Centro de Memória CTBC – Telecom
Depoimento de Alderico França Diniz
Entrevistado por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lúcia da Silva
Uberlândia, 01/06/2001
Realização Museu da Pessoa
Código da entrevista: CTBC_HV063
Transcrito por Andréa Afonso
Revisado por Ligia Furlan
P/1 – Boa tarde, seu Alderico.
R – Boa tarde.
P/1 – Obrigado pelo senhor ter vindo aqui. Nós vamos fazer algumas perguntas que a Norma já lhe fez, mas é só para a gente tê-las registradas. Eu queria que o senhor dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – O meu nome completo é Alderico França Diniz. Eu nasci, inclusive, numa fazenda perto de Iturama. Na época o meu pai tinha fazenda. De lá, nós viemos para Ituiutaba.
P/1 – Quando que o senhor nasceu?
R – Nasci no dia 19 de junho de 1922.
P/1 – O senhor disse que o seu pai era fazendeiro?
R – Era, na época era.
P/1 – Como chamava essa fazenda que o senhor nasceu?
R – Fazenda do Barreiro.
P/1 – O que ela produzia?
R – Lá era criar gado, moagem de cana, esse tipo de coisa assim. Era tipo fazenda mesmo, porque antigamente não era como hoje, que é lavoura, é boi, tudo. Não. Lá, a gente... O movimento era menor.
P/1 – O senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci.
P/1 – Do lado da mãe e do lado do pai?
R – Dos dois lados.
P/1 – Como era o nome deles, seu Alderico, por favor?
R – Do lado do meu pai era: Antônio Pádua Diniz e, minha avó, Cornélia Cândida Diniz. Do lado da minha mãe era Sinval França e Cristina França.
P/1 – O senhor tem notícia se os seus avós eram mesmo da região?
R – Eram da região, sim. Principalmente por parte do meu pai. Por parte da minha mãe eu não sei bem o início de onde eles moravam, não. Mas depois eles vieram morar aqui em Ituiutaba, o que eu sei é isso.
P/1 – Como é que era essa vida na fazenda, o senhor tinha obrigações quando criança? Como é que era?
R – Tinha, tinha, tinha que...
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Depoimento de Alderico França Diniz
Entrevistado por Luiz Egypto de Cerqueira e Norma Lúcia da Silva
Uberlândia, 01/06/2001
Realização Museu da Pessoa
Código da entrevista: CTBC_HV063
Transcrito por Andréa Afonso
Revisado por Ligia Furlan
P/1 – Boa tarde, seu Alderico.
R – Boa tarde.
P/1 – Obrigado pelo senhor ter vindo aqui. Nós vamos fazer algumas perguntas que a Norma já lhe fez, mas é só para a gente tê-las registradas. Eu queria que o senhor dissesse o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – O meu nome completo é Alderico França Diniz. Eu nasci, inclusive, numa fazenda perto de Iturama. Na época o meu pai tinha fazenda. De lá, nós viemos para Ituiutaba.
P/1 – Quando que o senhor nasceu?
R – Nasci no dia 19 de junho de 1922.
P/1 – O senhor disse que o seu pai era fazendeiro?
R – Era, na época era.
P/1 – Como chamava essa fazenda que o senhor nasceu?
R – Fazenda do Barreiro.
P/1 – O que ela produzia?
R – Lá era criar gado, moagem de cana, esse tipo de coisa assim. Era tipo fazenda mesmo, porque antigamente não era como hoje, que é lavoura, é boi, tudo. Não. Lá, a gente... O movimento era menor.
P/1 – O senhor conheceu os seus avós?
R – Conheci.
P/1 – Do lado da mãe e do lado do pai?
R – Dos dois lados.
P/1 – Como era o nome deles, seu Alderico, por favor?
R – Do lado do meu pai era: Antônio Pádua Diniz e, minha avó, Cornélia Cândida Diniz. Do lado da minha mãe era Sinval França e Cristina França.
P/1 – O senhor tem notícia se os seus avós eram mesmo da região?
R – Eram da região, sim. Principalmente por parte do meu pai. Por parte da minha mãe eu não sei bem o início de onde eles moravam, não. Mas depois eles vieram morar aqui em Ituiutaba, o que eu sei é isso.
P/1 – Como é que era essa vida na fazenda, o senhor tinha obrigações quando criança? Como é que era?
R – Tinha, tinha, tinha que ajudar o pai, tinha que trabalhar. Pôr cana em engenho, cortar cana e tudo, tinha que fazer isso. Mas isso foi pouco tempo também, porque depois a gente veio embora, vendeu tudo lá e veio aqui para Ituiutaba. Em Ituiutaba nós possuíamos um bar com sorveteria e padaria.
P/2 – Como era o nome dos pais do senhor, seu Alderico?
R – Alfredo Pádua Diniz e Iracema França Diniz.
P/1 – O senhor tem irmãos?
R – Tenho.
P/1 – Quantos são?
R – Catorze irmãos, sete homens e sete mulheres. Porém, das mulheres, faltaram três, infelizmente. Elas não tinham uma idade avançada, mas tiveram problemas e faleceram. E os outros estão esparramados. Tem um casal em Uberlândia, tem uma no Pará, Conceição, me parece, uma coisa assim. Tem uma Ituiutaba, uma em Belo Horizonte. Aqui eu tenho um irmão, em Ituiutaba tem eu e mais uns cinco irmãos, e um em Goiânia.
P/1 – Seu Alderico, como é que era essa casa de fazenda antes de o senhor ir para Ituiutaba? Como é que era a casa, como é que ela funcionava, como é que era o dia a dia ali?
R – O dia a dia era o de uma casa comum, de tijolos, telhas, assim por diante. Um dia comum.
P/1 – O senhor se lembra como é que ela era? Pode descrever?
R – Mais ou menos, mais ou menos. Ela tinha uma sala, tinha uma... Como é que eu poderia dizer? Vamos dizer que era uma sala de visita e três quartos; cozinha, dispensa... Era isso aí. Tinha rego d’água, tinha monjolo, tinha tudo isso que é o normal de fazenda, não é?
P/1 – E por que o seu pai resolveu mudar-se para Ituiutaba?
R – Para dar estudo para os filhos, principalmente os mais novos. Porque eu e mais alguns dos irmãos viemos mais cedo para estudar. Mas como éramos muitos irmãos, ele achou melhor mudar para cá para dar estudo para os filhos. Porque isso é necessário, não é?
P/1 – Aí veio a família toda?
R – Veio todo mundo, todo mundo.
P/1 – E aonde é que vocês foram morar em Ituiutaba?
R – Nós moramos em vários lugares. Moramos na 22 com a cinco, moramos na 30 com a 17 e 19 e moramos nesse bar, na 22 com a 13.
P/1 – Certo. Aí o seu pai estabeleceu um negócio lá?
R – É, estabeleceu um negócio lá.
P/1 – E como é que era esse bar, como é que era o nome dele?
R – Não, aí eu não posso te falar porque eu não sei direito, não me lembro qual era o nome, não. Só sei que era isso aí: padaria, sorveteria e bar.
P/1 – Sei. E as crianças – ou não tão crianças assim – já ajudavam?
R – Todo mundo, todo mundo lá já estudava e alguns ajudavam também. Trabalhava, e assim por diante.
P/1 – E a sua escola, seu Alderico, como é que foi a sua primeira escola? O senhor se lembra?
R – A minha primeira escola eu me lembro bem, foi na rua 18, entre a 13 e a 15, era de dona Olegária Chaves. A segunda foi no Grupo João Pinheiro. Depois eu entrei, na quinta série, na dona Neri Marques.
