IDENTIFICAÇÃO
O meu nome é Francisco Bernardes Braga. Aqui na empresa, desde que eu entrei, eu sou conhecido por Chico. Eu nasci no dia cinco de setembro de 1953, num lugarejo chamado Fazenda Vargas, no município de Gravataí.
INGRESSO NA PETROBRAS
O meu ingresso na Petrobras tem uma...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO
O meu nome é Francisco Bernardes Braga. Aqui na empresa, desde que eu entrei, eu sou conhecido por Chico. Eu nasci no dia cinco de setembro de 1953, num lugarejo chamado Fazenda Vargas, no município de Gravataí.
INGRESSO NA PETROBRAS
O meu ingresso na Petrobras tem uma curiosidade. Eu preciso falar rapidamente a respeito da minha família para chegar nesse ponto. Eu sou o mais novo de três irmãos: duas mulheres e eu. Nós temos uma diferença de idade muito grande. Por essa razão, eu tenho um sobrinho praticamente da minha idade, com diferença de meses. Eu trabalhava numa outra empresa, em Porto Alegre, mas morava ainda em Gravataí. Ele também trabalhava em Porto Alegre. Nós pegávamos o mesmo ônibus e, numa dessas viagens, ele me entregou o edital de um concurso da Petrobras. Foi como eu fiquei sabendo desse concurso para auxiliar de escritório, aqui na Refinaria Alberto Pasqualini. Me inscrevi, passei e ele não. Foi essa a forma que eu vim para a Petrobras. Isso foi no início de 1974. Eu fui admitido no dia 28 de junho de 1974 na Refap, onde permaneci até agora.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Eu comecei como auxiliar de escritório, trabalhando na Área de Contabilidade, isso na época em que se fazia, dentro da contabilidade, o controle de bens patrimoniais; ou seja, uma vez por ano, fazíamos o balanço de bens patrimoniais e tínhamos que ir a todas as áreas da Refinaria, em todos os prédios, em todas as salas, conferir a plaquetinha de bem patrimonial de cada objeto, de cada cadeira, de cada equipamento. Para mim, foi muito bom porque me deu um grande conhecimento. Eu conheci praticamente todas as pessoas da Refinaria. Depois desse período da contabilidade que foi até 1976, eu passei para a área de Serviços Gerais. Logo depois, eu trabalhei na secretaria do Laboratório, que hoje é o “desenvolvimento de produtos”. Em 1985 eu fui para a Área de Comunicação onde estou até hoje.
COTIDIANO DE TRABALHO
Para mim é extremamente gratificante, principalmente na área de comunicação que me agrada muito. Eu gosto muito do trabalho tanto que, depois que eu entrei na área de comunicação, que tomei gosto pela coisa. E, realmente, eu me achei a ponto de ir fazer o curso superior. Eu senti vontade realmente de ir para a faculdade. Fiz o vestibular para Relações Públicas, estudei na PUC - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Me formei em Comunicação, com especialização em Relações Públicas. A comunicação, pra mim, é a profissão mais bonita que existe. Eu gosto muito dessa área principalmente pela diversidade de pessoas que a gente conhece e pela diversidade de eventos que a gente participa. Pode-se dizer que não existe rotina.
TEORIA E PRÁTICA
Eu acredito que a Área de Comunicação é muito ligada à pessoa em si. Precisa ser uma pessoa que não goste de rotina, porque a gente não pode ficar acomodado em nenhum momento. Claro que, no meu caso em particular, o curso me trouxe , digamos assim, o embasamento teórico do que eu já fazia na prática. Isso é fundamental, porque enquanto só prática, a gente faz as coisas de uma maneira empírica. A partir do momento que eu tenho a formação, que tenho o embasamento teórico, eu vou aplicar técnica àquilo que eu fazia de uma maneira empírica.
MUDANÇAS NA REFAP
As mudanças que ocorram na empresa de 1974 até agora são muito grandes. Eu colocaria logo o que sempre foi preocupação na empresa, mas que assumiu proporções muito maiores nos últimos anos, as questões como a segurança, tanto a segurança de pessoas quanto a segurança ambiental, a educação ambiental, a conscientização das pessoas em relação a todos esses aspectos. Sobre a Refap, tem um aspecto muito importante, muito interessante em termos de mudança: o fato de, desde o dia dois de janeiro de 2001, ter se constituído como empresa e deixado de ser simplesmente um órgão operacional da Petrobras. Isso foi
muito interessante e muito bonito também porque nós tivemos a oportunidade de participar da construção dessa empresa, o que trouxe um aprendizado muito grande.
REFAP S. A.
A experiência que a gente teve nessa transformação foi algo assim: atividades que eram feitas pela Petrobras passaram a ser feitas pela Refap. Algumas dessas atividades a gente teve que aprender a fazer, não tínhamos a experiência. Então, foi um período de transição muito gratificante por conta deste aprendizado, por conta da consolidação da Refap como empresa. Tudo isso foi muito bonito. Eu não gostaria de falar pelos outros, mas eu acredito que muitos devem ter ficado receosos. A gente ouviu algumas manifestações de receio. Eu, como sempre gostei de desafio, para mim, era apenas mais um desafio, construir e consolidar essa empresa.
