Histórias que Iluminam
Depoimento de Alexandro Nascimento Genaro
Entrevistado por Joice Paes
São Paulo, 16/05/2016
Realização Museu da Pessoa
HQI_HV11_Alexandro Nascimento Genaro
Transcrito por Mariana Wolff
MW Transcrições
P/1 – Queria que você começasse falando para a gente qual que é o seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Sou Alexandro Nascimento Genaro, nasci aqui em São Paulo, dia 20 de janeiro de 1974.
P/1 – E seus pais?
R – Meu pai e minha mãe, eles são aqui de São Paulo também, mas meu pai é de descendência italiana e minha mãe é descendência indígena, mas daqui de São Paulo também, a família toda é daqui de São Paulo.
P/1 – E qual que é o nome deles?
R – Miguel Luís Carlos Genaro e Maria Aparecida do Nascimento Genaro.
P/1 – E você sabe como foi essa vinda da família do seu pai para cá?
R – Eu sei pouco da vinda deles, mas acho que foram meus bisavós que vieram para cá, eu não sei direito dessa história, até minha avó já é falecida, tudo mais, então eu acabo não tendo muito sobre essa informação, sobre essa parte, entendeu?
P/1 – E o que os seus pais faziam?
R – Meu pai era tipógrafo e como eu, a profissão se acabou com a tecnologia, né? E a minha mãe era costureira, que ainda é costureira ainda até hoje, mas só agora, trabalhos pequenos.
P/1 – Como que era a rotina deles, assim? Que lembranças você tem dessa época? Você chegou a conhecer o lugar que o seu pai trabalhava?
R – Sim, eu cheguei a ir no trabalho dele, tudo mais. Era ali na Bresser. Ele trabalhava com umas placas, onde ele como tipógrafo, ele montava placas com as folhas, só que era feito com umas letrinhas que eles encaixavam naquela forma, aí colocava para fazer a impressão, bem diferente de hoje. E minha mãe, ela tinha uma oficina em casa, tinha 12 máquinas de costura, ela tinha uma equipe dela, aí era na parte superior da minha casa, na laje, um galpão que tinha e ela trabalhava lá.
P/1 – E você tem irmãos?
R – Tenho três irmãs mulheres, uma é professora, uma é policial civil e a outra, ela trabalhava na Natura, eu acho que na parte de química.
P/1 – Você é o mais velho? Mais novo?
R – Não, eu sou do meio (risos). Eu tenho a minha irmã mais velha, que é professora e para baixo, a policial, e a que trabalha na parte de química da Natura.
P/1 – Quando você era criança, assim, como que era o convívio na sua casa, com seus pais, suas irmãs?
R – Olha, eu vou te falar, eu tive sorte de ter excelentes pai. Não é porque eu estou dando entrevista, mas meu pai era muito participativo dentro da casa, mesmo ele trabalhando muito, meu pai além de trabalhar como tipógrafo, ele também fazia muito bico, mas ele estava sempre junto, sempre passeando, ensinando a fazer comida, alguma coisa do tipo assim, ele sempre estava ali. Agora a minha mãe era mais brava, minha mãe ali, ela que era a chefe da família ali, ela que botava tudo nos eixos ali, entendeu? Mas a relação da gente sempre foi muito boa, tanto na infância, quanto na juventude, sempre foi muito boa, eu sou da época em que a gente brincava na rua, sempre, eu e as minhas irmãs. A gente cresceu brincando na rua com os amigos. Vou te falar, eu tive uma ótima infância. Comecei a trabalhar cedo também, porque na época, não faz tanto tempo atrás, mas a gente precisava já começar trabalhar cedo. Eu comecei a trabalhar com 14 anos de idade, primeiro registro meu foi com 14 anos de idade, minha carteira profissional novinha, eu tirei com 14 e já comecei a trabalhar, de office-boy.
P/1 – E você sabe como os seus pais se conheceram?
R – Olha, é complicado, mas eu acho que eu nunca perguntei isso para eles, eu nunca ouvi o que eles falaram. Eu lembro deles terem comentado que eles iam para festas, sabe, festas de rua, bairro, assim. Alguma coisa do tipo, que eles se encontraram dessa forma, né? E se casaram. Agora, como eles se conheceram, eu não me lembro, não tenho nenhuma recordação assim, deles terem comentado isso.
P/1 – E do casamento, eles contaram alguma história? Teve festa?
R – Eles só casaram no civil. Então, só foi no civil, acho que não teve festa, entendeu? Não tem fotos disso, não tem nada disso, mas acho que eles se casaram só no civil e acho que foi isso, acho que eles foram morar antes juntos, aí depois que eles se casaram, aí eles se casaram só no civil. Mas foi só isso, mesmo. O meu pai não tinha religião, ele não gostava de religião, ele não falava muito, sabe? E se ele falava, ele sempre tinha uma frase, sabe perfeita para a coisa, tipo: “Isso não vai mudar nada na minha vida”, tipo assim, uma coisa do tipo assim. Já a minha mãe era católica, ela frequentava a Igreja Católica, eu já era adolescente, tudo, ela mudou para a igreja crente, como que é o nome mesmo?
P/1 – Evangélica?
R – Evangélica, isso. Ela mudou para a Igreja evangélica, onde até hoje ela ainda frequenta, mas não com frequência, ela vai de vez em quando.
P/1 – E você comentou que o seu pai te ensinava a cozinhar, que tinha esse convívio bem próximo, você lembra de algum costume, assim, que a sua família tinha, alguma tradição?
R – Meu pai adorava massas, minha avó fazia uma massa, que meu Deus do céu, minha avó era… meu pai levou isso para a minha casa também, domingo, era sempre macarrão, macarrão com aquele molho à bolonhesa ou porpeta, lá, alguma coisa do tipo. Era isso de domingo, frango assado, alguma coisa do tipo assim, com massa. E normalmente, meu pai que ia para a cozinha no domingo e fazia alguma coisa, né? No dia a dia, era minha mãe, mesmo. A minha mãe gostava sempre mais daquela comida mais comum, sabe, era uma carne cozida, uma coisa assim, entendeu? Já o meu pai gostava das coisas mais gordurosas, um churrasco, entendeu? Meu pai era assim.
P/1 – E além da culinária, tinha mais alguma tradição italiana, também, que se manteve na sua família?
R – Tradição italiana? Deixa eu lembrar. Acho que não muito, não tinha, entendeu? Nem time de futebol, nada. Não tinha nada de italiano, que eu me lembre assim, não. A não ser a aparência dele, meu pai era bem branco, de olho meio esverdeado, entendeu, família do meu pai é toda assim.
P/1 – Você gostava de ouvir histórias quando você era criança?
R – Aí, é a parte do meu outro avô, da parte da minha mãe, que esse meu avô, ele era contador de histórias, sempre quando tinha uma festa, alguma coisa na casa, chegava à noite, a gente ia tudo para o quintal ouvir as histórias do meu avô. Era lobisomem, saci, mula sem cabeça, ele sempre contava e a criançada todinha ficava em volta para ouvir as histórias do meu vô, entendeu, que já é falecido, também.
P/1 – Era indígena, você falou.
R – Ele era de descendência indígena. Na verdade, meu avô era mais… meu avô, acho que era uma mistura grande, tinha parte negra com indígena. Agora a minha avó era mais a parte indígena. Eles são bem misturados, não dá para saber qual a descendência, mas acho que era… eles são brasileiros, mesmo, né?
P/1 – E você ouviu dos seus avós ou dos seus pais alguma história de quando não tinha energia elétrica, de como era a vida nessa época?
R – Nossa! Eles viviam contando histórias, né?
P/1 – Você pode contar pra gente?
R – Eles usavam lampião, era a querosene, se eu não me engano, sabe, a óleo, querosene. Meu avô me ensinou fazer uma lamparina a óleo de cozinha, sabe? Você pegava um cadarço de sapato velho, enfiava numa chapinha de metal e fazia uma lamparina a óleo. Quando eu era moleque, eu ia brincar, fazer cabaninha no mato e fazia essas lanterninhas para iluminar, entendeu? Brincadeira de molecada, né? Ele falava dessas lamparinas que eram lamparinas a óleo ou a querosene e quando chegou a energia elétrica, eles tinham uma lâmpada na casa, só, porque eles economizavam, é aquela coisa, mas era uma lâmpada na casa, ele conta, que depois que foi ampliando, né? Mas no início, quando chegou a energia elétrica, era uma festa e era uma lâmpada. Aí, depois de muito tempo que ele comprou um rádio, depois, sabe, acho que a minha mãe já era adulta, que ele foi comprar uma televisão, entendeu, mas acho que no início, foi assim. Energia elétrica demorou muito para chegar na família da minha mãe.
P/1 – E você lembra da casa que você passou a sua infância?
R – Lembro.
P/1 – Como que era?
R – A casa da minha infância era uma casa bem espaçosa, mas ela era inacabada. Tinham muitas paredes ainda com bloco à vista, ainda, tijolinhos aparecendo e o meu pai estava sempre tentando acabar ela e nunca terminava. Todo final de semana, ele estava fazendo alguma coisa na casa, mas ele era assim, ele fazia essa parede, terminava ela, depois ele derrubava e fazia outra (risos), então, ele nunca tinha terminado. Eu lembro que a casa tinha, acho que eram três cômodos, aí depois, ele derrubou uma parede, fez um outro cômodo, aí fez uma cozinha onde tinha um quintal e o banheiro que era para fora de casa, não sei porque se fazia o banheiro para fora de casa, se já tinha descarga, tinha tudo, não sei porque era para fora de casa. Aí, ele pegou esse banheiro, levou para dentro de casa, nossa, eu lembro que a minha casa estava sempre em reforma, minha vida todinha, minha casa foi em reforma.
