P1 – Boa tarde, Sr. Hermenegildo.
R – Boa tarde.
P1 – Eu vou começar perguntando pro senhor, pedindo pro senhor repetir o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Bom, meu nome completo é Hermenegildo Barbaro. Nasci em 1º de julho de 1928. E o que mais?
P1 – E o local de nascimento.
R – São Paulo.
P1 – Os seus pais são também de São Paulo?
R – São, eles são de São Paulo. Os dois nasceram em São Paulo.
P1 – Quais os nomes deles?
R – O meu pai é Dante Barbaro, já falecido, e minha mãe Anita R. Barbaro, também falecida.
P1 – E quais as atividades deles, que eles exerciam?
R – O meu pai era Barbeiro e a minha mãe era do lar.
P1 – O senhor tinha irmãos, tem irmãos ainda?
R – Tenho uma irmã.
P1 – E a atividade dela?
R – Atualmente ela também é do lar.
P1 – Em que bairro o senhor morava na sua infância?
R – Quando eu nasci?
P1 – Hum, hum.
R – Eu nasci também perto do bairro do Cambuci, entre o Cambuci e Aclimação.
P1 – E o senhor tem alguma lembrança do bairro quando era criança, alguma coisa que tenha marcado?
R – Ah, tenho bastante lembrança porque antigamente, no bairro que eu nasci, foi em 1928, passei minha infância nesse bairro e era tudo completamente diferente do que é hoje. Inclusive, em frente à casa que eu morava, que era de minha avó, que os meus pais moravam junto com minha avó, na mesma casa, e em frente tinha uma espécie de um morro. Mas do outro lado, que hoje é uma praça, do outro lado existia a prefeitura, coleta de lixo. E naquela época a coleta de lixo era feita com carroças com cavalos. Então tinha lá cocheira, que chamava cocheira, com todas as carroças que saiam às sete horas da manhã. E saiam e espalhavam por São Paulo inteiro pra colher o lixo, que era feito através dessas carroças. Não tinha caminhão, não...
Continuar leituraP1 – Boa tarde, Sr. Hermenegildo.
R – Boa tarde.
P1 – Eu vou começar perguntando pro senhor, pedindo pro senhor repetir o seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Bom, meu nome completo é Hermenegildo Barbaro. Nasci em 1º de julho de 1928. E o que mais?
P1 – E o local de nascimento.
R – São Paulo.
P1 – Os seus pais são também de São Paulo?
R – São, eles são de São Paulo. Os dois nasceram em São Paulo.
P1 – Quais os nomes deles?
R – O meu pai é Dante Barbaro, já falecido, e minha mãe Anita R. Barbaro, também falecida.
P1 – E quais as atividades deles, que eles exerciam?
R – O meu pai era Barbeiro e a minha mãe era do lar.
P1 – O senhor tinha irmãos, tem irmãos ainda?
R – Tenho uma irmã.
P1 – E a atividade dela?
R – Atualmente ela também é do lar.
P1 – Em que bairro o senhor morava na sua infância?
R – Quando eu nasci?
P1 – Hum, hum.
R – Eu nasci também perto do bairro do Cambuci, entre o Cambuci e Aclimação.
P1 – E o senhor tem alguma lembrança do bairro quando era criança, alguma coisa que tenha marcado?
R – Ah, tenho bastante lembrança porque antigamente, no bairro que eu nasci, foi em 1928, passei minha infância nesse bairro e era tudo completamente diferente do que é hoje. Inclusive, em frente à casa que eu morava, que era de minha avó, que os meus pais moravam junto com minha avó, na mesma casa, e em frente tinha uma espécie de um morro. Mas do outro lado, que hoje é uma praça, do outro lado existia a prefeitura, coleta de lixo. E naquela época a coleta de lixo era feita com carroças com cavalos. Então tinha lá cocheira, que chamava cocheira, com todas as carroças que saiam às sete horas da manhã. E saiam e espalhavam por São Paulo inteiro pra colher o lixo, que era feito através dessas carroças. Não tinha caminhão, não tinha nada, era feito com carroças. E lá, justamente em frente, do outro lado do largo que eu morava, tinha justamente onde ficavam as cocheiras, carroças. De manhã eles saiam às sete horas e à tarde eles voltavam, depois de descarregar o lixo eles voltavam outra vez e ficavam lá.
P1 – Tinha algum outro lugar que o senhor frequentava no bairro, ou o senhor estudou lá __________?
R – Não, a infância minha foi o seguinte. Como eu falei, tinha um morro em frente à minha casa. Depois eles tiraram o morro e ficou uma espécie de um campo de futebol. Então lá durante a minha infância eu jogava futebol, brincava. Era um terreno grande, que hoje é uma praça, onde a gente se divertia em diversos brinquedos infantis. Tudo quanto era antigamente, empinar quadrado, jogar futebol e outros brinquedos infantis, bolinha de vidro e tal. Então tudo quanto era brinquedo infantil a gente fazia nesta praça.
P1 – O senhor morou no bairro até mais ou menos...
R – Até eu casar, até 1958.
P1 – E depois foi pra...
R – Depois eu mudei. Quando eu casei eu fui morar na Vila Prudente. Depois de casado, durante um certo tempo ficamos na Vila Prudente, perto de uns 15 anos. Depois mudei para a Vila Clementino e agora ultimamente, já mais de uns dez anos, são 15 anos mais ou menos, estou na Aclimação.
P1 – E as escolas que o senhor estudou?
R – Bom, eu fiz o Grupo Escolar Campos Sales, que era na Rua São Joaquim. Depois eu fiz, antigamente tinha o Colégio Paulistano onde a gente fazia o ginásio. Era diferente, seriam, vamos dizer, os últimos quatro anos que hoje são chamados de Fundamental. Depois eu fiz, eu me formei Perito Contador que foi o último ano de Perito Contador na Escola de Comércio Álvares Penteado e depois eu fiz o curso de Administração de Empresas na Escola de Administração de Negócios que pertencia à PUC, à Universidade Católica.
P1 – Certo. E que expectativas o senhor tinha de carreira quando o senhor se formou?
R – Não, depois que eu entrei, quando eu estava fazendo o curso de Perito Contador eu entrei na Antarctica. E depois, devido aos cargos que eu ocupei na Antarctica, eu entrei lá como Datilógrafo, como Auxiliar de Escritório. Mas depois a gente vai subindo, né, e aí eu fiz diversos cursos de especialização. Por exemplo, eu fiz cinco anos de inglês, fiz curso de especialização na parte tributária, fiz de mercado de capitais, porque chegou uma época que eu fui Chefe de Departamento de Ações da Antarctica. E fiz diversos cursos de especialização, mas tudo em função do serviço.
P1 – Os pais do senhor tiveram muita influência na decisão da sua carreira?
R – Meus pais?
P1 – É.
R – Não, a única influência que teve foi, eles me colocaram na Antarctica através de um conhecimento que tinham lá. Inclusive a Antarctica foi o único emprego que eu tive na minha vida.
P1 – Ah, então conta um pouco mais sobre essa...
R – Sobre a Antarctica?
P1 – É, como que o senhor entrou, que os seus pais...
