P/1 – Então Carlos, para a gente começar, queria que você falasse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Carlos Roberto de Andrade, nasci em Campos do Jordão, em 31 de agosto de 1951.
P/1 – E queria que você contasse um pouquinho a história da sua família assim, o seu pai, a sua mãe, o nome deles.
R – Bom, eu fui criado com a minha avó em Campos do Jordão. A minha mãe, eu nasci, vamos dizer assim, ela era menor ainda, eu acho que tinha 15 ou 16 anos e ela veio para São Paulo para trabalhar. Então, eu fui criado com a minha avó em Campos do Jordão. A minha avó chama Maria José Lourenço, sou filho único, paparicado desde pequeno. [Risos] E em Campos do Jordão, nasci, fui criado, estudei até 15 anos e com 16 anos eu vim para São Paulo.
P/1 – Quer dizer que nesse começo a sua... O contato com a sua mãe foi menor do que com a sua avó?
R – Isso. Até então, porque eu chamo... Eu chamava a minha avó de mãe. A minha própria mãe mesmo, eu chamava por nome, de apelido, que chamava Di. [Risos]
P/1 – Di?
R – Di, é. Eu não tinha esse vínculo de filho e mãe porque eu fui criado com a minha avó e chamava a minha avó de mãe.
P/1 – E o seu avô também estava...
R – Não. O meu avô já era falecido nesse período. Só vivíamos os dois em Campos do Jordão.
P/1 – E qual que é o nome da sua mãe?
R – Glória.
P/1 – E o nome do seu pai?
R – Meu pai é José.
P/1 – Você poderia contar um pouquinho aquela história de que assim, você não conheceu o seu pai?
R – É, na realidade, o meu pai eu vi uma vez, tinha oito anos de idade só. Você imagina uma mãe em 1951 ter um filho com 15 anos foi um escândalo. [Risos] E a minha avó é muito rígida com esse sistema, então não permitiu que o meu pai se aproximasse. Quer dizer, foi... O nome foi dado na delegacia para assumir a paternidade...
Continuar leituraP/1 – Então Carlos, para a gente começar, queria que você falasse o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – O meu nome é Carlos Roberto de Andrade, nasci em Campos do Jordão, em 31 de agosto de 1951.
P/1 – E queria que você contasse um pouquinho a história da sua família assim, o seu pai, a sua mãe, o nome deles.
R – Bom, eu fui criado com a minha avó em Campos do Jordão. A minha mãe, eu nasci, vamos dizer assim, ela era menor ainda, eu acho que tinha 15 ou 16 anos e ela veio para São Paulo para trabalhar. Então, eu fui criado com a minha avó em Campos do Jordão. A minha avó chama Maria José Lourenço, sou filho único, paparicado desde pequeno. [Risos] E em Campos do Jordão, nasci, fui criado, estudei até 15 anos e com 16 anos eu vim para São Paulo.
P/1 – Quer dizer que nesse começo a sua... O contato com a sua mãe foi menor do que com a sua avó?
R – Isso. Até então, porque eu chamo... Eu chamava a minha avó de mãe. A minha própria mãe mesmo, eu chamava por nome, de apelido, que chamava Di. [Risos]
P/1 – Di?
R – Di, é. Eu não tinha esse vínculo de filho e mãe porque eu fui criado com a minha avó e chamava a minha avó de mãe.
P/1 – E o seu avô também estava...
R – Não. O meu avô já era falecido nesse período. Só vivíamos os dois em Campos do Jordão.
P/1 – E qual que é o nome da sua mãe?
R – Glória.
P/1 – E o nome do seu pai?
R – Meu pai é José.
P/1 – Você poderia contar um pouquinho aquela história de que assim, você não conheceu o seu pai?
R – É, na realidade, o meu pai eu vi uma vez, tinha oito anos de idade só. Você imagina uma mãe em 1951 ter um filho com 15 anos foi um escândalo. [Risos] E a minha avó é muito rígida com esse sistema, então não permitiu que o meu pai se aproximasse. Quer dizer, foi... O nome foi dado na delegacia para assumir a paternidade e nunca deixou o meu pai me ver. Aí, eu o vi uma vez com oito anos só de idade, nunca mais eu vi. E hoje eu sei, tenho o endereço dele, sei onde ele mora, inclusive ele não está bem, mas é engraçado que a gente tem hora que dá vontade de ir, tem hora que você não sabe o que faz, porque não tem vínculo nenhum. Eu sei, é o meu pai, mas não tem aquele filho: “Nossa, aquele é o meu pai.” É engraçado que não... Ainda não sei, eu não senti ainda, falar: “Tenho que ir vê-lo.” Mas eu vou vê-lo, não tenho nada contra o que passou. Os dois eram muito jovens, o meu pai e a minha mãe. Quer dizer, são coisas da juventude, mas eu também não sinto aquele vínculo do pai e filho. Eu fui criado pela mãe, tudo que aprendi foi por... Mãe não, vó.
