IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Mario Gracindo Cardoso Rodrigues, nasci em Belém do Pará, dia sete de setembro de 1930.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Sou Administrador de Empresas.
INGRESSO NA PETROBRAS
Entrei na Petrobras em primeiro de fevereiro de 1957. Meu ingresso foi devido a um edital da própria...Continuar leitura
IDENTIFICAÇÃO
Meu nome é Mario Gracindo Cardoso Rodrigues, nasci em Belém do Pará, dia sete de setembro de 1930.
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Sou Administrador de Empresas.
INGRESSO NA PETROBRAS
Entrei na Petrobras em primeiro de fevereiro de 1957. Meu ingresso foi devido a um edital da própria Petrobras para um concurso pra preenchimento de vagas. Eu já trabalhava, meu primeiro emprego foi em 1947. Comecei a trabalhar quando ainda ia completar 17 anos. Entrei com carteira de menor e tal. Quando houve esse concurso da Petrobras, eu já tinha 10 anos de experiência e, naquela época, a Petrobras precisava de gente com experiência. O concurso foi vinculado a esse objetivo. Me inscrevi; nessa época, eu fazia concurso para vários lugares: Banco do Brasil, Caixa Econômica, tudo o que aparecesse. Eu já tinha me formado como técnico de contabilidade, não tinha curso superior em Belém que eu pudesse fazer. Os únicos cursos que tinha eram medicina e engenharia e só funcionavam durante o dia. Eu trabalhava e não podia tentar. O único curso que eu fiz foi profissionalizante, o de técnico de contabilidade, que equivale hoje ao de contador, que é curso superior e na época valia como tal. Quando foi feita a lei que criou o curso de contador, os que já eram formados em técnico de contabilidade [podiam] se equiparar. Eu nunca pedi a equiparação, porque não me interessou ser contador. Eu parti logo para outra área quando entrei na Petrobras, a área mais de pessoal. O concurso lá foi feito com cerca de cinco mil candidatos, só passaram 12 e eu fui o segundo. Eu era, digamos assim, “rato de concurso”. Estudava pra caramba, então pra mim foi moleza. O interessante é que não era para trabalhar em Belém, era pra ir trabalhar em equipes de campo no interior do Amazonas, na Selva Amazônica, em 1957. [A Petrobras] estava fazendo exploração de petróleo. Ingressei na empresa, fui para Manaus e, de Manaus, embarquei numa lancha da Petrobras e aí nós fomos para uma equipe de exploração sísmica – era equipe sísmica número três, chefiada, inclusive, por uma equipe de americanos, porque naquela época a Petrobras não tinha a experiência técnica que tem hoje. Ela contratava essas empresas de técnicos americanos para exploração de petróleo na Amazônia. Eu fui pra lá, por ter conhecimento, experiência, principalmente na área de material, e já ter formação em contabilidade. A Petrobras precisava de gente com essa experiência. Entraram outros colegas meus, também com experiências, mais ou menos na mesma época, mesmo nível de experiência, digamos. Não era para ingressar para aprender, ao contrário, nós ingressamos na Petrobras para ensinar, para criar normas, porque a Petrobras não tinha nada sobre normas e organização. Era 1957, a Petrobras tinha o quê? Três, quatro anos de criação. Assim que tudo começou e eu passei cerca de um ano e pouco nessa equipe. Total isolamento! Não existiam leis trabalhistas, como existem hoje, que o cara vai pra plataforma, passa uns 14, 15 dias. Não! A única lei que tinha era tirar férias anuais, quer dizer, a princípio, você ia pra lá e só ia voltar um ano depois, quando pudesse tirar férias. Mas eu consegui sair algumas vezes e voltar a Belém, com permissão do próprio chefe da equipe, que era americano. Eu era solteiro na época, essa foi a história inicial.
