Plano Anual de Atividades 2013
Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Eduardo Lima Bortolini
Entrevistado por Tereza Ruiz
Linhares, 04/06/2014
NCV_HV_20_ Eduardo Lima Bortolini
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ana Carolina
MW Transcrições
P/1 – Primeiro, Eduardo, eu vou pedir para você falar pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Ok. Meu nome é Eduardo Lima Bortolini. Nasci em 30 de setembro de 1968 em Vitória, Espírito Santo.
P/1 – E agora o nome completo dos seus pais, data e local de nascimento se você souber também.
R – Ok. É Ari Bortolini meu pai e Maria Nilza Lima Bortolini minha mãe. Nascimento Santa Teresa, Espírito Santo.
P/1 – O que seus pais faziam ou fazem?
R – Meu pai é comerciante, a vida toda mexeu com café, com comércio de café. Minha mãe sempre no lar, sempre com a gente lá no lar.
P/1 – E como é que os seus pais são como pessoa? Descreve um pouco pra gente.
R – Bem, pra descrever eles... Diferença nossa, assim, é que eu sou já urbano, né? Quer dizer, eles vieram do interior, pegaram tudo dureza da vida de interior, sem muita grana, as famílias italianas que foram pra Santa Teresa. Então, eles têm uma história de vida muito interessante, até por causa de ser dessa batalha da segunda geração dos italianos que vieram pra desbravamento dessa região de Santa Teresa. Muito diferente do nosso período agora, eles pegaram uma situação muito complicada, de região muito complicada, de topografia e muito trabalho. Meu pai foi pra Vitória, se eu não me engano, em 1965 já trabalhar numa empresa de café e está nela até hoje e envolveu, acabei me envolvendo nessa área de café também. Em 87 eu comecei também a trabalhar em café e...
P/1 – Seus avós são italianos?
R – Meus avós... Não. Meu avô nasceu já aqui, logo depois da chegada do meu bisavô no caso.
P/1 – E você sabe da onde o seu bisavô...
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Projeto Nestlé - Ouvir o Outro - Compartilhando Valores – Pronac 128976
Depoimento de Eduardo Lima Bortolini
Entrevistado por Tereza Ruiz
Linhares, 04/06/2014
NCV_HV_20_ Eduardo Lima Bortolini
Realização Museu da Pessoa
Transcrito por Ana Carolina
MW Transcrições
P/1 – Primeiro, Eduardo, eu vou pedir para você falar pra gente o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Ok. Meu nome é Eduardo Lima Bortolini. Nasci em 30 de setembro de 1968 em Vitória, Espírito Santo.
P/1 – E agora o nome completo dos seus pais, data e local de nascimento se você souber também.
R – Ok. É Ari Bortolini meu pai e Maria Nilza Lima Bortolini minha mãe. Nascimento Santa Teresa, Espírito Santo.
P/1 – O que seus pais faziam ou fazem?
R – Meu pai é comerciante, a vida toda mexeu com café, com comércio de café. Minha mãe sempre no lar, sempre com a gente lá no lar.
P/1 – E como é que os seus pais são como pessoa? Descreve um pouco pra gente.
R – Bem, pra descrever eles... Diferença nossa, assim, é que eu sou já urbano, né? Quer dizer, eles vieram do interior, pegaram tudo dureza da vida de interior, sem muita grana, as famílias italianas que foram pra Santa Teresa. Então, eles têm uma história de vida muito interessante, até por causa de ser dessa batalha da segunda geração dos italianos que vieram pra desbravamento dessa região de Santa Teresa. Muito diferente do nosso período agora, eles pegaram uma situação muito complicada, de região muito complicada, de topografia e muito trabalho. Meu pai foi pra Vitória, se eu não me engano, em 1965 já trabalhar numa empresa de café e está nela até hoje e envolveu, acabei me envolvendo nessa área de café também. Em 87 eu comecei também a trabalhar em café e...
P/1 – Seus avós são italianos?
R – Meus avós... Não. Meu avô nasceu já aqui, logo depois da chegada do meu bisavô no caso.
P/1 – E você sabe da onde o seu bisavô veio da Itália?
R – Eles vieram de Trento.
P/1 – E vieram pra trabalhar na agricultura, na lavoura, você sabe?
R – É. Vieram na época, em 1928, se não me engano. Mas vieram... A leva italiana vinha primeiro, eles vieram na segunda leva de italianos e vieram exatamente isso aí. Saindo de uma pobreza grande da Itália na época e vieram sem conhecer praticamente nada, já mais ou menos indicado pra ir pra região de Santa Teresa. A família Bortolini, por exemplo, a maioria foi pro Rio Grande do Sul e o meu bisavô foi um dos que ficaram aqui no Espírito Santo. Então, ela é grande hoje no Rio Grande do Sul e é bem pequena aqui no Espírito Santo. Basicamente é isso aí, eles constituíram a família toda em Santa Teresa... E do lado da minha mãe também...
P/1 – E a casa que você passou a infância, você lembra bem? Não, deixa-me fazer uma pergunta antes, você tem irmãos?
R – Tenho irmãos.
P/1 – Como é que se chamam os seus irmãos e o que eles fazem?
R – Bem, a Patrícia... Bem, eu vou falar do meu irmão mais velho, o Leonardo, ele hoje trabalha numa financeira, parte de bolsa de valores também e financeira. E minha irmã hoje trabalha comigo. Eu trabalho, por exemplo, em Vitória, na capital, tenho um escritório lá e ela trabalha comigo, a Patrícia trabalha comigo há muitos anos já.
P/1 – E a casa onde vocês passaram a infância? Você lembra como é que era? Descreve um pouco pra gente como era.
R – Lembro bem. Lembro bem. Bem, como eu falei meu pai foi pra Vitória, saiu de Santa Teresa pra Vitória em 65 e aí nós fomos pra esse bairro que era um bairro bem tranquilo na época em Vila Velha, já em Vila Velha, Espírito Santo.
P/1 – Qual que era o bairro?
R – Bairro era Centro mesmo. Centro de Vila Velha. E ali o meu pai fez a casa. Eu saí dessa casa, passamos pra morar na Praia da Costa, o bairro Praia da Costa, eu acho que eu já tinha, se eu não me engano, 14 anos de idade. Então até os 14 anos eu morei em casa, nessa casa aí que o meu pai construiu.
P/1 – E como é que era a casa? Descreve um pouco, e o bairro naquela época.
R – O bairro era muito tranquilo. Não vou te falar que era um bairro novo, mas tinham poucas casas, só residencial praticamente. E assim, uma rua muito gostosa porque não tinha saída, né? Era rua de chão ainda e uma casa muito boa porque ela tinha um espaço legal de quintal, a gente tinha cachorro, esse espaço eu lembro muito. E essa amizade da rua também que tinha, de você jogar uma bola na rua com a turma, soltar uma pipa, coisa que é raro a gente ver hoje. Mas essa lembrança é muito legal minha da infância aí.
P/1 – E você falou jogar bola, soltar pipa, quais que eram as brincadeiras? Do que você brincava na infância?
R – Basicamente isso. O que acontecia? Era escola, chegava da escola a vida era o seguinte: “O que a turma da rua vai fazer?”. Ou era jogar botão na época, ou era soltar pipa realmente, bola. Então, eu convivia nesse grupo aí que a gente chama hoje condomínio, né, mas o condomínio era na rua. Então: “O que a turma vai fazer hoje? Nós vamos sair de bicicleta pra rodar de bicicleta? Nós vamos jogar um botão, vamos soltar pipa?” E a gente dependia de algum organizador da época que eram os que comandavam a rua lá e tal e definiam o que a gente ia fazer. Mas era muito prazeroso.
P/1 – E você tinha alguma brincadeira favorita?
R – Não. Não. Eu gostava de tudo. Eu ia pra rua e já estava adorando ficar na rua, né? O legal era exatamente isso aí, você não tinha na época telefone, você não tinha nada, celular, não tinha internet, nada disso. A gente saía logo que chegava da escola, ia direto pra rua e só voltava a noitinha. Não tinha nem preocupação, minha mãe não tinha preocupação, basicamente ela sabia pra onde que a gente ia, com quem andava ali a turma.
P/1 – E tem alguma história marcante de infância, uma coisa, um causo que você sempre se lembre dessa época?
R – Ah, tem bastante caso, né? Não sei, não sei mencionar o caso assim...
P/1 – Não se lembra de nenhum agora? Uma coisa que você conte pros amigos ou que a família comente até hoje, sabe? Essas histórias que ficam assim.
R – Eu tenho alguns de acidente. Mas tem de, por exemplo, época de pipa, por exemplo, que soltava pipa e nós tínhamos um grupo da rua, por exemplo, que a gente meio que fazia uma competição com o grupo da outra rua. Numa dessas aí me roubaram a pipa e eu estava na rua contrária, adversária, e aí corri pra casa, chamei o meu irmão e a turma dele, fomos pra outra rua, quase arrumamos uma briga, mas eu consegui a pipa de volta. Então, tinha muito esses casos aí. E caso de acidente, por exemplo, quando eu fui atropelado e aí eu tinha acho que 12, 13 anos, e fiquei engessado muito tempo, mas como é que fica com gesso numa idade dessa, né?
P/1 – E como é que você foi atropelado? Como é que foi o acidente?
R – Eu estava passeando com um primo meu mais velho, que tinha carteira na época, na Praia da Costa até na beira da praia e fomos parando pra ver um acidente de curioso. Era exatamente na beira da praia mesmo, no calçadão. Quando eu estava no calçadão ali mesmo vendo o acidente passou outro carro, perdeu a direção e atropelou a turma toda que estava vendo o acidente ali. Quebrei a perna e fui pro hospital e aí eu lembro, o médico falou que eu não podia encostar o pé no chão pra nada, que foi grave o meu... Quebrei tíbia e perônio. E aí não conseguia fazer isso, eu era muito jovem, a turma minha me levava pros lugares carregado, só que de vez em quando eles me esqueciam, né? E aí eu tinha que pisar e tal. Quando eu fui tirar o gesso eu estava com o pé totalmente torto. O médico fez mais ou menos essa cara aí. Quando ele olhou aí ele... E aí são as histórias. E depois recupera e tudo, a gente é jovem.
P/1 – Mas não ficou nenhuma sequela, não?
R – Não. Graças a Deus, não.
P/1 – Você mencionou coisa de empinar pipa, eram vocês que faziam as pipas?
R – A gente fazia pipa. Depois uma época a gente comprava, fazia um pouco, mas a maioria das vezes a gente fazia.
P/1 – E a alimentação na sua casa nessa época, qual que era a base da alimentação, quem que cozinhava na infância e na juventude?
R – Olha, um período a minha mãe que cozinhava, depois a gente sempre teve cozinheira dentro de casa, mas a minha mãe sempre orientava essa parte de comida. Até hoje ela é assim... Quando a gente vai sábado e domingo pra casa dela, ela tem funcionária e tudo, mas ela que orienta a alimentação. Mas era muito básica. Feijão, arroz, bife, um ovinho, lanche, um pão com manteiga e era o que tocava a nossa vida aí.