R – Não, eu entrei porque, como eu disse, o meu pai era Barbeiro. Então tinha um Diretor da Antarctica, que na época não era Diretor da Antarctica, ele era o Caixa Geral da Antarctica que era freguês do meu pai. E como eu estava fazendo o curso de Contabilidade, meu pai pediu a ele se ele arrumava um emprego e ele arrumou pra trabalhar na Antarctica. Eu entrei lá como Auxiliar Datilógrafo, fazia faturamento, e depois eu fui subindo lá na Antarctica. Porque o que eu posso falar, por exemplo, da Antarctica, fugindo um pouco da vida profissional, quando eu entrei na Antarctica em 1944 eu posso garantir que a Antarctica era uma das firmas, porque aquele tempo não existia computador, não existia nada, mas eu acho que era uma das firmas mais bem organizadas que existia em São Paulo. Apesar de todos os controles serem feitos manuais ou através de máquinas de escrever, existiam aquelas maquininhas de calcular, coisa antiga, eles tinham um controle tão perfeito de todas as atividades da Antarctica no Brasil inteiro que eu acho que nem as firmas americanas na época tinham os controles que tinha a Antarctica. E uma coisa importante da Antarctica, parece que eu estou falando bem da Antarctica, mas é verdade. É o seguinte. Naquela época não existiam esses sindicatos, não existia INSS [Instituto Nacional do Seguro Social], não existia. Porque o INSS começou, quer dizer, quando eu entrei já existia o INSS porque o INSS começou em 1938, mas não tinha sindicatos, não tinha nada. Então na Antarctica nunca teve greve, muito difícil. Eu entrava às vezes às sete e meia, que era o horário, e quando precisava a gente trabalhava até dez horas da noite e nunca se falou em hora extra, em ganhar. Precisava, não é só eu não, toda a turma. Eu trabalhava na contabilidade e tinha perto de 40 pessoas, 40 funcionários na contabilidade. Precisava ficar, ficava todo mundo até dez horas. O chefe chegava, falava: “Precisa, nós precisamos entregar esse trabalho amanhã.” Então todo mundo ficava, era assim. E nunca teve greve na Antarctica porque o antigo dono da Antarctica, o dono da Antarctica era a Fundação, quer dizer, mas o diretor responsável lá, o diretor que mandava, que era o Dr. Walter Belian, ele sabia reconhecer quando a turma se dedicava ao trabalho. Então ele dava umas gratificações e tal, mas nada combinado: “Você vai ficar, você vai ganhar.” Não existia isso, mas ele reconhecia sempre.
P1 – E quando, voltando um pouquinho, o senhor então começou a trabalhar como Auxiliar [em 1944]. Em que setor que era?
R – Faturamento. Porque a Antarctica, precisava entender certas coisas. A Antarctica é diferente de hoje. Então como é? A Antarctica fazia o seguinte, ela vendia pra cidade de São Paulo, ela tinha representantes em todas as cidades do interior de São Paulo e tinha representantes em todos os estados do Brasil. Então como é que funcionava? Vinha os pedidos, a gente fazia o faturamento. Então tinha Faturamento da Praça que era pra cidade de São Paulo, Faturamento do Interior que era para as cidades do interior de São Paulo e Faturamento Norte-Sul que era o faturamento que ia para as outras cidades, pra todas as capitais do Brasil. E então funcionava dessa forma, a Antarctica entregava, o que não era vendido... A Antarctica tinha depósitos da casa em vários bairros de São Paulo. Então eles faziam a venda à vista, entrega nos bares e tal. E o que era faturado, que fazia a venda a trinta dias, por exemplo, então chamava Faturamento da Praça, tá certo? O do interior tudo era 30 dias, então fazia-se o faturamento. A bebida ia e se faturava pra cobrar em 30 dias. E no Norte-Sul o faturamento era 60 dias, então também era enviado. Agora, toda essa bebida que ia, por exemplo, na Praça era distribuída pela própria Antarctica através dos seus depósitos. No Interior ela tinha um representante em cada cidade do interior. Então os representantes colhiam os pedidos, e então às vezes a Antarctica fornecia pro representante e ele distribuía nas cidades do interior. E no Norte-Sul a mesma coisa, a Antarctica tinha representantes em todas as capitais, quase em todas as capitais do Brasil onde a bebida era remetida e eles faziam a distribuição da bebida. Para controle de tudo isso a Antarctica tinha, por exemplo, na Praça ela tinha, vamos chamar de inspetores, que fiscalizavam, iam nos bares ver se estavam sendo bem atendidos ou não, e havia esse controle. No Interior era dividido em 13 zonas. Então tinha Zona 1, 2, 3, até o 13. Cada zona tinha um viajante. Esse viajante, todo mês ele saia e percorria, porque o representante tinha que distribuir a bebida nas cidades. Então esse viajante é que ia junto ao representante colher os pedidos e mandar, e todo mês ele vinha pra São Paulo pra prestar conta. E no Norte-Sul também tinha viajantes que iam em todas as capitais junto com os representantes pra colher os pedidos e tal, ver o que podia faturar 60 dias. E funcionava dessa forma, entendeu? E inclusive no Interior, eu vou até contar um fato interessante, tinha um Inspetor Chefe que não sei se você deve conhecer. Já ouviu falar no Friedenreich, o grande Centro Avante, o maior centroavante que o Brasil teve, é o El Tigre. Ele era o Fiscal dos viajantes, ele fiscalizava tudo. Eu tinha muito contato com ele, eu era muito amigo dele, do Friedenreich, e ele foi o maior centroavante que o Brasil já teve.
P1 – Que época é isso?
R – Ah, foi em 1940, por aí, 1930 e pouco. Mas é famoso. Todas as rádios, não sei se vocês ouviam, todas as rádios conhecem. Se falar de Arthur Friedenreich, ele era chamado, era o El Tigre. Ele foi o maior centroavante que teve, depois veio o Pelé, mas ele foi o mais...
P1 – Ele era funcionário da Antarctica?
R – Era funcionário da Antarctica, foi funcionário da Antarctica. Ele era o Inspetor dos viajantes. Além de ter os viajantes no interior, ele ia fiscalizar os viajantes.
P1 – Então toda essa atividade era centralizada no Setor de Faturamento _________.
R – Não, o Setor de Faturamento era um setor dentro da Contabilidade. Dentro da Contabilidade tinha o Setor de Faturamento, eu era Faturista na ocasião, depois eu passei em outros setores. Tinha a Sessão de Cobrança, que era a sessão que se encarregava de efetuar as cobranças em todos os bancos. Tinha a Sessão de Escrituração, que antigamente a escrituração, não existia computador, nada, a pessoa que escriturava _____ conta corrente tinha que escriturar manualmente, e quem não tinha boa caligrafia não era admitido. Então, todos os livros de conta corrente, ______, diário, era tudo feito à mão, e a pessoa desenhava a letra quase. Ela praticamente desenhava porque tinha que ser um negócio nítido, bem feito. E tinha todas essas sessões dentro da Contabilidade, tinha Sessão de Correspondência. E naquele tempo era só máquina de escrever que a gente tinha e as máquinas de calcular feita, aquelas manuais que puxava assim, ia somando. Burroughs chamava as máquinas, Burroughs. Era completamente diferente. E eu tive, por exemplo em 1946, dois anos depois que eu entrei pra trabalhar na Sessão de Faturamento na Antarctica, começaram a vir dos Estados Unidos as primeiras máquinas de contabilidade. Então não era computador era máquinas de contabilidade. Tinha a marca Burroughs que vinha dos Estados Unidos, e depois a Remington também começou a lançar as máquinas de contabilidade. Então essas máquinas de contabilidade faziam lá a escrituração, porque a máquina de contabilidade era a junção da máquina de escrever com a máquina de calcular. Então fazia os históricos, lançava débito, crédito e saldo, puxava saldo. Então fazia esse serviço, faziam na máquina de contabilidade. E aí começou a fazer conta corrente, _____, viagem (?), tudo nessas máquinas de contabilidade. E aí, na época eu me vangloriava que eu era um bom datilógrafo, aí me passaram pra trabalhar nessas máquinas de contabilidade e eu fiquei trabalhando nessas máquinas de contabilidade muito tempo. Inclusive, quando a primeira máquina de contabilidade, depois de uns anos que já tinha na Antarctica, foi emprestada uma máquina, foi doada uma máquina pra Fundação, porque a Fundação também tinha aquele sistema manual de escrituração. Então quando a Antarctica introduziu essas máquinas de contabilidade todos os anos ela cedia uma máquina pra Fundação. E eu fui fazer na Fundação a escrituração da Fundação. Eu fui trabalhar até quatro e meia, porque o horário da Antarctica normalmente era das sete e meia às quatro e meia. Então eu saia às quatro e meia, trabalhava na Fundação até dez horas da noite fazendo a escrituração da Fundação lá, porque lá tinha um Contador, eu ia lá pra fazer a escrituração.