P/1 – E essa infância em Campos do Jordão como é que foi? Como é que era a casa onde vocês moravam?
R – É, nós morávamos no bairro do Britador, era casa de madeira. Campos de Jordão é muito frio, que vocês sabem. Principalmente na época de inverno, a temperatura chega abaixo de zero. Nós éramos, vamos dizer assim, de uma família pobre, nós dependíamos do dinheiro que a minha mãe mandava de São Paulo. Eu estudava, fui guarda mirim em Campos do Jordão, que tem uma escola, aqueles meninos que ficam na rua, olhando o carro. Em Campos do Jordão tem o Padre Orestes, que pegava essa meninada para não ficar na rua, ele dava uniforme e educação. Então, nós fomos criados assim. Eu ia para a escola, depois à tarde ia ser guarda mirim, ia trabalhar no trânsito, ia trabalhar nos hotéis, guardando carro. Isso foi um período de...
P/1 – E quem mais além de você e a sua avó morava na casa em Campos do Jordão?
R – Só nós dois. Éramos só minha avó e eu.
P/1 – Certo.
R – Aí, as coisas foram complicando porque você vai ficando moço, você vai querendo alguma coisa, já não tinha mais condição. Aí, com 15 anos, quase para 16 anos, eu vim para São Paulo.
P/1 – Você já tinha vindo para São Paulo alguma vez?
R – Ah, vinha, mas muito esporádico, cada dois, três anos. Ficava um ou dois dias com a minha mãe e voltava.
P/2 – A tua mãe fazia o que aqui em São Paulo?
R – A minha mãe trabalhou em várias atividades. Trabalhou... Ela era, na realidade, cabeleireira, agora que eu estou lembrando. Trabalhou à noite também na... Como é que chama? Casas noturnas porque ela era cabeleireira e não sei se ela dançava. Eu sei que era... Ela era cabeleireira porque tem muitas fotos dela disso e ela cortava o cabelo do pessoal. E sobrevivia disso. Era meio complicado porque o horário dela não batia com o da gente. Só via nas férias. O meu pai, era sócio do Avenida Dance em São Paulo, eu não sei se... Eu acho que os mais velhos conhecem na avenida Ipiranga, Existe, eu acho, que até hoje ainda esse lugar. Na época...
P/1 – O seu padrasto ou pai?
R – Não, o meu pai.
P/1 – O seu pai mesmo.
R – O meu pai com o meu avô eram donos daquilo. Mas a gente não... A gente só sabia a história, nunca fui lá.
P/1 – E a sua mãe se casou novamente depois?
R – É. Depois ela se casou novamente, casou com o meu padrasto, o Alcides.
P/1 – E você teve uma relação com esse padrasto de proximidade?
R – Sim. Quando eu vim para São Paulo, viemos eu e a minha avó, que chamava de mãe. Ela ficou pouco tempo, eu acho que um ou dois anos só e faleceu. Aí, eu já morava com a minha mãe e o meu padrasto. Nós já morávamos em... Aqui em São Paulo, na Vila Maria, quando a gente veio.
P/1 – E assim, um pouquinho lá, de Campos de Jordão ainda, como que era a escola onde você foi estudar?
R – A escola? A escola era do Estado, que nós estudávamos e em Campos, ele tem... O nível social era muito heterogêneo porque o pessoal que tinha mais condições estudava na mesma escola do pessoal que tinha condições e isso, de uma certa maneira, era bom porque você tinha boas amizades. Porque só existia, praticamente, o colégio do Estado, não tinha escola particular. Naquela época, escola particular era para quem queria passar de ano. O Estado não, era muito difícil... Então, as melhores escolas era com eles. Engraçado que eu tinha, até hoje eu lembro, o meu boletim todo mês tinha que ser assinado pelo responsável. A minha avó era analfabeta, não podia assinar, e o diretor da escola é que assinava para mim. [Risos] Então, era legal.
P/1 – E tem alguma professora ou professor que tenha te marcado de forma especial?
R – Tem, tenho uma professora que me marcou muito, ela chamava Dirce Maluf.
P/1 – Por que ela te marcou?
