Histórias de Consumo Consciente
Depoimento de Mônica Pilz Borba
Realização Museu da Pessoa
PCSH_HV552_Mônica Pilz Borba
Transcrito por Karina Medici Barrella
MW Transcrições
P/1 – Primeiramente, eu queria agradecer muito por você estar aqui com a gente hoje. A gente sempre começa perguntando, pedindo pra você falar o seu nome, local e a data de nascimento.
R – Mônica Pilz Borba. Dezessete de dezembro de 1964. Nasci aqui em São Paulo, capital. Sou sagitariana com ascendente em leão e, no horóscopo chinês, eu sou dragão de madeira.
P/1 – Fala o nome dos seus pais.
R – Meu pai chama José Henrique Clemêncio Borba. É filho mais velho da família, super mimado. E a minha mãe, Regina Sílvia Corrêa Pilz, super cientista, bióloga, paisagista. Pessoas muito influentes da minha vida.
P/1 – Você falou rapidinho de cada um. Quem eram eles, o que eles faziam, como você os descreveria?
R – Meu pai sempre mexeu nessa área de fazenda, agronomia, era o braço direito do meu avô. O meu bisavô foi o fundador da Drogasil, então, ele tinha uma fortuna e em vida ele pegou e dividiu as ações para os filhos, tal. E os filhos torraram tudo, que é o meu avô, né? Mas o meu pai ajudou muito o meu avô, abrir fazenda, vender, então ele fazia muito esse trabalho, ele nunca se formou. E sempre mexeu com fazenda, então, tem uma história assim. Mas a fazenda do meu avô que eu sempre fui era uma fazenda que tinha as áreas preservadas, as nascentes eram preservadas. Tinha a revolução, eu vi a revolução verde se concretizar ali, de você passar de uma coisa mais light e dura de trabalho pra trator, inseticida, eu vi isso acontecendo quando era criança. E nunca compreendi muito bem aquilo. E meu pai também abriu fazendas no Norte, na região do Pará. Uma vez eu lembro que uma vez a gente foi viajar com ele. Gente, tinha uma árvore, era da largura dessa sala, era uma árvore para um caminhão. Eu nunca tinha visto, não sabia que existia uma árvore tão grande na minha vida. E correntão, sempre achava aquilo muito bruto, agressivo. Mas eu era uma menina. Uma menina numa família super machista não é nada, mesmo que eu fosse a mais velha, a neta mais velha (risos), a gente nunca era considerada naquela época. Hoje, graças a Deus, a gente já é um pouco mais considerada (risos). E a família da minha mãe, minha mãe cientista, bióloga, primeira mulher contratada no Hospital das Clínicas, ela trabalhou no desenvolvimento da pesquisa de Chagas, trabalhou muitos anos no serviço público e quando ele começou a se deteriorar, ela viu muita corrupção – ela teve uma educação muito rígida, muito honesta, tal – ela não aguentou, saiu e se tornou paisagista. Então fui sempre muito rodeada de coisa de natureza, fazenda, sítio. E o meu avô, pai da minha mãe, meu avô Pilz, ele era um doce comigo, ele foi um avô pai, então, eu passava todas as férias, finais de semana com ele e com meus irmãos. A gente brincava, eu sempre fui criada muito livre, muito solta, sem preconceito. Então ficava descalça. Eu lembro que ninguém ficava me enchendo a paciência, era muito livre. A gente roubava ovo no galinheiro da avó e o meu avô fez um fogão a lenha quando eu tinha seis anos de idade, de verdade. Então com seis anos eu já cozinhava, a gente brincava e fazia milhões de experiências, fritava cigarra viva, todo tipo de... folhas, e carvão, e ovo, e não sei o quê. E a minha avó ficava louca porque a gente ia lá, pegava todos os ovos e ela: “Cadê os ovos pra fazer o bolo!?”, mas a gente já tinha comido e tinha que chegar na hora do almoço e almoçar de novo (risos). Era muito divertido, foi uma infância... apesar dos meus pais terem se separado quando eu tinha seis anos e isso foi muito difícil, muito duro, minha mãe ficou muito fragilizada, ela tinha três filhos, uma mulher separada naquela época era praticamente ser escurraçada, perdia todas as amizades, não podia mais frequentar as famílias porque: “Imagina, ela era sozinha”, era um preconceito muito grande que ela viveu e um peso muito grande, ela se tornou alcoolatra durante anos, foi muito difícil a nossa adolescência por conta dessa situação. Mas o mundo era assim, desse jeito. Mas meus tios, irmãos da minha mãe, sempre apoiaram muito, ajudaram muito a gente. Eu agradeço muito a todo aconchego que a gente teve da família. Mas mesmo assim, a situação com a minha mãe sempre foi muito conflituosa, pra mim pessoalmente. Eu não admitia que ela bebia e muito cedo eu saí da casa da minha mãe e fui morar com meu pai, tive uma adolescência bem tumultuada, bem estável, sempre fui muito rebelde, questionadora. Era só mandar não fazer uma coisa que eu queria fazer aquela coisa (risos). Sou muito corajosa, não tenho medo de nada, tenho ideias próprias, personalidade forte (risos). Então não sou uma pessoa muito fácil de lidar. Mas graças a isso eu sobrevivi (risos), uma vontade de viver, de fazer e de ser. E muito curiosa, sempre fui muito curiosa. Então uma coisa muito legal da minha adolescência é que eu fui do Movimento Bandeirante durante sete anos, dos 14 aos 21 anos. E era uma oportunidade de viajar sem pai e sem mãe, sabe? Mas em um ambiente estruturador, coletivo e feminino, que eu acho uma coisa muito legal porque antigamente era só mulher de um lado e só homem do outro e nunca se misturava. De repente misturou e você nunca tem só mulher e é muito legal você fazer coisas só com mulheres. E viajar só mulher era muito divertido.
P/1 – Essa questão do feminino apareceu muito cedo pra você então? Como que era?
R – Eu sempre fui um menino, na verdade, eu nunca fui uma menina. Eu sempre gostei de subir em árvore, andar a cavalo, usar calça. Eu acho que eu me tornei mulher com uns 30 anos, mais ou menos, depois de ter tido dois filhos, tá? (risos). Que eu falei: “Não, agora eu vou ser mulher porque eu acho legal”. Porque eu era muito, eu sempre gostava de coisas de meninos. Tanto é que eu tenho uma irmã um ano menor do que eu, a Ana Lúcia, e o Rafa, Rafael, que é três anos mais novo que eu e eu sempre brinquei com ele, porque ele que queria andar a cavalo, ele que queria ir no curral, ele queria ir no meio do mato, ele queria ir ver a selva. Todas as coisas de aventura era com meu irmão, a minha irmã não curtia, ela queria ficar em casa brincando com a boneca, ela era mais reservada. Então eu sempre brinquei muito com meu irmão. E muitos perigos a gente avançou (risos). Caía do cavalo, se machucava, cortava o braço com faca. Nossa, se as mães e os pais hoje vissem o que a gente fazia, eles iam ficar abismados. E tudo bem se cortar, machucar e continuar a viver, ninguém morria, sabe? Às vezes tudo bem, ficava um pouco lesado, tal. Uma vez na fazenda, meu pai estava roçando o mato enorme e bateu na caixa de abelha uma pedra e veio aquelas abelhas africanas que existiam antigamente – que hoje as abelhas estão ótimas, vocês sabem que elas misturaram e tal. E eu saí correndo e me escondi no quarto, levei uma picada e fiquei chorando. Meu irmão levou umas 40 picadas, cara. A cabeça dele ficou enorme. A gente achou que ele ia morrer. Ele não morreu graças a Deus, mas foi uma... a gente aprendia a viver com a natureza e respeitar a natureza. Então a gente respeitava, sabia quando podia ir e quando não podia, se ia chover não podia ir pro lago não sei que porque passava o rio e podia vir uma enxurrada. Então essa coisa da coragem que eu tenho, tal, eu acho que eu tenho muito a ver com a percepção do ambiente que eu fui criando desde pequena, porque senão a gente se ferrava. E meu pai, ele ia trabalhar. A minha avozinha ficava lá na casa. Minha mãe não estava lá pra ficar, então a gente tinha que se virar, né? Então acho que essa coisa vivencial, forte, com a natureza foi uma coisa importante pra enfrentar a vida na cidade, aqui, que aqui é bem mais difícil do que, lá é concreto, aqui não é tão concreto os medos. E acho que essa coisa de ser bandeirante também foi uma coisa muito importante, aprender a trabalhar em equipe, é um desafio trabalhar em grupo, em equipe, acho que na escola sempre falava que era trabalho em equipe, mas era assim: “Você faz a introdução, você faz o meio, você faz não sei o quê”, não existia a metodologia pra trabalhar em equipe e isso sempre me incomodou muito, eu falo: “Mas isso não pode ser um trabalho em equipe”. E quando eu fui ser bandeirante a gente tinha que fazer muitas coisas em equipe. E tinha muita brigas e discussões porque a gente não é acostumado a fazer nada junto, nada. E isso foi me atraindo muito pra área de educação porque eu estudei em muitas escolas, mudei de muitas escolas, eu fique anos no Pio XII até o final do sétimo, oitavo ano e depois eu saí e fiz colegial em várias escolas. E sempre achava tudo muito chato, de uma forma geral. A não ser...
P/1 – Como que foi seu primeiro dia?