P1 – Sr. Hermenegildo, eu fiquei com uma curiosidade. O senhor entrou em 1944 na Antarctica. O senhor lembra de ter tido algum reflexo da guerra na companhia?
R – Não. O reflexo da guerra eu soube, como houve parece que a primeira guerra, porque a guerra terminou em 1948 se eu não me engano.
P1 – 1945.
R – Mas teve uma primeira guerra que foi em 1900 e pouco. Eu sei que, inclusive pelo que me contaram, porque eu tive um padrinho de casamento que foi meu chefe na Antarctica e nossas famílias ficaram muito unidas, minha esposa com a esposa dele, ficamos muito unidos. Então ele contava casos da guerra e teve, inclusive, se não me engano, tentaram prender o Dr. Walter Belian que era o Presidente da Antarctica porque naquele tempo, como a firma praticamente era alemã, o Dr. Belian era alemão e todos os chefes de cervejaria da Antarctica era tudo alemão. Então, por causa do nazismo e tal, o Governo tentou tomar conta dos bens dos nazistas. Eu sei que houve, me parece que houve qualquer coisa aí mas depois foi tudo solucionado e tudo, houve isso daí. Mas isso pelo que me contaram porque enquanto eu trabalhei lá não teve nada. Houve anteriormente. Você ouviu falar que aqui no Brasil tomaram conta dos bens dos nazistas, tiveram que mudar de nome. O Palestra Itália precisou mudar pra Palmeiras, lembra? Então todos esses casos aí houve, mas depois foi tudo solucionado. Eles tentaram tomar conta da Antarctica.
P2 – O senhor disse que entrou em 1944. O senhor sempre trabalhou em qual prédio? Na Mooca?
R – Acontece o seguinte, quando eu entrei o prédio era de uma forma, porque a Antarctica era uma coisa. Depois a Antarctica se tornou uma das maiores potências industrial do Brasil, ela chegou a ter 22 fábricas de cerveja em todo o Brasil. Então o prédio era um determinado prédio. Depois, com a evolução, esse prédio foi desmanchado, foi feito um outro moderno, mais atual, maior, porque o número de empregados ia aumentando. Eu quando entrei na Contabilidade, a Contabilidade fazia quase tudo numa firma que nem uma firma pequena onde o contador faz quase tudo, mas depois vai aumentando, vai progredindo, a empresa vai evoluindo. Então tinha Setor Pessoal, Setor de Compra, Setor de Venda, Setor de _____. Então cada setor, aí o prédio teve que ser ampliado, ser feito um novo prédio bem ampliado, com todos os setores, Setor de Importação, tinham todos os setores necessários pra empresa. Mas sempre lá na Mooca, sempre na Mooca. A Antarctica sempre foi na Mooca. A Fundação [Fundação Antonio e Helena Zerrenner] já era num local diferente, né?
P1 – Voltando um pouquinho pra trajetória do senhor então, o senhor trabalhou no Departamento de Contabilidade. E aí como é que foi?
R – Não, sabe o que acontece? Quando eu comecei a trabalhar na Contabilidade, eu comecei a progredir dentro da Contabilidade. Depois eu passei pro Faturamento, pro setor de máquinas de contabilidade, chamava Setor Mecanizado, depois eu passei pra um cargo de Assistente da Chefia, depois fui pra Sub-Chefe do Departamento. E depois de Sub-Chefe de Departamento eu praticamente, fazendo quase todos os serviços da Contabilidade, aí o departamento já tinha mais de 50 pessoas em todo o setor. E o que acontece é o seguinte. Como eu disse no começo, a Contabilidade fazia quase tudo, controle de vasilhame, controle das contas do INSS, naquele tempo era IPI [Imposto sobre os Produtos Industrializados], IAPTEC [Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Estivadores e Transportes de Cargas], e todos esses controles que hoje são difundidos nos vários departamentos, era quase tudo centralizado na Contabilidade. Então a gente pegou uma prática muito grande, uma experiência de tudo que se fazia. E com esse desdobramento todo que houve, que eu continuei na Contabilidade mas eu fiquei tendo uma experiência muito grande em todos esses controles, e a gente teve chance então de progredir por causa desse conhecimento, que eu às vezes ficava trabalhando até dez horas da noite ajudando as pessoas a fazer os controles e tudo. Para se ter ideia, a Antarctica tinha um controle tão perfeito, mas tão perfeito, em toda a parte de vasilhame, que antigamente existia os barris de madeira, hoje são barris de alumínio, são chamados autômatos hoje. E a turma casava, antigamente era comum. Hoje por exemplo tem festa em salões de festa, mas antigamente a turma casava em casa. Quase ninguém viajava, o casamento era em casa. Então a turma fazia pedido de chopps e a Antarctica mandava os barris de chopps. Isso no Brasil inteiro, mas mais em São Paulo. E tinha que ter um controle. Esses barris todos eram numerados. A gente sabia a qualquer hora: “Tal barril, tal número, onde está?” “Ah, está naquela casa.” “Devolveu? Não devolveu?” Às vezes a pessoa pedia o barril e ficava, devolvia depois de três dias, não devolvia, precisava mandar buscar. Então tinha um controle de tudo quanto era barril, de tudo quanto era vasilhame cheio, vazio. Era tudo controlado, era um controle perfeito, sem existir o computador. O negócio era trabalhoso mas a turma se dedicava, fazia tudo direitinho. Eu acho que depois que chegou o computador esses controles não são tão perfeitos como era antigamente, pelo que eu _____ e eu participei _______.
P1 – O senhor disse que também fez especialização em Finanças. Foi também dessa área ou o senhor ____?
