ELOína Maria Todelo Corrêa. Nosso Elo, nossa Maria. “Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre. Quem trás no corpo essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida” Maria Maria, de Milton Nascimento, evoca a presença e legado de minha avó em minha vida. Há dias em que a saudade bate forte, inegavelmente. Quando somos jovens uma das muitas coisas que começamos a aprender é que a vida é feita de perdas. A Elô foi embora há um ano e três meses, deixando um vazio... “Naquela mesa ta faltando ela e a saudade dela ta doendo em mim”. Conversávamos horas a fio sobre a vida. Fomos muitos amigos. Fui confidente, neto e cumplice da vovó. Por sermos de gerações diferentes, os conflitos eram inevitáveis, mas quase nunca brigávamos. Quando criança, o meu lugar preferido no mundo inteiro era a sua casa. O cheirinho de café passado na hora, o pãozinho fresco, a manteiga...Tudo tão simples, porém tão simbólico. “Paixão da vovó!”, dizia ela, arregaçando um sorriso amarelado, “pede bença, ela completava”. Ao me acolher no seu corpo fofinho, eu sentia seu perfume doce. Ainda na infância, no momento em que meus pais discutiam em casa, eu corria pra casa dela. Falava que não gostava de vê-los assim e ela dizia “é coisa deles, deixa pra lá”. Eu chorando implorava pra ela “vovó, a senhora promete que não vai morrer?” e ela disse “uai, João, ninguém fica pra semente”. Concluía isso e me abraçava. Dormimos por muito tempo juntos, um do ladinho do outro. Até com 18, 19 anos, chegava da balada, vestia pijama e, com a mesma inocência da criança que fui um dia, deitava com ela e dormia. Eu colocava a mão sobre seus braços, flácidos pela idade, e dizia “vovó, cheguei”. Meio sonolenta ela acordava e dizia “dorme com Deus”. Por vezes eu acordava mais cedo, olhava pra ela dormindo, passava a mão...
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ELOína Maria Todelo Corrêa. Nosso Elo, nossa Maria. “Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre. Quem trás no corpo essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida” Maria Maria, de Milton Nascimento, evoca a presença e legado de minha avó em minha vida. Há dias em que a saudade bate forte, inegavelmente. Quando somos jovens uma das muitas coisas que começamos a aprender é que a vida é feita de perdas. A Elô foi embora há um ano e três meses, deixando um vazio... “Naquela mesa ta faltando ela e a saudade dela ta doendo em mim”. Conversávamos horas a fio sobre a vida. Fomos muitos amigos. Fui confidente, neto e cumplice da vovó. Por sermos de gerações diferentes, os conflitos eram inevitáveis, mas quase nunca brigávamos. Quando criança, o meu lugar preferido no mundo inteiro era a sua casa. O cheirinho de café passado na hora, o pãozinho fresco, a manteiga...Tudo tão simples, porém tão simbólico. “Paixão da vovó!”, dizia ela, arregaçando um sorriso amarelado, “pede bença, ela completava”. Ao me acolher no seu corpo fofinho, eu sentia seu perfume doce. Ainda na infância, no momento em que meus pais discutiam em casa, eu corria pra casa dela. Falava que não gostava de vê-los assim e ela dizia “é coisa deles, deixa pra lá”. Eu chorando implorava pra ela “vovó, a senhora promete que não vai morrer?” e ela disse “uai, João, ninguém fica pra semente”. Concluía isso e me abraçava. Dormimos por muito tempo juntos, um do ladinho do outro. Até com 18, 19 anos, chegava da balada, vestia pijama e, com a mesma inocência da criança que fui um dia, deitava com ela e dormia. Eu colocava a mão sobre seus braços, flácidos pela idade, e dizia “vovó, cheguei”. Meio sonolenta ela acordava e dizia “dorme com Deus”. Por vezes eu acordava mais cedo, olhava pra ela dormindo, passava a mão sobre seus finos cabelos e