da rua e se escondiam, e aí a minha tia quando viu papai passando fez isso, né, deu uma assobiada e se escondeu, a minha mãe não se escondeu por algum motivo, e aí ele olhou e viu, quando ele desceu, ele já desceu falando assim: “Quer namorar comigo?”. (risos) E aí foi meio que isso. Então foi… É uma história engraçada, e depois disso estão casados aí, até hoje.
P1 - Tem algum familiar, tirando seus pais, que você tenha bastante proximidade, que você gosta muito?
R - Tenho. Bom, primeiro, o meu primo, o nome dele é Matheus [e] ele é quase que um irmão. Eu tenho duas irmãs, né, duas irmãs mais velhas, e eu sempre tive… Queria ter um irmão, né, um irmão homem, porque você quer jogar bola, quer fazer essas coisas assim. E aí eu sou o irmão mais novo e não tive um irmão, então esse meu primo foi muito próximo. Assim, eu sempre estava na casa dele, então a gente tem essa proximidade até hoje. Ele é como um irmão para mim e a família dele é muito próxima também. A minha tia, que é a tia Marlene, o meu tio Vilmar. E eu tenho uma tia que é vizinha aqui, que é a tia Ana, morou um tempo com a minha mãe, também - hoje, ela é nossa vizinha - tenho uma proximidade grande com ela, e também um tio que mora em Parintins, mas ele está sempre aqui, meu tio Paulo. E toda vez que ele vem aqui, é parte da família também; sempre está por aqui, sempre passou muitos momentos com a gente. Então, desde que eu me entendo por gente, ou ele está aqui, ou ele está lá; já passou ano novo com a gente. Então é um pessoal que eu tenho mais proximidade, assim. Nunca tive tanta proximidade com os meus avós pelo fato de eles… Pelo menos por parte de mãe, porque eles moram em Parintins, né? Então, a gente não vai tanto lá. Queria ter mais proximidade, assim, com os meu avós. Mas a minha avó por parte de pai, aí sim eu tenho mais proximidade com ela, porque ela mora em Manaus. Então era o núcleo ali: quando ela morava ali, mais perto da casa dos meus tios, era o lugar onde a gente se reunia para almoçar, para conversar nos finais de semana.
P1 - Qual a atividade dos seus pais hoje? Eles ainda fazem parte da agricultura familiar?
R - Não, depois que eles vieram para cidade não se envolveram mais nisso. O meu pai era do interior, assim, ele nunca se envolveu muito na atividade de agricultura, ele ainda [era] muito pequeno. Ainda foi com o pai dele, com o avô dele, né, com o meu avô e com o meu bisavô, para o seringal, tirar ali o leite e tudo, mas como o meu avô morreu cedo, ele acabou vindo para a cidade, e na cidade teve uma vida de cidade, então, escola, faculdade e tudo. A minha mãe não, a minha mãe ela já, basicamente, até os dezoito anos dela, ela trabalhou com agricultura, veio para a cidade, mas com aquele pensamento de que agricultor é explorado né? Então ela fala que: “Não! Isso aqui eu já passei vinte anos da minha vida fazendo, agora eu quero fazer outra coisa”. E aí ela veio para a cidade, trabalhou por um tempo, mas hoje não trabalha, é dona de casa, né, e cuida aí da família e tudo. Então quem trabalha é meu pai. Meu pai se formou em economia, se formou em economia aqui, foi gerente por um tempo do grupo Simões, que é um grupo que representa a Coca-Cola aqui, e aí depois de um tempo a gente abriu um negócio juntos e por causa dessas crises e tal, da economia, não rolou. Hoje ele é gerente financeiro da Real Equipamentos. Então teve uma vida aí nessa área de gerência financeira.
P1 - E as suas irmãs? Vocês têm um bom relacionamento?
R - Sim, sim. A gente é bem unido. Uma coisa boa né, porque tem um pessoal, tem família que não se bica. (risos) Aqui em casa, assim, a minha irmã mais velha, ela, aqui em casa eu estou… Eu moro no segundo andar. A nossa casa tem dois andares, então a gente fechou em cima. Eu construí em uma parte e a minha irmã construiu na outra, então ela é minha vizinha. A gente frequenta a mesma igreja, e a minha irmã do meio que… A minha irmã mais velha é a Naira, e a minha irmã do meio é a Hellen, e também, assim, ela está passando um tempo aqui, mas é porque ela vendeu… Venderam lá a casa dela, e aí ela está construindo uma outra e está passando um tempo aqui, mas a gente é sempre muito junto, sempre saiu junto. Acho que a gente teve sempre essa atividade, meio que, familiar, sempre saindo junto, sempre tentando estar junto em almoço, em comemoração de aniversário. Então é uma família bem próxima, bem unida. A gente faz tudo de forma bem familiar, bem junto.
P1 - E quando criança, vocês também se davam bem?
R - Na medida do possível, né? (risos) A minha irmã mais velha, eu não tenho, assim, questão de recordação, de brincar. Assim, isso tudo, pra minha irmã mais velha nem tanto, porque ela tem cinco anos de diferença pra mim, então enquanto eu estava com sete, ela estava com catorze e tal, outras coisas, né? A minha irmã do meio não, ela tem um ano, um pouquinho mais de um ano de diferença pra mim, quase a mesma idade ali, então era aquela relação de amor e ódio: brincava, brigava, e depois já estava desculpado; fazia besteira junto, e aí os dois ficavam de castigo. Então a gente sempre esteve muito próximo, sempre brincando junto, sempre se amando e se… Não vou dizer odiar, mas se amando e tendo raiva um do outro. Coisa de irmão, né?
P1 - E do que vocês gostavam de brincar quando criança?
R - Olha, quando criança a gente brinca… Quando a gente era mais novo, eu gostava muito de brincar com a minha irmã de… A gente brincava de tudo, né, então às vezes tinha uma… Meu pai construiu uma casinha no quintal de casa e a gente ficava brincando de que ela era a vendedora, né? E aí eu ia lá comprar pão, comprar isso, ela dizia que não tinha. A gente brincava muito também de… Dessas coisas de brincar na rua, né, manja-pega, manja-esconde. Quando eu estava em casa, queria ficar brincando, chutando bola. Assim, a minha irmã nunca foi… Eu não fui… Nunca teve esse critério: “Ah, o menino tem que brincar só com brincadeira de menino, e a menina…”, então a gente jogava bola; aí às vezes ela queria brincar de boneca, eu brincava de boneca junto com ela. Então era meio que assim, a gente era meio que um time: queria jogar videogame, jogava. Era a brincadeira do dia, assim.
P1 - Vocês tinham aquela cultura de brincar na rua também?
R - Tinha. Acho que dos irmãos, eu tive mais a cultura de brincar na rua, eu gostava mais de brincar na rua do que minhas irmãs. A minha irmã mais velha nunca…, na verdade, sempre foi mais reservada, nunca gostou muito, gostava mais de tá em casa. A minha irmã do meio não, ela já gostava um pouco mais, mas nem toda vez ela estava afim de ir. Eu não, sempre gostei de brincar na rua, até porque, aqui no meu bairro, eu não brincava muito no meu bairro. Assim, no meu bairro, eu não conhecia muita gente, conhecia muita gente no bairro do meu primo, que é o Matheus, que eu tinha falado, então eu sempre estava lá. Ele mora perto daqui de casa, então eu sempre ia lá e conhecia muita gente na rua, brincava o dia todo, aquela segurança, que hoje a gente não sente mais segurança em brincar tanto na rua, assim, naquela época, a gente brincava na rua o dia todo tranquilo e sem nenhuma preocupação.
P1 - E você conseguiria descrever a casa onde você passou a sua infância?
R - Claro, eu estou daqui do segundo andar dela hoje, né? (risos) A gente está planejando se mudar, mas foi uma coisa, assim, dos meus pais. Quando eu casei, ele falou: “Pega a parte de cima da casa aí, constrói alguma coisa para não ficar pagando aluguel”. Aí eu construí aqui em cima pra gente poder juntar dinheiro, mas minha casa é isso, minha casa na infância ela era uma casa de um andar, depois que ela foi ser uma casa de dois andares. Então era uma casa de um andar, mais “abertona”, né, como eu estava falando, a sensação de segurança era maior, então era uma casa mais aberta, piso de cerâmica marrom e a parte de dentro mais no giz, aquele giz…, naquela cera, quer dizer, aquela cera vermelha que muita casa tem, aqui em casa era assim também. O meu pai tinha um carro, que era um Kadett azul, que ele ficou por muitos anos com aquele carro, a gente brincava. Meu pai antes disso tinha um fusca, mas eu não me lembro muito da época do fusca. Eu era muito novo, então eu já peguei a época do Kadett ali. E aí o meu pai, ele sempre teve meio que um toque, assim, ele sempre quis estar mexendo na casa, então eu lembro muito das reformas também. Meu pai reformou muito a casa. Fazia um quarto, aí depois: “Não é mais um quarto, vai ser a sala aqui”, “Aí a cozinha aqui.” “Não quero mais cozinha aqui.” Então a gente estava sempre quebrando, sempre quebrando, aí quando [for] quebrando…”, para poder juntar o entulho ali e ir aumentado o chão da casa, né, porque ele colocava o entulho embaixo ali e fazia um piso. Quebrava a casa, botava entulho e fazia um piso embaixo. A minha casa é até um pouco alta da rua, assim, a nossa casa é um pouco alta. Eu tenho muito essa lembrança, né, lembro até que teve uma época que estavam reformando aqui em casa, eu queria jogar videogame e a TV e o sofá estavam cobertos com uma lona, aí eu ia para debaixo da lona para ligar a TV, e para jogar videogame debaixo da lona. Agora imagina, aqui no Amazonas a temperatura média aqui é trinta graus e eu debaixo de uma lona jogando videogame, pra você ver como é que ficava. Virava uma sauna, né, mas como eu queria jogar muito videogame ou assistir TV, eu ia para debaixo da lona. Então é uma memória bem forte, assim, é isso aí, teve muita reforma. A gente gostava, eu gostava, até porque na minha infância, assim, tipo, dos nove, dez, onze anos, era essa casa mais aberta, depois ele foi reformando, fez a laje e construiu aqui o segundo andar. Aí eu já estava um pouco mais crescido, estava com catorze, estava já com treze, catorze, quinze anos, então eu já estava para ajudar. Eu gostava muito de ajudar né, quebrar parede aqui, pegar cerâmica ali, pegar um pouco de areia aqui. Virava às vezes a atividade da semana, né, era ajudar ali, a gente… Eu, pelo menos, gostava muito de fazer.
P1 - Você comentou que gostava de TV, né, de jogar videogame. O que você jogava e assistia?
R - Eu nunca fui um cara de jogar muitos jogos assim, mas na minha infância comecei tomando - meio que da minha idade -, jogando Super Nintendo, Mario, Donkey Kong, aquele Superstar Soccer, jogava muito ele, jogava com os meus primos, joguei mais com os meus primos, no videogame dos meus primos. Eu nunca tive um Super Nintendo, aí quando eu tive um videogame, já era o Playstation 1 e era muito isso, jogava muito aquele Winning Eleven, Bomba Patch, jogava muito, gostava muito de jogar. Acho que além desses, só esses jogos com Call of Duty, Deus da Guerra, coisas que eu gosto. E gostava muito de dois jogos: ou era jogo de futebol, ou era jogo de corrida. Gostava muito de Fórmula 1, algum jogo que era jogo de corrida, eu sempre… E sempre foi, é o meu gosto até hoje. Se for pegar meu videogame, hoje é isso: é jogo de corrida e jogo de futebol, os que eu mais jogava e os que eu mais jogo hoje ainda também. Quando você é criança, você joga três, quatro, cinco vezes mais do que você joga quando é adulto, né? Não tenho muito tempo para isso.
P1 - Alguém da sua família, ou até de fora, te contava histórias? Você gostava?
R - Bom, acho que mais da família da minha mãe. Meus tios gostam muito dessas histórias de interior, a gente sabe né, aquela coisa da floresta ser mística, de você ver, então eles contavam muito. Mas, assim, as histórias deles sempre eram histórias muito reais. Acho que a única história mais meio cara de folclore, foi uma vez que eles falaram que estavam na floresta. Isso, três tios. Assim, não era um tio sozinho. Então eram três tios, estavam andando, voltando para casa, porque eles estavam… Eles tinham ido pescar e estavam voltando para casa, e aí quando eles voltaram para casa, disseram que, como se fosse assim, tipo um anão, sabe, ele falou: “Ó rapaz, era um anão vermelho, atravessou o caminho, assim, ele estava vindo da floresta e tinha um caminho, né, ele atravessou, olhou pra gente, baixinho, e continuou andando e foi embora. Aí a gente olhou um para o outro e falou: 'Tu viu isso?'. O outro: ‘Eu vi’. O outro: ‘Eu vi também’”. E nunca mais viram nada disso. Então assim, ficou marcado, né? Mas e as outras histórias, são histórias de gente do interior, sabe, de subir na árvore e se jogar no rio, essas histórias assim, dessas, [por] exemplo: A minha tia, ela queria ser a legalzona, queria ser… Acho que era a mais…A minha tia Ana, que ela é a vizinha aqui do nosso lado, ela era a mais, como é que eu posso dizer, assim, a mais pimentinha, queria fazer muitas coisas. Uma vez ela subiu em uma árvore, e aí, na época, estava uma época de cheia e quando é uma época de cheia tem algumas árvores que não aguentam, né, e ficam bambas. Não é que elas caem, mas elas ficam bambas. E aí ela subiu nessa árvore e tal, pra ficar lá comendo fruta e em uma dessa, a árvore começou a balançar, começou a balançar e ela achou que a árvore ia cair, ela se jogou. Quando ela se jogou, ela caiu em cima do galinheiro da minha avó, e além de se machucar, ficou coberta de tudo que é besteira de galinha e tal. E aí, naquela época, sabe como é [a] correção dos pais naquela época, né, então foi lá, pegou e deu aquela surrinha. Mas é sempre esse tipo de experiência. Também contava, o meu avô, que ele morou a vida inteira praticamente no interior, nunca aprendeu [a] nadar, então tinha aquelas histórias de que a canoa afundava e ele não sabia como conseguir trazer a canoa de volta pra ele não se afogar. Então tem muitas histórias que eles vão contando aos poucos pra gente.