R – Não, aí não era bem Finanças. Aí foi o seguinte. Eu até 1957 eu trabalhei na Contabilidade da Antarctica, depois me transferiram para a Fundação. A Fundação, que era dona da Antarctica, ela tinha um escritório, o Diretor Tesoureiro da Fundação, que era praticamente quem respondia por todos os controles da Fundação, contabilidades, controle de tudo, eu fui trabalhar, tinha um escritório chamado Escritório de Coordenação e Controle, e eu fui trabalhar como Assistente dele. E na Fundação, naquela época dentro da Fundação existiam 12 indústrias, as indústrias que produziam para a Antarctica, ela não vendia pra fora. Então lá tinha sapataria que fornecia as botas pra turma das fábricas da Antarctica. Tinha costura que fazia os uniformes da turma da Antarctica e tal. Tinha marcenaria, fazia as escrivaninhas, fazia os móveis da Antarctica, fazia tudo. Tinha mecânica que fazia as partes de todas as peças, vamos dizer, do maquinário da Antarctica, então tinha uma mecânica. Tinha uma mecânica de automóveis, por exemplo os automóveis da Antarctica quando quebravam iam lá pra Fundação consertar e tal, e a Fundação tinha as ambulâncias dela. Então tinha uma oficina mecânica, e inclusive tinha uma oficina de lavagem de carros. Tinha um laboratório de produtos farmacêuticos. A Fundação tinha um laboratório que era o seguinte, tinha perto de 300, quase 400 fórmulas de medicamento. E todos os funcionários da Antarctica não pagavam medicamentos. Eles iam no médico, tinha o ambulatório médico na Antarctica. E como essas fórmulas eram feitas por pessoal especializado da Fundação, eram farmacêuticos especializados e químicos que faziam essas fórmulas, a matéria prima dessas fórmulas era superior a qualquer remédio que vinha antes. Porque você sabe, o remédio, põe lá a composição do remédio, põe tantas gramas disso, tantas disso. Mas como era feito na Antarctica e não havia o interesse de vender mas sim de beneficiar o empregado, tudo era feito com material de primeira qualidade, material importado, e punha mesmo a quantidade suficiente. Então os médicos lá da Antarctica receitavam essas fórmulas para a turma que ficava doente, não tinha nada dessas, hoje em dia que tem, vamos dizer, anti-gripal isso e aquilo. A fórmula tal pra gripe tinha, cada fórmula tinha um número. E essa medicação era uma medicação, todo mundo queria, todo mundo, inclusive gente de outras empresas e tal às vezes iam lá pedir o medicamento, que era um medicamento especializado. Então tinha 12... inclusive os engradados da Antarctica que antigamente não eram feitos dessa embalagem de plástico, eram feitos em madeira, também eram feitos, porque eram feitos engradados de madeira. Não sei se chegaram a ver. Então também era feito na Fundação, tudo em função de fornecer pra Antarctica, está entendendo? A Antarctica pagava pra Fundação e a Fundação vivia disso daí mais os dividendos que recebia da Antarctica, não é? Então quando eu estive na Fundação, no Escritório de Coordenação e Controle, que fiquei sendo Assistente desse Diretor Financeiro, eu praticamente fiquei distribuindo todas essas partilhas, ver, coordenava tudo isso daí. Então peguei uma prática muito grande de toda essa parte industrial que depois foi acabando, com o tempo foi terminando. E uma das partes principais da Fundação, que eu também peguei muita prática, foi a parte beneficente. Porque a Fundação tinha, por exemplo, tinha o Hospital Santa Helena que era da Fundação, tinha ambulatório, tinha lar de idosos, tinha creche, tinha recanto infantil, tinha escola. Hoje a Fundação ainda tem a escola e o hospital está alugado para a Unimed Paulistana. Então também toda essa parte beneficente também eu ficava coordenando junto com outra pessoa, não era sozinho. Então ganhei bastante prática nisso daí.
P1 – Quanto tempo que o senhor ficou na Fundação?
R – Na Fundação eu fiquei de 1957 a 1967 nesse Escritório de Coordenação e Controle. Aí houve o seguinte, houve uma investida na Fundação, no Poder Público, que quiseram tomar conta da Fundação. E levantaram, houve um processo grande, inclusive tiraram a administração da Fundação e puseram uma administração provisória do próprio Ministério Público, e ficou aquela... E a Antarctica que ficou lutando com o Ministério Público pra provar que não era o que eles falavam, que falavam que a Fundação desviava os recursos. Ficou tudo provado, foram feitos laudos. Inclusive eu participei desses laudos com diversos especialistas porque eu conhecia bem essa parte. Ficou tudo provado no fim, mas ficou uns três ou quatro anos com essa administração provisória. Eu ficava lá também. E depois ficou tudo provado, aí a administração provisória se retirou e a Fundação passou a ter a sua vida normal como era antigamente. Então tudo isso, aí eu fiquei até 1967. Aí depois eu voltei pra Antarctica, aí já estava novamente a administração normal da Fundação. Aí na Antarctica eu fiquei como Assistente de um órgão de staff da Diretoria, depois eu fiquei encarregado do Departamento de Títulos e Valores e aí então fui me especializar em Mercado de Capitais. Inclusive, quando eu estava como encarregado do Departamento de Títulos e Valores é que começou a ser introduzida a computação nas firmas, e não eram os micro computadores. Quando veio, os primeiros computadores que vieram em todas as firmas de São Paulo eram computadores enormes que ocupavam uma sala inteira. Eram computadores, por exemplo, a Antarctica construiu um prédio para introduzir todos esses computadores, fazer o controle de todo o Brasil. Depois é que esses grandes computadores foram substituídos pelos micro computadores. Hoje as empresas trabalham mais na função do micro computador. Inclusive quando eu estava nesse Departamento de Títulos e Valores, que eu fui fazer um curso de Mercado de Capitais, eu tive na ocasião que fazer uma visita no Bradesco, na Cidade de Deus, como se chama, e ver os computadores que naquela época eles tinham. Os maiores computadores quem tinha era o Bradesco. O Bradesco tinha os maiores. Então nós fomos fazer uma visita lá, ver todo o sistema de controle do Bradesco e as micro-filmagens de cheque e como é que era feita a compensação de cheque no Banco Central. Então tudo isso daí eu tive ocasião de ver lá.
P1 – Em que época foi isso?
R – Foi entre 1967, que eu fui, e 1975, foram nesses anos. Porque depois houve o seguinte, eu saí da sessão de... depois de uma evolução, evoluiu, aí todo o serviço de controle de ações passou pra ser feito através dos computadores, todos os controles, que antes era feito tudo manual. E aí eu fui trabalhar num departamento que se chamava Departamento Tributário. Então era eu e mais uma pessoa, nós éramos os chefes do Departamento Tributário. Nós tínhamos vários auxiliares, tinha três advogados que trabalhavam com a gente. Então nós ficávamos com toda a parte tributária, e essa parte tributária houve o seguinte. Em 1964, quando o Castelo Branco tomou posse, ele fez praticamente uma revolução no Brasil. Porque o Brasil naquela época estava num período onde todo mundo devia, não pagava, inclusive pro Governo, o Governo não devolvia. E ele fez uma limpeza geral. E então a Antarctica criou um departamento tributário pra estudar todo... porque a Antarctica, pelo menos que eu me lembre, nunca lesou o fisco em R$ 0,10, nunca. Mas tinha esse caso de interpretação. Às vezes sai uma lei, você interpreta de uma forma ou interpreta de outra, então entram as ações, entram os advogados, a interpretação é dessa forma. Não era lesar o fisco, a Antarctica sempre pagou tudo em ordem, mas tinha casos de interpretação diferente. Então tinha uma porção de processos junto ao Ministério Público. Então o Dr. Belian, naquela ocasião que o Castelo Branco começou a demitir todos os fiscais de imposto de renda, também demitiu, pôs tudo gente nova, procurou fazer uma limpeza. Então ele criou esse departamento com uma série de pessoas, inclusive estava eu, e nós ficamos estudando dia e noite sem parar todos os processos porque ele falou: “Tudo que estiver em dúvida, nós vamos pagar tudo, nós vamos pagar tudo.” E o Governo devia também pra Antarctica. O Castelo Branco também mandou pagar tudo. Então normalizou tudo, tudo. O Governo Castelo Branco foi, a meu ver, um dos maiores governos que o Brasil já teve em questão de fazer uma limpeza geral mesmo, fazer um negócio em ordem, tanto que dizem que mataram ele, não sei. Mas eu que estive com minha esposa numa excursão lá no Ceará e lá tem uma praça onde tem o mausoléu do Castelo Branco e lá tem o avião e uma praça, o avião que derrubaram ele e o avião da FAB [Forças Armadas Brasileiras] que derrubou ele. E lá no mausoléu consta taxativamente que ele foi derrubado, o avião da FAB derrubou o avião dele e matou. Consta isso, até hoje parece que tem isso lá. Eu estive numa excursão e tive ocasião de ver isso daí, onde consta taxativamente que ele foi derrubado de propósito. É tanto que os dois aviões estão numa praça lá onde tem isso daí.