R – Porque é o seguinte: ela era muito rígida. Ela era aquele professor que não batia na gente, mas ela era muito rígida. Não tolerava bagunça, não tolerava...Tinha que fazer lição de casa, era muito rígida. E eu sempre estava falando dela para a minha avó, que ela era muito brava. Aí, a minha avó falou: “Leva um franguinho para ela de vez em quando”, tal. [Risos] E nós sempre, uma vez ou outra, levávamos um franguinho para ela. Aí, sempre quando tinha que pegar alguma coisa fora, ela me chamava. No fim, ela começou a me chamar... Não chamava de Carlos, me chamava de Roberto e ela praticamente me adotou, começou a me dar conselhos. Eu fiz o quarto ano primário junto com a admissão e aí eu senti que ela gostava de mim porque quando eu... Chamou o meu nome, ela vibrou. [Risos] Então, eu não esqueci isso. Ela marcou muito.
P/1 – Você passou de primeira no exame de admissão?
R – É. Fiz o quarto ano e admissão junto porque nós estudávamos de manhã e a admissão foi à tarde. Então, eu repetia muito o primeiro e segundo ano. Depois do terceiro para cá, nunca mais repeti.
P/1 – E o Ginásio, você fez lá em Campos do Jordão?
R – Campos do Jordão, isso. Fiz o Primário, aí comecei aquela idade de querer trabalhar. Não tinha campo. Em Campos do Jordão, você não tem muito. Lá é turismo, é uma área de... O pessoal fazia temporada, o pessoal só vai para lá na época de inverno. Depois do inverno, acaba, não tem mais ninguém na cidade. Então, as faculdades eram só em Taubaté, São José dos Campos, lugares longe. Não tinha condições. Só ia quem tinha dinheiro. Aí, o meu tio sugeriu que eu viesse para São Paulo para trabalhar, porque as coisas estavam muito ruins para a gente, tal. Quando você é garoto, você não precisa de nada. Agora, você já está mocinho com 15 anos, então você já está com algumas necessidades.
P/2 – Ainda em Campos do Jordão, lembranças boas assim, da infância, o que você mais gostava de fazer?
R – Ah, eu era muito moleque, eu tenho o rosto todo marcado, os braços quebrado duas vezes cada um. Gostava muito de pular o rio, no mato, porque lá é montanha. Eu era muito sapeca. Brincava com arco. Era coisa de louco, moleque...
P/2 – Arco?
R – É, arco e flecha... Tinha uma infância muito maravilhosa, não esqueço das corridas. Toda vez ia correr, pulava o rio. Uma vez, quebrava o braço, aí sarava. Pulava o rio de novo, quebrava o outro braço. Eu tenho o braço quebrado duas vezes cada. São quatro vezes o braço quebrado. [Risos]
P/2 – Que rio é esse?
R – Aqui, a boca, tenho cicatriz. Na testa. Tem... Campos do Jordão tem um rio que beira a cidade. Naquela época não era poluído, não tinha tanta casa como existe hoje. Eu gostava muito daqui.
P/2 – E a brincadeira qual era? Era pular?
R – Pular o rio porque o rio... [Risos] Pulava, atravessava. Vinha correndo, pulava de um lado para o outro, sempre era isso aí. Era uma coisa muito marcante na nossa época e eu gostava muito de jogar bola, mas sempre também ralava o joelho, sempre. Coisas de moleque. Então, o que marcava muito...
P/1 – Os jogos de futebol eram peladas na rua ou era campo?
R – Não, eram peladas e tinha os jogos mesmo. Depois já comecei a entrar num clube que chamava Vale Encantado, que a gente jogava bola nele. Era muito gostoso, maravilhoso. A gente andava quase uma hora a pé para ir jogar nesse bairro porque na época a gente não tinha carro. Todo mundo saía no domingo de manhã. Então, o que a gente fazia? Eu, como guarda mirim, tinha... Ia na missa e com roupa de gala, era uma roupa diferenciada da semana que você ia. Tinha o nosso instrutor, ele ficava lá atrás, se alguém olhava para trás, ele anotava o número e, depois disso, que você ia jogar bola. Então, foi uma época muito boa porque você não tendo pai nem a mãe, com a avó, esse padre percebendo isso, acabou ele te educando também. Você ia para a escola, te educava. Não deixava... Te ensinava as boas maneiras, que não podia roubar, que tinha que estudar. Então, você vai tendo um comportamento e a família também ajudava bem nesse aspecto.
P/1 – Quando você era pequeno, você já sentia a presença dos turistas lá?
R – Já, já. A gente ficava na expectativa de julho, de chegar os turistas, que nós íamos todos para os hotéis. Ficava todo escalado o Hotel Toriba, o Hotel São Paulo. Aqueles hotéis todo [mundo] queria ir para algum desses lugares. Ninguém queria ficar no Centro, queria ficar para os hotéis. Mas, como tinha escala, você era o guardinha mirim que ficava no trânsito, então não tinha jeito. Então, onde ele escalava, você ia.
P/1 – E vocês iam para fazer exatamente o que?
