P - A gente começa perguntando o nome completo, o local e a data de nascimento.
R - Eu sou Tereza Angélica Marino Galvão. Eu nasci no Rio das Pedras, em seis de abril de 1933. As 11:20 da manhã. Meus pais Nicolau Marino, mamãe Serafina Luca Marino, falecidos.
P - Qual era a atividade deles?
R - O papai era comerciante lá em Rio das Pedras. Fazendeiro e comerciante. Naquela época chamava armazém de secos e molhados. Não tinha supermercado, né? E tenho cinco irmãos. Hoje somos quatro. Todos nascidos em Rio das Pedras. Todos nascidos na mesma casa. Que até hoje temos a casa lá em Rio das Pedras. E o que mais que vocês precisam saber? Vovô chamava Donato Marino. Vovô era italiano. Ele veio da Itália ficou em Rio das Pedras também com armazém. E depois foi buscar a vovó com três crianças que tinham ficado na Itália. O mais velho era meu pai, que veio com oito anos para o br. E aí em Rio das Pedras nasceram mais sete tios meus. Tios, filhos desse meu avô. Agora, do lado de mamãe também era italianos, mas mamãe sempre morou, mamãe nasceu em Minas, em Caratinga. E, mas sempre morou em São Paulo. Ela se casou aqui em São Paulo com meu pai, depois que ela foi para Rio das Pedras. E lá ela ficou até falecer, que foi, ela faleceu em 76. 74. E meu pai em 1960. Os dois são falecidos e enterrados lá em Rio das Pedras.
P - Como que era essa família cheia de tios, cheia de primos? Como era esse convívio?
R - Olha, nós separamos um pouco porque, como eu estava contando, em Rio das Pedras não tinha possibilidade de estudar. Então os meus irmãos, os meus tios primeiro vieram para o Dante Alighieri. Como nós somos descendentes de italianos, então eles vieram estudar aqui. Todos estudaram. Tio que foi para o Rio de Janeiro para fazer Medicina. Porque meus avós estavam bem de vida, né? Então puderam mandar os filhos estudar. E nós as mulheres, minhas tias primeiro, e depois minha irmã e eu, fomos para o Colégio Assunção em Piracicaba. E lá nos formamos. Eu fui com 11 anos. Ficamos sete anos internas. Minha irmã primeiro, depois eu. E nos formamos Magistério, né? Que aquele tempo chamava professora normalista. (riso) E aí quando me formei eu vim embora para São Paulo. Vim trabalhar em São Paulo porque tinha perdido vovô do lado materno, e tinha ficado uma única tia irmã de mamãe, que era solteira. Então meus pais acharam por bem eu vir trabalhar em São Paulo para fazer companhia para essa tia Elvira. E aqui que eu conheci meu marido. Aqui em São Paulo. E nos casamos aqui em São Paulo. Tivemos os filhos aqui. Três filhos: dois rapazes e uma moça. E a nossa vida foi aqui em São Paulo e também fora de São Paulo pela profissão. O Galvão engenheiro civil trabalhava em firmas de fundação. Então nós moramos em Volta Redonda, nós moramos no Rio de Janeiro, moramos em Uberaba. Tudo por conta da profissão dele. E a gente ia, voltava, ia, voltava. O pião era São Paulo, né? Porque as firmas eram de São Paulo. E quando o Galvão se aposentou então o tempo que eu tive de São Paulo eu não pude, eu não trabalhei. Eu sou professora, mas eu não sou aposentada. E também não fiz outra faculdade, que poderia ter feito, né? Mas meus filhos, fiquei cuidando deles até eles terem uma certa idade, aí fui me dedicar a obras sociais que eu sempre fui, deveria ter estudado assistente social. Porque eu sempre gostei de trabalhar com uma faixa de pessoas mais necessitadas, né? Aí fui trabalhar em clube de mães, eu trabalhei na favela. Eu fiz uma série de trabalhos aqui em São Paulo até a Creche Madre Camila, que hoje vocês sabem, do Jaguaré. Meu marido foi presidente quatro anos. E até hoje nós estamos ligados à creche apesar de estarmos morando a oito anos em Rio das Pedras. Quando o Galvão se aposentou ele foi para lá. Eu fiquei ainda aqui, porque meus filhos estavam na faculdade. E eu, na realidade, não queria voltar para Rio das Pedras, eu queria ficar aqui sempre. Eu gosto de São Paulo. E, mas eu, como ele se candidatou à prefeitura, eu não podia deixar de, ele sozinho. Porque eu ia todo fim de semana, ou ele vinha todo fim de semana para cá para nos visitar. Quando ele, o pessoal achou que ele tinha, estava morando lá sozinho, e trabalhando, construindo. Porque como engenheiro ele estava aposentado, mas ele lá em Rio das Pedras ele construiu uma série de coisas, inclusive igreja, a padaria. Sabe, a pessoa de mais idade as pessoas no interior dão muito valor. Então: “Ah, constrói isso, constrói aquilo.” E ele foi ficando em Rio das Pedras. Aí quando ele se candidatou eu achei que era a minha, vamos dizer, obrigação de ir junto com ele. Porque o outro candidato ainda podia, na época que o Galvão, foi o último ano que podia ter showmício, né? Trazia cantores e o outro candidato falava: “Como que vocês querem uma primeira dama que mora em São Paulo?” Que era eu, né? (risos) Então, aí eu falei: “Não, eu não vou prejudicar.” Não queria que ele fosse candidato, mas eu falei: “Eu vou para Rio das Pedras porque nós estamos casados, não estamos separados, né? Foi uma contingência de trabalho, que você está aqui no Rio das Pedras.” Aí eu fui. E são oito anos que eu moro lá. Aí quando ele ficou quatro anos, durante esses quatro anos a gente pode desenvolver um trabalho social muito bom lá em Rio das Pedras. E Galvão também, isso ele vai falar a parte dele, de sanar todas as dívidas da prefeitura, a credibilidade que não tinha mais. Porque fazia 20 anos que a prefeitura estava sendo saqueada pelos outros prefeitos. Então foi assim uma, ele, a chegada dele foi assim, como ele não era político ele não entrou assim prometendo nada pra ninguém. Então ele pode fazer um trabalho. Mas fomos bastante perseguidos, porque, lógico, quando a pessoa corta algumas mordomias tem sempre os inimigos. Então nesse período que nós tivemos lá, a gente fez um trabalho grande lá em Rio das Pedras. Tivemos na parte de educação fazendo, como aqui em São Paulo tem, um CEU, né? Que as crianças ficam o dia inteiro. Que lá nós chamamos de Espaço Amigo, prefeitura. Fizemos um abrigo, uma casa onde as crianças - que tem muitos casos de crianças judiadas pelos pais, ou por padrasto, ou por mãe que bate - então essas crianças, temporariamente são retiradas de casa. Vão para esse local que chama Nossa Casa. É um abrigo provisório onde as crianças ficam, são tratadas, e também os pais. Para que elas voltem pra casa. Porque o ideal é voltar para os pais. Mas há casos que não tem como voltar para os pais. Então ou elas são encaminhadas para adoção ou são encaminhadas para os parentes mais próximos que possam cuidar das crianças. Então o tempo que a gente ficou em Rio das Pedras, a gente também pode fazer alguma coisa pela cidade para que as coisas melhorassem. Cursos de informática para pessoal mais carente que não tinha possibilidade. Então, como presidente do Fundo Social de Solidariedade, que toda primeira dama ela já automaticamente é presidente do Fundo Social de Solidariedade, então eu pude fazer o que eu já fazia aqui em São Paulo fazer lá em Rio das Pedras também. Retribuindo de ter nascido em Rio das Pedras, ter voltado, e poder ajudar as pessoas que precisavam da gente. Então é isso aí a minha história, a minha vida.
P - A gente vai voltar bastante agora para ver. A senhora falou de voltar, a gente vai voltar lá para a primeira infância. Voltar para Rio das Pedras um pouquinho. Contar um pouco como que era essa casa, o convívio com seus pais. Conta um pouquinho desse...
R - Sim, eu era a caçula dos meus irmãos. E então a gente tinha, brincava muito. Porque criança brincava na rua, a gente tinha quintal grande. Então a gente brincava muito. A gente era muito amiga dos irmãos, entre nós cinco. Apesar de eu ser a caçula então era assim mais paparicada, né? Porque eu era a caçula, o meu irmão mais velho já tinha 12 anos quando eu nasci. Depois nós fomos separados, porque meus irmãos vieram para São Paulo para estudar. Esse mais velho veio interno no Dante Alighieri. Então só nas férias que a gente se encontrava, mas sempre tivemos muito bom relacionamento entre todos. E até hoje nós somos os quatro, que um já faleceu, somos muito amigos ainda. E os nossos filhos também foram amigos dos meus sobrinhos. Que sempre tinha criança mais ou menos na mesma faixa etária dos irmãos. Agora, com os meus tios eu já conheci eles adultos e casados. Eu só fui a um casamento do meu último tio. Porque eles eram 10 e meu pai era o mais velho. Então desse meu tio eu ainda fui ao casamento. Menininha, mas eu me lembro do casamento. Mas os outros não, os outros eu já conheci adultos, formados. Porque, justamente eles só vinham nas férias. Então eu me lembro, já não conheci, conheci vovô, mas vovó não. Porque a vovó morreu relativamente moça. Do lado, eu estou contando a história da família do meu pai, porque da minha mãe era uma família pequena. E meu avô ficou viúvo muito cedo com três moças. E minha mãe era a do meio e a que se casou. Então não tem primos do lado da família da minha mãe, não tem. Porque minhas tias morreram solteiras. Essa que eu vim aqui lecionar e morar com ela, que eu contei, ela também morreu solteira. Então era só mamãe que era casada. Então não tem primos. Os primos que eu conto são do lado Marino, da família do meu pai. Que era uma família numerosa e rio-pedrenses.
