P - Então, Luiz a gente vai começar com o básico, nome inteiro, o local e a data de nascimento.
R - Meu nome é Luiz Antônio de Oliveira, nascido no Rio de Janeiro em 26 de setembro de 1967.
P - Luiz, conta qual trabalho você desenvolve assim, conta um pouco do local, desde quando você faz isso, o trabalho tem a ver com a Cultura Viva na verdade?
R - Ah, a gente no âmbito do Cultura Viva, a gente trabalha no Museu da Maré, né, que é um Ponto de Cultura, começou como Ponto de Cultura, no primeiro edital do Ministério da Cultura, no Programa Cultura Viva. E o museu da Maré trabalha com memória, memória, identidade cultural com intervenção junto aos moradores da Maré, que é um bairro com 16 favelas, aproximadamente 140 mil moradores, né, então são 16 favelas com suas particularidades, com a favela que passou por processos históricos muito intensos, e aí percebeu que ela é interessante em função de questões da educação, questão da comunicação, questões sociais, trabalhar com memória, fazer um registro, fazer a preservação do material do acervo, e a divulgação desse acervo. E aí esse acervo é exposto, trabalhado com as pessoas, com as crianças, os adolescentes, jovens e adultos, né, seria interessante para que passasse a existir uma relação diferente com a Maré, como favela existe estigma e ai morador conhecendo a sua realidade, a sua historia, principalmente os jovens e adolescentes, eles passam a valorizar mais esse território, né, a história dos seus pais, seus avós. Nisso cria-se um vinculo com espaço, cria uma relação de pertencimento, de identidade que faz com que ela se descubra enquanto cidadã da pólis, da cidade, passa a ter uma relação diferenciada com ela que não pressupõe uma invisibilidade da favela, ou seja, ela passa a dizer, a ideia é essa, ela passa a dizer que é da favela porque ela se sente integrada na favela e se sente integrada na cidade. Então é um caminho de mão dupla...
Continuar leituraP - Então, Luiz a gente vai começar com o básico, nome inteiro, o local e a data de nascimento.
R - Meu nome é Luiz Antônio de Oliveira, nascido no Rio de Janeiro em 26 de setembro de 1967.
P - Luiz, conta qual trabalho você desenvolve assim, conta um pouco do local, desde quando você faz isso, o trabalho tem a ver com a Cultura Viva na verdade?
R - Ah, a gente no âmbito do Cultura Viva, a gente trabalha no Museu da Maré, né, que é um Ponto de Cultura, começou como Ponto de Cultura, no primeiro edital do Ministério da Cultura, no Programa Cultura Viva. E o museu da Maré trabalha com memória, memória, identidade cultural com intervenção junto aos moradores da Maré, que é um bairro com 16 favelas, aproximadamente 140 mil moradores, né, então são 16 favelas com suas particularidades, com a favela que passou por processos históricos muito intensos, e aí percebeu que ela é interessante em função de questões da educação, questão da comunicação, questões sociais, trabalhar com memória, fazer um registro, fazer a preservação do material do acervo, e a divulgação desse acervo. E aí esse acervo é exposto, trabalhado com as pessoas, com as crianças, os adolescentes, jovens e adultos, né, seria interessante para que passasse a existir uma relação diferente com a Maré, como favela existe estigma e ai morador conhecendo a sua realidade, a sua historia, principalmente os jovens e adolescentes, eles passam a valorizar mais esse território, né, a história dos seus pais, seus avós. Nisso cria-se um vinculo com espaço, cria uma relação de pertencimento, de identidade que faz com que ela se descubra enquanto cidadã da pólis, da cidade, passa a ter uma relação diferenciada com ela que não pressupõe uma invisibilidade da favela, ou seja, ela passa a dizer, a ideia é essa, ela passa a dizer que é da favela porque ela se sente integrada na favela e se sente integrada na cidade. Então é um caminho de mão dupla também, a cidade tem que saber que o morador da favela não é um ser potencialmente violento como boa parte da sociedade quer passar, que é o plano de fundo esse do morador da favela, não é essa a realidade. Então é um caminho, né, de mão dupla. Então é essa a proposta do Museu da Maré porque é recheado de muitas coisas, de muitas atividades e dinâmicas de memória, basicamente é esse o papel do Museu da Maré.