P1 - E tem alguma história sua que você acha que você nunca vai esquecer? Algum momento assim?
R - Cara, não sei. Histórias marcantes, né, deixa eu tentar pensar em uma aqui… Eu acho que uma história marcante minha, acho que assim, o meu próprio trabalho proporcionou muitas coisas interessantes, mas eu acho que tenho uma história mais marcante da época que talvez eu não lembre muito, do que as que eu lembre, em questão de nível de… Nível, assim, de você falar: “Cara, que maluquice é isso”, né? Exemplo, quando eu era mais novo, a gente sempre foi muito para o interior, né, e aí a minha mãe, eu não sei se foi minha mãe, ou se foi o meu pai, não estou lembrado agora, ela colocou, me colocou assim, como se fosse na beirada do barco. Sabe quando você encosta, coloca assim na beirada do barco? “Estava aqui comigo e alguma coisa aconteceu”. Aí quando ela virou, eu não estava mais lá. E aí ela ficou procurando: “Será que ele desceu? Será que ele foi para isso, foi para aquilo?”. Aí a minha irmã mais nova falou: “Mamãe, o nenê!”. E apontou para a água. E aí a minha mãe: “Meu Deus!”, já pulou dentro da água e me procurou, e eu estava lá dentro da água, [ela] me puxou pelo pé. Então assim, tipo, se a minha irmã não tivesse avisado e apontado ali que eu estava na água, eu não estaria nem aqui, né? Eu acho que essa é [uma] das [histórias] mais loucas, também acho muito do interior, assim. Uma vez, eu também indo para o interior, estava… Eu subi também numa… Era uma azeitoneira, era uma azeitoneira… Não, era uma goiabeira. A goiabeira tem os galhos lisos e aí a gente ficava nessa coisa, meio como… Sabe, se pendurando que nem macaco com medo. Vai pulando de um galho para o outro, de um galho para o outro, e numa dessas eu escorreguei e caí. Aí quando eu caí, tipo, tinha um tronco, um tronco grande, eu caí do ladinho do tronco, assim cara, de peito. Então é dessas histórias que às vezes a gente fica pensando: “Mas rapaz, como é que os pais deixavam a gente brincar sem supervisão nenhuma mesmo?”. (risos) Mas essas histórias marcantes de interior, assim, que a gente tem, sabe, eu acho que a minha é muito de interior. Uma vez eu fui para o interior também e acordei com o meu tio, meu tio falou assim: “Não se mexe, não se mexe!”. Tinha uma aranha caranguejeira no punho da minha rede, e eu falei: “Caramba, como é que o senhor acordou no meio da noite sabendo que tinha uma aranha?”. E aí ele falou que nunca consegue… Quando tinha muita gente na casa dele, ele não conseguia ficar muito tranquilo assim, que ele sabia que tinha alguns bichos, né? Então acho que essas histórias de interior são uma coisa muito da minha família, assim, eles sempre gostaram muito, mesmo a gente morando na cidade, [de] conectar a gente e a gente ter vontade de tá no interior. Meu pai principalmente, gostou muito que a gente ia para sítio, para chácara, ou visitar até o local onde minha mãe morou por muito tempo. Eu nunca consegui visitar Cruzeiro do Sul, mas tenho vontade de visitar. Acho que é muito legal isso, porque tem gente que realmente mora aqui no Amazonas, mas não gosta, gosta de estar lá na cidade, não gosta de ir para o interior, ter esse contato com a natureza. E comigo já foi bem diferente: sempre em qualquer feriado, férias, a gente estava no interior no terreno da minha avó, que é lá no Lago do Mamori. A gente sempre ia muito para lá, era sempre muito prazeroso, muito legal por lá. Faz muito tempo que eu não vou lá na verdade.
P1 - E os seus avós, eles também são do Acre, do Amazonas? Ou eles vieram de outro lugar?
R - Sim, são daqui. O meu avô sempre foi do interior, criado no interior, minha avó também, do interior de Parintins. Na família do meu pai, a mesma coisa. E só vai saindo, assim, lá para a minha bisavó, e aí já é um pessoal meio de fora. Meu sobrenome, que é o Ibernon, ele é um sobrenome espanhol, então assim, a gente vai tentando fazer a árvore genealógica, um pouco espanhol e um pouco francês, mas tem mais origem ali na Espanha. Então a gente acha, né, fazendo ali a árvore genealógica, que são de pessoas que vieram para o Brasil na época da borracha. A época da borracha foi uma época de ouro para o Brasil, porque teve muita gente de fora que veio, e a gente acha que é isso, que pelo fato de ser um sobrenome espanhol, foi alguma família que veio de fora se instalar aqui na época da borracha. Mas assim, [tem] uma boa parte, uma boa geração já de pessoas que já estavam no Brasil, que eram brasileiros, nascidos no Brasil mesmo.
P1 - A sua família tem alguma atividade, comemoração que vocês gostam de festejar?
R - De estar junto? Eu acho que o normal, sabe? Não tem uma data específica, mas a gente gosta muito de tá junto no natal, é uma data bem bacana, ano novo também e os aniversários a gente gosta muito. A gente gosta de comemorar um com o outro, tá junto. Não tem nenhuma data específica, mas é mais essas que, vamos dizer assim, o mercado colocou pra gente comemorar, essas datas, assim, de natal. A gente acha até bom, né, ter esse tipo de momento para comemorar, mas é isso, ou é natal, ou ano novo. Ou então está junto mesmo nos aniversários. A gente diz aqui em casa que a gente fica mais no núcleo familiar mesmo, pai, mãe, irmãos, do que estar tanto assim com os tios ou tias. Quando eu era mais novo era mais assim, aí a gente ficava muito junto na época do natal, ou todo fim de semana eu estava lá na casa da minha avó para almoçar no domingo, no sábado.
P1 - E essa região que você mora, aí de Manaus, tem alguma festividade, alguma comemoração, assim, que você participa?
R - Cara, é porque os bairros de Manaus que tem mais festividades. São mais próximos ao centro, né, porque são os bairros mais antigos. Exemplo: Para quem mora no Japiim, tem a festa do Japiim, de aniversário do bairro e tudo mais. Aqui não, é um bairro mais tranquilo. Eu moro no… Antes era Cidade Nova, que é um bairro mais longe. Na época que o meu pai se mudou para cá, aqui era só o mato e o barro, agora já cresceu muito, já tem shopping, já tem tudo, mas é um bairro muito mais tranquilo, não tem muita festividade do bairro. O que tem, assim, é na época do carnaval [que] eles fazem o bloco da Cidade Nova, é aqui na rua. Eu não sou muito de festa, então eu não participo muito, mas tem essas festividades aqui. Mas não muito, é um bairro muito tranquilo. A galera não é assim de fechar uma festa e fazer alguma coisa. É muito mais a cidade, né? A cidade de Manaus tem algumas festividades, como o aniversário de Manaus. Aqui tinha uma época, eu não sei se ainda tem, mas na época que tinha o aniversário de Manaus, o jornal A Crítica, que é um dos mais conhecidos aqui, eles sempre faziam uma edição especial de um livro, uma edição especial do jornal com o livro, mostrando a história da cidade e tudo, então é uma data interessante. Aqui a gente tem dois feriados que são feriados interessantes que falam sobre a cidade, que é o aniversário de Manaus e tem um feriado chamado…, que é a elevação do Amazonas na categoria de província. Foi quando o Amazonas foi considerado algo maior que somente um lugarzinho ali e foi elevado à categoria de província, então era meio que próximo ali do que hoje a gente chama de Estado, mas, naquela época, eles chamavam de província. Então virou um feriado aqui do Estado também. A gente olha muito mais para esse lado folclórico, aqui também tem a festa do boi, que é no município de Parintins; acontece como se fosse o carnaval do Amazonense, é a festa do boi. Então rola lá em Parintins, mas existem muitas festividades do boi aqui em Manaus. Tem a festa do boi que acontece aqui, todo ano rola. Então acho que é um pouco mais da festividade da cidade do que uma festividade do bairro, mas tem bairros muito tradicionais aqui, o Japiim é um deles, no centro, sempre rola, tem uns bairros mais unidos do que outros, o daqui ele é um pouco mais tranquilo. Acho que revela um pouco do nosso perfil, né? A gente prefere um bairro mais tranquilo do que um bairro muito festivo.
P1 - Voltando um pouquinho para infância, tem alguma comida da sua infância, assim, que tem aquele valor sentimental que você lembra?
R - Sim. Aí cola um pouco para a cultura do amazonense, né? Então, vou para a cultura do amazonense: para a gente sempre foi peixe; peixe com farinha, arroz, ou baião, e tomar ali um guaraná Baré. (risos) Então, assim, sempre foi muito isso na nossa infância. A gente também é muito adepto da carne aqui, mas o peixe é o que a gente mais lembra de uma da nossa cultura. Eu digo que é conectada com [a cultura] amazonense, porque são coisas que a gente comia na infância e continua comendo até hoje. Pouca coisa que eu comia na infância, eu não como hoje, como… A diferença é que na minha época você tinha que catar a espinha do peixe, né, não tinha essa facilidade do peixe sem espinha e tudo. Todo mundo brigando ali pela costela do peixe, que a espinha é maior, e hoje o pessoal briga pelo lombo do peixe, porque o pessoal não tira a espinha da costela, mas tira a espinha do lombo. Então, hoje, o pessoal briga pela espinha do lombo. Era muito isso: o tambaqui, o matrinxã, o pirarucu, o tucunaré. Sempre comendo o tucunaré, mas, frito, né, com limãozinho ali; o pirarucu também, fritinho. Já o tambaqui, é o tambaqui assado; o matrinxã, assado. É uma cultura muito amazonense. Uma matrinxã, que aquela matrinxã, que ela é recheada, né? Você pega matrinxã ali, ela é fechada e você recheia ela com alguns… Como se fosse um vinagrete. E assa ela com esse recheio, né? Você costura ali a barriga e assa ele, assim, e quando sai, sai aquele vinagrete bem quentinho, bem gostoso. E de sobremesa, a gente comia muito, né - eu, pelo menos, na minha infância, comia muito -, açaí. Hoje eu não como tanto açaí como comia naquela época, mas a gente comia muito açaí, era a sobremesa, é a sobremesa do amazonense. E além disso, questão de infância, acho que para o amazonense vai além da comida, a gente tem uma parte assim, meio fitoterápica, né, de remédios amazonenses, então sempre ali, óleo de copaíba, óleo de Andiroba: “Pô, o cara tá com a garganta inflamada; mete óleo de andiroba na garganta ali, para ficar bom e tal, com mel, com um pouco de gengibre”. Ou então óleo de copaíba, ali com alguma coisa, que você usa meio que como repelente, né, passa ali como repelente. Ou óleo de copaíba…, é também um pouco como óleo de Andiroba para você beber, para você passar na garganta quando tá ruim. Eles usam muito, também, o óleo de copaíba junto ali com algum shampoo e tal. A gente já usava, assim, nessa época. Então tem muita coisa, algumas ervas também. A gente não usava muito, mas tem aqui a técnica unha de gato. Então tem muito isso que a gente usava, que a avó dava para a gente: “Ah, menino, bebe isso que faz bom, porque vai fazer bem para ti. Menino, bebe isso aqui”. “Ai, o menino tá doente. Dá para ele um pouco de óleo de copaíba, pinga um mel, pinga um limão, e tal, e o menino vai ficar bom”. Então a gente tinha muito esse saber da floresta, né? Dentro, quando a gente ia se tratar, [por] exemplo, né, aqui na época da Covid, o pessoal: “Rapaz, tu tomas mastruz, toma um pouco de mastruz com leite, isso e aquilo”. Então a gente além de tomar os remédios normais, digamos assim, a gente toma os remédios dos saberes da floresta.
P1 - Quando criança você tinha algum sonho, de ser alguma coisa quando crescesse? Pode ser alguma coisa absurda também, tipo super-herói, sabe?
R - (risos) Cara, eu vou… Acho que quando eu era criança, gostava muito… Acho que eu não tinha muita essa percepção, assim, de o que eu quero ser. Tinha coisas que eu gostava de fazer; gostava, assim, quando eu era muito pequeno, eu gostava muito… Acho que foi pelo fato de brincar na rua e tudo: eu gostava muito de esportes, né? Então, é engraçado que eu nunca fui muito do esporte do brasileiro, né? Porque se você falasse assim: “Cara, qual esporte do brasileiro?”, o esporte do brasileiro é o futebol, todo mundo fazia fila para quem [iria] jogar futebol. E, assim, onde eu me destaquei, nunca foi no esporte do futebol. Eu joguei muito, por um tempo… Comecei jogando tênis de mesa na minha escola, gostava muito, e tinha umas pessoas assim, que eu olhava e falava: “Pô, esse cara!”. Na minha época, era o Hugo Hoyama, o nome dele, ele até veio aqui para Manaus para uma apresentação lá no Studio 5, e aí eu acabei conhecendo ele, porque o nosso treinador, ele conhecia o Hugo. E aí, depois disso, eu até consegui bolsa na escola, consegui meia bolsa por causa disso. Eu estudava numa escola aqui, que é uma escola, também, cristã e eu entrei como bolsista, porque a igreja da minha tia podia ter algumas meias bolsas. Só que depois de um tempo, pelo fato de a gente não ser membro lá da igreja, a gente meio que foi, assim, era preferencial para quem era membro da igreja, aí eu acabei conseguindo uma meia bolsa ali, sendo da seleção, né, de tênis de mesa, aí consegui ir ficando na seleção e depois eu falei: “Pô, quero ir para o esporte mais coletivo, assim”, e o meu primeiro pensamento era o vôlei, só que não tinha vôlei. Eu sempre gostei muito de jogar vôlei, [mas] na minha época não tinha. Então, sou daquela época do Giba, do Tande, eu gostava muito de acompanhar esses caras. Eu ainda acompanho hoje, ainda gosto muito de acompanhar, só que não tinha. E aí eu fui para o handebol, e aí também, mesma coisa: eu fui para a seleção de handebol, uma equipe mais coletiva, [e] a gente acabou ganhando aqui o jogo das escolas particulares. Então acho que eu sempre, meio que quando era pequeno, gostei muito de esporte, tinha esse pensamento de querer ser um atleta ou algo nesse sentido. Mas depois veio sempre uma vontade de empreender, acho que isso surgiu com meu pai. Meu pai sempre teve uma cabeça meio, assim, de querer ter o próprio negócio, da gente ter…, no restaurante e nesse… Quando a gente teve um restaurante e essa pizzaria junto, essa vontade de empreender sempre cresceu dentro do meu coração, essa vontade de: “Poxa, eu quero ter alguma coisa, quero fazer parte, né, de uma empresa. Não quero simplesmente estar, mas…, eu quero ser parte dela”. E aí eu entrei no Idesam como estagiário de marketing e assim você se sente parte, mesmo não sendo sócio nem nada, me senti parte daqui, me sentia responsável pelo Café Apuí, e fui crescendo até a oportunidade de abrir a Amazônia Ecoflorestal junto com Mariana. E aí esse sonho de empreender está sendo realizado, né, de uma forma até maior do que a gente imaginava, porque tem um propósito muito grande. Então você empreende, numa empresa que é um negócio de impacto, que gera um impacto positivo para Amazônia, que é o lugar onde a gente tem a nossa história de vida, né? Você olha para sua história de vida, e pô, pelo menos a minha história de tá sempre na floresta, de pular no rio, então, de passar o dia de “bubuia”, que a gente chama aqui, passar o dia de “bubuia” é passar o dia no rio. Cara, o povo diz: “Menino, tu vai virar peixe, de passar o dia nadando no rio!”. E a gente, assim, ama a floresta, então poder tá fazendo um trabalho que regenera [a] floresta, que valoriza a agricultura familiar, que valoriza os produtores, é algo que realmente… E poder empreender, que é um sonho que está se realizando, que está sendo construído e que me faz muito feliz mesmo!