Lá a gente vivia, digamos, confinado; era confinamento mesmo, porque ali não se via nem índio. Depois, nós mudávamos a equipe e não ficávamos tanto tempo no mesmo lugar. Na primeira experiência fui para um rio chamado Rio Urubu. É um rio enorme no Amazonas. De lá nós fomos para outros rios: Mamuru, Rio Madeirinha – Madeirinha é um afluente do Rio Madeira. Madeirinha e o Rio Madeira são rios que têm muita velocidade na água, uma correnteza tremenda. Houve casos curiosos, por exemplo, nessa vez que nós estávamos nessa equipe do Rio Madeirinha, nós morávamos numas balsas, igual a essas balsas que jogam fogos no fim do ano, aquelas balsas enormes. Ali é construído um alojamento, dois andares, muito bem feito: tinha cama de espuma, tudo direitinho, tinha todo o conforto, era encerado. Embaixo, normalmente, era refeitório, tinha a cozinha. Tinha várias balsas desse tipo, balsa-alojamento, onde tinha escritório da parte administrativa, tinha os técnicos e a gente convivia ali com as mesmas pessoas. A minha primeira permanência foi de cinco meses, fui para lá em fevereiro e voltei cinco meses depois para Belém, para tratar de um outro negócio que eu tinha deixado pendente – um emprego que eu não pedi demissão para entrar na Petrobras. Eu já estava estável no outro emprego, então não ia sair assim. Naquele tempo não tinha fundo de garantia, não, era estabilidade mesmo. Voltei para rescindir o contrato mesmo e ficar na Petrobras. Quando entrei na Petrobras, já tinha 10 anos de experiência de trabalho, foi meu segundo emprego e só tive dois empregos, oficialmente, para fins de aposentadoria.
TRABALHO / CASAMENTO
Eu era solteiro, quando viajei já estava noivo. Uma única vez em que eu voltei a Belém, depois de ter ido para lá, deixei tudo certo para o casamento, deixei na mão da noiva e da família para preparar e marcar. Só que eu recebi a carta, dizendo quando ia ser feito o casamento, na semana do casamento, porque para chegar uma carta onde nós estávamos era muito difícil, demorado. Saí de lá que nem um louco. Nós estávamos num rio que ficava perto de Parintins, essa cidade que tem o boi. Naquela época, não tinha essa divulgação toda. Para pegar um avião que passava por lá, um avião da Panair, Catalina, que fazia viagem assim, pousava em terra e na água, não tinha reserva de passagem. A sorte é que os passageiros que vieram de Manaus para pousar lá e que não iam ficar lá, iam prosseguir viagem, estavam passando mal e desembarcaram, aí deu vaga. Foi sorte eu pegar essa vaga e chegar a Belém! O casamento era no sábado, cheguei na quarta-feira antes, para fazer terno, tudo. Convidei os padrinhos de dentro do avião, vieram dois engenheiros colegas meus para serem padrinhos. Assim foi feito. (risos) Não foi mole! Casei, passei três dias depois de casado – era a folga que tinha pra casamento – e voltei pra equipe de novo.