P1 – Em que ano começou, Luiz?
R - O Museu da Maré foi fundado em 2006, em maio de 2006. Mas é interessante dizer que o trabalho de memória não começa em maio de 2006. O trabalho de memória ele é bem anterior, né, então o Museu da Maré é simplesmente o ponto forte desse trabalho de memória, ele catalisa toda articulação de memória feita até então sentido de potencializar ao público da Maré e ao público da cidade, do país enfim do mundo, né, a sua história, a memória da Maré.
P - Luiz, o que você faz lá dentro basicamente. Conta pra gente qual é o seu papel lá dentro?
R - No Museu eu sou o diretor do Museu, o papel dos museus tradicionais, museu no Brasil é com direção, mas nós temos uma direção assim colegiada, eu tenho mais uma pessoa que divide essa direção comigo lá, que é o Antonio Carlos Pinto Vieira, mas tem umas pessoas que desenvolvem seus trabalhos, tem algumas coordenações do museu, mas eu faço o trabalho de fazer essa coordenação geral, dessas articulações mais gerais do Museu, além de ser um dos fundadores do Museu.
P - O Programa Cultura Viva como é que você conhece, como é que você entra nele, o Museu. Conta um pouco.
R - O Programa Cultura Viva a gente teve o contato direto nosso com o Programa Cultura Viva quanto instituição, né, foi no âmbito do edital Ponto de Cultura, que se não me engano foi uma das primeiras ações do Programa Cultura Viva. Nesse sentido a gente viu o edital, viu a proposta do edital, e nesse momento a gente sentiu que era um programa que tinha tudo pra dar certo e deu. Pela sua proposta, pela sua forma dentro do possível, né, a sua forma democrática de estabelecer as relações com as iniciativas de cultura no Brasil, e foi um momento especial porque nesse momento a gente viu que poderíamos apresentar um projeto de museu. Então o Museu nasce com essa proposta dos Pontos de Cultura, porque se o trabalho de memória começa mais atrás, né, em 2001 pra 2002 alguém sinaliza pra gente que poderíamos fazer o museu, ter um museu, mas isso era algo distante pra gente, algo que não está no nosso meio, na nossa relação social. Mas com o edital nós víamos que poderíamos fazer um espaço de exposição o que nós chamamos de Museu da Maré, um pequeno espaço, e aí acabou sendo um espaço maior do que nós imaginávamos. A proposta de museu devorou, né, o trabalho de memória, cresceu e nós víamos que com a participação dos moradores em relação a proposta do Museu a coisa se ampliou. Então nesse processo nossa relação com a Cultura Viva foi por ocasião do edital dos Pontos de Cultura, aí começou essa relação e tanto o Museu quanto milhares de iniciativas culturais tem tido a possibilidade de ter essa relação com o Programa Cultura Viva que é um programa do governo, mas que acabou se espraiando, se misturando, mergulhando nas atividades culturais no Brasil, então nossa relação foi à partir desse momento do Ponto de Cultura.
P - E aí o que ele traz, o que ele muda, foi só crescer ou ele mudou a maneira de trabalhar do que virou Museu depois?