rogava a Deus para que não me deixasse sem ela. Ela, elô, foi o meu elo: Eloina, minha Maria. Ela me fez e me faz acreditar que as pessoas podem ser gentis, que tudo pode ser dito com uma pitada de açúcar. Por tantos amigos e amigas que fez, ela me ensinou a ser fiel e grato a quem estabelece conosco laços de fraternidade. Uma festinha e uma viagem fazem bem pra alma...e como ela gostava. Essa herança eu também carrego dela. Eloína, meu elo, não se rompeu. Lembrando de tudo isso e depositando nestas palavras o seu legado, você será eterna. Eloína, seu elo está no museu, o Museu da Pessoa para que os visitantes admirem a criatura sublime da natureza que você foi. Ah Eloína, Maria, sua estranha mania de ter fé na vida é o que me dá forças para acreditar que o meu legado, o meu corre e a minha história serão tão lindos como as rosas que ainda florescem em seu quintal. Vovó, você, pra mim, é a certeza de que existe ressurreição, porque te vejo em tudo: no meu pai, nos meus tios, nos seus móveis, nas suas fotografias, nos panos de prato que você pintava...Tudo é você. Estar aqui sem sua presença física as vezes tem sido um ato de coragem. Contudo, a senhora não me ensinou a desistir. Com aperto no peito, Seu dindinho. ELOína Maria Todelo Corrêa. Nosso Elo, nossa Maria. “Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre. Quem trás no corpo essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida” Maria Maria, de Milton Nascimento, evoca a presença e legado de minha avó em minha vida. Há dias em que a saudade bate forte, inegavelmente. Quando somos jovens uma das muitas coisas que começamos a aprender é que a vida é feita de perdas. A Elô foi embora há um ano e três meses, deixando um vazio... “Naquela mesa ta faltando ela e a saudade dela ta doendo em mim”. Conversávamos horas a fio sobre a vida. Fomos muitos amigos. Fui confidente, neto e cumplice da vovó. Por sermos de gerações diferentes, os conflitos eram inevitáveis, mas quase nunca brigávamos. Quando criança, o meu lugar preferido no mundo inteiro era a sua casa. O cheirinho de café passado na hora, o pãozinho fresco, a manteiga...Tudo tão simples, porém tão simbólico. “Paixão da vovó!”, dizia ela, arregaçando um sorriso amarelado, “pede bença, ela completava”. Ao me acolher no seu corpo fofinho, eu sentia seu perfume doce. Ainda na infância, no momento em que meus pais discutiam em casa, eu corria pra casa dela. Falava que não gostava de vê-los assim e ela dizia “é coisa deles, deixa pra lá”. Eu chorando implorava pra ela “vovó, a senhora promete que não vai morrer?” e ela disse “uai, João, ninguém fica pra semente”. Concluía isso e me abraçava. Dormimos por muito tempo juntos, um do ladinho do outro. Até com 18, 19 anos, chegava da balada, vestia pijama e, com a mesma inocência da criança que fui um dia, deitava com ela e dormia. Eu colocava a mão sobre seus braços, flácidos pela idade, e dizia “vovó, cheguei”. Meio sonolenta ela acordava e dizia “dorme com Deus”. Por vezes eu acordava mais cedo, olhava pra ela dormindo, passava a mão sobre seus finos cabelos e rogava a Deus para que não me deixasse sem ela. Ela, elô, foi o meu elo: Eloina, minha Maria. Ela me fez e me faz acreditar que as pessoas podem ser gentis, que tudo pode ser dito com uma pitada de açúcar. Por tantos amigos e amigas que fez, ela me ensinou a ser fiel e grato a quem estabelece conosco laços de fraternidade. Uma festinha e uma viagem fazem bem pra alma...e como ela gostava. Essa herança eu também carrego dela. Eloína, meu elo, não se rompeu. Lembrando de tudo isso e depositando nestas palavras o seu legado, você será eterna. Eloína, seu elo está no museu, o Museu da Pessoa para que os visitantes admirem a criatura sublime