P/1 – Tinha um prato favorito?
R – O Nescau...
P/1 – Nescau?
R – Eu gostava pra caramba. Mas o lanche que ela servia quando a gente estava na rua era isso aí, um Nescau com pão e manteiga. Basicamente isso aí.
P/1 – E você tinha um prato favorito, alguma coisa... Ah, um prato preferido.
R – Não. Era o básico mesmo. Era o feijão, o arroz e bife, de vez em quando ela fazia um estrogonofe na época, gostava muito. E doce. Eu só não vou lembrar bem os doces aí, mas tinha coisa muito gostosa que mamãe fazia.
P/1 – E como é que era o momento da refeição? Vocês comiam todos juntos, como é que era isso?
R – É assim, nós passamos um período muito bom, dia de semana almoçando e jantando junto a família, né? Mas depois já com meu irmão com idade um pouco mais avançada, já começa o estudo mais de faculdade, tudo, a gente desencontrava. Mas sempre final de semana juntos. Sempre final de semana...
P/1 – Tinha o hábito de todo mundo se sentar à mesa?
R – Isso. O hábito... Final de semana sempre garantido a gente estar junto. Dia de semana passamos muito tempo almoçando e jantando junto, mas depois de um tempo a gente acaba tendo compromisso tudo, de escola, a gente acaba parando um pouco.
P/1 – E café, vocês consumiam café na sua casa na infância, adolescência?
R – Só direto. Só sempre.
P/1 – Muito café?
R – É. O café estava na vida da gente já... O meu pai vinha do interior já com plantio de café. Quer dizer, ele mexia com comércio de café no interior lá. O meu avô já começou a mexer com isso aí. Eu vou voltar um pouquinho pro meu avô, posso lá?
P/1 – Claro.
R – O meu avô quando construiu a casa dele em Santa Teresa ele fez um secos e molhados, a gente chamava, mas era um supermercado que vendia de tudo. A gente chama de secos e molhados ali. E vendia de tudo mesmo.
P/1 – Tinha um nome?
R – Não. Não me recordo, acho que tinha um nome sim, mas não me recordo. E aí você tinha uma conta direto lá. Era incrível como que se fazia continha, né? Quer dizer, você não tinha um pagamento direto do pessoal que ia lá comprar. Eram todos conhecidos e você tinha um livrinho ali que você tinha conta que o cara vencia em um ano. Ele pagava no ano de safra, né? E ali começou o negócio de café do meu avô, que ele comprava café, recebia café em conta e comprava café. Aí meu pai começou também no negócio. Foi aí que começou a mexer com café, aí depois eu já contei que ele foi pra Vitória e começou no comércio. Mas então o café tá envolvido na nossa família há três gerações já aí.
P/1 – E como é que era...
R – Então pra chegar no café da mesa lá, por esse envolvimento todo no café a gente teve sempre muito isso aí, essa ligação com o café mesmo.
P/1 – E como é que era preparado?
R – Bem, café eu vou te falar que eu não tenho lembrança, mas o café pra mim tem um sabor muito gostoso quando eu imagino e me relembro ali da gente sentado na mesa de café, do pão, do café mesmo em si, de ser uma coisa muito prazerosa. Então, não sei especificar o sabor do café como é que era preparado, mas o que fica pra mim é esse sabor gostoso do café na época que a mamãe preparava e tal que tá na mesa. É isso que fica na imagem.
P/1 – E estava presente em todas as refeições?
R – Estava no café da manhã e no lanche da tarde. Que eu te falei o lanchinho da tarde quando a gente estava na rua geralmente era um Nescau e um pão com manteiga. Quer dizer, desde a época de Santa Teresa lá dos meus avós, a família italiana é muito assim, a mesa sempre fica meio posta, né? Então, acaba o café da manhã, depois do almoço a mesa já fica preparada com bolo. Então tinha basicamente isso aí muito em casa, uma mesa já depois do almoço ficava preparada com bolo, com café e aí só trocava o café. Chegava a tardinha, só tirava o café ali... Então, a gente tinha que correr bastante mesmo na rua pra poder não engordar, que a mesa estava sempre posta pra gente.
P/1 – E esse café... (corte)
R – ... na época eu não tenho ideia. Na época não tenho ideia. Eu sei que se usava ainda na época de torrar café de Santa Teresa, da minha região lá. Então o que colhia ali torrava um pouco e eu sei que chegava alguma coisa de café torrado pra mim da região nossa lá, mas eu não tenho essa certeza aí.
P/1 – E escola? Quando é que você entrou na escola? Quantos anos você tinha?
R – Ah, eu devia ter acho que seis anos eu acho que eu entrei, seis, sete anos de idade. A primeira escola é mesmo uma escolinha muito pequenininha chamada Trenzinho do ABC. Depois se transformou no nome de Santa Paula, eu fiquei até a oitava série e aí já fui...
P/1 – E quais que são as primeiras lembranças que você tem da escola?
R – Ah, a escolinha é fantástica. Você estudar em escola bem pequena é muito legal porque você tem uma ligação muito grande com professora, com diretora e com os alunos, que eu tenho amizade até hoje com esses... A gente não encontra muito, mas eu tenho amizade grande com esses alunos lá por ser uma escola pequenininha e a gente faz uma... Você tem uma convivência, um relacionamento muito forte com família e tal. Até porque a cidade era pequena, a escola pequena, então, fica um negócio muito legal da escolinha. Eu tenho uma lembrança muito boa dessa época.
P/1 – Ficava perto da sua casa?
R – Ficava próximo a casa. Eu ia a pé pra escola. Ficava pertinho.
P/1 – Era bem pequena mesmo, você lembra mais ou menos o número de salas? Não? Pequenininha mesmo, né?
R – Se der um tempinho pra pensar aqui, mas eu acho que tinha umas oito salas. Oito, nove salas, assim. Lógico que depois que ela foi crescendo, mudou o nome, Santa Paula, aí cresceu um pouco mais o colégio, hoje já está bem maior. Mas da época que eu fiquei ele cresceu um pouco, mas sempre ficou pequeno, sempre foi pequeno.
P/1 – E teve algum professor marcante na sua vida escolar?
R – Teve. Eu acho que eu não sei se eu consigo lembrar deles, mas tiveram professores fantásticos dessa época aí. Diretoras... Lembrei agora de uma aqui porque eu encontrei há pouco tempo, porque há muito tempo que eu não encontrava, que é a tia Marlene, a gente chamava de tia sempre no colégio. Mas a diretora Vera, por exemplo, a tia Marlene, Denise, professora de Português. Tive um professor de Matemática fantástico, não me recordo o nome, mas boas lembranças.
P/1 – Você tinha uma matéria preferida?
R – Eu sempre gostei muito de História. Se tem uma que acho que eu lembro que eu gostava muito de História.
P/1 – Mas tem alguma história com professor de História?
R – Não. Não tem. Eu gostava muito da matéria em si mesma, né? Mas não com professores. Tive uma ligação assim... Matemática eu passei a gostar um pouco mais, eu nunca gostei muito, mais por causa do professor de Matemática que foi sempre muito bom. Tive a Denise, professora de Português, que eu gostava muito dela, então acabava gostando da matéria, mas não era aquilo que eu... Eu gostava mesmo um pouco mais de História. Eu acho que é por aí.
P/1 – Você lembra o que você queria ser quando crescesse?
R – Não. Não me recordo. Na adolescência eu passei um pouco mais a acompanhar o trabalho do meu pai, um pouco mais, e aí sempre foi na minha visão na parte de comércio. Sempre gostei muito da parte de comércio, liguei-me muito nisso aí. Então, a lembrança que eu tenho sempre é dessa parte de comércio. E aí foi o que acabou acontecendo.
P/1 – E nessa transição da infância pra adolescência, porque nesse colégio você falou que ficou até a oitava série.
R – Até a oitava.
P/1 – Então você entrou na adolescência no colégio, né?
R – Isso.
P/1 – O que mudou no que você fazia pra se divertir, de lazer, mudou os hábitos, seus e dos amigos?
R – Mudou bastante. Mudou bastante porque daí do colégio pequeno eu passei pra um colégio em Vitória já, já grande, no Salesiano. E pra gente é uma mudança muito radical, né?
P/1 – Por quê? Explica um pouco.
R – Muda muito porque você vai pra um colégio já muito grande com pessoas que você não conhece, numa cidade diferente. Era encostado ali Vitória e Vila Velha, mas você não tinha muita ligação naquela época. Hoje o pessoal é muito ligado, Vitória e Vila Velha, mas na época não tinha isso aí. Então, pra mim foi um negócio totalmente novo. Pra tudo, pra pegar um ônibus pra ir pra Vitória, não tinha terceira ponte na época, demorava 40 minutos, uma hora de viagem. Tudo muito novo.
P/1 – Você ia de ônibus pra escola?
R – Ia de ônibus. Sempre fui de ônibus.
P/1 – E dos hábitos mesmo, mudou a turma de amigos? Vocês saíam, iam em festas nessa fase de adolescência?
R – Ia bastante a shows, a festas. Porque eu tinha uma turma de amigos de Vila Velha, mas aí conheci uma turma nova de Vitória também, mas eu sempre saí muito com essa turma de Vila Velha, grupo de Vila Velha.
P/1 – E o que vocês faziam pra se divertir?
R – Geralmente ou se encontrava muito em casa de amigos, porque Vila Velha nessa época não tinha muita coisa pra fazer a noite, né? E Vitória ficava muito longe, e a maioria não tinha carteira. Então, ou a gente reunia na casa de algum amigo, ou a gente ia pra algum barzinho e reunia a turma lá. O grupo tinha isso aí de sempre sair junto e quando tinha show, algum evento de música, a gente ia sempre junto, direto.
P/1 – E o que você gostava de escutar?
R – MPB da época, né? Se eu lembrar aqui o que eu escutava, mas era basicamente MPB de época aí, que eram os shows que vinham pra Vitória.
P/1 – Tinha um compositor, um cantor favorito, uma música preferida?
R – Não. Não tinha. Eu nunca fui muito ligado em música. Agrada escutar, gosto tudo, mas num fui muito ligado. Eu gostava muito de show por causa da farra, da turma ir, mas não tinha uma ligação, assim, de escolher. Eu gostava de...
P/1 – Nem um show que tenha sido marcante, nada?
R – Olha, eu vou tentar me lembrar de show aqui... Eu fui a um show do Paralamas do Sucesso, por exemplo, que marcou muito, mas já foi até no Rio de Janeiro. Deixa-me ver um show. Fui a um show do Barão Vermelho muito interessante na época também. Eram músicos na adolescência era o que a gente escutava direto. Mas eu acho, de lembrança mesmo, acho que esse show do Paralamas do Sucesso que na época era o que a gente escutava direto.
P/1 – E cinema? Tinha isso? Vocês iam pra cinema?
