Entrevista de Antonio Florio Rinaldo
Entrevistado por Luiza Gallo
Mandaguaçu, 15/07/2024
Projeto: Colhendo História
Entrevista: COHIS_HV001
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Vamos lá! Primeiro eu quero te agradecer demais por nos receber aqui na sua casa. Eu queria que você começasse se apresentando, dizendo o seu nome completo, a data e o local de nascimento?
R - Primeiro lugar, boa tarde! Então, realmente é um prazer para gente poder estar vivendo esse momento com vocês, a Luiza, os demais companheiros aqui. E eu vou contar então um pouquinho da minha história. Começo pelo nome, meu nome completo é Antônio Florio Reinaldo, eu sou nascido no dia 5 de outubro, ou seja, 05/10/1954. Aqui no município de Mandaguaçu mesmo.
P/1 - E como foi o dia do seu nascimento? Você sabe?
R - Então, segundo contava a minha mãe e meu pai, aquele tempo Luiza, ainda foi um tempo tão difícil que não… a gestante, ela não ia ganhar a criança nos hospitais, era parto, parteira, parto em casa. Então, lá na minha região tinha uma senhora que era parteira, que eles falavam na época. E foi ela que deu essa assistência para minha mãe para eu poder nascer.
P/1 - O senhor tem irmãos?
R - Tenho mais três irmãos. Nós somos em quatro irmãos, três e eu. Eu sou o que nasci por último, não posso falar o mais novo, que já não sou novo mais, né! Mas sou o que nasci por último.
P/1 - E todos nasceram de parteira?
R - Todos de parteira. Só que eu vou fazer uma observaçãozinha, os outros três irmãos, eles vieram do Estado de São Paulo, eles nasceram ainda no Estado de São Paulo, numa cidade por nome de Ipuã, próximo de Ribeirão Preto, distância de 100 Km de Ribeirão Preto. Estado de São Paulo. E eu sou o único paranaense. Aí, meus pais vieram para o Paraná em 1951 e eu nasci três anos depois, eu nasci em 1954. E até uma história curiosa nessa vinda deles do Estado de São Paulo para o Paraná, ou para...
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Entrevistado por Luiza Gallo
Mandaguaçu, 15/07/2024
Projeto: Colhendo História
Entrevista: COHIS_HV001
Realizado por Museu da Pessoa
Revisado por Luiza Gallo
P/1 - Vamos lá! Primeiro eu quero te agradecer demais por nos receber aqui na sua casa. Eu queria que você começasse se apresentando, dizendo o seu nome completo, a data e o local de nascimento?
R - Primeiro lugar, boa tarde! Então, realmente é um prazer para gente poder estar vivendo esse momento com vocês, a Luiza, os demais companheiros aqui. E eu vou contar então um pouquinho da minha história. Começo pelo nome, meu nome completo é Antônio Florio Reinaldo, eu sou nascido no dia 5 de outubro, ou seja, 05/10/1954. Aqui no município de Mandaguaçu mesmo.
P/1 - E como foi o dia do seu nascimento? Você sabe?
R - Então, segundo contava a minha mãe e meu pai, aquele tempo Luiza, ainda foi um tempo tão difícil que não… a gestante, ela não ia ganhar a criança nos hospitais, era parto, parteira, parto em casa. Então, lá na minha região tinha uma senhora que era parteira, que eles falavam na época. E foi ela que deu essa assistência para minha mãe para eu poder nascer.
P/1 - O senhor tem irmãos?
R - Tenho mais três irmãos. Nós somos em quatro irmãos, três e eu. Eu sou o que nasci por último, não posso falar o mais novo, que já não sou novo mais, né! Mas sou o que nasci por último.
P/1 - E todos nasceram de parteira?
R - Todos de parteira. Só que eu vou fazer uma observaçãozinha, os outros três irmãos, eles vieram do Estado de São Paulo, eles nasceram ainda no Estado de São Paulo, numa cidade por nome de Ipuã, próximo de Ribeirão Preto, distância de 100 Km de Ribeirão Preto. Estado de São Paulo. E eu sou o único paranaense. Aí, meus pais vieram para o Paraná em 1951 e eu nasci três anos depois, eu nasci em 1954. E até uma história curiosa nessa vinda deles do Estado de São Paulo para o Paraná, ou para Mandaguaçu. O meu irmão acima de mim, ele tinha seis meses de idade, não tinha um aninho ainda. E aí, aquele tempo era uma dificuldade tremenda, para vim de mudança da região deles lá até aqui, foi dois dias de viagem. E a maioria estrada de chão ainda. E o que que meu pai e minha mãe fizeram, trouxeram uma cabrita, que a cabrita tava dando leite, tinha os cabritinhos. E na estrada eles tiravam o leite da cabrita para poder amamentar esse meu irmão de seis meses. E aí, foi esse desafio. Aí, vieram para Mandaguaçu, derrubaram o mato, plantaram o café. E aí, depois de três anos eu nasci. E quando eu comecei a entender as coisas eu vi, e lembro até hoje… Eu nasci numa casinha, podemos dizer, uma taperinha, era coberta de sapé, que a maioria nem sabe o que é, um capim próprio para cobertura. E as paredes eram feitas de barro, era vara trançada e rebocada de barro. Fazia da própria argila e rebocava as paredes. E o piso da casa era chão batido, terra mesmo. Aí, passado uns três, quatro anos depois que eu nasci, aí meu pai fez uma casinha nova de madeira, comprou as madeiras novas, era uma madeira na época das mais famosas aqui da região, que a tal da Peroba, que a maioria conhece, os mais antigo principalmente. Aí fez essa casinha nova. Aí, começou a melhorar, dá mais conforto para a gente.
P/1 - E por que eles vieram para cá, seus pais?
R - Então, foi assim: Foi uma época, eles contavam para a gente, eles, meus tios, contavam que houve uma imigração do Estado de São Paulo para o Paraná, tava abrindo o Paraná e o Paraná já era, assim, muito comentado, famoso. E eles venderam a propriedade deles lá e compraram aqui em Mandaguaçu, para plantar café, que lá onde eles estavam, lá no Estado de São Paulo, não era muito bom para café, lavoura de café. E naquele tempo predominava lavoura de café.
P/1 - E eles vieram sozinhos?
R - Não! Vieram vários parentes. Veio eles, veio os meus tios, meus avós e veio mais uns primos, vieram bastante gente de lá para cá nessa época, em 1951.
P/1 - E como era sua mãe? Como você descreveria ela para a gente?
R - Minha mãe, falar a verdade para você Luiza, até hoje, ela morreu em 1995, até hoje parece que eu vejo ela. E assim, não sei se vocês já prestaram atenção, até não gosto de falar para muita isso, mas nós seres humanos, quem tem mais vivência, mais contato, assim, a gente acaba acostumando até com o odor da pessoa, o cheiro da pessoa. E a minha mãe parece que até hoje eu sinto assim, o cheiro dela, tá vivo na minha memória. E boazinha. Embora fosse uma época onde a gente tinha muita dificuldade financeira, mas ela era muito prestativa, tinha um coração enorme para ajudar quem precisasse. E isso aí tudo marcou para mim.
P/1 - Tem alguma história marcante com ela que você se lembra?
R - Com a minha mãe? A minha mãe, assim, de história mais marcante que eu lembro é que ela era muito devota de Nossa Senhora Aparecida, então numa época muito difícil, aí ela quis visitar a Basílica de Aparecida e eu lembro que a gente foi. Eu era bem criança, criança de uns quatro, cinco anos. E a gente foi em cima de carroceria de caminhão para Aparecida do Norte, para visitar a Basílica de Aparecida. Então, isso aí marcou bastante para mim. E outras passagens também que tá vivo na memória.
