História da vida do Jornalista, diretor de espetáculos e Psicanalista Sergio Ignácio. A entrevista foi concedida por Sergio Ignácio, no dia 26/Nov/2015 para Jornalista Marina Bueno Cardoso
Sergio Ignácio – História de Vida
Nasci dia 13 de setembro de 1962, filho de Antonio Carlos (filho de portugueses ) e Dulce Yara (filha de italianos), ambos nascidos em São Paulo. Tenho um irmão, Carlos Eduardo, 6 anos mais velho.
Nasci e vivi no Itaim, inicialmente numa vila travessa da Jesuíno Arruda e depois mudei para um apartamento na Av.São Gabriel com Itacema. Tive infância povoada por amigos, brincando na rua de esconde-esconde, pega-pega, empinando papagaio, carrinho de rolemã, skate. Minha grande aventura era irmos de bicicleta até onde é hoje a Jucelino Kubitchek, onde era um matagal com um córrego.
Do colégio estadual para o Mackenzie, para cursar Ensino Profissionalizante de Desenho foi um grande impacto. Sair do Itaim e ir para Higienópolis, com colegas de diversas origens e culturas. Desenvolvi novas amizades
Ao mesmo tempo tive outra quebra de paradigma, com o momento difícil financeiro que passamos. Tivemos que mudar para o Belenzinho, na Zona Leste, um bairro na época industrial, antigo, triste. Meu pai, corretor de imóveis ficou abalado e foi um momento muito difícil, ele deprimiu e começou a beber. Vendo hoje percebo que ele sentia que tinha fraquejado perante a família, como provedor e perante aos amigos.
Ele desenvolveu uma cirrose hepática e veio a falecer com apenas 53 anos. Minha mãe tinha 49 anos. Nesta época me tornei bolsista do Mackenzie e resolvi procurar meu primeiro estágio. Nas Páginas Amarelas encontrei Arte Aplicada, uma galeria nos Jardins.
Fui contratado como estagiário, para auxiliar a gerente, sem ter a menor noção do que era um óleo, uma lito, uma xilogravura, uma performance.
Nos 05 anos que trabalhei lá, aprendi com os artistas, escultores, performers sobre cor, textura, profundidade, técnicas e tinha...
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História da vida do Jornalista, diretor de espetáculos e Psicanalista Sergio Ignácio. A entrevista foi concedida por Sergio Ignácio, no dia 26/Nov/2015 para Jornalista Marina Bueno Cardoso
Sergio Ignácio – História de Vida
Nasci dia 13 de setembro de 1962, filho de Antonio Carlos (filho de portugueses ) e Dulce Yara (filha de italianos), ambos nascidos em São Paulo. Tenho um irmão, Carlos Eduardo, 6 anos mais velho.
Nasci e vivi no Itaim, inicialmente numa vila travessa da Jesuíno Arruda e depois mudei para um apartamento na Av.São Gabriel com Itacema. Tive infância povoada por amigos, brincando na rua de esconde-esconde, pega-pega, empinando papagaio, carrinho de rolemã, skate. Minha grande aventura era irmos de bicicleta até onde é hoje a Jucelino Kubitchek, onde era um matagal com um córrego.
Do colégio estadual para o Mackenzie, para cursar Ensino Profissionalizante de Desenho foi um grande impacto. Sair do Itaim e ir para Higienópolis, com colegas de diversas origens e culturas. Desenvolvi novas amizades
Ao mesmo tempo tive outra quebra de paradigma, com o momento difícil financeiro que passamos. Tivemos que mudar para o Belenzinho, na Zona Leste, um bairro na época industrial, antigo, triste. Meu pai, corretor de imóveis ficou abalado e foi um momento muito difícil, ele deprimiu e começou a beber. Vendo hoje percebo que ele sentia que tinha fraquejado perante a família, como provedor e perante aos amigos.
Ele desenvolveu uma cirrose hepática e veio a falecer com apenas 53 anos. Minha mãe tinha 49 anos. Nesta época me tornei bolsista do Mackenzie e resolvi procurar meu primeiro estágio. Nas Páginas Amarelas encontrei Arte Aplicada, uma galeria nos Jardins.
Fui contratado como estagiário, para auxiliar a gerente, sem ter a menor noção do que era um óleo, uma lito, uma xilogravura, uma performance.
Nos 05 anos que trabalhei lá, aprendi com os artistas, escultores, performers sobre cor, textura, profundidade, técnicas e tinha que transformar tudo isto em palavras para interagir com o público que frequentava o local.
O trabalho despertou meu interesse para estudar inglês, ler críticos de arte, ler sobre arte, aprender sobre curadoria e museus.
Tirei 3 meses de férias e fui para os EUA, ficando entre Filadélfia e Boston. Com o pouco dinheiro que tinha aproveitei muito e apesar de ser uma viagem que tinha que poupar para dar para pagar onde dormir, comendo no máximo duas refeições por dia, foi muito divertida e proveitosa.