P1 – Bom, o senhor tocou nesse assunto da relação da Antarctica com o Governo no começo do regime militar. E depois, posteriormente, com os outros presidentes, como que foi essa relação com o Governo?
R – Ah, sempre foi boa, sempre foi ótima. A Antarctica sempre procurou e sempre agiu da melhor forma possível. Então isso tudo pegou um transcorrer normal como até hoje tem, tudo normal. Mas naquela época, quando o Castelo Branco entrou, que foi a ditadura, que houve aquele caso do João Goulart e tal e coisa, aquele negócio que estava virando uma bagunça, foi o que normalizou tudo. Eu inclusive tive oportunidade, quando eu fui transferido pra esse setor tributário, eu fui _________ por uma questão o seguinte, porque naquela época eu fui Diretor-Secretário do Sindicato dos Contabilistas. E no Sindicato dos Contabilistas aconteceu o seguinte, o Castelo Branco tirou todos aqueles fiscais antigos e mandou tudo embora, fez uma limpeza, e mandou vir fiscais novos. E saíram, na ocasião saíram mais de 100 leis reestruturando toda a parte tributária do Brasil. Então esses fiscais vinham no sindicato estudar junto com a gente as novas leis, porque eles também tinham que estudar as novas leis porque era tudo coisa nova. Então eles iam lá e a gente estava lá. A gente ficou conhecido de todos aqueles fiscais e tudo. Isso me ajudou muito porque o que a gente estudava lá eu ia lá na Antarctica e ajudava também. Mas era muito bom.
P1- E depois do regime militar então, com a liberação da economia, como é que foi o processo pra Antarctica?
R – O processo foi normal, um processo de evolução normal. A Antarctica quando se viu continuou prosperando cada vez mais. Ela expandiu. Ela, como eu disse, ela chegou a ter 22 fábricas em todo o Brasil. Expandiu bem e tudo. E depois eu fui, ________, eu fui ser Assessor de um Diretor da Antarctica. Quando eu saí desse setor tributário eu passei a ser Assessor de um Diretor da Antarctica e depois então me mandaram novamente pra Fundação onde eu fiquei de 1975 até 1999. Na Fundação eu fiquei uma série de anos atrás, fiquei até 1985 como Assistente do Provedor da Fundação e depois eu passei a Diretor Tesoureiro da Fundação, aí eu fiquei tratando de toda a parte contábil da Fundação, toda a parte financeira da Fundação, até a hora que eu me aposentei.
P2 – O senhor falou da Antarctica e da Fundação. O que o senhor pode nos contar da Arca?
R – A Arca? A Arca [Associação Recreativa e Cultural Antarctica], eu não fui fundador da Arca mas ela foi fundada no meu tempo. Eu pertenci ao Conselho Consultivo da Arca, eu era Secretário do Conselho Consultivo. A Arca era uma instituição feita pelos empregados, operários que pagavam uma ninharia, vamos dizer, vamos supor hoje, R$ 1,00 por mês, equivalente na moeda antiga. E ela então, o objetivo da Arca era patrocinar aos operários da Antarctica, inclusive o pessoal do escritório, lazer. Então tinha bocha, tinha bola ao cesto, e tinha jogadores bons de bola ao cesto, tinha futebol, tinha bailes. Antigamente a turma casava, como eu falei, todos os casamentos eram feitos nas próprias casas. Quando começou a ter salões, então a Arca alugava o salão pra turma. O empregado não pagava nada, mas se tinha um parente que ia casar, um irmão, então alugava o salão e era um rendimento pra sustentar o clube. Então a Arca foi, vamos dizer, uma instituição dos operários que o objetivo era proporcionar aos operários, porque na hora do almoço a turma ia lá, jogava dama, jogava xadrez, ia jogar bocha. E depois do horário, do trabalho, então tinha jogo de bola ao cesto, futebol aos domingos, sábados e domingos. Era um clube, podemos dizer, esportivo, mas sempre voltado para os operários e empregados da Antarctica. Inclusive a Arca teve um negócio digno. Eu acho que foi uma das primeiras associações a criar um curso de alfabetização de adultos. Nós pagávamos duas professoras e todos os operários da Antarctica que não sabiam ler e escrever, depois do horário eles iam lá pra aprender, alfabetizar a turma. E alfabetizaram, muita gente foi alfabetizada lá pela Arca?
P1 – O senhor frequentava bastante a Arca?
R – Frequentava muito, frequentava. Todo mundo frequentava porque era pregado, era dentro da Antarctica. A Arca era quase dentro da Antarctica.
P1 – Os funcionários da Fundação participavam da Arca também?
R – Participavam, participavam. Depois acabou a Arca, depois a Antarctica precisou de todo aquele terreno, tudo, precisou pra expansão dela. Porque o terreno todo a Antarctica emprestou pra Arca, não é? E ela precisou, aí foi cedido novamente. Hoje em dia o que existe lá, por exemplo o salão de baile ainda existe lá. O salão de baile foi construído com o dinheiro, a Antarctica dava uma contribuição mensal, um auxílio mensal. Mas também, com a arrecadação que a turma fazia conseguiram construir salão de baile, quadra de bola, foi tudo construído pela Arca, a quadra de bola ao cesto, tudo isso. Hoje ainda existe isso lá. A turma da AmBev que está lá utiliza, entendeu? Utiliza. E a Arca também fazia festa de fim de ano, a Antarctica fornecia os chopps e tudo, e tinha festa. Era um negócio muito bom. Tanto que a Antarctica, antes de... eu não cheguei a fazer parte disso, mas antes de se fazer a fusão com a Brahma os aposentados uma vez por mês iam lá nos salões da Arca, que já tinha acabado a Arca, a Antarctica e tal, e a Antarctica fazia uma festa todo mês para os aposentados, a comida, a bebida. Faziam uma festa geral, davam presentes, uma porção de coisa.
P1 – Deixa eu perguntar uma coisa pro senhor. O senhor chegou a frequentar o Teatro Cassino Antarctica?
R – Não.
P1 – O senhor tem alguma lembrança do Teatro Cassino Antarctica?
R – Não. Eu sei que era lá perto da Praça do Correio, lá perto, mas eu nunca... Eu frequentei o Pinguim [Choperia Pinguim] uma ou duas vezes que era um dos maiores bares musicais onde a turma ia tomar Chopp, só Chopp, Chopp e comer petisco, essas coisas, que era o antigo Pinguim, que era também da Antarctica. Mas fui lá umas duas vezes só.
P1 – Eu queria que o senhor dissesse um pouquinho sobre a figura do Sr. Walter Belian.