R – Nos hotéis, você ficava como se fosse um office-boy, mensageiro, olhava o carro, você ganhava gorjeta. Só que tinha um talãozinho, você tinha que registrar. Você dava para eles, aí muitos não queriam, outros aceitavam e você anotava aquilo. Aquilo, você entregava para a igreja, que era para o padre que vinha, ele que recebia isso.
P/1 – E tinha uma educação religiosa assim? A sua avó era católica?
R – É, a minha avó era muito católica. Eu ia na missa todo o domingo, não faltava uma missa e era daquele que ia no sábado confessar e, às vezes, a gente saía correndo, gritando: “Ah, não faz isso não que é pecado.” [Risos] Então, ficava quietinho em casa, no outro dia ia para a missa. Foi sempre assim. Na época de procissão, ia para a procissão, tocava na fanfarra. Eu tocava, tocava trompete, que é piston. Tinha a fanfarra. Quer dizer, muito bom. Não senti falta, vamos dizer assim, do pai e da mãe. A minha avó não... Preencheu tudo isso aí, só que ela era muito doente, tal. Então, você ficava muito em casa. Às vezes, não podia sair, tinha que ajudar, tal. Mas é engraçado que eu sinto falta dela agora, não antes. [Risos]
P/2 – Como é que você descreveria a tua avó? A tua mãe-avó, né?
R – Uma mãezona. Mãezona que não tinha cultura, não tinha educação, vamos dizer assim. Ela me emociona, desculpa. [Choro]
P/2 – Não tem problema.
R – Mas, é...
P/1 – A parte assim, de adolescência, de paqueras, essas coisas, começou já lá em...
R – Começou em Campos também.
P/1 – Campos do Jordão.
R – É, só que o namoro era assim, vou na escola, às vezes, aquela brincadeira, um olhando para o outro, e dizendo que estava namorando, mas nem se tocava. [Risos] Nem tocar. Mas lembro da primeira namorada, primeiro beijo, que foi... Chamava Fátima, eu chamava era de Fatinha. Quer dizer, não esquece mesmo. Como a mulher, não esquece do primeiro... [Risos] Do Valisére lá, não é isso? Eu, a mesma coisa, o homem, não esquece o primeiro beijo. Muito... Muito emocionante, muito.
P/1 – E aonde é que foi esse momento emocionante, você lembra?
R – Ah, foi... Na casa de um dos primos, que nós estávamos brincando no quintal e aquele, nossa! Aquele beijo lá. [Risos] Que parece que... Então, foi um beijo muito rápido, nada igual hoje, completamente diferente.
P/1 – Mas que parece que durou a vida?
R – Exatamente. Então, é que você no interior, eu talvez, não sei, deveria ter vindo para São Paulo mais cedo porque no interior, você é muito inocente com essas coisas. Quando chega em São Paulo, você sofre muito porque o pessoal é muito mais vivo, mais agitado e você muito pacatão. Então, não sei. Hoje em dia, talvez, as grandes cidades já ajudam um pouco mais. Tanto é que o Aché foi o meu primeiro emprego praticamente.
P/1 – É, você falou que veio para São Paulo por motivo de trabalho, né?
R – Isso.
P/1 – Como é que foi essa mudança? Quem... Enfim, vocês vieram morar com a sua mãe, mas conhecia, já tinha um lugar para trabalhar?
R – Não, nada, nada. A gente veio para São Paulo, vim com a minha avó, vim morar na casa da minha mãe com o meu padrasto já, o Alcides, e chegando aqui, não tinha, não sabia nem andar em São Paulo. Aí, o meu tio que saía comigo. Nós não conseguimos emprego porque eu era caipira, moleque, não sabia nem andar em São Paulo, nem para office-boy servia. Na Vila Maria mesmo, onde eu morava, nós arrumamos um emprego de uma loja de móveis, que fazia colchões. Eu comecei a trabalhar lá. De lá que eu comecei a conhecer o pessoal, comecei a andar para São Paulo, tal. Eu não trabalhei nem um ano, oito meses, e eu trabalhava nessa loja com a Cida, que hoje é uma das gerentes... Que é uma gerente do líquido e, trabalhando com ela, eu comecei a jogar bola com o irmão, que chama Osmar e ele que me indicou, falou: “Você não quer trabalhar comigo no Aché?” Que, na época, era Prodoctor. Aí, eu falei: “Vou, claro!” Eu ganhava, se eu não me engano, era 80 cruzeiros, uma coisa assim. Eu fui para o Aché, primeiro registro em carteira, fui ganhar 106, eu acho que era o salário de menor. E é engraçado, quando eu fui... Fui levado para teste, que foi, na realidade, contar caixa de papelão. Fazia uma pilha e contava para ver se eu sabia fazer a conta, e quem conferia isso foi o seu Victor. Seu Victor, ele tinha o escritório dele em cima, aí o Osmar falou: “Vem cá.” Ele foi lá: “Quanto que deu?” “Deu tanto.” “Então, está certo. Isso mesmo.” “Quando eu vou trabalhar?” “Começa já.” Aí, foi no mesmo dia comecei a trabalhar e que era... Na Prodoctor na Venâncio Soares, do lado do campo do Palmeiras, que hoje é o Laramara.