R – Tinha. Tinha cinema. A gente não ia muito, não, até porque Vila Velha não tinha cinema. A gente tinha que ir pra Vitória, aí dependia de alguém com carteira ou de pegar um ônibus, mas ia. Íamos ao cinema.
P/1 – E essa coisa mais de paquera que começa na adolescência, namorada, você lembra a primeira namorada ou a mais marcante?
R – Lembro.
P/1 – Foi nessa época?
R – Foi. Foi na época da adolescência mesmo. A gente começava a sair cedo até porque você estava mais solto na rua e tal. A gente tinha um grupinho nosso e acabava saindo mais cedo até um pouco. Mas lembro de paquera... Eu casei muito cedo, né? Casei com 21 anos, então, basicamente namorada séria que eu tive mesmo, o mais longo período foi a minha esposa hoje.
P/1 – E como é que vocês se conheceram, você e a sua esposa?
R – A gente se conheceu numa festa que tem todo ano em Venda Nova que é uma cidade da montanha do sul do Espírito Santo. É uma festa do vinho que tem. Eu fui com o meu grupo pra lá, ela foi com as amigas pra lá, a gente acabou se conhecendo lá.
P/1 – Que idade você tinha?
R – Eu tinha 18 anos. Nessa época 18 anos.
P/1 – E qual que é o nome dela?
R – É Delga.
P/1 – Delga.
R – É um nome meio diferente, né? É Delga.
P/1 – Mas conta como é que foi? Vocês chegaram lá, como é que vocês se encontraram?
R – Não, ali foi só mesmo um olhando pro outro e tal, e aí na época eu fiquei muito ligado nela e tudo aí comecei a pedir informação de quem era e tal.
P/1 – Vocês tinham alguém em comum, conhecido?
R – Na hora, não.
PAUSA
P/1 – Então, só pra retomar, como é que vocês foram se aproximando? Encontrou alguém em comum?
R – No dia mesmo eu acho que não tivemos ninguém em comum, mas depois como eu fiquei bem interessado e tudo, aí descobrimos alguém em comum que fez o contato, eu comecei a procurar, buscar e tal e aí começou o relacionamento.
P/1 – Ela morava em Vila Velha também?
R – Ela morava em Vitória. E eu em Vila Velha nessa época. E deu um trabalho desgramado porque ainda não tinha ponte, então, ficava meio difícil pra eu ir pra Vitória e tudo, mas a gente fazia um esforço.
P/1 – E vocês namoraram quanto tempo?
R – Eu casei com 21. Namoramos dois anos, três anos aí.
P/1 – E como é que era o namoro? O que vocês faziam juntos?
R – Saía pouco. A gente saía, ia pra cinema, ia pra barzinho, porque nós tínhamos um grupo. Ela tinha também um grupo de amizade, a gente acabou conhecendo esse grupo, saía pra barzinho. Em casa de vez em quando pra jantar e tudo, mas mais é pra barzinho.
P/1 – E quando é que vocês decidiram se casar? Como é que foi? Você pediu em casamento, foi uma decisão dos dois?
R – Olha bem, ela engravidou nessa idade de 20 pra 21. Aí passamos um período pensando e decidimos que a gente tinha que se casar mesmo e era o que a gente queria. O filho foi só uma...
P/1 – Um empurrãozinho.
R – Só um empurrãozinho.
P/1 – Como é que foi o casamento? Conta. Vocês fizeram uma cerimônia?
R – Fizemos cerimônia, mas foi muito legal. O meu avô, meus dois avós estavam vivos nessa época, participaram, os meus pais...
P/1 – Foi em igreja?
R – Não. Foi numa área de festa, numa, como é que fala? Num lugar de festa, né, num...
P/1 – Num buffet?
R – Num buffet. Mas foi muito legal, muito bom, muita gente eu lembro, recordo.
PAUSA
P/1 – Estava falando do seu casamento, né? Descreve um pouco pra gente, foi num salão, mas como é que estava decorado, o que tocou, quantas pessoas tinham lá.
R – Nossa, aí é difícil lembrar.
P/1 – É?
R – Se você esperar eu dar uma ligadinha pra minha esposa ela vai saber exatamente isso aí (risos).
P/1 – Mas as lembranças...
R – Mas não tenho, assim... Estava bem cheio, eu lembro que a turma toda de amigos, família toda junta lá, tios, primos. E me lembro disso aí, foi uma festa realmente. Foi muito legal, muito bom.
P/1 – Falou que o seu avô estava vivo ainda.
R – Meu avô estava vivo ainda, meus dois avós vivos. E a lembrança que eu tenho é muito boa, muita festa.
P/1 – Vocês tiveram lua de mel?
R – Tivemos lua de mel.
P/1 – Pra onde vocês foram?
R – Não. Ficamos em Vitória mesmo. Acabamos viajando só depois, não sei se foi compromisso, o que foi na época, mas ficamos em Vitória mesmo e é isso aí. Estamos juntos até hoje.
P/1 – Eu vou voltar agora nesse ponto depois pra falar um pouco do nascimento do... É filho ou filha?
R – Filho.
P/1 – Filho. Do seu filho. Mas antes um pouco eu queria saber em que momento que você decide fazer... Que curso, o que você vai fazer de faculdade? Em que momento você toma essa decisão e como é que é essa entrada na faculdade.
R – Beleza. Vamos lá.
P/1 – Que é anterior, né, ao seu casamento. Ou é posterior?
R – Anterior.
P/1 – Ah, então.
R – Então, como eu te falei, no meio da adolescência ali com 14, 15 anos que eu comecei a conhecer um pouco do que o meu pai fazia, de comércio e tal. Eu acho que foi ali o clique pra fazer Administração, que aí eu já estava com um pensamento bem claro que eu iria estar mais pro lado do comércio de café. Aí segui Administração, fiz Administração. Na época que eu comecei a faculdade eu já estava trabalhando. Eu comecei a trabalhar em 87. Isso, em 1987.
P/1 – Você estava com quantos anos quando você começou a trabalhar?
R – Dezessete anos de idade. 17 anos.
P/1 – E onde você começou a trabalhar? O que era o trabalho?
R – Olha bem, eu comecei a trabalhar na empresa do meu pai, que ele era sócio, e como classificador de café. Comecei classificando café, aprendendo, mas fiquei muito pouco tempo, se eu não me engano seis ou sete meses classificando, degustando café.
P/1 – Conta só um pouquinho o que significa a classificação do café.
R – O que era. Na empresa de café, a empresa era comércio e exportação, basicamente era o quê? Ela compra café de produtor ou de comerciante, em grão, cru, e ela processa esse café. Ela vai melhorar esse café pra poder exportar ou pra vender pra torrefação. Então, o que ela faz? Chega esse café em grão no armazém e esse café tem que ser classificado pra saber se o tipo foi o que comprou, né? Se tá ok em tipo, em padrão. E eu ficava nessa área de classificação. São vários classificadores e degustadores. O que é que você tem que fazer? A classificação do café em si, na parte física e na parte de degustação pra saber se o sabor é aquilo que foi comprado.
P/1 – Tem um preparo desse café, é isso? Na degustação.
R – Tem um preparo na degustação que não é o mesmo preparo de uma xícara de café, mas basicamente é o quê? O café cru, porque não é o... Então, há a classificação física do café, cru, de tirar defeitos, saber quantos defeitos que ele tem e ele é provado também. Em alguns casos ele é provado, no caso do arábica e tal, e alguma coisa de conilon. E ele é torrado e moído lá mesmo numa maquininha e aí há a prova degustativa desse café. Essa é a prova mais ou menos. Então eu ficava nesse setor, fiquei pouco tempo, acho que seis meses...
P/1 – E na prova degustativa o que você avalia? Só pra gente ter uma noção.
R – Olha, nessa prova degustativa você tem uma classificação, uma tabela, né? Eu vou dar o exemplo do arábica, por exemplo. Você tem várias bebidas que já foram determinadas aquilo lá e você vai saber em que se enquadra o café que você tá provando ali. Então, você tem bebida rio, a rio zona, bebida dura, bebida mole, que é um café de muita qualidade.
P/1 – Mas tem a ver com amargor, a acidez, tem alguma coisa...
R – Tem tudo a ver. Tudo a ver com isso aí. Nessa degustação você vai sentir o gosto de folha, de verde, de um café que a gente fala que mal colhido, vamos colocar assim. Gosto de terra, foi mal beneficiado aqui no interior, você sente lá todo esse gosto aí e é essa mudança que vai ter nele de bebida.
P/1 – E aí tem uma classificação, uma nota? Ele é classificado e tem um tipo de certificado? Como é que é...
R – Não. Ele tem, como eu te falei, tem esse padrão, né? Que foi criado há muito tempo esse padrão de bebida, pra se ter um padrão, e você vai classificá-lo nesse padrão, se ele é bebida rio, se é riado, se é duro riado. E é uma norma internacional, quer dizer, lá fora é a mesma coisa porque ele compra a mesma bebida. Quero um café que seja duro, um arábica duro.
P/1 – O que é um café duro?
R – Duro é um padrão de bebida que vai ser um café, um sabor mais neutro um pouco e... Explicar assim é difícil porque é um padrão que quem degusta direto vai te explicar melhor isso aí como é que é esse padrão. Essa é a parte de degustação e tem a parte física do café lá que é qual é a peneira dele, se ele é graúdo, se ele é miúdo e qual é o defeito dele. Então é na parte física mesmo. Essas duas áreas aí, essas duas vertentes. Na hora que chega um café ou num comerciante aqui ou numa exportadora, que era o meu caso lá, você tem essa primeira entrega. Entregou o café no armazém, chegou, você vai classificar o café. E nessa classificação é feito isso aí. Cem por cento do café classificado fisicamente e alguma parte do café vai ser degustado. Nós temos caso também de café que se compra, que não precisa degustar. No caso do conilon é muito isso aí, você vende o conilon, por exemplo, e a grande maioria não degusta. Ele é só a classificação, só a parte física.
P/1 – Mas por quê? Não faz muita diferença isso? Por que não tem a degustação?
R – Não faz porque o conilon é um pouco diferente, ele não tem tanto sabor assim. O conilon nós estamos buscando hoje, as empresas estão buscando hoje um pouco mais de qualidade de sabor e procurando um pouco mais de sabor pro conilon. Mas no geral, na história do conilon ele não teve muito isso. Então, ele é muito padrão mesmo. Chega o padrão, aí é classificado fisicamente, que é o padrão de peneira, padrão de tipo.
P/1 – E o que dá o sabor pro conilon é o blend com arábica ou não?
R – É o blend. Na maioria das vezes é o blend do arábica. Hoje nós já temos casos do conilon puro, que são conilons que estão buscando a essência de sabor melhor pro conilon. Mas na maioria dos casos ele entra como blend do arábica.
P/1 – Entendi.
R – Então, um fator preponderante pro conilon hoje é neutralidade dele. Quanto mais neutro ele for, isso que as indústrias preconizam, quanto mais neutro ele for, ele entra em qualquer arábica, num blend com arábica aí.