P/1 – E durante esse período escolar algum episódio que tenha marcado, alguma professora que tenha marcado muito o senhor?
R – Não tanto. Algumas coisas que me lembro eram brincadeiras que a gente fazia: jogar futebol, correr dentro de saco de linho, eram essas coisas, sabe? Isso era o que mais marcava. E a amizade com todo mundo, com os colegas.
P/1 – Essas brincadeiras na escola ou brincadeiras no...
R – Na escola, no pátio da escola.
P/1 – No pátio. No recreio?
R – É, no recreio, justamente.
P/1 – E quando o senhor voltava para casa, como é que se divertia depois das obrigações feitas?
R – Eu me divertia com o seguinte: eu morava com as minhas tias, na época eu ainda tinha os meus avós também. A minha diversão maior era brincar de pique [esconde]. Não sei se você sabe o que é isso... E outra coisa, pneu na rua, também. Correndo e brincando de todo jeito, isso eu gostava muito. Futebol sempre gostei muito, mesmo depois da Estisa e CTBC eu joguei muito tempo, tanto de grama como de salão. A gente brincava muito na quadra e no campo de grama.
P/1 – Seu Alderico, como é que era a Ituitaba da época, como é que era a cidade?
R – Quando eu conheci Ituiutaba ela tinha, da rua sete – que é na igreja da Matriz, até a Avenida 17 –, três ruas encascalhadas. Eram as ruas 18, 20 e 22. O resto era início, terra e assim por diante, quase que para todo lado. Para mim, cresceu muito, porque do jeito que eu conheci... Tanto que no bairro Progresso, atravessando a ponte da cidade para o outro lado só havia a casa do zelador do cemitério e chacareiros. E hoje expandiu horrores.
P/1 – Perfeito. Seu Alderico, nesse momento da escola, quando o senhor começava a ter as sua primeiras obrigações também junto à casa, quais eram essas responsabilidades? O senhor ajudava na padaria, no bar...
R – Ajudava. Eu era o sorveteiro.
P/1 – Ah! Então conta como é que se faz sorvete?
R – Ah! Mas eu não vou me lembrar para te falar tudo. Eu sei que eu pegava uma pazinha, punha a mistura lá dentro do negócio – que eu me esqueço... –, um tipo de botijão; ligava e aquilo ficava rodando, e eu com a pá, até aquilo virar sorvete.
P/1 – E o pessoal gostava?
R – Gostava, o que é isso! Eu tinha um irmão que era praticamente o gerente dessa padaria, de tudo. Então ele é quem temperava, porque ele já tinha experiência. Ele já havia trabalhado lá, esse bar era de outra pessoa quando nós compramos.
P/1 – E os sabores eram naturais ou...
R – Eram vários sabores, era quase igual à hoje.
P/1 – Mas o sorvete era feito... O senhor pegava fruta para fazer o sorvete?
R – Não, não, era...
P/1 – Preparado?
R – Preparado. Fruta mesmo eu não me lembro.
P/1 – E o senhor se lembra dos sabores que vendia lá?
R – Bom, eu me lembro de coco, chocolate com leite... Qual mais? Não sei se groselha, não me lembro para te detalhar, mas eram vários sabores.
P/1 – O formato do picolé... Era picolé ou sorvete?
R – Sorvete e picolé, tinha de tudo.
P/1 – O picolé era embrulhado?
R – O picolé era embrulhado. Tinha forma, você colocava o líquido dentro e punha lá para gelar. Depois, quando ele já estava ficando no ponto, você colocava os palitos, antes de gelar de tudo. Depois tirava, embrulhava e...
P/1 – O formato dele era quadrado?
R – Não era bem quadrado não. Tinha mais um pouquinho de largura do que... Não é...
P/1 – E a padaria, o senhor chegou a mexer com a padaria?
R – Eu nunca trabalhei na padaria. Tinha os padeiros, tinha guarda livros, tinha tudo. Ainda era na época que punha pão dentro de carroça e saía entregando na rua.
P/1 – Padeiro acorda muito cedo, não é, seu Alderico?
R – (riso) Pois é.
P/1 – E essa carroça era de alguém da família ou era...
R – Não, era do próprio bar, da padaria. Porque tinha os padeiros, eles fabricavam o pão e de madrugadinha saíam na rua entregando nas residências.
P/1 – Fazia só pão de sal, pão doce...
R – É, tudo isso.
P/1 – E a partir do momento que o senhor foi crescendo, o senhor continuou os seus estudos lá em Ituiutaba mesmo?
R – Não, eu estudei só nessa época que eu já citei para você, depois eu não estudei mais.
P/1 – Fora o trabalho que o senhor tinha no estabelecimento da família, o senhor pensou em trabalhar em outro lugar, pensou em sair?
R – Não, eu não cheguei a pensar, porque eu acho assim, a gente entra num serviço, se tudo está dando certo, você não deve mudar, não é? E eu tinha uma amizade, já de quando foram inaugurados os 500 primeiros telefones, uma amizade muito boa, uma relação muito boa com o doutor Luiz e o seu Alexandrino, então eu nunca pensei de sair, não. Saí quando aposentei.
P/1 – Mas, eu digo assim, o seu primeiro emprego fora o trabalho que o senhor tinha lá na sorveteria, quando o senhor saiu de casa para ter o seu primeiro trabalho, qual foi?
R – Quando eu saí de casa?
P/1 – Não, eu digo...
R – Na padaria?
P/1 – É.
R – Na época houve um contratempo de negócios e tudo mais, então eu vou te ser sincero: eu tive pensão, possuí pensão, possuí tinturaria, possuí uma lenhadora. Dessa lenhadora, fui para a Etisa. Daí para cá, continuo nisso. Eu também fiz um curso de rádio e televisão pelo Instituto Monitor, mas por correspondência, bem entendido. Montei rádio, vendi rádio...
P/1 – Isso enquanto o senhor estava aonde?
R – Antes da Etisa.
P/1 – E esse curso durou quanto tempo?
R – Não me lembro bem, não. Foi acima de seis meses, sei lá quanto.
P/1 – E o senhor passou a trabalhar com montagem e consertos?
R – É. Eu ia a São Paulo, comprava peças, levava, e eu mesmo montava. Eu copiava esquemas de outros rádios, como Zilomag, Semp, e daquela cópia eu montava. Eu tinha todos os aparelhos: gerador de sinais, voltímetro; o que necessitasse eu tinha. Para calibrar rádio, para tudo.
P/1 – Como é que era uma viagem de Ituiutaba para São Paulo, nessa época, seu Alderico?
R – Não era tão boa não, mas dava para ir bem, porque São Paulo não era tão violenta como é agora. Naquela época eu ia tranquilo. Chegava lá, pousava, e no outro dia adquiria todo o material que eu queria. Nessa época era na rodoviária antiga, já mais ali perto da Avenida Rio Branco, Santa Efigênia, Rua Aurora e assim por diante... Timbiras, Duque de Caxias. Era esse o setor onde mais eu andava. Depois que eu estava na CTBC, eu fui fazer um curso no centro de treinamento da Ericsson, em São Paulo, quase no fim da Avenida Gurapiranga. Lá foram 15 dias, eu e outro colega meu fizemos esse curso. A finalidade era... Por causa do sistema da Central. E eu, que já tinha uma prática muito boa, tirei em primeiro lugar. Tinha engenheiros de Goiânia, de Brasília, do Rio Grande do Sul, de Ribeirão Preto, de vários lugares. E eu, com a minha experiência, tirei em primeiro lugar nesse curso lá. Ajuste de relê, ajuste de registro, montagem de grupo de relês, tudo isso.