P/1 – Vocês tinham bastante eletrodomésticos?
R – Acho que eram duas televisões preto e branco, era uma de móvel, sabe aquelas com aqueles pezinhos de madeira e uma pequenininha, de 14 polegadas. Da minha infância, eu lembro dessas duas TVs. Um rádio, que mais que tinha de eletrodoméstico? Na verdade, era um rádio e tinha também um toca disco, aquele de tampinha antigo. Que mais que tinha de eletrodoméstico? Geladeira, acho que era só isso, não tinha máquina de lavar, não tinha… isso depois, quando a gente já estava adolescente que a gente foi comprar, mas quando a gente era criança, não tinha.
P/1 – E que bairro vocês moravam?
R – Eu morava em Itaquera, lá mesmo, onde eu moro hoje em dia. Eu moro, na verdade, num outro terreno do lado da casa onde minha mãe morava, onde a gente cresceu, teve a infância, minha irmã que mora lá, mas minha irmã já derrubou tudo, já fez outra casa, já não é mais a mesma casa, entendeu? Já é outra moradia, ali.
P/1 – E como que era o bairro naquela época?
R – Era bem violento, bem complicado…
P/1 – Já naquela época?
R – Já. É assim, na verdade, era perigoso para quem se envolvia com o que não devia, entendeu? Com as coisas erradas, aí era perigoso, porque a pessoa… o que acontece, se você se envolvia com tráfico de drogas, meu, a vida era curta. Se você se envolvia com roubo, também a vida era curta, as pessoas não viviam muito, quem se envolvia com essas coisas. Agora, as pessoas que trabalhavam, tinham uma vida pacata, iam atrás do próprio dinheiro, atrás do próprio sustento, eles tinham uma vida boa, normal. Agora, a parte mais da bandidagem, tráfico de drogas, usuário de drogas era mais complicado, entendeu?
P/1 – Você brincava na rua?
R – Brincava, sem problemas, porque diferente de hoje, o tráfico de drogas era separado das pessoas que tinham uma vida normal, quem usava drogas ia lá para o campinho de futebol, escondidinho no cantinho, ia lá e usava as drogas deles. Hoje em dia que está tudo na rua, tudo misturado, entendeu? Mas na época, o pessoal ficava mais escondidinho, aí dificilmente uma criança via. Eu mesmo, só fui entender o que era aquilo depois que eu cresci. Quando eu era criança, para mim, o mundo era lindo, era o dia inteiro brincando com as brincadeiras, sabe, peão, pipa, tudo mais, bolinha de gude e aquilo não existia. De vez em quando, eu sabia que tinha morrido alguém, minha mãe me prendia dentro de casa, não deixava eu sair, era isso.
P/1 – Você chegou a perder algum amigo, nesse sentido?
R – Na adolescência, perdi muitos amigos. Adolescência foi triste, até acho que pelo fato do homem, ele não se preocupar muito com a própria vida, é meio complicado. Eu perdi amigos em acidentes de carro, acidentes de moto, no trem. Perdi muitos amigos com tráfico de drogas, a grande maioria foi com tráfico de drogas, envolvidos com drogas. Aí, teve bastante amigo meu, principalmente amigo de escola, sabe? De vez em quando, chegava na escola, todo mundo de luto porque tinha morrido um, porque mataram. Teve um que morreu afogado, que era amigo bem próximo. Um amigo bem próximo meu, de infância, que cresceu comigo morreu no trem, teve um acidente de trem, levou uma pedrada no trem e morreu. Teve um amigo meu de escola também, que estudava na mesma sala que eu que o carro dele capotou, era menor, mas dirigia, né? Aí, o carro que ele estava dirigindo capotou e bateu no poste, aí morreu também. Outro bateu atrás de um caminhão de moto e foram vários. A parte da adolescência foi bem crítica. E vou te falar, eram homens, sabe, amigas mesmo, eu não perdi nenhuma de infância. Agora, amigos homens, era bem crítico.
P/1 – E as ruas eram bem iluminadas ou… naquela época?
R – Acho que nem tinha luz, se eu não me engano, nossa! Eu não me lembro de luz, eu acho que não devia ter, mas eu não me lembro, recordação, eu lembro que ficava muito escuro, eu lembro que você tinha um horário para ficar na rua, depois de certo horário, você não ia mais na rua porque era muito escuro. Eu não me lembro de iluminação na rua.
P/1 – Você tinha brinquedos eletrônicos?
R – Tive carrinho à pilha, mas era isso, carrinho à pilha. Ah não, depois na minha infância, eu já tinha sete ou oito anos, até acho que dez anos, eu não me lembro, eu ganhei um Atari, que todo moleque tinha (risos). Eu tinha ganhado um Atari, um videogame e acho que eletrônico mesmo, foi o primeiro mesmo, assim. Daí, o meu pai tinha prometido um computador também, mas não deu para ele (risos), mas aí…
P/1 – O que você mais gostava de fazer quando você era criança?
R – Brincar na rua, né? A gente acordava, eram sete horas da manhã, o meu dever em casa era comprar o pão de manhã. Primeira coisa que eu tinha que fazer era pegar e comprar pão para minha família, aí, eu levantava, ia comprar o pão, tomava café da manhã junto com todo mundo e já ia para a rua. Aí, voltava, só tomava banho, ia para a escola, depois para a rua de novo (risos). E era isso a vida, né? Minha mãe não tinha trabalho.
P/1 – Você brincava com suas irmãs, também, você se dava bem com elas?
R – Olha, vou te falar, com a minha irmã mais nova, sim, com a minha irmã mais velha, meu Deus do céu, até hoje… até hoje, a gente ainda não se bate, entendeu, não sei porque (risos). Vai porque eu e ela somos muito parecidos, entendeu, a gente é meio brigão, entendeu? Mas as outras duas irmãs, acho que a gente nunca brigou na infância e nem na fase adulta, sabe, a gente nunca teve nenhuma briga.
P/1 – E o que você queria ser quando crescesse, quando você era criança, o que você pensava?
R – É incrível, mas eu cresci com uma coisa na cabeça que eu queria ser ator. Não tinha a menor vocação para a coisa, entendeu? Fiz dois anos de artes cênicas, quando eu comecei a trabalhar, tudo, fiz dois anos de artes cênicas, mas parei, porque não dava, entendeu? Uma que eu não tinha tempo, tinha que trabalhar e para quem faz isso, não dá tempo de você… o pessoal fazendo as pecinhas teatrais, tudo mais, fazendo teste e eu não podia ir porque eu tinha que trabalhar, não podia faltar no serviço e eu já trabalhava em cinema nessa época, né? Eu comecei a trabalhar em cinema com 19 anos. Aí, cinema era complicado, você trabalha de domingo a domingo, é uma folga por semana e um domingo no mês. Não dava tempo de eu fazer nada, aí eu parei, parei porque não ia para frente, não ia dar certo. Depois, nunca mais… pensei em voltar depois, em outra época, era quase o meu salário inteiro que eu pagava na faculdade.
P/1 – Você lembra qual foi a primeira vez que você foi ao cinema? Qual foi o primeiro filme que você viu na sua vida, que você tem lembrança?
R – Eu tenho. Vi “Os Trapalhões”, meu pai levou a gente. Eu não tenho certeza se foi o primeiro, mas o primeiro que eu tenho recordação foi “O Monstro Trapalhão”, que era o Didi que se transformava em monstro lá, era um inventor maluco. Esse, eu me lembro dele claramente do filme. Aí depois…
P/1 – Qual cinema foi?
R – Eu não vou me lembrar, eu era criança…
P/1 – Tinha muito cinema de rua, naquela época.
R – Eu era criança era cinema de rua, acho que não existia cinema assim… mas aí, na adolescência, eu fui muito ao cinema, “Robocop”, que a censura se eu não me engano, era 16 anos. Eu devia ter 14, 13 anos, eu consegui entrar ainda, porque eles só falavam que tinha censura, que eles queriam o dinheiro, né? E quando eu virei office-boy, eu chegava a ir para o cinema, se o pessoal vir, vai lembrar disso, que muita gente… eu já fui nessas empresas depois que eu fiquei adulto, as pessoas me conhecem ainda, lembram de mim, trabalham lá até hoje e eu pegava e ligava: “Tá uma fila gigantesca no banco, vou ter que ir embora daqui, tudo bem?” “Tudo bem”, eu ia para o cinema, eu já tinha saído do banco já fazia tempo, já (risos), que era para dar tempo de eu ir no cinema e depois ir para a escola, ainda, que eu saía do trabalho e ia para a escola. Aí, eu fazia isso para ir no cinema. Sempre fui fanático por cinema, depois que eu comecei a trabalhar com cinema, parei de ir ao cinema… parei de ir, não, eu vou muito ao cinema para levar meus filhos para o cinema, mas assim, eu já não… sabe, tipo assim, tem um filme que eu quero ver, fico pensando: vou ter que ir lá naquele cinema? Embora, não… eu nem pago para assistir, porque eu conheço pessoas que trabalham lá, tudo mais, eu consigo cortesia, mas eu acabo não indo. Eu vou mais para ir a filmes com os meus filhos. Meu filho, agora, queria assistir dos passarinhos, lá, né…
P/1 – Angry Birds.