P/1 – Que é Pompeia?
R – Isso, que lá é Pompeia, exatamente. Trabalhando, começando a trabalhar lá, eu ia da Vila Maria para lá todos os dias e, nessa época, que eles estavam lá na Pompeia, eles já comentavam que tinha comprado um laboratório em Santana, que é o Aché, que era na Nova dos Portugueses, junto com a Dona Elfrida. Eu não trabalhei, acho, que um ano na Pompeia. Aí, a gente veio para Santana, que é ali na... Ali é Chora Menino, Imirim, é uma mistura danada que tem ali.
P/1 – A Prodoctor, ela fazia... O que exatamente ela fazia?
R – Só distribuição de produtos do Sintofarma, que o Laboratório Sintofarma ainda existe até hoje. Se eu não me engano, foi comprado também agora, há pouco tempo.
P/1 – Além de fazer essa contagem, o que mais que você fazia lá na Prodoctor?
R – Na Prodoctor, eu trabalhava na expedição e almoxarifado. Então, o que eu... No início que começou, eu fazia entrega nas farmácias, eu fazia entrega na farmácia com o seu Jonas, o pai do seu Victor. O seu Jonas, ele já era velhinho e também bastante linha dura. Ele falava meio enrolado: “Carlon, Carlos, Carlinhos”, ele sempre tinha esse tom mais ou menos assim. A gente trabalhava com ele. Às vezes, ia fazer entrega, depois da entrega ia fazer pagamentos ali na Light, na Xavier de Toledo. Era office-boy, entrega nas farmácias. Entrega nas farmácias, nós fazíamos... Tinha a nota, só que era umas caixas de madeira. Então, separava lá na expedição pela nota, colocava dentro das caixinhas de madeira, cada farmácia era uma caixinha de madeira com os produtos dentro. Depois, fazia-se o roteiro. Eu, às vezes, ia com o seu Jonas, com o seu Álvaro, João, eram os motoristas, dependia. Aí, ia fazer entrega nas farmácias. É engraçado que, às vezes, o trânsito estava andando bem e dava uma brecada, aquelas caixas iam para cima da outra. Meu Deus do céu! A hora que chegava na farmácia estava tudo errado, aí tinha que separar tudo de novo. [Risos]
P/1 – Não tinha tampa?
R – Não, não tinha tampa.
P/2 – Dentro da caixa iam as notinhas que você ia cobrar, é isso?
R – É, na realidade, tinha uma caixa com o pedido separado dentro, só que a nota fiscal ficava com o motorista. Então, ele só queria... Antes dele sair, ele fazia o roteiro. Então, ele saía, vou Santana, vou até Casa Verde, ele ia fazendo o roteiro por caminho para não perder tempo. Só que a gente enchia a perua com essas caixinhas que eram as entregas e, conforme o movimento, que você ia andando, e aquilo, às vezes, em umas brecadas que dava, aquilo caía e virava. Nossa, era uma mistura danada. Aí, quando chegava na farmácia, não batia. Tinha que ir abrindo as caixinhas e conferir tudo novamente, estava sobrando, estava faltando para entregar. [Risos] Então, mas era...
P/2 – Dentro das caixas tinham os remédios, então?
R – Eram os remédios, isso.
P/2 – Que tamanho que era essa caixa?
R – Ah, mais ou menos, 30 por 30, por 20, eram caixas pequenas.
P/2 – E que veículo que era?
R – Perua Kombi. Às vezes ia de carro, depende, mas a maioria das vezes foi de perua Kombi.
P/1 – Era uma perua que tinha ou tinham várias?
R – Não, tinham duas já.
P/2 – Que cor que era?
R – Era branca. Depois, quando a gente mudou para cá, que ela já era colorida, bonita, com aquelas faixas do Aché, mas no início, não. [Risos] No início era... Não tinha, não. No início era branca.
P/1 – E você aprendeu a dirigir nessa época ou não?
R – Não, eu aprendi a dirigir um pouquinho depois.
P/1 – Mas foi no Aché também?
R – Foi no Aché também. Aprendi depois.
P/1 – Então, nessa época, você mais entregava, quem dirigia era o seu João?