R – Meu primeiro dia? Não lembro do primeiro dia. Eu lembro dos meus medos, que os professores me puseram muitos medos. Assim, eu não tenho boa memória, minha inteligência é vivencial, eu preciso entender a coisa. E na escola na época que eu estudava você não tinha que entender nada, bastava você ter uma boa memória e saber copiar (risos). Então depois de anos eu aprendi a copiar, mas não significava que eu entendia aquilo que eu estava copiando. Então, eu nunca fui uma boa aluna, mas adorava aula de Geografia porque a professora levava a gente pro campo e tinha que desenhar, fazer mapa. Pra aula de Ciências que tinha laboratório, que a gente fazia experiência. O professor de Matemática também trabalhava um pouco com jogos. Então quando ia para uma coisa mais vivencial e se tornava significativa, aula de Artes, Música, eu ia muito bem. Mesmo professor de História, que sempre tive ótimos professores de História. Mas a coisa da decoreba, aquilo pra mim era inconcebível.
P/1 – Você falou de medo, que tipo de medo?
R – Ah, eu tinha um professor de Literatura que ele falava que todo dia ele ia chegar e chamar alguém pra declamar uma poesia. E não podia ler. Então você passava o ano inteiro com medo que aquele dia chegasse o seu dia, suava de medo. E eu, eu sou extrovertida, falo hoje, mas agora. Mas quando tinha tipo 11, 12 anos eu morria de vergonha de tudo. Eu era magra, eu me achava horrorosa como qualquer adolescente, sabe? Os meus pais eram separados, a minha mãe tinha aqueles problemas, não era legal. Eu não queria me expor, já estava difícil lá dentro, quanto mais. E aquele cara falava que tinha que ler uma porra de uma poesia (risos). Então todo dia eu entrava na aula e ficava nervosa no começo. E pra você aprender as coisas você tem que estar relaxado e gostar daquilo, então você já entra na sala de aula com medo que o cara vai te chamar, que você vai ser sorteada para uma coisa que você não quer fazer que é ir lá na frente se expor, sabe? Mas tinha umas professoras, tinha uma coisa muito legal que eu lembro, diário, todo dia a gente podia pegar o livrinho e escrever. Chegava na escola, achava isso um ritual tão bacana, sabe? Você chegava, qualquer coisa que você tinha você podia por ali e ela nunca ia ler. E ela nunca leu mesmo. Era só o exercício de você escrever. Tanto é que eu tenho montes de diários e um dia quando eu fizer uns 60, 70 anos, sei lá eu, eu vou ler todos os meus (risos), que eu tive muitos diários, escrevia muito, muito. Foi uma coisa que... então sempre achei a coisa da escola, da educação, que podia ser uma coisa muito legal, mas não era. E eu estudei numa escola, no Pio XII, que as freiras eram super progressistas, não tinha essa coisa da igreja católica punidora, nada disso. A gente fazia interpretação da Bíblia na aula de teatro, não tinha uma coisa doutrinária da religião católica perversa e pesada, não era isso, era boa, a escola muito boa. Mas tinha uma metodologia antiga que até hoje persiste, infelizmente (risos). E isso tudo, eu sempre me incomodei com isso na educação. Tanto é que quando eu fui optar, que faculdade eu ia fazer eu prestei pra História, que eu amo História, acho muito importante porque eu tive excelentes professores e Educação. Acho Educação um nome bem melhor do que pedagoga, eu acho que não deveria ter esse nome pedagoga, mas...
P/1 – E o que fez você pender mais pra Educação do que pra História nesse período?
R – Porque eu acabei entrando em Educação, em Pedagogia, na PUC. E porque eu acho que a escola é um ambiente que pode ser maravilhoso mesmo de frequentar. Porque quando eu fui bandeirante, pra mim aquilo é educação. Quando eu ia pro sítio do meu avô passar um fim de semana e cozinhar, pra mim aquilo é educação. Tudo o que você vivencia e aprende é educação. Então por que dentro da escola tem que ser chato e por que fora é tão legal? Olha, eu aprendi marcenaria, elétrica, hidráulica, tudo se você me pedir pra fazer eu sei fazer. Quase ninguém sabe. Porque você não aprende isso na escola, você aprende ou com o seu avô, ou com seu tio, ou no movimento bandeirante. Em algum lugar, menos na escola. E são coisas super essenciais pra vida! Então eu sempre tive essa coisa do que é importante de verdade pra gente viver bem? E daí eu também fiz um curso na minha adolescência muito importante que foi na área de Arte Educação. Muito importante. Eu tinha uns 17 anos. E abriram um curso aqui perto da Colmeia e eu tive aula com o Nóbrega, sabe? Eu tive aula de escultura, de pintura, de dança, de origami, de canto, tudo, com os melhores professores. E em um ano eu me tornei uma super arte educadora, eu sabia fazer de tudo um pouco assim. E isso foi muito transformador na minha formação e trabalhei muito com contação de histórias um período. E aí foi um embalo pra começar a trabalhar na educação infantil, eu entrei na faculdade, eu já trabalhava numa escola que chamava O Corpinho, foi a primeira experiência. Eu fazia ioga nessa escola, chamava O Corpo, era Ioga, alimentação saudável, alternativa, vegetariana. Dezoito anos, tá? E aí abriram uma escola com crianças de um a seis anos todo mundo junto no mesmo ambiente e tinha horta, origami, ioga, era meio voluntário e eu participei dessa experiência e falei: “Puxa, que coisa gostosa”. E foi muito prazeroso, muito natural essa minha experiência na educação. Depois eu fui pra outras pré-escolas e eu acabei indo pro Vera Cruz, que eu lecionei lá durante dez anos. E também foi uma experiência muito rica, se não fosse lá eu teria saído da Pedagogia (risos). Porque o curso de Pedagogia era muito teórico, muito acadêmico, não tinha nada de discussão na prática e no Vera era maravilhoso porque era prática e a gente ia estudar, ler, discutir, entender o que estava acontecendo. E isso foi muito rico na minha experiência profissional.
P/1 – Na universidade como que deu esse embate pra você dessa bagagem toda de infância e de grupo bandeirante com Piaget?
R – Olha, eu acho assim, que eu me identifiquei muito com Paulo Freire, é óbvio. Piaget, Vigotski, as discussões eram interessantes. Eu saí logo da turma da manhã e fui pra noite porque as meninas que faziam Pedagogia, olha, vocês me desculpem, mas chegava na Páscoa elas ficavam durante a aula recortando coelhinho, máscara de coelhinho. Eu falo: “Mas gente! Vocês estão loucas, o que é isso? Não é isso a Páscoa”. Tudo esteriotipado. Eu também fiz algumas palestras no Palas Athena com o Rudolf Steiner, conheci um pouco da educação antroposófica, sabe? Então eu sempre estranhei essa coisa da convencionalidade – aliás eu estranho até hoje (risos). E aí eu acho que eu suportei a faculdade. Eu suportei porque eu também me enveredei lá no Centro Acadêmico de Ciências Sociais, pessoal da Geografia, da História, das Ciências Sociais porque eu pouco convivia, eu tenho umas seis amigas da faculdade, o resto não deu. Muita patricinha, uma coisa muito fora da minha. E depois nos últimos anos no Vera Cruz surgiu uma oportunidade que eu fui trabalhar na horta, horta e alfabetização, então eu trabalhava com a primeira série e só nessa área de horta. E já na faculdade eu fui ser voluntária na SOS Mata Atlântica e também na Pró Jureia. Nesse período, que era final dos anos 80, a gente teve uma luta porque o governo queria fazer uma usina nuclear lá na região do Iguape, Peruíbe, ali. No litoral, toda aquela extensão ali do litoral. E os ambientalistas, que tinha uma meia dúzia naquela época, criamos um movimento e eu me envolvi com essa história de transformar a região da Jureia num parque. E a gente tinha campanha publicitária, a gente mobilizou a comunidade porque era muito atraente falar: “Você quer uma floresta ou uma usina nuclear?” (risos). Era um prato cheio. Mas era final de ditadura, a gente ainda estava naquele momento de transição. E aí a gente conseguiu transformar aquilo realmente numa área de preservação, numa reserva, uma unidade de conservação com várias legislações diferentes dependendo do local que é e a gente montou um grupo de estudos de educação ambiental dentro da Pró-Jureia. Eu e algumas amigas pra entender o que é essa questão da relação da gente com a natureza, isso eu estou falando final dos anos 80, antes da Eco-92. E a partir daí a gente montou esse grupo de estudos e depois da ECO-92 a gente resolveu montar uma instituição, que é o Instituto Cinco Elementos com o objetivo de ter projetos de educação ambiental pra escolas e pra comunidades, pra empresas, de sensibilizar as pessoas, da importância da relação nossa com o ambiente. E aí, além de eu ter o alicerce da educação, da arte educação, a questão ambiental entrou com tudo na minha vida. Muito forte.
P/1 – Qual foi o momento da virada?