P1 - Voltando um pouquinho, você tem lembranças da escola, [de] algum momento marcante?
R - Bom, acho que os momentos da escola, assim, acho que, eu tive duas experiências, eu estudei tanto em escola particular, boa parte da minha vida, quanto estudei na escola pública também. Eu acho que as partes interessantes da escola particular, para mim, sempre foram os campeonatos. O resto, assim, é uma escola que te educa, né? É muito… Porque assim, eu acho que para mim, o que mais me marcou foi o choque de realidade. Quando você tá numa escola particular e você vai começar a escola pública, vê o choque de realidade [e] fala: “Cara”. Exemplo: na escola pública que eu fui, que é uma escola aqui no Amazonas, chamada, olha o nome, Aldeia do Conhecimento é o nome da escola, e ela é uma escola considerada, assim, boa, não é uma escola ruim, e nem uma escola top, das escolas públicas, mas é uma escola boa; e eu cheguei lá no terceiro ano do ensino médio, e assim, a matéria que estavam ensinando lá, eu já tinha aprendido na oitava série! Então, assim, para você ver o choque que é, como realmente o governo precisa valorizar mais as escolas, né, as escolas públicas, porque realmente vira uma desigualdade gigantesca. Quem está na particular, acaba subindo cinco, seis degraus; quem está na escola pública precisa ralar muito mais para conseguir ser competitivo. Então acho que isso foi uma coisa que me chocou muito. Mas eu digo sempre que eu fui uma pessoa, um cara de alma de escola pública estudando em uma escola particular, porque eu nunca fui um cara muito rico, como eu estava falando, nasci em uma família de classe… Nada nunca faltou, a gente sempre conseguiu, mas também não era uma pessoa que… O outro estava viajando sempre; eu acho que eu viajei com os meus pais uma vez, assim, de avião. Então eu era um cara com alma de escola pública numa escola particular, tanto que a gente só conseguia estar lá, porque a gente tinha meia bolsa e os meus pais faziam um esforço danado para conseguir manter a gente lá. Mas o que mais me marcava na época da escola particular eram os campeonatos, eu gostava muito de estar na seleção, de estar jogando, de estar competindo. Eu sempre fui uma pessoa muito competitiva, então quando eu estava nas competições, era o cara que me entregava cem porcento. Eu acho que uma das coisas mais marcantes é que eu era visto como um cara calmo, na sala assim. Sempre fui muito meio bagunceiro, nunca fui um cara que senta lá na frente. Fui um cara que bagunçava, mas tirava nota boa, passava, então eu era essa pessoa, um cara mais tranquilo. Mas quando eu estava competindo, era um cara muito estressado. Chegou a ter situação de ser expulso, não da escola, de jogo. Ou então assim: teve uma época que eu fiquei tão chateado com o juiz lá, que eu não pude jogar o resto dos jogos internos, lá do Ida Nelson. Tipo assim, faltavam uns dois, ou três jogos, então eu ficava muito… Me estressava muito, era muito competitivo na época dos jogos. Na época da escola pública, eu digo que… Na época que eu mudei para a escola pública, foi a época que eu falei: “Cara, realmente, assim, são as pessoas que eu olho e falo: 'São pessoas que estão mais conectadas'”. Por quê? Porque na época que a gente abriu o restaurante e a pizzaria… Eu digo que meu pai nunca passou a mão na nossa cabeça, sempre a gente… Ele sempre foi uma pessoa que falou assim: “Tu tem que ter responsabilidade com isso, tem que ter responsabilidade com aquilo”. A gente sempre fazia a tarefas dentro de casa, tipo assim: “Ah, tem a mesada aqui do mês, mas se você não fizer as tarefas de casa, que é tirar nota boa, varrer o chão, lavar a louça, limpar as folhas, tudo, você não vai ganhar, vai ficar sem!”. Então sempre criou essa responsabilidade da gente valorizar o trabalho. E muito novo, já com quinze anos, a gente começou a trabalhar lá no restaurante, e aí eu estava no ensino médio. E assim, na escola particular, ninguém trabalhava, assim, ninguém. Parece que era só eu de todos os meus amigos, só eu trabalhava. Então eu me sentia um patinho fora da lagoa. Aí quando eu fui para a escola pública, já foi totalmente diferente; quase todo mundo já fazia alguma coisa, já trabalhava na banquinha, já tinha um negócio na rua, já fazia um menor aprendiz, já estavam se virando, né? E eu tinha muitos amigos que me chamavam para: “Pô, vamos para cá, para essa escola”. Já tinha amigos dentro dessa escola, então me sentia até mais em casa na escola pública do que na escola particular. E eu acho que o último é esse choque de realidade, assim, que você fala, “Cara”, realmente você vê e fala: “Nossa, a escola pública está há alguns anos atrasada, e a competição fica realmente desigual”. É para quem tem oportunidade e valoriza a escola particular, né, porque tem gente que tá lá e não estuda, não faz nada, então não tem… Mas para quem valoriza a escola particular, o cara sai muito na frente.
P1 - E você tinha alguma matéria favorita? Professor favorito?
R - Olha, eu sempre… Vou falar assim, de coração, eu sempre quis ser bom em números, acho que pelo fato de meu pai ser economista. Então, ele sempre foi muito bom com números, com conta, mas [eu] nunca me dei bem. Sempre me dei bem mais em coisas de relacionamentos, né? Então a matéria que eu gostava era… Acho que eu gostei muito, assim, de… eu gostava muito, vou falar aqui, português, mas foi na época que eu realmente consegui aprender a redigir um texto, ou então a ter uma língua, porque você tinha oportunidade de apresentar. [Por] exemplo, na minha escola você tinha aula de literatura, então a gente lia, né, aquele Dom Casmurro, [do] Machado de Assis, lia esses livrinhos assim, e aí você tinha oportunidade de interpretar, de falar alguma coisa e tal. Eu sempre gostei muito, sempre fui um cara que nunca tive medo de apresentar trabalho, eu sempre era… [Tinha] o cara que falava assim: “Gente, eu tenho medo de apresentar, então eu vou fazer o texto”. Eu falava: “Não, então eu apresento. Se vocês vão fazer o slide, eu apresento. Eu me garanto na apresentação”. Sempre fui essa pessoa, que teve essa facilidade. Então foi uma matéria que eu gostava bastante, quando eu comecei a realmente entender. Qual foi a época que você fala assim: “Jonatas, qual foi a época que você realmente começou a entender essa matéria?”, foi quando eu entrei no ensino médio. Eu comecei a fazer cursinho em um local aqui em Manaus, que é o Alfa Cursos, e aí ele dividia português em três, que era português normal, orações, frases e tudo, literatura e redação. Então tinha esses três, e eu comecei a realmente a entender, gostava muito da oração subordinada, disso, daquilo, então acho que muito influenciado pelos meus professores. Eu tinha um professor, que era o Wellington, que eu digo que foi o melhor professor de português que eu já tive na minha vida, e ele me fez amar a matéria de português. E já no Ida Nelson, eu gostava de matemática, mas eu acho que assim, o gostar veio pela influência dos professores. [Por] exemplo, lá no Ida Nelson eu gostava muito de matemática, mas, porque, meu professor era muito bom. Então assim, quando você começa… Eu acho [que] tem muito essa ligação [de que] você não sabe que gosta da matéria até entender, e às vezes o entender vem do professor. E eu tinha uma outra professora que eu acho que ela foi o start... E aí falando de português e de matemática, mas eu acho que de central mesmo é história, eu sempre gostei muito, assim, e quem me deu esse start foi a professora Luciene, no Ida Nelson. Ela era uma professora muito boa, e aí ela vinha falando sobre o descobrimento do Brasil e tudo, e sempre gostei assim, gostei de entender sobre a história, sempre gostei muito de ler a história, de entender sobre a história, principalmente a história do mundo, então, entender como é: porquê aconteceu a primeira guerra, porquê aconteceu a segunda guerra, a república do café com leite, como é que foi essa coisa da abolição da escravatura. Sempre querendo olhar os dois lados, não procurando simplesmente a história que é contada. A questão da arte, eu até estava em uma visita ultimamente, e ele falou, né, que as pinturas um pouco mais modernistas ali, os artistas que vinham para o Brasil, eles pintavam… Assim, ali, uma pessoa tá fazendo ali uma, tá minerando ouro na época do Brasil, na época do Brasil que tinha muito ouro, e aí o artista fazia ali uma pintura. Só que se você analisar aquela pintura, você fala: “Ele pintava a escravidão de uma forma muito pacífica, parece que a coisa estava acontecendo de uma fluidez muito grande”. Então eu sempre, quando eu escuto isso, quando eu aprendo isso, fico muito entusiasmado, e isso vem reverberando muito no Café Apuí. Por quê? Porque você acaba conhecendo a história dos produtores, a história do município, como que ele surgiu, pelo fato de que o Brasil estava querendo o meio que colonizar essa área aqui do Amazonas, que não era, então ele falou: “Cara, tem terra lá para cima e quem quiser a gente está dando, mas é isso, vai lá pegar”. Então era meio que isso, a época foi meio que, da ditadura, então se você pega o município de Apuí, tem muitos produtores que vieram do Espírito Santo, muita gente que veio do Sul. Então eu acho que essa parte de gostar da história fez eu amar muito e trazer muito para dentro de mim a história do município, do produto, dos produtores, da empresa [e] da Idesam fez eu internalizar isso muito forte pelo fato de gostar de história e história bem contada.
P1 - Como assim queriam colonizar essa região?
R - É porque na época da Ditadura, uma das coisas do governo era: “A gente precisa ampliar aqui a nossa… A gente precisa dominar as áreas”, entendeu? E aí, se você pega ali na época do Brasil, era muito república do café com leite, então era Minas, São Paulo, você vai descendo, as áreas aqui de cima eram tipo… É a área do Brasil, é do Brasil, mas assim, tá muito distante, e aqui no Amazonas era [só] Manaus, que é a capital, mas o Amazonas é muito, infinitamente maior, um continente. Se você pegar o Amazonas, é um continente. Então assim, ele falava: “Olha, a gente tá querendo povoar alguns territórios”. Mas como é que você faz para povoar território? Então o governo começou a dar territórios pra… Assim, sabe como tem projeto do governo que fala assim: “Ah, a gente vai construir um bairro aqui, construir casa, a gente dá a casa para você”? Era uma coisa muito, meio que, parecida com isso. “A gente dá o território, mas lá você vai plantar o que você tiver que plantar, fazer o que tiver pra subsistir”. E assim que começou a história do município de Apuí, não sei dizer se foi o início, mas foi talvez o punch que o município precisava para crescer, e por isso que o município tem uma atividade que, se você for pegar os outros municípios do Amazonas, é uma atividade bem diferente, é uma atividade que não é uma atividade clara amazonense. [Por] exemplo, lá tem uma cultura forte de café [e] no Amazonas a gente não tem uma cultura forte de café, mas você tem uma cultura forte de café no Espírito Santo. O Espírito Santo é um dos maiores produtores de Café Conilon do Brasil e tem muitas pessoas, muitas famílias que vieram do Espírito Santo para o Amazonas, e estão no município de Apuí hoje, e eles trouxeram essa cultura do café. Exemplo, outra: teve muita gente, até gaúcho, que veio para o Amazonas, tem muito. [Por] exemplo, o torrefador local hoje, Seu Estevão, que é o nosso parceiro, que compra, abraça o projeto, ele até faz parte da empresa Amazoneiro Florestal, ele veio de família sulista. Ele é sulista, tanto que ele tem sotaque. Se você for conversar com o Seu Estevão, ele tem sotaque sulista. E o que os sulistas trouxeram? Os sulistas mexem muito com carne, então, pecuária - chama pecuária -, por isso que o município de Apuí é um dos municípios que mais desmatam o Amazonas, por causa da pecuária extensiva. Tem muita pecuária aqui. Aqui, eu tô falando de Apuí. Eu tô em Manaus, mas estou falando de Apuí. Tem muita pecuária em Apuí. Tem muita, então, assim, por causa da pecuária extensiva que você derruba floresta para fazer pasto, o desmatamento é muito alto, tanto que naquela questão do… Naquela época dos focos de incêndio, eu acho que ali, em 2019, sabe, estava com muito incêndio na Amazônia, Apuí foi o que teve mais foco de incêndio. Não foi o que teve mais área, mas foi o que teve mais foco de incêndio, muito por causa disso, por causa da pecuária. Então por que que se criou, por que que se teve uma cultura de pecuária no município de Apuí? É porque as pessoas que vieram para Apuí não eram pessoas que tinham cultura de conhecer a floresta e entender como você monetiza a floresta, então eles trouxeram cultura que eles conheciam, a pecuária, e isso, infelizmente, a pecuária é uma atividade muito predatória. Mas se você for pegar o município de Apuí, são duas atividades que falam assim: "É economia local”. É pecuária, e aí você pode botar tanto carne, como leite, queijo, iogurte e o café.