R – É, na realidade, nós ficávamos internos, sempre fazíamos, separávamos o pedido e íamos fazer entrega, mas eu sempre dei sorte. Eles sempre gostaram de mim. Eu comecei a trabalhar nesse período, fiquei, acho que um ou dois anos, aí eles, na realidade, já me deixaram interno porque eu tinha uma facilidade de trabalhar e lidar com o pessoal e trabalhava bastante, não me preocupava. Porque nós chegávamos cedo, saíamos tarde, não tinha aquele horário rígido e a gente sempre ocupado, sempre arrumando estoque, contando estoque, eu acabei ficando dentro e eles acabaram me colocando como encarregado do almoxarifado. Então, a partir daí, aí as coisas foram somando.
P/1 – Isso lá no Aché já?
R – Lá na Prodoctor.
P/1 – Na Prodoctor.
R – Na Prodoctor.
P/1 – Como é que era assim, o corpo de funcionários da Prodoctor?
R – Eu me lembro... É engraçado que eu me lembro bem disso, no corredor do Aché, lá na Prodoctor, que era em Santana, tinha um canto assim que tinha os cartões de pontos e era uma chapeira só assim. Aí, a gente foi lembrando, a gente ia decorando. De repente, tinha duas chapeiras. Depois, tinha três chapeiras. E cada um daquele tinha 25 funcionários. Então, aquilo ficou bem marcante porque daí já veio, que foi em 1968, você percebe que o Aché já estava crescendo bem, que começou a preocupação deles construírem a fábrica em Guarulhos. Lá não, lá era tudo. Não tinha... Era escada, não tinha carrinho, era... As caixas eram carregadas nas costas. Um dos sócios dele, que chama Rafael, bolou uma esteira de madeira rolante, então nós jogávamos os cartuchos pela escada e pegávamos lá embaixo, para não estar carregando muito nas costas. Lá era complicado porque não tinha ergonomia, que hoje é uma preocupação. Hoje em dia, você vai pegar uma caixa, não pode: “Mais de 10 quilos não pode.” Naquela época não tinha isso. Nós carregávamos nas costas duas, três caixas, fazíamos pilha, trabalhávamos... Não tinha... Horário tinha definido, mas se tinha que ficar até mais tarde, ficava com prazer, ficava tranquilo. Trabalhava muito a garotada, porque eu tinha 17 anos incompletos porque eu entrei em 1968, sou de agosto.
P/1 – Só tinha homem trabalhando?
R – Não, tinha mulher, tinha mulher. A minha esposa já trabalhava lá.
P/2 – Isso no Imirim?
R – Lá no Imirim. A minha esposa já trabalhava lá. Eu a conheci lá, na realidade. As primeiras paqueras começaram lá. [Risos]
P/1 – Como é que foi?
R – É que é engraçado, tudo moçada, e você vai, entregava mercadoria do almoxarifado para a embalagem e sempre tem aqueles olhares. E todo fim de semana tinha baile. Era na casa de um, era na casa de outro, sempre todo fim de semana tinha baile. E aí que foi. O Celso Abreu, a irmã dele trabalhava lá e eu namorei a irmã do Celso Abreu. [Risos]
P/1 – Antes da sua esposa?
R – Antes da minha esposa. Aí, porque sempre nos dias que nós saímos, íamos para Santos de... Para a praia, que era José Menino. Naquela época... Uma época muito bacana também, muito bonita, sem malícia, muito, mas...
P/2 – Como é que eram esses bailinhos aí? Tocava o que, comia o que?
R – Ah, naquela época da luz negra, a famosa luz negra começou nessa época. [Risos] Então, era mais... Era Cuba Libre, que a gente tomava, que era famosa, e a luz negra, a famosa. E nós que levávamos o som. Desde essa época, eu já acostumado já a juntar o grupo, vamos fazer baile, vamos jogar bola. Desde essa época, a gente já começava.
P/1 – O que é a luz negra, Carlos?
R – Luz negra é uma luz que ficava incandescente, quando você sorria, os dentes brilhavam, a roupa brilhava e era uma luz negra mesmo que se chama. Já tinha já aquelas lâmpadas que ficava piscando e acendendo, aquela estetoscópio, que chama. Nem me lembro o nome, se é isso mais, nem lembro. [Risos]
P/1 – E vocês dançavam que tipo de música?
R – Na época, nessa época de 1970, puxa vida, era época do... Elvis, Beatles. Fora Roberto Carlos, Jovem Guarda, que era o pessoal. Era uma época...
P/1 – E dançava de rosto colado?
R – Dançava, dançava de rosto colado, dançava... Aí que começou as primeiras danças solto, aí quem dançava solto: “Pô, era.... Ah, esses caras não estão com nada, tem que dançar coladinho.” [Risos] Já começou que, hoje em dia, é comum. Todo mundo nem fica mais colado dançando. Naquela época já estava começando isso aí.