R – Olha, eu acho que depois que eu fui num lixão, primeira vez que eu fui num lixão na minha vida, foi em Peruíbe. Acho que foi no final dos anos 80, foi uma coisa muito chocante porque naquela época não tinha monte de casas como hoje é. A gente foi, a gente estava fazendo um diagnóstico da cidade pra gente fazer uma formação pros professores porque a gente tinha todos os dados da Juréia mas não tinha da área urbana. E aí a gente foi e eu fiquei chocada porque eu cheguei lá, é aquela situação, um fedor total, criança, rato, urubu, cavalo morto. Eu acho que todo mundo tem que ir em um lixão na sua vida, todos nós. Porque é muito impactante. Daquele dia em diante eu acho que vai no fundo do coração da gente porque tudo o que está lá você que é responsável por aquilo, todos nós somos responsáveis por aquilo. Cada habitante no Brasil, em São Paulo, produz uma média de um quilo e um quilo e 200 por dia de resíduo. Eu não chamo de lixo, porque lixo é uma coisa que não serve pra nada e na verdade a gente, na natureza não existe nada que não sirva pra nada, nada, tudo se reutiliza, se recicla. Então a palavra resíduo é mais adequada para isso. E aí eu acho que esse dia foi um dia muito marcante na minha vida porque até hoje eu me lembro muito bem dele, do cheiro dele, tudo o que me impactou. E aí você pensa: se em um ano são 365 dias, então pensa nessa sala 365 quilos. Deve dar um tanto assim, né? Mais vezes 52 anos que eu tenho. Todo o resíduo que eu já produzi não cabe nessa sala aqui. E com certeza é muito mais do que isso porque tem todas as roupas, sapatos, lençóis, toalhas, bicicletas, patins (risos), tudo o que eu já usei e que eu não estou chamando de resíduo que também já foi para algum lugar. E não existe essa coisa do fora, porque o lixão, o aterro, o nosso desenvolvimento pega todas as coisas ruins e põe lá pra fora. Só que como a gente foi crescendo, crescendo, crescendo, agora a gente não tem mais. Hoje o resíduo aqui da nossa cidade, pra sair da sua casa e chegar até o aterro anda mais de 150 quilômetros. E cada vez anda mais, entendeu? Se você vai estudando a questão ambiental, você vê que a gente está em um beco sem saída, praticamente. Só que assim, eu não posso falar isso pras pessoas porque isso imobiliza. E como eu sempre trabalhei uma metodologia de envolvimento das pessoas, que as pessoas entendam pra mudar, a mudança de comportamento só se dá com ampliação da consciência. O pessoal fala: “Não, mas muda se dá multa, muda se, na porrada”. Ah, também, mas volta a fazer. Quando você amplia, consciência é uma coisa muito interessante, que ela amplia e ela não volta, ela só amplia. E quanto mais você amplia, mais difícil vai ficando viver porque você consegue relacionar tudo o que você vive, fala, faz. E aí eu acho que eu mergulhei muito nessa questão da educação ambiental, sempre tentando trazer a sensibilização das pessoas através de uma coisa positiva, então acho que a natureza, qualquer pesquisa que você fala pras pessoas, o que a natureza traz pras pessoas, paz, tranquilidade. Então o gancho da educação ambiental, muitas vezes, com as pessoas está em aproximar as pessoas da natureza. De fazer uma mudinha nascer. Do pequeno, do belo, pra depois você trabalhar com as questões problemáticas do consumismo e assim por diante. E uma coisa também que eu sempre gostei muito foi de inventar jogos, dinâmicas, de ser uma coisa mais vivencial e menos blablablês. E eu tive algumas experiências muito importantes. Eu tive um curso de educação global com o professor Dave Selby do Canadá. Esses caras escreveram umas publicações sobre educação global, tudo o que eu acreditava. Eu nunca tinha estudado isso na minha faculdade, que aqui na faculdade do Brasil você só estuda coisa daqui, você não vê pensadores, pelo menos na época que eu fiz, você não vê pensadores, educadores de fora. E esses caras eram convidados pra país pós-guerra pra começar a reconstituir o sistema educacional em uma outra base, ligada à diversidade, à questão de gênero e assim por diante. E também com vivências com a natureza, com o professor... esqueci o nome dele, daqui a pouco eu lembro, mas ele desenvolveu uma metodologia de brincar com a natureza, de brincadeiras bem agitadas pra você entender toda a complexidade do sistema natureza até você conseguir parar e meditar e olhar a natureza se movimentando, apesar de você achar que ela está parada. Porque quando você vai fazer uma brincadeira, chama as crianças para ir brincar num parque, eles acham que está tudo parado, eles não conseguem olhar uma árvore e perceber o movimento e a vida porque a TV, tudo está sempre em um movimento super rápido e a natureza é rápida, mas ela é lenta. E o ser humano, ele é tão lento quanto a natureza, ele é muito lento. Só que a gente acha que é rápido, né? (risos), a gente está se enganando um pouquinho, mas o ser humano é lento, olha quanto tempo ele demora pra andar. Do dia que ele sai da barriga da mãe. Falar. É lento pra caramba, a gente tem um ritmo lento, humano, que é parecido com a natureza. Então é despertar um pouco meu trabalho, até hoje é muito despertar as pessoas, as crianças, os professores pra essa relação com o ambiente. E perceber que a gente está aqui de passagem, que o planeta Terra é a nossa casa e que eu acredito que a humanidade está aqui pra aprender a viver nesse planeta. Eu tenho essa percepção, essa minha compreensão, eu gostaria do meu trabalho transmitir como que a gente vai fazer pra viver aqui e só melhorar o ambiente. Porque hoje, a gente vem, constrói uma casa, a gente destrói o solo, destrói o ar, acaba com a água, produz um monte de lixo, então a gente tem que ter um jeito da gente viver nesse planeta bem, sem destruir ninguém, sem matar ninguém, a gente ter saúde. Porque o ser humano tem essa coisa da criação, da criatividade, é o potencial maior dele, a criatividade. Então eu acredito que a gente possa realmente nos tornarmos seres humanos, acho que ser humano é cuidar da onde você vive, é você respeitar como o planeta funciona, nós ainda não entendemos como o planeta funciona. Porque tudo o que a gente constrói não tinha nada a ver como funciona, pra ele é muito complexo o sistema. Algumas coisas agora estão começando a mudar na área de tecnologia. Antigamente, por exemplo, uma fábrica de papel pegava o eucalipto, produzia o papel e jogava todo o veneno no rio. Hoje em dia não, se inventou sistemas de membranas, quer dizer, tem a cana hoje pra produzir álcool, hoje uma planta de produção de etanol é quase um, ela evoluiu de um jeito, ela quase não usa água, você tem todo sistema dela, tudo, não joga fora nada. Ou seja, eu acredito que a gente possa ter modelos produtivos que não destruam o ambiente, não é possível que a gente não tenha essa capacidade. Porque nós não vamos deixar de produzir tecnologia, máquina, nós não vamos, nós temos que produzir, mas a gente tinha que estar muito atento ao que está. Agora, está difícil um pouco atualmente.
P/1 – Você falou um pouco dessa dificuldade, como é esse desafio de você conscientizar, passar essa educação que você falou. Conta um pouco de quando você começou, dos problemas, desafios, algum dia alguma criança ou pessoa que participou desses cursos, oficinas que você fez.
R – Olha, eu não acho difícil transmitir, eu acho difícil você encontrar o canal praquela pessoa mudar, porque cada pessoa é uma pessoa. Não adianta eu falar: “Ah, separa o seu lixo” “Aham, aham”. Primeiro você tem que ter paixão pelo que você faz, você tem que acreditar, senão fica difícil. Depois você só pode pedir pra alguém fazer alguma coisa que você consiga fazer também, sabe? E cada pessoa, a gente tem vários chacras, tem pessoas que é só aqui, tem pessoas que é aqui, tem pessoas que é aqui, tem pessoas que é aqui, entendeu? Então você tem que ter várias metodologias diferentes. Então essa coisa dos jogos, das dinâmicas, das brincadeiras, eu acho que o brasileiro é muito lúdico. Ele adora piada, a gente aprende muito mais com a... a nossa cultura de aprendizagem é muito divertida, a gente não é sisudo, aqui todo mundo dá risada o tempo todo, tudo sempre vira pizza e piada, então você tem que olhar pra isso como um caldo pra te inspirar pra você fazer coisas que cativem as pessoas, então assim, publicações, jogos, brincadeiras, dinâmicas, saber falar sério. Desde saber falar de uma política pública, uma lei, até uma brincadeira. Quem trabalha com educação ambiental ou com mudança de comportamento, você tem que estudar psicologia humana, acho que isso foi uma coisa muito legal na faculdade, eu tive muita aula de psicologia, fiz terapia muitos anos também, uma busca, um autoconhecimento, querer crescer, amadurecer, entender as coisas e me debater menos e crescer mais e ajudar as pessoas a crescerem. Então eu acho assim, esse conhecimento do desenvolvimento humano, da psiquê, da psicologia, ele é fundamental pra você ter várias possibilidade de estar convencendo as pessoas em determinado lugar. Porque eu posso falar, eu falo com o CEO de uma empresa e falo com o cara do chão de fábrica, não tem problema nenhum. Todos nós somos analfabetos ambientais, infelizmente. Não que eu não seja, eu também sou, mas como eu estou há muitos anos estudando eu sou um pouco menos. Mas eu acho que a arte também foi uma coisa que me ajudou muito a desenvolver essa possibilidade. Teatro, que eu fiz teatro também na adolescência. Então eu tenho muitas cartas na manga. Eu acho que eu sou muito eclética pra conseguir: “Opa, com esse público é assim, com esse é assado". E ouvir as pessoas, né, gente, porque eu acho que uma coisa super importante quando a gente vai fazer qualquer trabalho é conhecer as pessoas com as quais você vai conversar porque quando você tem um tempo, vou começar um curso, uma formação e as pessoas têm que se apresentar. Quanto mais tempo eu tiver pra ela se apresentarem, melhor será minha aula, sem sombra de dúvida.
P/1 – De onde que vem as ideias pra quando você cria esses jogos, por exemplo? De onde você tira as coisas?