COTIDIANO DE TRABALHO
Só voltei de novo [para Manaus] três meses depois, mas aí já com uma vantagem, porque eu fui indicado para ser transferido, para morar em Manaus, para chefiar o pessoal lá. Em Manaus, tinha uma base de apoio, que é toda a operação de exploração de petróleo na Amazônia, no Amazonas. Existia uma base em Belém e outra em São Luís do Maranhão. Essa base de Manaus dava apoio a uma outra base, que era a base Nova Olinda do Norte. A história da base Nova Olinda é interessante, porque ela foi construída às margens do Rio Madeira, à margem esquerda. Ela fica a uma distância, de lancha, de cinco a seis horas de viagem de Manaus para Nova Olinda, e de avião levava uns 15, 20 minutos. A Petrobras, depois, adquiriu dois aviões desses, Catalina. Ela usava os aviões da Panair, depois comprou dois aviões e eram pilotados por pilotos da Panair. Era o AXN e o AXL, as siglas eu me lembro muito bem, eles faziam viagem por toda região, porque tinha várias perfurações, equipes sísmicas, e vários tipos de equipes de exploração em toda região. Acho que a Petrobras, em exploração de petróleo, fazia praticamente todos os investimentos na Amazônia. Depois é que andou mudando a questão e passaram a explorar petróleo aqui, em águas profundas, na Bacia de Campos. Minha área era administrativa, era na balsa, tinha escritório ali. No escritório, era eu e mais um outro colega, fazia tudo, folha de pagamento, tudo o que fosse necessário. A equipe tinha mais ou menos 140, 150 pessoas, a maioria era tudo “peão” e trabalhava fazendo as linhas, como chamavam. A equipe sísmica usa dinamite, fazem uma pequena perfuração, introduzem uma dinamite lá para explodir e são ligados uns pinos, chamados geofones. Cabe num aparelho, como se fosse um eletrocardiograma, e aquilo é registrado. Quando estoura, quando explode a dinamite, aquela explosão irradia pelo geofone e registra as ondulações do terreno todinho, aquilo era estudado manualmente. Hoje em dia tudo é feito de outra forma.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / DITADURA
Fui transferido para Manaus já depois de casado. A lua-de-mel foi praticamente em Manaus, três meses depois. Fui para Manaus, não tinha filho nenhum, não tinha parente nenhum, só eu e a minha mulher. Aí começamos a vida, começaram a nascer os filhos, nasceram quatro lá, cada um num ano, quando um nascia, o outro já ia completar um ano. Quatro! Ficou tudo assim. (risos) Eu passei sete anos em Manaus, foi quando coincidiu com a Revolução de 1964. Começou a mudar o governo e houve uma mudança quase total na Petrobras, começou a diminuir a exploração de petróleo, foi quando eles passaram a explorar a Bacia de Campos, essa área aqui. Foi uma diminuição e eu fui re-transferido para Belém, essa base em Manaus foi extinta. Ótimo, voltei para a minha terra! Fiquei em Belém de 1964 até 1968, quatro anos. Quando eu penso que eu vou ficar em Belém, já me metem na cabeça para me trazer para o Rio de Janeiro. Tanto forçaram que acabei vindo para o Rio. Aceitei a transferência e vim em 1968. A Petrobras ainda não tinha esse Edifício Sede, cada órgão tinha um prédio no centro da cidade. Fui trabalhar na Avenida Rio Branco, n.º 81, aquele edifício de esquina com a [Avenida] Presidente Vargas, 18º andar. No dia em que eu cheguei para me apresentar, houve um conflito na Rio Branco: estudantes com polícia, aquela confusão, cavalaria, jogavam as bolinhas de gude e o cavalo blo-ló-ló, a gente olhava lá do 18º andar. E jogavam gás e a fumaça subia, todo mundo chorando (risos). Foi a minha chegada aqui (risos).
Naquela época, o negócio não estava bem, mas eu nunca fui de me envolver em política, coisa nenhuma, não tinha nada a ver. Graças a Deus, eu tive sempre bom conceito com os chefes da época. Em Manaus, por exemplo, quando eu estava lá, eu era chefe de pessoal. Começou a haver mudanças de chefia e acabaram me empurrando para assumir a chefia da base do escritório mesmo, isso entre 1963 e 1964, quando houve a Revolução. Aí mudou tudo, quem assumiu a Superintendência da Amazônia, que comandava toda área, foi o Coronel Jarbas Passarinho, que era muito meu amigo. Ele foi superintendente antes e depois voltou como interventor lá. Ele me manteve na chefia de Manaus. Também estava já numa fase de extinção, foi quando fui transferido de volta para Belém.