P/1 – Vamos contar um pouco como é que essa experiência se acumulou? Como é que o senhor foi parar na Etisa?
R – Na Etisa foi o seguinte: a gente já era conhecido do seu Demerval Tavares Martins, vulgo Valico, e Geraldo Alves Tavares. Então, a gente conseguiu com eles para ir trabalhar, fazer um teste, fazer uma montagem, para ver se servia para continuar na empresa. E foi o que aconteceu, continuei na empresa.
P/1 – E foi montar exatamente o quê?
R – Foi montar a Central, os primeiros 500 telefones pela Ericsson. Eu entrei no dia 15 de dezembro de 1958. E, inclusive, pela Ericsson do Brasil. No dia primeiro de maio de 1959 é que eu fui registrado na Etisa.
P/1 – E como é que o senhor estabeleceu esse contado com a Ericsson?
R – Esse contato é porque eles venderam o equipamento para Ituiutaba, e foi um montador, o Antônio Sampaio Lessa, que fazia montagem para a Ericsson, que foi para lá, e a gente trabalhou montando essa Central.
P/1 – O senhor chegou lá e pediu o serviço?
R – Não, eu já tinha conseguido o serviço, eu já fui para trabalhar. Cheguei lá, já me apresentei para ele, entrei na sala e nós já fomos começar a montagem.
P/1 – E que Central que era?
R – Central LaGF.
P/1 – Era automática?
R – Ela era automática, mas não é um automático igual a RF, a 261, por exemplo, que depois foram montadas dez mil linhas. Nós montamos esses 500 pela Ericsson, depois aumentamos 500 que eles adquiriram... Não me lembro mais, não sei de onde. Isso aí já foi o seu Mauro, que era um montador da Ericsson também, que ia lá, pegava o serviço, e a firma permitia que eu e o meu colega Arnaldo fizéssemos a montagem. Eu ia lá, dava as coordenadas, vinha embora para São Paulo. De vez em quando ele dava uma ida lá para ver como é que estava, e eu, modéstia parte, sempre fui um pouco esforçado. Quando foram montados os 500 primeiros telefones, geralmente eu pegava tudo quanto era tipo de teste de coisa e ficava testando naquilo. Sai daqui vai para ali, sai dali vai para lá e testando aqueles fios, para onde que iam, tudo direitinho, não é? E também começando a entender o funcionamento, que era muito importante para tirar defeito, para tudo. Fazia teste com fone de ouvido na Central quase todos os dias. Se alguma coisa desse defeito, a gente bloqueava, sacava aquele equipamento, tirava aquele defeito, voltava novamente. E assim por diante.
P/1 – Quanto tempo demorava um processo de montagem de uma Central como essa primeira?
R – Essa... Lá nós iniciamos em 15 de dezembro de 1958, e foi inaugurada no dia 17 de maio de 1950. Mais ou menos, cinco ou seis meses, por aí afora. Agora, uma ampliação de mil, é lógico, demora mais, isso foi na de 500.
P/1 – O senhor falou dos testes que o senhor fazia com os fones. Como é que funcionavam esses testes?
R – O teste é o seguinte. A gente chegava na Central todo dia, quando não era cedo geralmente era à noite. Por quê? Para evitar tráfico, essa coisa. A gente tinha uma mesa que tinha pegas, tudo mais, e os controles para ver o que ia fazer. Aí você injetava no bastidor lá... A gente discava com o fone na cabeça, de ouvido para um telefone que vinha na mesa para a gente ver se funcionou bem ou se o equipamento falhou. Se falhasse bloqueava. Tinha um botãozinho para bloquear aquela peça, a gente bloqueava para depois tirar o defeito. Era mais ou menos esse tipo de sistema.
P/1 – E isso fazia fora dos horários de tráfico?
R – Mais ou menos fora de horário de tráfico. Eu fui assim designado por várias vezes para ir a Santa Vitória e Capinópolis para dar um check-up nas Centrais porque os que trabalhavam lá não tinham maior experiência. Eu sempre ia nesses lugares para fazer mais ou menos o mesmo tipo de serviço.
P/1 – Esses ramais tinham que ser limpos, né?
R – Tinha! Tudo, tudo, tudo! Fizemos ampliações depois que entrou a 261, nós conectávamos, tínhamos que fazer modificação nos (regues?), em várias partes. A gente sempre tinha que fazer para ela entrar na 261. E a 261, quando chamasse a 262, também ter condição dos assinantes falarem.
P/1 – Botar as duas Centrais para conversarem?
R – É, para conversar.
P/1 – E isso implicava no que?
R – Modificação, modificação de (regue?), principalmente. Porque o (regue?), nesse tipo de Central, é o coração da Central. Tudo o que você vai rodando no disco, os relês vão trabalhando e, quando chega no final, tem o término. Esse (regue?), por exemplo, tinha 35 relês, cada um tinha a sua função. (Cifra?), (de escada?), tudo mais tinha que trabalhar. Tinha um relê polarizado que trabalhava num pique assim. Então, vamos dizer, se você discava a cifra cinco, ele trabalhava para aquela cifra e jogava ela lá para frente. Vinha a próxima cifra, ele trabalhava também, jogava para lá. Tudo bem bolado, não é?
P/1 – Bem bolado, mas mecânico, não é?
R – Mecânico, mecânico.
P/1 – E o tipo de manutenção que isso exigia?
R – Isso exigia limpeza, inclusive, de todo equipamento, porque não deixa de pegar uma poeirinha, não é? Era uma limpeza de mais ou menos uns seis meses. Fora que, às vezes, a gente passava pano assim, limpando e tal. Mas a limpeza geral que se fazia de princípio ao fim, isso... Sempre tinha ela. Você pegava e tirava aquela peça, ia lá, punha na bancada, pegava uma espátula com paninho bem fininho e ia passando em todos aqueles contatos, depois dando uma brunida para não ficar nenhuma felpa de pano e assim por diante.
P/1 – O lugar onde ficava a Central era fechado para não ter poeira?
R – Fechado, fechado. Você sabe que lá teve um prédio primeiro, onde foi instalada a GF. Quando a CTBC passou a dominar lá, eles construíram um prédio, não sei se você viu no (teleco?) A Norma deve ter visto. Construíram outro prédio que foi uma dificuldade para nós, porque tinha que ter a Central funcionando, e a construção do outro prédio, que foram três andares. Então poeira era demais. Nós usamos plástico, todo meio possível para não deixar entrar na Central, mas mesmo assim entrava. Foi muito difícil para nós. Quando entrou a outra, nós pegamos a 262 e passamos ela para o terceiro andar do prédio, montamos ela novamente lá.
P/1 – E os assinantes ficaram sem falar durante algum tempo, não?
R – Aí parece que houve... Como é que foi esse negócio? Eles tiveram... Eu não sei se eles passaram para a 261 e depois voltaram... Porque ela ficou uma época parada, porque estava sendo feita a mudança, a nova montagem. Foi isso aí.
P/1 – Seu Alderico, o senhor se lembra quando foi o momento que a CTBC passou a controlar a Etisa? O que isso mudou no trabalho de vocês?
R – Olha, eu tenho um dado de quando... Ela tomou conta antes, eu não me lembro essa data não, mas eu tenho uns dados, inclusive, acho que... Não sei se estariam com você, de 29, parece que de fevereiro, não me lembro o ano. Porque aí o doutor Luiz foi, foi o seu Alexandrino, foi o Aureliano Garcia, que era vice-presidente. Como é que era o nome dele?
P/1 – Chaves?