Na volta, uma surpresa, a gerente da galeria havia saído e me convidaram para assumir o lugar dela. Vim com a bagagem da convivência com uma nova cultura, um novo olhar de enfrentar a vida, adquirido na viagem. Foi nesta época que comprei meu carro, um Fiat 147 vermelho, caindo aos pedaços, com o qual ia do Belenzinho até os Jardins e de lá ia para o Morumbi para a Faculdade FMU FIAM, onde cursava Jornalismo. Era época que São Paulo fervia com o Spazio Pirandello, Piu-Piu, o Alex Valauri começava com os grafites e Leonilson estava estourando.
Namoro firme foi aos 19 anos, antes disso tive namoro de moleque com a Lili, no Ginásio, com beijo de selinho e amigos com os quais me reuni recentemente. Eu era bastante inseguro e nunca fui um cara de me jogar.
Na Faculdade, conheci a Vera Schnieder, nos apaixonamos e com uma supercantada que recebi comecei a namorar. Fazia apenas dois anos da perda de meu pai, das dificuldades financeiras que atravessava, com movimentos materiais e emocionais de muita contundência.
Ela era uma mulher linda, sofisticada, de família judia bem posicionada. Foi outra quebra de paradigma: o que era estar diante de um momento de fragilidade emocional e material (chegamos a ficar sem luz), notas promissórias vencendo e meu irmão com 24 anos resolveu ir morar com a então namorada em Visconde de Mauá. Tínhamos muitas dívidas e dificuldades e superamos todas com muito esforço, na sua integralidade, e minha mãe, aos 50 anos foi ser secretária de um médico. Também vivia junto minha avô, aposentada, que foi modista.
Na época eu tinha todo um refinamento, conquistado na galeria de arte, no Mackenzie e depois na Faculdade, tanto intelectual quanto de verbo e de conduta, mas era um duro namorando uma menina linda que já tinha conhecido todo o mundo.
Namoramos 2 anos e pouco e com 23 para 24 anos nos casamos. Ela tinha 21 para 22 anos. Cerimônia, festa de casamento tudo como mandava o figurino.
Terminei a faculdade casando e saindo também da Arte Aplicada, uma vez que não tinha para onde crescer. Meu sogro me apresentou para o Petit, da DPZ, que por sua vez me apresentou um Diretor de Atendimento, que me propôs um estágio. Depois de 3 meses eu estava contratado e lá fiquei dos 25 aos 28 anos. A DPZ era a grande agência criativa do momento.
Sai da DPZ pensando em ir para um local menor, menos hierarquizado e tive o convite da então Assessora de Imprensa da DPZ, Cristina Toletti para criarmos nosso próprio negócio, que durou 24 anos. Em 4 de outubro de 1990 nasceu a X-Press Comunicação.
Iniciamos numa casa, na República do Líbano, sobre uma loja de carros, atendendo inicialmente a Leo Burnett Propaganda, que gostou de nosso desempenho e começou a apresentar clientes, cervejaria, indústria automobilística, entre outros. De lá fomos para a Av. Irai onde vivemos nosso momento de glória, com contato com grandes anunciantes, executivos, pesquisas, marcas chegando no Brasil, outras indústrias brasileiras indo para o exterior. Ao mesmo tempo atravessamos crises econômicas com OTN, ORTN, BTN Fiscal...e éramos dois meninos, jovens...
Em 09 de agosto de 1991 nasce a Júlia, minha filha. Curtimos muito a gestação, eu aos poucos fui assumindo todas as responsabilidades e controlando a situação financeira, apesar de meu sogro ajudar, no início.
Com a chegada de Júlia vivi uma fase linda da vida profissionalmente e pessoalmente. A Vera foi muito importante na minha vida. Participei do parto, dei o primeiro banho e quando separei Júlia tinha 4 anos e eu 33 anos. Mantive a relação próxima sempre com ela e Vera e somos até hoje muito amigos, muito queridos.
No momento, faz 4 anos que Júlia estuda em Lyon, na França,onde faz mestrado em Relações Internacionais.
Quando separei não tinha para onde ir e um amigo emprestou um apartamento. Na primeira noite só tinha um colchão e Júlia vinha ficar comigo. Pedi uma pizza e fiz com os guardanapos uma toalha no chão para fingirmos que estávamos fazendo um piquenique na floresta com árvores e que lá seria a casa do papai e o quarto da Júlia. Ela dormiu comigo no colchão, na manhã seguinte após deixá-la na escola desabei no choro: me vi entregando minha filha, com quem passaria a ter hora e dia para ver e eu nem tinha uma casa estruturada para oferecer.
Me apeguei aos clientes e responsabilidades e comecei a reconstruir minha vida, quando meu amigo vendeu o apartamento. De lá aluguei outro no Itaim e voltei para meu bairro de origem. De lá após vencer o contrato reuni todo o dinheiro que tinha e comprei uma casa na Granja Vianna, detonada. Reformei, ficou linda, foi publicada em revistas de decoração e após três anos e meio vendi e fui para outra casa, também na Granja, fiquei mais três anos e vendi para um professor da FGV e na venda fiquei com um apartamento no Real Parque e dinheiro guardado.