P/1 – Entendi. E isso de neutralidade, explicando pra alguém que é leigo, significa mais ou menos o quê?
R – Como no arábica, vamos imaginar assim, o arábica a gente busca sabor nele. No conilon é um pouco diferente, foi sempre um pouco diferente, a gente buscou não ter sabor. Por que não ter sabor? Porque você pega, eu estou te explicando aqui, mas eu talvez tenha alguma dúvida disso aí, mas na maioria das vezes se o conilon for bem neutro, um café bem neutro, sem sabor, ele vai entrar num arábico de bebida muito boa. Não falei que tem a bebida muito boa do arábica lá, mole, duro? Ele entra sem interferir nada no sabor do arábica. Ele vai dar mais corpo no café, mais cor no café, e mais corpo no café que eu falo é o que? Um pouco mais de densidade no café ali quando você está visualizando o café, a gente fala que aqui na região de água choca que a gente fala, que é um café meio suco de café, ele é meio clarinho. O conilon dá um pouco mais de cor nesse café, mais consistência e volume, né? Então ele entra e não modifica a bebida boa do arábica, por isso que a gente fala da neutralidade do conilon.
P/1 – Entendi.
R – Mas olha bem, eu não sou especialista nisso, eu só estou dando o que eu tenho de conhecimento no café.
P/1 – O que você sabe. Claro.
R – Mas isso está mudando. Hoje está se buscando um conilon de qualidade que é o que devagar, nós estamos querendo fazer na propriedade. Tentando hoje visualizar um pouco mais de qualidade.
P/1 – E aí depois que passa por essa fase de classificação o que acontece com esse café?
R – Lá na empresa, por exemplo, ele é beneficiado. E aí ele vai passar por todo um processo físico lá de separar peneira. Então praticamente são peneiras lá realmente, que um processo de peneiras que você separa. Eu quero um café, tem uma pessoa lá fora ou aqui dentro quer comprar um café 17 acima o cliente. Então, você vai separar a peneira 17 acima do café. E aí vai passar por eletrônica, que eletrônica é que vai tirar fotocélula. Ela vai tirar o café que a gente chama de defeito, que é o café preto, por exemplo, o café quebrado, escuro, preto. A fotocélula vai tirar esse café.
P/1 – Faz uma separação, é isso?
R – Uma separação. Isso aí.
P/1 – Que é por máquina isso?
R – Que é por máquina. É tudo por máquina. Então, depende do que o seu cliente quer, porque tem cliente que quer um café mais barato. Esse café que você tirou do café, esse quebrado, preto, brocado, você tirou na máquina, você vai jogar pra esse cliente que quer um café de pior qualidade. E esse café melhor de qualidade que você tirou peneira, que você tirou, foi na eletrônica e tirou esses defeitos todos, ele vai pra outro cliente que quer uma qualidade superior. Mas tem comprador pra tudo.
P/1 – Entendi. E aí depois faz a venda, né? Beneficia...
R – Depois faz a venda. Aí já vai chegar na outra parte que é a parte da indústria. Entra do mesmo jeito, chega na indústria eles vão fazer a mesma classificação que eu fazia lá antigamente que eu te falei, na exportadora, na comercial exportadora, na indústria vão fazer a mesma coisa. Vai classificar, saber se o comerciante entregou o café certo, classificar, só que o processo seguinte já é torrefação, já é outra coisa, moagem, torrefação, blend, qual vai ser o blend de arábico, conilon, se é só conilon, o que é.
P/1 – Tudo isso na indústria?
R – Isso no comerciante não tem. Isso aí é a partir da indústria que vai ter, que vai decidir qual a quantidade de arábica, que tipo de arábica, qual a bebida do arábica que vai, em qual quantidade, né? Isso aí já é a parte toda da indústria, a parte final.
P/1 – E essa comercial exportadora que você trabalhou, que era onde seu pai era sócio, como é que era o nome?
R – Isso. Posso falar? É Unicafé. Unicafé Companhia de Comércio Exterior.
P/1 – E você ficou esses seis meses na classificação e depois?
R – Isso. Muito pouco tempo. E aí surgiu a oportunidade de uma corretora de café que era de um amigo nosso. Ele queria vender a participação dele nessa corretora. E apareceu a oportunidade do meu pai comprar essa participação. Então, eu entrei como sócio dessa corretora na época.
P/1 – O que é exatamente uma corretora de café?
R – Corretora de café vai ficar nesse meio aí que eu te expliquei do comerciante ou produtor do interior para vender tanto para o exportador e o comercial exportador ou pra vender direto pra indústria. Então, o corretor vai fazer esse bate bola do interior ou do comerciante pra torrefação. Ele tá nesse meio aí.
P/1 – Entendi.
R – Mas explicando bem, eu era corretor interno só. Porque nós temos corretor externo também, que é o corretor que vende dessas empresas todas aqui do Brasil pra fora. Eu não fazia essa parte. Então, o meu negócio era o quê? Eu tinha os meus clientes, produtor rural ou comerciante, que eu vendia pra essas empresas exportadoras ou para torrefação. A corretagem é basicamente isso aí. Eu cobrava o valor de comissão e fazia essa venda. Então passei... Eu acho que eu comecei a trabalhar na empresa em 89, se eu não me engano, e aí pra você ter uma ideia eu parei de trabalhar em corretagem há três anos.
P/1 – Trabalhou muitos anos.
R – Muitos anos.
P/1 – E como é que foi essa fase de começar a trabalhar? Você começou a trabalhar antes de entrar na faculdade, né?
R – Antes de entrar na faculdade.
P/1 – Entrou na faculdade, que faculdade você fez?
R – Administração.
P/1 – Não, mas foi aqui em Vitória?
R – Foi em Vila Velha na UVV.
P/1 – E aí como é que foi essa fase de faculdade? O que mudou na sua vida, a vida universitária? Teve alguma mudança também de grupo de amigos, de lazer?
R – Não teve uma mudança grande assim, só conhecendo mais gente. Mas como eu já estava numa fase de trabalho e...
P/1 – Você casou também.
R – Eu casei também e tudo. Então, não alterou muito a minha rotina até porque a turma de faculdade eu já conhecia muita gente lá, a faculdade de Vila Velha. É lógico, uma fase muito legal de faculdade. Eu voltei a rever muitos amigos meus de Vila Velha e foi muito bom. Uma fase legal, mas não alterou muito. Já não alterou muito como alterou quando eu fui pra...
P/1 – Fazer o colegial.
R – Fazer o colegial nesse... Não alterou porque nessa época eu já dirigia, já trabalhava, então, não mudou muito a rotina.
P/1 – Estava mais estabilizado, né?
R – Já estava mais estabilizado.
P/1 – E me conta, então, como é que foi a gravidez do primeiro filho, o nascimento?
R – Caramba, surpresa como sempre, né? Pra mim ainda mais porque a gente não estava casado na época, então é uma surpresa... Na hora é um choque.
P/1 – Como é que foi o anúncio? Como é que ela te falou que estava grávida?
R – Não lembro muito bem. Mas lembro que na época a gente fica muito assustado, muito medo e até saber o que vai fazer, como é que vai falar isso pra família e tudo, né? Mas isso vai passando e depois do nascimento vira... É fantástico. A experiência de ter um filho assim é muito legal.
P/1 – Você acompanhou o parto?
R – Acompanhei.
P/1 – E como é que foi a sensação, tudo?
R – Olha, eu te falo que eu não agradei muito, tanto que os meus dois outros filhos eu não acompanhei o parto. Eu fiquei fora. Não foi uma experiência muito legal pra mim, tanto que eu acho que eu não acompanhei o parto todo. Eu acho que no início lá eu já saí.
P/1 – É porque você ficou nervoso?
R – É. Eu fiquei nervoso, não gostei muito e tal. Eu lembro que eu acho que eu nem cheguei a acompanhar toda a cirurgia e já saí.
P/1 – Como é que é o nome do seu primeiro filho?
R – Gabriel.
P/1 – E você se lembra da sensação quando você o viu?
R – Lógico. Nossa, uma emoção... Estava com a minha mãe do lado até e com minha esposa. Eu lembro que foi muito legal, muito bom.
P/1 – E como é que é ser pai? O que muda na sua vida? O que mudou na sua vida?
R – Eu sou pai desde muito cedo. Então, eu já venho mudando, quer dizer, com 21 anos de idade eu te falo que foi uma emoção muito forte, muito grande, mas foi tanta mudança rápida que teve na minha vida por causa do nascimento do Gabriel e logo depois veio o outro, o Rafael. Um pouco de tempo depois, demorou um pouco mais, mas veio o terceiro filho, o André. Então depois, como diz, no outro eu já estava acostumado. Podia vir mais uns dois aí que eu já estava bem na fita. Já estava bem acostumado...
P/1 – Três meninos você tem?
R – Três meninos. Mas o gostoso mesmo é... Muito legal é acompanhar a fase de cada um, né? São três fases distintas que vieram e você vai tendo essas fases todas de criança, de adolescência, de neném que você curte muito. Hoje eu tenho muita saudade do meu filho neném, por exemplo. De curtir, de dois, três anos de idade. Essa fase é fantástica, isso eu tenho muita saudade.
P/1 – Vai poder curtir quando for avô.
R – Vou poder curtir quando for avô. É isso aí. Essa fase gostosa, né? Que tem a fase do trabalho toda lá, que essa não dá muita saudade, mas a fase de curtir o neném e tudo é muito legal. Essas fases aí da adolescência, quer dizer o meu filho mais velho já está com 22 anos de idade, faculdade já, já tá trabalhando. Então tudo aquilo que eu vivenciei há pouco tempo, muito pouco tempo, eu estou vendo agora.
P/1 – Ele está na mesma área ou não?
R – Em contextos diferentes... Não. Ele faz engenharia civil, ele está na parte de construção civil. Não sei se é o que ele vai tocar, talvez não e tudo, mas é o caminho que ele escolheu aí. O do meio está pensando em fazer Direito e o mais novo está com 15 anos de idade aí, tá tentando ver o que ele vai fazer também.
P/1 – É muito novinho.
R – Muito novinho ainda.
P/1 – Tá certo. Eu queria entender, você falou que trabalhou todo esse tempo como corretor...
R – Isso.
P/1 – Como é que começou essa propriedade? Qual que é a história da plantação?
R – Ok. Vamos lá. A história pra chegar aqui, né?
P/1 – É.