R – O Dr. Walter Belian, bom, eu não sei como é que vai começar porque eu conheço bem a história do Dr. Walter Belian falada, muita coisa contada. A história dele começa na Fundação, não começa na Antarctica. Ele foi para a Antarctica, ele era Diretor Superintendente e ele sempre foi um Diretor... O espírito alemão sempre foi um espírito dominador, ele gostava de dominar. O alemão gosta de mandar. Mas tem uma coisa, eles são muito bons de coração. O Sr. Belian foi um homem que, pelo cargo que ele ocupou, ele morreu pobre. Ele ganhava dinheiro, ele distribuía o dinheiro para os motoristas. A turma chegava: “Ah, Dr., eu estou ruim. Minha família está precisando isso e aquilo.” Ele dava. Ele era um homem que, ao mesmo tempo que ele gostava, devido à própria origem dele, de mandar, ele era um homem que ele sabia reconhecer o valor dos empregados. Hoje em dia, depois ninguém mais soube reconhecer. Tanto que você fazia um trabalho, depois de um mês ele te chamava e te dava: “Olha, você fez um trabalho muito bem.” Depois que ele saiu... Todo administrador, você pega, você faz um trabalho pra empresa, eles podem falar: “Está bem feito, está mal feito.” _______. Ele era diferente. Você fazia um trabalho, ele escrevia um elogio de dez linhas: “Ótimo trabalho, muito bem feito, gostei tal e coisa. Esse empregado merece uma gratificação, merece um...” Era desse tipo, era um tipo que reconhecia. E depois tem uma coisa que tudo que era bem, beneficente que a Fundação faz, se bem que isso aí veio do Antônio e Helena Zerrener eles foram os donos, mas ele foi o que introduziu tudo e que toda beneficência feita era ele. Porque ele tinha uma coisa, ele era idealista. Ele não era um empresário que objetivava o lucro, quer dizer, ficar rico. Não. O objetivo dele e da irmã dele, daquela Dona Erna, era o objetivo idealista, fazer benefício. Quanto a isso eu vou até fazer um parênteses pra dizer, eu não sei se eu estou falando muito. Se tiver, vocês me desculpem. Mas o negócio era o seguinte, quando fundou-se a Fundação, o interesse da Fundação, que vinha do Antônio e Helena Zerrener, era prestar ao empregado da Fundação, ao empregado, vamos dizer, uma assistência após a aposentadoria deles. Porque antigamente o empregado entrava na Antarctica era pra ficar a vida toda, e só mandava embora um empregado que não prestava mesmo, ou relaxado. Mas não era que nem hoje em dia: “Bom, precisamos fazer um corte de tantos elementos.” Não existia isso, não existia. O empregado entrava na Antarctica era pra trabalhar a vida toda. Então quando o empregado chegava aos 35 anos geralmente se aposentava, 35 anos de contribuição ao INSS. E aí ele, já quando trabalhava ele tinha todos os direitos da Fundação, mas aí ele passava a ser assistido pela Fundação. Não financeiramente, mas com assistência hospitalar, ambulatorial, medicamentos, tudo que precisava. Inclusive eu hoje, eu não sou beneficiário da Fundação devido a uma interpretação que a atual diretoria está dando, mas eu sou assistido. Então a AmBev paga pra mim toda a minha assistência. Foi um acordo que eu fiz, porque quando eu cheguei em 1999, na época que houve a fusão Antarctica e Brahma o pessoal da Antarctica quase todo foi mandado embora, inclusive meu filho e eu também me encostei. Eu tinha 55 anos de casa e me encostaram na parede. Então eles fizeram uma proposta pra mim, que eles me dariam a Fundação, quer dizer, a Fundação, os benefícios da Fundação se eu pedisse demissão. Como o meu fundo de garantia era muito pequeno porque eu tinha comprado um apartamento, quase não tinha fundo, eu aceitei. E eu acho que foi uma grande coisa porque minha esposa que faleceu, se eu fosse pagar os cinco anos que ela teve de ajuda da Fundação, durante cinco anos teve várias vezes internada na UTI e tal, eu calculo acima de 50 mil reais o que a Fundação deu tudo de graça pra ela. Foi um benefício enorme. Então a finalidade, voltando ao Dr. Belian e Dona Erna Belian era isso, era... porque acontece o seguinte, eles vinham com o pensamento do casal Zerrener. O casal Zerrener quando deixou a herança dele para a constituição da Fundação, o quê que ele queria? Como naquele tempo não existia o INSS, não existia nenhum instituto de aposentadoria, eles queriam criar uma Fundação pra inclusive empregados das firmas deles, não era só da Antarctica, eles tinham diversas firmas. Tinha a Companhia Cafeeira, tinha a Progresso, tinha um hotel lá em Poços de Caldas, tinha uma porção de empresas. E queriam que os empregados deles, além da assistência enquanto eles fossem empregados dessas firmas, tivessem um amparo, vamos dizer, de beneficência, através dessa Fundação, que não deixasse... Depois veio o INSS, porque a Fundação foi formada em 1936 e o INSS surgiu em 1938, dois anos depois. Aí veio esses benefícios normais, que o INSS dá atendimento às pessoas. Mas naquele tempo não existia, então eles tinham essa preocupação, queriam que os empregados não fossem abandonados depois de velhos. E esse foi e é o espírito da Fundação. O espírito da Fundação é dar assistência aos empregados das firmas do casal Zerrener.
P1 – E quanto à irmã do Dr. Walter, a Sra. Erna. O senhor tem alguma imagem dela?
R – Tenho, tive muito contato com ela. Ela era também da mesma índole do Dr. Belian , era até mais. Então ela, quando veio da Alemanha, praticamente veio pra Fundação e ficou na Antarctica também como Diretora da Antarctica, ficou também como Diretora da Fundação. E ela também, nessa parte beneficente, ela fazia de tudo, se dedicava de corpo e alma, amparava todo mundo. Todos que precisavam ela procurava auxiliar de tudo quanto era forma. Do casal Zerrener, do Dr. Belian e da irmã dele, a Dona Erna, eu só posso dizer que eles foram um ideal. Não é comum, é bem diferente do que temos por aí.
P1 – Sr. Hermenegildo, eu gostaria que o senhor dissesse se teve alguma campanha da Antarctica, de algum produto que tenha chamado a atenção, que o senhor se recorde.
R – Teve diversas campanhas, mas sabe o quê que é? Eu vou ser sincero, eu estou com 77 anos, não lembro, eu lembro de muita coisa, mas não lembro. A Antarctica teve diversas campanhas da Jovem Guarda, na época da Jovem Guarda. Teve, por exemplo, lançou produtos que eu não lembro agora o nome, produtos, refrigerantes e produtos alusivos a determinadas datas. Houve uma época que o Presidente de Portugal veio aí acompanhar, a Antarctica lançou a Cerveja Portuguesa. A Antarctica teve uma série de cervejas, Hamburguesa, Portuguesa, Faixa Azul, uma série que eu não lembro agora. E refrigerantes também, teve uma série de refrigerantes. Lançavam na época que tinha essas campanhas e tal. A Antarctica, por exemplo, eu lembro de uma campanha, por exemplo, quando tinha antigamente, agora não tem mais, os grandes tenores. Gino Becker (?) e outros vinham no Municipal cantar aqui. A Antarctica patrocinava esses grandes eventos dos maiores tenores do mundo que vinham no Teatro Municipal cantar. A Antarctica patrocinava, os empregados ganhavam as entradas pra ir assistir e havia um patrocínio muito grande. A Antarctica sempre patrocinou, de grandes eventos que houve, é que assim de momento não dá pra lembrar de todos, mas os grandes eventos a Antarctica sempre esteve presente.
P1 – Tinha algum produto que o senhor gostava, consumia com mais frequência?
R – Todos eles da Antarctica. Eu não sou amante de bebida. Eu bebo a cerveja com moderação, mas esses refrigerantes e tudo, sempre. A Antarctica teve muitos refrigerantes, que eu não lembro o nome agora, mas gostosíssimos, os refrigerantes muito bons. E o guaraná sempre se destacou de todos, guaraná. Um produto que muita gente hoje em dia, continua na praça e que só toma gente, é a Água Tônica, que faz um bem danado. A Água Tônica da Antarctica é à base de quinino e faz um bem danado pra aparelho digestivo e tudo. Eu tomo de vez em quando Água Tônica, eu gosto muito. E tem diversos produtos, a Soda Limonada.