Nesta época viajava muito a trabalho e foi ótimo voltar a morar em SP perto do escritório, então na Vila Olímpia.
Sempre gostei de teatro, cinema, tenho amigos atores, cenógrafos e me aventurei a fazer curso de dança com Ivaldo Bertazzo. Passei a olhar o corpo de maneira diferente e a turma era ótima. No final dos anos 90 resolvi sair, mas antes dei um pitaco num espetáculo de Ivaldo e foi um sucesso na Folha de São Paulo. Ele convidou-me para trabalhar a Comunicação de um projeto de dança no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro. Foi genial e depois fiz mais dois projetos de Comunicação para espetáculos dele.
Com Ivaldo aprendi a estudar a arte dos outros povos. Resolvi fazer uma viagem para Índia em 2006, e queria que não fosse apenas turismo. Montei um roteiro junto com duas terapeutas ayurvedas, marquei com Luis Nascimento, diretor do Fantástico e vendi a ideia de fazermos um programa.
Ficamos 3 semanas e junto com Glória Maria, a viagem se tornou uma mini-série “India, uma viagem espiritual”. Adorei o resultado e resolvi fazer um curso de roteiro para TV na Academia Internacional de Cinema.
Com os negócios na agência indo bem, resolvi me distanciar um pouco e quis olhar o mundo com viés menos corporativo. Minha estrutura interna estava pedindo passagem e entendi que faria sentido fazer formação em Psicanálise, o que eu já fazia na condição de paciente, desde meu divórcio.
A Psicanálise me levou à desconstrução do medo, aposta nos insights e a conhecer minha sombra.
No final de 2007/2008 comecei minha formação na Sociedade Paulista de Psicanálise. No início não contei para ninguém, depois foram 5 anos de formação. Na época trabalhei como voluntário para famílias de pacientes da UTI no Einstein. Aprendi muito, meus problemas se tornaram menores com o que via, convivi com a doença e a morte.
A Comunicação tem valor muito grande e pude somar seus ensinamentos na Psicanálise. Na Comunicação se aprende a conjugar verbo, atitude, raciocínio, escrita, analogias e articular uma ideia, um caminho que tem uma arquitetura de pensamento.
Ainda fazendo a formação em Psicanálise montei um monólogo para teatro, o “Doze”, trazendo fundamentos da Psicanálise. Fiz uma leitura dirigida por Clarisse Abujamra, lotou e fez sucesso aquela articulação de ideias propostas.
Pouco depois fui procurado pelo coreógrafo e amigo, Rubens Oliveira, que estava em busca de desafios uma vez que havia se encerrado a Escola Teatro e Dança. Cada qual foi para seu lado e quando nos reencontramos percebemos que nas redes sociais de nossas relações havia duas coisas que as pessoas falavam, em dançar e em saudade.
Pronto, reunimos os amigos de dança da época do Ivaldo Bertazzo e de lá para cá montamos: em 2012 “Carretel”, no Tuca; 2013 “Grão”, no Teatro do Instituto Tomie Othake; 2014 “Correm as Cidades nos 4 cantos do mundo” no Tuca e em 2015 “Koam”, no Masp. Foram todos espetáculos com a casa lotada e sucesso de crítica e público.
Em início de 2014 ganhei um livro “O Pequeno Tratado das Grandes Virtudes”, e resolvi fazer um livro infantil para tratar das virtudes para crianças a partir do contato com a Natureza. Irá se chamar “A Natureza de Júlia” e está em andamento com uma colega, a Flávia Figueiredo.
Depois de 24 anos sócio-diretor de uma agência de Comunicação decidi sair do negócio em 2014. De lá para cá estou aprendendo a lidar com o cotidiano, sem ser aquele cara que tem um papel profissional forte, com vários compromissos. Não é fácil, pois tenho 24 anos de experiência em Comunicação contra 6 anos como diretor, criador e Psicanalista.
Hoje faço pós-graduação em Sócio-Psicologia na FESP e estudo o impacto que a cultura tem no sujeito e na sociedade. Leio Durkheim, Levi-Strauss, seminários de Lacan...é ótimo ler estes temas e ver como isto faz parte da minha história da arte com a Psicanálise e estou muito feliz.
Em paralelo dou seminários na Sociedade Paulista de Psicanálise, atendo clientes e faço longas caminhadas diárias.
Aos 53 anos, deixar um papel profissional que tem uma forma e sair dela pra outra posição é um desafio.
Boa parte com o que eu sonhava aos 30 anos aconteceu e isto me vem em mente após falar tanto de minha vida. A beleza da vida é o processo que te pertence a um lugar divino...eu sou muito grato a vida e ao que ela me deu, especialmente a Júlia, minha filha, meu maior patrimônio. Quando eu volto para isto tudo só tenho que dizer, Obrigado.
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