P1 - E o café, ele é recente? Ele chegou só depois?
R - A cultura do café, não. Desculpa, acabei olhando aqui, vou falar de novo. A cultura do café, não. A cultura do café, ela veio desde essa época, então ela é uma cultura antiga, o que é novo é a cultura de café sustentável. O Café Apuí é o primeiro café sustentável da Amazônia brasileira, então o município de Apuí, ele já tinha uma cultura de café. Quando a gente fala cultura, quer dizer que já tem há um tempo. Já tinham produtores que plantavam café, que eram os cafeicultores, que vendiam. Existia uma economia local bem exploratória, assim, mas uma economia local de compra de café. E depois veio essa intenção de: "Poxa"... Pelo fato de o município ser de uns altos índices de desmatamento, a vontade de trazer uma atividade sustentável, uma atividade que regenera a floresta, uma atividade que valoriza o produtor, que valoriza a agricultura familiar; e assim veio o Café Apuí Agroflorestal, que é em conjunto com os produtores. A gente aprendeu uma forma de fazer o café mais produtivo e de forma sustentável, que regenera. E como a gente chegou nesse município de Apuí? Lá no município, tinham produtores de café que estavam desistindo da atividade de café, não queriam pelo fato de um pagamento não bom e pelo fato de que tinham áreas pouco produtivas. Produtor tirando nove sacas por hectare, assim, não estava valendo o esforço e isso estava fazendo com que eles migrassem para a atividade predatória, sendo pressionados pelo mercado mesmo. Qual é a atividade predatória? Se tornarem pecuaristas, né? Então estava fazendo eles desistirem, e aí muitos produtores estavam abandonando os cafezais, mesmo. Numa dessas atividades, a gente foi lá no município visitar a área de uma produtora e chegando lá, o cafezal estava abandonado. E aí, como você "abandonou" o cafezal, ele não estava manejado, então teve umas árvores ali que cresceram em volta, a embaúba, que é uma árvore que cresce, de rápido crescimento, e sombreou o café. A gente tirou o fruto daquele café e quando foi fazer a análise, descobriu que aquele café estava melhor do que o café normal, o café tradicional, o café que é plantado normalmente, e falou: "Cara, por que esse café está melhor?". Era quase que ali… A mãe natureza [estava] ensinando para gente o quê? Que a gente precisa da floresta para ter um café melhor aqui, porque o clima aqui, ele é um clima quente, ele é um clima úmido. Se você… Você precisa criar um microclima, precisa sombrear o café. [Foi] isso que aconteceu: a embaúba sombreou o café e fez com que ele maturasse no tempo correto. E isso que aconteceu, então falou: "Pô, é isso que a gente precisa fazer. A gente precisa de um cafezal que seja sombreado". E assim nasceu o Café Apuí Agroflorestal. A gente fala: "Pô, agroflorestal parece uma palavra difícil", mas ela é bem simples, ela é agricultura-agro+floresta-florestal, agroflorestal, então você planta o café em consórcio com árvores nativas. Porque às vezes existe uma dúvida: "Tá, mas você vai lá no meio da floresta, no meio das árvores plantar o café?". Não, (risos) a gente regenera áreas degradadas ou, então, transforma cafezais. Exemplo, você tem uma área que não tem nada, a gente pode transformar aquilo em uma área de café agroflorestal, do zero. Você planta o café e em consórcio você planta árvores nativas da região, como copaíba, andiroba, ingá, banana, você planta isso em consórcio com árvores nativas da região. Que elas vão fazer o quê? Vão regenerar a floresta, então, criar uma economia de baixo carbono e também vão sombrear o café e fazer com que ele se torne um café de qualidade. Porque quando você não sombreia o café, ele matura no tempo errado, ele fica vermelhinho por fora, e fica verde por dentro, então ele não matura no tempo correto. O sombreamento do cafezal faz com que ele mature no tempo correto. E foi assim que se criou essa cultura, né, de café agroflorestal no município de Apuí. Eu posso dizer que hoje é uma cultura [em que] nós temos 96 hectares de café plantado e esse ano vamos plantar mais setenta hectares. A intenção, em cinco anos, é que a gente tenha pelo menos trezentos hectares de café agroflorestal plantados e café certificado com selo de orgânico. Então a gente está criando essa cultura… Já existia uma cultura de café, mas agora está se criando uma cultura recente de café sustentável.
P1 - Interessante. Voltando um pouquinho… Depois a gente volta para o Café Apuí. Na sua juventude, assim, na adolescência, mudou muita coisa na sua vida? Da infância para a adolescência? As coisas que você fazia, assim, seus hobbies?
R - Acho que mudou. Da infância para adolescência, acho que você fica um pouco mais livre, né, o pai deixa, não fica tanto no pé ali, então você consegue fazer… Mas acho que na minha adolescência foi muito [a parte de] tecnologia. Acho que a geração dos anos noventa pegou muito essa mudança, porque eu me lembro que quando eu era menino não existia celular, internet, não tinha. E eu, assim, me considero um jovem ainda, tenho 26 anos, então, mas peguei essa época, não cresci com celular, eu não cresci com internet. Quando eu era pequeno, exemplo, dos nove, dez aos onze anos, não tinha isso. O que a gente tinha era TV, e sem ser TV a cabo, só TV, você assistia a Globo, Fantástico, TV Globinho, ali o SBT, esses desenhos, e brincava muito na rua, e brincava em casa de bola, disso e daquilo. E o que mudou foi que, quando a gente foi crescendo, a tecnologia foi mudando, então você já tem um celular, brincava de joguinhos de celular, de videogame. Videogame era uma coisa que quando eu era mais novinho, [tinha] nove, dez anos, não existia. Para brincar, você tinha que ir lá na banca do Seu João, que ele tinha lá o negócio do… Como se fosse um coisa, do Street Fighter lá, né, [fliperama], você comprava a fichinha e colocava lá e jogava com os amigos, né, não tinha esse console que você leva para casa. Então isso foi uma coisa que fez a gente meio que sair das ruas, né, [ficar] muito viciado em videogame: ficava jogando videogame o dia inteiro. E a internet foi uma coisa que mudou muito, assim, da minha infância para minha adolescência, de a gente ter internet, de poder conversar com as pessoas pelo Msn, criar o Orkut e fazer lá o seu personagenzinho do Orkut. A TV a cabo também, a gente conseguiu colocar TV a cabo aqui, que você fala: "Caramba, quer dizer que a TV tem mais de cinco canais?”, e pôde ter vinte, trinta canais. É uma coisa que mudou muito da minha infância para minha adolescência. Mas em questão de hobby é isso, eu fui deixando um pouco os hobbies de brincar muito na rua. Assim, claro que eu brincava, mas, é porque eu continuava indo para casa do meu primo, eu continuava visitando. Mas é que a galera queria: "Ah, vamos jogar videogame?", aí a gente já não estava mais reunido na rua, estávamos reunidos na casa do Matheus, na casa do Fábio, na casa do menino para jogar videogame. Então isso mudou um pouco. E também, em questão de outros hobbies da minha infância para minha adolescência, é que eu comecei a gostar muito de acompanhar esportes. Não só jogando, mas, assim, eu comecei a acompanhar esporte, saber quem é o jogador, olhar as estatísticas e falar: "Ah, esse jogador é bom nisso, esse jogador é bom naquilo". Assistir esporte, sempre gostei muito disso. E também da minha infância para minha adolescência eu acho que uma coisa que mudou muito é o trabalho, né? Eu sempre… Eu acho que para mim, você olha o trabalho quando é pequeno, você acaba olhando o trabalho como um hobby, aí fala: "Ah, você está ali trabalhando umas quatro horas, cinco horas por dia". Você gosta dessa coisa nova, um pouco da responsabilidade, ou até de estar ganhando o seu próprio dinheiro. Então foi uma coisa que mudou muito da minha infância para minha adolescência, assim. E também de sair! Quando eu era pequeno, não podia muito sair, porque você é pequeno, então você pode ir ali brincar na casa da sua tia, brincar na rua, mas você não pode sair. Quando eu cresci, já para minha adolescência, com dezesseis, dezessete anos, você já consegue ir para um cinema com os amigos, ir para um lanche, um rodízio - na época, não tinha muito rodízio não, era comer um lanche -, ir para outro lugar, para um banho, aqui para alguma chácara. Você tem um pouco mais de liberdade para fazer coisas que tinha muita vontade, que você via o seu irmão mais velho, ou quem era mais velho fazer, e você não podia, a não ser que você fosse com seus pais e fazer também. Aqui em Manaus também teve um boom uma época de parque aquático aqui. Então aqui não tinha muito [quando eu era criança], e quando eu fui crescendo tinha. Tinha o Selva Park aqui, tinha o Acqua Park, tinha o City Park, o City Park tem até hoje. O Acqua Park foi vendido, mas ele ainda funciona com outro nome. Então teve muito esse boom. Eu comecei a visitar muito esses parques aquáticos que tinham aqui, então a gente, foi meio que, deixando um pouco de ir para o interior e foi [pegando] essa influência da modernidade. Começou a deixar muito de ir para o interior, para ficar visitando parque aquático. Mas depois a gente… Isso foi por um tempo, depois a gente começou a visitar o interior de novo. Acho que a vida é de momentos, né, e nesse momento, a gente estava visitando muito esses lugares que eram novidade.
P1 - E depois da experiência do seu primeiro emprego, de terminar a escola, você pensou em alguma profissão que queria seguir?
R - Eu queria fazer algo voltado para a área de marketing, sabe, de vendas, de comercial, de relação com pessoas. Eu sabia que não queria um trabalho onde eu sentasse na frente de um computador o dia inteiro e precisasse preencher planilhas o dia inteiro, eu não queria esse tipo de trabalho. Eu queria um trabalho onde, assim, você precisa fazer algo administrativo, mas precisa estar com algum tipo de relacionamento, algo mais vivo, mais livre. Então eu pensei: “Cara, preciso ir para a área comercial, para a área de marketing, ou para área de vendas.” Queria fazer algo nisso, mas sempre com o pensamento de empreender. Às vezes, a gente fala de empreender, parece algo de você precisa abrir uma empresa, mas eu vejo que não: às vezes, você é um empresário dentro de uma empresa, você é um empreendedor, você lida com aquilo como se fosse seu. E eu sempre tive essa cabeça, assim, cara, eu trabalhei com o Café Apuí: “Isso é meu, é responsabilidade minha. Eu vou lidar como se isso fosse meu. Isso é meu!”, então eu me apropriei de trabalhar para o Café Apuí. Eu sempre tive essa vontade de ter um trabalho onde eu possa me relacionar com pessoas. E eu sempre tive uma vontade de poder, assim - parece algo bobo, né? -, eu sempre tive muita vontade de viajar a trabalho, muita vontade! Tipo, que o meu trabalho me proporcionasse essa experiência de conhecer outros lugares, de não ficar preso, sabe? Porque, às vezes, a gente vê trabalhos que é isso: você é aquilo, tem que estar naquele lugar, naquele momento, e não tem tanta liberdade. Se você viaja a trabalho, tem mais liberdade, ele te proporciona. Eu acho que isso um pouco é pelo trabalho do meu pai. Meu pai viajava, não toda hora, mas pelo menos umas cinco vezes no ano ele viajava a trabalho e eu achava aquilo muito legal, muito incrível. Assim, sempre gostei daquilo. E o Café Apuí me proporcionou isso, me proporciona isso até hoje. Exemplo, domingo a gente estava em São Paulo na Naturaltech, que é a maior feira de produtos orgânicos e naturais da América Latina, e a gente foi pelo Café Apuí. No Café Apuí, eu já fui para São Paulo algumas vezes para poder, né… [Já estive em] alguns eventos e também para poder conhecer lojistas, para fazer curso. Fui para o Rio de Janeiro também, para um evento no Rio de Janeiro, que a gente vai todo ano em conjunto com o Sebrae - o Sebrae é muito nosso parceiro -, e a gente tem lá um evento que é o Green Rio, que é uma feira de produtos naturais também. É com um mapa, que o Ministério da Agricultura, a gente foi em conjunto, pôde visitar a Feira Internacional do Café, que é em Minas Gerais. Em Minas Gerais, acontece a Feira Internacional do Café. E dessa vez foi muito legal, porque eu fui com um produtor, fui com Seu Gilmar, fui com ele, como produtor, a gente foi junto e conheceu essa feira. Fui em Apuí, já fui em Apuí também [e] foi muito legal, muito transformador visitar Apuí. Eu levei um aninho para ir em Apuí, e aí quando eu fui em Apuí, é muito transformador você chegar lá, conhecer todos os produtores pessoalmente, visitar as áreas, é você ter essa experiência de tá no interior do Amazonas. Então, já fui em Belém também a trabalho. Então, assim, me proporcionou [a] experiência de ter me proporcionado experiências assim, de que… De conhecer novos lugares, de conhecer novas pessoas, de conhecer novas culturas, de conhecer o Brasil, de conhecer partes do Brasil. Então isso tem sido muito legal, porque era um sonho meu [de] fazer isso.
P1 - E logo depois do seu primeiro emprego… Café Apuí foi o segundo?