R – Eu nunca fui muito envolvido... Meu pai sempre teve propriedade em Santa Teresa desde que... Eu acho que meu pai tem propriedade em Santa Teresa desde 1975. A gente ia pra lá final de semana, feriado a gente ia pra fazenda, mas nenhum dos três foi envolvido em propriedade. Nós tínhamos uns primos nossos que estão lá até hoje envolvidos em propriedade e tudo, mas nós nunca fomos envolvidos. A gente foi muito urbano sempre. E aí foi desse jeito. Meu pai depois comprou uma propriedade na Bahia, no sul da Bahia, já começou a plantar um café lá na época, foi um dos primeiros a plantar conilon na região, no sul da Bahia, em Itabela. Nessa época eu não tinha interesse, meu irmão mais velho já foi estudar fora. Eu ia de vez em quando com o meu pai pra Bahia, acompanhar ele na viagem, mas sem interesse nenhum. E meu pai não tinha tempo de cuidar da propriedade, ele acabou vendendo a propriedade na Bahia e comprou uma propriedade mais próxima, aqui em Linhares mesmo. Só que mais perto, vamos colocar assim, pecuária, na época era pecuária, e na época mais da parte sentido mar aqui, do litoral de Linhares. Eu acho que ele comprou essa propriedade em 88, 89, por aí; em 92 nós tivemos uma enchente aqui na região e essa fazenda encheu bastante, lá na região do Barro Novo que a gente chama. Aí nós estivemos na propriedade e ele desanimou. Ele falou: “Meu filho, ou eu vou vender, ou você toca o negócio”. E foi aí que eu comecei realmente a me envolver em propriedade.
P/1 – Mas não era essa propriedade ainda aqui, onde a gente tá?
R – Não era. Não era. Em 92 eu comecei a procurar conhecer e rodar com uns amigos que mexiam com pecuária, aprender sobre pecuária e rodar bastante. Em 98 foi que apareceu a oportunidade de comprar essa fazenda aqui, uma parte dela, que depois nós compramos outras partes. Não tinha intenção de plantio de agricultura, era mais pra ter uma opção de uma área alta pra se desse enchente lá, por exemplo, na parte baixa nossa ter como colocar o gado nosso aqui.
P/1 – Então era pra ser de pecuária.
R – Era pra ser de pecuária. Era nossa visão só pecuária. Mas como ela tinha um pedaço pequenininho de café eu resolvi deixar esse café e em 99, final de 99 eu resolvi plantar a primeira área de café nossa aqui e aí não parei mais. A fazenda aqui continua sendo pecuária, mas assim, o foco nosso aqui muito maior pro lado do café. Em 99 eu plantei o primeiro café. Aí fomos aumentando área, aumentando área, a área de pecuária foi diminuindo, eu fui remodelando essa parte de pecuária pra poder continuar com o mesmo rebanho, né, estruturar-me mais nessa parte de pecuária, trabalhar mais. Eu sou apaixonado em pecuária, eu gosto muito ainda. E hoje tá aí, nós estamos com uma área já boa de café hoje.
P/1 – Qual que é a área total de vocês aqui, qual que é a área de café?
R – A área da fazenda dá em torno de 1150 hectares, 200 e poucos alqueires. Nós estamos com uma área de café hoje de 173 hectares e eu estou com um plantio agora novo, devo fazer esse plantio em maio já de uma área de 50 hectares a mais.
P/1 – E quanto vocês produzem de saca de café hoje?
R – Aqui esse ano nós estamos entre nove, dez mil sacos de café. É o que deve sair a produção aí.
P/1 – E você lembra o porquê dessa decisão? Você falou que deixou uma areazinha pequena, que já tinha café plantado, mas o que te fez pensar acho que vale a pena... Foi em 99, você falou?
R – Noventa e nove.
P/1 – É. Que vale a pena...
R – Noventa e nove foi o primeiro plantio. Olha, o que aconteceu? O nosso negócio era café, comércio de café. Então, nós temos uma história de café muito forte já. E a família nossa veio de café, plantava café em Santa Teresa, planta café em Santa Teresa também, áreas de morro e tal. Aí em 99 eu falei: “Por que não?”. Área plana, com muita água, com irrigação, por que não começar o plantio aqui. E aí foi por aí que começamos a ver que o negócio tinha que ser feito aqui mesmo. Os investimentos em café nosso tinha que ser aqui.
P/1 – E deu certo logo de cara? Como é que foi esse processo até...?
R – Eu falo que o processo de café, de plantio, é uma cultura que não é fácil, porque ela produz com dois anos e meio, por aí. E você tem uma sequência muito grande de fatores aqui, de uma irrigação bem feita, de um plantio bem feito e aí vem a parte de muda, escolher a muda e o clone, que a gente chama de clone aqui no conilon, e no começo é muito difícil. Até a gente dominar, eu te falo que até hoje nós estamos tentando ainda dominar isso aí. Pra dominar 100% ainda é muito difícil.
P/1 – E você chamou, quando você decidiu fazer o cultivo de café, você chamou uma equipe, alguém veio te dar uma consultoria? Como é que foi que você foi entendendo? Ou foi...
R – Não. Fomos errando. Errando muito. Como eu falei, eu tenho um gerente aqui que é o José Caniva, e tenho uma equipe, tinha uma equipe já de pecuária que nós fomos formando com café. Essa equipe foi sendo formada aqui e foi sendo formada mesmo, porque eu tinha um gerente que tinha uma noção de café e foi crescendo junto com o negócio de café e foi entendendo de café. Hoje ele é muito entendido na parte de café. Desde o tratorista que não era tratorista, foi formado dentro da fazenda como tratorista e virou tratorista, até outros que saíram da fazenda, que eu perdi, que eram muito bons em outras áreas aqui, que foram formados aqui. (interrupção)
P/1 – Então só retomando, você falou que você tinha uma equipe já que trabalhava com pecuária e foi se formando, essa equipe foi se formando na prática pra trabalhar com o café.
R – É.
P/1 – Como é que foi essa formação? Foi...
R – Só na prática. O que acontece no café? O café evolui muito rápido no Espírito Santo, no norte do Espírito Santo. O conilon a evolução foi muito grande de expansão, de área. Mas nessa época a formação da equipe nossa foi nisso aí, é de prática mesmo. Então vamos plantar o primeiro café e pro segundo café vamos ao vizinho ver, que plantou que deu certo e vamos atrás de olhar algumas áreas. Na época, nessa época ainda não, mas no início foi isso aí, a preparação da equipe foi bem essa aí. Então o tratorista não era tratorista, mas dirigia um trator. A secagem era feita sem saber que hora certa era pra secar e fomos queimando café e queima secador, aí vai definindo que horas mais ou menos, aí vai ao vizinho ver como é que tá fazendo, vai a outra fazenda. Então muito disso aí é vendo exemplo de outros. Mas muito erro. Muito erro de plantio e tudo, porque outros estavam errando também.
P/1 – Você se lembra de algum exemplo assim, ou alguns exemplos?
R – Eu tenho muito exemplo aqui de trabalho que nós erramos, de condução de café mesmo errada, ou até uma condução que não era aprimorada, que na época a gente não tinha noção do que era aprimorado, né? Isso a gente não sabia mesmo, mas...
P/1 – Mas um erro que depois, lógico, tenha levado a um aprendizado ou a um acerto depois.
R – Olha, teve muito. Pra eu te falar um erro específico, teve muito, porque até hoje a gente erra no plantio e usa isso aí pra não errar mais. Então, eu falo assim, de várias áreas que eu tenho de café, eu tenho poucas que eu consegui falar assim: “Esse plantio é certo do começo ao fim”.
P/1 – É, esse caso da secagem é um exemplo, por exemplo, né?
R – Esse caso da secagem é um exemplo. Nós tivemos várias vezes isso aí de, por exemplo, a secagem basicamente depende de calor e o fogo vem ou de palha de café ou de lenha e a fornalha. Nesse caso até você conseguir uma pessoa que tenha noção disso muito claramente você passava a secagem. Quer dizer, o café seca demais e ele acaba pegando fogo. Ele basicamente torra no secador. Então, você perde aquele secador praticamente de café. Na colheita, por exemplo, eu falei de todo um processo, de plantio, por exemplo, você tem que abrir uma área, você tem que saber abrir a área, você tem que saber adubar a área, você tem que saber comprar uma irrigação que seja boa e manejar essa irrigação também. Depois da colheita o pós-colheita também. Você tem um problema sério no pós-colheita.
P/1 – Que é o quê? Quais são as questões do pós-colheita?
R – Você tem que ter mão de obra pra colher porque é tudo manual. Naquela época até hoje, hoje está tendo outro direcionamento de máquina que depois a gente pode falar, mas até então era tudo manual, 100%. Como colocar essa mão de obra dentro da propriedade? Como estruturar isso aí dentro da propriedade? Você vai crescendo área, você vai tendo que trazer mais gente aqui pra dentro.
P/1 – E essa questão de mão de obra, quais são as questões que você tem que enfrentar ou resolver...
R – Essas são questões... Nós temos duas questões de mão de obra, uma é o dia a dia da propriedade, que é você segurar a equipe dentro da fazenda e formar pessoas dentro da fazenda. Isso é muito difícil hoje no interior pra todo mundo.
P/1 – Por que você acha que é difícil?
R – Olha, é muito difícil porque você tem uma geração nova que não quer ficar na propriedade. Você tem uma geração nova também que talvez não queira, não tem interesse em um aprendizado sobre essa parte de agricultura, que é muito interessante hoje em dia. E você formar hoje uma pessoa que... Eu vou dar um exemplo claro, hoje eu tenho uma dependência grande de... O meu gerente, por exemplo, aqui tem, né, de pessoas mais qualificadas. Essa pessoa um pouco mais qualificada eu não consigo.
P/1 – Essa pessoa um pouco mais qualificada você fala alguém com prática, por exemplo? É isso? Seria isso?
R – Não precisa nem estar com prática, mas que tem uma noção um pouco melhor, que a gente possa formar aqui dentro da fazenda. Isso eu falo de um tratorista, de uma pessoa pra irrigação. Hoje eu tenho essa pessoa aqui que foi formada dentro da fazenda, pra irrigação, que entende de fertirrigação, entende tudo. Esse tipo de qualificação é muito difícil. E falo até pra você de um pedreiro, porque você precisa de uma pessoa que entenda de obra dentro da fazenda, um pouco. Eu não tenho essa pessoa. Então, desde um tratorista, desde uma parte de irrigação, por isso que eu falo que é muita coisa que envolve. Você vai envolver, por exemplo, o manejo de café. O manejo de café consiste em adubação, em sanidade do café, e a sanidade consiste em você fazer pulverização. Você tem hoje o seguinte, vou dar um exemplo, é um exemplo de pulverização. Eu compro uma máquina pulverizadora caríssima. Essa máquina vem com um trator caríssimo. O trator é cabinado com ar condicionado dentro e a estrutura de pulverizador de alto nível. Eu não tenho quem consiga tocar isso aí, você entendeu? Então o quê? Falta treinamento pra gente estar com tratorista que tenha conhecimento desse trator e falta uma pessoa pra ter conhecimento de como fazer a pulverização correta. Mas isso eu estou falando de um detalhe da fazenda, porque isso tem desde o plantio lá, porque no plantio tem isso também. Eu tenho um trator que vai fazer um sulco, ele tem que fazer um sulco de uma profundidade de 60 centímetros. Ele tem que ter um alinhamento muito correto e como fazer isso sem pessoas treinadas dentro da fazenda? Então, envolve muita coisa. Isso é um fator hoje limitante pra gente dentro da fazenda. O meu gerente hoje tem que ser um pouco pedreiro, um pouco tratorista, um pouco regulador de máquina, e fica um negócio muito pesado pra ele. O que a gente está buscando hoje? Algumas pessoas que consigam deixá-lo mais liberado pra ver outras coisas dentro da fazenda, que ele não consegue ver. Porque ele tinha que estar enxergando agora alguma coisa o seguinte, como é que nós vamos evoluir? Como é que nós vamos evoluir em plantio, como é que nós vamos evoluir em clone. Ele não consegue olhar pra isso aí, porque ele não tem ninguém que faça esse serviço mais braçal. Braçal até que tem, mas esse serviço um pouco mais qualificado de regulagem de uma máquina, de um trator, de um implemento, de uma estrutura de secagem.