P/1 - E o seu pai?
R - Meu pai da mesma forma, meu pai um homem simples, honesto. Honestidade é o que tinha ali, sempre passou para gente bons ensinamentos. E ele, assim, deixou bastante marcado para gente que a gente tem que procurar viver, mas viver assim, com as nossas próprias pernas, com o nosso próprio trabalho e assim por diante. E ele dizia sempre para a gente, assim: “Vocês não mexem em nada do que é dos outros. Vocês caminham com vossas própria pernas.” E deixou esse legado. E ele usava uma frase que marcou muito para mim, ele falava que o maior valor que o ser humano tem, é ter liberdade. A pessoa tem que estar livre para ir aonde quiser. Falava: “Então, vocês fazem de tudo para não perder essa liberdade, que se perder a liberdade vocês vão sofrer muito na vida.” Esse foi o legado que ele deixou para a gente.
P/1 - E você conheceu os seus avós?
R - Esse avô que tá aqui na foto, esse aqui eu conheci bem. Agora o outro avô… Esse é avô paterno. Agora o outro avô, por parte da minha mãe, não cheguei a conhecer, que quando esse outro avô morreu, a minha mãe tinha três aninhos de idade, então não foi possível. Agora, as avós, as duas eu conheci, convivi com elas uns tempos.
P/1 - Que lembrança você tem deles?
R - Ah, Luiza, uma lembrança muito positiva. Foi uma realidade totalmente diferente de hoje.
P/1 - Por que?
R - Porque, assim, o respeito era outro, a educação era diferente. Não que hoje não tem quem respeita, quem tem boa educação, mas nós da antiguidade, nos valorizava muito esse lado. Então, era aquele tipo ainda de criança, jovem, que chegava perto de um avô, de um tio, de uma tia, ainda tomava benção, pedia benção. E hoje já não tem mais esses costumes. Costume que já não está mais pondo em prática.
P/1 - E seus irmãos, como era a relação?
R - Com os meus irmão me dou muito bem. Os três são mais velhos que eu, mas graças a Deus todos têm saúde. O mais velho já tá hoje com 78 anos, depois o segundo 76 e o outro que acima de mim, tá com 73. E a gente se dá muito bem, inclusive tem propriedade ainda que a gente é sócio, trabalha junto ainda. É um relacionamento muito positivo, muito bom!
P/1 - Na infância também era assim?
R - Na infância também!
P/1 - Não tinha briga?
R - Não, alguma briguinha, mas era aquele tipo de briga, você briga agora, daqui meia hora você já está junto de novo.
P/1 - E Seu Antônio, vocês tinham algum costume familiar muito específico?
R - Tinha! Costumes que hoje quase também já não se vê mais, né! Muita união, onde um ia o outro ia. E assim, a gente sempre se deu com lavoura, nasceu e cresceu cuidando de lavoura, plantando, colhendo. Então, sempre partilhando as responsabilidades, o trabalho. Quando ia nos lazeres da época também a gente sempre ia junto. Foi e continua uma vivência boa.
P/1 - Na sua infância, como era o dia a dia?
R - A minha infância, Luiza, depois desse local onde eu nasci, que eu já contei agora, aí a gente mudou distante deste local cerca de uns 35 km, mas dentro do mesmo município. Que estamos até hoje. E aí, quando eu tinha 8 anos de idade, eu fui começar a ir na escola. E fiz meus quatro anos de primário na escola, depois aí já veio a adolescência. E já ficando jovem, aí comecei a jogar futebol, era um dos atrativos, das diversões mais, assim, que chamava atenção na época. Depois veio os bailinhos do sítio, dança, as festa de igreja. E foi dessa maneira, até a gente chegar aí aos 20 anos, já começar a namorar. Até eu me casei com 22 anos de idade. Foi dessa maneira. Uma infância que deixou saudade.
P/1 - E como era esse dia a dia, vocês iam colher? Vocês participavam? Tinha atividades, era puxado? Ia para escola? Como que era?
R - Era trabalhoso. Para você ter uma ideia, quando eu ia na escola, eu estudava de manhã, das oito às onze, aí vinha para casa, almoçava e depois já ia… Com oito, nove anos de idade, eu já ia ajudar meus pais na lavoura. Só que é claro, fazia aquele servicinho mais leve, que tinha condições de fazer. E aí, foi dessa maneira. Fui crescendo, aí já pegando mais serviço mais pesado. E até hoje a gente ainda mexe com agricultura ainda.
P/1 - Qual era o serviço dessa época?
R - Todo diferente, essa época o que predominava era o café, então o que que nós fazia, além de capinar o café, quando chegava colheita, a gente ajudava no serviço mais leve, que era, derriçava o pé de café, aí tinha o tronco do pé de café, a gente limpava aquele ao redor do tronco, para não ficar nada de café ali perdido no meio do tronco, dos troncos. Porque era tipo assim, aquele tempo plantava seis mudas, oito mudas, cada pé de café, um espaçozinho uma da outra. Então, ao derriçar o café, o café caia e caia ali também, então tinha que tirar tudo aquilo com a mão, limpar bem, para depois rastelar e abanar. E a gente fazia, ainda mais no início, novinho ainda, a gente fazia esse tipo de serviço. Aí, depois foi crescendo, já fazendo o serviço mais normais.
P/1 - Que são quais?
R - Então, aí a gente já rastelava café, já apanhava café, já ajudava a puxar café, que naquele tempo nós só tinha carroça e animal. Então, o que que nós fazia, para poder render mais o serviço, a gente deixava para trazer o café da roça para o terreiro, para a secagem, deixava para trazer sempre no final do dia. E às vezes, esse final do dia, às vezes, tinha que dar várias viagens com a carroça e a gente anoitecia puxando o café, depende a época, tinha vezes que oito horas da noite, no escuro, nós tava com a carroça puxando o café. E aí, quando o café também estava no terreiro, tinha que esparramar café, amontoar café. Quando ele dava o ponto de secagem, a gente tinha que guardar ele na tulha. Quando ia guardar café na tulha assim, ele já seco, a gente levantava, às vezes, quatro horas da manhã, ou cinco horas da manhã, para quando clareasse o dia, a gente já ter guardado o café para não perder tempo de ir lá continuar a colheita. Então, foi bastante corrido.
P/1 - E vocês não iam também?
R - Não, aí a gente guardava na tulha, aí quando achava que devia vender, que era época de vender, aí a gente vendia para… a gente falava os maquinistas, os compradores de café. Aí, ensacava novamente aquele café, trazia para cidade, aí os maquinistas, as cafeeiras da época é que preparava o café para exportar, para consumo, para torragem, moer. Então, era dessa maneira.
P/1 - E da escola, que recordações você tem?