P - Dona Tereza, o seu pai contava para a senhora a história de quando ele chegou?
R - Sim, contava. Porque vovô veio para cá, ele não veio, porque naquela época a mão-de-obra escrava estava sendo substituída pelos italianos que vinham para trabalhar nas lavouras. Mas papai, vovô já veio por conta própria. Quer dizer, se vê que lá na Itália ele tinha condição, os pais dele já tinham condição de. Então ele veio. No começo ele era mascate, indo nas fazendas para vender as coisas. E depois que ele montou esse armazém de secos e molhados que depois passou para o papai. E quando o vovô faleceu ele deixou uma fazenda para cada filho. Meu avô morreu muito rico. Ele estava muito bem lá em Rio das Pedras.
P - E você era criança o seu pai já era dono do...
R - Do armazém. Mas tinha a fazenda. Ele já, até hoje os meus irmãos, eu não tenho mais a fazenda junto com meus irmãos. Nós saímos. Porque como o meu marido é engenheiro nós achamos por bem sair da sociedade e ficar com as terras. Porque aí o Galvão pode construir, fazer loteamento, poder, né? E meus irmãos continuam juntos, os quatro. Mesmo a minha cunhada que é a viúva do meu irmão, que mora aqui em São Paulo, ela ainda tem as terras na fazenda junto com os outros meus três irmãos. Minha irmã e mais dois irmãos. Nós saímos e o Galvão fez toda essa, essa, loteamento onde nós moramos. É um condomínio fechado, que foi meu marido que fez. Fez prédios lá em Rio das Pedras. Quer dizer, ele pode fazer com a nossa herança.
P - Tereza, tem uns detalhezinhos de infância que eu queria perguntar. De infância e adolescência, eu queria perguntar. Comida, quais eram as comidas da sua casa?
R - La em casa nós fomos criados a base de macarrão. (riso) Por conta de ser italiano. A gente comia feijão, arroz, também. Mas tinha massa duas vezes por semana. Sem contar o domingo que era sagrado. A gente comia o macarrão no prato fundo. E depois o prato raso era para comer a mistura, como a gente falava. Era a carne, a salada. E a sopa mesmo que a gente tomava sempre era de macarrão, com macarrão. Mesmo que fosse de feijão tinha que ter o macarrão. E mamãe fazia em casa. Mamãe era assim uma mulher extraordinária. Que ajudou, se papai deixou alguma coisa, graças à minha mãe. Que minha mãe era muito trabalhadeira. Mamãe enfrentava o armazém. Ela que, naquela época eles matavam porco na fazenda e vendia também. Não tinha açougue. O açougue era no armazém, e mamãe fazia isso tudo. Mamãe fazia lingüiça. Ela era assim, como dizia, lavava a casa a noite para poder ajudar papai. Ajudou muito. E então a gente lembra de uma infância muito feliz, muito alegre. Porque se eles tiveram problemas, naquela época os pais não comentavam com os filhos. Hoje é diferente a educação, né? A gente, eles brigavam, se tivesse briga tinha de ser no quarto. Porque a gente nunca percebeu nada. Eles viviam harmoniosamente. Eram assim uns pais que se fosse para voltar no tempo a gente queria de novo. Porque se eles erraram em alguma coisa foi por amor, não porque, ou por não saber. Porque eles foram maravilhosos. Não tinham estudo. Porque meu pai como ele era o mais velho ele teve que ajudar meu avô, e para os irmãos estudarem. Meus tios todos são formados. E já estão, já morreram. Só tem uma tia que mora aqui em São Paulo que também formou normalista na época, né, professora, com 94 anos. Lúcida, uma gracinha. Essa é minha única tia Marino que eu tenho. Uma das irmãs do meu pai. Que também ela era a caçula. E então ela está com 94 anos. Então a gente lembra deles assim com muita, como eu falei, com muita saudade. Eles foram muito bons para nós todos. ____
P - Tereza, você ia no armazém com sua mãe, você costumava...
R - É, a gente brincava, né, um pouco com as coisas. Tirava as coisas do lugar (riso) para brincar. Mas como eu falei para vocês a gente vinha só nas férias. Então a gente brincava no quintal, brincava na rua. Brincava, ia para a fazenda. Porque hoje a fazenda dos meus irmãos está dentro da cidade. Naquela época era um pouco mais longe, no meu tempo. Mas assim mesmo a gente ia a pé. Então andava a cavalo. A gente, meus pais tinham usina de açúcar e álcool a gente ia lá ver moer a cana e tomava garapa. Então era uma infância assim, até os 11 anos, que eu me lembro muito bem. Nós brincávamos em árvore que tinha. Tinha pomar naquele tempo, com laranja, com tudo. A gente brincava. Era uma infância sem, hoje eu acho que as crianças participam mais da vida familiar. Nós não tínhamos, era um outro tipo de participação. Como eu falei problema nós nunca soubemos dos problemas, se eles tiveram problemas, entende? Quer dizer, a gente tinha, eles eram sempre bacanas conosco. A gente não percebia se eles estavam tristes ou alegres. Eles estavam sempre do mesmo jeito. Era uma outra educação. A gente tinha, né? Papai gostava muito de cinema. Então ele montou um cinema em Rio das Pedras. Então a gente sempre gostou muito de cinema. Eu sou doida com cinema. E ele, então meu pai foi uma pessoa muito progressista. Apesar de não ter tido estudo ele era um autodidata. Como se diz, lia muito, incentivava muito a gente à leitura também. Tinha até, ele ficava bravo na hora da refeição porque você ficava lendo. A gente levava o livro. Ele falava: “Não, agora não é hora de ler. Agora é hora da gente conversar. Da gente almoçar sossegado.” Porque a gente sempre gostou muito de ler. E é isso aí. Que mais que vocês querem saber?
P - Um monte de coisas. (risos) Eu queria que você pudesse descrever o seu pai e a sua mãe. Já que são tão importantes. Que você descrevesse fisicamente, um pouquinho, como é que eles eram, individualmente. Fisicamente e a personalidade deles, um pouquinho.
R - A gente percebe papai era uma pessoa mais carinhosa. Meu pai era mais carinhoso que mamãe. Mamãe era mais séria. Muito boa também, mas ela que corrigia. Agora, também você não fizesse nada porque daí meu pai era, entende? Mamãe era do dia-a-dia, meu pai era para uma coisa mais séria. Para ficar bravo, para por de castigo, até de bater. Comigo nunca aconteceu, graças a Deus. Mas os meninos eram mais levados. Meu irmão José também que era o mais levado, que era o acima de mim, com quem eu brincava muito, né? Então papai era mais exigente, mais bravo, mais sério. Mamãe era alegre, conversadeira também como eu sou. Agora, eu, fisicamente eu sou meu pai com os olhos da minha mãe. Minha mãe era mais morena. Meu pai, como italiano, tinha olhos azuis. E, mas meu tipo físico é meu pai: alto, mais magro. Mamãe era gordinha. Precisou fazer regime numa certa época da vida dela. Que deu diabetes, aquelas coisas. Então aí ela fez regime, emagreceu bastante. Mas mamãe a gente tem, assim, lembra muito dela ela fazia a economia dela para nos dar o anel de formatura. Nós todos temos um anel de formatura que foi mamãe, das economias que ela fazia. Ela fazia questão de ser ela para dar o anel de formatura. Hoje a gente conta para os filhos eles dão risada, porque nem usa mais. Mas naquele tempo o anel de grau (riso) como dizia, era importante. Você se formava tinha que ter o anel. De professora, de engenheiro, de médico, como foram os meus tipos.
P - Você lembra?
R - Lembro.
P - De quando você recebeu o anel?
R - Lembro, demais. Porque mamãe que deu. Logicamente que o dinheiro era de meu pai, né? Porque mamãe não tinha, ela trabalhava com ele. Mas acho que o dinheiro que ele dava para ela manter a casa ela guardava. Sei lá, ela sempre dizia: “Das minhas economias que deu o anel para vocês.” Então nós todos temos o anel. Guardadinho, mas temos. Mas na época a gente usou, usava o anel. E assim...
P - Como que era a sua casa, conta um pouquinho. Grande, pequena?
R - Ah, era grande. Era uma casa grande. Eu me lembro que foi feita até uma reforma. Que quando eu era menina não usava banheiro dentro de casa. Os banheiros eram fora. A gente tinha que sair no dia de chuva, dia de sol. A noite tinha penico, né? (riso) Usava. Tinha que por no quarto caso tivesse necessidade. Mas eu era pequenininha eu lembro muito bem que foi feita essa reforma na casa da mamãe, dos meus pais. Então foi feito banheiro dentro de casa. Eram poucas casas no Rio das Pedras que tinham banheiro. Então foi feita uma reforma grande, já colocaram azulejo. Que não tinha azulejo nas paredes. Então a nossa cozinha foi feita uma cozinha diferenciada, já com armários. Não era fórmica, eram aqueles armários de aço. Puseram. E isso eu me lembro. Daí papai mandou buscar aqui em São Paulo um pintor, um pintor estrangeiro que pintou, até hoje, é pena que vocês não vão no Rio das Pedras para ver a casa dos meus pais. Que ainda existe. Foi pintado um, de uma maneira tão linda, de uma pintura que até hoje resiste. Com frutas, sabe? Uma pintura diferenciada. Que as pessoas que vão lá em casa ficam encantados de ver a sala de jantar que foi pintada com esse pintor. Que daí meus pais já estavam bem de vida já puderam levar esse pintor daqui. Pintor de parede. E no nosso quarto, o das meninas era rosinha e já tinha esse border, né, que chama hoje? Border, que chama? Que é aquela faixa que se coloca hoje porque está na moda. Nós já tínhamos pintado no nosso quarto. E os meninos tinham um quarto azul claro também com o border. Que até hoje tem também lá em casa. Já está mais, já está menos bonito do que na nossa época. Então nós fomos umas meninas e uns filhos criados assim com bastante, ao mesmo tempo de rigor, com muita coisa boa. Não faltou nada. E pudemos estudar. Eles proporcionaram, insistiram que a gente fosse. Então é isso aí. Que mais que vocês querem saber?