P/1 – É o mesmo gerente que você tem desde o princípio?
R – É o mesmo gerente que eu tenho desde o princípio.
P/1 – E você acha que isso é porque as pessoas não têm interesse de trabalhar no campo, é isso?
R – Muito é por causa do desinteresse de trabalhar no campo. E a outra coisa é o seguinte, quando eu qualifico uma pessoa que começo a qualificar, surgem novas oportunidades pra ela, né? E aí vai surgir oportunidade da cidade. É normal isso aí, eu já tive...
P/1 – Aí vai ser absorvida como? Uma pessoa que você, por exemplo, forma aqui, como é que ele é absorvida na cidade, no mercado de trabalho?
R – Olha, em qualquer mercado. Em qualquer mercado da cidade, independente de que seja o fator, mas quando você qualifica uma pessoa aqui, que seja no escritório, que seja na parte de campo, ela é absorvida na cidade ou na área agrícola mesmo, em lojas agrícolas e tudo, ou em outra parte. Vamos supor, aqui eu tenho uma concorrência enorme da Petrobrás com empresas terceirizadas e falta pra ele a mesma coisa que falta pra mim, uma pessoa um pouco mais qualificada e aí não interessa pra ele se ela é qualificada no campo, se é um pouco mais qualificada no escritório. Ele vai absorver essa pessoa.
P/1 – Entendi.
R – Essa é uma parte da mão de obra. A outra parte da mão de obra, como a nossa colheita ainda é manual, eu dependo de pessoas de fora para vir colher o café aqui. Poderia colher com pessoas daqui da região, mas está caro, está difícil de achar e eles estão vindo de lugares cada vez mais distantes. Então até o ano passado eu tinha uma turma de Minas que vinha pra cá, hoje pra você ter uma ideia a turma toda minha é da Bahia. Eu tenho um grupo que está aqui que veio de Feira de Santana, que eu acho que dá mil e 200 quilômetros daqui. Essa é outra dificuldade nossa, porque nós temos que ter toda uma estrutura pra receber essa turma aqui. Eu tenho que estar enquadrado em todas as normas de Ministério de Trabalho, que não são poucas, são muitas. Até hoje eu faço parte do 4C da Nestlé lá, que também tem enquadramento. Então, eu tenho que pensar nisso tudo.
P/1 – Como é que vocês chamam essa mão de obra? Só pra eu entender, essa mão de obra de Feira de Santana ou da Bahia, como é que é feito esse recrutamento?
R – Basicamente a gente chama aqui no Espírito Santo do turmeiro. Meu primeiro contato que eu tenho é com esse turmeiro. É com o cara que vai arrebanhar esse grupo aí.
P/1 – Que não é uma pessoa que trabalha pra você? Alguém que faz isso pra várias fazendas, é isso?
R – Não. Ele faz pra várias fazendas. Então, o primeiro contato que eu tenho é esse turmeiro, que é o agenciador no caso e, ou ele vai direto fazer o contato com essas pessoas na Bahia, ou ele vai ter uma pessoa lá de contato dele que vai fazer essa busca no interior dessa turma. Porque pode ser pessoa que já colheu café, tanto pode ser que nunca colheu café.
P/1 – E como é que eles vêm pra cá? É o transporte... É esse turmeiro ou esse agenciador que...
R – Esse agenciador vem comigo sempre aqui, vamos supor, início do ano. A gente tem uma primeira reunião em janeiro aqui. Ele vai saber como é que a fazenda funciona, quais são as regras da fazenda, qual o início da colheita aqui da propriedade. A gente vai negociando isso ao longo do tempo até a colheita. Então, de janeiro até abril eu tenho que estar com isso tudo definido. Qual o valor por saco colhido, como é que é o tipo de colheita, como é que é alojamento. Ele vai saber as regras da fazenda, de horário de fazenda, de como é que é a parte de alimentação, se eles têm que comprar o alimento, se o alimento eu vou dar, se eu tenho cozinheiro próprio. Porque isso aí ele vai passando pra turma pra não dar confusão exatamente quando chegar na fazenda aqui.
P/1 – Pra estar bem acordado.
R – Qual o prazo de colheita. Basicamente eu tenho esse agenciador que é o turmeiro, que eu chamo de turmeiro, que vai organizar esse grupo. Essa viagem eu pago o ônibus deles que vem até a fazenda e ele tem uma porcentagem do que a turma colher. Eu pago o valor pra ele exato do que a turma dele colher. Então, o grupo dele colheu oito mil sacos maduros, ele vai ter um valor em cima desse volume colhido aí.
P/1 – E quantas pessoas você precisa hoje pra trabalhar na colheita?
R – Olha, aqui de 80 a 110. Eu cheguei a ter 120 aqui esse ano, estava com 120 pessoas aqui, mas hoje eu estou com 78, 80 pessoas aqui de fora. Fora o pessoal da fazenda.
P/1 – E aí você hospeda todas essas pessoas...
R – Hospedo todos aqui. Eu tenho alojamento com cantina, com cozinha. Eu contrato um cozinheiro e alimentação toda por minha conta. E aí você vai ver vários tipos de fazenda que fazem alimentação por conta da turma, a turma leva o cozinheiro. Nesse caso meu aqui eu decidi fazer a cozinha por minha conta.
P/1 – Durante quanto tempo eles ficam normalmente? Qual que é o período de colheita, quanto dura?
R – Mais ou menos de 40 a 60 dias. Eu acho que essa colheita agora nós devemos ir pra 50 dias, mais ou menos isso aí. E aí não é o mesmo grupo, né? Porque dentro desse grupo vai ter gente que já cansou, já voltou pra cidade dele e já vieram outros de lá. Por exemplo, vieram três grupos pra cá e um desses grupos não deu certo. E aí eles voltaram pra cidade deles depois de dois, três dias aí. Então acontece isso aí. Esse é um problema também que nós temos sempre, todos têm, que é você trazer essa turma pra dentro da propriedade e seguir todas as normas com esse grupo todo que você não conhece direito, que você... É lógico que depois de um tempo você vai formando a turma, né? Já conhece um ou outro que já vieram colher na propriedade, mas a maioria que vem nunca veio na fazenda.
P/1 – Entendi. Então é uma questão delicada. É uma das principais questões, você acha?
R – É uma questão muito delicada. E hoje nós estamos... Porque no arábica já tem máquina há muito tempo no cerrado, no sul de Minas já usam máquina pra colheita de café. É um sonho nosso essa máquina de colher que já é uma realidade agora. Quer dizer, a máquina passou quatro, cinco anos aí de modificações e nós já temos hoje algumas indicações de máquina pra colheita do conilon.
P/1 – E aí você pretende comprar?
R – Ano que vem eu já devo estar com pelo menos uma máquina ou duas aqui na fazenda. Não tiro a mão de obra total, eu ainda vou precisar dessa mão de obra, mas ela diminui no tempo, ela vai diminuir e vai favorecer muito todo esse problema nosso de mão de obra, de volume de mão de obra que a gente tem na colheita.
P/1 – Reduz bastante? Você tem uma ideia já ou só vai saber isso na prática?
R – Olha, eu acho que... O nosso pensamento aqui, daqui, pelo que a gente está visualizando da máquina, daqui dois anos eu vou conseguir 50% no mínimo de redução de mão de obra aqui.
P/1 – É bastante.
R – De 50 pra 60%. É bastante. E de custo, né? Você acaba diminuindo no custo também.
P/1 – Claro.
R – Isso é muito interessante pra gente.
P/1 – Eduardo, eu queria entender, se você consegue pensar em linhas gerais, desde quando você começou a plantar até hoje as técnicas e tecnologia mudaram muito?
R – Muito. Mudou muito. Nós temos dois fatores, um fator privado e outro fator de órgão de governo, por exemplo. Nós temos a Incaper aqui que fez um trabalho fantástico todos esses anos de pesquisa que foi muito importante pra cafeicultura, está sendo importante. E nós temos o outro lado que é a parte privada mesmo, que é o cafeicultor investindo em plantio novo, como eu falei aqui, a gente foi plantando, aumentando área e crescendo, você vai conhecendo. E você tem o setor privado que fez um trabalho numa velocidade incrível, de qualidades novas de plantas, de adensamentos, de colheita, tipo de colheita diferente e qualidade. Isso aí impulsionou de uma forma, numa velocidade enorme o conilon no Espírito Santo.
P/1 – E você destacaria alguma mudança que você achou que foi mais expressiva ou significativa? Pensando na sua propriedade mesmo.
R – Na minha propriedade eu vou falar o seguinte, a parte clone de café. A planta de café em si. Esquecendo a parte operacional toda lá que teve muita mudança também, mas a parte de clone, por exemplo. Eu to tirando áreas, ano que vem eu tiro a última área aqui minha de um clone, que já é clone, não é semente, que eu acho que esse clone vai estar com 13 anos de idade. Muito novo até. Eu estou eliminando ele porque eu estou plantando plantas novas que produzem eu acho que 30, na média 30% a mais. De 30 a 40% a mais e quando a gente fala em produção de café é muita coisa. E não só a produção de café aumenta. Você tem a arquitetura da planta é diferenciada e você tem um manejo mais barato. Quer dizer, é uma planta muito mais eficiente.
P/1 – Por que um manejo mais barato?
R – Porque a arquitetura da planta antiga, por exemplo, ela era um galho que quando carregava muito ela tombava. Você vai ver talvez exemplo disso ainda aqui na propriedade. Isso aí fazia o manejo da planta de desbrota, porque o conilon é muito voltado pra você desbrotar e podar pra ele poder continuar produzindo, diferente do arábica. O arábica também tem poda e desbrota, mas no conilon é muito mais agressivo isso aí. Você tem que realmente podar e desbastar o café muito pra ele poder continuar produzindo. E nessa arquitetura da planta nova agora, isso aí, esse fator melhorou muito, porque o custo pra gente desbrotar é tudo manual e nessa planta de arquitetura mais... Vamos colocar, mais ereta no caso, ela melhorou muito eses manejo, facilitou muito isso aí.
P/1 – Quando você começou a plantar era semente ou já era clone?