R – É, Angry Birds, ele quer ver. Eu falei: “Na estreia, não”, porque a gente foi ver O Capitão América na estreia, meu, quase que a gente não conseguiu lugar no cinema, estava lotado. Aí, ele queria ver esse, agora a gente está querendo ver ele. E minha filha vai no embalo do meu filho mais velho, meu filho tem 11 anos e minha filha tem sete. E eles vão no embalo, só querem… ela quer ver o filme que ele quer ver, então fica mais fácil, também, né? E Frozen ele também queria ver, então fica certo.
P/1 – Só voltando um pouquinho, qual a primeira lembrança que você tem da escola?
R – Da escola? Vamos ver… eu fui um péssimo aluno até a quinta série, nossa, eu não sabia nem escrever até a quinta série. Minha mãe vivia brigando comigo que eu ano sabia nem escrever, o meu “O” era uma bola, aí eu fazia um corte assim (risos), era terrível. Mas aí, na quinta série, eu sei lá, acho que porque eu comecei a trabalhar, eu comecei a fazer atividade física também e comecei a me sentir… a escola começou a me incentivar e eu virei um excelente aluno na escola, da quinta série até eu finalizar, eu fui um ótimo aluno. Eu acho, os professores me adoravam. Eu não fazia lição, meu caderno, se você abrisse no começo do ano e fosse comparar com o final, não tinha nada, mas eu prestava atenção nas aulas e eu ia sempre muito bem nas provas, sabe?
P/1 – Que matérias você gostava?
R – Matemática, Ciências, Biologia, Química.
P/1 – Você teve algum professor marcante?
R – Eu tive um professor, o Pedrinho, professor Sergio também. Pedrinho era de Matemática, ele foi uma pessoa muito influente na minha vida porque ele era muito inteligente, sabe aqueles professores inteligentes? Ele sabia explorar o lado da pessoa, que a pessoa tinha facilidade para as coisas, ele estimulava. Eu lembro que ele me tirou no amigo secreto da escola, ele me deu uma caixa de livros daquela coleção Vagalume. Eu adorei aqueles livros, eu lia e lia de novo, sabe? E foi assim, meu pai tinha uma coleção de livros em casa, meu pai tinha mais de 500 livros na estante, ele estimulava a gente a ler, só que o único… os livros mais infantis era um livro de dinossauro que tinha lá que eu lia o tempo todo e um livro “Gato Malhado e a Andorinha Sinhá”, que ele tinha em casa, assim, infantil. Meu pai estimulava a gente a ler, mas ele estimulava mais aqueles livros que não eram tanto para criança, adolescente, né? E a coleção Vagalume era adolescente, então me identifiquei com aqueles livros e eu lia demais e comprava aqueles livros, eu aumentei a coleção que eu tinha, acho que tinham sete ou oito livros na caixa, e eu fiquei com muitos livros daqueles lá, eu não sei o que aconteceu com esses livros. Não faço nem ideia o que aconteceu com eles. Devo ter… sei lá… não sei o que eu fiz com esses livros. Mas aí, ele me estimulou muito a essa questão da leitura e fora também, em aprendizado, porque como eu te falei, isso foi na quinta série. Antes da quinta série, eu era um péssimo aluno. Então, eu acho que ele teve uma grande influência de eu começar a estudar bem. As pessoas muitas vezes dizem que a educação se faz em casa, mas os educadores não sabem a coisa que eles têm sobre as crianças, entendeu? É incrível. Meu filho é autista, mas em nível leve, ele faz escola especial, tudo, e ele desenvolveu quando ele chamava os professores, os professores que ligavam até pra gente, mandavam mensagem. Meu filho estudou um bom tempo na escola pública, hoje em dia, ele vai em especial. E ele se desenvolveu mais nessa questão quando ele conseguiu achar professores que sabiam explorar o lado dele, entendeu? Ele é um excelente aluno, ele aprende muito fácil, só que tem que estar em cima dele. Então, o que eu lembro é do Pedrinho, do professor Sérgio, professor Claudino, que era de Química, que era uma matéria que eu adorava, também, na escola inteira, ninguém tirava nota dez com ele, eu tirava.
P/1 – Lá em Itaquera, a escola?
R – É. É o colégio Escultor Galileo Emendabili, de bairro. Ele era um professor, daqueles. Ele falou: “Eu quero que vocês aprendam para fazer uma boa faculdade”, professor Claudino, também foi um professor influente também, embora só estudei um ano com ele, mas…
P/1 – Energia era um tema que era abordado em sala de aula?
R – Só na Química, né? Que é sobre Química, Física que você acabava falando da questão da energia, gerar energia. Mas era um tema que fazia parte do currículo, né?
P/1 – Mas alguma discussão em torno de consumo consciente, alguma coisa mais para esse lado?
R – Não existia muito isso, né, acho que na época, a gente aprendia como destruir, né? (risos) “Quer energia?” “Corta uma árvore” (risos) “Passa carvão”, na época era mais isso, né? Hoje em dia, eu vejo os meus filhos, eles comentam muito mais sobre essa questão energética, sobre a poluição, eu acho que a minha geração foi a geração poluidora, essas novas são as que vão conseguir corrigir esse defeito das gerações anteriores aí, né, embora a gente faça a nossa parte, vai preservando, evitando papelzinho e tudo mais.
P/1 – E você falou que começou a trabalhar com 19 anos com cinema?
R – Com 19 anos.
P/1 – Como é que foi? Como era esse trabalho?
R – No Cine Aricanduva, desde que eu consegui emprego lá, foi assim, eu estava desempregado, tinha passado aquela fase militar, que não deixa você arrumar emprego, eu trabalhava de office-boy e passei por essa fase militar que não podia largar o emprego, nem nada, porque senão, não ia conseguir arrumar nada. Quando passou essa fase, eu era office-boy ainda, sabe, e sabia que não ia sair daquilo, sabe que a empresa que você está trabalhando não vai dar futuro para você, nem nada. Aí, eu sai fora de lá e eu já estava tramalhando na empresa acho que quatro anos que eu estava trabalhando nessa empresa e saí de lá e fiquei desempregado por um tempo, arrumei um emprego. Aí foi um amigo meu que falou: “Tem uma empresa de cinema não sei onde que está contratando”, aí eu fui para lá, de início, fui dispensado, um cara olhou para a minha cara e falou assim: “Você mora onde?” “Itaquera” “Pode ir embora”, aí eu estava no elevador, o cara apareceu lá: “Vem aqui”, aí me chamou de volta porque o cara que estava entrando era irmão de uma pessoa que já trabalhava lá, a pessoa que foi comigo, aí acabou dispensando ele e me pegou porque não podiam trabalhar pessoas da mesma família na mesma empresa. Aí, acabei voltando, entrei no Aricanduva. Já logo no começo, eu era auxiliar de borderô, na portaria, eu tinha trabalhado, rasgava ingresso, aí com uns dois meses lá, eu passei para auxiliar de borderô, que é o ajudante do gerente. Eu contava a renda do dia, fazia os relatórios, preenchia os dados dos impostos, que eram pagos, fazia toda a questão burocrática do cinema, preenchia aquele monte de formulários e fazia isso. E quando eu tinha uma folguinha, ficava na cabine, porque para mim, aquilo era fascinante, entendeu, a projeção. E fiquei aprendendo, trabalhando na cabine, olhando tudo aquilo e aí, teve uma greve grande dos projecionistas aqui em São Paulo, onde mandaram embora todos os projecionistas e eu sabia fazer projeção. Aí, depois da greve, na recontratação, eu passei para projeção. Os projecionistas só para falar, eles não ficaram desempregados, porque não existia tanto projecionista no mercado, o cara saiu daqui e foi para outro, né? Teve só um joguinho de troca de empresas, né? Aí, nesse processo, eu passei para projeção, larguei, embora eu fiz por um tempo, ainda, serviços… Aí, passei para projeção e ainda por um bom tempo, ainda fiz serviço burocrático, mesmo com a projeção, eu acabava fazendo ainda, porque foi difícil arrumarem outra pessoa para fazer tudo, que é aquele serviço chato que ninguém queria fazer.
P/1 – É década de 80 isso?
R – Foi em 90 isso.
P/1 – Você teve algum tutor, assim, para aprender a projeção? Como é que foi que você se envolveu?