R - Então, da escola eu tenho boas recordações. E vou até te falar para vocês verem como que era uma realidade diferente de hoje. Eu ia para escola na época de 1964, até 1968, que eu estudei o primário, eu ia para escola, a distância de uns três km a pé, quando tinha era um chinelo de dedo. E hoje a criança tem todo conforto, tem a creche, ou seja, mesmo nas outras escolas, tem merenda pronta e tudo. E a gente levava a merenda da gente de casa, e a merenda da gente nem sempre tinha muito recurso para levar. Tinha vezes que era lá uma fita de pão, nós falava na época, mas que hoje não se usa mais esse nome. Hoje se fala o quê? Uma talha de pão. É isso, né? E às vezes só aquilo mesmo. E tinha fome e comia. E louco para jogar bola, bola não se tinha, a gente tentava ganhar umas bolas a nível de prefeitura, de coisa, não conseguia, aí a gente improvisava, nós mesmos, as crianças, às vezes, até com ajuda da professora, a gente fazia nossa bola, às vezes, fazia ela de meia. Pegava uma meia, enchia ela com capim, ou uma coisa mais macia e costurava, servia de bola. Outras vezes até a gente pegava mamão, mamão que hoje tem nos mercados, mamão verde, colocava ele no sol para ele dar uma murchada, para ele ficar mais macio e jogava com aquilo lá. Você vê que dificuldade, Luiza. E a criançada toda. Na escola onde eu estudei tinha as quatro fases, os quatro períodos, primeira, segunda, terceira e quarta série, primário no caso. E lá na região a média era dois turnos na escola, de manhã estudava a primeira e a segunda série e à tarde terceira e quarta. E a média de alunos lá na região era trinta, quarenta alunos de manhã, trinta, quarenta alunos, à noite. E depois eu vou até te mostrar onde foi a escola que eu estudei, mostrar para vocês.
P/1 - Você tem alguma recordação de algum amigo desse tempo?
R - Tenho! Tenho muitas boas recordações, mas a que mais me marcou, na época, um amigo da minha idade, da época, da mesma classe minha. E ele era um menino muito ativo, muito assim, esperto mesmo, na ativa mesmo. E um dia, ele lá no sítio deles, ele foi buscar água, que o poço deles, cisterna antiga, secou, aí ele foi buscar água na mina com a carroça e uns tambores em cima da carroça. E descendo uma ladeira, lugar muito declive, e acho, não sei se foi a abelha que ferroou o animal, e o animal disparou com a carroça morro abaixo. E ele, a própria redia que ele guiava o animal, que ele conduzia o animal, enrolou nas pernas dele e ele caiu da carroça, e o animal disparado morro abaixo, saiu arrastando ele. Na época, foi Deus que ajudou, ele ficou totalmente, assim, danificou tudo. Aí, ficou um monte de dias na UTI, e com o passar dos tempo foi dando aquela melhorzinha, e depois foi, foi, até que ele voltou a andar. Então, aquilo lá marcou muito para mim. Eu era moleque de uns dez anos, e a gente não entendia o porquê. E eu ia de vez em quando lá ver ele, ele acamado, antes dele melhorar. Então, aquilo lá deixou assim, uma marca muito profunda. Ele chama, ele é vivo ainda, chama Elmo, esse menino.
P/1 - Caramba! E futebol, que posição que você gostava de jogar?
R - Então, futebol, falar a verdade para você, futebol eu gostava e gosto até hoje, mas eu, assim, eu não aproveitei tanto meu tempo de futebol na mocidade, porque eu sempre gostei também de trabalhar para a igreja. E aí, começou já surgir compromissos na igreja, coisa e tal, aí eu tinha que conciliar o futebol com as coisas da igreja, então eu não tive assim, um aproveitamento 100% do futebol. Mas, assim, tenho muitas lembranças boas, a gente não via a hora de chegar o domingo, para a gente após o almoço, tipo duas horas da tarde, a gente montava nos caminhões e ia jogar em todos os municípios aqui, num domingo num lugar, no outro domingo em outro, outro domingo eles vinham, os de fora vinham jogar no campo da gente. Então, foi um tempo muito bom, tempo alegre, divertido. Foi bom!
P/1 - Quantos anos você tinha nessa época?
R - Do futebol? Ah, eu comecei com uns dezesseis anos, dezesseis até os 23, 24. Aí, eu fui tirando o pé para ir ajudar a cuidar da igreja. Mas meus irmãos jogaram mais futebol que eu.
P/1 - E que atividade você fazia na igreja?
R - Então, a igreja eu comecei assim, meu trabalho de igreja, em 1972, a gente começou com um grupo de jovens da igreja. E o grupo de jovens era chamado Jovens Vicentinos. E o que quer dizer? Quer dizer que é da sociedade São Vicente de Paula. É um movimento da Igreja Católica, mas direcionado para os mais carentes, mais pobres, os que às vezes também não estão com a saúde boa. E aí, eu comecei nesse movimento Vicentino. E aí, após 3 anos desse grupo de jovens, aí já o padre, da época, já me convidou para fazer preparação para o ministério, Ministro da Eucaristia, até o nome correto é Ministro Extraordinário da Eucaristia. E aí, eu comecei. E aí, é que eu fui tendo que deixar mais o futebol ainda. E do qual eu tô até hoje. Tô querendo já também dar lugar para o outro, mas ainda tô no ministério.
P/1 - Legal! E na juventude, você falou que tinha um baile, como foi essa época?
R - Então, a nossa diversão da época era mais ou menos isso aí. Às vezes, de domingo ia na missa, depois à tarde, futebol. E no sábado, o principal atrativo nosso, era os bailes de sítio. Os bailes, hoje nem existe mais esse modelo de baile, fazia uma barraca de bambu, cobria com lona, ou lona plástica, ou lona mesmo de tecido, assim. E aí, à noite vinha o sanfoneiro animar o baile. E o pessoal ia no baile e dançava a noite inteira. Teve vez da gente vim do baile clareando o dia no domingo. E era animado.
P/1 - Você gostava de dançar?
R - Gostava! Dancei bastante.
P/1 - Você ainda gosta?
R - Assim, não é que eu não goste, Luiza, mas mudou tanto que baile agora só nos clubes, né? E a gente já não vai mais, certo! Mas eu admiro quem dança, gosta de ver dançar.
P/1 - Que legal! E quando você era pequeno você pensava o que você queria ser quando você crescesse?
R - Luiza, falar a verdade para você, foi uma época tão diferente, que a gente não tinha muito assim, esclarecimento das coisas, então eu não fazia nem projeção para isso, sabe? E do qual, eu até hoje, se fosse para dizer: “Mas você se arrepende por não ter feito?” Eu me arrependo de não ter estudado mais. Podia ter aprofundado mais nos estudos. Isso aí sempre foi, hoje ainda é mais importante. Então, acho que conhecimento nunca é demais.
P/1 - Mas você logo já começou a trabalhar?
R - Já, com oito, nove anos.
P/1 - Não parou?
R - Não parei!
P/1 - Como que foi mudando esse seu trabalho?
R - Como foi mudando?
P/1 - É!
R - Você diz o sentido de…?
P/1 - Ah, de colheita mesmo.
R - Então, aí foi aparecendo as diferenças, né? Por exemplo, o café, os cafezais foram se acabando, lá pelo ano de 1990, que veio a chamada Nematóides, que não teve solução para ela, não teve jeito. Aí, foi se acabando os cafezais, aí a gente entrou na mecanização. Bom, mas já antes disso. Aí, a gente optou por plantar soja e foi aumentando. Aí, aqui ainda é o tempo do plantio convencional, que preparava a terra, requeria muito trabalho, muitas horas de máquina. Foi até lá pelo ano de 1995, 1997. Aí, depois veio a lavoura mecanizada, que é essa daqui, que já não mexia mais no solo. E foi, como se diz, isso aqui foi a salvação da lavoura. Com isso aí veio a tecnologia, até 1990, 1995, por aí, a média de produtividade de um alqueire de soja, era entre 80, 100 sacas, por alqueire. A maioria não chegava a 100, 80, 90. E depois que veio a mecanização, o plantio direto, hoje já se falam em 200 sacas por alqueire. Eu ainda não colhi, mas eu já vi quem colheu. Mas 170, 180, já colhi. Mas já tem quem colheu mais. Então, foi a salvação. E com isso aqui, facilitou também o trabalho, a gente não trabalha mais que nem trabalhava, hoje é máquina que faz e com uma redução de carga horária, tudo mais rápido. Quando preparava a terra assim, tinha vez que a gente tinha que amanhecer noite trabalhando com máquina. Hoje não precisa mais disso, hoje o desempenho é outro.