R - Segundo emprego. Eu tive um emprego que, quando eu comecei a trabalhar com os meus pais, assim, é porque eu coloco trabalhar com os meus pais como o meu primeiro emprego, mas dentro disso eu fiz muita coisa. Eu comecei… Eles tinham uma pizzaria, então eu fiz de tudo. Como eu estava falando anteriormente, meu pai nunca passou a mão na nossa cabeça, eu que achava. Então quando ele abriu o restaurante, eu falei: “Nossa, vou ficar ali só fiscalizando o trabalho”. Nada. Meu pai chegou e falou: “Olha, é o seguinte, tu vai cortar tomate, vai ser auxiliar de pizzaiolo, é isso que tu vai ser. Tu vai cortar tomate, vai fazer massa”. E aí eu fiz isso. Aí depois fui crescendo e tal, aí já estava fazendo pizza. Depois eu fui ser garçom, estava atendendo lá no salão. E eu acho que foi aí que deu esse clique, eu gostava… Quando eu fui garçom, acho que foi a época que eu mais gostei, que eu estava lidando com pessoas, estava atendendo pessoas e você aprende a se relacionar com as pessoas, tanto com aqueles que são muito fácil de se relacionar, quanto com aqueles que não são fáceis de se relacionar, a gente sabe que tem cliente para tudo. Então foi ali que deu esse start, assim, de gostar de conversar, de saber, de atender. Então, eu fui garçom e depois a gente abriu um lava jato também. No lava jato, eu fui ser lavador de carro, fiquei por um tempo lavador. Aí depois já estava mais ali atendendo os clientes, fazendo aquela recepção quando os carros chegam, fazendo aquela recepção e tudo. Então trabalhei com isso, e aí depois sim, depois a gente fechou, e eu fui para o segundo emprego, né, porque eu já tinha feito muita coisa lá dentro do negócio que os meus pais tinham. Fui para o Café Apuí e aí foi o meu segundo emprego. Entrei como estagiário de Marketing, e aí tive toda a oportunidade de crescer. Então, depois eu virei assistente, depois entrei para o projeto Cidades Florestais como analista de comunicação, e aí, no meio do contrato, veio a oportunidade de abrir a empresa, Amazônia Agroflorestal. Por quê? A gente via essa necessidade de quê? O projeto [do] Café Apuí, ele já era um projeto consolidado. Como projeto, ele já era um projeto consolidado: você movimentou uma cadeia, fez o manejo, você tem o produto e já está vendendo o produto. Então ele é um projeto consolidado, mas não um negócio consolidado, porque ele ainda não se pagava. Ele já tinha projeto, já tinha produto, já tinha tudo, mas não se paga, não se pagava. Então você precisava de cada vez [mais] recursos de projeto para manter a assistência técnica e tudo mais. E aí a gente veio e falou assim: “Cara, a gente acredita no projeto? Ele tem mercado? Então vamos abrir uma empresa e assumir o risco de garantir a compra, né?". Porque os produtores, eles, um dos receios dos produtores é: "Eu vou plantar, mas vão comprar de mim? Vão comprar a um preço justo?", então ela foi criada para isso, a gente garantir a compra total da produção dos produtores. Quem entrar no projeto vai ter a garantia de que ele vai ter a sua produção completa. A gente não vai chegar e: "Pô, esse ano não vai rolar, eu não vou comprar esse café". Não, a intenção é, o que a gente faz é, todo ano a gente compra toda a produção, para que o produtor não tenha que se preocupar com isso. Ele não tem que se preocupar em vender a produção dele, ele tem que se preocupar em produzir e a gente em garantir a compra. A gente criou essa empresa, e agora a gente está expandindo justamente para que, em alguns anos, ela se torne totalmente sustentável como um negócio, que ela pague assistência técnica, que ela pague toda a equipe do campo. Então, tudo isso, ela seja uma iniciativa, um negócio de impacto sustentável.
P1 - E você comentou, né, que você entrou no Café Apuí como estagiário, você fez Marketing? Por que você fez Marketing? Como foi essa decisão?
R - Eu até o segundo ano do meu ensino médio, eu ia fazer Administração, porque assim, eu falava: "Cara"... Eu fazia Administração por pensar assim: "Eu vou fazer Administração, porque, depois de um tempo, eu vou crescer aqui, e o meu pai vai ficar mais velho, e aí eu vou ter que começar a pegar mais essa parte gerencial do negócio. Então eu tenho que aprender a administrar". Estava pensando em fazer a Administração. E aí, quando foi no último ano, quando foi no meu terceiro ano do ensino médio, eu, por causa da empresa, a gente foi… A gente via: “Pô, a gente precisa entender um pouco mais desse negócio de"... Na época, já estava surgindo o Facebook, né, a gente falava: "Que negócio é [esse] Facebook?". Coisa tipo de 2012, sabe, 2013, falava: "Mas que Facebook é esse que o pessoal está falando? Vamos entender [primeiro] que negócio [é esse] de marketing. Eu não sei nem o que é marketing, imagine digital", então a gente foi entender. E aí a gente soube de um de um de um evento que estava rolando, da Neotrends, que era… Que foi criada pelo Arnaldo Rocha Neto, que é um cara, assim, que ele é muito conhecido aqui no Amazonas, falando sobre Marketing digital. Ele trabalhava na Ramsons, e depois ele saiu da Ramsons e abriu a própria empresa dele, e a gente chegou lá e ele falando sobre essa parte do Marketing. Porque na nossa cabeça… Na minha cabeça, era como: "Eu não quero ser, eu não quero seguir para publicidade e propaganda", que é aquele cara que vai para a agência. Então não era muito o meu perfil e eu falava: “Pô, mas [meu perfil] também não é Administração”, e eu ficava meio perdido. E aí quando eu fui para o Marketing, foi onde eu me encontrei. Porque eu falei: “Cara, o Marketing, você vai falar sobre planejamento, você lida com planejamento estratégico, com segmentação de mercado, com os quatro P’s - que são preço, praça, promoção e produto -, análise Swot - é uma coisa meio, de você analisar qual é o melhor posicionamento de mercado, de produto -, e aí sim, a partir disso, a partir dessa estratégia, você transformar ela em ações de promoção, de publicidade, de reposicionamento de mercado, de novos produtos, ou de capacitações”. Então tem tudo isso. E quando eu vi aquilo, além disso, ele falando dessa questão do Marketing digital, de site, de loja, de Facebook, daí foi quando deu o start, eu falei: “Cara, é isso que eu quero para minha vida, então eu vou começar a pensar nisso”. E aí foi quando eu comecei a procurar faculdade de Marketing. Aí, até hoje, a gente não tem faculdade de Marketing no currículo público, a gente não tem faculdade pública que tenha faculdade de Marketing em Manaus, não tem. O que a gente tem ou é publicidade e propaganda, ou é comunicação social, ou é relações públicas, mas você não tem uma faculdade de Marketing. E aí eu falei: "Pô, eu não quero [isso], quero fazer Marketing”. E aí eu fui e fiz Marketing em uma das únicas faculdades que tinham Marketing na época no Amazonas, que é a Uninorte, e aí fiz Marketing por dois anos, que era um tecnólogo, e depois eu já emendei, porque eu queria ter um currículo mais completo. Eu sabia que a faculdade tecnólogo é uma faculdade legal, mas não é tão completa, ela é mais dinâmica, digamos assim. E eu já emendei, fiz um MBA em Marketing também, então fiquei aí uns quatro anos: dois [anos] na faculdade e dois [anos] já fazendo o MBA em Marketing, publicidade e propaganda também, e foi isso a história do marketing. Porque o Marketing foi isso… Ainda sou muito grato ao Arnaldo Rocha, ele realmente foi a pessoa que fez eu ter vontade de seguir nessa área do Marketing. E aí a minha história com o Idesam foi essa; eu estava, na época, no meu último ano de faculdade e foi quando a gente resolveu… Eu me lembro que teve ali aquela crise, meio de 2015, a crise da economia, acho que depois um pouco da reeleição ali da Dilma, a gente entrou meio que em uma crise, o país entrou em uma crise em 2015 e aí isso prejudicou muito a gente no restaurante, porque é isso, o mercado ficou muito pequeno e a gente não tinha muito ainda conhecimento dessa parte, dessa revolução digital e tudo, então era muito aquele… Se o mercado, ali, dos arredores, ele não está bom, você não vai bem e isso foi o que aconteceu em muitos empreendimentos, clientes nossos fecharam na época e tudo, e a gente: “Cara, é melhor a gente sair enquanto a gente não tá, assim, a gente não tá meio que perdido, né? Então enquanto a gente não tá [perdido], vamos sair agora. Vamos, né, dar um passo atrás e tudo”. E aí foi quando a gente fechou. Quando a gente fechou eu falei: “Cara, eu já trabalho o dia inteiro, já tenho dezoito, dezenove anos, vou fazer quase vinte anos, não vou ficar parado. Enquanto eu não arranjar um emprego, [vou] fazer alguma coisa”, e eu entrei em um programa de extensão na faculdade, então eu chegava. Então minha faculdade era à noite, eu chegava na faculdade, tipo, meio dia, eu já estava na faculdade. Entrei em um programa de extensão lá que era com o meu professor, professor Fábio, e era como se fosse uma agência de Marketing experimental, então a gente tinha algumas atividades lá dentro de fazer pesquisa, de fazer estatística, de ir para algum lugar. Eu lembro que a gente estava fazendo uma pesquisa, uma análise das feiras em Manaus, então eu fui para a feira da Cachoeirinha, uma feira que é… Ela não fica na Cachoeirinha, ela é na Cachoeirinha. No outro dia, ela fica em outro lugar, são essas feiras que vão andando pela cidade. E a gente foi fazendo isso. Então eu aprendi muito nessa agência experimental, eu aprendi muito mesmo. Foi um lugar onde eu consegui aprender muita coisa sobre Marketing, colocar em prática, e fui fazendo isso, fui ficando, e todo o dia era isso, era a tarde toda lá pesquisando, aprendendo. Um belo dia o meu professor chega e fala: “Cara, eu te indiquei para um estágio aí, no Idesam, é uma Ong aí e vai lá, vê lá o que [é] que é”. E eu falei: “Quem é Idesam, quem é? Que é isso, cara?”. E aí fui pesquisar, vi o trabalho do Idesam, muito bom! E aí fiz, que bom, graças a Deus, passei na seleção e foi assim que começou a minha história com o Café Apuí.
P1 - E no seu trabalho atual como diretor comercial na Amazônia Agroflorestal, como é que é o dia a dia, a sua rotina?
R - Ah, que legal! A gente pode dizer que os negócios, pelo menos os negócios pequenos, que estão começando, você fala assim, “que você faz de tudo um pouco”, principalmente no início. Eu vou dizer que no início era uma equipe muito mais enxuta, então eu fazia muita coisa, eu era o diretor comercial, mas eu também estava atendendo o cliente, estava emitindo o pedido, estava fazendo a parte administrativa, estava lançando estoque, estava fazendo muita coisa. É aquela coisa, você bate o escanteio e chuta para o gol, né? Você tem que fazer isso, faz de tudo um pouco. Aprendi muita coisa, muita coisa mesmo: como lidar com sistema de ERP, sistema de CRM, como você aprender a mexer em um site, criar um site, criar um anúncio no Mercado Livre, muita coisa, muita coisa aprendi sobre isso, sobre soluções logísticas, essa parte de… Aqui no Amazonas tem muito desafio logístico, então, assim, aprendi muito a entender como que a gente pode criar soluções de logística, de ter produto, de chegar com um preço competitivo, de conseguir um frete mais legal, um frete mais barato, conhecer pessoas que entendem de logística para ajudar a gente. Então tem muito isso. E hoje eu vejo que o meu trabalho está um pouco mais voltado para o comercial, para essa parte estratégica,l. Hoje, que bom que a gente tem uma equipe maior. O João, que é o meu assistente comercial, então, ele lida com essa parte de um contato mais direto com os clientes, mais de rotina, então é na parte de emissão de pedidos e tudo, de notas fiscais, de controle de estoque, de lançamento de pedidos e isso me liberou mais para pensar um pouco mais sobre a parte comercial. Então o que eu faço hoje é justamente lidar com os clientes mais novos e as prospecções, o planejamento, o e-commerce, o que a gente precisa fazer. Mas, também, a gente ainda está em um processo… Como a gente ainda está em um processo desde o ano passado, um processo de crescimento; recebemos um investimento e a gente está em um processo de crescimento, então esse processo de crescimento de equipe, ele também te… Você precisa dedicar muito tempo a isso, porque quando está você e mais uma pessoa, você consegue controlar muito mais fácil, mas hoje a gente está em uma equipe de umas seis pessoas, então você precisa criar política, oficializar muita coisa, você não pode… Você precisa oficializar contrato, precisa ver com é que está a contabilidade. Então eu lido muito com a parte da contabilidade, hoje em dia, também, de estar junto com a contabilidade para entender se os números estão certos, se eles não estão certos, de ajustar alguma coisa dentro dessa área de decisões, o que a gente vai fazer no próximo ano, nisso, naquilo, de que forma a gente vai fazer, se a gente quer ir para uma certificação, ou se a gente quer ir para um novo produto, como a gente vai fazer a nossa comunicação e está perto da comunicação. Então, uma parte gerencial muito voltada para a parte comercial e de comunicação - então, comercial na parte gerencial -, como que a gente lida com os clientes, como a gente vai prospectar eles, qual é o nosso plano, e também tocando uma parte de vendedor também. Exemplo, aqui em Manaus a gente visita cliente, estou visitando cliente, vou lá conversa com ele, fazer uma degustação, que isso, tem um pouco disso, de comunicação, então sempre junto com a equipe, né, pensando na comunicação, então, fazendo esse briefing, pensando nele e tal. E aí a agência que era a que trabalhava com a gente, hoje, o Marcelo está executando e pensando também. Eu estava muito trabalhando na parte de e-commerce. Hoje, o Marcelo vem para somar nessa parte do e-commerce e na parte de operações. Então, com a entrada da Sara, que é nossa CEO hoje, já não precisou [de] ele lidar tanto com a parte administrativa, de contrato, de RH, mas lidou um pouco com a parte de operações, que é a parte logística, então, embalagem, produto, mandar embalagem para Manaus, comprar embalagem e trazer para Manaus, ou então mandar produto para São Paulo. Como que a gente manda? Chegando em São Paulo, como que a gente faz essa parte de operações? A gente muda, fica no nosso próprio fornecedor; a gente muda de fornecedor: "Ah, a gente quer fazer alguma coisa nova, a gente quer fazer um kit, a gente quer ter uma loja, a gente fazer…", "Tudo bem, é muito bonito, é muito legal, mas como que a gente operacionaliza isso?". Então eu me vejo muito dentro desse processo de operacionalização das ideias também.