R – Eu tive uma vontade e os outros projecionistas, eu tive vários tutores, porque lá no Cine Aricanduva eram uns 12 projecionistas, porque tinha a parte da Paris Filmes que eram três salas e o projecionista trabalhava meio-período, meio-período, outro projecionista, eles trocavam. No Aricanduva, na parte do Alvorada Cinemas, onde eu trabalhava, tinham seis também, então, eu aprendia com todo mundo, eu passava de um para o outro. Então, aí eu trabalhei no Aricanduva com os projecionistas e na época, tinha um sistema que eles faziam que era combinação de filmes, que era assim, acho que para pagar uma taxa menor na distribuidora, eles pegavam o mesmo rolo e eles exibiam em duas salas de cinema diferentes, aí dividiam o filme em cinco partes, enquanto está passando o primeiro aqui, o segundo rolo está passando em outra sala, segundo, não. Era o primeiro, terceiro estava lá, aí ia tirando rolo daqui e levando para lá e era o seguinte, tinha que atravessar a parte da praça de alimentação do cinema, com esses rolos, e eles ficavam fazendo isso. Então, acabei tendo contato com muito projecionista, então, cada um me passava alguma coisa, passava um rolo de filme para mim, para praticar emenda, o outro passava tal coisa para mim, falava: “Faz assim que é melhor”, eu fui aprendendo assim, entendeu? Aí, para mim, foi muito bom, porque além de aprender com vários projecionistas, aprendi com máquinas diferentes também. Aí, no Alvorada, devido essa questão de eu conhecer muitas máquinas de cinema, me passaram para feirista, para tirar férias dos outros em outras salas de cinema. Aí, rodei quase todas as salas de cinema de São Paulo, passei em várias salas. Aí, acabei entrando no sindicato também, entendeu? No sindicato foi uma questão meio turbulenta lá dentro, porque foi o seguinte, eu entrei para o sindicato e comecei a fazer várias coisas lá dentro, ajudando, tal. Aí, eles iam me colocar como um dos diretores, só que na época, eu tinha 20 anos de idade e eles torceram o nariz por causa disso, que eles não queriam um dos diretores do sindicato com 20 anos de idade, para eles, era um moleque e o Jesaias na época, já é falecido, ele colocou o filho dele no meu lugar, aí isso me deu uma revolta gigantesca. Deu uma revolta e desde então, eu larguei o sindicato, nunca mais voltei para o sindicato, embora faço muitas coisas com o sindicato, já mudou, já passaram uns quatro diretores lá, que são todos muito amigos meu, sou amigo deles até hoje e faço muitos trabalhos paralelos com eles. A gente marca fóruns de debates sobre a classe, eu sempre vou, falo sobre a classe, que a gente tem que fazer, mas eu não sou sindicalizado. Acho que virou um pouquinho de birra da minha parte. Mas assim eu vou levando essa questão da minha profissão com o sindicato.
P/1 – Você era bem jovem nessa época, você costumava sair com os amigos? Você namorava? O que você costumava fazer na juventude?
R – Ah, como todo moleque, a gente saía para namorar, mesmo, era só isso que a gente fazia, a gente trabalhava na semana, para no final de semana, a gente poder sair, né? Pegar o dinheirinho e gastar por aí, mas era isso. Gostava mais era mesmo de balada, eu não curtia muito barzinho, até hoje, eu não sou chegado a um barzinho, eu vou num barzinho, mas não é muito a minha praia ficar parado, sentado, não gosto muito, entendeu? Mas eu gostava muito dos bailes que tinham.
P/1 – Namorava muito no cinema? (risos)
R – Olha, no cinema, não muito, mas teve algumas coisas… a minha esposa mesmo, eu conheci ela no cinema, ela trabalhava na bomboniere e a gente trabalhou mais de um ano juntos sem nada, a gente começou a namorar e casamos e depois tivemos os filhos aí. Mas eu conheci ela no cinema.
P/1 – O que você costumava fazer com o salário que você trabalhava no… você começou a trabalhar bem cedo e depois, você foi com 19 anos trabalhar com cinema, o que você costumava comprar com o dinheiro que você ganhava?
R – Eu gastava muito em roupa. Roupa e jogo de videogame, nossa, eu gastei muito dinheiro com… até hoje, tenho um bolo de jogos lá que eu preciso vender aquilo. Vou ter que anunciar em algum lugar para ver se eu recupero, porque eu fazia muito isso, muito jogo de videogame, muita roupa e eletrônico. Nossa, não podia ver uma novidade que eu queria comprar, enquanto não comprava, eu não sossegava.
P/1 – E como que foi esse curso, então, que você falou que você não é vinculado diretamente ao sindicato, você aprendeu na prática com o pessoal mais velho, mas depois, você fez o curso?
R – É que é assim, no início, o sindicato tinha uma carteirinha, que você precisava dela para poder trabalhar na profissão, entendeu? Eu aprendi com os meus amigos, com os colegas lá dos cinemas, só que você precisava passar pelo sindicato para ter um certificadozinho, que era uma carteirinha, que no final das contas, perdeu o valor com o tempo e acabou… mas era uma forma que eles tinham… o que acontece? Na época, tinha a questão da censura, que você com uma certa idade, não podia entrar na sala, tinham várias questões que impediam a pessoa de ir para o cinema e inclusive, para a cabine, imagina, eu entrei com 19 anos e eu exibia filmes para 21 (risos), que tinha na época, filmes para maiores de 21 anos e eu acabava exibindo, então, você tem toda essa questão, você precisava de um meio de provar que você trabalhava lá e que você tinha que fazer aquela função, entendeu? Então, era a forma que o sindicato tinha de manter também a categoria, entendeu? Porque senão, qualquer um ia fazer e ia perder esse controle. Então, essa era a forma que o sindicato acabava tendo um controle de quem frequenta uma cabine de cinema.
P/1 – Na época da ditadura, você não estava atuando, né, porque foi começo dos anos 90…
R – Assim, a ditadura acabou em…
P/1 – Oitenta e cinco, né?
R – Essa época eu tinha 11 anos de idade. Mas a gente teve uma influência ainda grande da época da ditadura depois que acabou a ditadura, eu lembro que tinha essa questão do horário…
P/1 – Classificação, né?
R – Classificação, a gente ainda levou por um bom tempo, essa questão das regras da ditadura, embora ainda tenha classificação, mas…
P/1 – Mais branda, né?
R – Hoje em dia, você com um bebezinho num filme para maiores de 21, você consegue entrar com ele, porque está acompanhado dos pais, os pais que são responsáveis, entendeu? Ele não vai entrar sozinho.
P/1 – Essa questão dessas pessoas mais velhas que te ensinaram nesse cinema que você trabalhou, você sabe a formação deles, assim, como que eles aprenderam? Eles foram aprendendo com a vida ou eles…? Mais uma experiência.
R – O projecionista tem essa questão, um passa para o outro, se não for dessa forma, você não consegue ser um bom profissional, não tem como, porque é assim, na parte de cinema, igual aqui mesmo na Cinemateca, se eu pegar um projecionista experiente para trabalhar aqui, eu preciso ensinar ele por seis meses, durante seis meses ele vai ficar fazendo só uns trabalhinhos menores, aprendendo a trabalhar com o sistema daqui. Então, quanto mais experiência a pessoa tiver, mais fácil, diminui esse tempo de aprendizado, porque assim, tem todo um macete, uma técnica, porque as pessoas acham que é puf, play, acabou, está lá. Passou o filme na máquina… mas tem todo um processo de você até preservar um filme, entendeu? A gente até diz na nossa profissão que quem estraga o filme é o projecionista. Hoje em dia, a profissão de projecionista está acabando parte por causa disso, também, entendeu, porque o filme passava quatro semanas e já tinha que ser trocado, porque o projecionista debulhou o filme todinho, entendeu? Detonou o filme, está todo riscado, todo amassado. Então, quero dizer, a questão da experiência conta muito nesse ponto.
P/2 – E como que é, explica pra gente como que é montar ali um projetor? Passo a passo, ali, desde montar o rolo que você tinha comentado…
R – Se vocês quiserem, depois eu mostro para vocês, explicando mais ou menos, eu não sei se tem…
P/2 – Não, se você conseguir falar agora, que já entra junto na entrevista.
R – Porque é assim, o filme, o nosso contato com o filme acaba soltando um óleo na película e transmitindo fungos, sabe, que isso vai corroer. A película tem uma gelatina que é consumida por esse fungo, uma das determinações da película é por fungo e o contato com a sua mão acaba causando isso, então, a gente sempre trabalha com ou um álcool, ou a gente vai lavar a mão sempre antes de trabalhar com uma película, limpar a mesa com álcool para evitar esse contagio. Então, você tem que ter todo esse cuidado. A película é frágil, existem três tipos de película, que é o nitrato, que vocês conhecem, que é aquele inflamável, o acetato, com o nitrato, a gente não trabalha mais com ele, já há mais de 60 anos que não se trabalha com nitrato. Depois vem o acetato. O acetato não é inflamável, mas ele é muito frágil, se você dobrar ele, ele quebra, entendeu, você trabalha com o filme, tem que carregar a máquina várias vezes, isso acaba quebrando o filme várias vezes, né? E tem o poliéster, o poliéster é mais recente, acho que foi a partir de 2000, por aí que entrou mesmo em circulação, ela é muito forte, ela não quebra, você não consegue quebrar essa fita de tão forte que é. Mas tem alguns inconvenientes, ela destrói o equipamento, ela solta muito resíduo e esse resíduo vai para a própria película, que vai riscar ela depois, vai virar tipo uma lixa nela, sabe, é um pozinho, então, cada vez que você passa o filme em poliéster, você tem que limpar o projetor, muitas vezes, assoprar ele com o compressor, para tirar todo esse pó, porque esse pó vai acabar grudando através da eletroestática, ele vai grudar na outra película, que vai passar lá ou em outra parte do fotograma, no meio do fotograma, em vez das bordinhas, sabe? E isso vai o quê? Vai causar um atrito no filme e aquilo vai furando, o filme vai riscando. Você já viu os filmes que estão cheios de chuvisquinho? É aquilo. E tem também a questão de óleo, o que acontece? Os projetores, as engrenagens deles são imersas no óleo e se o projetor não tem uma boa vedação, acaba pingando óleo em alguns pontos. Olha, eu vou te falar, a maioria dos projetores que existiam no mercado vazavam óleo, entendeu? Então, a gente tinha que dar um jeito, ou ficar limpando sempre, ou colocar alguma coisa para colher esse óleo e não deixar ter o contato com a película. Até na classificação do filme, como status dele está lá: “Oleoso”, entendeu, por causa desse óleo. Então, você tem que ter cuidado com isso também e alguns equipamentos não aceitam filme com óleo como… tem um prato está vendo ali, no fundo, se fica oleoso ali, ele vai escorregar, vai cair no chão. Então, tem todo esse cuidado que você tem que ter com o filme para manter ele o mais tempo possível, até na montagem mesmo, você tem os cuidados, na hora de fazer uma emenda. É isso, assim, é questão do projecionista. E fora também, tem que ter um pouco de noção sobre áudio, né, para saber entender se está tudo bem na sala, se estão todas as caixas funcionando, então tem que ter essa… aqui na Cinemateca, quando entra uma pessoa nova aqui, a gente acaba ensinando tudo isso, essa questão de como funciona o áudio, como ele se propaga da sala, como… toda essa questão técnica, a gente entra mais a fundo para explicar, a pessoa entender e resolver os problemas do dia a dia aqui.