P - Tinha algum lugar nessa casa que você gostava mais, que você ficava?
R - A gente gostava muito do quarto, né? A gente ficava. Porque não tinha televisão. A gente ouvia rádio, era rádio que a gente ouvia. E lia. A gente lia muito. Como eu falei para você a gente pegava o livro e até para almoçar ou jantar com o livrinho na mão. E então era mais o quarto que a gente ficava. E a gente aproveitava para estar junto com eles na hora de refeição. Ou ia um pouco no armazém com eles. Porque era tudo junto. A casa era junto. Na frente era o armazém tinha uma porta de comunicação já saía na copa, copa-cozinha lá de casa. Então nós aprendemos piano, nós tínhamos piano eu com minha irmã. A gente tocava, tocava a quatro mãos. Então foi assim um tempo muito bom que a gente passou. E era isso. E gostava do quintal, a gente ia muito no quintal brincar.
P - E que livros que eram esses? Quais as primeiras leituras?
R - Era da Madame Deli. Acho que vocês nunca ouviram falar, né? (riso) Eram livros próprios para as meninas da época. Então eram livros também de história. Meu pai comprava muito livro para nós de História do Brasil, e Machado de Assis. Então o que ele podia comprar de livro ele comprava. Ele achava que era uma coisa que isso ninguém ia tirar da gente, a boa leitura.
P - Teve algum que marcou e você lembra? Que você lia quando era menor e aquilo lá marcou muito, algum livro especial assim?
R - Não tenho. Que eu me lembre não. Eu gostava de todos. Eu gostava muito de leitura. E não entrava muita revista em casa porque também não tinha. E as revistas que entravam a gente quase não tinha manuseio. Era mais livro mesmo, de leitura, de História do Brasil, ele gostava muito. E papai lia também muito. Então a gente também herdou isso de leitura.
P - E os filmes que...
R - Ah, os filmes. Primeira era Gordo e o Magro, né, no nosso tempo. (riso) Depois papai já colocou no cinema um cinemascope. Então foi o filme que inaugurou o cinema eu era mocinha já, foi O Cisne Negro. Era um filme assim de aventuras muito bonito. Como hoje fazem aquele do Johnny Deep, como é que eles chamam? Que está na moda? Que tem três, já passaram três filmes dele. Que ele é um pirata?
P - Piratas do Caribe.
R - Do Caribe, isso. Esse filme era um similar. Então muito lindo os filmes que passavam no cinema. Hoje não tem cinema no Rio das Pedras. Então meu pai foi assim bastante pioneiro nas coisas para a época.
P - Como que era a cidade nessa época?
R - Tinha duas ruas importantes. Era a Rua do Comércio, onde tinha, e a Rua Torta, que era a rua onde a gente morava. Chama Rangel Pestana, (riso) mas como ela era meio torta o apelido era Rua Torta. Até hoje a gente chama de Rua Torta. (riso) Se você falar Rua Rangel Pestana ninguém sabe onde é. Que é a rua onde a gente morou. Hoje essa rua devia ter sido até tombada pelo patrimônio. Porque foi a rua, a primeira rua de Rio das Pedras. As casas maravilhosas para a época. E, mas não houve essa conservação. Então está muito decadente a rua. Bem decadente mesmo. As casas. Não tem, o pessoal não conservou. E hoje para conservar uma casa, por exemplo, como a nossa, vai muito dinheiro. Porque no interior tem muito cupim. Então você tem que fazer um tratamento muito sério. Naquela época as janelas eram feitas sob medida. Hoje se você mandar fazer uma janela sob medida você paga muito mais caro, não é? Então é difícil para você manter uma casa da época, vamos dizer. Hoje já tem, Rio das Pedras tem 28 mil habitantes. No meu tempo acho que tinha três mil habitantes, cinco mil habitantes. Se tivesse. No meu tempo. Porque hoje eu tenho 75 anos. (riso) Já sou uma jovem senhora. Fala?
P - Tinha clube?
R - Tinha. Tinha uma sociedade que os italianos montaram, que chamava Sociedade Pátria e Lavoro. Em italiano lavoro é trabalho. Na época da guerra os brasileiros tiraram dos italianos. Porque Rio das Pedras tinha assim um reduto de italianos que vieram. Não foram os fundadores de Rio das Pedras, mas eles ajudaram muito, como outras colônias também de Rio das Pedras. Vieram os sírio-libaneses, e tal. E os italianos montaram, fizeram esse clube, que já passava cinema. Já tinha filme. E interrompia porque não era, a sessão, né? Aí vendia pipoca, passava no, é como vocês já assistiram aquele filme, como é que chamava? Um nome, que ficou muito tempo no cinema, que é Cine Paradiso? Lembra muito do tempo que eu era menina. Que já papai tinha esse... Aí eles tiraram dos italianos. Papai sofreu bastante. Porque meu pai, meu avô se naturalizou, papai não. Papai continuou italiano. Então até o rádio tiraram do meu pai, de casa. Que era a única coisa que nós tínhamos de distração era o rádio. Porque eles disseram que os italianos eram quinta coluna que chamava. Que eles eram contra o brasil. E a favor da Alemanha, né, do Eixo, que eles diziam. E então, porque o Duce, Mussolini, estava junto com Hitler na época da guerra. Então eles acharam por bem, tiraram o nosso rádio. Botaram na cadeia. Não só o nosso como o dos italianos todos (riso) que estavam no Rio das Pedras. Aí depois da guerra eles reconheceram, mudaram para Sociedade Cultural Rio-pedrense, que até tem hoje o clube. E o, botaram a placa novamente dos italianos e do meu pai como presidente. Até hoje tem lá no clube. Mas papai ficou muito, não podia viajar, porque os italianos precisavam ter, chamava salvo-conduto. Que era um documento para eles poderem vir até São Paulo. Quer dizer, ele não podia vir aqui visitar meus irmãos, porque ele era italiano não podia vir. Até acabar a guerra em 45. E eles reconheceram, os brasileiros, que eles foram exagerados. Porque eles não, não representavam ameaça nenhuma, (riso) né? Morando lá no Rio das Pedras, não é verdade? Mas, pra mim, na guerra tudo é, os exageros, os excessos. E aí papai hoje tem. Aí nessa época, depois disso que ele montou o cinema. Esse cinema bonito que hoje não tem mais, mas que para a época foi uma coisa maravilhosa. Já foi construído com um declive para você enxergar bem. Porque a Sociedade Italiana, que hoje tem Rio-pedrense não tinha. Era um salão e tinha a tela. Era diferente. Então se sentasse um grandão na sua frente você não enxergava direito. Agora, esse outro cinema não, esse foi feito com toda técnica moderna para a época.
P - Tinha nome o cinema?
R - Chamava Cine Ipiranga. Chamava Cine Ipiranga. É isso aí a história da minha vida do Rio das Pedras. (riso)
P - Você ia no clube, na Sociedade, quando você era criança?
R - Sim, a gente ia ao cinema. E depois do Cultural eu já era moça, quando foi essa época da guerra. Porque em 45 eu tinha 11 anos, né? E eu fui para o colégio, fui estudar. Eu tinha acabado o grupo escolar. Porque hoje é até a oitava série. No meu tempo era até quarta série. Hoje os meninos já saem maiorzinhos de lá. Já entram depois pra, saem com 14 anos, 15, mas eu fui terminar isso interna. La no Colégio Assunção. Então a gente, eu lembro de ir lá na Cultural. E depois nos bailes que a gente freqüentava lá na Sociedade Cultural Rio-pedrense e no cinema novo do meu pai. Aquele cinema que a gente ia. Depois eu vim embora para São Paulo, com 18 anos eu vim pra cá. E aqui eu ia só nas férias visitar meus pais. E, como eu falei para vocês, eu voltei mesmo há oito anos no Rio das Pedras. Então eu perdi um pouco dos jovens. Porque eu conheci os pais daquelas, dos jovens de hoje lá de Rio das Pedras. Então eu vejo aqueles moços, mas eu: “Você é filho de quem? Para eu lembrar quem eram os seus pais.” Porque a gente já não conhece todo mundo. E hoje já tem, como é uma cidade que tem muito corte de cana, que a nossa região é toda de cana. Então veio, tem muito pessoal nordestino, já tem paraibano, tem baianos. Já é uma outra, já tem uma outra mistura de raças lá no Rio das Pedras, que na época que eu era menina não tinha. Não tinha. Eram italianos eram brasileiros, descendentes de portugueses. Mas não, não assim do Nordeste nem do Sul. Tem muito paranaense, que vieram, justamente, por causa do corte de cana e acabaram ficando lá em Rio das Pedras. Então hoje é mais esse pessoal. Os rio-pedrenses mesmo são poucos. Que pela época nós tivemos que sair de Rio das Pedras. Como também muitos moços saíram na época para estudar e ficaram nas cidades aonde foram estudar. Onde tinha faculdade. É isso. Fala.
P - Esse colégio para o qual você vai com 11 anos era interno?
R - Era.
P - Como que era?