OBRA DE AMPLIAÇÃO DA REFAP
Eu não consigo falar da ampliação sem citar duas coisas: primeiro a transformação da Refap em empresa, que permitiu também consolidar essa obra de ampliação, colocá-la em prática. E o fundamental é que, anteriormente, eu já tinha assistido uma ampliação da Refap, uma obra bastante demorada. Na época, achávamos uma obra gigantesca. Eu estou falando da Unidade 50. Ela começou na metade dos anos 80, foi concluída no final de 1993 e inaugurada em 1994. Era uma unidade muito grande. Agora foi feita essa nova ampliação com cinco unidades novas, e aquela unidade simplesmente ficou envolvida pelas outras. A gente percebeu que a obra que nós tivemos agora realmente foi uma obra gigantesca. Foi a maior obra realizada já nesse estado e talvez no país.
POLÍTICA DE SEGURANÇA
Com relação à evolução em políticas de segurança tem algumas coisas emblemáticas que eu não vi pessoalmente, só em fotografias antigas da época da construção da Refinaria. Tem até alguns filmes antigos onde se vê as pessoas trabalhando sem a mínima proteção, só um capacete, trabalhando sem luva em situações de risco mesmo. Hoje, isso é algo absolutamente inadmissível. Nós não temos como não ter essa preocupação de manter toda a equipe de trabalho, para qualquer atividade que envolva o mínimo de potencial de risco, com todos os equipamentos, óculos de segurança, protetor auricular, capacete com jugular, bota adequada, luva adequada a cada tipo de trabalho, a própria roupa adequada a cada situação. Isso é um salto gigantesco no que se refere à preservação da integridade física das pessoas.
RESPONSABILIDADE SOCIO- AMBIENTAL
Com relação
à preservação ambiental, à conscientização da necessidade de cuidados com o meio-ambiente, eu acredito que sempre houve essa preocupação, mas a evolução também foi muito grande. Hoje, buscamos conscientizar todas as pessoas, fazemos tratamentos para efluentes. Buscamos o que existe de melhor no mundo não só para a Refap, mas para Companhia como um todo, para o sistema Petrobras. Então, isto é um salto fundamental no que se refere à segurança ambiental, pessoal, patrimonial. E, claro, no meu entendimento, isso tudo está dentro de uma política de responsabilidade social. Eu não entendo responsabilidade social simplesmente voltada para ações sociais. A responsabilidade social é um todo.
HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS
Momentos marcantes? Acho que foram tantos. Às vezes é difícil separar, digamos assim, o profissional do pessoal, em alguns momentos eles se misturam. Acho que um dos grandes momentos marcantes que eu tive aqui tem muito a ver com o meu lado pessoal também.
É uma curiosidade porque quando eu era adolescente, pré-adolescente talvez, eu já gostava de automobilismo. O meu esporte preferido, o meu esporte de paixão é automobilismo, muito embora eu só assista. Uma ou outra vez eu me arrisco a brincar com kart, mas não pratico automobilismo. Passado algum tempo, agora, a Petrobras começou a investir em patrocínios na área de esporte e motor, no automobilismo.
Eu acho que foi no ano 2000 ou 2001, eu não tenho certeza agora, a Petrobras patrocinava a Stock Car como categoria, não apenas como equipe. É importante também voltar um pouquinho no tempo para dizer que eu, já adolescente, quase adulto, comecei a assistir às corridas. O meu grande ídolo era o Ingo Hoffmann, um piloto da Stock Car desde que a categoria foi criada no Brasil. Ele passou pela Fórmula Um; correu na primeira e única equipe de Fórmula Um que existiu no Brasil, a Copersucar-Fittipaldi. Ele sempre foi o meu ídolo. E nesse ano, eu não lembro exatamente se foi 2000 ou 2001, teve uma prova de Stock Car no autódromo de Guaporé, aqui na Serra Gaúcha, patrocinada pela Petrobras e eu estava lá. Um dos gerentes foi convidado a participar da cerimônia de premiação, entregando um troféu no podium. E, por razões que cabe a ele entender o por que, não quis e pediu que eu fosse fazer essa premiação. Para minha surpresa, quando eu cheguei ao podium, a organizadora me disse: “Tu vais entregar o troféu para o segundo colocado, ok?” Eu disse: “Sem problemas. Quem é?”; “O Ingo Hoffmann”, o meu grande ídolo de adolescência Bom, o resultado foi o seguinte: eu não sei o que aconteceu naquele podium, eu não vi a cerimônia. Eu só sei que existe uma fotografia que mostra que eu entreguei um troféu para o Ingo Hoffmann, mas eu tremia que nem vara verde.