P/1 - E como é a história dessa propriedade de vocês?
R - Então, Luiza, a história da propriedade é mais ou menos assim, que nem eu já falei, vou repetir. Quando a gente nasceu, eu nasci, eu morava no sítio do meu avô, que é esse aqui que eu mostrei aqui. Aí, morava no sítio do avô, meus pais tocavam lavoura de café, com o avô, a meia, o que dava, 50% era do meu pai, no caso, 50% do avô. Aí, lá um belo dia, eu lembro um pouquinho, eu já era meio de uns quatro anos de idade, cinco anos. Um belo dia, a minha avó chegou na casa do meu pai e falou, assim: “Ermelino, nós vendemos o sítio e vamos ter que procurar um outro serviço, outro emprego.” Aí, tirou o chão do meu pai, né? Meu pai ficou no ar. Aí, o que que faz, o que que não faz. Aí, a sorte é que tinha os meus tios e meus primos, eles tinham uma fazendinha vizinha, e eles tinham comprado um outro terreno até numa cidade por nome de Japurá, coisa e tal. Aí, um desses primo mudou para outra propriedade e passou aquela empreita para o meu pai. Aí, nós fizemos mais dois anos lá. Não, dois anos não, um ano lá. Aí, mudamos para outra propriedade, que eu já te falei que é do outro lado da cidade, que nós vamos visitar daqui a pouco. Aí, numa outra propriedade desses primos, onde ________ cada cem sacas de café que colhia, quarenta era da gente e sessenta eram dos parentes. Era normal isso, média normal de porcentagem era essa daí. Até que, nessa propriedade nós trabalhamos de 1963 até 1969. Foi seis anos nesta propriedade. Aí, em 1969, nós fizemos uma colheita de café boa, com mais produtividade. Aí, nós compramos o primeiro lotezinho, aí nós mudamos já para o que era nosso. E aí, começou a melhorar as coisas.
P/1 - Então, teve uma fase difícil, que vocês ficaram sem propriedade…
R - Teve, teve.
P/1 - Você lembra disso, você já entendia o que estava acontecendo?
R - Entendia, entendia. Você quer ver sofrer com isso aí Luiza, foi a minha mãe, minha mãe não entendi o porquê que nós ficamos desamparados. Então, foi uma época muito difícil, foi sofrida. Posso me alongar um pouco?
P/1 - Claro!
R - Aí, vou até contar para vocês uma passagem dessa época aí. Eu tenho até quadro aí… Aí, meu pai adoeceu, nessa época, lá pelo ano de 1957, 1956, 1957, meu pai adoeceu, chamada úlcera no estômago, acho que você já ouviu falar, né? Que era uma úlcera bem complicada mesmo, e não tinha medicina quase na época. Aí, meus tios levaram meu pai para São Paulo, no Hospital das Clínicas, em São Paulo, em busca de uma cirurgia, uma alternativa para resolver. E naquela época a demanda era muito grande, e meu pai já tava lá em São Paulo internado já fazia uns vinte dias, e não tinha surgido vaga para fazer a cirurgia. Aí, um dos tios daqui, Mandaguaçu, foi lá visitar meu pai. Chegou lá, meu pai bem debilitado, fraco que já não aguentava quase nem andar mais, porque ele não conseguia se alimentar. Aí, meu tio falou para o meu pai… Eu era criança, eu quase não lembro. Lembro um pouquinho dessas passagens. Falou com meu pai. “Ermelino, nós vamos tirar você daqui, você vai morrer aqui sem assistência.” Aí, que que fizeram… Aí, meu tio voltou para cá, para Mandaguaçu. Não é nem Mandaguaçu, para Londrina. Aí, meu tio comunicou os parentes, se mobilizaram, aí um pessoal daqui de Mandaguaçu, que na época já era maquinista de café, comprador de café. Os português gente boa. Aí, pegou, arrumou um avião naquela época, que era uma novidade, avião, né? Tava começando. E buscou meu pai lá em São Paulo e trouxe para Londrina, que Londrina já tinha um recurso um pouco melhor. E aí, fez a cirurgia em Londrina. Aí, meu pai… Eu queria chegar nisso aqui que eu vou falar agora. Aí, meu pai não tinha dinheiro para pagar a cirurgia. O que o médico falou? Falou: “Senhor Ermelino, eu vou fazer a cirurgia no senhor, que isso aí nós não podemos deixar nem para amanhã mais, e aí no dia que o senhor puder, o senhor me paga.” E dessa maneira fez. Aí, o que que meu pai fez. Voltou para casa, foi se recuperando pós-cirurgia, foi bem, correu tudo bem. Aí, meu pai pegou, na época, eu lembro um pouquinho, já tinha uma noção da vida. Meu pai pegou e fez uma… É tudo novidade para vocês. Fez uma cevada de porco. O que quer dizer, engordou uma remessa de porco, na época, era umas vinte cabeças. Engordou tudo de uma vez, vendeu. E pegou o dinheiro e foi lá em Londrina e pagou o médico, pagou a cirurgia. E aí Luiza, aí foi só uns desafios do passado, os maiores. Mas graças a Deus fomos superando, a medida do possível foi superando para chegar onde a gente tá hoje.
P/1 - Quando tinha uma colheita boa, como que era a sensação?
R - Ah Luiza, a gente ficava ansioso, esperando aquele momento para fazer essa colheita, para ganhar um dinheirinho melhor. Outra coisa muito positiva da época, que hoje não se tem mais, é que quando chegava a colheita, aí o pessoal ia colhendo, colhendo, aqueles que acabavam primeiro a colheita, os vizinhos, assim, na região, muitos deles iam ajudar aqueles que estavam atrasados, sem cobrar, não cobrava por isso, serviço doado mesmo. Então, isso aí foi muito importante também. Essa união que tinha, né? Um ajuda o outro.
P/1 - Você lembra disso?
R - Lembro. Eu até trabalhei dessa maneira aí. Tanto ajudaram a gente, como a gente também ajudou outros vizinhos. Chamava naquela época mutirão, falava mutirão. “Vamos ajudar tal pessoa, ele está doente. Ou ele tá atrasado com o serviço.” Ia lá, tipo dez, vinte homens e fazia o serviço que estava atrasado rapidinho. Foi muito bom isso aí!
P/1 - E quando vocês esperavam muito uma colheita boa e não acontecia?
R - Ih, Luiza, aí você fala um assunto que nós sofremos muito disso aí. Sabe porque, essa propriedade que nós moramos de 1963 até 1969, a única colheita boa foi a de 1969, as demais, era uma época que aqui no Paraná geava muito, muito frio o Paraná, geava quase todos os anos, às vezes, passava dois anos. E a gente não conseguia fazer uma colheita boa. E aí, a gente foi conseguir fazer essa colheita boa o último ano que ficamos nessa propriedade, foi em 1969. Esses eram os problemas e as frustrações que tinha.
P/1 - E aí, vocês comemoravam?
R - Puxa, se comemorava, era uma alegria total.
P/1 - Como que vocês comemoravam?
R - Ah, a gente comemorava naquele modo simples da época. Em primeiro lugar, com alegria. Aí, a gente, às vezes, quando terminava a colheita fazia uma festa, assim por diante. Era o costume da época. Uma festa de agradecimento pela boa colheita.
P/1 - E nessa segunda propriedade, em 1979, como que foi?