P1 - Vocês tiveram ou têm algum tipo de parceria que possibilitou alguma capacitação para melhorar o trabalho de vocês?
R - Sim, a gente participou de algumas junto, começou com PPA, lá atrás, Programa de Parceiros Pela Amazônia, a gente participou de algumas capacitações, uma delas surgiu essa parte logística que está até hoje, que a gente fez um lab de logística, onde estava um representante do Mercado Livre, pessoas de São Paulo, pessoas aqui do Amazonas também, pensando em como que a gente se fortalece fora do Amazonas… Quer dizer, como é que a gente consegue se estabelecer no mercado de São Paulo, principalmente. Então, com PPA, a gente fez algumas… Fez também capacitações na parte de marketing, de pensamentos, de briefing, de branding do produto, também a gente fez com o Sinergia. O Sinergia, a gente teve algumas capacitações, e agora a gente tá com o pessoal do Amazônia Casa, Floresta Em Pé, que é uma aceleradora, é um projeto dentro de uma aceleradora, que é a (Mass?), e lá dentro a gente participa muito de… Que tem também as mentorias - chama de mentoria -, muito voltado para, como que a gente anuncia melhor o nosso produto, ou na parte de catálogo, ou até na parte de parcerias, ajudam a gente a encontrar parceiros de venda, ou parceiros logísticos, ou parceiros logísticos que não são os parceiros logísticos de entrega ao consumidor final, mas são os parceiros, tipo: "Como é que eu levo o meu produto do Amazonas até São Paulo?". Porque de São Paulo para lá é mais fácil, mas: "Como é que eu trago o meu produto do Amazonas até São Paulo?". Então tem essa questão e também, e também o pessoal do SEI, da biodiversidade, que é dentro do Mercado Livre, que a gente tem essas capacitações para deixar o nosso anúncio mais atrativo dentro do Mercado Livre. Então, tem ali o pessoal do… Eu acho que é o… Eu nunca lembro direito, mas eu acho que é Biomas, SEI Biomas, que tem uma equipe lá, o pessoal da, acho que, a Marcela que tá junto também, então a gente… Foi muito importante para a gente isso, dentro do Mercado Livre, porque a gente teve a oportunidade de entrar no mercado full, através dessa parceria, onde o Mercado Livre estava querendo…, tá querendo dar mais espaço para esses produtos sustentáveis, para esses produtos da sociobiodiversidade, não só amazônica, mas esses produtos mais sustentáveis. E aí a gente teve, através dessa parceria, a oportunidade de entrar no Mercado Full, que [é] a entrega mais rápida do Mercado Livre. A gente teve essa oportunidade de entrar, e hoje a gente tá lá, até hoje. Então é uma solução muito interessante para uma pessoa que está em São Paulo e quer comprar o Café Apuí, ela pede, se ela pedir ali cedinho, sete horas, oito horas da manhã, chega até no mesmo dia. Se ela pedir mais de tarde, chega no outro dia. Então isso é muito importante, você poder conectar, e poder desmistificar isso, que eu acho que é muito enraizado, que é: “Cara, eu quero comprar um produto da Amazônia, mas, pô, lá na Amazônia, em quanto tempo vai chegar?”. E às vezes tem essa coisa: “Cara, às vezes o frete para comprar um produto da Amazônia é mais caro, o frete é mais caro que o produto, de tão longe que é”. O frete é caro, demora para chegar, então o que a gente quer é isso, ajudou muito essa parceria com o Mercado Livre, o Mercado Full, desmistificar isso: “Não, você pode ter um produto da Amazônia hoje", se você pedir cedo, você pode ter hoje ele em casa, ou você pode ter ele amanhã. A gente se torna competitivo dessas parcerias que a gente vem trazendo, elas são muito importantes e têm trazido o resultado.
P1 - Você falou que aumentou as viagens também, para os lugares mais distantes. Tem algum lugar que o produto, o Café Apuí chegou que vocês nunca imaginaram que chegaria antes e agora é possível?
R - Sim, eu posso dizer que o nosso olhar para o Café Apuí sempre foi muito visionário, então a gente sempre acreditou que ele podia chegar em qualquer lugar do mundo, mas tem lugares, assim, que a gente chegou mais rápido do que imaginava. Exemplo, quando a gente foi fazer a nossa… A gente estava querendo criar uma logística em São Paulo, para entregar em São Paulo, procurando loja, procurando prestadores de serviço que pudessem assim: “Cara, eu quero impactar o mercado de São Paulo, para entregar em São Paulo. Para quem tá em São Paulo, eu quero entregar legal”. E aí a gente conheceu uma empresa, e eles estavam fazendo essa parte de parte de fulfillment, e essa empresa de parte de fullfilment, ela tinha parceria com uma outra empresa de entrega, que é uma empresa grande aí do Brasil, [que se] chama Total Express. A gente conseguiu acessar essa empresa, e aí quando a gente assinou o contrato com eles, a gente viu [que] a proposta não era São Paulo, a proposta era: “Cara, você pode entregar em qualquer lugar do Brasil se você quiser”. A gente falou: “Cara, tá, mas qual a quantidade?”. Porque a nossa visão era: “Eu quero entregar para o B2B, eu vou entregar a caixa, entregar a caixa, porque a gente sabe que pacote de café é mais difícil". E ele: “Não, vocês podem entregar um pacote se vocês quiserem”. Ele falou. Cara, então isso já deu um boom e a gente conseguiu atingir um mercado que a gente não estava pensando em atingir, que era Rio de Janeiro, Curitiba e até estados do Nordeste, como, Recife, que é a cidade, né, [em] Pernambuco. Então, assim, a gente conseguiu atingir mais rápido. E aí a outra era, a gente tinha uma vontade de exportar o produto, mas a gente sabia: “Pô, a gente precisa se preparar ainda para poder exportar.” E aí chegou uma empresa, que muito… Esses representantes, né, a empresa Euro Caps - acho que a gente não tenho nenhum problema em falar -, uma empresa super parceira, foi até Apuí, amou o projeto, e aí quando voltou, eles falaram: “Cara, eu quero comprar de vocês”. A gente falou: “Cara, mas a gente ainda não tem essa expertise de exportações”. Eles: “Não, podem deixar que a gente faz todo esse processo. A gente só precisa que vocês entreguem o produto em tal lugar”, e assim foi. Então, o café, ele já foi para Holanda, ele já ter ido para Holanda… Há muito… Já é a terceira vez que a gente faz. Esse ano, a gente vai fazer a nossa quarta venda para Euro Caps. Então a gente tem feito vendas desde 2019, tem feito 2019, 2020, 2021 e esse ano, a gente vai para nossa quarta venda, então o Café Apuí tá indo aí para a Holanda. A gente já mandou ele também… A gente fez uma outra parceria, que a gente mandou ele para a Inglaterra com uma empresa de cosméticos, e eles querem usar o nosso café para fazer o óleo do café e colocar no cosmético deles também. Então tem sido uma coisa interessante. Esse ano, a gente conseguiu fazer a primeira venda para eles, e a gente espera que agora, em 2022, a gente faça outra venda. Então a gente pode ver que mais rápido do que a gente imaginava, o café conseguiu alcançar lugares, tanto nacionalmente, que a gente não imaginava, quanto internacionalmente também. Então o café está viajado aí. Mas a gente quer atingir muito mais lugares, com certeza.
P1 - E a comunidade de produtores em Apuí, a vida deles mudou de alguma forma?
R - Com certeza. A gente sabe, que claro, a gente precisa cada vez mais aumentar a escala e que o produto possa acessar mais hectares de café, para que isso se torne cada vez mais uma influência na renda deles. Mas isso mudou muito. Exemplo, o produtor, ele tirava nove sacas por hectare, tinha um hectare de café, e aí hoje ele consegue tirar dezoito, dezenove sacas por hectare. Por quê? Por causa do manejo muito bem feito. E esse produto, antes, tinha meio hectare, hoje ele pode ter um, dois hectares de café, então isso já ajuda muito. E além disso, o produtor, ele tem um aumento de renda, a gente coloca, a gente tem essa análise, o aumento de renda dele com o café, aumentou em trezentos porcento. Por que trezentos porcento? Porque a gente paga mais para eles pela saca de café. Então hoje paga-se em torno de quarenta porcento, cinquenta porcento a mais do que o preço normal de café, a gente paga para eles, a intenção é aumentar cada vez mais. Agora a gente está mudando o maquinário. Pra quê? Para poder entrar nesse mercado, onde a gente consegue agregar cada vez mais valor ao produto, mercado de café gourmet, mercado de cafés especiais, isso aí. E além disso, o por que, então? “Pô, você tá falando [em] cinquenta porcento, então por que trezentos porcento?", pelo aumento da produtividade. Então o produtor, ele tirava nove sacas por hectare, agora ele tira dezoito sacas por hectare. Você tá tirando o dobro, e assim, tem produtores que conseguem tirar mais, conseguem tirar vinte, 21 sacas, então você está chegando quase ao triplo. Você consegue ter muito mais renda, pelo fato de tá produzindo mais e tá ganhando mais. E a gente vê a mudança, quando a gente vê que os produtores, eles estão interessados em ter mais café agroflorestal na área deles. Então isso que é interessante, o produtor: "Ah, eu tenho um hectare, mas quero me planejar esse ano aqui". Porque assim, os produtores, por isso que a gente chama de produtor, produtor familiar, e não o cafeicultor, porque eles não produzem só café, eles produzem outras coisas, eles produzem para o programa de alimentação regional deles ali, tudo. Então, e aí eles falam assim: "Cara, é o seguinte, quero me planejar esse ano para botar mais um hectare de café aqui". E ele… Assim, se o produtor, ele está querendo ter mais uma área, é porque aquilo está impactando muito na renda dele, é porque ele vê um benefício grande naquilo. E a gente, antes disso, a gente tinha até lista… Quando a gente estava ampliando ainda o projeto, tinham vários produtores que queriam entrar, que queriam ter uma área de café agroflorestal, mas a gente ainda não podia colocar, porque a gente falava: "Gente, a gente ainda não tem recursos para colocar, para fazer isso, porque o projeto está pequeno ainda. Ainda não tem muita demanda para essa oferta". Mas agora não, agora com o negócio de impacto, com investimento, a gente consegue investir. Então tem muitos produtores que estavam na fila que agora vão poder entrar no projeto, que já entraram no projeto e vários produtores que antes, assim, não estavam muito afim, hoje, eles estão querendo entrar, porque a gente fala, e eu até estava falando isso em um painel na Naturaltech no sábado, que é: a gente pode ter o projeto mais lindo do mundo, a gente pode ter a regeneração mais legal do mundo, se você não se regenera, se você não gera renda para o produtor, isso não vale nada. Entendeu? Você precisa gerar renda para os produtores, o produtor precisa ter a renda dele; o projeto precisa regenerar e gerar renda. E é isso que faz com que eles tenham mais vontade, que isso se amplie no local. E isso que acontece em Apuí: "Pô, o vizinho, olha lá, tem uma área normal, uma área legal". Fala: "Pô, o cara do lado está tirando dezoito sacas, vinte sacas, tá ganhando a mais! Pô, quero isso também, vou lá no Idesam. Assim eu posso entrar". Então a gente vê a mudança, tanto na vida dos produtores, quanto na economia local, pela geração de renda.
P1 - E essa geração de renda, são quantas famílias envolvidas na produção? E você conhece a história de alguém, assim, [de] alguém específico, que te marcou?
R - Olha, você fala da geração de renda por família, né?
P1 - Desculpa, eu quis dizer assim: quantas famílias são entre os produtores?
R - Sim, hoje a gente tem aí cerca de cinquenta famílias, um pouco mais de cinquenta famílias, produtores e 96 hectares de café plantados. Esse ano a gente vai plantar mais setenta hectares, e trazer para dentro aí, pelo menos mais uns quarenta produtores, então são muitos produtores que estão trabalhando com a gente. Geralmente, eles têm ali de um a dois hectares de café plantados, e a nossa intenção agora é que a gente possa, que eles possam ter uma melhoria na tecnologia, para que eles possam ter mais hectares, porque, assim, como é uma produção familiar, geralmente… O que é a produção familiar? É o pai, a mãe, os filhos ali e eles fazem isso. Se você meter cinco hectares para ele, ele não consegue manejar, porque é muito, ele não consegue manejar porque é muito. E o que a gente está querendo fazer agora é justamente trazer mais tecnologia, trazer mais equipamentos, para que ele possa manejar dois, três hectares tranquilamente, então, assim, não ter mais aquela colheita manual do café, o cara consegue fazer com a maquininha e tal. Isso ajuda muito, consegue fazer a parte da poda ali do café com uma motopoda, com uma roçadeira e, assim, isso ajuda o produtor a conseguir manejar mais [em] um espaço maior, consegue manejar mais café e assim ter mais renda para a área dele ali. E uma história impactante é, tem muitos produtores, assim, que a histórias deles de vida, por exemplo, um deles, né, o Seu Gilmar, ele veio… Que viajou comigo, né? Eu não sou muito… Eu não trabalho muito na parte do campo, então quem trabalha mais no campo são os… O pessoal de campo, o coordenador, mais assim. Eu tive uma experiência muito legal com Seu Gilmar, porque ele viajou comigo, a gente passou uma semana juntos. Então ele fala isso: que eles não moravam aqui, eles moravam no Espírito Santo e aí tiveram essa coragem de vir para cá, plantar café. E aí tá junto com a família aqui, em um lugar onde você nem conhece, onde você tá muito longe de casa e você ter essa coragem de permanecer lá e fazer algo acontecer, para mim foi muito impactante. E aí o impactante ainda é justamente estar com ele lá e ele falar… E ver assim, porque às vezes a gente quer levar o produtor para ele mostrar: “Cara, esse produto é seu. Esse produto não é meu, esse produto é seu, é meu e é seu”. Porque às vezes pode ter essa visão de que: “Não, o produto é da Amazônia Florestal”, “Não cara, olha só, vou te mostrar, você não está produzindo café verde, você está produzindo isso aqui. Você está produzindo esse produto final, que é seu!”. E aí ele: “Cara, a gente precisa produzir mais, a gente precisa melhorar a qualidade do nosso café!”. E a gente viu que aquilo empolgou ele e isso é muito bom, está com os produtores empolgados, está com os produtores animados, e uma… Eu acho que também, assim, que não seria um produtor, mas é um parceiro local, que é o Seu Estevão, ele tem uma história muito legal também, que ele que comprava… Antes da empresa se tornar… Antes de a gente abrir um negócio de impacto, que é o Amazônia Florestal, quem comprava o café agroflorestal dos produtores era o Seu Estevão, e ele então, torrefava tudo, então vendia para a gente. E ele sempre foi muito parceiro do projeto, sempre foi muito parceiro, tanto que hoje ele faz parte da empresa. E a história dele é muito interessante também, porque ele veio do sul, veio para cá, aqui, no município de Apuí. Não tinha nada e aí ele foi criando formas de… Foi criando a vida dele ali, abriu uma empresa para ele, de torrefação, comprou maquinário, assumiu o risco e hoje ele tem uma fábrica, fábrica de torrefação de café, onde ele tem o Café Apuí, que é o café tradicional dele, que ele vende ali, mais para a economia local, né, para a região, e ele também faz esse trabalho de torrefação e embalamento do Café Apuí Agroflorestal. E o Café Apuí Agroflorestal orgânico é feito, então, a fábrica dele é certificada, e é muito interessante isso, essas histórias de vida, assim, em que Apuí tem muita história de vida disso, que as pessoas vieram de fora, com muita coragem, com muita vontade mesmo, e foram lá e conseguiram se estabelecer no município. Então, isso, para gente, é muito interessante, tanto que lá tem o Seu Moisés Anghinoni também, que é o irmão do Seu Estevão e ele é um produtor de café. Então você vê ali que tem algumas famílias, né, tem o Seu Gilmar, tem o Seu Gilberto, e são famílias com o mesmo sobrenome de pessoas que vieram para cá e resolveram se estabelecer no município.