HISTÓRIAS / CASOS / LEMBRANÇAS
Em Belém, a minha atividade também era viajar muito, como aqui no Rio, eu viajava para todos os lugares onde tinha órgãos da Petrobras, para fazer auditoria de pessoal, verificar se estavam seguindo as normas certas com relação a pessoal, não só a pagamento, controle também, outras coisas. Cada lugar tinha os seus pequenos órgãos de pagamento, de pessoal e as equipes. Eu viajava muito para São Luís do Maranhão. Ali é que houve muitos fatos interessantes: para ir numa sonda lá, já ouviu falar nos Lençóis do Maranhão? Não tinha essa divulgação que tem hoje, mas os lençóis já existiam; ali, a Petrobras tinha uma sonda em cima das dunas. As dunas se mudavam conforme o vento e são altas pra caramba. Ali, carro não andava, se andava de um lado pro outro em cima de um trator. O alojamento era daqueles pré-fabricados, montados, pois a areia entra por qualquer buraquinho. Chegava de noite, ia dormir, tinha que pegar o lençol e [sacudir] pra tirar toda a areia que entrava. Chegava de manhã, pra abrir a porta, primeiro tinha o cara para tirar a areia pra poder abrir a porta, porque ela vai acumulando. E a viagem pra lá? Eu ia de teco-teco, aquele avião que só tinha uma palheta. Eu saía de São Luís do Maranhão, que é uma ilha, para ir para o continente, onde tem os Lençóis, que tem essas sondas da Petrobras. Ia de teco-teco, atravessava a Baía de São Marcos, ali pegava o vento e ia direto. Em uma dessas viagens, íamos eu e mais um técnico de rádio – que ia para uma outra equipe antes da que eu ia –, então o teco-teco pousou. Ele pousa em qualquer lugar: quando tem fazenda cheia de bois, o teco-teco dá um voo rasante para o boi se afastar pra ele poder pousar. E a roda é de bicicleta. Pousou para o técnico descer e eu fiquei para seguir viagem para outra equipe, só que na hora que ele foi acionar, o avião não queria nada: vrou-vrou-vrou, nada! O piloto disse assim: “Senta aqui no meu lugar e fica apertando. Aqui tem umas maletas embaixo, eu vou virar lá a paleta, quando pegar, aperta e não solta! Aí ele virava. Rapaz, aquilo precisa ter força! Virou umas três ou quatro vezes até que pegou: brrrrrrrr. Ele entrou, as portas eram tipo de fusca, abriam assim, ele sentou do lado, pegou, eu passei para o lado. Eu contando isso pro pessoal, dizia: “Rapaz, já peguei avião que, quando enguiça, pega no tranco.” Não é no tranco isso? (risos). É no tranco (risos).
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Quando vim transferido para o Rio, uma das missões era viajar o Brasil todo, fazendo a mesma coisa que eu fazia lá, visitar – aí já em nível maior, porque passei a visitar as unidades da Petrobras – refinarias, terminais e lugares onde tinha pessoal, principalmente na Bahia, Salvador. Eu ia muito a Salvador, era onde tinha a maior concentração de empregados da Petrobras, de unidades de trabalho, perfuração. Eu viajava muito.
AMBEP / CRIAÇÃO
A Ambep [Associação dos Mantenedores-Beneficiários da Petros] surgiu da seguinte forma: eu ainda estava na ativa e tinha um colega, que era meu conterrâneo lá de Belém do Pará, chamado Antônio Ferreira Bastos, ele era muito meu amigo, por sinal foi meu padrinho de casamento. Morava em Belém também. Ele foi transferido, veio para o Rio e já estava aposentado. Eu encontrava com ele e ele tinha uma ideia de criar uma associação e me convidou uma vez: “Vamos fazer isso e fazer aquilo pra criar uma associação?” Eu disse assim: “Bastos, eu estou na ativa”. Eu estava chefiando um órgão de pessoal na sede, não era mole, não me deixava tempo pra nada. E eu disse: “Não gosto de entrar numa coisa que eu não vou dar conta de me dedicar”. E ficou nessa conversa. Passado um tempo, acabei decidindo me aposentar, já tinha tempo, me aposentei. Muito bem! Eu me aposentei, foi mais ou menos pelo mês de julho. Foi julho de 1981. Uns três dias depois de já estar aposentado, saí com minha esposa – eu moro na Tijuca, na rua Valparaíso e sempre saio a pé -, fui