R - Então, aí essa de 1969 é a que eu te falei, de 1963 até 1969 foi um drama porque geava muito. Aí, de 1969, que nós compramos a nossa primeira propriedade, aí começou a melhorar. E a melhora, foi assim, que mais chamou a atenção nossa, porque naquela época, não tinha energia no sítio…
Então, Luiza, quando a gente comprou esse primeiro sitinho, o que mais nos alegrava e nos chamou a atenção, na época, que marcou mesmo para a gente, que era uma época que não tinha energia no sítio, energia, assim, que nem tem hoje. Então, era uma dificuldade tremenda, o povo, a maioria usava a chamada lamparina, da época. E aí, a gente teve a sorte que nesse sitinho que a gente comprou, tinha uma pequena usina que gerava energia, até era chamado de turbina. E nesse sítio tinha, ela era pequenininha, mas tinha, assim, um potencial para trinta, quarenta lâmpadas, bico de luz, a gente fala. E a gente tinha também um moinho de fubá e tinha televisão, compramos a televisão. Esse foi em 1970. E para a gente aquilo lá foi uma vitória, sair de um lugar que usava lamparina e ir para um lugar que tinha esse recurso, melhorou muito. Aí, em 1970, quando a gente comprou a televisão, muitos vizinhos vinham toda noite assistir televisão na nossa casa. Que até, vocês acham que já ouviram falar, passava aquela novela dos Irmãos Coragem. Já ouviram falar? Então! Aí, foi melhorando, melhorando. Aí, já começou a gente trabalhar para a gente, tudo que plantava e colhia era cem por cento da gente. Até a gente chegar no primeiro trator que a gente comprou, que começou a pensar em mecanização. Eu não tenho foto dele aqui, mas foi em 1974, que aí a gente começou a plantar soja, 1974. E esse trator que eu mostrei aqui a foto, aqui. Cadê? Esse aqui já foi o segundo, esse aqui a gente já comprou ele em 1980, isso é seis anos depois.
P/1 - Então, até 1964 era só café?
R - Só!
P/1 - E você contou de uma geada importante que teve.
R - A geada de 1975. Acho que nós acertamos tanto de comprar o primeiro tratorzinho em 1974, parece que já estava prevendo o que ia acontecer. Aí, um ano depois veio a geadona de 1975. Aí, foi onde que teve que partir para a soja mesmo, plantar soja, milho, trigo.
P/1 - Como que foi essa decisão? Você lembra? Você participava?
R - Já participava. Eu devia ter lá meus dezoito anos, dezenove anos, quando nós começamos a pensar nisso. Aí, a gente, Luiza, para poder chegar no primeiro trator, a gente teve que… Nós só tínhamos esse sítio de cinco alqueires. Cinco alqueires, né? O tamanho do sítio. Aí a gente não conseguia financiar ele cem por cento. Aí, nós tivemos que arrendar mais um pedaço de terra, mais dez alqueires de um vizinho, para poder enquadrar no financiamento do trator. Aí, financiamos para cinco anos, pagamos com cinco anos, mas nesse meio nós já compramos mais um pedaço de terra também. As coisas foram melhorando, né? Mas foi desafiador, muito trabalhoso. Mas valeu a pena!
P/1 - E como que foi desenrolando sua vida nesse momento?
R - Ah, foi desenrolando para melhor. Aí, já começamos a ganhar um dinheirinho a mais, já começamos assim, a comprar carro, que a gente às vezes nem tinha. E aí, chegamos no que chegamos. Não sei se já devia falar agora, para chegar a essa realidade, ou mais pro final?
P/1 - Queria te perguntar como você conheceu sua esposa? Foi meio nessa época, não foi?
R - A história minha com a minha esposa é até engraçada. Vou contar para você como que aconteceu. Quando eu morava nessa primeira propriedade, que ainda era um ranchinho coberto de sapê e coisa e tal. Aí, quando eu tinha uns cinco anos, a minha esposa, ela nasceu em Rolândia aqui no Paraná e eles mudaram quase vizinho da gente. E eu de criança, de cinco anos até sete anos, oito anos, a gente morou próximo, pode se dizer, brincamos juntos como criança. Mas Luiza, as coisas eram tão diferentes, que depois nós mudamos daquela propriedade, trinta km pro lado de cá do município e a gente não se viu mais. Você vê, uma distância pouca, mas não se via mais. Aí, eu fui ver a que hoje é minha esposa, aí eu fui ver ela em… Que vê, em 1973. Então, eu saí de lá em 1963 e dez anos depois que eu fui ver a minha esposa, ela já mocinha e eu rapaz também. Aí, aconteceu um casamento na cidade, de um primo, e a gente veio para esse casamento, na igreja primeiro, para depois ir na janta, né no sítio, no churrasco. E eu vi essa menina aqui na cidade, na igreja, eu falei para um colega meu, eu falei: “Eu vou …” Naquele tempo usava esse palavreado. “Eu vou bater o barro naquela menina lá no baile.” Falei, esse primo meu chama Devair, hoje ele mora em Rondônia. Aí, eu falei: “Eu gostei do jeito daquela menina lá.” Mas ela também… Ela devia ter uns quinze, dezesseis anos. Aí, fomos para o sítio, para festa. E eu naquele intuito, esperando o momento, né? Aí teve a janta, depois da janta teve o baile. Aí, ela também dançava e eu dançava, tirei ela para dançar e já tentei conquistar ela. Mas ela me falou assim, falou: “Para hoje eu não posso te dar uma resposta não, eu tenho um namoradinho.” Eu falei: “Não tem problema, eu tenho paciência, eu espero.” Aí passou mais uns dois, três meses, ela largou desse namorado. E aí ela, através desse primo meu que tinha casado nesse dia, aí ela mandou recado que ela tinha largado do namorado, que agora dava para a gente conversar. Aí começou o nosso namoro.
P/1 - E você esperou.
R - Esperei! E nós namoramos três anos e depois nós já nos casamos. Então, é uma história engraçada, que eu brinquei com ela quando criança, depois não nem lembrava mais dela, nem lembrava mais, e de repente casei com ele.
P/1 - Como foi o casamento?
R - O casamento foi uma festa boa, Luiza, tem até umas fotos aqui. Essa aqui é a foto do casamento, essa aqui também é foto do casamento, isso aqui na igreja. E aí, foi um casamento idêntico quando eu conhecia ela, do meu primo que casou. Aí, casamos aqui em Mandaguaçu, depois a festa foi no sítio. Até a gente vai passar lá daqui a pouco, vou mostrar para vocês. E depois da festa teve um bailão, é como nós já tinha essa usina que gerava energia, então nós tinha um recurso para iluminação. Fizemos uma barraca caprichada, iluminada assim, veio uns amigos meus de Maringá, que eram…. A gente tratava na época um conjunto musical, que animou o baile para a gente. O amigo era tão amigo, que além de ele vim na festa, no casamento, eles tocaram a noite inteira e não me cobraram nada para animar esse baile. Então, foi uma festona.
P/1 - Que música que tocava?
R - Na época, Luiza, era mais assim, mas só sanfoneiro, música gaúcha, outras músicas. Mas assim, eles cantavam também, mas eu já nem lembro mais o que eles cantaram naquele dia, ou naquela noite. Mas foi bem diversificado, bem animado.
P/1 - Você lembra como você estava nesse dia? Você estava nervoso?
R - Estava, estava nervoso, com certeza.
P/1 - Por que?