R – A gente fez um jogo que chama Trilha Radial Verde, então quando ia fazer a visita monitorada a gente anotava as perguntas das crianças. Tudo o que é curiosidade é o que ilumina por onde a gente deve ir. É óbvio que a gente tem alguns conceitos que a gente quer transmitir também, mas a curiosidade, ela é o máximo do bacana. Então, produzir o material educativo a partir de um trabalho, um projeto ou uma publicação, um livro, é muito rico. Tanto é que todos os materiais que eu desenvolvi ao longo da minha carreira, dentro do Instituto Cinco Elementos e fora também, ele tem sempre a ver com as oficinas, com o que você vai trabalhando com as pessoas. Acho que isso é uma coisa importante que é entender onde a pessoa está e qual é a curiosidade dela. Porque às vezes você quer explicar uma coisa super complicada, que o plástico tem sete famílias. Ah, e daí? Sabe. Você tem que instigar a curiosidade, como que as pessoas aprendem as coisas? Você já parou pra perguntar? Como você aprende? Uma das coisas que mais você aprende é quando você tem curiosidade. Então, professor tem que instigar as pessoas, os alunos a terem vontade de aprender. Ele não tem que falar nada, ele só responde perguntas. O professor tem que perguntar, pro aluno perguntar e a gente tentar responder junto. Então é um pouco isso a metodologia do que a gente tem. E aí você vai caminhando e tornando cada vez mais complexo, com mais desafios e assim por diante.
P/1 – Tem alguma questão que essas crianças levantaram, uma inquietação assim que você...
R – Ah... a gente tinha um problema lá no Vera Cruz que era os coelhos. Que a gente tinha a horta, um mini galinheiro e um mini coelheiro, não sei como chama. E assim, gente, eu nunca tinha cuidado de coelho na minha vida, eu tinha feito muitas coisas, mas galinha não morre. Porque galinha é um bicho assim, se sobrar um ser na terra vai ser galinha e barata, pode ter certeza, porque como eles são resistentes. Mas os coelhos, eles morriam direto. E as crianças ficavam arrasadas e perguntavam por que morreu o coelho. E eu falava, eu não entendo por que morria o coelho. E eu levava na USP pra fazer autópsia, eu me especializei.
PAUSA
R – Então uma situação difícil com as crianças. Que tem tudo a ver com a questão ambiental, mas também tem a ver com desenvolvimento humano, psicologia, tudo, porque sempre está tudo misturado, não tem ambiental, engenharia, não existe isso, esse é o problema da escola porque eles conseguiram separar Matemática da Literatura, ou das Ciências, sabe? Um absurdo, um absurdo! Deve ter dado um trabalho pra separar que agora nós vamos ter que juntar tudo de novo pra escola ficar bacana (risos). Mas tinha lá o galinheiro, a horta e os coelhos. E os coelhos, vira e mexe, chegava lá de manhã o coelho morto. Gente, as crianças ficavam arrasadas, eu fazia de tudo pra eles nem verem, porque eu sei o quanto é traumatizante para uma criança de cinco, seis anos ver um bicho morto, um bicho que eles têm afeto. Porque galinha, eles não conseguem pegar e acariciar. Mas o coelhinho, era aquela coisa fofa e não sei o que e todo mundo ama o coelho. E eu pegava o coelho, punha numa caixa depois da aula, ia até a USP fazer autópsia. Sempre eles morriam da mesma coisa: pneumonia. E aí: “Não, vamos comprar uma coisinha pra cobrir, pra ficar quentinho por causa do frio”, não adiantava porra nenhuma. E um dia eu fui mais a fundo, conversei com uma veterinária psicóloga. Eu falei tudo e ela falou: “Sabe qual o problema? A escola é um ambiente muito agitado e muito barulhento". E é mesmo, não sei se vocês já foram em escola (risos). Você imagina 300 crianças brincando, conversando, falando, tal? Eu adoro, mas quatro horas é o suficiente, é bem cansativo mesmo. E o coelho é um bicho, como ele é na natureza, o coelho? Coelhos ficam em lugar silencioso, eles são super rápidos, super ariscos, eles ficam assim o tempo todo, então qualquer barulho ele foge. E o que acontecia? Ele ficava dentro da escola em um ambiente super agitado e ele não podia fugir. Então ele ia se estressando, se estressando e o chacra da emoção é o pulmão, isso ocasionava uma doença pra ele, que é a pneumonia, e ele morria. Então assim, a gente queria o maior afeto, queria que as crianças brincassem, na maior boa intenção do mundo isso, você ter na escola coelhinho, tal, pras crianças brincarem. Tudo legal. Mas se você olhar pro que é o coelho, qual é a real vida dele na natureza, é o oposto do que a gente está propondo. Só que eu não podia explicar isso pras crianças, que era muito complicado porque senão elas iam se sentir culpadas também. Eu acabei explicando isso pra direção da escola, a escola decidiu, porque a minha opinião era não ter mais coelho, mas eu tive que argumentar com a direção da escola o por quê. Porque senão a gente ia ficar matando coelhos do coração. Isso é bem simbólico porque na verdade a gente faz isso na nossa sociedade. A gente desconhece totalmente como o ser vivo, pra que aquilo serve, como é, pega, põe ele aqui e usa ao nosso favor, sem em nenhum momento parar e olhar praquilo, como é aquilo. Não dá pra ter coelho em escola, gente, não tem nada a ver. Dá pra ter galinha? Dá. Dá pra ter tartaruga, dá? Dá pra ter outra? Dá. Dá pra ter planta? Dá. Mas coelho não dá porque é demais pro coelho. Então são pequenos aprendizados que eu fui tendo assim, e aí a gente fala: “Nós vamos tirar o coelho porque ele fica com muito frio”. Porque também a criança, eu não acho que a gente tem que mentir pra criança, mas também você não pode ser cruel e colocar a criança, porque eles ficam traumatizados. Um trauma para uma criança, uma coisa dura na primeira infância, ela vai carregar aquilo a vida toda. Depois são anos e anos de terapia pra você tentar resolver aquele problema (risos). Às vezes uma pequena coisa, uma galinha que te assustou, você cria um trauma pra vida toda. A criança, a primeira infância é muito delicada, ela precisa ser super cuidada e preservada. Pra mim os melhores educadores deveriam estar se dedicando às crianças de 0 a 7 anos, que é quando você forma os valores, que é quando você forma a relação da criança com ela mesma e dela com o outro. Porque depois que você forma isso bem, ah, pode ir, depois é só retoque. A primeira infância é vital pra vida inteira. E eu estudei muito a primeira infância, eu sou super defensora da primeira infância, eu amo criança pequena, eu acho o máximo você estar convivendo com crianças, acho um privilégio.
P/1 – Desde o começo você trabalha com essa...
R – Sempre eu trabalhei com essa faixa etária, eu nunca dei aula pra Fundamental I, II, Médio. Dei cursos, tal, oficinas, coisas pontuais, mas não todos os dias, a coisa do dia a dia sempre trabalhei com educação infantil. Onde também a educação é mais livre, a educação infantil não tem áreas do conhecimento fragmentadas, está tudo junto, eles estão aprendendo tudo, Ciências, Matemática, Português, Artes, está tudo junto. Então eu me dediquei muito com a educação infantil por conta de toda essa história, esse percurso profissional meu. E uma das coisas que a gente fez no Instituto 5 Elementos, esse grupo de estudos, a gente começou a estudar o ciclo da vida das coisas, de onde vem e pra onde vai. O plástico, papel, vidro, metal, orgânicos e a gente foi descobrindo, no Brasil, onde eram as reservas minerais, as indústrias. E a gente começou a criar uma série de documentação sobre isso e começamos a explicar pras pessoas, pras crianças, dentro dessa perspectiva de ciclo. E não que pega isso aqui, vai pra cá, pra cá e joga fora. Não, sempre numa linha de circularidade. E aí a gente desenvolveu esse material educativo que é a Coleção Consumo Sustentável e Ação, que é um material que a gente desenvolveu já várias vezes, nós editamos já umas quatro vezes. E cada vez a gente vai aprimorando esse material. E as duas últimas versões que nós fizemos, nós inserimos a questão das mudanças climáticas. Porque quando fala de mudança climática o pessoal pensa só em clima, mas não consegue entender que a nossa ação do dia a dia é que está alterando o nosso clima, né? Então é um material educativo para o professor e para os alunos. Esse material foi feito a partir de toda essa experiência com professores, com crianças, então assim, não tem uma empresa que veio, bancou e falou: “Olha, mas não pode falar mal disso aqui, tá?” (risos). Não, isso aqui foi um pouco dessa história de educação ambiental que a gente sempre trabalhou em cima da curiosidade, das perguntas. Então esse é o material para o professor, que fala nessa perspectiva do consumo, o que é o consumo de fato, o que é Política de Resíduos Sólidos. Eu acho que trabalha uma coisa, não é pra implantar coleta seletiva na escola. Isso é importante? É, mas isso é a ponta do iceberg. O importante é o que você precisa pra viver bem? Quanto que você precisa pra viver bem? E aí, assim, questão de gênero pega porque a mulherada é de um consumismo infernal, insuportável. E nós temos, a nossa educação basicamente são professoras mulheres. E assim, o que a gente é massacrado pra ser consumidor hoje é uma coisa absurda, absurda. E é duro tratar esse tema com professoras, muito duro. Porque infelizmente boa parte das professoras, todo mundo tem aquele sonho de ter a casa na praia, casa não sei onde, o melhor carro do ano, a melhor roupa, ser atriz famosa e rica. Todo mundo quer ser uma coisa que está tão longe de ser professora (risos). E um super consumismo. E usa aqueles sapatos apertados, de salta alto com brilhantes, tudo o que vai contra, que destrói pra caramba a natureza, o meio ambiente, então é difícil trabalhar com os professores essa questão.
P/1 – Você acha que essa questão da formação dos professores é a ponta de lança do instituto?