R – Antônio Aureliano de Mendonça. Então, ele foi, e mais outras autoridades também. Na época, foram inaugurados o DDI, o DDD e essa nova Central. Eles falaram, falaram com os ministro de Telecomunicações, falaram mais não sei para onde. Parece que o prefeito falou com o irmão dele no Japão, que era o Acácio Alves Cintra, que era o prefeito de Ituiutaba, na época. Foi mais ou menos isso, é o que eu me lembro.
P/1 – Mas quando...
R – Quando a CTBC passou a fazer parte lá, isso aí eu não tenho assim a época direito para te falar, não tem como.
P/1 – Mas independentemente da época, o que mudou do trabalho que o senhor tinha na Etisa e quando chegou à CTBC? O que mudou ali no trabalho?
R – Para mim não mudou muita coisa, porque eu continuei no mesmo lugar, praticamente. Eu saí, a mesma Central que eu trabalhava embaixo passou a funcionar em cima e eu continuei a trabalhar nela. Apesar de, quando inaugurou a RF, eu ter ajudado a fazer alguns testes nela também. Eu descia, porque ela era no segundo pavimento, e, às vezes, ajudava em algum teste. Nessa época tinha um moço de Frutal, chamavam-no Carlão, o nome dele era Carlos de Felíssimos, até lembro a assinatura dele. Esse rapaz que foi para tomar conta dessa 261, mas aí, como eu já tinha um conhecimento bom na outra Central, eu não deixei de ajudar em algumas partes nessa nova Central. E a minha vida foi isso, porque, até quando eu saí, essa Central ainda ficou para depois eles se desfazerem dela.
P/1 – Nesse primeiro momento foi muito complicado compatibilizar as duas centrais?
R – Foi, foi bem complicado, porque foram mudanças muito grandes que tiveram que ser feitas nos (reques?), e ainda tinha um bastidor de entroncamento. Dali, você discava, por exemplo, passava pelo entroncamento e, do entroncamento, ia para o 261. Se eu era assinante 262, eu discava, passava no entroncamento e saía na 261. Quem era 261 discava, passava no entroncamento, saía na 262. Era um tipo de funcionamento assim.
P/1 – Mas esse entroncamento era um equipamento de linha?
R – Era um equipamento, me parece que da Ericsson, salvo engano. Eram jogos de relês com tudo o que era preciso para fazer o entroncamento.
P/1 – Uma coisa que fica impressionante é que todos esses equipamentos mecânicos, além da manutenção que precisavam ter, eram muito sensíveis a qualquer tipo de...
R – Não deixavam de ser um pouco sensíveis. Na realidade, você tinha que ter um trato com muito carinho com aquilo, porque se não, ao invés de consertar, poderia piorar. Você tinha que saber fazer o ajuste, por exemplo, para poder funcionar direitinho tudo isso.
P/1 – E o senhor tinha alguém que supervisionava?
R – Não, a gente não tinha, a não ser os gerentes, diretores, que de vez em quando iam na Central, mas, vamos dizer que quase a passeio. Eles iam lá, olhavam e tal e iam embora. Era a gente que comandava aquilo. Eu, a minha parte eu fazia tudo, eu não dependia de ninguém para gerenciar a parte que eu trabalhava.
P/1 – Nesse trabalho o senhor era sozinho ou tinha mais gente ajudando o senhor?
R – Tinha, tinha alguns que eu não sei se você conhece. O Jaime, por exemplo, ajudou em montagem. O Zé Mário, que era de Patrocínio... Não, uma outra cidade que eu me esqueci o nome. E tinha o Hélio, que era engenheiro que se formou e foi trabalhar lá com a gente também. Então a gente era sempre uma turminha, não é?
P/1 – E trabalhavam em turno?
R – Tinha outro rapaz por nome (Vantuil?), ele saiu da rede e foi trabalhar na Central com a gente também. Mas ele não sabia nada de Central, o que ele aprendeu foi tudo lá dentro, com a gente.
P/1 – E trabalhavam em turno?
R – Ele continua na empresa. Não. É porque o negócio é o seguinte: cada um fazia determinada parte, se você estava olhando o defeito de um (regue?), outro estava fazendo a limpeza, ou então estava tirando um defeito, e assim por diante. Cada um fazia uma coisa. Quando era época de limpeza, às vezes iam dois ou três para aquela limpeza e faziam a limpeza. É isso aí.
P/1 – Mas não ficavam 24 horas seguidas, não?
R – Não. Às vezes, dependendo do teste que era preciso ser feito, a gente ia para lá a meia-noite, mais ou menos, para esperar maneirar o tráfego, e aí então a gente poder começar os testes. Mas a gente tinha uma vantagem de poder bloquear aquilo que estava com defeito para depois, de manhã, a qualquer hora, poder tirar o defeito. Só que a gente procurava sempre fazer o mais rápido para não faltar nada no equipamento, para fluir bem o tráfego.
P/1 – O senhor se lembra de alguma situação complicada que o senhor teve que encarar, um momento muito difícil, de uma pane, uma coisa mais dramática assim?
R – Eu me lembro de uma e vou te detalhar. Quando inauguraram os primeiros 500 telefones, é lógico que a experiência era muito pouca. E houve uma pane que parou tudo, parou tudo, não funcionava nada. Aí, eu e meu colega, com pouca experiência, corremos para procurar de tudo quanto era jeito. E nos bastidores dos (regues?) tinha um terminal que vinha da Central e descia para os (regues?). Então, não sei, acho que foi coincidência, eu pus uma escada, subi lá e fui ver se estava tudo bem encaixado, porque era tudo de encaixe. Subi lá, estou lá mexendo naquilo, e a Central funcionou. A maior pane que teve lá foi essa. Mas conseguimos funcionar. Já estávamos ligando para o Lindolfo lá em Itumbiara, porque foi um que trabalhou na montagem também, para ver se ele dava as coordenadas para a gente. Mas, felizmente, não precisou. A gente conseguiu. No mais, as outras coisas eram mais ou menos normais, a gente resolvia bem.
P/1 – Seu Alderico, e o seu Alexandrino? O senhor o conheceu em que circunstância?
R – Ele foi várias vezes em Ituiutaba com o doutor Luiz, e às vezes ele chegava lá, a gente estava na Central, ele nunca deixava de entrar, eu já ia entrando e já ia cumprimentando. Eu gostava demais do trabalho, porque aquilo até brilhava, era limpinho, piso, equipamento, tudo. Ele ficava contentíssimo com aquilo, tanto que ele foi uma pessoa que eu considero barbaridade, demais mesmo. Eu estava contando para elas que no casamento do filho dele, ele mandou convite de casamento para a empresa, para os funcionários da empresa, e para mim ele mandou um separado, para você ver o tanto que a gente era amigo e tudo.
P/1 – Como é que nasceu essa amizade?
R – Nasceu da ida dele lá. Porque ele sempre se comunicava muito com a gente, especulavas as coisas, como é que era, como não era. E dali a gente foi ficando conhecido, amigos. Todas as vezes ele não deixava de falar com a gente, bater um papo, especular as coisas. E aí formou essa amizade desse jeito.
P/1 – E como é que ele era, seu Alderico? Conta para nós...
R – Ótima pessoa. Toda vida ele foi cem por cento, muito bom. O mais... De menos papo era o seu Alexandrino. Seu Alexandrino era mais caladão. Mas o doutor Luiz, não; era superbacana, uma pessoa ótima mesmo.
P/1 – E o seu Alexandrino, o que o senhor tem a dizer sobre ele?