R - Ah, no começo a gente sofre um pouquinho, né? Porque a gente acostumada com aquela liberdade, aquela largueza. De repente você fica meio presa, meio, né? Mas eu sempre fui assim um temperamento muito fácil de adaptação. Então logo me enturmei com as meninas que também estavam internas como eu. E consegui ficar os sete anos. A gente só ia nas férias. E como sempre gostei muito de São Paulo, quando eu chegava nas férias eu arrumava a mala e vinha para a casa desse meu avô daqui de São Paulo, né? (riso) Sempre gostei muito daqui. E então eu, mas eu mantinha amizade com os primos que ainda moravam em Rio das Pedras. E com amigas de Rio das Pedras. Mesmo vindo do colégio. Do colégio a gente mantinha essa amizade com elas, né? Mas gostava de passar férias, principalmente as férias maiores, de dezembro eu passava janeiro praticamente aqui. Mas a de junho não, de junho a gente passava em Rio das Pedras. Que não era julho, nossas férias eram em junho, nas festas juninas. Tanto que a gente aproveitava. Papai fazia grandes festas juninas. Nossa, que delícia que era. E então a gente lembra com saudades das festas juninas. Fale.
P - Eu só queria saber como que você ia de Rio das Pedras para Piracicaba?
R - Meus pais tinham carro. A gente tinha o Fordinho 29. (riso) Meus pais sempre tiveram carro. Então tinha o motorista que me levava pra lá. Que também não tinha estradas asfaltadas. Hoje tem. Hoje nós estamos a 12 quilômetros de piracicaba, muito pertinho. No meu tempo se chovia precisava colocar corrente no carro. Porque não subia morro nenhum aqueles carros. Porque deslizava no barro, né? Principalmente dias seguidos. Aí no último ano que eu já ia me formar professora, em 44, eu me formei, não, 45 eu fui. Eu me formei em 51. Em 50 já asfaltaram. Já tinha uma pista e colocaram ônibus escolar, certo? Pra, que faz o transporte dos alunos, até hoje tem, pras faculdades lá de piracicaba. O pessoal de Rio das Pedras vai estudar em piracicaba, mas tem van, né? Vans. No tempo era ônibus, agora tem vans, que levavam, levam os alunos. E eles então perguntaram da... Então papai, papai perguntou: “Você gostaria de ficar externa?” Externa quer dizer voltar pra casa. “E a gente manda, você vai com a van para estudar no último ano.” Eu falei: “Não, eu já acostumei tanto, as minhas amigas. Sete anos de internato.” É uma família que você tem ali, né? Porque você passa, passei muitos anos com elas. Eu falei: “Não, eu prefiro ficar interna mesmo. Eu vou terminar meu curso interna.” Não saí no último ano, que eu poderia ter saído. Fiquei interna. Me formei e vim embora para São Paulo, porque meu avô materno faleceu, como eu contei no começo. E ficou só a minha tia. E a minha tia não quis ir morar no Rio das Pedras. Aí como eu não tinha namorado ainda, e estava me formando mamãe falou: “Não, então minha filha Tereza vai morar em São Paulo com você.” E eu vim. Como eu gostava de São Paulo não foi sacrifício nenhum. (riso) Vim embora.
P - Que é que te atraía em São Paulo? Qual era...
R - A vida daqui. Cinema, que eu sempre gostei muito. Teatro. Eu gostava muito de shows. No meu tempo tinha shows do Carlos Galhardo, do Francisco Alves. Eu gostava. Eu sempre gostei dessa vida assim noturna. Então eu, do Rio das Pedras não tinha. Então São Paulo para mim era o máximo, gostava muito daqui. Então eu vinha nas férias para aproveitar. E morar aqui foi uma maravilha. Mas só em dois anos, porque depois eu me casei. Casei, aí já fui morar em Volta Redonda, Rio de Janeiro, Uberaba. Mas sempre São Paulo, né? A gente tinha casa aqui em São Paulo, ia, voltava, ia, voltava. Isso aí. Até meus filhos atingirem uma idade. Porque eu só mudei com um filho só. Quando eu, para poder ter outro eu parei num lugar. Porque não dava para, escola, né, fica complicado você ficar mudando, de estado principalmente. Aí eu fiquei aqui, o Galvão que viajava, meu marido, né? (PAUSA)
P - Tereza, em qual bairro de São Paulo que você veio morar primeiro?
R - No Jardim Paulista. Morava, naquela época a Brigadeiro Luiz Antonio não era a de hoje. Mas eu morava aqui em baixo perto da Batatais. Na casa dos meus avós, eles moravam ali no Jardim Paulista. Então o Jardim Paulista era um bairro muito bom pra época. Então ali que eu morei, no Jardim Paulista. Depois quando eu me casei o primeiro bairro que eu morei foi aqui no Boaçava. No Boaçava aqui perto do Alto de Pinheiros, na Lapa. Depois eu fui morar no Itaim Bibi, e depois na Consolação, onde até hoje eu tenho apartamento, aqui perto da Oscar Freire. Entre Lorena e Oscar Freire, que é o nosso apartamento. Que eu mantenho aqui em São Paulo. Um dos meus filhos mora nele, no apartamento.
P - E onde você conheceu?
R - O Galvão. Na casa de uma amiga. De uma amiga, ele tinha vindo de Volta Redonda pra, porque ele trabalhava numa empresa, numa firma que chamava Sobrafe, que era uma firma de fundação. E ele estava fazendo em Volta Redonda a ampliação da Usina Siderúrgica Nacional. E ele veio e, coincidentemente, o amigo morava na casa da minha amiga. Que a mãe tinha uma pensão. E naquele dia eu fui lá e conheci meu marido. Fui apresentada. Eu já conhecia o amigo dele. E ele me apresentou e foi interessante porque eu tinha ido de ônibus. Eu não tinha carro. Que eu aprendi a dirigir depois de casada. E então o, ele, ele falou: “Posso levar você em casa?” Eu achei que nós íamos de ônibus. Mas não, ele já tinha um carro. (riso) E o susto? Porque moça não entrava em carro. Eu estou contando uma história de 54, de 53. Que eu casei em 54. E eu fui agarradinha na porta. (riso) Até hoje ele lembra. Que qualquer avanço eu abro a porta. Mas foi, e ele me levou na casa da minha tia onde eu morava. Ali na Brigadeiro Luiz Antonio. Isso foi em abril. Em outubro ele falou: “Eu vou tirar férias, venho e vou procurar você.” dei o número do telefone, mas se passaram de abril a outubro seis meses. Nem estava lembrando mais que pudesse ligar. Me ligou. Aí nós saímos. Isso foi muito rápido, porque nós saímos em outubro, em novembro ele, mamãe veio pra cá porque os pais dela estavam enterrados aqui. E o italiano cultiva muito, cultua muito os mortos. De ir em cemitério. Então mamãe vinha do Rio das Pedras para levar flores para os pais aqui. E aí eu apresentei meu marido. Meu namorado na época. De um mês, só. Aí ele, ela não gostou. Não achou graça. Por causa da diferença de idade. Eu tinha 20 ele ia fazer 30. Nós temos 10 anos de diferença. E minha mãe falou: “Vai casar com um velho.” Aí eu falei: “Mas é dele que eu gosto.” Então fim de conversa, não tem. “Ninguém vai me tirar da...” Aí em dezembro ele foi para Rio das Pedras, nós ficamos noivos. E em maio nós casamos. Seis meses entre namoro e noivado. E estamos casados há 54 anos. Fizemos, vamos a 55 já. Então você vê que não é o fato de você namorar muitos anos que dá essa química, né? Isso aí.
P - Depois de casada qual o rumo da sua vida? Como que, teve que mudar para Volta Redonda? Como começa a vida a se articular depois de casada?
R - Então, aí o Galvão já morava em Volta Redonda. Nós fizemos a lua-de-mel em Campos do Jordão. De lá nós já fomos para Volta Redonda. Fomos morar em hotel. Porque Volta Redonda, naquela época, era assim, era bem dividida. Os engenheiros da CSN tinham um bairro com casas, uma beleza. Os operários tinham um outro bairro também com casas. E nós éramos empreiteiros, então nós não tínhamos casa pra gente. Então nós fomos morar num hotel, como os outros engenheiros empreiteiros também estavam em hotel lá em Volta Redonda. Até uma amiga que ia ficar mais tempo que nós, a nossa firma já ia nos mandar para o Rio de Janeiro. Essa amiga resolveu alugar uma casa, um casal, que ele também trabalhava na Sobrafe, num bairro um pouco mais afastado em Volta Redonda. Que chamava Niterói. Era um bairro. E esse bairro teve um, alugava casa até muito cara. E eles não tinham condição sozinhos de enfrentar um aluguel. E eles nos convidaram. Eu me dava muito bem com Maria Enide, que somos até comadres hoje. E nós fomos morar. Tivemos uma experiência de viver comunitária, os dois casais na mesma casa. E foi um tempo muito bom até a gente ir embora para o Rio de Janeiro. Que a firma ia nos mandar mesmo. Eles ficaram em Volta Redonda e até construíram casa em Volta Redonda. Eles eram de Rio Claro, interior de São Paulo também. E ela falou, nós ficamos grávidas do nosso primeiro filho. Ela teve em fevereiro eu tive em março. E ficamos grávidas. Então a gente fazia enxovalzinho junto. Eu fazia muito bem tricô, ela sabia fazer costura. Então a gente trocava os nossos dotes. E moramos com ela três meses. Muito bom. A gente marcava tudo o que gastava para poder no fim do mês. E assim foi um tempo maravilhoso. Ela falou: “Meu primeiro filho eu vou ter que dar para os meus sogros.” Porque naquela época a gente chamava era os pais, os sogros, que batizavam. Hoje está certo os jovens escolhem os jovens. Porque padrinho é o segundo pai, né? No caso da morte deles é o responsável. E, mas naquela época a gente escolhia os mais velhos. E ela falou: “Eu vou dar, mas o segundo filho é de vocês.” e, realmente, quando ela teve o segundo filho nós fomos os padrinhos do Oscar. E assim foi a nossa. Fomos para o Rio. Mas eu sempre, mesmo estando fora, eu vinha ter meus filhos em São Paulo. Todos nasceram em São Paulo, meus três. Todos em São Paulo. E assim foi. Mas eu só mudei daí do Rio, vim para cá tive o meu primeiro filho, fomos para Campinas. La o Galvão construiu também. Viemos de volta para São Paulo. Daqui fomos para Uberaba. Aí lá em Uberaba, de Uberaba voltando para São Paulo que eu tive meu segundo filho. Porque com essas andanças meus filhos são todos filhos únicos. Eles têm diferença de cinco anos. Eu não tive em seguida. Justamente por causa dessas mudanças de estado, de cidade. Aí quando eu voltei para São Paulo que nasceu meu segundo filho. Depois nasceu Ana Tereza, meu terceiro filho. E assim foi que aconteceu.