R – Eu acho que é um trabalho que a gente já fez muito, o Instituto, eu já fiz muito. Por exemplo, hoje quando eu dou um curso livre não vem nenhum professor. Público que eu muito atraio nas minhas formações é gente que está querendo mudar de carreira, querer reentender o mundo e redirecionar profissionalmente. As secretarias de educação são muito pouco permeáveis para esse tema. Tanto é que a Política Nacional de Educação Ambiental até hoje não entrou. Os cursos de Pedagogia até hoje você não tem educação ambiental. Pouquíssimos cursos universitários têm educação ambiental. Nem como matéria. Porque na Política de Educação Ambiental a gente fala que a Educação Ambiental é um tema transversal dentro da escola, não é uma matéria, não é pra ser uma matéria. Na faculdade até pode ser uma matéria, mas no Fundamental I, II e Médio é um tema transversal. Mas até hoje não colou. Por quê? Porque tudo isso aqui na verdade a gente vem desconstruir o nosso modelo de sociedade. Aliás, a gente constrói o conceito que o nosso modelo de sociedade é totalmente inviável e sustentável. Não vai dar pra ter sete bilhões de habitantes no planeta consumindo igual a 1 bilhão consome, que é Estados Unidos, pessoal da Europa, esse povinho aí, e nós que estamos aqui também. Eu, você, que a gente nunca passou necessidade, tal, a gente tem um, cada um tem a sua geladeira, cada um tem a sua casa, a gente tem muito pouca coisa comunitária. Isso não significa ser comunista, nem socialista, mas significa você ter uma base educacional mais consistente e mais comunitária. Eu acho que esse é pra mim um grande desafio que a gente tem aí como humanidade, é o ego menos e o comum mais. A gente está evoluindo, eu acho que a juventude melhorou muito. Pelo menos os jovens que vão lá em casa, alguns são ótimos em relação a isso. E aqui a gente também tem várias propostas de atividade educativas pra que os professores de Português, Matemática, Ciências possam trabalhar o mesmo tema na mesma época juntos. E aí fazer um projeto mais profundo sobre a questão de quem nós somos, o quanto nós consumimos. Não sei se vocês sabem, mas o planeta Terra todo ano se renova e oferece um monte de recursos naturais pra todos nós. E a gente tem um estudo que a WWF Brasil desenvolveu, que chama Pegada Ecológica, e todo ano nossos recursos naturais a gente está usando ele mais cedo. Por exemplo, a gente tem pra usar o ano inteiro, 365 dias do ano, só que em setembro a gente já usou tudo o que tinha pra usar no ano inteiro, então outubro, novembro e dezembro a gente entra no cheque especial do planeta (risos). Só que assim, gente, não tem cheque especial, nós estamos consumindo dos nossos filhos, dos nossos netos. Os meus filhos têm uma vida pior do que eu tive na minha infância, com certeza. Assim, não de segurança, de tecnologia, mas acesso ao ar, à comida mais saudável. E tem esses livrinhos que a gente fez que é pras crianças, que é o livro sobre os orgânicos, então de onde vem os alimentos, pra onde vai, a importância da compostagem. Sobre o vidro,da onde vem o vidro, pra que usa. E assim por diante. Do metal, do papel, do plástico. E nessa nova edição a gente fez os resíduos perigosos, que são muitos. Por quê? Porque na Política Nacional de Resíduos Sólidos finalmente a gente conseguiu colocar um capítulo da política sobre essa questão dos resíduos sólidos. Então esse é um dos trabalhos, um dos carros chefes do instituto, que a gente vem trabalhando há muitos anos, na perspectiva de transformar esse tema num projeto dentro da escola, que pode mexer desde a questão ideológica, conceitual, mas também você implantar coletiva seletiva, ter horta, trabalhar com alimentação saudável, buscar quem são os agricultores, de onde está vindo a nossa comida, pra onde vai. Ou seja, reutilizar ao máximo tudo o que a gente pode dentro da própria unidade que a gente vive, consumir o mínimo possível e trabalhar com valores mesmo. Então esse trabalho aqui é um. Agora, isso aqui vai contra o nosso modelo de desenvolvimento, que a gente está falando pra consumir o mínimo possível. E pra mover a nossa economia tem que comprar muita bobagem. Então como é que a gente vai fazer? Nós temos que mexer com a economia. Nós vamos ter que mudar a economia. Hoje a economia não tem ética, não tem nada. Você produz o que você quiser, vende o que você quiser e custe o que custar pra humanidade.
P/1 – Você falou um pouquinho de como o Instituto nasce. Eu queria que você contasse um pouco mais sobre esse nascimento do Instituto, o que vocês esperavam?
R – Olha, quando a gente, todo mundo que trabalhou ali no início, na concepção, todo mundo trabalhava em escola, tal, então a gente queria trabalhar muito com escola. E a gente trabalhou com escola, mas não o tanto quanto a gente queria. Muitas empresas quiseram que a gente trabalhasse esse conceito dentro das empresas. Depois também teve muito trabalho das empresas abrirem seus institutos e trabalhar com voluntariado, então a gente trabalhar com os voluntários para eles trabalharem com as comunidades. Eu achei que eu fosse trabalhar só com escola a vida toda e não foi isso que aconteceu. Muitos editais, eu participei de muitas coisas, eu tenho uma carreira muito diversificada: trabalhar com o Governo, com iniciativa privada, órgãos nacionais, internacionais, escolas. Hoje trabalho pouco com escola, hoje. Porque eu acho que a mudança é muito profunda que a gente está falando e ninguém quer mexer tanto. Só que assim, a gente está, está todo mundo, tem um abismo aqui, nós estamos aqui sendo empurrados. Eu falei: “Mas gente, se a gente não fizer umas cordinhas, tal, como vai fazer? Vai cair todo mundo no abismo?” (risos). Eu acho que a gente está num momento de uma transição muito profunda e só vai ficar o que tiver raiz profunda.
P/1 – Só pra me localizar: quando que surge o Instituto?
R – O Instituto é fundado em 93, logo depois da ECO-92. Ele está completando 24, 25 anos. E ao mesmo tempo a gente vê que tudo isso que a gente trabalhou durante esses anos todos hoje já está na sociedade, todo mundo já tem consciência que precisa economizar, que precisa separar. Eu acho que a gente cumpriu um papel. Tanto é que hoje o Instituto está se revendo pra ver o que ele vai fazer, ele não está com muitos projetos. Ele está num momento, sabe, de hibernar? E eu tive uma experiência também no poder público, um ano e meio na gestão do Haddad, eu fui diretora da Umapaz, que é a Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz do município, que foi uma experiência muito importante também para entender como funciona o governo, como funciona a máquina, ou seja, como não funciona a máquina, como ela está tão imobilizada, tão imobilizada. E ela tem um potencial tão maravilhoso e foram criando tantas regras por conta de erros, que hoje você criou um monstrengo que não sei pra quem está servindo, porque pra nós, nós como sociedade, é difícil. Mas foi uma experiência muito, muito positiva, eu gostei muito de trabalhar no Governo porque com pouco você faz muito. Eu adoro limonada, essa coisa. Porque a ONG, na ONG você pode fazer pra poucos com muita qualidade, que eu adoro também. Mas você sempre fala: “Mas quando eu vou dar escala nisso?”. E você dá escala quando você publica, quando você comunica, tal. E no poder público é muito fácil você dar escala, porque ele já é feito pra dar escala. Só que tem tantas regras que ninguém faz nada. E isso me deixou muito preocupada com uma doença que eu vi, que o funcionário público entra lá, a maioria das pessoas entra porque ele tem medo da vida, ele não tem espírito empreendedor – e não sei se todo mundo tem que ter espírito empreendedor, mas também é um lugar que eu vi que emburrece as pessoas. Porque não tem plano de carreira, elas não são cuidadas, vem um chefe e faz de um jeito, o outro desfaz, é um desmando, uma coisa... e pessoas inteligentes, sabe, super desanimadas! Esse ano e meio que eu trabalhei lá eu fui uma grande animadora e reacendedora de chamas internas das pessoas. Porque a pessoa só faz a coisa se ela tem aquilo brilhando dentro dela, você tem que amar o que você faz. Eu cheguei lá e só tinha gente opaca e cinza! Foram seis meses ouvindo as pessoas e tentando falar: “Gente, vamos! Olha que lugar maravilhoso que a gente está! Podemos fazer”. E aí saíram coisas maravilhosas porque só precisava de um pouquinho de incentivo e falar: “Faz o seu melhor”. E nem isso, até isso as pessoas conseguem desconstruir. Então foi uma experiência muito legal porque eu peguei um lugar tipo uma terra arrasada e consegui dar um up na galera e espero, tem uma diretora antiga que está dando continuidade ao trabalho, então eu estou contente porque são quase cem pessoas trabalhando lá. Então eu acho que eu tenho uma coisa assim de todo esse trabalho educativo que eu fiz também, na gestão, de fazer gestão participativa, de ouvir as pessoas, de ir com calma e tirar o melhor das pessoas também é uma coisa que eu acho importante nesse trabalho. E sobre consumo, sobre essa coisa do consumismo, eu vejo na minha casa, que eu sou super preocupada, a quantidade de resíduo que sai da minha casa toda semana. Olha, eu tenho dois filhos jovens, adultos, 25 e 22 anos.
P/1 – Eu ia perguntar. Voltando um pouco: como você conheceu o seu ex-marido?