P/1 – E como foi a sua trajetória profissional até chegar aqui na Cinemateca?
R – Então, eu comecei no Alvorada Cinemas, onde eu trabalhei seis anos. Aí, a Alvorada Cinemas faliu, fechou as portas, aí naqueles poucos meses, eu conhecia muita gente, como eu falei para você que eu rodava vários cinemas, então, eu criei vários amigos, e aí, quando eu sai do Alvorada, alguns amigos meus ficaram sabendo que eu estava desempregado e ficaram sabendo do Espaço Unibanco de cinemas, ali na Augusta, Espaço Itaú de Cinemas, que na época era Espaço Unibanco, ele estava precisando de um projecionista. Aí, um dia, eu fui lá, fiz uma entrevista com o Ademar de Oliveira e ele me contratou. Lá no Espaço Unibanco, eu fiquei oito anos, aí eu pedi para sair de lá, não queria mais ficar ali, porque chega um momento da nossa vida que a gente tem que tomar alguns rumos, e eu sabia que ali não tinha jeito, ali era um lugar muito limitado, entendeu, e eu sempre pensei em ter alguma coisa melhor. Eu sai de lá, acabei ficando como temporário no Sesc, fui temporário no Sesc durante cinco anos, mesmo entrando aqui na Cinemateca, eu continuei temporário no Sesc, eu consegui conciliar as duas coisas e aí, no Sesc, no primeiro ano que eu trabalhei no Sesc, o Carlos Magalhaes que era o diretor aqui da Cinemateca era muito amigo do gerente do Sesc, que ele vai me matar até, que eu não vou lembrar o nome agora, mas depois você corta essa parte do nome dele, deu branco agora. O Magalhães falou para ele assim: “Estou precisando de um projecionista, mas estou com dificuldade, os caras não sabem muito”, aí ele falou: “Tem um rapaz aqui que trabalha bem, ele está fazendo temporário aqui, faz uma entrevista com ele”, aí eu fiz uma entrevista aqui com o Magalhães e com a Patrícia e fui contratado. Aí aqui, é assim, eu acabei aprendendo muito aqui. Na verdade, tudo que eu imaginava do cinema mudou depois que eu entrei aqui, porque você começa a entender a fundo o que é, o porquê de algumas regrinhas que a gente tinha lá atrás, de preservação, contato da mão, o que era aquilo, porque eu não sabia, existia a teoria, mas não falavam o porquê daquilo. E aqui eu aprendi, entendeu? Eu fiz um estágio na preservação, passei por vários setores, igual eu te falei dos seis meses de aprendizado, eu fiz isso aqui, passei por vários setores, aprendi muita coisa e aqui na Cinemateca, hoje em dia, eu sou responsável pelas projeções, de treinamento técnico de equipe, eu sou projecionista, mas eu acumulo algumas funções, eu sou chefe de projeções, todas as projeções que acontecem aqui, elas passam por mim primeiro, onde eu analiso as possibilidades de como vai ser isso, você assistiu a externa, antes de ter aquela externa, eu fui ver o material, eu acabei vendo se dava para ser feito, como ia ser feito isso, entendeu, a gente teve uma reunião antes, no início da mostra, de quais filmes a gente ia escolher, quais iam ser exibidos externamente, outros dentro. Aí, eu acabo fazendo isso também e na questão do desenvolvimento técnico também, de sempre manter a Cinemateca atualizada na questão técnica e no treinamento técnico da equipe também. Nós somos em três hoje aqui na Cinemateca, eu, a Carmem, que é a minha esposa e a Ana Clara que é uma projecionista mulher também. Isso porque a gente passou pela crisezinha que eu te falei, que a gente está se recuperando agora, né? Mais ou menos, que acabou o MinC… vamos ver o que vai acontecer. Aí, o que acontece? Nós aqui, era eu como chefe de projeções e tinham mais quatro projecionistas, que era o Sabão, que é um senhor que tem um conhecimento, nossa, impressionante em relação à película, sábado ele estava aí com a gente, a gente está finalizando um evento que ele fez por muitos anos comigo aqui, aí, todo ano eu chamo ele aqui comigo, um ano só que ele não veio, nos últimos dez anos. Tem ele, que era o Bruno Machado, que hoje em dia, ele é coordenador de desenvolvimento da rede Espaço Unibanco, aprendeu aqui comigo, hoje em dia, ele está lá, bem pra caramba, lá. Era o Daniel, que largou a profissão, hoje em dia, ele tem um brechó em Curitiba e o Vidal, que trabalha hoje em dia no HSBC Belas Artes, eu não lembro se o nome é esse.
P/1 – Caixa Belas Artes.
R – Como projecionista lá. Essa era a minha equipe anterior. Infelizmente, não consegui recuperar e no retorno, entrou a Ana Clara e a Carmem para trabalhar comigo. E é isso, hoje em dia, o meu trabalho é esse aqui. Quem faz as projeções são mais a Ana Clara e a Carmem, que ficam mais na questão de executar, a externa sou eu que faço, porque lá é bem mais complicado de se trabalhar, mais pela questão da preservação da película, lá é um equipamento mais antigo, ele é muito bom, mas ele precisa de um cuidado especial, então prefiro eu fazer as externas.
P/1 – Eu queria que você comentasse um pouco a questão da transição da película para o digital, que a gente estava conversando, como é que foi esse processo assim, para quem vive dos bastidores, né?
R – Olha, é assim, a gente com o tempo, vai mudando o nosso ponto de vista com as coisas, mas eu vejo muita diferença entre a película e o digital, sabe, na tela, a película tem uma imagem, gente, você assistiu “Guitarras”, lá, né, que imagem, cara! O digital você vê… eu não consigo sentir aquela coisa com o digital, sabe? Tudo bem, as gerações que já começaram com o digital não vão sentir nada, né, não é verdade? Mas para mim, é triste, na verdade, o digital para mim não foi uma evolução, foi um passo grande atrás para se der tudo certo, vai ser um passo excelente para o futuro, né? Mas hoje em dia, a gente está ainda no passo atrás, sabe? E fico triste também pela questão dos profissionais, muitos são amigos meus e estão desempregados, a maioria tudo já pessoas de idade avançada. Porque a questão da película, tanto que a gente já lembra daquele senhorzinho passando um 35, né? E é isso mesmo, é uma profissão antiga, que as pessoas já de idade que levam ela, porque um dono de uma sala de cinema que confia no projecionista, ele não trocava, ele ficava com ele, o cara aposentava, ele continuava, porque não dava pra trocar um projecionista assim, se você confiava, é aquela questão que eu te falei, estragava a película, muitas vezes, o exibidor tem que pagar a película porque danificou, para uma distribuidora. Então, para evitar esse tipo de dor de cabeça, eles mantinham o projecionista e fora a reclamação do público também, se tem uma projecionista ruim, o público também acaba sumindo com o tempo. Então, tinha essa coisa. Hoje em dia, no digital, não, o digital acabou perdendo um pouquinho daquela questão de identificação. Tem até uma amiga minha que fez um TCC sobre essa questão do projecionista e a gente batendo papo em off, ela citou que a gente conhece o projecionista pela projeção. Muitas vezes, eu chego na sala de cinema, eu estou assistindo, aí eu vejo uma coisa acontecer, aí eu falo: “É o Chico”, porque a gente sabe, porque assim, existem umas passagens, você mudando de um rolo para outro, tem gente que faz adiantado, tem gente que faz atrasado, tem gente que… sabe? Você percebe ali, demorou um pouquinho a mais para sair o projetor, você fala: “Esse cara é tal pessoa que está fazendo”, a gente conhecia, então quer dizer, tinha uma certa identidade atrás de uma projeção, entendeu? Que embora a pessoa que está assistindo o filme não saiba disso, mas ela que está colhendo aqueles frutos daquela pessoa, uma boa experiência é a experiência do projecionista, o cara deixa o som alto demais, aquilo vai incomodar, né? Quantas vezes vocês já foram numa sala de cinema e o som em vez de ficar agradável acabou incomodando vocês, uma batida, um ruído, então é essa identidade que o cinema digital acabou ficando uma coisa tão uniforme, que você acaba perdendo um pouquinho… uniforme, assim, no Brasil, nada é uniforme, mas em salas que prezam pela qualidade, ficou bem uniforme, você vai de uma sala para outra, você percebe que são iguais. Agora, as salas que não, por isso você vê que o negócio está bem diferente, entendeu?