P - Então você volta para São Paulo, agora com teu segundo filho, você volta para trabalhar como professora?
R - Não, não, eu deixei, eu tive que deixar. Quando eu me mudei para Uberaba eu não tinha mais como pedir licença. Que eu já estava pedindo licença, licença, licença, sem vencimentos. Mas é o máximo de dois anos. Aí depois você tem que pedir demissão. Eu pedi demissão. Porque eu lecionava no grupo escolar do Itaim, na Joaquim Floriano, aqui no Itaim Bibi. E também trabalhava num colégio na Rua da Gloria, que era das Irmãs de São José. Aqui no Cambuci, na Rua da Gloria. Eu tinha dois empregos. Eu tive que deixar tudo. Eu passei a ser só dona de casa. Por isso que eu fui atrás de fazer as coisas que eu sentia de vontade de ajudar as pessoas. Quando meus filhos atingiram, iam para a escola. Eu adoro ir no shopping. Não é que eu não gosto de fazer compra. Mas eu acho que a gente tem que preencher a vida da gente com coisas mais úteis. Então além de dona de casa eu fazia minhas coisas. Fui trabalhar lá na igreja no Clube de Mães. Dava palestra. Depois fui trabalhar na favela da Juscelino Kubitscheck, que hoje nem tem mais. Era uma favela grande que eu dei alfabetização de adultos naquela época. Ensinava corte e costura. Fiz de tudo um pouco. Aí eu conheci a Creche Madre Camila, onde fomos também como, sempre voluntários, né? Nada ganhando. E assim foi a minha vida. Sempre dedicando parte dela para também ajudar a promoção humana. Eu fiz o curso de Promoção Humana com a dona Lucy Montoro que tinha voltado do Chile. Para aprender a não ser assistencialista. A promover a pessoa. Então foi sempre nessa linha que eu trabalhei. Não pra, só de assistir. Que eles pudessem se promover, trabalhar, estudar, sair daquela pobreza. Então sempre foi essa a minha meta. E aí foi isso que eu fiz aqui muitos anos. (riso)
P - Aí você vai querer ficar um pouquinho fora da creche, mas antes, eu fico curioso: você trabalhou no colégio, no antigo Colégio da Glória, no São José?
R - São José.
P - Como que era na época? O colégio foi super importante, tradicional.
R - Muito, muito. Era das melhores famílias as meninas. Eu lecionava no quarto ano primário. Era quarto ano que chamava. Hoje, acho que era quarto, ainda é quarta série, né, que fala agora? Quarto ano. Lecionava mas não era muito fácil, porque justamente como os pais tinham o poder aquisitivo eles vinham muito conversar com a gente. Qualquer nota mais baixa eles vinham mesmo, faziam questão de achar que o filho era maravilhoso. Eram meninas, só tinham meninas. Naquela época não tinha meninos e meninas. A gente estudou era só mulheres. Hoje não, hoje já tem menino, eu não sei, acho que o da Glória não tem mais também. Fechou o colégio. Eles fecharam todos. Porque era do Patrocínio de Itu. Eram irmãs francesas. Tanto que para nós o francês era tudo. A gente estudava. O que meus irmãos aprenderam de italiano no Dante Alighieri, nós aprendemos de francês, as que estudaram no Colégio das Irmãs de São José. Mas aí eu também trabalhei pouco. Porque daí eu conheci o meu marido e casei. E foi, e foi embora para Volta Redonda. E daí para Uberaba, aquelas coisas. Sempre voltando em São Paulo, sempre voltando para cá.
P - Conta um pouquinho quando vocês conhecem, como vocês conhecem, como era a _____? O primeiro contato.
R - O primeiro contato foi justamente o casal que nós moramos em Volta Redonda, que eu contei que nós dividimos tudo, eles faziam parte de um grupo de oração do Colégio Anchietano. Vocês conhecem o Colégio Anchietano aqui na Heitor Penteado? Sabe onde tem na Heitor Penteado, na esquina não tem uma loja grande? Logo no começo da Heitor Penteado. Venha da Doutor Arnaldo entrando, não tem uma loja grande? Na esquina tinha um colégio, chamava Anchietano. Essa minha amiga morava aqui nesse bairro. E faziam parte desse grupo de oração. E numa noite, nós já estávamos em São Paulo voltando dessas andanças todas, ela telefonou perguntando para o meu marido se ele não queria ser presidente de uma, que eles estavam formando, uma Diretoria. Que o padre, que era o Padre Brandão na época soube da creche que estava sendo mantida por uma freira que tinha tido um derrame. As crianças estavam em situação precária. E o padre soube através de um grupo de jovens que foram fazer um encontro e sobrou marmitex, sobrou comida. E eles então perguntaram na padaria para quem que eles podiam dar. Se tinha um local, um asilo. E eles disseram: “Nessa rua mesmo tem um grupo de crianças que estão passando necessidade. Porque a freira que tomava conta sofreu um derrame.” E eles então foram levar comida. E levaram essa informação para o Padre Brandão. Então o que o Padre Brandão a noite reunindo com os casais, falaram: “Olha, não basta só rezar, vocês têm que agir também. A oração e a ação.” Então contou para os casais. Na hora eles mesmo, entre eles, formaram uma Diretoria. Uma ficou secretária, outro ficou tesoureiro, enfim. E não tinha o presidente. Como Maria Enide sabia da nossa inclinação para ajudar ela ligou para o meu marido a noite pra ir combinando. Isso era um domingo a noite. Na terça-feira eles iriam fazer uma visita aqui no Jaguaré pra visitar a creche, marcando um encontro que o meu marido fosse. E ele foi pra lá. Então ele ficou presidente. Quer dizer, foi sem, né? E ele aceitou. Então foi uma tristeza o que a gente encontrou lá. Porque as crianças estavam assim com mil problemas. Que não tinha água, não tinha água encanada. Tinha, sabe, elas estavam assim cheias de vermes, cheias de problema de pele. De impetigo, de uma porção de coceira, de sarna. Porque não tinha água para tomar banho. Elas estavam ali abandonadas. Porque a freira tinha tido um derrame, a que tomava conta. E tinha sido levada para Divinópolis. Então as crianças estavam com duas mães tomando conta delas, mas sem um tostão. Não tinham como. Estavam vivendo ali da caridade das pessoas vizinhas. Então foi todo um trabalho. E como nós já conhecíamos a Rosa Maria, que vocês conhecem, nós convidamos Rosa Maria para trabalhar conosco na creche. Para fazer parte também da Diretoria. Que ela já fazia parte do nosso grupo religioso. Que nós fazemos parte de um grupo de casais que chama Equipes de Nossa Senhora, aqui em São Paulo, ha 37 anos. Então a gente conhece a Rosa Maria, né, esse tempo todo. E trouxemos a Rosa também para trabalhar conosco. E o Galvão foi desde o, fazer existir a creche, porque não existia. Era um local onde tinha as crianças. A freira tomava conta para as mães irem trabalhar. Mas não tinha, legalmente elas não existiam. Então foi todo um trabalho de documentação para que a gente pudesse ter recursos também municipais. Então foi todo um trabalho que eles tiveram de, para utilidade pública. De federal, no nível federal, estadual e municipal, para poder fazer com que a creche existisse. E a par disso fazendo campanhas pra melhorar a situação da creche de água. Para deixar as crianças, cuidar da saúde das crianças. E o Galvão acabou ficando quatro anos como presidente lá. E assim foi até construir depois o outro núcleo. Foi aumentando o número de crianças, e a gente foi conseguindo esse recurso municipal, que até hoje a gente mantém. Aliás, ajuda as crianças a se manterem lá. Tem um per capita por criança. E sempre fazendo promoções. Nós temos sócios que ajudam mensalmente. Faz promoção. Hora uma pizza, hora é uma festa junina para poder. E a gente sempre ligada, mesmo estando em Rio das Pedras, não fazemos parte da Diretoria, mas nós somos do Conselho. (riso) Tudo eles consultam a gente, a gente vem pra cá. Mesmo nessa segunda construção que foi feita agora. O Galvão veio para estar com os arquitetos. Porque o Galvão tem, como engenheiro civil, ele tem muita prática de construção. Então foi assim que a gente conheceu a creche. Através desse grupo de casais do Anchietano, do colégio aqui da Heitor Penteado.
P - E nesse começo como que você, Terezinha, atuava na creche? O que é que você começou fazendo lá?