R – Ah, meu ex-marido? Conheci ele numa festa, numa balada (risos). Bom, eu sempre tive relacionamentos longos, eu namorei dos 14 aos 21 com um músico, uma pessoa muito querida. Depois eu entrei na faculdade, mudei de ideia, tal. Depois eu conheci o Rui Amaral. O Rui Amaral é artista plástico, grafiteiro, então ele é uma pessoa muito envolvida com a arte de rua. Naquela época que eles iam presos, que agora voltou essa moda de novo (risos). E ele pintou aquele buraco da Paulista, sabe, que vai da Doutor Arnaldo pra Paulista? Então ali tem os nossos cachorros, nossos filhos, eu, o Rui e os monstrinhos dele lá. Então ele sempre fez grafite, eu sempre participei muito, ajudei muito ele. Eu gosto de cores, eu acho super bonito tudo colorido. Se você for na minha casa tem parede vermelha, amarela. Eu acho legal cor, arte e beleza.
P/1 – Você já grafitou com ele?
R – Sim, claro! Nossa, nós fizemos milhões de coisas divertidíssimas. Uma vez a gente pegou no MIS, a gente levou cimento, tal e a gente pôs uma privada (risos) lá naquela esquina da Avenida Europa. E aí veio a polícia, arrancou, queria prender a gente, sabe? Porque a gente queria fazer intervenções na cidade, fazer coisa que todo mundo faz hoje, que virou uma coisa assim. Mas naquela época, vocês não têm noção fazer isso nos Jardins, aquelas madames todas, aquela bobagerada, né? Porque aquilo não é arte, né? Se não está dentro do museu com cinco estrelas valendo milhões não é arte. Então era um movimento muito legal do grafite naquele momento porque eram as primeiras pulsações de arte na rua.
P/1 – Desculpa, que época que era?
R – Anos 80. E sempre ajudei ele, pintei, brincava. Eu estava até olhando as fotos, eu fiz uns murais em papel, a gente fazia lambe-lambe. Tudo isso que faz hoje? Mas a gente fez na década de 80. E eu acho super legal que hoje seja todo mundo queira fazer, isso é muito legal. Uma coisa que era tão pequena, tão poucas pessoas faziam e pensavam daquele jeito, hoje em dia todo mundo pensa e faz e nossas questões são outras. Então aquilo que a gente fez naquela época hoje... mas eu acho que tem uma questão política que a gente também floresceu muito com a democracia, né? Eu nasci em 64, eu demorei 20 anos pra saber que tinha uma ditadura. Eu só soube disso quando eu entrei na PUC. Eu fui totalmente educada sem política na minha vida. Apesar de eu ser super contestadora, achar que aquele método educativo era muito chato, eu sempre tinha questões. Minha mãe não lia jornal, o meu pai é super de direita, adora exército, polícia, mas a gente não convivia muito com ele. E a gente via, ia pra escola. Na escola não se falava de política. Então eu demorei 20 anos, 20 anos!, pra descobrir o que aconteceu no meu país politicamente. E quando eu descobri eu falei: “Não, não é possível! Como que eu fui enganada, como eu vivi 20 anos e não percebi nada?”. Então assim, a faculdade também pra mim foi um período muito de me politizar, de entender a história do meu país, ficar perplexa. Porque o máximo que eu estudava em História é História do Brasil, não se falava muito do que acontecia naquele momento. Você estudava o passado, a guerra, a primeira e a segunda guerra, se falava muito do holocausto quando eu estudei. Mas não se falava da podridão que a gente vivia aqui, que as pessoas estavam sendo mortas aqui, eu não sabia disso. E eu fiquei muito assustada com isso. Fui sabendo aos poucos e falava: “Nossa, gente, que absurdo! Como que eu não soube disso antes?”. Porque não podia mesmo falar disso. É diferente da geração de vocês que vocês sabem muito bem disso. Então é tipo criada, sabe a Disney, contos de fadas? Eu me senti um pouco enganada, os anos dourados, tal. Eu falei: “Meu, como que pode, de repente, eu descobrir uma coisa dessa relevância que estava acontecendo do meu lado e eu não sabia”. Eu fiz uma viagem quando eu tinha 17 anos pro Nordeste, que foi uma coisa muito importante, eu subi o rio São Francisco de barco até o meio do Nordeste e depois eu conheci o Nordeste que era uma miséria, gente, era uma pobreza, nunca tinha visto tanta gente pobre na minha vida! Eu não sabia que existia miséria desse tipo.
P/1 – Você foi sozinha?
R – Não, eu fui com o meu primeiro namorado e uma galera. A gente foi de carona, tal. E aquilo, gente, chegava em qualquer lugar, o que tinha de gente que pedia dinheiro pra você. Se você desse um real pra cada um no final do dia você tinha gastado todo o seu... você tinha 30 reais por dia pra comer e chegar até o próximo lugar (risos), porque era tudo contado, eu era super dura, tal. Então chegava em dezembro eu trabalhava no shopping 15 dias, ganhava uma graninha e viajava dois meses (risos). Mas era seguro, não tinha essa coisa do...
PAUSA
R – Onde é que a gente estava?
P/1 – A gente estava na viagem.
R – Ah, a viagem! Então com 16, 17 anos, eu e meu namorado fomos passar o mês no Nordeste, conhecer o Nordeste e tal. Gente, eu sempre fui dura, tá? Eu nunca tive grana, meus pais não tinham grana pra me dar, então eu trabalhava ali no shopping aqueles 20 dias de dezembro, pegava a grana depois do Natal: “Tchau!” e ia pra conhecer o Brasil. Eu conheço muito bem o Brasil, eu conheço o Brasil inteiro, ou por trabalho, ou por... E naquela época, gente, não tinha isso que matavam as pessoas. Você podia pegar carona, a gente, eu peguei carona de Fortaleza até Salvador, eu, meu namorado e os amigos. “Ah, a gente se encontra em tal cidade!”, vai indo. Não tinha celular, não tinha telefone, não tinha nada disso e não acontecia nada com ninguém, sabe? Você comia o PF, custava três reais um PF, sabe? Trinta reais por dia você era marajá em qualquer lugar do Brasil. E era assim muito legal porque você ia viajando e você conhecia as pessoas, então uma coisa muito maravilhosa no nosso país é a diversidade cultural que se tem, de estado pra estado tem diferença. Então você chega num lugar, você vai conhecer como é a feira, o que eles comem ali, que tipo de artesanato. Naquela época não tinha geladeira, não tinha eletricidade no nosso país. Você chegava no mercado, era tudo cheio de mosca e carne seca no sol mesmo. Eu nunca tinha visto isso na minha vida. Eu morava aqui, sempre morei aqui na zona oeste de São Paulo, era só abrir a torneira e saía a água. Chegava lá: “Eu queria tomar um banho”. É um balde que você tinha, no máximo. Banho de chuvisco, como eles chamavam, que era de chuveiro, não existia. Gente, eu estou falando de 30 anos atrás, eu não estou falando (risos). Então o nosso país saiu de uma situação de miséria absoluta para o que é hoje, porque recentemente, há três anos, eu fui para o Maranhão, para o interior do Maranhão e Piauí que são os estados mais pobres do nosso país e não tem miséria. Aquelas crianças que a gente via, com aquelas barrigas enormes, nuas, correndo pela cidade junto com merda, aquela situação, hoje não existe mais no nosso país. A gente mudou a história do nosso país essa última. Com todos os problemas que a gente teve do PT, a esquerda e não sei o quê, a gente tirou a miséria do nosso país. Isso é um feito que nunca ninguém fez. Agora, as pessoas que reclamam, que metem o pau no PT, eles não conhecem o Brasil, eles não sabem o quanto que é importante uma mãe ter 50 reais pra comprar alguma coisa pros filhos comerem. Então assim, o Brasil melhorou muito se a gente for medir no tempo, esse tempo que a esquerda esteve no poder, com todos os erros, é horrível roubar, a corrupção, tudo, uma bomba. Mas a esquerda sempre foi preocupada com as pessoas mais necessitadas. E eu acho que a faculdade e todas essas viagens que eu fiz e conheci a realidade do Brasil, e por ter sido do movimento bandeirante, por gostar de educação, isso me tornou uma pessoa mais humanitária, menos egoísta, menos pensar só em mim, na minha vidinha, no meu carrinho, no meu não sei o que zinho e se preocupar. Porque não adianta eu estar bem e todo mundo estar mal, não adianta nada disso. Então acho que essas viagens fizeram muito bem pra mim, pra conhecer a realidade do Brasil.
P/1 – E foi nesse miolo que você conheceu o seu marido.