R – Não. Já era clone. Em 99 eu já comecei a plantar aqui clone.
P/1 – Você sabe quando foi essa mudança, mais ou menos? Quando a semente deixou de ser... O clone...
R – Caramba, eu tenho medo de errar isso aí porque isso aí é muito pesquisado aqui no Espírito Santo e muito...
P/1 – Não, tudo bem. Claro. Só se você soubesse.
R – Mas assim, eu acho que o clone foi meados dos anos 90 aí, 90... Porque o trabalho mesmo do clone deve ter sido antes, porque se iniciou com clone de eucalipto aqui no Espírito Santo e depois houve um trabalho grande de formar esse clone pra café. Mas eu acho que o clone chegou mesmo no campo em início dos anos 90 aí, que eu acho que foi chegando com muito mais força. Na época o G35 que era o clone básico aí que todo mundo utilizou e aí depois desse G35 foram tirados esses outros clones aí que a gente vê hoje de produção maior.
P/1 – Você tem viveiro aqui também, não?
R – Não. Não tenho viveiro. Eu trabalho em parceria com viveiristas.
P/1 – Então eu queria entrar um pouquinho na coisa da Nestlé, do Nescafé Plan então.
R – Vamos lá. Vamos lá então.
P/1 – Saber primeiro como é que começou a sua relação com a Nestlé. Como é que você conheceu o projeto? Como isso chegou até você?
R – A Nestlé, eu acho que o primeiro contato foi três anos atrás, acho que foi três anos. Foi através do Forzza até, que é a exportadora, que já era parceira da Nestlé. E eu acho que através dele foi o primeiro contato na fazenda e tudo. Eu acho que eles começaram a divulgar o 4C.
P/1 – Mas alguém do Forzza te indicou? Como é que foi isso?
R – Alguém do Forzza na época comentou comigo que estaria começando a estruturar o 4C aqui no Espírito Santo e que a Nestlé tinha interesse. Como eu era cliente já deles eles tinham interesse de me encaixar no 4C.
P/1 – E aí teve uma inscrição ou teve uma abordagem direta de alguém da Nestlé? Como é que você começou a participar do projeto?
R – Olha, início mesmo do projeto meu aqui foi antes da primeira reunião, porque teve uma reunião do 4C, eu acho que foi aqui em Linhares mesmo, pra explicação do 4C. Mas antes disso aí eu tive uma visita do pessoal da Nestlé aqui na fazenda junto com o pessoal do Forzza. E foi um primeiro contato realmente com um grupo da Nestlé que queria partir pro 4C.
P/1 – E você lembra quem que era a equipe? Não precisa ser o nome das pessoas, mas...
R – Vou lembrar o Terence. O Terence que veio nessa primeira visita. Tinha um já... Eu acho que tinha mais um agrônomo já que eu acho que não ficou na Nestlé nessa época, mas o Terence era o cara que era do 4C que veio inicialmente na propriedade aqui.
P/1 – E o que era a função dessa visita? Como é que foi a conversa?
R – Não, essa primeira visita acho que foi só de conhecimento mesmo da fazenda. Porque nós tivemos depois uma reunião sobre o 4C e aí a segunda visita logo depois já foi para uma vistoria.
P/1 – Essa reunião do 4C você lembra o ano, mais ou menos?
R – Eu estou no 4C no segundo ano, tem três anos. Eu não lembro a data exatamente, não. Mas no caso em 2011... Eu acho que final de 2011 que nós tivemos as primeiras reuniões.
P/1 – E nessa reunião o que era falado? Qual que era o conteúdo dessa reunião?
R – Essa primeira reunião eu lembro que foi eles passaram muito basicamente o que era o 4C.
P/1 – Você já conhecia o 4C?
R – Não. Não conhecia. Eu vim conhecer nessa primeira visita que fizeram da Nestlé com Forzza e depois na reunião já no Forzza lá.
P/1 – E em linhas gerais você explicaria pra gente o que é o 4C?
R – 4C é uma verificação de algumas condutas dentro da propriedade. Trabalhista, meio ambiente, aqui tem a parte de... Como é que eu falo? Do ambiente de trabalho mesmo da pessoa, de qualidade de água, se eles têm moradia boa, de ambiente de trabalho também, mas é mais focado nesses sentidos aí. E a parte trabalhista mesmo, que é a parte documental, de segurança do trabalho, né? Eles têm muita preocupação com essa parte de segurança do trabalho também. Eu acho que são as coisas aí.
P/1 – E tem uma inscrição no projeto? Como é que funciona isso? Uma adesão? Como é que é essa adesão?
R – Olha bem, logo depois dessa primeira reunião eu já fiz a adesão e fui logo depois coincidentemente escolhido pra ter a vistoria na propriedade.
P/1 – E como foi essa vistoria? Quem que veio participar e o que verifica essa vistoria?
R – A verificação foi em cima primeiro da parte documental. Basicamente essa primeira vistoria foi isso. Eu já tive duas aqui, verificações, né? Mas primeiro a parte documental, pra saber se essa parte toda de segurança de trabalho, de carteira de trabalho, como era feita, registro de funcionário com quem ficava, se era na fazenda. Como é que era a parte contábil toda disso aí, de registros, e da parte de segurança do trabalho, como é que era a parte de verificação de saúde do pessoal que estava trabalhando na fazenda. E depois foi focada a parte de herbicidas e de como era a parte de estrutura de depósito disso aí. Como é que eu guardava o meu adubo, como é que eu guardava a minha parte de foliares, de herbicidas, de fungicida. Como é que era isso aí e como é que eu fazia a anotação disso aí.
P/1 – E você recebeu orientação?
R – Recebi. Recebi orientação.
P/1 – Que tipo de orientações?
R – Orientação básica que eu recebi inicialmente foi de como proceder esse ajuste aí de... Da parte trabalhista eu já estava bem organizado até, mas a parte de estocagem de produto e alguma coisa ambiental, aí eu fiz mudança já. Mas essa parte de estrutura de manejo de material, principalmente de herbicidas, fungicidas, isso aí.
P/1 – Mas que tipo de coisa?
R – Como guardar isso aí, né? Você vai ver um exemplo lá, por exemplo, da casinha que foi feita lá, a gente chama de a casa de veneno, mas não é o correto falar isso aí. Hoje já está toda dentro de um padrão, mas não era no padrão e depois dessa visita eu me adequei a como guardar isso aí e como fazer pra manejar isso aí. Porque não só guardar, você tem como manejar isso. Eu tenho EPI, eu tenho roupa de EPI, de pulverização, eu tenho todo um protocolo pra isso aí, eu tenho que seguir direitinho, lavagem de roupa, quem vai lavar, como é que vai seguir o protocolo. Quem vai usar sabe usar essa roupa? Então tem uma abordagem. Não tem um aprofundamento disso, mas tem uma abordagem que o 4C faz. Mas nessa abordagem eu me aprofundei. Eu acho que o 4C hoje em dia vai se aprofundar mais nesses detalhes aí. Mas tem uma abordagem boa.
P/1 – E o que essa parceria... O que se propõe entre a Nestlé e o produtor rural? Qual que é o trabalho a ser feito junto?
R – Eu vou só pegar o ganchinho aqui do que eu falei agora, porque tem tanto trabalho aí pra ser feito, eu vou falar muita coisa talvez. Mas eu acho que o aprofundamento nessas verificações, que eu acho que está melhorando. Porque no que nós temos de lei trabalhista hoje no Brasil, qualquer um se adequa ao 4C. A lei trabalhista é muito mais pesada que a verificação do 4C. Falar o que a Nestlé talvez teria que fazer pra se aprofundar isso, talvez seja treinamento, puro treinamento. Porque se o cara está enquadrado na lei brasileira, ele já está no 4C, já pode ser verificado tranquilamente. E qual o grande problema hoje que nós temos nas propriedades? Talvez não haja um protocolo a ser seguido pra poder chegar nisso aí. Como eu falei o exemplo de como eu guardo hoje a parte minha de fungicida, herbicida, adubo. Eu fui... Alguém veio aqui e treinou a gente, eu precisava de um procedimento. Como é que eu vou proceder pra fazer? E isso aí o 4C pode ajudar muito, mais do que me ajudou, porque eu tive uma base só, eu tive que buscar quem me desse uma planta de um... Qual é, quem é que pode me dar uma planta exata de como fazer um quarto pra guardar herbicida? Quem é que pode me mostrar como é que é o piso disso aí? A água que sai do meu quarto de herbicida lá, onde é que eu posso jogar? Isso tudo eu que tive que procurar. Então eu acho que você pode ter um projeto pra isso aí, que hoje já tem, e você passar esse procedimento pra uma pessoa que é leiga. Olha, você vai gastar mais ou menos tanto pra fazer um depósito de herbicida aqui. Você vai gastar X pra fazer um depósito de adubo que é muito simples. Mas você tem que ter mais ou menos o indicativo pra isso. E o resto não. O resto é básico, carteira de trabalho, isso aí não tem jeito. A parte de segurança do trabalho não tem jeito também porque você tem que seguir uma regra já estabelecida, mas tudo isso você tem um treinamento e tem como ajudar. Você pode procurar tal coisa pra poder se adequar, porque a maioria dos produtores vai falar: “Eu não consigo fazer isso aí”. Mas não consegue não é porque não tem intenção de conseguir, não, é porque ele não tem uma visão clara de como fazer. Eu estou falando, eu tive trabalho pra fazer um negócio simples aqui porque eu não sabia quem me ensinar a fazer.
P/1 – E você acha que o projeto podia ajudar nisso, numa formação?
R – Muito.
P/1 – Num trabalho de formação.
R – Nessa parte de formação. Estou falando a parte estrutural como fazer isso aqui barato. Então você vai fazer o seguinte, nós vamos fazer um projeto piloto de como fazer um quarto de defensivo, e nós vamos fazer um projeto piloto de como fazer um galpão de adubo. Projeto piloto. É isso que o 4C quer, então, é isso que vai ser feito, um projeto barato, quanto é que gasta tudo isso aí? Que o produtor rural ele não está preocupado muito com quanto ele vai gastar, não. A maioria vai falar em quanto vai... “Ah, vai me custar caro isso aí. Eu não vou entrar”. Ele tem que saber o seguinte, rapaz, você só tem que fazer isso aqui desse jeito, você vai gastar tanto, acabou. E na parte ambiental eu falo que muito simples também, porque é muito complicado pra gente aqui, mas é muito simples a verificação porque a lei brasileira já está aí. O CAR já está aí, nós vamos ter que entrar no CAR, acabou. Nós já estamos... A fazenda, por exemplo, aqui já está com o projeto todo pronto ambiental, 100% pronto. Já vou dar entrada no CAR agora, então não tem nada muito que fazer. Mas nessa parte estrutural aí eu acho que pega pra caramba, quando você vai conversar com alguém sobre o 4C ele fala: “Rapaz, não quero gastar dinheiro. Eu vou ter que fazer muita coisa na propriedade”. Sendo que tudo isso que está lá já está dentro da lei brasileira pra ser seguido.