R - Eu, no começo a gente só tinha essa de levar criança, de ver exame. Não tinha muita atribuição. Depois eu fiquei na, como secretária. Eu que fazia as atas. E também com as crianças, eu tinha um contato com as crianças de, os maiores, a gente tinha, dava noções de higiene, dava aula de catecismo, né? Também para as crianças. Desenho. Que era de uma maneira assim muito sutil as aulas de religião que a gente fala. Não era uma aula de religião. Era assim uma brincadeira, um desenho, que elas vissem que tem alguém superior, né? Um Deus. Então era isso que a gente fazia com elas. Até eu me mudar. Ainda durante o primeiro ano eu vinha nas reuniões mensais, mas depois, como primeira dama você tem outras atribuições em Rio das Pedras. E você morando lá você tem que se, tem que participar das coisas de lá. E não dava. Às vezes coincidia os mesmos, as mesmas datas. Então eu falei: “Olha gente, nós ficamos, o que vocês precisarem nós estamos aqui à disposição, mas não dá mais para vim correr assim para as duas coisas.” porque ou você faz uma coisa bem feita ou você não faz. Porque a gente não é de fazer meia boca, como diz, né? (risos)
P - E depois que vocês documentaram e tornaram realidade como vocês perceberam, da onde vinham as crianças mais? Quais eram as regiões? Qual era o motivo delas? Enfim, quem eram os pais?
R - Então, de uma grande, a grande maioria das nossas crianças eram mães que trabalhavam como domésticas, como faxineiras. A maioria não tinha pai, né, assim, pai ausente. Outras tinham pais. Eram crianças que precisavam mesmo. Aqui da região do Jaguaré, mas mais pra frente: Vila Yara, Osasco. Elas vinham, algumas tomavam ônibus para trazer as crianças para a gente. Então eram crianças que ficavam conosco até quase sete anos no começo. Elas ficavam até seis anos e onze meses. Então elas já saíam alfabetizadas, hoje não, as crianças, a Secretaria de Educação passou a manter só as crianças conosco até quase quatro anos. Então isso é uma pena, porque esse intervalo de quatro a seis as mães deveriam levar num outro local que chama EMEI. Que é uma escola de educação infantil. Mas você imagina, as mães trabalham, a grande maioria vem pros, vamos dizer, pros bairros melhores para serem faxineiras, para serem empregadas. Elas não têm condição de voltar, pegar essas crianças, levar no EMEI, depois no, que patroa que vai deixar? Então é uma coisa assim que foi feito até abaixo-assinado e tudo, mas a Secretaria de Educação achou por bem que assim seria melhor. E a gente então hoje tem crianças até quatro anos só. Então é uma pena, é uma pena porque esse período que elas poderiam aproveitar mais conosco, tendo uma orientação, porque nós temos pedagoga, a gente tem psicólogo, tem tudo na creche, né? Tem reuniões com os pais. É um trabalho, sempre teve com os pais e com as crianças. Porque as crianças voltam pra casa. Então elas tem que ter uma continuidade. Então hoje as crianças são pequenas. Então é um outro tipo de abordagem. São pequenas, um aninho que entra, né? E elas queriam que pegasse também berçário. Aí berçário é mais complicado. Porque berçário tem que ter tudo à parte. Por enquanto só de um aninho, então está chegando ainda, já começando a tirar frauda, já fazendo por conta própria. Então é isso aí. Que mais?
P - Quantas crianças eram, mais ou menos?
R - Quando nós começamos eram 19. Aí depois fomos aumentando para 50. Hoje tem 100, né, em cada núcleo. Nós temos 210 crianças dos dois núcleos. Porque nós temos dois locais hoje. Então mantemos muita criança.
P - Não sei se você lembra, mas na sua visão da época qual era o papel ali da creche? O que é que eles queriam passar para aquelas crianças?
R - Para as mães que ali não era um depósito de crianças. Isso sempre falamos e contamos o que era, o porquê da gente ter uma creche. Que era pra ajudá-las. Porque elas iam trabalhar sossegadas, mas que ali não era depósito. Que elas também tinham responsabilidade. Porque no comecinho com a Madre Camila, as crianças dormiam lá. Passavam a semana lá. Só iam para os pais no fim da semana. Então até isso nós tivemos que tirar. Logicamente que não, porque as mães têm que ter responsabilidade. Elas levam para casa e são mães das crianças, não pode esquecer disso. Então não é um lugar que elas deixavam as crianças e esqueciam que tinham filhos, né? Então as crianças já iam banhinho tomado, jantinha pronta. Elas podiam até chegar e botar pra cama, mas as crianças iam para os pais. Ou para a mãe, ou pro padrasto, pro companheiro. Então com isso também melhorou muito. Porque no começo quando elas não tinham essa responsabilidade, com a Madre Camila, tinha meninos de pais diferentes. A mãe era a mesma. (riso) É, porque elas ficavam muito à vontade, né? Não tinham criança em casa. Então isso também. E a gente passou, quando eu fiquei não só na Diretoria, a minha tarefa era essa, na reunião de mães era fazer essa abordagem para que elas promovessem. A gente sempre nessa linha de promoção humana, dos direitos que elas tinham, dos deveres que elas tinham. Que, como eu falo muito - que vocês já perceberam - a minha facilidade de estar com elas era maior do que com as crianças. (risos) Então era essa a minha tarefa na creche.
P - E teve alguma situação nesse comecinho, nesse esforço de construir, teve alguma situação que te marcou? Você lembra de alguma experiência que até hoje você carrega com você?
R - De que é que você fala? Com criança, com mãe, com funcionário?
P - Com crianças ou com mães nesse momento.
R - Com funcionários nós tivemos um problema grande, sério. Não sei, até Rosa Maria pode até ter contado essa mesma história. Nós tivemos uma empregada, uma funcionária de serviços gerais, ela era faxineira. Ela teve problema de câncer. Ela teve um câncer, depois ela voltou, ela ficou uma temporada afastada. Ela teve toda assistência da creche, inclusive da gente visitá-la e ter todo conforto possível dentro da situação dela. Ela voltou a trabalhar. Depois o câncer voltou novamente. Então ela não podia mesmo, por exemplo, carregar um balde de água, não podia fazer nada disso. E então tinha que ter uma ajudante pra ela. (riso) Além, e ela não queria ser mandada embora porque ela ia ganhar pouco se ela aposentasse. E nós mantivemos essa pessoa. Aí nós ganhamos uma máquina de costura. E ela então pediu para nós essa máquina porque na casa dela ela poderia ganhar um dinheirinho a mais. E nós levamos a máquina para, era uma máquina antiga, para colocar - agora fugiu o termo - pra ficar elétrica. Tem um nome. Porque primeiro era pedal. Então para deixá-la para ela não ter esforço nenhum pra poder costurar. E ela levou pra casa. Mas ela, aí ela se aposentou, né, e levou a máquina que era da creche. Só que ela nos levou pra Justiça. Ela arranjou duas testemunhas dizendo que ela costurava na creche e que nós não pagávamos hora extra pra ela. Então isso marcou muito, porque foi uma pessoa que foi muito ajudada. Mas ela foi induzida pelo companheiro dela, por um filho que era drogado. Ela foi induzida. Nos levou e nós perdemos. Porque mesmo a advogada percebendo que as testemunhas eram falsas, deu ganho de causa para ela. Só que ela não pode aproveitar do dinheiro. Quem ficou foi o filho e o amante, o companheiro dela, porque ela morreu. Mas antes de morrer ela nos chamou. Chamou a Rosa Maria, pediu perdão do que ela tinha feito. Então foi uma cena que a gente não esquece. Viemos na favela onde ela morava pra ela pedir perdão do que ela tinha feito conosco. Quer dizer, a creche que ajudou-a tanto, e ela prejudicou e não aproveitou do dinheiro. Então isso marcou muito. E o fato dela pedir perdão. Dela ter reconhecido, né? Porque ela sabia que ela ia morrer. Então nos chamou, fomos lá. Então foi assim uma cena que a gente não esquece essa. Uma cena muito triste que aconteceu. E as coisas alegres das crianças, né? Até trouxe uma fotografia dos natais que a gente fazia com as crianças. A gente ensaiava o Presépio vivo com as crianças. Punha uma vestidinha de São José, outra de Nossa Senhora. (riso) Pegava uma criancinha filha de uma delas lá para fazer o Menino Jesus. Então foi, teve uma época muito boa. E muita luta. Porque não é fácil você manter assim uma creche como hoje nós temos. As dificuldades são grandes, são grandes. Mas houve um tempo bom também. É isso. Então é isso. A gente ter essa lembrança boa de um trabalho que a gente fez e ainda continua ligado. A gente está ligado. Se estamos aqui hoje é por causa da creche, né?
P - E foi durante esse período da creche que seu marido vai, volta pra Rio das Pedras?
R - Pra Rio das Pedras, isso. Ele volta e eu continuo morando aqui em São Paulo. E aí ele já sai da Diretoria. Ainda ficou um tempo no Conselho Fiscal e depois saiu, quando ele entrou na Prefeitura. Não deu mais para ele poder participar das coisas. Só participamos mesmo das coisas que se precisam da gente a gente está à disposição. No tempo que ele ficou em Rio das Pedras eu fiquei ainda trabalhando. Ia com a Rosa Maria toda semana, com as mães fazendo reunião uma vez por mês, visitando. A gente visitava. Nós tivemos uma também na favela São Remo, montamos lá também um grupo. Mas lá não deu certo porque o próprio pessoal da favela invadiu, roubou tudo, tirou tudo. (riso) Uma creche que a gente estava montando lá. Então, e aí ficamos só com a Madre Camila.
P - E nessa época os filhos moravam ainda com vocês ou tinham já?
R - Ah sim, já, o, todos participaram de ir lá, de, a minha neta ia lá. Ela estava estudando Odontologia na Unip, e ela fazia prevenção com as crianças de dentinho. Levava, e levava dentifrício. Nós levávamos as crianças também na Unip, na Unimep, né? Não, Unip, que chama Unip, é. Levava também. Ajudávamos um ônibus lá do, o prefeito de Osasco cedia um ônibus e a gente levava as crianças. Todos passavam lá pelos estudantes de Odontologia. Vinham com escovinha de dente, vinham com pasta de dente. Então todos participaram, meus filhos todos. Também um ia tocar violão para as crianças. Então a gente sempre envolveu também os filhos no nosso trabalho, no nosso trabalho. É isso aí. A minha neta tem 30 e tantos anos já. (risos) É do meu mais velho, né?