R – Seu Alexandrino não convivi muito com ele, porque depois ele foi ficando doente e tudo. Mas eu tinha o conhecimento dele mais das idas dele com o doutor Luiz. Depois, quando ele foi ficando doente, a gente não teve condições. A não ser uma vez, que me parece que foi a última vez que o vi, foi uma vez que eles deram uma viagem para uma turma lá na pousada do Rio Quente. Aí nós passamos aqui em Uberlândia e encontramos com eles. Com ele, com o doutor Luiz. Me parece que na volta da pousada a gente encontrou.
P/1 – O senhor teve mais contato com o Doutor Luiz?
R – Mais com o doutor Luiz do que com ele.
P/1 – Mas a lembrança do senhor, do seu Alexandrino, qual que é?
R – A lembrança da pessoa dele. Eu me lembro tranquilamente da pessoa dele. A fisionomia não me saiu até hoje do pensamento, é a mesma.
P/1 – O doutor Luiz já era, digamos, o braço mais técnico da empresa?
R – O seu Alexandrino era o presidente, não é? E ele era o vice-presidente. Quer dizer, os dois que manobravam a empresa. Eu me lembro ainda de uma tia que foi telefonista, na época daquele... Eu me esqueço, hoje eu não me lembro bem o nome, não. Quando era só aquele de manivelinha...
P/1 – Magneto?
R – É, magneto. Você chamava, por exemplo, daqui para lá, caía uma plaquinha na mesa. A telefonista pegava, entrava com a pega ali e falava com a pessoa. Mas era só isso, não tinha telefone igual hoje, era só mesmo de telefonista para telefonista. Tinha as linhas daqui até lá, e era só esse tipo de telefone.
P/1 – Essas centrais que o senhor ajudou a montar lá em Ituiutaba eram automáticas, mas já estavam... Já falavam interurbano?
R – Não falavam. Depois, justamente que a CTBC entrou para falar, foi quando entrou o DDI [Discagem Direta Internacional], o DDD [Discagem Direta à Distância], esses tipos assim. Então, já no início, tinha uma mesa... Isso eu não sei se eles já tinham conseguido lá ou se ainda não. Eu não me lembro bem não porque faz muito tempo... Já conseguia fazer interurbano, tinha uma mesinha que fazia, porque aí o circuito era mínimo. Depois ampliou, houve a inauguração, aí falava para todos os lados, para onde quisesse falar.
P/1 – Quando apareceu o DDD lá?
R – É, quando apareceu foi montado lá, foi feito tudo, a torre com equipamentos, para falar com qualquer parte.
P/1 – E o seu trabalho, seu Alderico, como é que foi acompanhando essa evolução da tecnologia?
R – Olha, na minha época não houve assim tanta evolução, foi razoável. Porque foi uma coisa que veio mais de trás um pouco, e depois é que a coisa começou a complicar mais, como está hoje.
P/1 – Complicar em que sentido?
R – Assim, porque tudo foi mudando. Hoje o DDD e o DDI são todos de longa distância, fala para onde quer. Computador hoje faz quase tudo o que quer. E antes não, era uma coisa mais resumida, não era igual é hoje.
P/1 – E o senhor acha que mudou para pior ou para melhor?
R – Ora, mas o quê que é isso, lógico, como que pode ser para pior? Tem que ser par melhor.
P/1 – Eu queria entender um pouco melhor, seu Alderico, como é que esse seu trabalho na Central foi mudando com essas mudanças.
R – Olha, eu não tenho muita coisa para te falar, porque tudo vinha detalhado para a gente fazer. Por exemplo, se eu tinha que fazer qualquer coisa, ou para funcionar com a Central 261, ou para interurbano ou qualquer coisa, aquilo já vinha programado, restava para a gente fazer. A gente pegava e fazia. A evolução para mim não foi tanta porque essa central 261, depois que ela entrou eu fiquei pouco tempo na empresa, e aí eu saí. De lá para cá eu não sei te informar porque fiquei fora e não posso falar sobre isso aí.
P/1 – Esse momento ao qual o senhor se referiu de que os diagramas já vinham prontos, os planos vinham prontos, tinha alguém que vinha checar para ver como é que as coisas...
R – Não, geralmente, não tinha. Os engenheiros davam as coordenadas e a gente pegava e fazia o serviço para esses tipos todos de mudanças. Era isso. Mas como sempre era nessa Central, AGF, eu não tive acesso a outras coisas mais, como que eu poderia dizer... De mais evolução, vamos dizer.
P/1 – Mas essas Centrais AGFs e as outras anteriores também foram importantes para as cidades?
R – Foram importantes, muito importantes. Lá, por exemplo, nós chegamos a ter 3500 terminais com essa AGF.
P/1 – E como é que as pessoas das cidades reconheciam no senhor uma pessoa que trabalhava na CTBC?
R – Olha, reconhecia, porque – eu estava comentando com as meninas –, às vezes, no sábado à tarde, no domingo, pessoas muito amigas, conhecidas, tinham problema no telefone, então me ligavam lá, me pediam, porque eu fazia horário no domingo também, no sábado. Às vezes um domingo sim, outro não. No sábado também, às vezes revezava. No começo, às vezes, a gente ficava na Central até às dez horas trabalhando. E, se eu estava na minha residência e desse uma chuva muito forte, eu tinha que ir correndo na Central. Você sabe, o serviço de cabo era diferente, porque chegando lá era aquele barulhão, aquele bate, bate de máquina, de tudo. Eu tinha que ir correndo, anotando aquilo, pegando números, indo lá no DG e bloqueando. Eram defeitos que davam, eram 100, 200 na rua. O sujeito dava um tiro lá no cabo, estragava, vinha a chuva e molhava, e tinha papel em volta daqueles fiozinhos e tudo. Aquilo molhava, pronto. Era um Deu nos acuda. Era difícil. E eu corria para lá, ia debaixo de chuva, molhando, mas ia. Porque responsabilidade, graças a Deus, eu sempre tive.
P/1 – Choveu, não tinha essa de escapar?
R – Não tinha que falar nada. Era pegar, sair correndo e descer correndo, e já começar o trabalho, não é? Bloquear telefone. Às vezes, amanhecia o dia tinha 200 telefones grampeados. Aí os cabistas cedinho já batiam para lá e iam enxugar aquilo e arrumar.
P/1 – Choveu, não precisava nem esperar chamar?
R – Não, não tinha nada para chamar não, já era...
P/1 – O senhor falou que ficava fazendo barulho, batendo, por quê?
R – Porque o equipamento era composto de máquinas. Cada grupo tinha 40 máquinas de GV, de buscador e de final. O que afetava mais era o buscador e o GV, porque ele queria testar aquela linha e não tinha como testar. Ele não achava linha para testar porque estava em curto, então ficava para lá e para cá a vareta da máquina, entra sai, entra sai. Aí eu tinha que correr e ver o que que é que estava com problema para poder ir bloqueando até parar aquele batimento de máquina, e assim por diante.
P/1 – E as varetas não se quebravam?
R – Não, não se quebravam, não. Aquilo era composto de múltiplos, com as linhas, cada múltiplo tinha 20 linhas. O número do telefone, a (discagem?) passava pela vareta: A,B,C e D, quatro fios saíam lá na pontinha dela. Ela tinha os contatinhos, aqueles múltiplos eram de araminhos, não sei se você chegou a conhecer. Quando ela chegava onde estava aquela linha, ali ela batia e testava, ali ela parava. Mas quando ela entrava em curto desse jeito, aí ela não achava nada, ficava aquela loucura.
P/1 – Era uma barulheira?