P/1 – E tecnicamente falando, como é que foi essa transição daquela questão do…
R – Agora sim, o projecionista dá play, né? Agora é um play. É isso, você recebe um filme no HD externo, insere, copia o filme para dentro do servidor seu e dali ele é exibido, através de uma tela com um play gigantesco no meio para o cara não errar o botão e puft, o filme está na tela, não tem muito… não tem mais segredo, embora a questão que eu te falei que a gente tinha um curso, era justamente para vencer o medo o curso, não era nem questão técnica, porque a questão técnica é bem básica, entendeu? É mais para vencer o medo, como eu te falei, os projecionistas têm uma idade bem avançada, muitos deles não sabiam pegar num mouse e isso há dois anos atrás, três anos atrás, já não é uma coisa tão absurda, mas o cara não sabia pegar num mouse, ele tinha um celular tal, mas não sabia pegar no mouse. Era isso, então a gente fez o curso mais para isso, pra tirar a resistência do projecionista com a questão de mexer no computador, aí a gente fez iniciação em Windows, Linux, Mac, a gente acabou vencendo aquele medo, embora a base dos servidores é Linux, né?
P/1 – E aquela história do equipamento que chegou aqui na Cinemateca que você ligou para o pessoal do sindicato?
R – Na verdade, assim, eu estava trabalhando com esse sistema, que era o sistema de servidor DCP e assim, eu acabei pesquisando sobre a questão do cinema digital, como que tava e outra, aqui a gente tem muito debate na sala, que fala sobre sistemas, tem a Semana ABC que acabou semana passada, e que fazia parte do assunto, ne? “E as câmeras?” “Como vai se adaptar o cinema DCP?”, e você acaba ficando sempre por dentro do que está acontecendo. Eu conheci o cinema digital através de uma empresa, que tinha um sistema bem… não vou falar mal da empresa, está, então, mas era daquele jeito, sabe? Aí, os projecionistas que conheciam o cinema digital era através dessa empresa, então para eles, aquilo nunca ia virar cinema, porque era ruim, mesmo, ela vai saber mesmo, se algum dia alguém vir, porque eram a única que tinha, era ruim, eles usavam arquivos WMV, do Windows, baixíssima resolução, diziam que era a revolução e exibiam na tela através de projetores péssimos digitais, sabe aqueles data shows? E as pessoas engoliam aquilo, engoliam filmes em DVD, cara, que é horrível e engoliam aquilo. Então, a gente tinha a experiência digital daquele jeito. Quando chegou… eu vi o DCP, eu vi a imagem DCP, era muito superior aquilo que a gente já tinha conhecido em nossas experiências anteriores como digital, aí, eu falei: “Como sou primeiro, eu tenho que passar a bola, né?”, aí fui, conversei, tive várias reuniões, igual eu te falei, no início, eles foram bem: “Isso não vai acontecer, é impossível, sistema digital não vai entrar. Não vai entrar”, entrou. E infelizmente, o sindicato tomou uma atitude muito tardia, se a gente tivesse tomado aquela atitude no início, quando a gente foi lá… eu tinha um grupo de pessoas, a gente faz parte de um grupo no site, tal, que a gente debate sobre essas questões, faz workshop, várias coisinhas do tipo pra… hoje em dia, nem tanto mais, porque o DCP já está aí, já entrou, 90% das salas já estão aí. Então, caiu um pouquinho as nossas movimentações aí, para ajudar nessa parte, mas no início do DCP, conversamos muito com as pessoas sobre isso, o que fazer em soluções, para preservar a profissão, porque gente, é uma profissão centenária, 120 anos de cinema, existe um projecionista ali no início, com a manivela, depois… sabe, é muito triste saber que uma profissão com essa idade está acabando, mas é a evolução, é isso, digital está aí, vai evoluir mais, vai ficar melhor que a película, porque a película tinha a limitação da questão física. DCP é criatividade, que é a limitação, então, não tem mais limitação, né? E assim, a gente estava querendo preparar as pessoas para esse novo mundo, mas infelizmente, a gente chegou um pouquinho tarde para isso e a coisa acabou, infelizmente, muitos estão trabalhando, alguns até que fizeram o curso com a gente, conseguiram aprender, perder aquele medo, saber conversar. Porque é assim, no meu ponto de vista, eu acho que é tudo uma questão de você saber dialogar, entendeu, com os eu patrão mesmo, entendeu, você chegar e falar: “Olha, eu sei mexer nisso e eu sei que comigo aqui vai ficar melhor do que você tirar esse projecionista e colocar uma pessoa, um gerente para dar play, porque eu vou cuidar desse equipamento”, é isso que a gente passava para os projecionistas no curso, entendeu? Porque todo equipamento precisa de manutenção, eu tenho um projetor que o rapaz da Barco chegou aqui e falou: “Nossa, ainda funciona esse projetor?”, Porque com cinco anos o projetor fica obsoleto. Um dia você não tem mais peça e nem nada, então, um projetor de nove anos que funciona o tempo todo e está funcionando bem, nunca deu um problema, por que isso? Por que o meu funciona bem e o dos outros não? É justamente essa questão, você tem que ter aquele trato que só projecionistas sabem, que é questão de limpar um filtro, se sentir um cheirinho de queimado, vai tentar descobrir o que é esse cheirinho de queimado, não ficar o cheiro de queimado lá para ninguém ver, entendeu, porque numa sala quem vai ver isso? Não tem ninguém lá dentro. E é isso, eu acho que é assim, é um gasto com projecionista, mas é um retorno também e isso que a gente tentou passar tanto para os exibidores, como para os distribuidores e para os projecionistas. Eu acredito que com o tempo, o processo vai voltar, talvez com outro nome, outra função, mas vai precisar dessa pessoa que cuida do sistema, vê se está tudo ok. Eu fui assistir m filme num shopping esses dias, estava cortando o personagem, mas era cortando muito e você via que apareciam informações na tela que não eram para ser sido cortadas e estavam sendo cortadas. Aí, eu fui lá reclamar para a gerente e expliquei para ela o que estava acontecendo, que não era normal aquilo naquele filme. Aí, quando eu olhei lá para a cabine, tinha uma menina com uma toquinha da bombonière, sabe? A toquinha? No telefone, falando e apertando os botões. Eu olhei aquilo e falei: “Gente, a gente nunca vai ter pessoal qualificado mexendo nesse equipamento”, na verdade, não desprezando a menina que estava mexendo lá, mas a questão, se você tem uma pessoa com conhecimento técnico, com curso, não digo no sindicato, mas pode ser pela Barco, pode ser pela Christie que produzem esses projetores, esses equipamentos, que deem esse curso para esse pessoal se qualificar. Como eu te disse, eu acredito que no futuro, vai voltar essa profissão, mas talvez com outro nome, outra coisa, sabe? Mas é isso.
P/1 – E você falou que conheceu a sua esposa também por meio do cinema. Como é que foi esse encontro?
R – Minha esposa é projecionista e já foi da bombonière, dá para fazer, basta aprender, né? Então, a minha esposa foi o seguinte, eu entrei na rede Espaço Itaú de Cinema, lá, que é o antigo Espaço Unibanco e eu trabalhava na sala 3, lá embaixo na Augusta e ela trabalhava no Cine Arte, lá em cima, na Paulista, no Conjunto Nacional e eu tirava folga de um rapaz lá no Cine Arte, toda segunda-feira e ela folgava de segunda (risos), e a gente sabia de um do outro por algumas pessoas, eu já tinha visto ela de relance assim, mas a gente trabalhou um ano dessa forma. Ela sabia muito de mim e eu sabia muito dela porque era como se a gente se conhecesse, nunca nos conhecemos. Aí, teve uma época que acho que a gente trocou de folga, trocou de data, a gente começou, uma vez por semana eu ia lá, fiz amizade com ela, nessa amizade ficou vários meses, a gente não tinha interesse um pelo outro de início, a gente era amigo, mesmo. Acabava vindo embora junto no transporte, voltava, trabalhava, ia junto, porque ela morava no Juscelino e eu morava em Itaquera, aí a gente se encontrava no metrô e ia junto, mas nada de nada. Aí, até que um dia, depois de mais de um ano depois que a gente já era amigo, teve uma festa de uma amiga nossa de aniversário dela e a gente acabou ficando na festa e aí, aconteceu da gente como amigo, acabamos se apaixonando e estamos até hoje, há 16 anos juntos e 14 anos casados.
P/1 – Tem algum filme que marcou a história de vocês?
R – Nossa, o que não falta é filme para marcar a nossa história, né? Sem brincadeira, o meu filho foi por causa de um filme que eu coloquei o nome dele, que é Ícaro, a gente namorava, a gente viu um filme que era “Asas de Ícaro”, e aquele filme marcou a gente,, sabe? Aí, ela falou: “Vou colocar o nome do meu filho de Ícaro”, e a gente ficou com essa brincadeira: “O nome do filho vai ser Ícaro”, e é Ícaro mesmo, o nome do filho. E a minha filha que é Júlia, vocês imaginam porquê que é Júlia (risos), né? Por causa da Júlia Roberts, ia ser Júlia Roberta, mas eu não queria Júlia Roberta, minha esposa até hoje me culpa, porque ela queria Júlia Roberta de qualquer jeito e quando eu fui registrar, eu não coloquei, eu coloquei Júlia Genaro (risos), eu tirei o Roberta fora. Aí, ficou Júlia Genaro e não Júlia Roberta, aí ela até hoje fala: “O nome da Júlia era para ser Julia Roberta”, mas não dava, não ia colocar Júlia Roberta, eu acho que não combinava e não sou tão fã da Júlia Roberts assim (risos).
P/1 – E que tipo de filme você gosta, tem alguns diretores favoritos? Já deve ter assistido muita coisa, mas o que você mais gosta?