P - Como que foi, pode parecer uma pergunta meio tola, mas como é que foi depois que seu marido foi para Rio das Pedras ficar um tempo sozinha de novo em São Paulo? Essa coisa longe do marido? (riso)
R - Não é fácil, né? Porque daí eu era pai e mãe, né? (riso) Aí eu tenho um período de vida que eu fiquei pai e mãe. Tudo eu tinha que fazer. Mas nessas alturas eles já estavam adultos, já estavam guiando, já estavam, né? Não tinha problema. Eu só tinha a minha menor. Porque na realidade eu criei essa neta. Eu tenho três filhos: dois rapazes e uma moça. E o meu mais velho tem uma, teve uma filha muito criança. Ele tinha 20 anos quando ela nasceu. E ele não tinha ainda terminado, então ela ficou comigo. Eu criei essa menina. Que hoje já está casada e mora no México. Mas, é a que se formou em Odontologia. Então a gente tinha muita tarefa. E como eu falei para vocês eu sempre fui, era dona de casa mas também tinha minhas atividades fora, de, sociais. Então deu para passar. E no fim de semana ou eu ia para Rio das Pedras ou ele vinha. Então era só durante a semana que eu estava sem ele, né? Durante a semana.
P - E aí vira primeira dama depois.
R - Aí virei primeira dama. Minhas amigas de Rio das Pedras falavam: “Eu, nós nunca saímos daqui, não somos primeira dama. Você vai embora pra São Paulo, leva uma vida em São Paulo e volta aqui primeira dama.” (riso) Eu falei: “Não é pra todo mundo que tem essa chance.” (risos)
P - Como é que foi então chegar lá em Rio das Pedras como primeira dama?
R - Eu senti muita diferença, lógico, do meu tempo de menina para o de hoje em Rio das Pedras. E senti falta daqui também, lógico, dos meus filhos, da minha vida em São Paulo, dos meus amigos. E aí a gente vai se entrosando no Rio das Pedras novamente. Poucas famílias do meu tempo que ainda moram lá. Eu tenho um irmão, o meu mais velho, meu irmão mais velho mora em Rio das Pedras. Mas ele já tem 87 anos, já é um senhor. Então, mas de família eu não tenho mais lá, né? Meus irmãos um mora em Piracicaba, outro mora aqui em São Paulo, o que morreu, né? Minha irmã mora aqui em São Paulo, que é solteira também. E a gente, como eu falei, se eu estou morando numa cidade eu tenho que participar. Então eu faço parte dos Conselhos todos lá. Tem Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, eu faço parte do Idoso, eu faço parte, você entende? (riso) Eu estou no Fundo Social de Solidariedade, eu faço parte também. Ajudo lá a primeira dama. Continuo fazendo essa parte que eu já fazia aqui em São Paulo lá em Rio das Pedras, com outras crianças. Tem o Abrigo, como eu estava contando para vocês. Isso eu também vou toda semana lá, que eu sou a madrinha das crianças. Que são as crianças que são tiradas da família como eu contei, são judiadas. Que o Conselho Tutelar é avisado, ele faz uma visita e tira a criança dos pais. Esses pais também recebem um tratamento psicológico, que nós temos psicóloga. As crianças também. Então isso também é meu trabalho lá no Rio das Pedras até hoje, no abrigo. E tem o Espaço Amigo, como eu contei também visito, mas não tenho assim uma atuação grande como eu tinha aqui e como primeira dama. Agora já não sou primeira dama então eu só ajudo no que eu posso lá em Rio das Pedras, pra não ficar, né? É isso aí.
P - Tereza, eu vou fazer uma pergunta lá de trás, bem de trás, agora que a gente reviu um monte da sua vida, de repente pode ajudar a responder. Tinha algum sonho de infância, aqueles sonhos que criança tem, nem for aqueles mais malucos que você lembra?
R - Não lembro, não lembro. Não lembro. Assim de sonho? Não, eu sempre gostei muito de viajar. Então gostava muito. Então até podia ser um sonho conhecer o Rio de Janeiro. E eu fui, mas eu já conheci mocinha. Porque naquela época não se viajava assim como hoje, que tem essa facilidade, né? Então eu vim, talvez, mas eu não lembro assim de um sonho. Porque era um, não tenho lembrança desse sonho. Eu queria estudar, queria me formar, mas não tinha uma coisa assim específica. Fala.
P - Você já pensava em ser professora quando você era criança? Tinha esse desejo?
R - Desde pequena, sempre. Sempre. As minhas brincadeiras eram essas. Com as meninas lá de escolinha, sempre gostei, sempre gostei de dar aula.
P - E os planos agora futuros, tem algum grande plano futuro que está pensando?
R - Não. Assim planos futuros não. Vou vivendo essa, esse, como se diz? Essa época da minha vida, né, de morar no Rio das Pedras fazendo o que eu posso para ajudar as pessoas lá. Sempre nessa linha não de cesta básica (riso) de promoção humana. Também precisa de alguma cesta básica, né? (riso) Ensine o homem a pescar. Mas às vezes o homem não tem nem a, nem aquele lambarizinho que põe na vara. Tem que ajudar. E isso, quer dizer, ficar por Rio das Pedras mesmo porque quando nós saímos da Prefeitura meu sonho era voltar para São Paulo, lógico. Mas os meus filhos disseram: “Papai já tem uma idade, ele adora Rio das Pedras.” Tanto que ele já quer voltar, você viu que ele já quer ir embora. Não gosta de São Paulo. Ele se acostumou lá com aquela vida simples. E então ele gostaria de: “É melhor vocês ficaram aqui.” Ele falou assim mesmo, meus filhos falaram. “Se quer que o papai viva mais tempo fique no Rio das Pedras.” E eu fiquei, estou lá no Rio das Pedras vivendo a vida, participando do que eu posso. Agora mesmo, dia 19, domingo tem já a Festa da Criança, que a gente faz parte do, pelo Fundo Social de Solidariedade. Então é aquele movimento de organizar. Já organizamos a festa. Porque quando nós chegamos em Rio das Pedras a Prefeitura fazia uma pequena festa. Os rotarianos faziam uma outra festa. O Clube dos Cavaleiros fazia outra festa. E eu resolvi unificar. Falei: “Por que não vamos fazer uma festa grande que a gente possa convidar todas as crianças do município? Vamos fazer junto. O que você gastava nós vamos juntar, vamos fazer uma festa.” Então a gente reúne 15 mil pessoas, é uma beleza a Festa da Crianças que nós fazemos lá. Então todos participam. A maçonaria participa. Cada um dentro do seu setor e a gente, o suporte a Prefeitura dá. Então é uma festa muito bonita. Com show das escolas. A gente, o tempo todo tem show mas das crianças das escolas. Não é show importado, da criançada. (riso) Então é muito bom. Tem sorteios, tem cama elástica. Aquelas brincadeiras, né? Tem lanche, tem pipoca, e a gente organiza. Organizamos. A primeira festa deu mais trabalho, porque o pessoal não estava acostumado. Mas foi o nosso primeiro ano. Agora continua porque eles acharam ótimo isso.
P - Faz quanto tempo?
R - Oito, né? É, oito anos. Foi em 2001 a primeira, e agora está sendo a oitava.
P - Sabe uma coisa que eu fiquei curiosa?
R - Fale.
P - Das festas juninas da sua casa, da sua infância. Você falou e aí ficou lá atrás. Mas agora retomando nessa ...
R - Naquela época vinham meus tios também de São Paulo, que, os que se mudaram de Rio das Pedras. Então eram festas que reunia a família do meu pai. Então a última festa tinha mais de 200 pessoas. Mas aí eu já estava casada e tudo, antes de papai morrer. Foi uma festa linda que nós fizemos. Porque vovô, nós morávamos numa casa que chamava, da Rua Torta, né? Onde nós nascemos, onde meus tios nasceram. Mas vovô depois construiu uma outra casa num lugar muito lindo lá do Rio das Pedras. Bem no alto, que chama de casarão. Onde ele se mudou. Mas ele já era adulto, viúvo, quando ele foi morar lá. E deixou a casa para o meu pai. Por isso que nós nascemos nessa casa que foi do meu avô. Então é uma casa que tem mais de 100 anos, muito mais. Aonde é essa casa que eu contei que foi reformada, que meu pai buscou pintor e tal. Então meu avô mudou-se para esse casarão. As festas eram lá. Tinha um terreiro, que meu avô tinha café, porque em Rio das Pedras era, não era só cana-de-açúcar. Depois que acabaram com toda plantação de tudo só para cana. Mas no tempo que eu era menina, mocinha, tinha, era café. Então tinha aqueles terreiros onde secava o café. E ali que se faziam as festas. Então era uma maravilha. A gente tinha bambu. A gente fazia aqueles arcos de bambu com bandeirola. Hoje você compra bandeirinha pronta, no nosso tempo não. Então toda aquela preparação de você cortar jornal ou papel de seda que a gente comprava colorido. E não tinha cola. Hoje tem cola que você compra Tenaz, não tinha. Você fazia cola com farinha de trigo. (riso) Então era aquela delícia. Você punha o barbante e as bandeirolas. E isso se passava o mês todo pensando nisso. E, para realizar a festa. Porque é muito recente hoje você comprar as coisas, né? Não tinha isso. No nosso tempo a gente fazia. Então eram festas memoráveis. O pessoal do Rio das Pedras lembra das festas. Mas daí vinham meus primos daqui de São Paulo, meus tios que moravam. Então era uma festa da família. E quando não acontecia isso papai fazia uma festa na rua. Na Rua Torta, depois que vovô morreu. A gente fazia uma festa pra rua. O pessoal da rua vinha. Aí era menor. Mas tinhas fogueira... (pausa)
R - Uma festa menor quando não, depois que vovô morreu, né? Aí a gente fez, papai sempre fez. Ele comemorava as três festas: Santo Antonio, São João e São Pedro. Fazia fogueira daí para os vizinhos, para o pessoal da rua. Tinha poucos carros, né? (riso) Isso o tempo que eu era menina. E nós chegamos a fazer uma festa depois de todos nós, já com meus filhos e tudo, uma última festa lá nesse casarão. Fizemos, e depois não fizemos mais. Porque daí as pessoas foram, uns morreram, perdeu aquela, aquele de unir a família. Daí cada um ficou na sua familinha, fazendo as festas na sua familinha. Já não mais em nível de meus tios e primos, não tinha mais. Aí fizemos a última festa lá no casarão. Esse casarão ainda existe também lá em Rio das Pedras. Mas hoje é de um, de um sobrinho, ele que ficou. Porque esse casarão faz parte da fazenda dos meus irmãos, meus irmãos tem, fazenda Santa Maria.