R – Ah, é. Aí também, eu sempre fui muito ligada às artes, acho que esse curto de arte educação que eu fiz me ligou muito às artes. Eu sempre ia muito aos museus, eu sempre fui interessada em ler, minha irmã fez artes plásticas. Eu sempre me relacionei com homens com uma veia artística, com o feminino, pessoas mais sensíveis. Eu não suporto esses caras muito advogado, engenheiro. Ai, pra mim isso é insuportável, um papo árido. Nunca tive afinidade com esse tipo de homem, sempre me relacionei com homens mais doces, mais sensíveis. Porque eu sou durona, eu sou firme e forte, então eu não preciso me escorar, eu já tenho a mim mesma com essa personalidade forte (risos). Eu quero uma pessoa pra compartilhar dessa coisa da flexibilidade, da leveza. Então sempre me relacionei com homens artistas. Um músico, o Rui artista plástico, nós ficamos juntos, casados, 15 anos e tivemos dois filhos. Pra mim ser mãe foi a coisa mais importante na minha vida, não teve nada mais importante do que isso. Tudo isso, meio ambiente, educação, o que eu fiquei falando aqui horas e horas e horas, mas a coisa que eu mais me realizei nessa vida, nessa encarnação foi ter engravidado, amamentado e ter cuidado dos meus filhos. Pra mim, gente, assim, não tem coisa mais importante. Porque eu não sei, eu acho que eu nasci pra ser mãe, nasci pra ser mãe porque é muito especial você conceber uma pessoa, uma vida, não tem, você gerar a vida, você ser mulher e gerar uma vida é um privilégio. Sinto muito os homens (risos). Por isso que eu acho que aos 30 anos eu decidi ser mais feminina e mais mulher, porque eu compreendi a importância do que é ser mulher. Eu não dava muito valor pra isso. E também como eu sempre me impus, pra mim nenhum homem me abafou, eu nunca senti essa pressão que as mulheres tanto falam hoje que elas tiveram que se adequar ou se omitir. Meu, eu mando o cara, não estou nem aí, não tem uma pessoa que me oprime. Nem meu pai, com aquele jeito dele, nunca me senti oprimida por um homem. Mas eu descobri o feminino, a importância do feminino na gestação e gerar uma vida e você ter tanta responsabilidade (risos) porque eu sonhava. Olha, quando eu tive o meu primeiro filho, eu sempre fui muito assim, eu ia passar o fim de semana no Guarujá, na praia, volta e vai na balada, não sei o quê. E ter um filho pra mim foi um encarceramento, eu me senti totalmente presa. Porque a primeira vez na minha vida que algum ser dependia 100% de mim. E eu sonhei, eu lembro as primeiras noites eu nunca vou me esquecer, eu sonhei que eu tinha ido pra praia, que adoro ir pra praia e pro mar, eu estava lá no mar, não sei o quê, pegando onda e tal e o meu peito começava a inchar e doer, eu falei: “Mas gente, por que eu estou aqui no mar se eu tenho que estar lá dando de mamar pro meu filho?”. E aí eu acordava (risos) com o peito enorme, tudo molhado de leite. Porque o meu primeiro filho era muito dorminhoco e comilão, mas ele não chorava, ele era um bebê que entrou na minha vida e só fez bem pra mim, ele nunca me amolou. Nunca, nunca, nunca. Ele era assim: “Tuta, vamos viajar?”, punha no carrinho, ele ia e nunca chorava, ia no colo de todo mundo, era uma delícia! Comia tudo o que eu dava, mamar. Aí quando veio o segundo (risos), era tudo o oposto. Então eu tive que aprender também que ser mãe, porque o meu primeiro filho, como era tudo muito tranquilo e o segundo foi tudo ao contrário, tudo, ele teve que fazer três cirurgias no primeiro ano de vida, eu passei um perrengue, eu achava que ele ia morrer a qualquer momento. Tive que fazer muita terapia por causa desse meu filho (risos). Ele é escorpião, ascendente escorpião, ele é uma mentalidade de velho, tudo ele reclama. E eu sou positiva, não reclamo, falo: “Não, vamos para frente, vamos construir um mundo melhor! Olha!”. E ele não: “Ai, mãe”. E uma vez eu não aguentava mais, ele tinha 13 anos. Porque o filho vem pra fazer você virar gente. O pai e a mãe que não entende que a sua evolução está atrelada ao seu filho só se ferra. Então quando você entende que aquele ser que está ali, ele está ali pra fazer você um ser melhor e que você também tem que também fazer ele ser um ser melhor é um desafio constante. E aí eu fui lá, não aguentava mais porque ele é muito chato, esse João. Eu fui lá fazer um mapa astral meu e do meu filho junto. E eu nunca vou me esquecer porque esse astrólogo é um astrólogo duro, daqueles... eu já fui em todos os tipos de astrólogos, o que te amansa, o que te alisa, e tem uns que é pra te dar porrada pra você cair na real. E esse falou assim: “Esse seu filho aí, esse seu filho aí é descrente do mundo”. E eu, toda minha luta é pra gente acreditar que a gente pode construir um mundo melhor (risos). E eu: “Mas como eu pude ter um filho que é descrente” “É, ele já viveu muitas vezes, ele já sabe que a humanidade é assim mesmo, que não tem jeito e ele reclama mesmo e só quer tudo do bom e do melhor, ele é muito egoísta mesmo”. Parei já faz bastante tempo eles tinham acho que 12 anos o Arthur e dez o João, então já faz uns 15 anos. E a adolescência deles foi difícil, então eu li muito sobre adolescência porque eu não sou expert em adolescente. E eu também acho que eles tinham que viver a adolescência, eu nunca ficava proibindo porque não adianta proibir. Então eles faziam festas homéricas. Eu moro numa casa muito legal. Chegava, às vezes tinha um monte de gente bêbada em casa, era um horror, várias vezes foi o caos. E eu fui atrás de referências masculinas, então eu trouxe amigos, meus tios, meu pai, o avô deles pra conversarem com eles porque o meu papel com eles foi muito forte no primeiro momento da vida deles. Depois. Do 0 aos 7 é a mãe, dos 7 aos 14 é o pai, dos 14 em diante é a comunidade que educa. O meu papel eu já tinha cumprido, não adiantava eu falar mais, eles já sabem, você acha que eles não sabem que eles estão fazendo coisa errada? Mas eles precisam fazer coisa errada porque eles vão criar a identidade deles, eles precisam testar. Só que assim, é muito chato. E o meu ex-marido, o Rui, ele é um doce de pessoa, ele nunca falou não pros meus filhos, ele não põe o mínimo de limite. Então eu tive que buscar muitas outras referências pra eles pra me ajudar na educação deles. E hoje é uma delícia, hoje é um ambiente super legal, a gente quase não briga. Tem às vezes discussões por causa dos serviços domésticos, porque cada vez mais eu estou reduzindo a empregada e fazendo com que a gente, então isso tem bastante discussão ainda, mas é um processo que está sendo construído aí.
P/1 – E essa questão que você trabalha na educação ambienta, como que você trouxe isso pra casa? Você trouxe isso pra casa ou não, como que você lida?
R – Não. Basicamente assim, eu amo plantas, então eles sabem que as plantas têm que ter muito cuidado e carinho. Uma época eu viajei, eu fiquei um ano fora, eu tirei um semestre sabático e quando eu voltei minhas plantas estavam destruídas porque eles faziam festas com 300 pessoas no meu jardim. E quando eu voltei eu arrumei e falei: “Aqui não pisa mais nenhuma festa” (risos). E na verdade eu acho que eles não são nada ambientalistas, nenhum dos meus dois filhos, mas eles têm os mesmos valores que eu, sabe? Um trabalha na área de banco, administração de empresas. O Arthur é músico, trabalhava com desenho animado. Mas o que eu queria ensinar pros meus filhos já está dentro deles, não precisa ser ambientalista, nem nada disso, precisa respeitar o outro, coleta seletiva. É coleta seletiva, aí vão aqueles vândalos, os amigos deles jogam cigarro dentro da coisa. Sempre tem que ser mãe, eu sou mãe, vou ser mãe dos meus filhos e de qualquer um que vá lá em casa. Tem o minhocário, então tem um cartaz em cima. A minha casa é uma casa educadora, de práticas. Eu sou super alimentação saudável, compro o máximo de orgânico possível, eu acho que é importante fazer comida fresca todo dia, comer verduras, nada de radicalismo, não precisa ser vegetariano, não é isso. Mas é o básico, viver bem com pouco. Meus filhos não são nada consumistas, nada. Isso é maravilhoso, né? Homens não são consumistas, normalmente, pelo menos os que eu conheço são muito tranquilos. E eles não são também muito... o clima lá em casa é muito silêncio porque quem fala muito geralmente são as mulheres e lá é um ambiente super masculino, na minha casa. É mais silêncio, música, to indo, vou lá, mas não tem uma... só quando a gente senta pra almoçar, ou falo: “Não, vamos não sei o quê”, ou vamos viajar juntos, tal. Mas, como eu posso dizer? É mais linguagem de sinais do que verbal.
P/1 – Você falou das plantas. O que mais você faz na sua casa?
R – Ah, na minha casa eu faço milhões de coisas (risos). Eu planto muitas coisas, eu faço temperos. Por exemplo, eu planto alecrim, aí eu colho alecrim, eu faço um sal com alecrim maravilhoso. Eu tenho um pé de louro, eu pego o louro, lavo as folhas, pico e tenho moedor e faço temperos. O máximo de coisas que eu possa plantar em casa eu planto. Agora, eu tenho um projeto com um grupo de amigos que a gente está montando uma ecovila, que chama Ecovila Águas Contentes, em Minas Gerais, ali na região do circuito das águas, no município de Conceição do Rio Verde, que é ao lado de São Lourenço, Caxambu. E é um projeto de educação ambiental, ou seja, são dois hectares, uma parte é voltada pra educação ambiental e uma parte é residencial. Na perspectiva da gente ter planos B porque só essa cidade aqui, essa cidade aqui e a maioria das cidades não são boas pras pessoas envelhecerem, são ambientes muito hostis e isoladores. E lá a gente tem vivido uma experiência diferente, mais comunitária, fazer coisas juntos, vamos plantar coisas juntos, vamos montar isso junto. Tem sido uma experiência bem interessante de trabalho comunitário mesmo com amigos e parentes, tal. E eu tenho me dedicado bastante a esse novo futuro caminho, que a gente montou uma associação, que chama Associação Vale de Transição porque eu amo a cidade, eu adoro a efervescência, adoro cinema, vou ao cinema toda semana, eu sou curadora do Cine-Clube Socioambiental aqui na Vila Madalena. Eu amo a cidade, essa coisa da cultura, do caldo, da alimentação, tudo isso eu acho lindo. Agora, eu sinto muita violenta a nossa cidade, cada vez mais. Isso que eu estou falando pra vocês que na adolescência eu viajava de carona e não tinha problema nenhum e que hoje meus filhos não puderam fazer isso, não pode fazer isso. É como se eu tirasse uma coisa, foi tão importante pra mim isso, meus filhos não conhecem o Brasil como eu conheço. Porque eu não fiquei rica, eu não vou poder dar pra eles irem não sei onde (risos). Tudo bem, eles foram pra Europa, mas isso que eu tive aqui, que é uma coisa de ter mais liberdade, hoje não tem tanta liberdade, cada vez mais é mais preso. E eu acho que esse consumismo que a gente vive, tal, ele tem a ver com essa prisão. Porque quando você tem liberdade, que você tem mais tempo, você não precisa ficar consumindo coisas. E ser livre, eu já li várias vezes sobre a liberdade, que esse excesso de liberdade vai matar a gente também, porque a liberdade também tem limite, tudo tem que ter limite. Hoje você fala: “Ah, se você for rico o que você quer fazer?” “Ah, eu quero ficar viajando pelo mundo”. Eu falei: “Sabe quanto isso custa pro meio ambiente, pras mudanças climáticas você ficar viajando pelo mundo? Uma fortuna porque cada viagem você tem que plantar seis mil árvores depois, sabe? Um ano que você vive tendo um carro em São Paulo você tem que plantar por ano 60 árvores. Isso é conta matemática básica. Do que você consumiu do planeta e o que você deveria estar devolvendo pra ele. Porque tem aqueles provérbios: “Ah, você tem que ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore”. O cacete. Você ter um carro é plantar 60 árvores por ano. Pergunta aí a todo mundo que tem, quantas árvores as pessoas plantam? Então a liberdade que eu estou falando não é essa liberdade de ter muita grana e ficar indo pra lá e pra cá desesperadamente, é outra coisa.