até à praça, minha esposa queria fazer compras. Em frente ao shopping que ainda tem ali – o Shopping 85, parece; não é do lado que tem a C&A, é desse outro lado, o shopping mais antigo – ia passando ali, quem é que eu encontro? Esse colega e a esposa. Ele se virou para mim e disse: “Como é, está de férias?” Eu disse: “Não, agora as minhas férias são permanentes”. Aí começamos a conversar, veio na minha ideia, eu me virei pra ele e disse: “Bastos, agora é a oportunidade de criar a associação, agora eu estou aposentado”. Rapaz, o homem parece que acendeu na hora. Na mesma hora! Ele era muito afobado, dinâmico pra caramba! E eu trabalhava em ordem de pessoal da Petrobras, tinha todo acesso à informação, tudinho, recente. Ele disse: “Você vê se tu arruma na Petrobras uma lista de todos os aposentados com endereço e telefone”. Eu disse: “Pode deixar que amanhã mesmo eu arrumo isso”. Voltei na Petrobras, falei com uns amigos que trabalhavam na área de processamento de dados, tiramos aqueles formulários contínuos. Nós nos dividimos em três, foi quando eu convidei o Zury, que era meu colega também; eu o conheci em Manaus – esse que esteve aqui, Raymundo Zury –, trabalhamos juntos em Manaus, foi uma das primeiras pessoas que eu conheci em Manaus. Convidei ele para participar. Dividimos essa listagem em três pedaços: ele ficou com um pedaço, eu com um pedaço e o Zury com outro, para cada um telefonar para esses aposentados e pensionistas para transmitir a idéia da criação dessa associação. O apoio foi praticamente unânime e, a partir disso, nós combinamos de fazer uma assembléia com esse pessoal. Marcamos uma data e fizemos a assembléia. Nessa assembléia, foi criado um grupo de trabalho para escrever os estatutos. Aí já foram convidadas outras [pessoas], um que deve passar por aqui também é o Ramiro. Ramiro também participou dessa elaboração, desse estatuto. Depois de elaborado o estatuto, foi marcada uma assembléia de criação da associação e, na mesma ocasião, foi eleita a primeira diretoria. Esse rapaz foi eleito o presidente, o Bastos; eu, Zury, Ramiro e Jorge Silva fomos formando diretoria, Jorge Silva na área financeira.
[Resolvi participar] pelo entusiasmo desse colega, que sempre foi meu grande amigo. Estudamos juntos, nos formamos na mesma escola de técnicos em contabilidade, o conheci muito antes de ser empregado da Petrobras. Foram dois anos de diretoria, aí depois eu não quis mais. O Zury também saiu, alguns permaneceram, entraram outros diretores.
PETROS
Nessa altura, dois anos depois de eu estar aposentado e que participei da diretoria da Ambep, houve um outro colega que era da Petrobras e que tinha uma função lá na Petros, na fundação. Ele gostava muito de mim e me telefonou porque estavam precisando de pessoas para ir trabalhar lá, para fazer um levantamento de dados, porque tinha mudado um pouco o negócio do regulamento da Petros. Fui convidado a trabalhar lá na Petros, com contrato de 90 dias, depois prorrogaram por mais 90, daí depois apareceram umas outras coisas e acabaram me efetivando na Petros. Depois de aposentado, trabalhei na Petros 10 anos! Eu me aposentei em 1981, entrei na Petros efetivamente em 1985 ou 1986 e saí em 1996. Pedi demissão, porque eu já não agüentava mais: “Agora eu me aposento mesmo!”
AMBEP
Deixei para essa turma. Naquela época, o negócio foi bravo, hoje o cara entra lá [na Ambep], “bebê”. Naquela época, não tinha nem telefone. Você vai criar um negócio, não tem nada, zero. Não tinha papel, não tinha lugar. A gente arrumava lugar no sindicato, uma sala para se reunir. Depois foi aos poucos, até que conseguimos, inclusive, que o pessoal aderisse, para poder descontar a contribuição, para formar um dinheiro, uma verba, pra sustentar. Começou assim. No início, a gente tirava do nosso bolso para botar carta no correio, eu batia à máquina em casa – não tinha computador naquela época, as cartas eram batidas na máquina de escrever. Não era só eu, o Zury e outros mais.