P/2 – E como é que foi o pedido de namoro?
R – Foi engraçado, que a gente começava a sair muito, sempre em grupinho, sempre vai saindo, sempre saindo. Sabe, que não foi aquele pedido. Foi, começou de mão dada, veio o primeiro beijo e estava namorando. [Risos] É engraçado que eu morava na Vila Maria, ela que ia namorar comigo. [Risos] Quando ficou sério não, daí eu que vinha para Santana, lá para o Imirim que eu ia namorar.
P/1 – E quando mudou para o Imirim, ficou então mais perto para você, né?
R – Sim, ficou.
P/1 – Como é que você fazia esse trajeto para...
R – Nós demos sorte que, quando a Prodoctor mudou para Santana, já para o prédio do Aché, foi inaugurado uma linha de ônibus da Penha ao Imirim. Só que ele passava por dentro da Vila Maria, Santana. Foi uma beleza. Então, o ônibus passava na porta de casa e eu descia quase na frente da porta do laboratório.
P/1 – Quanto tempo demorava esse trajeto?
R – Ah, demorava uns 40 minutos.
P/1 – E como é que era a cidade nessa época, esse trajeto que você fazia? O bairro era muito diferente do que é hoje?
R – Olha, os ônibus já eram precários desde daquela época. Já era apertado, era terrível. Eu me lembro muito bem disso. Nossa, era uma loucura pegar aqueles ônibus circulares, era terrível. Melhorou quando apareceu essa linha. Como a gente pegava no início, a gente ia sentado, mas a hora que ia chegando na Vila Maria baixa, Vila Guilherme, já estava lotado, já era cheio. Nessa época, se falava muito, vamos dizer assim, na criminalidade, mas não era criminalidade do revólver, da criança. Era mais do adulto, dos assaltos que tinha. Eu lembro, acho, o primeiro caso que teve foi quando um menino de rua furou o olho de um soldado. Nossa, foi um escândalo danado: “Olha, que loucura, não sei o quê, que foi feito” e hoje é uma coisa tão normal isso, que a gente até encara isso como, infelizmente. Mas não era. A violência não era tanto assim não. Nós íamos jogar bola em campo. No máximo, saía era briga de dar soco no outro. Hoje não, você vai jogar bola, o cara está... Sai uma briga, sai tiro. Então, é complicado.
P/1 – E chegando lá no Aché do Imirim assim, como é que... Eu queria que você fizesse uma descrição de como era o prédio da nova empresa.
R – O prédio? O prédio era como se fosse um... Ele tinha um, dois, três andares, tipo de um sobradão, vamos dizer assim, três andares. Na frente é onde que ficava a embalagem e ficava a seção de comprimidos na parte de baixo. No, vamos dizer assim, que seria o primeiro andar, ele tinha a hipodermia e a parte de líquidos, e no andar superior ele tinha o controle de qualidade que ficava a parte administrativa, ficava o caixa. Na parte de baixo era o estoque, que era um prédio também muito antigo que nós guardávamos toda a matéria-prima. Era uma casa, na realidade, uma casa que eles foram abrindo, foram abrindo, virou galpão. Eu lembro que tinha um Aché... Por isso que eu falo para você, desde que eu estou trabalhando no Aché, sempre crescendo, sempre crescendo. Nesse próprio terreno tinha um quintal muito grande que entrava caminhão. No fim, foi fechado e virou estoque também de produto acabado. Então, aí chegou um ponto que não podia mais, que veio para Guarulhos. E lá tinha mecânica de automóveis, tinha um mecânico que cuidava da perua também. Almoxarifado, expedição junto. Tinha uma casa do lado que era do Aché, que foi colocado para uma família de uns funcionários do Aché, que é a família Vono. Essa casa, os funcionários dessa família, todos os filhos quase trabalhavam no Aché, eles moravam no lado, a casa era do Aché. Quer dizer, o Aché até essa parte social já vinha de uma certa maneira desde essa época. Eles moravam lá e não pagavam aluguel.
P/2 – E como é que era o dia-a-dia? Não tinha um restaurante dentro?
R – Não, todos...
P/2 – O pessoal comia onde?
R – Não, tinha um lugar que era chamado Cozinha, que tinha a Francisca, ela fazia o café e que tinha, acho, três mesas e tinha um lugar para você esquentar a comida. Então, você trazia a marmita, aquela marmita mesmo, de alumínio. Você vinha no ônibus de manhã e deixava guardado lá e, na hora do almoço, ela já colocava e ia esquentando. Foi assim. Lá não tinha condição nenhuma de fazer comida. E depois não, aí você já foi se enturmando, aí começamos a... Um bar do lado, ele começou a fazer comida, a gente começava almoçar, comprar dele. A maioria era do bairro, então ia almoçar em casa, entendeu? Então, porque ali era perto, ônibus, toda...