P/1 – Quais são os seus sonhos, o que você espera da vida aqui pra frente?
R – (suspiro).
P/1 – Pro mundo, enfim.
R – Olha, outro dia eu fiquei pensando nisso. Eu queria falar assim, se eu tivesse esse poder, coisa bem louca, mas eu vou falar porque já que eu posso sonhar, né? Eu iria em todas as escolas falar: “Quem não mais quer ser professor pode ir pra casa, não precisa ir mais pra escola, vocês continuam ganhando salário de vocês, só vai pra escola quem quer ir”. E cada escola vai montar o seu projeto pedagógico. Esse seria meu sonho. Sabe por quê? Porque ou a gente faz as coisas com intenção e boa vontade ou estamos ferrados. O que eu conheci de gente nesses últimos tempos que trabalha e não tem um sentido na vida dela o trabalho. Então a pessoa não tem, ela vai ficando doente. Você vai vendo que ela fica cinza e não brilha a pele, não brilha o olho. Eu falei: “Mas como que você aguenta isso?”. Eu não entendo como alguém pode trabalhar em uma coisa que ela não acredite, sabe? Tudo bem, sou uma burguesinha, tive a possibilidade de escolher, nunca passei necessidade, não tenho que trabalhar pra comer, eu consigo ter um pouquinho de folga, isso que eu sou super chata pra escolher trabalhos também. Mas não é possível, com toda essa tecnologia, robôs e não sei o quê, é necessário ter tanto trabalho chato assim? É necessário enganar tantas pessoas e ter tanto advogado pra cima do outro, um brigando com o outro? Não sei, o mundo que eu imagino é muito simples, ele é bem simples. Ele é complexo, mas é uma vida simples. E a base pra mim de tudo é a educação. A educação, como ela é feita hoje, como é feita há anos, e você vai dentro da universidade, continuam os feudos, as pessoas estão lá falando delas pra elas mesmas sobre o doutorado dela. “Tá, fala aí o seu doutorado, o que melhorou no planeta o seu trabalho? O que você melhorou pra vida do comunitário, do coletivo?”. Então o que eu sonho é que a gente tivesse uma base educacional democrática, verdadeira, com significado, que as crianças gostassem de ir pras escolas. Hoje você vai em qualquer escola e pergunta, ninguém gosta de ir pra escola, caramba! Até hoje. Uma coisa que era minha, mínima, hoje se tornou máxima. Você pergunta pra adolescente de 12, 13 anos se ele gosta de ir pra escola. O meu sonho é que a gente gostasse de fazer as coisas. E que cada um tem a sua inteligência, descobrisse qual que é, o que você é bom pra ajudar esse mundo a melhorar. Porque se a gente tivesse essa consciência, todos nós, eu não estou falando de religião, estou falando de consciência de humanidade. Nós não somos únicos, nós só vamos viver bem quando todo mundo viver bem. Então eu me preocupo muito com isso. E eu não vejo como você vai mudar isso se não for na educação. E a educação é esse ambiente que é educador o tempo todo, não é só escola, qualquer lugar que você está é ambiente educador. Eu acho que é isso. Eu fui pra Rosário, na Argentina, que tem uma experiência muito interessante de cidade educadora e eu fiquei encantada. Como que os espaços públicos, de verdade, se transformaram em espaços educadores, o quanto que eu aprendi numa visita numa parque que é integrado com um museu, com monitor, com brinquedo. Eu falei: “Gente, podia ficar aqui quatro anos aprendendo”, de tanta informação que tinha. E de forma lúdica, interessante. Um você tinha que ouvir, o outro você tinha que montar não sei o quê. Então eu sonho com tudo ligado à educação. Eu acho que seria muito bom se a gente investisse todos os recursos que existem no planeta pra isso. E tem muito. A natureza, uma coisa legal da natureza é que ela é abundância pura. Você pega uma frutinha, tem não sei quantas sementes e aquilo tudo brota. A natureza é abundante. E a economia que a gente criou hoje, ela é o oposto, ela é pela escassez. Então a transição que a gente tem que fazer é transformar a nossa economia igual é a natureza e isso é um sonho pra mim também. só que isso só é possível se a gente tiver educação. A educação conectada ao nosso planeta, aos valores e à etica da vida do planeta. Sem isso aí não vai rolar.
P/1 – Agora encerrando mesmo, a última pergunta: o que você achou dessa experiência de contar essa história aqui hoje?
R – Olha, primeiro eu quero agradecer porque pra mim foi muito legal esses últimos dias, desde que o Marcos entrou em contato comigo eu tive que mexer em muitas fotos. E eu estou escrevendo um livro sobre um projeto de educação infantil que a gente fez um trabalho muito bacana aqui na escola EMEI Dona Leopoldina e eu estou escrevendo essa experiência, misturado com a minha história de vida, um pouco do que eu falei hoje aqui. Então eu já venho amadurecendo a minha história com a minha profissão, que é tudo muito misturado, não é separado, minha vida é toda integrada. Então essa experiência aqui pra mim veio consolidando uma coisa que eu já estou vivendo há um tempo, que eu já estou escrevendo esse livro já há uns seis meses. E as fotos, pra mim, foi muito legal esses dias, esses dois, três últimos dias mexer com as imagens, o quanto que eu já fiz de coisa. Porque parece que a gente desvaloriza um pouquinho quem a gente é ou o que a gente fez. Até quando a gente fez 20 anos no Instituto, também fiz um pouco esse trabalho de retrospectiva e eu acho isso uma coisa que te enche. Pelo menos pra mim, eu estou num momento de transição porque hoje eu não estou mais no Instituto Cinco Elementos, nem estou na prefeitura, estou buscando novas oportunidades. E eu vejo quanta coisa interessante que eu já fiz. E muito diferente do percurso acadêmico. Eu não fui pra universidade, até hoje o pessoal fala: “Não, mas você tem que fazer mestrado, doutorado”. Mas todo mundo que eu vejo fazendo isso só vejo sofrendo. E pra mim, minha dose de sofrimento já foi na minha vida, eu acho que tem que se esforçar, mas não sofrer (risos). Então foi legal esse momento porque ele vem fortalecer uma coisa da minha identidade, do meu crescimento profissional, pessoal. E mexer em papel, em foto sempre é uma coisa que dá uma dor aqui assim, fala: “Nossa, mas e quando foi isso e quando foi aquilo”. E você ficou me perguntando detalhes: “Onde é essa praia? Que ano que foi isso?”, porque eu não sou tão detalhista assim. E eu acho que é muito legal, eu acho que enche nosso coração porque, independente da sua história, você se revisitar, que nem essa coisa que fala: “Ah, quando fizer tantos anos e vou ler todos os meus diários” (risos). Sabe, é uma brincadeira, mas quando você terminar uma etapa da sua vida você vai ter que se reconectar à vida inteira. E o biográfico, que é uma experiência dessa natureza um pouco aqui, é uma metodologia antroposófica na área de psicologia, ele trabalha muito com isso. E eu já fiz alguns biográficos tanto sozinha como em grupo. Eu acho que relembrar da sua história é sempre muito, muito bom. A gente deveria fazer mais isso porque naquele curso que eu fiz de educação global eu aprendi uma coisa muito importante em história: porque aula de história você aprende sobre o passado, pouco sobre o presente e nada sobre o futuro. E ele falava uma coisa que na aula de história, se tem 90 minutos é 30 pro passado, 30 pro presente e 30 pro futuro. Porque a gente nunca vai construir um futuro se a gente não conversar sobre o que a gente quer pro futuro. E isso é um ponto metodológico muito importante da educação ambiental, a gente fala passado, presente e futuro, sempre a gente trabalha nessa perspectiva histórica, sociológica, de ter um tempo pra falar que mundo que a gente quer construir. Então, acho que é isso, acho que o trabalho que vocês fazem tem isso, porque com certeza todo mundo que vem aqui sai daqui mexido em vários aspectos e isso te potencializa pra você ser uma pessoa melhor e construir um futuro melhor pra você. Falar do passado e do seu presente tem a ver com isso, acho que é um trabalho fundamental.
P/1 – Foi ótimo, obrigado.
R – Eu que agradeço.
FINAL DA ENTREVISTA
Recolher