AMBEP / PETROS
A Ambep foi criada para uma, digamos assim, defesa dos aposentados e em defesa, inclusive, da própria Petros, que é a fundação que sustenta a gente também. Em termos financeiros, a fundação deve dar suplementação da aposentadoria. Nós contribuímos para lá. [Em relação à Petros] é defesa em todos os sentidos, a gente tem que defender aquilo que nos dá o sustento. Você está numa empresa, tem que defender a sua empresa, que é o que lhe dá emprego. Não [que ela corresse] risco, mas é questão até de legislação, de previdência, porque tem muito envolvimento com a previdência social e uma série de coisas, e a Petrobras, que instituiu a Petros em 1970, se não me engano. Eu fui um dos primeiros a aderir, a entrar na Petros. Muita gente, na época, achava que não [deveria], depois se arrependeu. Sempre tem [resistência] quando se cria alguma coisa nova, sempre aparece alguém para ser contra. Alguns julgavam que, ao invés de contribuir para a Petros, era melhor juntar o dinheiro numa caderneta de poupança e, no final de 30 anos, teria tantos milhões lá. Só que isso não acontece, não aconteceu, pelo menos. Quando chegou a época de eles se aposentarem, eles viram que não tinham apoio nem nada, eles iam ter só o INSS [Instituto Nacional do Seguro Social]. Aí é que tiveram que abrir o negócio para eles poderem participar, mas já não receberam o que poderiam ter recebido se tivessem entrado desde o início. Tiveram que pagar, inclusive, aquilo que não tinha sido pago antes. [A Petros] garantia a suplementação da aposentadoria para se manter, pelo menos, 90% do que se ganhava na ativa. O pessoal ia se aposentar só com o INSS? Eu, por exemplo, ganhava muito mais que 20 salários-mínimos, na época, e a aposentadoria do INSS me dava só oito ou nove salários-mínimos. Você imagina o baque que o camarada ia ter ali em termos econômicos. Uma pessoa que tem um nível de vida na base de 20 salários-mínimos, de repente, cair para oito, é parada. Já a contribuição, foi a fundação, a Petros, que foi criada para dar esse suporte. A nossa contribuição para a fundação não é barata. Eu pagava de contribuição para a Petros, e ainda continuo pagando depois de aposentado, o equivalente a duas vezes o que eu contribuía para a previdência social. O desconto não é barato! Era treze por cento, por aí, sobre o salário bruto.
AMBEP / OBJETIVOS
Na Ambep, foi criada uma mensalidade de meio por cento e, até hoje, todos que são sócios contribuem. [Depois desses dois anos] eu ia lá na Ambep prestar alguns serviços para os próprios associados, por exemplo, declaração de imposto de renda. Chegava na época, eu fazia a declaração para todos os caras que apareciam e tinham dificuldade. É isso que eu fazia, mas depois: “espera aí, tem que dar a vez para outros também”, porque tem gente que só gosta de chegar nas coisas que estão prontas, que foram feitas, aí é usufruir. É o que acontece muito (risos). O que eu tenho a dizer é justamente isso: o nosso intuito, nosso objetivo foi e está sendo atingido. Muitas associações se criam e o negócio fica, mas ela cresceu, cresceu baseada na firmeza daqueles que a criaram, que fundaram e agüentaram durante, pelo menos, a consolidação de suas bases de apoio. E aí começou a entrar muito sócio, não só gente aposentada, mas o pessoal da ativa também, eles são sócios. Já existia [outras instituições] por aí, Salvador, na Bahia, tinha. Não me lembro qual é nome. Tem várias associações, tem a Aepet, a Associação de Engenheiros da Petrobras, todas estão em defesa daqueles nossos interesses, como a Ambep, todas elas.