APOSENTADORIA
Com relação a esses 32 anos e alguns meses de empresa, iniciando na Petrobras e depois na Refap S.A., como empresa do sistema Petrobras, eu devo dizer que só posso registrar coisas boas. Óbvio que um ou outro momento triste aconteceu, mas eu sempre uso a balança e, no meu caso, o prato das coisas boas tem muito mais peso do que o prato de coisas ruins. Eu só registro coisas boas. Eu tive momentos muito bons, a convivência com as pessoas é espetacular. E, agora, considerando que eu estou prestes a me desligar da empresa, evidentemente que eu quero partir para novos desafios ou partir para outra forma de trabalho, buscar outras alternativas, mas vou sentir, claro que sim. Estranho seria se eu não sentisse nada. São 32 anos de convivência, de atividade prazerosa, que me gratifica muito.
Tudo o que eu tenho em termos de crescimento pessoal, em termos materiais foi conquistado aqui. Eu cresci muito, eu tenho certeza. Quando eu penso assim, se eu olhar para trás – a nossa memória tem algumas coisas interessantes – parece que faz muito pouco tempo aquele episódio do meu sobrinho me entregando um recorte de jornal com o edital de concurso. Parece que isso faz muito pouco tempo Por outro lado, se eu pensar, 32 anos e alguns meses é muito tempo. É o tempo de conhecer uma pessoa, de casar, de constituir família, de ter dois filhos adultos. Existe essa dualidade na nossa mente em relação ao tempo. Às vezes parece que as coisas são tão recentes e não, já faz muito tempo. Às vezes parece que faz muito tempo e elas são recentes. Mas é muito bom ter contribuído para essa empresa. Eu acredito que contribuí. Foi muito bom estar todo esse tempo aqui. E, tenho certeza, vou levar grandes e ótimas lembranças, vou deixar amizades. Elas simplesmente vão se transformar, porque vamos nos ver não todos os dias, mas de vez em quando, a amizade em si não muda. Esse período todo que eu trabalhei na empresa foi muito bom.
SER PETROLEIRO
Ser petroleiro, na minha opinião, não é uma única coisa, é uma seqüência de coisas. É em primeiro lugar vestir a camisa. Em segundo lugar, estar preparado e gostar de enfrentar os desafios e saber que a nossa rotina é vencer os desafios. Eu acho um registro importante. Como eu falei, há uma dualidade da memória, a relação temporal da memória, às vezes coisas de muito tempo parecem que não são tão distantes. Eu lembro, às vezes, da minha infância, porque eu nasci num município não muito distante da capital, nasci no interior, na região rural. Fui criado na roça. Quando eu penso que eu saí da roça para trabalhar na maior empresa do Rio Grande do Sul, um dos maiores grupos empresariais do mundo... De alguma forma, aquele menino que capinava na roça pôde contribuir para uma empresa do porte da Refap e da Petrobras. Eu acho um motivo de muito orgulho. Isso só me traz satisfação. Então, eu me sinto orgulhoso de ser petroleiro.
RELAÇÃO SINDICATO - PETROBRAS
Eu sou sindicalizado, mas nunca tive nenhum posto. Eu vejo, no nosso caso, a relação empresa - sindicato muito madura. Eu acho que existe uma relação de franqueza.
Obviamente que já existiram períodos, em décadas passadas, de enfrentamento. Nós tivemos um período, no início dos anos 90, em que ocorreu uma série de greves. Mas mesmo assim, mesmo num período de paralisações freqüentes como foi aquele, eu vejo respeito. Eu acho que isso é fundamental. Claro que aquela provocação é feita no calor de uma discussão, e isso não pode ser considerado como falta de respeito, mas eu vejo uma relação de respeito onde se consegue tranquilamente conversar com os dirigentes. Eu já exerci função de chefia na Refinaria e, mesmo nesse período, tinha contato com dirigentes sindicais e conversei tranquilamente, sem nenhum problema maior. Por isso eu acredito que a relação empresa – sindicato é muito madura aqui para nós.
MEMÓRIA PETROBRAS
O Projeto Memória é fundamental para o sistema Petrobras. Eu acho muito bacana ter esse registro. Eu, inclusive, participei de alguns treinamentos e foi também um motivo de crescimento para mim, entender o Projeto Memória não apenas como participante entrevistado, mas entender os bastidores do Projeto Memória. Agora também com a minha saída, estou passando o bastão, estou fazendo questão de passar todo o material que eu tenho para a colega que vai me substituir aqui no Projeto Memória, porque ele é fundamental. Um projeto desse porte é fundamental para a empresa e para o país, porque esse resgate que está sendo feito não traz só a história da Petrobras. A história da Petrobras faz parte da história do país, então, isso é muito bacana. É também bacana essa forma de buscar através de depoimentos e não apenas de documentos a serem mostrados, é uma coisa viva, vibrante. Tem aquela noção de museu como algo estático que a gente vai lá para ver apenas. Aqui se vê que é diferente, as pessoas vão entrar no site, vão ler os depoimentos, e podem criar também o depoimento através do site. Tudo isso vai engrandecendo o projeto e engrandecendo o acervo do projeto.
Eu acho que é muito legal e que o nosso país, de uma maneira geral, ainda não tem dado o devido valor à memória.Recolher