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Por: Museu da Pessoa, 26 de março de 2019

Eu sei qual a minha história, a história do meu povo e tenho um lugar no mundo

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Eu sei qual a minha história, a história do meu povo e tenho um lugar no mundo

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Os amigos do meu pai, alguns, eram congadeiros. Meu pai era presbiteriano, mas ele tinha amigos macumbeiros, congadeiros, da umbanda, do samba, enfim. Então, uma dessas pessoas era um velho, um senhor, já, com uma idade avançada, chamado Feliciano, que era, enfim, um chefe de Maçambique ou Moçambique. E esse homem brincava com a gente, falava as palavras dos antigos, cantava umas cantigas e era amigo do meu pai. E moravam nesse mesmo bairro, no bairro da Penha.

Meu pai era carpinteiro. Era lavrador e carpinteiro. E ele foi trabalhar na obra junto com o amigo dele, que era um mestre de obras, um preto carioca. Não sei se fluminense ou carioca, mas que mudou lá pra Passos e os dois se tornaram bastante amigos e era capoeirista e era compositor, enfim, tocador de berimbau e que esse senhor levou meu pai pra trabalhar nessa obra. Mas a minha relação com essa obra é menos por conta do meu pai e mais por conta dos meus irmãos que, quando eu devia ter uns seis anos ou sete, talvez, sete pra oito porque eu já sabia ler, eles foram montar uma peça de teatro no que seria hoje a garagem dessa igreja. E usavam esse espaço e ficavam lá ensaiando e a gente, que era pequeno, ficava assistindo. Então, mais por isso que eu me lembro da igreja e menos de ter ido com meu pai. Mas de ir provavelmente fosse domingo de tarde, sábado de tarde, algum dia assim de folga que eles ficavam lá horas lendo texto do Guarnieri e do Boal. Mais tarde fui descobrir o que era o texto do Guarnieri e Boal.

Você vê uma pá de gente preta em um lugar, conversando, convivendo, construindo, elaborando, ensaiando, passando várias vezes o mesmo texto. Eu tive memória de fragmentos do texto e das canções até bem recentemente. Mas acesso ao texto eu só fui ter depois de adulto. Mas eu tinha memória de fragmentos, das cenas, do texto. Então, a minha primeira noção de que um bando de gente junta em torno de alguma ideia podem fazer coisas.

Nunca tive professor negro....

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PSCH_HV746_Salloma_Sallomão

Revisado e editado por Jonas Worcman

P/1 – Eu queria pedir pra você respirar profundamente, eu queria que você imaginasse, mesmo, toda a linha de antepassados que tem antes de você, até chegar em você. Pra que toda história seja honrada através da sua fala. E aí eu queria que você me dissesse o seu nome, local primeiro e data de nascimento.

R – Meu nome é Sallomão Jovino da Silva, eu sou conhecido atualmente como Salloma Sallomão, eu tenho 58 anos, eu nasci no dia primeiro de agosto de 1961, na cidade de Passos, que fica na região Sudeste de Minas Gerais.

P/1 – O que você sabe da história dos seus pais? Bem resumidamente, o que você conhece da história dos seus pais? Como eles chegaram lá?

R – Meus pais nasceram em uma cidade também da região Sudeste ou Sudoeste de Minas, em Boa Esperança e migraram pra cidade onde eu nasci pouco antes do meu nascimento, em uma crise grande de trabalho, no final da década de 60. No final da década de 50, início da década de 60. Tida como uma era de grande prosperidade, quando se lê sobre a história nacional. Mas o que eles viveram, eles eram lavradores e viviam, trabalhavam pra fazendeiros para os quais os seus avós haviam trabalhado e, em uma crise de produção de açúcar e café, eles migraram de uma região para a outra, no mesmo perímetro, digamos assim, que é Vale do Rio Grande, perto da Serra da Canastra. Migraram para uma fazenda chamada Fazenda Rio Grande, produtora de açúcar, onde eu nasci. Enfim, na região de Boa Esperança a história da minha mãe é mais difícil, mais inacessível, mas a do meu pai é que ele era descendente de uma mulher chamada Jovina e, por isso, o nosso sobrenome se tornou Jovino. E essa mulher foi violada por um italiano, talvez em 1870, algo assim. Mas os seus ancestrais haviam vivido nessa mesma região, trabalhado como escravizados nas mesmas fazendas da região de Boa Esperança. A minha mãe veio de um vilarejo...

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