SER PETROLEIRO
É o seguinte, em termos de tempo, hoje você vê um rapaz que está tentando trabalhar, entrar numa grande empresa, o interesse do camarada é saber logo quanto vai ganhar: “Paga mal?”, ele quer galgar logo o posto. Na minha época não era bem assim. O entusiasmo pela Petrobras era muito grande. A pessoa ingressava na Petrobras com uma vontade de trabalhar! Até esquecia de quanto ia ganhar, queria era trabalhar. Era uma noção de muito patriotismo que existia naquela época com a Petrobras. Principalmente a juventude, aliás, deve-se à juventude a criação da Petrobras, “O Petróleo é nosso”, a famosa história do “Petróleo é nosso”. Não participei muito [disso], houve mais participação dos estudantes da época. Eu já estava trabalhando, não tinha tempo para andar na rua gritando com faixa na mão, não (risos). Mas foi muito importante! E muita gente foi presa por causa disso, foi fichada como comunista, muitos. A história aí conta.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fez-se uma programação para o ano todo, para fazer essas viagens de auditoria nas unidades da Petrobras. Eu viajava muito, principalmente para Salvador, mas viajava o Nordeste todinho, onde tinha Petrobras. Ia até Belém, ia para o Sul, Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, que também tem muitas unidades da Petrobras. Nunca fui a Mato Grosso, por exemplo, que não tinha nada da Petrobras lá, então não tinha por que ir. Mas a área Norte, Nordeste e Sul eu viajava muito. Eu conheci esse Brasil assim. Eram raros os meses em que eu não viajava, tinha programação para o ano todo. Coincidiu também, quando eu vim aqui para o Rio, porque aí eu fui concretizar o meu desejo de fazer um curso superior, que não tinha em Belém. Aqui no Rio, uma das primeiras providências que eu tomei foi fazer vestibular pra fazer faculdade, foi quando eu fui fazer Administração, que era minha área também. Isso também dependia de ser promovido na Petrobras, senão eu ia ficar lá como “sargento” o tempo todo. Com o curso superior, eu passei a “oficial”.
O meu período na Petrobras foi praticamente todo com os militares. Meus chefes todos foram militares. Os presidentes da Petrobras eram militares, generais do Exército. Eu sempre fui muito prestigiado. Gosto de ser sincero: sempre fui muito prestigiado e muito apoiado pelos meus chefes, muito mesmo! Nunca fui puxa-saco, nunca, pelo contrário, sempre fui durão. Porque eu era, de certa forma, considerado um cara muito duro no meu trabalho, por questão de disciplina e nisso eles davam muito apoio. De vez em quando, eu era designado para fazer determinados serviços e chefiar. Me nomearam para um cargo que era duro de roer. Essas visitas eram para haver uma uniformidade de tratamento com relação à aplicação das normas, para não haver disparidade. A Petrobras é muito grande, então você vai lá no Rio Grande do Sul, lá na refinaria, no terminal, tinha que ter os mesmos sistemas de aplicação que eram aplicados aqui, como no Nordeste, no Norte. Inclusive, foi feita na época uma atualização; praticamente foi criado um manual, os manuais de normas de pessoal, era o órgão que eu trabalhava e eu participei ativamente. Quando ficou pronto, eu levei, viajei em todas as unidades fazendo palestras sobre aplicação dessas normas, explicando como elas deveriam ser aplicadas. Viajei essas unidades todinhas para implantação desse novo manual.