R – Nossa Senhora! Barulho demais, viu! Era um barulhão mesmo. E outra coisa: não se podia demorar muito não, porque se não estourava a bobina, porque aí ela aquecia, estourava o papel, queimava a bobina. A gente tinha uma máquina para enrolar, a gente enrolava bobina.
P/1 – Chegou a acontecer isso?
R – Ah! Muitas vezes.
P/1 – De queimar bobina?
R – Queimava. E nós tínhamos que refazer aquilo. Para isso foi adquirida uma máquina de enrolar bobinas, e a gente mesmo fazia esse serviço. Eles pediam todos os fios porque eram necessários de vários milímetros. Então, em cada bobina pegava-se a pasta e olhava ali, que tinha tudo sobre a bobina. Fio tal, fio tal, mais grosso ou mais fino. Eu não me lembro mais o ômio dos fios, pelo tempo que faz que já parei. Mas eram várias grossuras de fio. Ele tinha o ômio dele, mas na pasta que a gente tinha dava aquilo tudo, qual o fio que tinha que ser usado. Você pegava aquele que queimou, acabou, e você não tinha como. Você cortava ele e começava a enrolar a bobina. Enrolava, tinha a quantidade em voltas e de ômios também. Porque, às vezes, uma tinha 20 ômios, outra tinha sete mil ômios, dez mil ômios. Eu não sei se você está bem por dentro desse negócio de ômios, não é?
P/1 – É uma grandeza, não é?
R – É isso, mais ou menos isso.
P/1 – Ó, agá, ême.
R – É, deve ser.
P/1 – E nesse momento que dava essas panes, esses problemas com chuva, em quanto tempo vocês costumavam colocar a Central operando outra vez?
R – Isso não dependia muito da gente, dependia da rede. Agora, eles iam logo, logo descobrir o defeito, porque tinham aparelhos para descobrir aonde, ou no setor. Porque às vezes dá num setor e em outros não dá. Então, com maçarico, eles iam esquentando até secar bem sequinho, e depois fechavam novamente. Abriam para esquentar com maçarico e depois voltavam a fechar. Abriam o cabo, porque estava cheio de água dentro.
P/1 – E como é que avisavam para o senhor que aquela linha ou aquelas linhas estavam liberadas?
R – Não, aquilo que era logo terminado era comunicado para a gente. Falavam: “Ó, podem liberar.” A gente ia ao distribuidor, puxava todos os grampos e punha todo mundo par funcionar.
P/1 – E o assinante reclamava muito?
R – Sempre reclamava, porque o assinante sempre reclama. Quando essa Central foi inaugurada – e até um determinado tempo –, a gente pegava trote em telefone. Então, se uma pessoa maltratasse outra ou fizesse uma brincadeira um pouco... Meio pesada, a pessoa ligava e a gente tinha condições de ir lá. Aí era só deixar o telefone de quem tinha recebido o trote fora de gancho, a gente ia na Central e pegava tudo, pegava quem tinha chamado. A gente passava para o gerente, ele levava o delegado e não sei se o juiz de direito, porque aquilo não podia ser revelado. Entre eles lá, eu não sei o que acontecia, se podia ser revelado para aquela pessoa ou não. Para o presidente e o gerente nós fornecíamos aqueles dados, mas quem definiam eram eles. E muitas vezes alguns assinantes reclamavam sobre muita chamada no telefone porque a conta estava alta, então eles pediam para a gente verificar. E a gente conseguia verificar. Geralmente era a empregada ou alguém que usava o telefone quando a pessoa não estava em casa, e assim por diante. Depois isso aí praticamente acabou. A 261 tem condições, mas tem que ser programada. Tinha que programar, hoje eu não sei como é que funciona. Mas fazia a programação e pegava trote também, mas na outra não, a gente pegava trote tranquilamente. Ela foi feita para isso, para pegar o trote, e a gente pegava.
P/1 – Mas era muito comum esse tipo de brincadeira de mau gosto?
R – Era um pouco comum, de vez em quando estava acontecendo. E tinha assinante que... Eu vou te contar uma coisa, ficava por conta, viu. Mas eu não podia contar. Tinha amigos que ligavam e pediam: “Me conta quem que é, eu não vou fazer nada, não.” Mas eu não contava, não senhor . Não tenho ordem para isso. Aqui é para o diretor, e é ele que vai ver o que vai fazer. E o diretor não fazia por conta dele não, ele levava ao delegado, a autoridade para discutir aquilo.
P/1 – Mas o senhor conseguiu se deparar com algum trote muito cabeludo, ameaças, essas coisas?
R – Cheguei, cheguei.
P/1 – Hoje o senhor já pode falar; conta uma história para nós?
R – Não, até hoje... Uma, que a gente esquece, não é? Mas eu não tenho como revelar, não.
P/1 – Não precisa dizer os nomes.
R – Não, não posso revelar e também já me esqueci um pouco aquilo.
P/1 – Está bom, está bom. Seu Alderico, o senhor fica na companhia até quando? Até quando o senhor permanece na CTBC?
R – Que eu permaneci?
P/1 – É.
R – Foi do início da montagem, de 15 de dezembro de 1958 até, parece que, 1990. Aí eu me aposentei. Só que eu não esperei 35 anos e eu vou te contar por que. Eu até podia ter ficado, eu tinha condições para ficar tranquilamente. Então, se você chegava na Central, vindo do almoço sob um sol de rachar, chegava, tinha que entrar, entrava no gelo, entrava no frio. Saía do frio para o quente, fone no ouvido testando telefone, barulho de equipamento, barulho de ar condicionado. Quer dizer, eu tenho colegas lá que estão bem mais surdos que eu, de tanto acontecer esse tipo de coisa. Então eu pensei: “Eu não vou esperar, não. Eu quero viver a minha vida mais um pouco. Eu vou sair.” Eu não esperei, e até fiz mal, porque seria bem melhor para mim, porque eu me aposentaria com 100%, não é? E eu me aposentei com 86%. Seria bem melhor para mim.
P/1 – O senhor tinha quantos anos de empresa na época?
R – 32 anos, parece que um mês e um dia, uma coisa assim.
P/1 – Mudou muito a sua vida depois dessa decisão?
R – Para mim mudou... Assim, porque quando você trabalha num lugar que você se dá bem e gosta do seu trabalho, é ruim a gente sair. A gente sente falta, é lógico. Mas para mim não mudou muito porque, apesar de ser uma entrevista que eu sei que vocês estão gravando, eu sou assim muito divertido, sou muito forrozeiro, sou dançador de quadrilha. E eu levo a minha vida assim, na amizade, rodando, brincando e dançando, seguido. A minha vida tem sido mais isso, além das coisas, das obrigações que a gente tem de fazer determinadas coisas, particular e tudo, eu sempre me diverti muito, nunca deixei de me divertir.
P/1 – Mesmo no tempo em que estava trabalhando?
R – No tempo em que estava trabalhando era mais difícil, apesar de a gente ter folga no sábado e, às vezes, até no domingo. Eu nunca deixava de ir não, porque isso aí eu faço há muitos anos, muitos anos.
P/1 – Dançar forró?
R – Dançar forró, ganhar primeiro lugar em __________, esse tipo de dança, xote, sei lá, um punhado de coisas. Eu tenho troféu na minha casa de dança que eu ganhei.
P/1 – E como é que funciona isso, o senhor tem um grupo?