P/1 – E que benefício você acha que ter um café com o selo 4C traz pro produtor? Pensando no seu caso específico.
R – Olha bem, no meu caso específico eu já imaginei lá no início de realmente ter uma parceria com a Nestlé. Nestlé, com Forzza e tudo, né?
P/1 – O que te beneficia ter essa parceria com a Nestlé?
R – Olha bem, o benefício prático que tem de... Vou valorar agora, o negócio agora realmente é o valor que a gente ganha, recebe por saco a mais. É um valor que eu vou te falar que a gente acha baixo, mas o meu pensamento é realmente outro. É evolução da parte de verificação e o relacionamento com a Nestlé. O que a Nestlé vai poder trazer pra dentro da minha fazenda que não seja só o valor do café. E eu digo isso com todas as dificuldades que a gente tem, que é de treinamento, que é uma engenharia dentro da fazenda, que nós não temos engenharia nenhuma, desde a colheita até a secagem. Muito pouca engenharia.
P/1 – E você tem a expectativa que essa parceria ajude nesse sentido?
R – Eu tenho a expectativa que essa parceria seja o quê? A integração de uma indústria grande possa trazer do conhecimento dela pra dentro da fazenda aí. Isso eu espero isso aí. Desde o meu início da entrada minha foi na expectativa disso aí.
P/1 – Um selo 4C, talvez não de imediato, mas a médio prazo pode valorizar o produto no mercado? Você vê alguma coisa nesse sentido?
R – Eu acho o seguinte, vamos tentar pensar... Por isso que eu falo que o relacionamento com a indústria é legal, de a gente conhecer melhor um pouco mais o que a indústria está querendo, a gente pensar um pouco mais lá no consumidor final deles, né? Mas eu acho que ainda o que a gente tem noção é que a valorização vai ser lá no consumidor final da Nestlé. Falar pra você que a gente já visualiza isso é muito difícil. É muito difícil.
P/1 – Porque está muito no início, você acha?
R – Está muito no início e talvez esse relacionamento mais da indústria com a gente pra gente entender melhor o que o 4C vai fazer de diferença lá na frente. Porque pra gente agora, a diferença do 4C, são alguns reais a mais aqui no café nosso. Só. É lógico que eu tenho a visão como empresário, estou aqui dentro da fazenda, eu tenho a visão um pouco pra frente disso aí pelo relacionamento que vai fazer. Pra eu estar daqui a pouco conseguindo estruturar mais a minha fazenda e lá no final eu conseguir rentabilizar o meu café. Como vai rentabilizar mais eu ainda não sei. Eu precisava conhecer melhor um lado e outro pra poder te responder isso. Por isso que eu falo que talvez a Nestlé já esteja visualizando isso também. Por isso que ela tem que estar dentro da fazenda, a gente tem que estar mais ligado na empresa pra saber como a gente vai fazer isso. Mas meu pensamento é um pouco mais pra frente desse relacionamento. E as melhoras todas que você vai ter dentro da fazenda, né? Porque verificação e a certificação acabam te forçando a fazer um trabalho, eu digo assim, do que nós já vamos ter que fazer, ambiental, trabalhista e de ambiente de qualidade interno dentro da fazenda. A verificação e a certificação te forçam isso aí. Então se eu falar pra mim o que o 4C trouxe pra mim aqui? Eu acho que ele trouxe um pouco mais de velocidade, porque tudo que está aqui eu acho que eu iria fazer, mas o 4C trouxe o que pra mim? Forçou-me a fazer um pouco mais rápido do que eu iria fazer, porque eles me indicaram: “Eduardo, o caminho é esse aqui. Vamos fazer logo isso aqui? Vamos já deixar sua fazenda prontinha no jeito aqui e tal”. Falei: “Beleza. Vamos fazer”.
P/1 – E você acha que você teve aprendizados nesse processo?
R – Eu estou tendo aprendizado. Estou tendo. Acho que vem muita evolução por aí que eu acho que, assim, o 4C tem que aprender muito com a gente. Hoje eu falo isso, talvez o 4C, a verificação toda... Não falo o 4C, não, porque é uma verificação já pronta, mas eu digo como chegar lá no 4C, como integrar mais propriedades no 4C, acho que tem que ser um conhecimento mais dentro da fazenda, de dentro da fazenda pra lá. E eu acho que esse caminho está sendo tomado pela Nestlé já. Acho que está sendo já tomado pela Nestlé de ter um conhecimento maior de dentro da fazenda pra procurar saber como chegar isso aí pra mais gente.
P/1 – Eu pensei nesse caso específico que você falou que a Nestlé veio fazer uma verificação, uma visita, e apontou esse lugar onde ficam guardados todos os produtos e tal e, aí a partir disso você foi buscar uma maneira de armazenar melhor.
R – Isso. Exatamente.
P/1 – Tem outros exemplos dessa natureza? Que de alguma maneira é um aprendizado que, claro, você buscou, tem uma atitude sua, mas foi impulsionado pela parceria, digamos assim.
R – Foi. Isso. Exatamente. E vão ter outros casos que a gente tem que estudar juntos como fazer. Porque o resto vai ser o seguinte, uma coisa é obrigação minha fazer, eu estar dentro da lei, outra coisa é eu querer entrar no 4C pensando nisso aí futuramente, e a outra coisa já vem de termos de qualidade de café, por exemplo. Como fazer uma secagem de café eficiente pra chegar a uma qualidade eficiente. Aí nós vamos ter que voltar na parte de sustentabilidade da fazenda. Porque se eu for lá pro final do café meu lá hoje e pensar o seguinte, eu vou fazer uma qualidade superior aqui na fazenda, é muito legal, muito bonitinho, eu vou ter o nome da fazenda fantástico aqui em qualidade, mas eu vou quebrar. Então precisa compreender, e isso que a Nestlé eu acho que está querendo fazer, é como conseguir conciliar essa parte da fazenda, por exemplo, o seguinte, eu tenho uma velocidade enorme da produção aqui. Minha produção é muito rápida, a secagem de café tem uma linha muito rápida de tudo, pra chegar rápido no armazém lá, e como conciliar, como dar sustentabilidade em tudo que eu estou falando aqui da fazenda e conseguir fazer uma qualidade boa? Tem que ser sustentável, né? E aí sim vai ter que ter engenharia dentro da fazenda. Então a Nestlé tem que trazer isso aí, se for trazer, ou nós vamos ter que daqui a pouco... Porque o mercado pode trazer isso aí. O mercado que eu falo é o quê? Se eu tiver um diferencial enorme no café de qualidade o mercado vai me fazer mudar tudo aqui. Aliás, não vai mudar tudo porque nós já estamos num caminho grande. Acho que mudar muito pouquinho agora que precisa pra isso aí. Mas o mercado ou o mercado faz isso, o mercado vai pagar um diferencial pra caramba aqui pra eu ter um café top. E eu vou fazer. Mas o mercado até hoje não fez isso. Então talvez o quê? A indústria, a Nestlé no caso o trabalho dela vai ser o quê? Vamos tentar compor aqui que dê sustentabilidade pra mim, pra ela lá, pra fazer um café bom, de qualidade dentro da verificação toda do 4C. Porque o 4C se baseia no miolo da produção ali, na qualidade não muito. Então como fazer essa estrutura toda e ainda conseguir uma qualidade de café.
P/1 – E deixa eu te perguntar outra coisa, você falou do valor em cima das sacas de café e na questão das mudas? Vocês estão comprando as mudas subsidiadas ou não?
R – Olha, eu tenho um pedido feito na Nestlé de muda subsidiada, mas...
P/1 – Ainda não?
R – Eu sei que tem a intenção. Ainda não. Pra mim não. Eu tenho pedido lá na Nestlé e tudo de muda, mas estamos no aguardo ainda.
P/1 – Tá certo. Eu vou então encaminhando agora pras questões finais, antes de encaminhar queria saber se tem alguma coisa que a gente não tenha perguntado que você gostaria de falar.
R – Eu acho que não.
P/1 – Não?
R – No sentido da verificação ficou bem...
P/1 – Ficou claro.
R – Acho que tranquilo. Beleza.
P/1 – Nada que... Não quer acrescentar...
R – Não. Nada. Acho que não tem mais nada.
P/1 – Então a penúltima pergunta é: quais são seus sonhos hoje?
R – Vamos lá. Pode dar um tempinho pra pensar, né?
P/1 – Claro. Você fica tranquilo.
R – Meu sonho hoje... Meus sonhos estão se realizando aqui na propriedade, no que eu imaginava nessa parte toda da agropecuária pra mim aqui. Mas eu tenho dificuldade pra estar com clareza desse futuro de crescimento. Então eu tinha um sonho de estar nesse nível aqui de produção. Hoje eu me sinto realizado aqui na propriedade, mas eu tenho um grande questionamento do que vai ser esse futuro nosso, da parte de mão de obra, da parte de estrutura nossa, porque a gente sempre imagina crescer mais, melhorar mais a qualidade. E nós temos um entrave muito grande, né? Mesmo na parte de leis ambientais, trabalhistas, e eu sei que a gente deve seguir isso aí, não tem jeito, mas isso vai afunilando esse sonho nosso pra frente. Mas a questão vital mesmo de travar a expectativa nossa, de todas essas dificuldades que tem, eu acho que é essa dificuldade da equipe. O meu sonho, que eu vou te falar, meu sonho que eu queria aqui, é conseguir ter uma equipe consistente, porque sem uma equipe aqui não faz nada. Eu falo com o meu gerente que ele é o dono da propriedade, sem ele aqui eu não conseguiria fazer o que eu fiz aqui. Então a dependência de uma equipe boa pra fazer o que você sonha. Então, vem o sonho primeiro, eu quero plantar uma área X, meu sonho é de ter 200 hectares aqui, e ele vai ser... Eu vou conseguir, início do ano que vem eu consigo completar o meu sonho de ter 200 hectares, mas pra fazer esse sonho virar realidade eu preciso de todo esse grupo aqui dentro da propriedade. Então meu sonho hoje é o quê? Conseguir ter uma equipe consistente e dominar, porque hoje eu não domino a parte de mão de obra. E como é que eu faço pra dominar isso aí? Meu sonho é conseguir dominar, falar assim, eu tenho um caminho já certo pra seguir que vai dar certo, com pessoal aqui dentro da fazenda, com uma turma que vem de fora. É dominar isso aí. Esse é o meu sonho.
P1/ - Tá certo. E por fim como é que foi contar sua história? Como é que foi dar o depoimento?
R – Caramba, eu estava um pouco assustado porque eu não sabia como é que era isso aqui tudo, mas achei muito legal. Fiquei muito confortável e achei muito bom, muito diferente pra mim, mas muito legal. Muito bom.
P/1 – Tá certo. Muito obrigada então. A gente encerra aqui.
R – Obrigado a vocês aí. Obrigado por tudo.
FINAL DA ENTREVISTA
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