P – São dos mais antigos esses.
R – É.
P – Sr. Hermenegildo, como que o senhor recebeu a notícia da fusão entre a Brahma e a Antarctica?
R – Oh, o negócio que eu recebi foi interessante, porque eu trabalhei até março de 1999, mas o acordo que eu fiz com a Antarctica de sair foi em dezembro de 1998. Naquela época a Antarctica estava pra fazer uma fusão com o Budweiser, que é a maior companhia dos Estados Unidos. E quando eu saí estava tudo caminhando pra fazer a fusão com a Budweiser. Eu saí em março porque eu era Diretor-Tesoureiro da Fundação e meu mandato terminava em março, então eles combinaram pra eu ficar até março pra depois ter a eleição de um outro Diretor. E eu saí, era assim. Depois foi parece que em agosto, julho, agosto, setembro no mesmo ano, aí houve a fusão com a Brahma que eu praticamente não soube porque que não houve a fusão com a Budweiser. Estava tudo, inclusive quando eu estava na Antarctica tinha caminhões da Budweiser dentro da Antarctica. A Budweiser era que estava lá, mas depois não sei o quê que houve. Eu acho que não deu certo alguma coisa, aí houve a fusão com a Brahma.
P1 – O senhor acompanhou um pouquinho desse processo com a Budweiser?
R – Não. Eu só sabia porque estava lá dentro. Eu estava na Fundação, a gente sabia. Tinha os caminhões da Budweiser lá dentro, sabia que estava havendo, a turma vivia viajando, os diretores e os advogados viviam viajando pros Estados Unidos, pros contratos. A Budweiser tinha parece que feito um escritório aqui em São Paulo, não sei. Mas não posso afirmar nada porque não participei dessa parte, só ouvi. Ouvi e sabia que a diretoria ia e voltava. E quando eu saí, em março, estava tudo caminhando pra essa fusão com a Budweiser. Não seria bem uma fusão, é, seria uma fusão. Eles iam constituir uma firma aqui. Depois parece que saiu de, não soube porque que não foi feito, e depois eu fiquei sabendo da fusão com a Brahma, mas aí eu já nem pertencia mais à Fundação nem nada.
P1 – E essa última fusão, o senhor tem algum comentário a fazer com a _________?
R – Eu soube porque acontece o seguinte. Eu atualmente, depois que eu fui desligado, questão de uns dois anos, dois anos e pouco pra trás. A Fundação tem o seguinte, pra entender bem. A Antarctica antigamente tinha o Conselho Orientador, a Mesa Administrativa da qual eu fui Diretor Tesoureiro. E a Mesa Administrativa tinha um setor que se chamava Comissão Permanente de Beneficência e Sindicância, Copebes, Comissão Permanente de Beneficência e Sindicância. Essa comissão ficou constituída por sete diretores da própria Mesa Administrativa que tratavam de todos os casos, vamos dizer, que fugissem à rotina, porque a Fundação tem os benefícios normais que são normais, que são dados normalmente. Então esses próprios setores executam esses benefícios normalmente, quer dizer, coisa normal, atender o doente no hospital, tudo normal. Agora, aqueles casos que fugiam à normalidade mas que mereciam uma atenção especial iam pra essa sessão chamada Copebes constituída de sete diretores. Então esses casos extras, vamos chamar, mas tudo de empregado da Antarctica e beneficiários, mas que não era um benefício normal, iam pra essa comissão. Essa comissão se reunia uma vez por mês fora da Mesa, estudava os fatos, dava um parecer, voltava pra Mesa Administrativa, a Mesa Administrativa geralmente atendia e fazia. Com a fusão da Brahma e da Antarctica o estatuto da Fundação foi alterado, então sumiu a Mesa Administrativa. Hoje quem administra a Fundação é o Conselho Orientador e são os antigos diretores da Antarctica que também eram do Conselho Orientador da Fundação. E essa condição de beneficência e sindicância passou a fazer parte da estrutura administrativa da Fundação porque a Mesa não existe mais. Então questão de dois anos atrás eles me chamaram pra saber se eu queria fazer parte de uma forma gratuita, não ganho nada porque nenhum membro diretor da Fundação não pode ganhar nem um tostão por lei. E como eu era empregado antigo, conhecia, fui Diretor Tesoureiro, conhecia tudo, eles me chamaram para fazer parte junto com outros colegas também da Antarctica e alguns antigos membros dessa comissão, porque uns morreram e tal e coisa, e como criou vagas me chamaram se eu queria fazer parte. Eu, como sempre fui agradecido à Fundação e à Antarctica, não podia dizer que não porque eu estou recebendo os benefícios assistenciais da Antarctica. E depois, não por causa disso mas mais porque eu sei que isso aí é uma coisa que me deixa bastante honrado saber que eu posso fazer alguma coisa por um colega meu. Porque todos que precisam são antigos funcionários da Antarctica que estão em situação ruim, que foge à normalidade. São situações, por exemplo, o camarada tem um derrame, a mulher morreu, os filhos não querem saber do camarada, então não tem ninguém pra tratar dele. Então não é caso de hospitalização, é caso de ficar em casa. Então vêm os casos pra gente estudar, então a gente estuda, põe uma enfermeira pra tratar da pessoa, paga a enfermeira. Quer dizer, são todos casos tristes, casos bastante tristes, mas pra mim é uma coisa que me faz bem poder fazer algo, porque são todos velhos empregados que a gente conhece, antigos colegas da gente a maior parte, tanto da Antarctica como da Fundação. Então essa comissão continua até hoje. Eu vou uma vez por mês na Fundação me reunir com esses sete membros, eu e mais seis, pra estudar esses casos. E todo mês aparece um, dois, três casos, então a gente estuda o que pode se encaixar dentro do estatuto, como é que a gente pode fazer, mas sempre a gente ajuda, nunca deixa de ajudar, de forma nenhuma. A gente sempre ajuda. Isso pra mim dá uma satisfação intima muito grande.
P1 – Legal. Sr. Hermenegildo, durante todos esses anos de companhia e Fundação teve algum fato marcante que o senhor queira relatar, deixar registrado pra gente?
R – Fato marcante tem um monte, mas eu não sei que tipo de marcante que seria. Existiam casos até hilariantes, casos, parece piadas, fatos que aconteciam, isso no desenvolvimento de uma empresa e tal. E antes acontecia muito mais porque antigamente, quando eu entrei na Antarctica era chamado família antarcticana porque era diferente do que existe hoje. Por exemplo, a turma era tudo unido, era tudo como se fosse uma família. Então um fazia aniversário, ia todo mundo na casa dele. O camarada casava, ia todo mundo na festa de casamento. A gente saia, quando não trabalhava fora de hora: “Vamos jogar snooker”, ia todo mundo. A gente sempre ia em conjunto e por isso ficou sendo chamado família antarcticana, porque todos, não havia muitos empregados de escritório, vamos supor, porque estou falando da parte de escritório. Tinha a parte de operariado também, mas também o operariado era muito unido. Então existia essa união. A gente saia, ____ a gente tinha bonde, “Vamos tomar o bonde e vamos pra cidade.” Ia todo mundo tomar o bonde e ia pra cidade. Então existia essa união muito grande, e isso daí é uma coisa que hoje não existe, é uma coisa diferente de hoje que acontece. É muito importante isso daí. Agora, fatos, houve diversos fatos, muita coisa, que é difícil lembrar de tudo. Sempre tem casos, casos que até parece anedota. Uns casos que a gente conta, até a turma dá risada, parece anedota. É inacreditável mas acontece.