P1 - Existe algum benefício nesse trabalho no meio ambiente e no bioma da Amazônia?
R - Claro, ele nasceu para ter esse benefício. Qual é o benefício que o café traz? Ele regenera a floresta. Você planta árvores em consórcio com o cafezal, justamente para você regenerar. Então a gente até tem, como se fosse um ditado, assim, cada hectare de café Agroflorestal plantado é um hectare de floresta que foi reflorestada, porque vira uma floresta. Se você visitar o nosso site, que é o "cafeapui.com.br", tem uma foto de cima, que é de um drone, que você vê isso: aquilo é um cafezal, mas você olha de cima, parece uma floresta. Por quê? Porque é uma agricultura sustentável, uma agricultura de floresta, então isso faz muito bem para o bioma, e além disso, é justamente… Primeiro, você gerar renda… Na verdade, o primeiro, você regenera a floresta através da cultural agroflorestal, cria uma economia de baixo carbono, então você mantém a floresta em pé. Até atrás da nossa embalagem a gente fala: “Café na xícara, floresta em pé”. Então é isso, se você toma Café Apuí, você está mantendo a floresta em pé, pode ficar tranquilo, pode ficar muito feliz que você está tomando um… Você está consumindo um produto consciente. E o segundo é a geração de renda para a agricultura familiar, porque o produtor da agricultura familiar, ele é um guardião da floresta, e gerar renda para o produtor da agricultura familiar com uma atividade sustentável, faz com que ele não migre para atividades predatórias, então isso é muito importante. Isso é muito importante para o bioma Amazônico, fazer com que produtores se interessem pela atividade sustentável, porque isso é muito importante. Porque, assim, a gente está lá para aprender junto. A gente fala isso: “Olha, a gente não está indo para Apuí ensinar os produtores a plantarem café, a gente não precisa. Eles sabem plantar, eles que ensinam a gente". O que a gente está tentando é unir saberes mesmo, do saber da floresta, do produtor, do cultivo com o nosso… Um saber nosso, mas um pouco técnico, de qual planta, plantar, qual tamanho, uma coisa um pouco mais técnica. É unir saberes. Então tem isso também, a gente gera renda para o produtor para que se crie uma cultura de atividade sustentável, e não uma cultura de atividade predatória. Então a gente vê que isso traz muita vantagem para o bioma Amazônico: uma atividade de café sustentável que regenera a floresta e que valoriza a agricultura familiar.
P1 - A gente já está caminhando para a parte final, assim, mais pessoal. Mas, antes disso, tem alguma coisa que eu não perguntei sobre o seu trabalho, o Café Apuí, a Amazônia Agroflorestal, que você queira falar? Alguma coisa a acrescentar?
R - Ah, eu acho que [vou] falar um pouco: o Café Apuí, ele é um projeto que surgiu em 2012. A vontade de levar a agricultura sustentável para o município com maior índice de desmatamento, que é o município de Apuí. E em 2019 foi criada a empresa, Amazônia Agroflorestal, e a gente tem crescido. Hoje a gente tem uma equipe fixa no município de Apuí, onde eles prestam toda a assistência técnica para os produtores, tanto na parte de plantio do café, quanto no manejo da agrofloresta. Então a gente tem uma equipe fixa onde a gente dá toda a assistência, visita os produtores, realiza capacitações, essa parceria com o Idesam. O Idesam foi o que idealizou o projeto lá em 2012 e hoje continua sendo parceiro da iniciativa que toca muita atividade de campo, e é um parceiro da Amazônia Agroflorestal, tanto que ele faz parte da Amazônia Agroflorestal também, então. E hoje a gente está nesse momento de transformar o projeto em um negócio de impacto: um negócio de impacto que visa o quê? Fomenta a sustentabilidade, fomentar a escala, porque a gente precisa desmistificar isso. Às vezes, quando a gente fala: “Aumento de escala! O que é isso, cara? Tem que ser pequeno, tem que tá artesanal!”. Você é…
Cara, aumento de escala não é atividade predatória. Não, não é. Aumento de escala, se você tem uma atividade responsável, se você tem uma atividade de regeneração, se você tem uma atividade sustentável, é excelente! É excelente! E a gente quer aumentar a escala do café no município de Apuí, porque cada hectare de café plantado, é um hectare reflorestado. Então isso é muito bonito, isso é muito importante. E uma coisa que eu falo é, que a gente conversa muito sobre isso também, é… E a gente até devolve a pergunta para quem tiver assistindo, é: quando você fala… Se você falasse assim: "Você tem a oportunidade de ajudar a Amazônia", qual seria o primeiro pensamento que viria na sua cabeça? Como ajudar a Amazônia? Eu falo o meu, porque eu moro aqui: " Pô, cara, eu ia procurar alguma ONG que planta árvore, e aí eu ia lá no interior e ia plantar uma árvore lá, ou então eu ia fazer alguma doação para alguma ONG, ou instituição que seja responsável, que tenha boas indicações. Mas, pô, talvez queria sentir isso". E a gente fala: "Cara, você pode ajudar a Amazônia tomando um simples café". Sabe aquele café da manhã que você toma? Você não precisa fazer uma atividade tão mirabolante, tem muita gente fazendo atividades excelentes para facilitar a sua vida, para facilitar com que você possa regenerar a floresta, valoriza a agricultura familiar, só pelo consumo consciente. Só você pensar, "O que eu estou consumindo? O que eu tô…? O que esse produto faz?". E aí, se pelo consumo consciente, você toma uma decisão de: "Eu vou tomar esse café aqui que regenera a floresta", você já está apoiando muito, está regenerando a floresta. Então, sim, você pode ajudar a Amazônia tomando um café, comendo uma geleia, comendo uma farinha de tapioca, tomando um suco, você está regenerando a floresta com atividade sustentáveis de empresas que são empresas de impacto socioambiental, social positiva.
P1 - Voltando para a parte pessoal: eu não te perguntei, você é casado?
R - Sou casado.
P1 - Como você conheceu sua esposa?
R - Isso, conheci ela na escola. Quando eu falei da história de quando eu saí da escola particular e fui para a escola pública, eu conheci ela lá, mas ela era praticamente minha vizinha, morava muito… Porque a escola daqui, a escola que eu fui, era uma escola muito perto de casa, então eu conheci ela na rua. Assim, eu estava no ponto de ônibus e aí vi uma moça bonita lá. (risos) Aí, na época, eu estava estudando em uma outra escola, uma escola perto de casa, mas era uma escola particular, e eu falei: "Pô, se eu conseguir…". Ela já estudava lá no Aldeia, e eu falei: "Pô, cara, se eu conseguir mudar para o Aldeia, eu vou ter alguma desculpa pra puxar um papo com ela". E aí quando eu mudei para o Aldeia, eu ainda demorei um tempo para falar com ela, eu fui falar em uma feira. Ela, de início, quando eu cheguei para conversar, ela me deu um fora, mas depois eu consegui desenrolar, digamos assim. (risos) Mas foi assim que a gente se conheceu, realmente, em 2012, e aí a gente namorou até 2018. E casamos em 2018.
P1 - E vocês vão comemorar 10 anos?
R - Vamos comemorar 10 anos de namoro esse ano, setembro, dia 05 de setembro.
P1 - Vocês tiveram festa de casamento? Como é que foi?
R - Teve festa de casamento. Eu fiz um casamento duplo, junto com a minha irmã. E aí a gente fez um casamento duplo aqui em Manaus mesmo, em um salão de festas que teve aqui e foi muito legal, muito bacana mesmo. Eu acho que uma das coisas engraçadas que teve no casamento, foi que um de nossos amigos é que ia ser um dos organizadores… Ali, quando é festa, assim, né, você: "Pô", teu amigo que quer ser o organizador, o mestre de cerimônia, quer falar alguma coisa e tal. E aí ele ia ajudar a gente com essa parte de som e apresentar. E aí o que aconteceu foi que no dia do casamento, a esposa dele entrou em trabalho de parto e teve o filho no dia do casamento. Foi muito louco isso, pra você falar assim, tipo: "Cara, é incrível!". No dia do casamento acontece de tudo, né, e essa foi a prova do dia. E, mesmo assim, ele conseguiu ainda ir lá no meio, quase pegando o finzinho da festa. O fim, não, conseguiu ainda pegar uma boa parte da festa, foi lá, mas acho que foi muito maluco isso no dia. Então a gente fala que a gente não consegue esquecer o aniversário da Lívia, porque no dia que a gente comemora o aniversário de casamento, é o dia… E quantos anos ela está fazendo, então se a gente está comemorando quatro anos de casamento? Ela está fazendo quatro anos de idade. (risos)
P1 - E vocês tem filhos?
R - Não, ainda não. Ainda me acho jovem para ter filhos, mas planejo ter futuramente.
P1 - Ah, uma coisa que eu ia perguntar, no começo você falou que seus avós, né, são de Parintins, e você comentou da festa do boi. Como é uma parte mais regional, muitas pessoas não conhecem. Você já foi em alguma festa do boi? Tem como falar para a gente como é que é?
R - Eu fui, porque, vou falar aqui em questão de… Eu fui assim, mas acompanhei por fora, sabe? É porque você precisa se planejar muito para ir para a festa do boi, porque o local, que é onde acontece, ele não é tão grande, e todo mundo de… Pelo menos assim, nos últimos anos, muita gente de todo mundo quer estar lá, então é muito grande. Mas, assim, a gente acompanha, tem transmissão pela TV A Crítica, aqui, que é uma TV local. E é muito interessante assim. Por quê? Porque são só dois bois: é o Garantido e o Caprichoso. E a gente acha incrível a criatividade de temas, para você criar, e todo ano eles fazem músicas novas, são músicas que se você acompanhar a festa do boi, assim como acontece no carnaval, eles criam músicas só para aquele momento, ali, que tá acontecendo o boi, e depois eles lançam ali uma playlist, um CD com todas as músicas que foram cantadas. Claro que eles não vão gravar no dia que está acontecendo a festa, porque vai ficar uma gravação ruim, eles gravam em estúdio, mas é muito doido. Assim, eu não estive dentro da arena, mas eu já estive lá na época da festa do boi, e assim, a cidade fica lotada, empanturrada de gente, porque é uma ilha. Parintins é uma ilha, e é o que movimenta a economia local, e ela fica muito lotada de gente. Todo local onde você vai, tem gente, tem muita gente. Movimenta muito a economia. Você vê muita gente de fora, sabe que as pessoas são de fora. E assim, para quem está lá, para quem é de lá, para quem mora lá, e não está, digamos assim, ganhando dinheiro com aquilo, a pessoa fala: “Ah”... Quem ama muito o boi, está lá na festa do boi. Para quem tá na economia local, são dias que fala assim: “Nossa, senhora! O negócio tá gigantesco, está movimentado", a cidade é pequena, o negócio tá grande, qualquer lugar que você vai tá lotado. Então é incrível como a festa do boi movimenta a economia local. E acho que uma coisa interessante é que você vê, exemplo, isso aconteceu na minha família mesmo, a cidade fica tão lotada que o pessoal que mora lá aluga sua casa, entendeu? Exemplo: "Poxa, eu já estou lá há… Eu já moro há dez anos, já vi o boi, já fui lá dentro, já visitei, posso acompanhar pela TV, não tem problema. O que eu vou fazer? Eu moro aqui. Ah, eu tenho familiar em Manaus. Alugo a minha casa aqui em Parintins, vou para Manaus na época do boi, e alugo para essa pessoa”. Aí você faz uma renda lá e quando o boi termina, você volta. Então é incrível. Isso já aconteceu com a minha família aqui, uns tios meus que vieram para cá e deixaram a casa deles alugada lá para outras pessoas. Então é muito incrível assim, a gente fala - é um outro exemplo - que a festa do boi é isso, é meio como, sabe, como Grêmio e Internacional? Que quem é do Internacional não pode usar azul e quem é do Grêmio não pode usar vermelho. Aqui é a mesma coisa: na época da festa do boi, quem é Caprichoso, que é vermelho, tudo é vermelho, tem que ser vermelho e quem é Garantido, que é o Azul, tem que ser azul. É tudo azul! Tanto que a Coca-Cola, ela é uma patrocinadora da festa do boi e o Garantido não deixou ela usar o vermelho que é típico da Coca-Cola, não deixou, e aí a Coca-Cola teve que lançar uma linha de rótulo azul, de fazer tudo no azul, do fundo azul. Se você for pesquisar, “Coca-Cola festa do boi” e as artes para o Garantido… Não, para o Caprichoso que é o azul. É azul. (risos) Então isso é interessante, assim, como você vê a influência da festa do boi até para as marcas que patrocinam.