R - Digo que como projeto de memórias de Museu nós tínhamos um foco, né, um foco que, e esse foco foi respeitado no âmbito da Cultura Viva, mas nós não sentíamos em nenhum momento necessidade de rearticular, reorganizar algo em função do Programa. Esse é o grande barato do programa, acho que mais que o Programa tem instrumentos de nortear ou dar uns encaminhamentos sim, mas também não dá, depende do receptor, ele está aberto “Olha, estamos aqui, mas vocês não precisam se articular ou entrar por esses caminhos basta que vocês apresentem o projeto, e esse projeto é aprovado”, isso é sinal que o Programa Cultura Viva viu naquele projeto caminhos, meios, metodologia, desenvolvimento de ações que estão alinhadas, que estão assemelhadas aos que se pensou no âmbito do Programa Viva. Então nós apenas desenvolvemos esse projeto, tivemos o apoio técnico da área de museu do Ministério da Cultura através do Departamento de Museus, o Demu, que hoje já não é mais departamentos de museus do Iphan agora virou o Instituto Brasileiro de Museus o que é departamento hoje é o instituto, então tivemos o apoio técnico dos museólogos, de arquitetos do Iphan, hoje Ibram. Foi uma conversa de iguais, né, nós trocávamos experiência, trocávamos concepções, análises sobre a questão museu sobre a questão Memória Maré, né, como a gente pode articular o Museu da Maré. Nesse sentido o Programa Cultura Viva deixou o processo seguir seu fluxo, seu caminho, existe agora claro, uma ideia que o Museu ele está dentro de contexto mais geral de cultura, nesse sentido o Cultura Viva, olha, pensa que o Museu está dentro de um todo, vocês não estão isolados, nesse sentido muito legal. Então essa entrada, essa possibilidade de pensar no Programa Cultura Viva e crescer com esse pensamento, é muito interessante, entendeu? Mas como metodologia não houve, mas houve contribuições de outras áreas do Ministério da Cultura.
P - Entendi. E a comunidade como foi o envolvimento dela com o Programa e com a entrada do Programa no museu?
R - A comunidade pela essência que traz o museu, né, a palavra museu, a figura do museu, o espaço museu ele já mobiliza, né, ele já articula, ele já chama a atenção de alguma forma, então a gente sente assim que pelo Programa Cultura Viva, né, potencializou o Museu no sentido de apoiar com recursos, nós desenvolvemos o nosso arquivo. A gente tem um arquivo com um padrão interessante, né, por ser na favela, a gente pensou não vamos nivelar por baixo, vamos fazer um trabalho de qualidade. E o projeto do Ponto de Cultura, do Programa de Cultura Viva possibilitou isso, então nesse sentido ampliou, fortaleceu a estrutura do arquivo para apresentarmos o nosso acervo, e nesse sentido a comunidade teve um acesso mais ampliado, melhorou o acesso, as pessoas vão pesquisar no arquivo do Museu, crianças do ensino médio, graduandos vão visitar o museu, doutorandos, mestrandos inclusive. Então criou, ampliou as possibilidades de contato com a comunidade com o Museu, né, não como exposição permanente, mas também como acervo, como arquivo a ser pesquisado. Então dinamizou sim, as pessoas vão falando uma pra outra, nós vamos nas escolas, a gente tenta disseminar um pouco as ações, né, a divulgação do museu. Ainda não chegamos aonde acha que o Museu pode chegar, o Museu tem que se popularizar mais, acho que é um trabalho que a gente não pode se dar por satisfeito em nenhum momento, é um trabalho crescente, a Maré muito grande, a população é grande, né, e tem esse desafio com a cidade. Então a gente faz sem perder o foco, na Maré a gente tem que estar aberto também às demandas da cidade, outras demandas, instituições variadas. Mas o Programa nesse sentido ele potencializou esse trabalho de memória, então nesse sentido ele contribuiu para uma maior apropriação de moradores da Maré ao museu, né?
P - Então Luiz, nesse sentido que você está falando qual seria para os próximos anos, próximos meses, enfim próximas ideias de projetos e desenvolvimento do Ponto a partir disso que você está falando nesse momento que está agora, ou que vocês querem ou que vão fazer daqui pra frente.