Fiquei [nesta função] até 1973 ou 1974, quando fui nomeado para chefiar um órgão de pessoal daqui da sede, aí eu deixei de viajar, porque eu passei a trabalhar com o pessoal daqui mesmo. Na sede, eu comandava o meu órgão, o órgão de controle. O movimento me passou um controle de pagamento de todo pessoal da sede: só no prédio da Petrobras tinha mais de mil pessoas, fora outros pequenos órgãos por fora, como a Ilha do Fundão. Tudo isso era controlado. Eu pagava desde o servente ao presidente, quer dizer, o meu órgão é que emitia a folha de pagamento, só não podia errar, já pensou errar o contracheque do presidente, do diretor? [Houve alguns casos], mas a gente soube sair, os diretores eram gente boa, diretores muito bacanas. Nesse órgão, eu fiquei até me aposentar, em 1981, sete anos, mais ou menos. Esse órgão que eu chefiava tinha 60 e poucos subordinados. Comandar 60 e poucos subordinados não é mole. Eram divididos em áreas de atividades, cada área de atividade tinha um encarregado. Eu não podia comandar os 60 e poucos direto, tinha que ser através dos encarregados. Eu convivia diretamente com muitos, com todos, de certo modo, eu nunca ficava sentadão, ficava correndo. Se você olhar o prédio da Petrobras, era no quarto andar, era mais ou menos assim: uma quina assim todinha. Eu andava aqui e aqui, é o mesmo que você andar no quarteirão até aqui e voltar, um quarteirão longo. Eu me aposentei por questão econômica, porque, pelos cálculos que fiz, eu já estava trabalhando de graça, eu podia aposentar e ganhar a mesma coisa. Na Petros, já foi outra questão, não era questão de dinheiro. É que eu não queria mais ter preocupações e ficar com aquela tensão, porque, de qualquer maneira, se você entra numa atividade dessas, principalmente nessa minha área, é cheia de muitas tensões; lidar com pessoas, problemas de relações, é difícil.
PERSPECTIVAS AMBEP
Se eles, os novos dirigentes, souberem “segurar a peteca”, a tendência da Ambep é crescer. Às vezes, uma entidade dessas exige sacrifício, muitas vezes, não é moleza, não. Primeiro, porque ali ninguém vai para querer ganhar dinheiro, ia dar mais sacrifício. Eu, por exemplo, não ganhava nada na Ambep, nem a Ambep pode pagar salário para diretor, senão ainda vai ter que pagar imposto de renda. Não pode!
A única coisa que se ganhava era o almoço. Nos dias que íamos lá, tínhamos direito a um almoço: um ticketzinho e eu almoçava. Não era um almoço de magnata, não, um almoço normal.
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL
Fui três vezes transferido na Petrobras: fui transferido de Belém para Manaus, depois Manaus para Belém, e de Belém para o Rio de Janeiro.
Quando estava aqui no Rio de Janeiro, já há uns dois anos antes de me aposentar, me convidaram, aliás, não era convite – não lembro como eles chamavam –, para chefiar o órgão de pessoal na Bahia, Salvador, aí eu tive que dar uma [resposta]: “Não agüento mais”. Porque cada vez que você muda, principalmente de cidade, é uma parada, [embora] pareça que não. Principalmente quem é casado e tem filhos, é como se você tivesse casando de novo, começa tudo de novo, tem que se adaptar. Me intimaram a indicar um outro colega para ir pra lá, eu indiquei e esse rapaz se deu bem, está hoje em melhor situação do que eu.
MEMÓRIA PETROBRAS
Foi muito bom! Eu já tinha tomado conhecimento, porque no site da Petrobras tem uma parte lá para o pessoal contar, digamos, um pedaço da sua vida. Já tinha no site da Petrobras, daí uma vez me deu na telha de começar a escrever e botar, [mas] achei muito frio o negócio. É muito melhor assim, um papo, você não acha? A outra pessoa acaba puxando mais alguma coisa da gente, que a gente, às vezes, não está lembrando na hora e é muito interessante! Eu sou sócio de um clube aqui na Tijuca, Tijuca Country Clube, e tem uns amigos lá e, às vezes, ficam puxando conversa e eu fico contando essas histórias da Petrobras, um deles diz: “rapaz, você já podia ter escrito um livro sobre essa história”, porque tem muitas passagens, é gozado! Na época que eu era solteiro, andava de motor de popa. Todo órgão tem, o camarada tinha direito a um carro, eu tinha direito a um motor de popa para andar no rio: zuuuuuu! Era uma beleza aquela paisagem. Imagina, com uma máquina fotográfica digital lá, o que eu não podia ter documentado na época!Recolher