R - Ah, a gente, como se diz, é até o certo, né? Acho que se puder, o bom é um casamento só, eu posso dizer assim, que graças a Deus, eu e a minha mulher vive bem, já vai logo para cinquenta anos de casamento. Então, tudo que é uma primeira vez, você fica meio, né? Assim, preocupado. E eu estava nervoso, com certeza. Mas ainda, como nós conversamos aí no início. Mas ainda no dia do meu casamento, eu mesmo lá na igreja, fiz a leitura do casamento, sabe? Então, para isso sou meio tranquilo. Mas não deixou de mexer com o emocional não.
P/1 - Que legal! E aí como seguiu a vida de vocês? Vocês foram morar juntos?
R - Então, Luiza, aí quando a gente casou, em dezembro de 1976, aí nós só tínhamos uma casa no sítio. Aí, que meu pai fez e meus irmãos mais velhos, que outro irmão já morava em outro sítio. Aí, nós fizemos uma repartição na casa, deixou três peças para mim e os demais para o meu pai e minha mãe, que eu era o único solteiro da época, fui o último que casei dos irmãos. E aí a gente morou nessa casa uns tempos, assim, chamado parede e meia. Você entende? E as coisas foram melhorando, né Luiza. Assim, não de um dia para o outro, a passos lentos, mas foi melhorando.
P/1 - E aí, logo vocês tiveram filhos ou não?
R - Então, nós nos casamos em 1976, o nosso filho nasceu em 1978, o mais velho. Dois anos depois, dois anos e pouquinho.
P/1 - Como foi a chegada dele?
R - Ah, foi uma expectativa muito boa, né? Até no início, assim, a minha mulher fez uns tratamentos, que estava com dificuldade para engravidar, mas aí fez um tratamentos, deu certo e ela engravidou, dois anos depois. E aí, já nasceu o nosso primeiro filho.
P/1 - Qual é o nome dele?
R - Marcelo. Mora nessa casa aqui, meu vizinho aqui.
P/1 - Como foi se tornar pai?
R - Oxa, motivo de alegria, satisfação. E é claro também a gente era jovem nem pensava, mas motivo também de responsabilidade, né? Mas foi gratificante.
P/1 - E logo em seguida veio o segundo ou não?
R - Não, o segundo demorou. O primeiro nasceu em 1978 e o segundo nasceu em 1982, quatro anos depois, um pouquinho mais de quatro anos. Ficou só nesses dois também.
P/1 - Enquanto isso vocês estavam na soja e milho já?
R - Sim, soja, milho, trigo, na época. Hoje trigo a gente planta menos. A gente planta bastante no inverno também a chamada aveia, que é uma planta mais para a cobertura do solo. Até nós vamos ver daqui a pouco lá, vou mostrar para vocês.
P/1 - E quando você se tornou um cooperado da Cocamar? Como foi?
R - Então, no início, em 1978, meu pai cooperou. Nós trabalhávamos tudo junto, aí o meu pai cooperou. Aí trabalhou uns anos só o meu pai como cooperado, aí em 1990… Eu falei 1988 ou 1978?
P/1 - 1978.
R - Não! Não, foi sim, 1978. Aí em 1996, nós, os filhos, cooperamos também. Todos eles, os quatro filhos cooperou também.
P/1 - Como que foi isso? Como funciona?
R - Luiza, falar a verdade para você, cooperativa… Eu até dizia para você no início, a cooperativa me ajudou bastante. E está me ajudando, né? Mas quero dizer para vocês assim, a cooperativa me deu uma… abriu minha mente, abriu minha visão, a minha mente, de como que a gente tem que conduzir, tanto a lavoura como a vida da gente, a questão financeira da vida, assim por diante. Então, quando eu fiz o meu curso de cooperativismo, clareou muito a minha mente. E assim, eu sou grato a cooperativa e também ao objetivo da cooperativa, Luiza. É assim, ninguém pode querer tirar vantagem, sabe? É tipo, assim, é uma soma de esforços e também uma união de muita gente para formar um grupo forte, se fortalecer. E aí um ajuda o outro, e dessa forma todo mundo sai com, assim, com uma vantagem melhor, que agrega valores, soma, agrega uma produção grande, um volume grande de produtividade, de produção. E acaba todo mundo ganhando melhor. Foi muito bom o curso que eu fiz sobre cooperativismo.
P/1 - Que aprendizado você conseguiu colocar em prática?
R - Ah, até o jeito de conduzir lavoura. O jeito de conduzir lavoura, o jeito de zelar da terra, do solo. O jeito de usar as máquinas. A tecnologia hoje é avançada, você tem que estar bem atualizado, buscando informações, buscando conhecimento, novas técnicas. Então, o aprendizado é muito positivo. E até eu digo para você assim, que a gente até viveu uma época que quem não optou por uma cooperativa, encontrou mais dificuldade. E muitos hoje nem tá mais na atividade. E a gente, através da cooperativa, podemos nos dizer que nos fortaleceu.
P/1 - Como que vocês zelavam o solo?
R - Ah, Luiza, a gente levava meio assim, de pai para filho, de avô para neto, então achava que era de qualquer jeito. E não é de qualquer jeito. Hoje você tem que ter um aprendizado para você poder conduzir seu solo, para fazer aquilo que o solo precisa. E na medida que você corrige seu solo, aí o benefício vem, que aumenta a produtividade. Então, você só tem a ganhar com isso aí. Outra coisa importante na cooperativa, você está sempre sempre informado sobre comercialização, qual é o melhor momento de você vender seu produto, comercializar. E com isso tem me ajudado bastante. Eu já tenho, como se diz, tenho acertado bastante com isso aí.
P/1 - E você conheceu a Cocamar através do seu pai?
R - Então, a Cocamar é quase da minha idade, logo que eu nasci surgiu a Cocamar. Aí, eu tinha assim, me despertava o nome, Cocamar, me despertava assim, que eu gostaria de um dia conhecê-la, né! E aconteceu que chegou a oportunidade com o meu pai, depois com a gente. E hoje, eu assim, agradeço novamente muito a Cocamar por o que ela tem me ensinado na vida.
P/1 - E pensando desde o começo das produções até hoje. Quais são as inovações que você viveu?
R - Nossa, Luiza, daquilo que a gente começou para hoje, não tem mais nada, é totalmente diferente, é outra realidade. E assim, e a cada tecnologia que vem, cada técnica nova que vem, a gente vê que dá resultado. E aí, assim, é motivo que incentiva a gente a buscar mesmo essa tecnologia, buscar essas orientações. Hoje a gente tem agrônomo à disposição para quando a gente precisar, só solicitar, eles vem orientar a gente. Ajuda a gente a conduzir a lavoura, a agricultura, é muito bom!
P/1 - E o que que é uma boa colheita para você?
R - Ah, boa colheita não é só você colher mais, a boa colheita depende de uma série de fatores. Então, você sabe que você está ali na luta, procurando conduzir sua propriedade da melhor maneira possível. A gente faz isso, até assim, vamos dizer, com amor, porque tá no sangue, tá na veia. E aí, a recompensa é quando você colhe bem, quando você comercializa bem, na hora certa. Isso aí é o que marca para a gente de bom.
P/1 - Você já pensou em fazer outra coisa em algum momento da sua vida?
R - Ah, Luiza, assim, até mesmo pela idade já não passa isso mais pela minha cabeça. Já passou no passado, mas hoje, como se diz, eu acho assim, que para minha idade acho que tá bom dessa maneira.
P/1 - E quais são os aprendizados de trabalhar com e na terra?
R - Os aprendizados, no meu conceito, são vários, mas principalmente que você tem que estar consciente de que a terra é o bem maior, quando se fala no financeiro… Vou tomar uma água…
P/1 - Então, eu estava te perguntando, quais são os maiores aprendizados de trabalhar na e com a terra?