R – Eu não tenho um estilo preferido, entendeu? Eu gosto de todo tipo de filme, desde que seja bom. Minha esposa gosta mais de filme romântico, eu vou com ela e tem filmes que eu adoro, sabe, e terror, o que for, comédia, eu não tenho filme preferido. Também não sou aficionado por filme antigo por trabalhar na Cinemateca, eu gosto de filme bom. Assisti um filme esses dias, francês, de 58, que é aquele do rosto, da mulher que perde o rosto, eu não me lembro o nome agora, sabe, num acidente, é um meio terror, meio suspense, esse filme é ótimo. De 58, filme… fiquei preso aqui, não conseguia sair, eu tinha um monte de coisa para fazer, eu fiquei olhando para a tela assistindo o filme. Sabe aquele filme inesperado que você começa a assistir e vai, vai… e assim, para mim, se o filme é bom, eu sento e assisto, agora, se não for bom também, mesmo se for no cinema, pagando entrada, eu não assisto porque eu não consigo me concentrar, começo a pensar em outra coisa, começo a pensar nos defeitos da projeção, começo a ficar pensando lá em cima como são as coisas, fico olhando arquitetura, fico olhando o som e depois me perguntam do filme, eu não sei, é sério, eu não consigo me concentrar se o filme não for bom.
P/2 – Tem algum filme mais marcante, que você… preferido ou não?
R – Olha, se for contar um filme que eu vi mais vezes na minha vida foi o “Forest Gump”, foi o filme que eu mais vi. E se passar na TV, eu assisto de novo, não sei se é o meu mais marcante, mas eu gosto muito. Esse foi o filme que eu mais assisti. Uma que eu passei esse filme oito meses, né, o mesmo filme oito meses, você imagina como que era, mas eu assistia. Tem filme que passa uma semana, eu não consigo assistir uma, esse eu assistia toda vez, que eu adorava aquele filme, nossa.
P/1 – E você casou com sua mulher, vocês são casados?
R – Casei, a gente é casado na igreja.
P/1 – Como que foi?
R – Meu casamento foi muito bom, porque a gente planejou um ano, praticamente, entendeu? Então, nesse processo, você consegue pensar em tudo que você quer, o que você quer da festa, então, nesse um ano que a gente planejou esse casamento, a gente conseguiu fazer grande parte dele, o que a gente não conseguiu foi por questão financeira, mesmo. Fazer em outro lugar, sabe, em outro estado, mas não dava, família e tudo mais. Mas foi bem legal assim, a questão do casamento. Muitas pessoas não curtem muito, quando eu casei, até muitas pessoas falavam: “Vai casar?”, eu acho que foi a melhor coisa que eu fiz, uma que eu amo a minha esposa e a gente vive muito bem juntos, então eu acho que quando a pessoa acerta, eu acho que não tem… e eu acho que a gente fez certo também em casar, sabe, porque era a coisa certa a se fazer.
P/1 – E vocês logo tiveram filho?
R – Foi um ano depois. Dois anos depois, ela ficou grávida depois de um ano.
P/1 – Como foi ser pai?
R – Ser pai, eu amo meus filhos, entendeu? Acho que eu adoro. Em casa é festa o dia inteiro com aqueles dois ali. Uma, que eles são pequenos ainda, então, eles ainda só de farrear com a gente, de pular em cima, brincar, lutinha, minha filha, nossa senhora, minha filha fica brigando o dia inteiro, sabe? De agarrar, e enforca e puxa, ela diz que ela é a rainha da escapada, então tem que ficar segurando ela para ela escapar, aí ela fica escapando. Por isso que ela é a rainha da escapada. É essa brincadeira. Já o meu filho é mais questão do videogame. Videogame e computador, meu filho é muito aficionado por computador, videogame, então a brincadeira com ele é mais isso, sabe, ou um filme, a gente põe um filme lá, vai assistir… em casa é assim, quando a gente pega para assistir um filme, a gente senta no sofá todo mundo e assisti o filme, não vai fazer mais nada, pode ter louca para lavar, pode estar bagunçada a casa, se a gente se programou para assistir um filme x, naquele momento, a gente senta no sofá todo mundo e assiste. Agora, quando é terror assim, não, a gente bota eles para o quarto, porque terror é complicado para os dois, mas filmes que não tenham a questão sexual, nem seja de terror e nem violento demais, eles sentam do nosso lado e assistem, pode ser filme de adulto, de criança, o que for. Eles sentam lá e assistem juntos, a gente tem esse costume. Eu acho legal, que é um momento nosso ali, de família.
P/1 – Cinema é sempre presente, então?
R – Sempre. Sempre, viu, cinema sempre presente. A minha vida teve sempre muita relação com cinema desde novo, eu sempre adorei, como eu te falei, quando era criança, eu queria ser ator, não consegui ficar do lado de lá, fiquei do lado de cá, né? Mas eu sempre fui muito louco por cinema. Por um acaso, eu fui trabalhar, acabei indo trabalhar na área, não sei, acho que essa questão, o mundo puxa a gente para aquilo que a gente gosta, né? Eu acho que falta muito hoje em dia, as pessoas saberem isso, porque eu já fiz muita coisa na minha vida, sabe, mas sempre voltava e aparecia o cinema, sempre dava uma voltinha e voltava para o cinema. Já tive grupo de teatro, que mais? Já trabalhei numa associação de teatro, mas eu sempre voltava para a questão do cinema, sempre voltava mais para a questão da sala de cinema, projeção, filme. Então, não tem jeito, o mundo te puxa para o que você gosta. Acho que as pessoas têm que identificar mais isso, senão, acaba sendo infeliz no trabalho.
P/1 – Teve alguma história marcante desse seu trabalho como projecionista ou até algum problema, alguma sessão que deu alguma coisa errada?
R – Tem um que eu acho que eu nunca vou esquecer, que eu trabalhava lá na rede do Itaú, aí era assim, como eu te falei, a gente trabalhava meio período e o outro rendia a gente, porque a gente só podia trabalhar cinco horas por dia. Só que a gente não respeita muito isso, você sai de um lugar, vai trabalhar em outro. Aí, nessa época, foi lá no Cine Arte, antigo Cine Arte e eu ia para a sala 3 do Espaço Unibanco. Aí, eu montei o filme para o cara do Cine Arte, era aquele filme “Irreversível”, não sei se você lembra, que tem aquela cena chocante, lá, e esse filme tem uma coisa, o letreiro começa ao contrário, aí eu montei o filme para o projecionista, tudo certinho. Eu estou lá na sala, no outro cinema, aí me liga: “Sandro, você montou o filme errado, eu tive que parar a sessão… o que eu faço aqui agora? Estou com 400 pessoas aqui na sala e o pessoal está querendo me bater”, aí fui lá correndo, largo o cinema, chego lá, pego o filme, coloco na enroladeira e começo a analisar: “Mas está certo esse filme, o personagem está na posição certa, está tudo certo”, falei: “Tá tudo certo” “Não está certo, está tudo errado, você montou o filme de ponta cabeça…”, aí eu peguei o filme, coloquei na máquina, né, isso já estava atrasado mais de uma hora a sessão, o pessoal estava louco lá embaixo. Aí coloquei o filme na máquina, soltei o filme, letreiro estava de ponta cabeça. Aí, era um amigo meu que estava lá, falou assim: “Para, para”, eu falei: “Espera”, eu sabia que estava certo, que eu tinha montado tudo certinho e o pessoal lá embaixo gritando, gritando, jogando latinha lá no vidro da cabine. Aí, de repente, o letreiro vira de lado, e queima e começa o filme, ai meu Deus do céu, era do filme. Aí, o que a gente fez? Ali, era uma pré-estreia do filme, ia ser a primeira vez que ia ser exibido o filme. Aí, deixei um aviso: “Cuidado projecionista, esse filme tem o letreiro de ponta cabeça no início, deixe rolar”, e pedi para avisar as outras salas que ia acontecer aquilo, né? Esse foi incrível, o pessoal, nossa, faltou bater no projecionista. Mas o problema foi esse, como não foi ele que montou o filme, quando começou de ponta cabeça, ele falou: “O Sandro errou”, parou já a sessão, nem para esperar um pouquinho para ver o que ia acontecer, né? Terrível. Esse acho que foi o mais marcante assim, de correria e desespero. Mas teve outras, em cinema, deve ter casos até… o que não falta é caso, aqui. Estrava lembrando um que aconteceu aqui também, mas acho que não vou lembrar o nome do… Ricardo Darín, né? Ele veio aqui na Cinemateca. A mulherada caiu de peso aqui na Cinemateca, na pré-estreia do filme do cara, gente do céu, a sala só cabe 200 pessoas, devia ter umas mil aí fora querendo assistir o filme dele e o pior de tudo, queriam agarrar ele, queriam… nossa, eu nunca tinha visto aquilo com nenhum ator, foi a primeira vez. A gerente da sala teve que subir em cima da mesa e gritar: “Calma, calma todo mundo, só tem mais não sei quantos ingressos”, foi também um daqueles dias que… e ele ia passar o filme dele e depois, ia ter um debate com ele, então ele veio, nossa… desculpa falar da mulherada, mas é que era a grande maioria, 99% era pessoal da idade mais avançada, sabe? Vou te falar, foi terrível. E a gente achava que a tietagem é mais hoje em dia, mas a mulherada não perdeu a vez ali, vou te falar, deu trabalho. Só faltaram quebrar tudo, bater na gerente também, tudo mais, foi feio. Teve centenas de outros casos que eu acho que eu nem vou lembrar também, superengraçados no cinema.
P/1 – E qual que é a importância da energia no seu dia a dia?
P/2 – Deixa eu só perguntar uma coisa? Você já trocou o filme? Era para passar um filme e passou outro?