R – Na quadrilha tenho; no forró, não. É igual ao que tem aqui em Uberlândia, nessas danças que tem por aí. Parece que tem... Como é o nome dos clubes? Eu me esqueço o nome dos clubes aqui. Mas nós já dançamos quadrilha aqui e em Uberlândia. Já dançamos em Olímpia, no estado de São Paulo. A quadrilha você pode dançar... Eu coordenei três quadrilhas da CTBC, se você quer saber, da nossa turma. Eles quiseram brincar, aí chegaram em mim e falaram: “O senhor é quem vai coordenar para nós.” Eu falei: “Não, para mim não tem tempo ruim, não. Vou.” Eu é que arrumei tudo, controlava os pares, quem ia tocar, os dias de treino, de tudo. Treinava e dançava. Depois de três anos, menina começou a arranjar namorado, a casar, não sei mais, a sair da empresa e assim por diante. Eu comecei a convidar pessoas de fora, e para te falar a verdade, houve uma vez que nós dançamos uma quadrilha com trinta e dois pares, porque eu não tive como tirar ninguém, sendo que a média dela é dez, 12, 14 pares, uma média muito boa. Mas já dancei quadrilha com 20 pares, até com mais. Só essa daí é que ainda tinha gente da CTBC e todo mundo depois queria dançar e eu não tive como tirar ninguém. “Não, nós dançamos ela grande mesmo, não tem problema não. Vamos dançar, não é?” E dançamos, dançamos na rua.
P/1 – E o seu papel era o de marcar uma quadrilha ou de...
R – Antes não. Eu, hoje em dia, sempre tinha um marcante de quadrilha, quando eu coordenava. Depois eu deixei de coordenar quadrilha, mas fui em muitas danças de quadrilha, porque o meu marcante passou a ser convidado pelo pessoal. Era num colégio, era num clube, em todo lugar, não é? E a gente ia sempre junto, aonde ele ia, eu ia. Eu levava som, eu tinha aparelhagem para levar, porque às vezes a turma não tinha. Eu dependia de energia, de onde a gente ia treinar. Então a gente treinava e depois dançava. Dançamos em muitos e muitos lugares. Nós fomos dançar quadrilha até em Olímpia, no estado de São Paulo. Depois, agora, ultimamente, como era uma quadrilha de pessoas bem jovens, eu falei: “Eu vou sair dessa quadrilha porque isso não está me cabendo direito mais não.” E me convidaram para treinar uma de terceira idade. Eu passei para treinar essa quadrilha de terceira idade. Nós já fizemos apresentação em vários lugares: Quirinópolis, Canápolis, na praça da prefeitura, lá em Ituiutaba. Porque ela começou assim, mais recente, não é? Dia 23 agora, de dezembro, nós vamos numa quadra dançar lá no Sol Nascente Um, a convite da presidente do bairro, que ligou para a minha casa e me pediu se era possível se apresentar lá. _________ toda vida eu gostei disso, mas hoje em dia eu gosto mais do forró do que da quadrilha. Eu marco, essa eu marco, a de terceira idade.
P/1 – Antes de falar no forró, qual é o segredo de coordenar uma boa quadrilha?
R – O segredo é você ter todos os passes na cabeça para saber qual o próximo e assim por diante. E ensinar o pessoal a dançar. Erra, volta atrás. Alguns você tira em particular e ensina, até que ele pegue um pouco. Já há certo tempo que eu não tenho tido problemas com isso. Mas terça-feira nós treinamos e teve um senhor que treinou conosco pela primeira vez. Aí fica meio difícil você ensinar uma pessoa que entra pela primeira vez. Se você olhar parece que é fácil, mas entra para dançar: não é tão fácil assim.
P/1 – Mas a quadrilha é uma coisa coletiva, e o forró é uma coisa mais individual, de casal?
R – É, de casal. Na quadrilha você sempre tem o seu par, não é? Vem o primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto e assim até quantos tiverem. Já o forró não, é individual, você dança com quem você quer ou com quem quer dançar com você, ou qualquer coisa assim. Eu era muito dançador, então isso aí tanto eu chamava como era chamado, e não tinha tempo ruim.
P/1 – E atualmente o senhor frequenta os bailes?
R – Frequento, frequento. Eu frequento assim, porque em Ituiutaba está tendo quase todo dia, quase todo dia está tendo. Só que eu vou mais é no domingo, que é das três horas até às nove horas, mais ou menos, da noite. E eu, às vezes, não fico nem até terminar. É porque é um horário que você não perde sono. Eu perdi muito sono com esse negócio de baile. Era no Ituiutaba Clube, era no Ipê, perdi muito mesmo, das 11 até às quatro da manhã, dançando sem parar.
P/1 – O senhor leva a sua senhora para dançar com o senhor?
R – Ela não vai nem de jeito nenhum. Mas ela sabe que eu gosto, eu vou sozinho e ela nem reclama mais, não fala nada.
P/1 – Está certo. Não tem ciúme, não tem nada, não?
R – Bom, ciúme é difícil você falar que não tem, mas como é que faz? Eu gosto, ela não gosta, ela não vai, ela é muito caseira. Então eu vou e não tem problema, isso aí é indiferente.
P/1 – O senhor mantém ainda algum tipo de relação com a CTBC, com os colegas?
R – Tenho. De vez em quando eu encontro alguém. Eu trouxe um (teleco?), inclusive, da minha colega Denar, ela foi uma das primeiras quase do escritório lá em Ituiutaba. Tem Joaquim Pedro, tem Alaor, e são vários, se eu for te enumerar... Porque lá na empresa teve mais de 100 funcionários. Na época que a empresa mandou embora 30 funcionários foi a época que eu conversei, o Divino Sebastião era gerente lá. Eu pensei... Já estava com 32 anos de empresa, né? Cheguei no Divino e falei: “Divino, você vê para mim se eles fizerem para mim o mesmo acordo que eles estão fazendo com esse pessoal? Eu gostaria de sair também.” Eu saí por livre e espontânea vontade. Ele conversou aqui em Uberlândia, me pediu 15 dias de prazo e depois me falou: “Eles concordaram e tal...”, e daí tudo bem. Aí eu parti para a aposentadoria.
P/1 – Certo. E hoje a sua atividade fora dessa, o que é que...
R – Não... É rodar lá, encontrar pessoas amigas, essa vida mesmo. Porque você tem sempre coisas para fazer, tem uma conta para pagar, uma coisa que olhar, tem outra, tem outra... Por exemplo, eu que coordeno dança de quadrilha, eu tenho que ir na casa de um em dia de treino, tenho que ir na casa de outro, de outro, e assim por diante. Então eu não paro fácil em casa não, é muito difícil. Só mesmo assim, mais de manhã, na hora do almoço e depois da janta, às vezes eu não sou muito saidor não. Mas durante o dia eu rodo quase o dia todo. E eu tenho carro mais eu gosto de andar de à pé.
P/1 – Tá certo. Seu Alderico, o senhor estar de fora depois de toda essa experiência na CTBC, embora já esteja há 11 anos fora da empresa, como é que o senhor vê a empresa hoje? Que avaliação o senhor faz da CTBC hoje?
R – O que é que eu posso te falar a respeito disso? Você talvez saiba mais que eu, porque a evolução foi muito grande, e... Isso é muito bom? Você já pensou? Eu pego o telefone na minha casa e ligo. Um detalhe: eu não vou ligar para o Japão porque eu não sei falar japonês, né? Mas se eu quisesse falar lá, Estados Unidos, Alemanha, França, Itália, Espanha, para tudo quanto é lado, eu falaria! Só que eu não entendo a língua desse povo, eu não vou chamar. Mas só isso é uma evolução muito grande. Agora tem tanta coisa a mais que eu nem sei falar. O tanto que progrediu. Foi uma coisa demais, um progresso muito grande mesmo.