da natureza que você foi. Ah Eloína, Maria, sua estranha mania de ter fé na vida é o que me dá forças para acreditar que o meu legado, o meu corre e a minha história serão tão lindos como as rosas que ainda florescem em seu quintal. Vovó, você, pra mim, é a certeza de que existe ressurreição, porque te vejo em tudo: no meu pai, nos meus tios, nos seus móveis, nas suas fotografias, nos panos de prato que você pintava...Tudo é você. Estar aqui sem sua presença física as vezes tem sido um ato de coragem. Contudo, a senhora não me ensinou a desistir. Com aperto no peito, Seu dindinho. ELOína Maria Todelo Corrêa. Nosso Elo, nossa Maria. “Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre. Quem trás no corpo essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida” Maria Maria, de Milton Nascimento, evoca a presença e legado de minha avó em minha vida. Há dias em que a saudade bate forte, inegavelmente. Quando somos jovens uma das muitas coisas que começamos a aprender é que a vida é feita de perdas. A Elô foi embora há um ano e três meses, deixando um vazio... “Naquela mesa ta faltando ela e a saudade dela ta doendo em mim”. Conversávamos horas a fio sobre a vida. Fomos muitos amigos. Fui confidente, neto e cumplice da vovó. Por sermos de gerações diferentes, os conflitos eram inevitáveis, mas quase nunca brigávamos. Quando criança, o meu lugar preferido no mundo inteiro era a sua casa. O cheirinho de café passado na hora, o pãozinho fresco, a manteiga...Tudo tão simples, porém tão simbólico. “Paixão da vovó!”, dizia ela, arregaçando um sorriso amarelado, “pede bença, ela completava”. Ao me acolher no seu corpo fofinho, eu sentia seu perfume doce. Ainda na infância, no momento em que meus pais discutiam em casa, eu corria pra casa dela. Falava que não gostava de vê-los assim e ela dizia “é coisa deles, deixa pra lá”. Eu chorando implorava pra ela “vovó, a senhora promete que não vai morrer?” e ela disse “uai, João, ninguém fica pra semente”. Concluía isso e me abraçava. Dormimos por muito tempo juntos, um do ladinho do outro. Até com 18, 19 anos, chegava da balada, vestia pijama e, com a mesma inocência da criança que fui um dia, deitava com ela e dormia. Eu colocava a mão sobre seus braços, flácidos pela idade, e dizia “vovó, cheguei”. Meio sonolenta ela acordava e dizia “dorme com Deus”. Por vezes eu acordava mais cedo, olhava pra ela dormindo, passava a mão sobre seus finos cabelos e rogava a Deus para que não me deixasse sem ela. Ela, elô, foi o meu elo: Eloina, minha Maria. Ela me fez e me faz acreditar que as pessoas podem ser gentis, que tudo pode ser dito com uma pitada de açúcar. Por tantos amigos e amigas que fez, ela me ensinou a ser fiel e grato a quem estabelece conosco laços de fraternidade. Uma festinha e uma viagem fazem bem pra alma...e como ela gostava. Essa herança eu também carrego dela. Eloína, meu elo, não se rompeu. Lembrando de tudo isso e depositando nestas palavras o seu legado, você será eterna. Eloína, seu elo está no museu, o Museu da Pessoa para que os visitantes admirem a criatura sublime da natureza que você foi. Ah Eloína, Maria, sua estranha mania de ter fé na vida é o que me dá forças para acreditar que o meu legado, o meu corre e a minha história serão tão lindos como as rosas que ainda florescem em seu quintal. Vovó, você, pra mim, é a certeza de que existe ressurreição, porque te vejo em tudo: no meu pai, nos meus tios, nos seus móveis, nas suas fotografias, nos panos de prato que você pintava...Tudo é você. Estar aqui sem sua presença física as vezes tem sido um ato de coragem. Contudo, a senhora não me ensinou a desistir. Com aperto no peito, Seu dindinho.
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