R - A gente faz um trabalho, como falei antes, não conseguimos ainda atingir um grau de satisfação que a gente imagina que na Maré seja necessário. A gente está tentando se fortalecer estruturalmente para aumentar as nossas bases de apoio à comunidade, apoio em relação à memória, né? Então o Museu hoje, no momento carece de algumas parcerias que possam potencializar num âmbito financeiro essas ações do Museu. Então mas a gente acredita que o Museu tem capacidade para fazer essas parcerias, garantir essas parcerias e dinamizar seus trabalhos, mas a gente pensa em integrar mais todas as comunidades da Maré, né? A gente pensa enquanto museu em trabalhar mais especificamente cada comunidade. Cada comunidade aprofundar a sua memória, a sua história, criar monumentos de memória em cada uma das comunidades, talvez fazendo um circuito de memória dentro da Maré, que cada comunidade tenha a sua especificidade, a sua singularidade, e a gente pensa fazer marcos de memórias até que os moradores saibam que lugar foi aquele, que construção foi aquela, que espaço foi aquele, o valor de alguns determinados espaços no âmbito da memória da Maré para que o morador sinta esses espaços valorizados. Então a gente tem essa ideia, a gente quer colocar muito isso em prática. Em 2010 a gente quer aumentar o nosso acervo de biblioteca, porque o Museu tem uma biblioteca, a gente pensa em potencializar a biblioteca para a população infanto-juvenil. A gente quer inclusive dinamizar alguns tempos do Museu, é nosso objetivo principal em 2010... porque o Museu da Maré é dividido em 12 tempos, tem o tempo da água, tempo da festa, do trabalho, da resistência, do medo, tempo da criança, tempo do futuro, tempo do cotidiano, enfim alguns tempos estão bem resolvidos museologicamente, né, museograficamente diria, outros nem tanto, outros carecem de um determinado arranjo museográfico e para isso tem que ter algumas instalações cenográficas, e isso que a gente está mirando em 2010 para que a gente possa fortalecer alguns tempos do Museu, algumas sessões do Museu.
P - A última pergunta é um diagnóstico mesmo. O que para você, o que o Programa Cultura Viva significa para o Brasil, enfim o que você está vendo aqui, o que você está vendo há muitos anos já?
R - Acho que é algo que deu certo o Cultura Viva. E aí são poucos programas nacionais que conseguem dar certo como o Programa de Cultura deu, né? Em todos os aspectos. Existe uma ideia de que o Governo ele impõe coisas, né, os planos, os projetos do Estado ele impõe, o Programa Cultura Viva ele não faz isso, essa é a grande novidade que o Programa Cultura Viva traz para a sociedade brasileira. É um discurso mesmo divulgado e todo mundo acredita nisso e testemunha isso, a capacidade que o Programa Cultura Viva teve de mergulhar em rincões, na cidade, na mata, no urbano, no campo, enfim em todos os espaços geográficos do país, né, como estratégia também nesse sentido fazer um mapeamento de muitas ações no campo da cultura, então foi uma transformação. Eu acredito que o ponto do Cultura Viva ele faz, tem um papel de colocar cultura em determinado patamar na sociedade, né, como muitos falam deixam de ser a cereja do bolo pra ser o recheio do bolo, né, percebendo, na minha opinião, que a cultura tem um processo de leveza social importante, sem perder a capacidade de denunciar, de intervir nas mazelas sociais, isso tem que ser feito. Mas ao mesmo tempo os processos de memória, os processos de oficinas, os processos de cinema, de produção de vídeo, de fotografia, todos esses processos eles dão a leveza, na minha opinião dão uma leveza social, né, de transformação social com uma leveza, com uma perspicácia, com sabedoria inerente as ações culturais. Então eu acho que o Programa Cultura Viva permitiu isso, que essa leveza e ao mesmo tempo dinâmica das ações culturais pudessem fazer uma transformação em mentes e corações de muitas e muitas pessoas pelo Brasil a fora. E as pessoas acabam que sendo gestores de intervenção nas diversas comunidades que atuam, uns mais locais outros mais gerais, mais globais, mas cada um fazendo da sua forma, da sua estrutura. E o Programa Cultura Viva acho que nesse sentido é que motivou essa transformação, né, na sociedade brasileira, a partir da sua criação.
P - Tá bom, Luiz, obrigado pela entrevista.
R - Só isso?
P - É isso, tá ótimo. Obrigado.
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