P - E essa última festa no casarão vocês não faziam festa há um tempo lá?
R - Ah sim, nós ficamos muito tempo sem fazer. Aí papai e mamãe já tinham falecido e tudo. Aí o pessoal falou: “Vamos reunir?” “Vamos.” O s que puderam ir, né? Foi uma festa bonita também. Mas diferente das outras. Já não teve aquela, o preparativo é diferente. Do tempo que a gente era mocinha, hoje também enfeitamos com tudo. Mas não, já tudo comprado, né, (riso) como dizem, não fomos nós que fizemos. Um pouco diferente. Mas foi gostosa também. Depois não reunimos mais. Porque se eu sou a mais jovem você imagina, os outros são mais velhos, os meus irmãos. Então já vai perdendo aquele pique de fazer festa.
P - A gente vai fazer uma última pergunta que a gente faz, que é de praxe aqui do Museu: o que você achou de contar essa história? Um pouco da sua história, a sua história tem tanta coisa, mas um pouquinho da história aqui pra gente?
R - Eu gostei, achei interessante, eu achei interessante a gente recordar. Recordar. Porque se, dificilmente você hoje encontra pessoas que queiram ouvir, não é verdade? Por mais que você conte você não conta tudo como nós conversamos aqui. Então é uma oportunidade que a gente tem. E tem as pessoas saberem como que a gente viveu a nossa vida até agora. Uma vida, porque eu não escrevi livro. Por isso que plantar árvore eu já plantei, já tive filho. (riso) Eu só não escrevi. Porque aí, para ser um verdadeiro homem, não é isso? São essas três coisas, para ser humano. Não escrevi, devia ter escrito tudo isso que eu contei pra vocês, mas não escrevi. Eu nunca fui moça de ter diário. Naquela época usava muito, muito, muito, muito. E não achava importante registrar nem coisas boas nem coisas ruins. Sempre confiei na minha cabeça. Então eu não tinha diário. O pessoal tinha até com chavinha, com cadeado. Eu nunca, nunca pensei em escrever, mas devia ter escrito.
P - E falando nas coisas que você fez eu queria saber como que foi ter seu primeiro filho no meio dessas andanças que você tinha? Você se lembra?
R - Lembro. Eu vim pra cá eu estava morando no Rio de Janeiro nessas alturas. Que eu fiquei em Volta Redonda, como eu contei pra você, enquanto eu estava grávida. E mudei para o Rio de Janeiro acho que no sexto mês de gravidez. Fomos morar em Copacabana. E é porque a firma pagava pra gente um apartamento lá, a Sobraf. Aí nasceu o nenê e eu vim pra cá. Mas o susto muito grande lá em Volta Redonda porque eu fui fazer o exame de sangue, porque meu médico era daqui de São Paulo, e houve uma troca de exames. O laboratório trocou meu exame com a minha comadre, com essa Maria Enide que é muito importante na nossa vida. E por muitos anos eu era RH negativo e ela era o positivo. Então eu já tive meu primeiro filho achando que eu era RH negativo, mas eu não era. Mas até eu descobrir demorei alguns anos. E ela foi tendo os filhos sem nenhum problema porque o marido também era. Mas isso também soubemos depois de algum tempo. Meu filho tem 52 anos. Então há 53 anos atrás não tinha, eu tinha um acompanhamento médico mas não é como hoje que tem ultrassom, não tinha, não tinha. O médico ele media, era um outro tipo de pré-natal. Então quando veio esse resultado o meu médico falou: “Olha, precisa cuidado para o segundo filho, porque o segundo filho vai ter problema.” Tudo bem. E eu tive, vim pra cá, cesariana também. Não era a moleza que é hoje. Porque hoje as meninas não querem sofrer dor já marca a cesárea. No meu tempo não tinha isso. Então eu tive um grande sofrimento. Porque eu entrei as sete e meia da manhã e meu filho nasceu as sete e meia da noite. Eu passei o dia inteirinho na maternidade, que estava sendo inaugurada a maternidade São Paulo aqui na Frei Caneca. Era uma beleza, era referência na época. (riso) Hoje é uma judiação como está. E então pra depois nascer com fórceps. Nem cesárea, ninguém falava em cesariana há 53 anos atrás. Mas foi uma experiência muito bacana, de eu ter meu filho, né? Mamãe veio ficar comigo enquanto eu estava na maternidade. Que a gente ficava mais tempo. Hoje também os jovens saem mais rápido da maternidade por causa da infecção hospitalar. Então eu acho que eu fiquei uns cinco dias até ficar mais forte e fui pra casa. Morava aqui numa travessa da Faria Lima, na Orlandino Sandoval. Ainda não morava, nós não tínhamos construído a nossa casa aqui no Boaçava. Depois que construímos, depois que meu filho já estava grande assim, quase um ano que eu vim pra cá. Que o Galvão construiu a casa no Boaçava. Então foi isso, foi assim uma experiência muito boa. Um pouco sofrida, porque eu não tinha leite. Então era complicado, tinha que levantar de madrugada para fazer mamadeira. Porque a gente não tinha pra guardar na geladeira. Hoje você faz a meia dúzia de mamadeira e guarda na geladeira. No meu tempo não, você fazia uma por uma. Então você levantava de madrugada, com frio. São Paulo era muito mais frio do que hoje. E então foi assim, mas muito bom. E depois nós fomos embora para Uberaba, que a firma nos mandou. E lá é que as irmãs não se conformavam. Porque o Galvão foi construir um hospital lá em Uberaba. E as irmãs falavam: “Mas por que é que a senhora...” Eu era conhecida em Uberaba como a paulista que só tinha um filho. Porque lá ninguém tinha um filho. (riso) Em Uberaba, mineiros, né, era três, quatro, cinco filhos. E eu era a única. E eu botei meu filho no colégio para, justamente, para ele ter uma vivência com outras crianças. Porque eu fui morar por pouco tempo. E lá eu conheci a irmãs de São José, ahn, as irmã dominicanas, que estavam construindo. Elas disseram: “Mas por que, a senhora não, vamos fazer - elas têm uma escola de Enfermagem - vamos fazer um exame de sangue? Vamos fazer o que já está mais moderno?” Que meu filho já estava com quase quatro anos o meu mais velho. “Vamos fazer exame.” E deu que eu era positivo, sangue universal. (riso) Aí não tinha mais motivo de eu não ter filho. Mas assim mesmo estava começando a pílula. Também não tinha pílula no nosso tempo. Aí o Galvão falou: “Não, vamos pra São Paulo, vamos fazer o exame lá. Não vamos confiar aqui não.” E nós viemos para São Paulo, confirmou que eu era, que ele também, o sangue positivo. E nós aí tivemos o nosso segundo filho aqui em São Paulo também. Depois o terceiro que foi a menina, né, a Ana Tereza. E foi assim em Uberaba que descobriram que eu era. Eu liguei para a Maria Enide, nessas alturas a Maria Enide já estava com, a Maria Enide, essa minha amiga, teve seis. Aí ela também contou, ela falou: “Eu sou negativo.” Aí que nós deduzimos que tinha havido troca. Porque nós fomos no mesmo dia juntas fazer. E a moça se atrapalhou com os nossos exames. Então vivi numa redoma com medo de engravidar por causa do meu RH que não era nada, era positivo. Hoje não tem mais esse problema mesmo sendo, troca o sangue do nenê. Não tem problema mais, né? Se toma uma precaução no oitavo mês de gravidez. Não tem mais isso. Mas no nosso tempo, há 53 anos atrás, a Medicina progrediu bastante, né, nessa área. É isso. (riso) Fala menina.
P - Terezinha, eu quero saber se você tem alguma coisa que você queira falar que veio na sua cabeça e a gente não tocou no assunto?
R - Não, acho que nós falamos um pouquinho de tudo, né? Nós conversamos um pouquinho de tudo. Dos fatos mais marcantes da minha vida, né? Sem, uma coisa maravilhosa que aconteceu foram minhas bodas de ouro. Porque eu tinha, meus filhos fizeram uma festa lindíssima, surpresa para nós, no Terraço Itália. Então foi muito lindo. Convidou assim os parentes, convidou os mais íntimos. Minhas amigas no interior também puderam vir. Foi então uma festa muito linda que eles organizaram. Fizeram um jogral muito lindo, todos. Então foi assim uma festa maravilhosa das nossas bodas de ouro. Isso foi assim muito marcante na nossa vida, que foi em 2004. Em 2004. Era isso. (riso)
P - Legal.
P - A gente agradece então a entrevista, obrigado.
R - Nós é que agradecemos. Agora o que fica aqui com vocês o que é? É toda essa história ou essa história eu ganho?
P - Os dois.
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