R - Então, Luiza, à terra, o melhor e o maior aprendizado que ela me dá, é que a terra a gente também tem que cuidar dela, ter carinho com ela, fazer o manuseio como é preciso, é recomendado, fazer o tratamento certinho. Aí, você preservando… cuidar para não haver erosão, água não estragar o solo, você preservando esses fatores aí, aí ela vai te dar um aprendizado positivo, ela vai te dar retorno financeiro, ela nunca vai se desgastar. Antigamente não tinha tecnologia, o pessoal usava o solo de qualquer maneira e chegava um ponto que ele se tornava improdutivo. E hoje não, hoje você cuidando como é preciso, com as orientações certas, as tecnologias certas, o solo vai ficando cada vez melhor, cada vez mais fertil.
P/1 - E como é para você lidar com o tempo da terra?
R - Você quer dizer assim o tempo da terra…
P/1 - De semear, de colher…
R - Ah, isso é gratificante! A gente faz com alegria, com prazer, tudo dentro do planejamento, etapas por etapas. Você vai lá prepara, planta, você vê a planta nascer, a planta crescer, é gratificante! É muito bom!
P/1 - E as vantagens e os desafios de trabalhar coletivamente?
R - As vantagens? As vantagens, ah, são inúmeras, assim, porque coletivamente você acaba somando, assim, uma quantidade maior para você comercializar melhor, vai ser mais valorizado coletivamente. Qual a outra pergunta?
P/1 - Os desafios?
R - Ah, os desafios… Então, para você trabalhar no coletivo, tem que haver assim, bastante união. União, a gente não pode pensar só para a gente mesmo, tem que ser tudo assim, pensado no bem comum, pro bem de todos, senão não funciona. E a cooperativa é mais ou menos isso aí. E a cooperativa, acho que assim, que ajuda todo mundo, todos iguais, mas acho que ainda o mais beneficiado no caso, é o pequeno, porque o pequeno sozinho, ele não chega em lugar nenhum, se ele for aí trabalhar fora da cooperativa, é uma dificuldade tremenda, é muito explorado. E lá, através da cooperativa, ele soma com os demais, se torna grande.
P/1 - E tem alguma história, alguma passagem, algum dia marcante, relacionado ao seu trabalho que você queira dividir com a gente?
R - Ah, tem! História assim, negativa, na parte mais negativa assim, foi a geadona de 1975. Essa aí foi, tá na memória mesmo que foi uma mudança, uma transformação mesmo, para difícil. Histórias positivas, tem também! Tem assim, quando a gente colhe bem, planta, colhe, corre tudo bem, você colhe uma boa produtividade. Tem épocas que às vezes os preços estão mais favoráveis, você é mais bem remunerado, aí então são os momentos também marcantes, que nos alegra, que dá esse estímulo, esse incentivo para a gente continuar a produzir. E sabendo também da importância, que a gente trabalha a céu aberto, mas a gente trabalha na produção de alimentos, é gratificante você saber que você está trabalhando aqui, produzindo aqui, e essa produção vai saciar a fome de muita gente. Isso é gratificante também!
P/1 - E tem alguma pessoa ao longo desses anos todos, que ou trabalhou com você, ou para você, que te ensinou algo muito importante?
R - Tem! Tem! Em primeiro lugar, assim, a gente diria os agrônomos, eles nos orientam muito bem, eles têm muito conhecimento. E a gente também já tem aproveitado assim, ensinamento de outras pessoas, às vezes, até de pessoas mais experientes que a gente, mais idosas que a gente. Então, tudo isso aí veio contribuindo. Vai se passando de um para o outro, aquilo que dá mais certo e acaba todo mundo ganhando com isso aí.
P/1 - Você tem algum cuidado essencial, ou alguma preocupação com o meio ambiente?
R - Temos! Temos, Luiza! Vou até citar um exemplo para você. Até uns vinte, trinta anos atrás, o povo tinha assim, usava falar muito que quem mais estragava, ou atrapalhava, ou poluía o meio ambiente, era o agricultor. Mas não é isso mais não, viu Luiza. Não vou dizer que no passado não teve um pouco disso aí. Mas hoje, através desse conhecimento, dessas orientações que a gente tem, as próprias fiscalizações do meio ambiente, eu digo para você, acho que hoje o que menos contribui para degradar, ou para poluir o meio ambiente, é o produtor rural. Nós temos muito zelo, muito cuidado com isso aí. Hoje tá tão assim, modernizou tanto, que hoje ninguém mais pega água em rio para trabalhar com agrotóxico, essas coisas, não! Hoje é tudo poço artesiano, tudo dentro das normas, normas de segurança. Nada de jogar resíduo químico em qualquer lugar. Está tão assim, avançado, que hoje até as próprias embalagens dos agrotóxicos, dessas coisas que contaminam o solo, hoje é tudo recolhido, tudo guardado e recolhido. Semana passada mesmo eu levei para o destino certo. Então, hoje o agricultor capricha ao máximo para não poluir o rio, nada. O que tá muito poluindo o rio hoje, é a cidade. Eu falo, porque eu tenho esse conhecimento. Vai muito lixo, muito descarte, muita garrafa PET pelo rio, sabe? Passa lá onde a gente tem as terras lá e você vê que é tudo que vai aqui da cidade. Então, vai ter que essa conscientização melhorar também na área urbana.
P/1 - E você percebe assim, as mudanças climáticas, se elas influenciam de alguma forma nas produções?
R - Ah, influência Luiza. Influencia sim!
P/1 - Como é isso?
R - Então, aí eu diria para você assim, quando se fala em mudança climática é meio complicado, meio complexo, porque seca, vamos falar assim, seca sempre teve, falta de chuva. E chuva com excesso também sempre teve. Te falo, porque eu desde criança, eu ainda me lembro, eu era criança, tinha vez que meus pais, meus tios, os avós da época, reunia o pessoal e ia fazer novena para chover, que não chovia. Isso aí eu presenciei muito e até ajudei a fazer também. Então, seca sempre teve. Chuva com excesso, também sempre teve. Mas assim, eu não vou dizer que essa degradação, desmatamento, nessas áreas onde hoje está proibido, não deve acontecer, isso aí também mexe com o meio ambiente. Mas não é só isso aí não. Essas interferências climáticas, de quando eu conheço, sempre teve, sempre vai ter. E aqui, a nossa região mudou bastante também o clima, já não faz frio que nem fazia, que eu já comentei hoje aqui, dos anos sessenta, setenta. Tem épocas aqui que também tá chovendo pouco, chovia mais. Mas assim, não sei bem qual é a causa, mas mudou sim. Por isso que a gente tem que estar assim, meio consciente, esperto nessa área, para gente também poder às vezes errar menos, procurar plantar nas épocas mais favoráveis de chuva, para evitar às vezes, de pegar seca e perder toda a lavoura.
P/1 - E como você gostaria de ver a sua plantação no futuro?
R - Ah, Luiza, a gente trabalha com esse princípio, cada vez mais, assim, a gente tenha condições de fazer o planejamento da gente usando a melhor tecnologia possível, para que o futuro a gente continue produzindo, produzindo bem. Quem sabe, se for possível, até melhor ainda que hoje. Que hoje já não tá ruim, mas às vezes, podemos ainda melhorar mais. A esperança é essa aí. E haja mesmo alimento para alimentar todo o povo, porque o consumo é muito grande. Eu tenho muita esperança no futuro que continue nesse caminho aí de produtividade.
P/1 - E seus filhos seguem o seu caminho?