P1 – O senhor não lembra de nenhum pra gente?
R – Eu posso contar um que me contaram também, que foi anterior à minha ida. Porque antigamente, como eu disse, a Antarctica entregava bebida com carroça, antes de eu ir pra Antarctica. Isso quem me contou foi meu padrinho, são fatos verdadeiros. Então geralmente os cocheiros dessas carroças eram portugueses. Não sei se vocês têm descendência portuguesa, se tiver você desculpe mas é um fato que aconteceu. Então, não sei se vocês conhecem, tem a Rua da Mooca e a Antarctica ficava mais ou menos na metade da Rua da Mooca. A primeira travessa da Rua da Mooca, de quem vem da cidade, chama-se Wandenkolk. Essa Rua Wandenkolk existe, vocês podem passar lá e ver. É escrito com w, c, k, clock, tudo com ortografia antiga. O nome também deve ser de alguém estrangeiro, Wandenkolk. Então diz que o português saiu com a carroça, pegou a Rua da Mooca e ia pra cidade. Foi indo, foi indo, e chegou no fim da Rua da Mooca e entrou na Rua Wandenkolk. Ele entrou na Wandenkolk, chegou na metade da rua o burro morreu. Ele precisava telefonar pra Antarctica pra avisar, que a carroça estava cheia de bebida e o burro tinha morrido. Aí ele viu lá a rua e não conseguia ler Wandenkolk lá. Não conseguia ler Wandenkolk, o quê que ele fez? Ele desamarrou o burro, puxou o burro pra Rua da Mooca, telefonou e falou: “Olha, o burro morreu e está na Rua da Mooca.” É fato verídico.
P1 – Fez bem, né?
R – Como ele não conseguia ler, ele teve a pachorra de tirar o burro da carroça, puxar o burro pra Rua da Mooca. É um dos fatos, mas tem centenas de casos de dar risada.
P2 – O senhor falou dos cocheiros portugueses. Existia outros funcionários de outras nacionalidades?
R – Tem. Eu vou citar um caso. Quando eu trabalhava na Contabilidade a Antarctica dava... quando eu entrei na Antarctica o almoço que a Antarctica dava, que era feito por uma esposa de um dos chefes de sessão que trabalhava lá, era pior que banquete. No mínimo de oito a dez pratos, todo dia. Mas coisa fina, com capricho, porque o alemão sempre foi um povo muito limpo, de muita higiene. E tinha isso daí. E a maior parte dos cervejeiros, dos chefes de cervejaria, tinha muito empregado alemão. Então o Dr. Belien, como era um homem que gostava muito de todas as coisas em ordem, tudo direito, tudo 100%, ele como tinha muita, às vezes, não é que tinha reclamação na comida. A turma não gostava de um prato, queria um outro prato, ta entendendo? Então ele nomeou uma comissão, porque tinha dois restaurantes, o restaurante do pessoal do escritório e o restaurante dos operários, mas a comida era quase praticamente a mesma porque também o operário tinha um restaurante, um refeitório espetacular. Então ele nomeou uma comissão que se chamava Comissão Fiscalizadora dos Refeitórios e também me chamaram pra fazer parte. Então fazia parte eu como funcionário da Contabilidade daquela época, o Gerente Geral da Antarctica, o Chefe dos refeitórios. Tudo era feito dentro da Antarctica, cozinha, tudo. Tinha um médico e tinha um representante, eu era o representante do pessoal do escritório e tinha um representante dos operários. Então éramos em cinco. Então duas vezes por mês, na quinzena nós nos reuníamos e fazíamos o menu pra quinzena seguinte. Segunda feira, ta, ta, ta ,ta, ta,ta. Terça, isso, quarta isso. Havia essa briga porque os alemães queriam tudo comida alemã, chucrutes com aquele joelho de porco e não sei o que, e o brasileiro não gostava muito disso, o brasileiro não queria. Então havia essa discussão porque o alemão queria todo dia. Então, como nós fazíamos o menu, a gente procurava dividir um pouco pra contentar um, contentar o outro. Como a maior parte eram brasileiros a gente sempre dava preferência à comida brasileira, tanto no refeitório dos operários quando no refeitório do pessoal do escritório. E a cada 15 dias então a gente fazia o menu ____. Além disso, todo dia às 10 horas eu, o representante dos operários, o médico e o gerente, nós íamos nas cozinhas provar a comida pra verificar. O médico então via se a comida que era feita continha a quantidade de vitaminas, a quantidade de componentes que não fossem prejudiciais à saúde. Ele examinava sob o aspecto médico, agora nós pensávamos mais no aspecto de gosto, sabor etc e ta ta ta ta. Depois dos almoços nós voltávamos aos refeitórios pra medir as sobras. Se uma determinada comida sobrou muito num dia é porque aquela comida não está tendo grande aceitação. Então quando nós fôssemos fazer um outro menu, aquela comida nós já deixávamos de lado. Então nós medíamos todas as sobras. O que faltou, então maior quantidade, o que sobrou muito. Então a gente aquilatava mais ou menos o gosto do pessoal dos refeitórios. Além disso, toda a comida que sobrava, sobrava comida de monte, a Antarctica tinha um canil no Ibirapuera. Não sei se vocês ouviram falar, um canil que tem no Ibirapuera, inclusive tem um hospital de cachorro no Ibirapuera. Faz pouco tempo isso que não tem mais. Faz uns 10 anos mais ou menos que sumiu isso. Então toda a comida que sobrava ia pro canil porque a Presidente do canil era uma alemã que adorava bicho, gato, cachorro e tal. Então tinha relação como os alemães lá da Antarctica. Então todo dia ia um caminhão da Antarctica levar toda a comida pros cachorros e gatos do canil. Toda sobra ia lá, e tudo coisa boa. Era sobra, não é resto. Sobra que sobrava nas travessas, não era resto. Isso também é um ponto interessante do canil da Antarctica.
P1 – Sr. Hermenegildo, a gente está terminando a entrevista. Eu queria saber o que o senhor acha dessa proposta da AmBev de estar recuperando a memória da empresa através dos funcionários?
R – Eu acho ótimo. Inclusive eu não sei como é que vocês estão participando. A Antarctica tinha, quando eu saí, um grande museu. Lá nesse Museu da Antarctica eu lembro do chefe desse setor no museu, não sei se está vivo ainda.
P1 – O Sr. Hedmir Linguitte?
R – Hedmir, Hedmir [Fundador e Curador]. Ele tinha tudo lá. A Antarctica, durante as festividades dela de 75 anos, lançou uma espécie de uma revista dessa grossura contando toda a vida da Antarctica, a formação da Antarctica, como foi a fundação, tem tudo lá. E lá tinha também todas as impressões, os impressos que a Antarctica lançou, toda a vida dela. Tem uma série enorme de folhetos, revistas e tudo, alusiva inclusive a essas campanhas que eu falei de publicidade. Tinha tudo, tudo, nesse... Não sei se vocês tiveram o ensejo de ir nesse... Vocês foram lá? Lá tem tudo. Tudo o que eu falei, lá tem dez vezes mais ou 20 vezes mais. Lá tem tudo. Vocês lá encontram tudo sobre a Antarctica e Fundação.
P1 – Ok.
R – Eu não sei se falei demais.
P1 – Foi ótimo. Obrigada pela presença do senhor. A gente agradece.
R – Que nada.
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