P/1 – Ainda baseado nessa sua experiência toda, o que é que o senhor teria a dizer para uma pessoa que fosse começar a trabalhar amanhã na CTBC?
R – Olha, o que eu teria para dizer é o seguinte: Eu não sou muito de dar conselho, mas se viesse perguntar para mim, é lógico que eu ia dizer: “Olha, o negócio é fazer igual eu fiz, eu trabalhei honestamente. Não mudar de serviço todo dia, ficar pulando daqui para ali que isso não leva ninguém a nada. Você tem que entrar em um serviço enquanto der certo é ali não tem como sair. Por exemplo, eu saí porque eu quis sair, eles não me mandaram embora. Você dá conselho para uma pessoa que vai trabalhar, isso vai muito do dom, da consciência e da honestidade da pessoa, vai de muitas coisas. Eu trabalhei assim com muita gente. Por exemplo, na primeira montagem o montador trabalhava para a Ericsson, e o nome dele era Antônio Sampaio Lessa. Nas outras ampliações era o seu Mauro, ele era um montador também da Ericsson, ele trabalhava em São Paulo. Como ele apareceu em Ituiutaba e eles conseguiram que ele pegasse todos os serviços da primeira ampliação, da segunda, da terceira e da quarta ampliação, ele pegava o serviço, mas quem fazia era eu e o meu colega. Ele só ia lá falar: “Isso aqui vocês façam desse jeito.” Alguma coisa ele deixava escrito, outras a gente já tinha certa experiência. Então não dependíamos tanto dele. Eu sei que a finalidade era ele só ir na hora do teste. Eu ainda lembro, na inauguração dos primeiros 500 telefones, foi o seu Nelson (Kalkmann?), também da Ericsson, que foi lá inaugurar, nos primeiros 500 só. Depois foi só o seu Mauro, porque foi ele quem pegou todas as montagens. Ele pegava e passava uma parte do dinheiro para a gente. A empresa permitia porque quem ia trabalhar e conhecia a Central igual eu e o meu colega, não é? O serviço ainda não era tanto. A gente fazia todo o serviço da Central e o tempo que sobrava nós estávamos em cima da ampliação, de noite, cedinho, toda hora que podia a gente estava, porque a gente ia ganhar naquela montagem. Era assim.
P/1 – O senhor tem filhos?
R – Tenho.
P/1 – Quantos são?
R – Cinco filhos.
P/1 – Tem algum na CTBC?
R – Não, na CTBC fui só eu. Aliás, eu não vou falar com o doutor Luiz porque parece que eu penso assim, que é meio impossível. Mas, se eu pudesse, gostaria de falar com ele para me arrumar um serviço lá em Ituiutaba, para uma neta que eu tenho. Ela já tem um estudo bom e vai estudar mais ainda. E qualquer um trem que pintasse lá para ela eu gostaria, se houvesse a possibilidade. Eu nem vou ligar para ele porque sei que é difícil, não é fácil. Mas se ele fizesse isso para mim, era tudo de bom que ele podia fazer a mais para mim.
P/1 – Seu Alderico, o senhor teria alguma coisa que gostaria de ter dito que não disse, que o senhor queria de ter falado e a gente não tocou no assunto?
R – Sabe que o difícil é a gente lembrar, não é? Pelo tempo que eu saí da empresa e tudo o mais. Me parece que assim, no momento, eu não me lembro de alguma coisa que eu quisesse falar, não.
P/1 – E o que o senhor achou de ter dado esse depoimento? Como é que o senhor se sentiu?
R – Bom, primeiro eu não esperava por isso. Vocês me pegaram de surpresa, porque eu até fui à empresa – não sei se foi sexta-feira, não sei que dia foi, está bem recente – e a Sandra: “É, eu preciso do senhor. O senhor foi o primeiro que entrou na empresa, o senhor vai ter que ir a Uberlândia dar um depoimento lá para nós.” Eu falei: “Não, Sandra, eu já esqueci muita coisa, não é conveniente que eu vá. Vê se leva outra pessoa.” Mas não, ela não deixou de jeito nenhum. Falou: “É o senhor, acabou e pronto!” Falei: “Então tudo bem, eu vou. Não sei se eu vou satisfazer com as minhas respostas, não é?” Porque, como diz o outro, o estudo que eu tenho é quinta série, a experiência do trabalho. Eu não tenho aquela coisa que eu possa me apresentar melhor. Estou velho, 79 anos não é brincadeira, não. Não fumo, não bebo e não tomo café, para não atrapalhar a minha vida. Por isso eu saí da empresa, para viver o resto da minha vida, aproveitar o máximo.
P/1 – Mas o senhor está dançando, está...
R – Lógico, não é? Eu não vou parar, só vou parar o dia que eu tombar. Ai até posso parar porque não vai ter jeito. Mas, enquanto eu estiver de pé, eu vou continuar.
P/1 – Certo. Seu Alderico, muito obrigado pelo seu depoimento, pela história que o senhor...
R – Por nada. Disponha, sempre que precisar... Agora, eu já tomei uma daquelas, de repente, se precisar mais, não é? Vocês me pegaram muito de surpresa, viu. E eu não guardei muita coisa da minha vida na Central, senão eu poderia ter mais depoimento.
P/1 – Você falou muito bem, você falou coisas que para nós são muito importantes.
R – Importantes, não é? Pois é, é isso aí. Se assim foi bem, ficou bom, não é? Tudo bem.
P/1 – Está ótimo. Obrigado, seu Alderico, especialmente pelo fato de o senhor ter se deslocado, vindo aqui...
R – Eu vim porque eu sou do tipo de uma pessoa assim: quando uma pessoa me procura, eu gosto de satisfazer e pegar até mais amizade, por que não? Eu sempre falo: “Dinheiro é muito bom, mas eu acho que a amizade está acima de tudo.” Se você cair duro aí na rua, logo você acha uma pessoa. Esse é fulano e já está acudindo, e está, não é? Não tem trem melhor que a amizade. E é por isso que eu tenho amizade. Na minha cidade eu tenho amizade demais. Aqui em Uberlândia, por exemplo, tem meninas que foram minhas colegas lá. Acho que um detalhe que eu te falei, que eram onze mesas: uma do tráfego e mais dez de interurbanos, DDD, DDI e tudo. Essas dez mesas, a Sandra deve ter falado para vocês, ninguém gostava que outro descesse lá da Central ou de qualquer outro setor para ir lá tirar defeito. Era só dar defeito. “Seu Alderico, desce aqui, deu um problema aqui na mesa”. Lá vai eu descer. Lá são setenta e tantos degraus, facinho, não tem elevador, não tem nada. Então, no pé dois. Descia, fazia, de repente tem que buscar um ferro de solda, tem que levar uma resistência, uma lâmpada, uma coisa. Vai eu outra vez lá em cima, porque o material era todo guardado lá na nossa Central. Vai eu lá, pego e desço outra vez. E assim era essa vida, foi essa rotina. Eu fazia com prazer, viu. Primeiro pela amizade que elas tinham demais comigo, segundo porque é a minha natureza, o meu jeito, meu gênio. Eu sou uma pessoa um pouco extrovertida, esse negócio de cara feia... Pode ser feia a cara porque às vezes não é bonita mesmo, mas fazer cara feia para os outros, isso não.
P/1 – Está certo, seu Alderico, é por isso que o senhor vive tão bem.
R – Pois é, graças a Deus, graças a Deus.
P/1 – É isso aí.
P/2 – O senhor aceita uma água, seu Alderico?
R – Acho que eu vou tomar um pouquinho de água. E terminou a minha missão?
P/1 – Terminou. Mas olha, eu só tenho a agradecer ao senhor...
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