R - Então, Luiza, meus filhos, um é caminhoneiro, mexe com caminhão. O outro, tem farmácia, mexe com farmácia. Mas eu já estou precisando de pensar numa sucessão, então já tô até falando para eles e já acredito que bem em breve, eu quero por eles na linha de frente, que eu já não sou jovem mais, já estou meio cansado, para ver se eles dão continuidade nesse projeto. O filho mais novo gosta muito de agricultura, inclusive colheita, plantio, ele me ajuda, ele concilia lá o trabalho de farmácia, vai ajudar. Agora o mais velho ainda tá mais dedicado a estrada mesmo, mas já tô falando para ele que vai ter que vir para assumir o meu posto, porque a gente já tá meio cansado.
P/1 - E nesse meio tempo da sua vida, teve alguma coisa marcante que você queira contar para a gente?
R - Ah Luiza, tem muita coisa, agora o que que eu podia dizer para você, uma das coisas marcantes?
P/1 - Que eu não tenha te perguntado?
R - Eu vou falar de um acontecimento de três anos atrás, nunca tinha me acontecido, é uma coisa que marcou também. Foi um ano que choveu muito pouco, foi em 2001, não, em 2021. 2021, é três anos atrás. A gente estava terminando de plantar soja e até era um sábado. E veio um temporal, um vendaval, pedra, granizo. E a gente já tinha metade da área de soja já nascida, já grandinha e a pedra detonou tudo. E mesmo onde ainda não tinha nascido, a chuva foi com excesso, deu mais de 300 mm de água em duas horas de intervalo, estragou tudo. Foi uma planta praticamente perdida, teve que fazer tudo de novo. Então, isso aí marcou bastante, porque isso aí também gera a despesa dobrada. E aquele ano para nós não foi bom, para agricultura não foi bom, 2021. Teve um sítio, que a primeira planta tinha nascido bem, o granizo estragou, e eu fiz mais duas plantas depois em cima e nenhuma saiu, foi um ano bem perdido mesmo. Produtividade que a gente colhe 150 sacas por alqueire, aquele ano eu fiz média de cinquenta sacas por alqueire, então isso aí foi o que marcou muito. E já teve outros desafios também.
P/1 - E hoje em dia, como é a sua rotina?
R - Ah, Luiza, hoje em dia tá bem mais fácil. Assim, quando é uma interferência climática não tem muito o que fazer, vai deixar as vezes prejuízo, ou seja, cai o lucro. Mas assim, a rotina hoje é bem tranquila, hoje com esse sistema de tocar lavoura, de plantar lavoura, planejamento aí, falar a verdade para você, se for fazer um comparativo em percentual, acho que a gente não trabalha mais vinte, trinta por cento do que trabalhava. E você conduz uma área maior do que você conduzia no passado. Muito mais fácil.
P/1 - Mas você vai todo dia para lá, ou não?
R - Não, Luiza, que nem nessa época agora, não. Quando está plantando, quando está colhendo, quando está conduzindo a lavoura, aí a gente, às vezes, vai quase todo dia, ou todo dia. E vai e fica o dia todo. Agora, nessa época agora, falar a verdade para você, às vezes, dois, três dias, a gente nem precisa ir lá, que não tem o que fazer mesmo. E quando a gente vai, às vezes, não precisa nem trabalhar o dia todo, você trabalhando assim, no período da manhã já basta. Não desgasta muito a gente.
P/1 - Por que nessa época do frio?
R - Na época do frio, tem menos compromisso, menos trabalho na lavoura. Agora o próximo trabalho mesmo, assim, que você tem que estar mesmo na ativa, mesmo presente, agora vai ser lá na virada de setembro para outubro, que é o plantio da soja. Aí tem que estar todo dia mesmo.
P/1 - E quais são os seus sonhos?
R - Os meus sonhos para o futuro?
P/1 - É!
R - Ah, Luiza, meus sonhos é… Eu digo para você assim, eu me sinto até bem realizado, sabe? Mas meu sonho é que continue dessa maneira, que meus filhos, quem sabe o dia de amanhã assuma isso aí que eu tô fazendo, e que eles também façam a vida deles da maneira que eu venho fazendo também. No passado Luiza, eu, assim, no bom sentido, eu sofri muito, foi difícil. Hoje, graças a Deus, em vista do que a gente já passou, estamos num patamar bem mais favorável, sabe? Então, meu planejamento é isso aí. É que conduza dessa maneira, seja conduzido dessa maneira.
P/1 - Você tem netos?
R - Tenho duas netas só. Duas netas, cada filho tem uma menina. A neta mais velha essa hora deve estar chegando lá em Camboriú. E a outra neta, é a filha do que tem a farmácia, deve estar em casa essa hora. A mais nova tem onze anos e a mais velha tem quinze anos.
P/1 - E elas vão? Elas te acompanham? Já te acompanharam?
R - Ah, elas não são muito da agricultura, às vezes, eu levo elas para verem, mas elas não pegaram foco não, do negócio.
P/1 - E você gostaria de acrescentar algo que eu não tenha te perguntado?
R - Ah, Luiza, não é nem acrescentar algo que você não perguntou, eu diria assim, eu não sei qual vai ser o conteúdo desse nosso bate-papo, dessa nossa entrevista aqui, mas diria assim, que eu já começo a agradecer você, ou a equipe, né? Que veio aqui me visitar, falar um pouquinho sobre o agro, buscar mais conhecimento a respeito do agro, assim, então eu agradeço você e a equipe, e que continue mesmo em busca dessas informações e divulgue, que muita gente às vezes até critica o agro porque não conhece, mas quem conhece vai ver que também não é tão fácil, tem desafios. Mas o agro com certeza é a nossa… sempre vai ser o nosso principal carro-chefe para o futuro. O agro tem que estar sempre aí com produtividade, com boa qualidade de produção, para poder saciar fome do povo.
P/1 - Você gostaria de deixar alguma mensagem para as pessoas?
R - A mensagem para aqueles que vão ver essa reportagem, que eles assim, olhe com carinho. E assim, eu quis apenas passar aquilo que eu vivi até agora e de uma maneira assim, que possa servir também de conhecimento e de incentivo com aqueles que ainda não conhecem o nosso sistema de trabalho do agro. Então, acredito que vai ser assim, bastante interessante para aqueles que verem essa reportagem. E assim, para terminar a sua pergunta, eu diria assim, temos dificuldades, temos assim, principalmente na questão climática, mas o agro ainda é um dos movimentos que a gente ainda tem um pouco mais de tranquilidade, porque você é dona do negócio, você conduzindo bem o seu negócio, é um sossego. E muitas vezes… a gente, às vezes, faz coisas na vida que, às vezes, você tem que fazer forçado, você não é dono do negócio para você poder tomar suas decisões. E o agro você tem essa oportunidade, essa liberdade de você poder fazer, claro, aquilo que for melhor. Mas depende de você.
P/1 - E qual é a sua primeira lembrança da vida? Você consegue buscar?
R - Ah, a primeira lembrança da vida, assim… São várias e de vários segmentos, mas o que mais me marca de lembrança da vida, é quando eu morava naquela casinha que nós começamos a reportagem. Casinha de pau a pique, o piso da casa era chão batido, então aquilo foi desafiador. Mas não chegou a nos abalar não. A gente foi lutando, lutando, superamos e chegamos onde nós estamos.
P/1 - Como foi você dividir um pouco da sua história com a gente?
R - Foi gratificante, porque a gente trouxe um pouco da memória do passado e compartilhar isso é muito bom. E é um aprendizado de vida mesmo.
P/1 - Muito obrigada por compartilhar tudo isso com a gente. Foi muito gostoso!
R - Eu que agradeço! Estamos aí, sempre à disposição para a gente trocar novas ideias e levar o conhecimento de outras pessoas. Com simplicidade, com humildade, mas de bom propósito e de coração.
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