P1 - Ah, interessante. E Manaus? Manaus mudou muito desde que você era criança até agora?
R - Ficou maior, mudou muito. A gente… É até legal falar sobre Manaus, porque… Assim, é muito legal. É bom falar sobre Manaus, [mas] por quê? Porque a gente diz que Manaus é uma cidade grande, mas com pensamento de cidade pequena, às vezes até pela visão de pessoas que não moram em Manaus, ou que não tiveram contato com Manaus. [Por] exemplo, Manaus hoje tem dois milhões de habitantes - isso porque nem está atualizado ainda o senso -, então, assim, se você for pegar, ela é um top dez de cidades do Brasil em questão de população, então tem muita gente aqui. E é legal falar sobre isso, porque, às vezes, as pessoas… Eu já tive situações de falar: “E aí cara, como é que é lá em Manaus? Como é que vocês andam? Como é que tem internet?”, “Tem, cara. É uma cidade normal [que] tem shopping, tem tudo, não falta nada para a gente lá”. A gente só fala assim, “Eu acho que deveria ter mais estrutura na parte de transporte público e tudo mais”. Mas mudou muito! Na época que eu era criança, a gente tinha um shopping aqui, que era o Amazonas Shopping; era um shopping só e você não tinha muitas opções, assim, de lanche e tudo. Agora, a economia local cresceu muito, mas muito mesmo. Hoje a gente tem, deve ter uns sete shoppings em Manaus, sete ou oito shoppings: deve ter uns três na zona leste, uns dois na zona norte e acho que mais uns quatro na zona sul. Então você vê a economia local crescendo, você vê a economia de alimentos - muito mais uma economia de alimentos aqui - grande, vê rede de varejistas que não… Na minha época de criança, o que a gente tinha aqui era o DB e o Carrefour, o DB é Distribuidora Brasileira, é um supermercado meio local, daqui de Manaus, e você tinha o Carrefour ali, competindo com o DB. Hoje não, hoje você tem todas as redes praticamente: você tem o Assaí, tem o Atacadão, aqui também tem uma rede local que é o Nova Era. Você tem muitos, muitos, uma rede muito grande, tanto de restaurantes, quanto de supermercados. A economia local tem crescido muito, assim, eu acho tanto pela questão da economia local, quanto por cada vez mais a Zona Franca de Manaus, que é a área das indústrias e tudo, ela está cada vez mais estabelecida. A gente sabe a importância desse polo em Manaus para o aumento da economia, para a valorização da economia de Manaus. Mas eu acho que é isso, a gente tem visto a economia cada vez mais [se] fortalecer. A gente sabe que ainda precisa se conectar mais ao Brasil, às vezes não muito pelo nosso lado, mas pelo lado do Brasil. Exemplo, a gente entra muitas vezes em uma plataforma para venda, e aí fala assim: “Frete grátis para todo Brasil, exceto região Norte”. Aí eu falo: “Pô, então o Norte já não é mais parte do Brasil”. (risos) “Por que não é parte do Brasil?”. Então, assim, a gente queria ter um pouco dessa facilidade de se conectar. A gente fala muito sobre isso aqui: eu quero ter a facilidade de se conectar a outros Estados, que hoje a gente não consegue por causa da BR 319 não está completa. E às vezes isso é um assunto polêmico, [mas] é porque a gente quer ter a BR 319… Pergunte para qualquer produtor da agricultura familiar se ele não queria que a BR 319 estivesse pronta, para ele ter um acesso mais fácil de Estado. Sim, mas não da forma errada, porque a gente sabe que se a gente fizer a BR 319 da forma errada, você vai abrir portas para o desmatamento. É isso que acontece quando você facilita o acesso à Amazônia, sem você criar leis, sem você criar coisas que sejam rígidas, você abre portas para o desmatamento. Então, assim, o que a gente fala: “Queremos? Queremos! Mas a gente quer fazer da forma certa, a gente quer fazer uma BR que preserve a Amazônia, que mantenha a floresta em pé, que faça tudo corretamente. E eu acho que se a gente conseguir chegar nesse ponto, vai conseguir se conectar ao Brasil e a ter mais formas de poder mandar os nossos produtos de uma forma mais fácil. Porque hoje é isso, a gente precisa mandar ir via aéreo, ou a gente precisa fazer uma… Sabe, precisa fazer um reboliço logístico para conseguir mandar os nossos produtos para fora, que eu acho que se tivesse uma estrada pronta, facilitaria isso muito mais, mas claro com essa ressalva, não fazer de qualquer jeito, para que isso seja porta de entrada para madeireiros, para madeira ilegal, para garimpo ilegal, que já é muito grande, mas que só tornaria isso muito maior. Então a gente vê esse crescimento da economia local desse jeito, mas a gente vê que tem espaço para muito mais crescimento, tanto na parte de produção, que a Zona Franca de Amazonas é grande, mas a gente vê muita oportunidade no turismo. Se você for pesquisar, fica de cara com quantos hotéis de selva tem aqui, que te trazem uma experiência excelente de turismo. A gente vê uma oportunidade grande no turismo, e também vê essa oportunidade grande nessa produção alimentícia da agricultura familiar, do agricultor, dos povos que podem fortalecer a economia do Estado e da Amazônia legal.
P1 - A gente falou bastante de trabalho também, né, mas você tem algum hobby, alguma coisa que você gosta de fazer no seu tempo livre?
R - Cara, gosto! Como eu falei, gosto muito de sair para… eu Não sou muito de festas, mas eu gosto muito de tá, exemplo, gosto de ir para banho, eu gosto de visitar cachoeiras. Eu gosto muito de sair, não gosto muito de ficar em casa quando eu estou no fim de semana, eu fico meio… Assim, eu gosto de sair, então, visitar cachoeira, eu gosto muito de fazer [isso], e também gosto muito de… Tanto de acompanhar, eu acompanho muito os esportes. Assim, eu falo que são os esportes, até hoje, eu acompanho muito. Além do futebol, eu gosto muito de assistir basquete, assistir vôlei, gosto de assistir tênis, gosto muito de fazer isso e gosto de… Acho que a coisa que eu mais gosto é isso, acho que pelo fato de que desde a minha infância eu me conectei muito com a floresta, com a natureza, com rio, então eu gosto muito. Sempre vou para flutuante. Quando dá para ir, eu vou para flutuante. Aqui no Amazonas tem muito isso, não sei se vocês entendem o que é um flutuante: é basicamente uma casa que flutua em cima do rio. Então, ela… Então a gente vai. Aqui tem muito, estourou muito esse mercado de flutuante aqui, acho que deve ter para mais de trinta, quarenta flutuantes, onde você aluga ele durante o dia e aí você vai lá, uma lanchazinha te leva lá e você fica lá, faz seu churrasco, pula no rio, toma banho, faz um SUP (Stand Up Paddle), anda de canoa. Então é muito legal fazer isso aqui. Ou então a gente já vai direto para Presidente Figueiredo, tomar um banho de cachoeira, conhecer; tem umas rotas legais, eu fiz umas… Eu fiz uma trilha uma vez aqui, conhecendo cachoeiras, fazendo trilha. Então eu gosto muito de fazer isso, até quando eu viajo. Exemplo, viajei para o Nordeste, [e] fui para isso, para conhecer praia, conhecer mar. Então eu gosto muito de tá conectando, assim, com a natureza, com praia, com água, com árvore, com floresta. Eu gosto muito disso. Acho que é um hobby [e] que é um dos mais fortes para mim é isso, é estar conectado. Mas, além disso, eu acho que uma coisa interessante é que eu gosto sempre de estar aprendendo novas coisas. Então, [por] exemplo, eu me conecto muito com o mercado de café, um pouco, esse ano eu estou me dedicando mais a isso, a estar conectado com o mercado de café, entender e tudo mais. E também coisas novas, tipo assim: “Ah, eu quero aprender a fazer SUP”, então eu vou lá fazer SUP, Stand Up Paddle, né? “Ah, esse ano eu quero aprender a…” Eu nunca… Aqui a gente chama de rabeta, rabeta é uma canoa que você coloca um motorzinho atrás, muita gente usa isso: “Pô, eu nunca dirigi uma rabeta na vida, quero dirigir rabeta, quero ter essa experiência de dirigir rabeta”. É meio esse hobby amazônico mesmo, sabe? Essas coisas que são legais de fazer.
P1 - E o que é mais importante para você hoje?
R - Nossa, assim, se falar, pra mim, o mais importante, se for colocar em escala, é Deus e a família. O mais importante para mim, minha família é tudo, mas, além disso, é ter um local… É fazer algo que é a sua missão. Então, assim, você puder colocar sua missão de vida em prática. E a gente até, da última vez, quando a gente estava em reunião integrada aqui, falou sobre isso: “Qual é a sua missão? E o seu trabalho, ele reflete a sua missão de vida?”. E eu, que bom que eu olho para o meu trabalho e vejo, sim, o meu trabalho ele reflete a minha missão de vida, que é ajudar, que é ter um trabalho com propósito. Porque às vezes a gente tem um trabalho sem propósito, isso acontece com muitas pessoas. Você poder trabalhar com algo que tem propósito, que é um propósito colado com o seu. Pra mim isso é muito importante, porque isso transforma o seu trabalho… Isso não é assim, tipo: “Ah, o meu trabalho é o meu trabalho!”. Não, a minha missão de vida, ela se realiza através do meu trabalho. Então, para mim, isso é um dos mais importantes.
P1 - Qual é o seu maior sonho?
R - Cara, acho que o meu maior sonho, assim, eu vou falar, quero muito constituir família, é o meu maior sonho, mas eu acho que, assim, um dos meus maiores sonhos é… Eu quero ser um cidadão do mundo, sabe? Conhecer o mundo! Então, conhecer outros países, conhecer outros povos, conhecer culturas diferentes. Assim, acho que um dos maiores sonhos é esse, eu ter a oportunidade, como eu já venho tendo, né, principalmente no âmbito nacional, de conhecer pessoas, de conhecer culturas diferentes, conhecer uma alimentação diferente, conhecer formas diferentes de viver. Eu acho que é isso: eu quero conhecer mais sobre a cultura dos povos, não só do Brasil, não ficar fechado no Brasil, mas do mundo. Conhecer os países da América do Sul, os países da Europa, os povos, se conectar à cultura deles, à história deles; acho que é bem importante para você se tornar uma pessoa diferente. Quando você conhece as culturas, os povos, você se torna uma pessoa diferente. Eu acho que o meu maior sonho é ter essa experiência, chegar um dia e falar: “Cara, eu já conheço muita gente, já conheci muita gente e muitos lugares”. E é um sonho que eu quero realizar, estou realizando, mas ele está, digamos assim, dez porcento ainda.
P1 - Nessa parte [mais] pessoal, tem alguma coisa que eu não perguntei, que você acha legal de falar? Alguma história interessante?
R - Eu acho que não, acho que já contei quase tudo. (risos) Mas eu acho que é isso, que, assim, em questão de âmbito pessoal, é isso, conhecer os povos. No âmbito profissional, eu não me vejo fora do Café [Apuí], entendeu? Então eu acho que o meu maior sonho do Café Apuí é chegar e falar: “Cara, Café Apuí é conhecido, Café Apuí realmente transformou a cultura local, ele se tornou grande!”. Essa é a nossa… Realmente ser referência. Meu maior sonho é quando a gente olhar para o mercado [e] falar “Café Apuí”, ele se transforma em: “Cara, esses caras são referência, esses caras são referência em produção agroflorestal, em produção sustentável no Amazonas e na Amazônia”. O nosso maior sonho é que o Café Apuí realmente seja reconhecido como uma referência de produção sustentável, não só no Amazonas, mas como produção sustentável no Brasil e no mundo.
P1 - Qual você acha que vai ser o seu legado para a próxima geração?
R - Bom, eu acho que talvez abrir um pouco as portas dos produtos Amazônicos para o mercado. Através da representação do Café Apuí, eu vejo que a gente está iniciando isso de uma forma mais estruturada agora. Então, o que eu vejo, que eu quero que seja o meu legado é: “Olha, o Jonatas fez parte disso, ele ‘azeitou’ o caminho para a gente, se a gente tem todas essas estruturas hoje, se a gente facilita, se a gente compete de igual para igual, se realmente as pessoas não olham mais o Amazonas como ‘Ah, vamos ajudar eles, porque eles precisam’, mas sim, eles são tão potentes de cultura, de agricultura”. Como a gente olha e vê assim, Minas Gerais, cultura de café forte, grande, Espírito Santo, cultura de café forte, grande, Minas Gerais também, cultura de queijo, de leite, grande, forte. Então, assim, eu quero que eles olhem para a gente e falem: “Sim, se a gente é visto hoje como uma cultura forte, como uma cultura grande de produção sustentável, de coisas que vem do Amazonas, é porque o Café Apuí estava junto lá no início”.
P1 - E por último, o que você achou de contar um pouco da sua história para a gente hoje?
R - Nossa, muito impactante. (risos) Engraçado contar coisas pessoais. Estava imaginando até uma coisa mais voltada, muito mais para o Café, mas contei muita coisa pessoal. Achei muito legal poder falar sobre a minha história, falar sobre a história do Café Apuí. Muito legal, tanto que eu estou olhando aqui o horário, já passou de duas horas, e assim, muito rápido, muito legal, muito tranquilo a conversa, muito diferente. Parabéns aí, pelo trabalho de vocês!
P1 - Obrigada! A gente fica feliz também que você gostou, que deu tudo certo, e aí eu agradeço em meu nome e também ao Museu da Pessoa.
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