R – Esse foi outro caso também. Também é um caso dos tops, também. Eu trabalhava no Espaço Unibanco, aí quem montou o filme para mim foi o Jailton, era um cara que trabalhava de manhã, aí ele montou o filme, deixou lá e chegou à noite, peguei o filme, coloquei na máquina, tal, soltei o filme na tela. Aí, estava o diretor do filme lá, aí o diretor subiu correndo: “Não é esse filme” “Deixaram esse filme para mim” “Não é esse filme, não é esse filme”, e o filme dele era “Cronicamente Inviável” e estava passando “Crônicas de Verão”, que passaram para o Jailton aquele filme para ele montar, ele montou para mim, eu vi lá: “Crônicas”, achei que era o mesmo e vamos embora, né? E não era. E o pior de tudo, é que se demora uma meia hora para se montar um filme e já tinha atrasado, ia ter que montar o outro filme, não sabia nem onde estava o outro filme, pessoal desesperado, gerente gritando, todo mundo gritando, até que… aí como que é o nome dela, mesmo? Esqueci o nome, Lucinha, era uma das sócias do cinema lá, chegou e subiu na cabine e falou: “Todo mundo fora daqui, deixa o Sandro trabalhar. Sandro, quanto tempo?”, eu falei: “Cinco minutos”, eu precisava 20 para montar o filme, eu falei: “Cinco minutos”, aí dei o meu jeito lá, montei uma parte só do filme, soltei na tela, montei o restante do filme enquanto passava, deu tudo certo no final. Aí, no outro dia, eu fui descobrir o que aconteceu e uma das pessoas que chegou lá e me chamou de incompetente, irresponsável, burro e tudo mais era um gerente que tinha lá e normal. Aí, eu fui procurar o Jailton: “Jailton, que filme foi aquele? Você montou o filme errado pra mim”, ele falou: “Não, está aqui na ficha, olha, Crônicas de Verão”, de quem era a letra? Era do gerente (risos), você acredita nisso? Eu acho que ele percebeu a besteira que fez, aí pensou: ‘se eu jogar o foco no Sandro, ninguém vai lembrar de mim aqui’, aí depois do ocorrido, algumas pessoas vieram pedir desculpas para mim, porque eu falei o que aconteceu, mas ele não pediu desculpas para mim, você acredita? Até hoje, ele me deve uma desculpa aquele cara. Que ele me deixou numa… ali foi duro também, o pessoal… o diretor do filme estava desesperado, imagina, você vão lá fazer a pré-estreia do seu filme, eu jogo um filme alemão (risos), que “Crônicas de Verão” era um filme alemão, parece, sei lá de onde que era aquele filme. Foi terrível naquele dia. Mas esse foi o único filme que eu troquei que não foi culpa minha, graças a Deus. Mas já teve muita coisa que eu fiz que foi culpa minha (risos), sabe, de no meio do rolo, o rolo de ponta cabeça, porque eu não conferi direito o filme, um dos rolos do filme veio de ponta cabeça e eu não conferi, coloquei lá, quando chegou no meio do filme, virou de ponta cabeça o filme, o final do rolo e ainda de ponta cabeça, né? Aí, parei, voltei, arrumei e soltei de novo. Nada grave demais.
P/1 – E qual que é a importância da energia no dia a dia do seu trabalho?
R – Eu nunca falo mal da energia porque tem um fato da falta de energia, que aconteceu. Também quase bateram num projecionista por causa da falta de energia. Que acabou a energia elétrica no cinema, aí faltava… como eu te falei, tem as trocas de rolos para passar de uma máquina para a outra, faltava uns dois minutinhos para fazer a troca de rolo, o projecionista não quis passar aquele finalzinho e já foi para o outro rolo direto, era no filme “Ninguém Segura esse Bebê”, sala lotada, aí o projecionista em vez de passar aquele restinho, foi passar o outro rolo, aí o pessoal: “Volta o filme”, e ele voltava aquele rolo que ele já tinha passado, não aqueles dois minutinhos que ele pulou. Aí, o pessoal: “Volta o filme”, aí o pessoal ficou meio irritado dentro da sala, começaram a quebrar tudo, arrancaram as fileiras de cadeira da sala, sabe, derrubaram, arrancaram do chão as fileiras de cadeira, arrancaram as cortinas, bateram num porteiro, saíram derrubando tudo dentro do Shopping Aricanduva isso. Isso foi terrível, mas falta de energia, aqui a gente não tem esse problema, porque a gente trabalha com nobreak, aqui a gente nem sabe que acabou a energia elétrica. A gente tem gerador e nobreak. Se acabou a energia lá fora, a gente só vai saber quando sair na rua, mas aqui então, a gente não tem esse problema, mas energia elétrica é um problema sério com projeção, né? Uma que danifica os projetores, porque quando acaba a energia, corta a ventilação, ele continua quente e danifica o equipamento.
P/1 – Como que a energia está presente na sua rotina hoje em dia?
R – A energia está presente em tudo, acho que não tem mais como a gente ter uma rotina sem energia, hoje em dia, se acaba a energia elétrica, a gente fica louco, né? Acho que não tem mais como, não tem… vamos lá, no meu trabalho mesmo, ele não existiria sem energia, não tem como, desde que a projeção iniciou… logico, no início das projeções, eram tipo lamparina, sabe, mas projeção cinematográfica não tem como sem a energia, entendeu? Ela é parte integral do meu dia a dia, não tem… não tem como, hoje em dia. Minha maior preocupação é os meus filhos ficarem sem energia em casa, porque eles ficam doidos, cara. Começam a brigar, não tem como. Acho que hoje em dia, não tem como você pensar no mundo sem energia, não tem… para mim é isso, energia.
P/1 – Além do seu trabalho, o que você gosta de fazer para se divertir?
R – Eu gosto de passear, viajar. Na verdade, eu gosto de me isolar, aí a questão da energia, embora não dê para ficar sem ela, mas eu normalmente, eu me isolo mais, entendeu? Normalmente, eu vou para retiros, locais mais isolados, fora dos grandes centros, acho que é porque eu trabalho… na verdade, acho que qualquer lugar que você vá hoje em dia é muita aglomeração, então, naturalmente, eu me isolo quando eu quero… vou para cidades no interior ou para hotel fazenda, sei lá, eu gosto mais de ficar isolado. Se eu vou para praia, eu vou para a praia mais isolada, eu não gosto muito de aglomeração. Não que eu não curta uma festa, ou ir a algum lugar, um show, diferente. Mas normalmente, quando eu pego umas férias, vou passear, eu gosto de lugar mais isolado.
P/1 – Quais são as coisas mais importantes para você hoje em dia, na vida, assim?
R – Família, né, nossa! Família, uma fonte de renda, que não dá, né? Eu não digo trabalho em si, eu penso mais numa fonte de renda, você se manter, né? Para mim, é isso. Gosto muito do meu trabalho, não sei se um dia eu me aposentar, se eu vou parar de fazer ele, porque você perguntou uma coisa importante da vida, na verdade, é a minha profissão é importante para mim, nem tanto o trabalho, é a profissão. Na verdade, a minha profissão é importante, porque assim, eu não sei se é porque a gente vê o fim de uma… acaba deixando a gente mais ligado a ela, entendeu, no meu caso, que eu tenho… sabe, eu me preocupo muito em tentar manter a profissão viva, entendeu, mas na verdade, também faz parte das questões que você falou, aí, das prioridades da minha vida, entendeu? Seria manter ela viva de alguma forma, pelo menos, comigo, muitas vezes, entendeu? Manter a tradição da projeção. Mas para mim, o mais importante é a minha família. Eu penso antes, no bem estar deles, antes de qualquer outra coisa.
P/1 – Quais são os seus sonhos?
R – Sonhos? Me problema é que eu tenho muitos sonhos, eu sempre estou pensando num sonho novo, então é complicado para mim, entendeu, eu acho que o sonho, na verdade, é do momento, sabe? Eu estava pensando até um tempo atrás em voltar a estudar, eu sempre quis fazer Mecatrônica, só que eu não queria fazer Mecatrônica numa escola paga, eu queria entrar numa pública, num nível alto, mas aí fica meio difícil, né? Esse é um dos sonhos que eu tenho de fazer, talvez, um cursinho e voltar a estudar, porque eu acho que o que faltou para mim foi a questão de terminar os estudos, fazer o nível superior, esse eu acho que é um sonho meu que eu pretendo fazer, talvez não Mecatrônica, talvez outra coisa, mas ainda vai do que eu estiver a fim de fazer, mas eu queria voltar a estudar.
P/1 – Como foi contar a sua história hoje aqui, pra gente?
R – Foi legal. Em alguns momentos, a gente começa a lembrar do nosso passado, origem e fica um pouquinho emocionante, a gente se emociona um pouquinho em voltar… que a gente não pensam muito no que nós fomos um dia, né, no que a gente passou. A gente lembra de historinhas, né? Mas a gente voltar,. você reviver, é aquela coisa bem, muitas vezes, até triste, assim. Acho que é isso. Para mim, mexe muito com a emoção, essa questão de voltar no passado e você lembrar quem você é, entendeu? Porque se você parar para pensar, naquele comecinho lá é o que a gente é hoje, né, não mudou muito, como eu falei, vai sempre puxando a gente, nosso trabalho vai sempre puxando aquilo que a gente gosta, aquilo que a gente quer fazer. Eu acho que desde lá, já era isso e eu não sabia. Acho que é bem isso.
P/1 – A gente está encerrando. A gente queria agradecer em nome do Museu pela atenção. Foi bacana. Espero que você tenha gostado, também.
FINAL DA ENTREVISTA
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