P/1 – Até então, a Prodoctor continuava fazendo a distribuição...
R – A distribuição dos produtos Sintofarma e do Aché porque daí já é o Aché, já estavam lá os produtos do Aché.
P/1 – Sabe me falar os produtos dessa época?
R – Lembro. O Aché tinha o Estilotricin, o Sorine já era dessa época, Destrovitase, Sensiclase era dessa época, o Combiron já era... Esses eram os produtos do Aché. Eu acho que tinha o Estilotricin também.
P/1 – Você disse que a sua mulher era da hipodermia, né?
R – É, na hipodermia, na realidade, lá na Nova dos Portugueses era da embalagem. Ela era uma menina que ficava na esteira, embalando.
P/1 – Era mais mulher para embalar?
R – Era. 99%, 100... Só tinha um homem que ele se chamava seu Jorge e ele era, se eu não me engano, irmão do seu Jonas. Ele já era velhinho, então ele ficava só armando as caixas de papelão. Ele armava as caixas de papelão com fita gomada, aí as meninas pegavam e colocavam o produto dentro. Era engraçado que o laboratório não tinha máquina, só tinha máquina de envase para líquidos, mas a rotuladeira, na realidade, era rótulo de papel, pegava a cola e colocava em uma madeirinha e nessa madeirinha [Risos] passava o rótulo na cola para pôr no vidrinho. Hoje, não.
P/2 – Era tudo manual?
R – Tudo manual, tudo manual. Carimbava... Tinha uma máquina de carimbar, mas todos os dígitos eram regulados na mão, aí carimbava. A embalagem eram as esteiras transportadoras com as operadoras... Operadoras não, embaladeiras que rotulavam. Era tampado na mão, colocava a tampa um a um. [Risos] Na mão que era feito.
P/1 – Era tampinha de plástico?
R – Era tampinha de plástico e de rosca. Você pegava a tampa como você abre a Coca-Cola hoje. Depois você não fecha? Era feito assim.
P/1 – E tinha uniforme?
R – Tinha avental. Todos nós tínhamos aventais.
P/2 – Branco?
R – Era avental branco.
P/2 – Você falou dessa presença do senhor Jonas, do irmão dele, queria que você descrevesse um pouco como é que era essa presença dos sócios-fundadores ali nesse dia a dia.
R – O seu Victor e o senhor Miro ficavam no escritório, vamos dizer assim, que nessa época já estava na Álvaro de Carvalho, eles já ficavam lá. Todo o departamento de vendas e de propaganda, marketing não tinha esse nome ainda, mas que fazia a propaganda, era na Álvaro de Carvalho e lá era a fábrica. Então, lá quem ficava era o senhor Rafael e o senhor Depieri. O seu Rafael, ele era mais... Ele cuidava mais da parte de produção, da parte de... Da indústria, construção, ele sempre foi envolvido nisso e toda parte de disciplina, essas coisas, era com ele. Ele era muito ativo nisso. O seu Depieri, ele tomava conta da parte de expedição, que era o produto acabado, do faturamento e da compra da matéria-prima até de embalagem. Então, como é que eu controlava o estoque para o seu Depieri? Acredite se você quiser. Tinha um quadro-negro, nesse quadro-negro, nós fizemos todas as linhas e colocávamos os nomes das matérias-primas todas lá. Então, nós escrevíamos amido de milho, estoque, vai, tinha 30 quilos. Aí, eu pegava as ordens de produção que eram escritas, eram fixas, era como uma receita. Como se faz de bolo, separava aquilo na... O que nós chamávamos de pesagem, levávamos para a produção, aí eu pegava aquilo ia dar baixa. Eu tinha 30 quilos, usou um quilo, então tem 29. Ia dando baixa e o seu Depieri, para fazer a compra, ele ia lá no quadro, olhava se estava baixo, não estava alto, porque não tinha experiência, aí ele mandava comprar.
P/2 – Ia anotando tudo com giz ali mesmo?
R – Era com giz. Depois começaram a vir os Cardex, que eram as fichas, então era feito na mão. Cartucho, bula, rótulo, era lançado manualmente ficha por ficha. Tinha um bolo de ficha desse tamanho assim. Aí começaram a vir as fichas. Era engraçado porque ela era caminho de passagem de todo mundo e, de vez em quando, alguém ia lá, mexia com giz. “Ah, você me passou o estoque errado!” Eu falava: “Mas eu não mexi.” Era brincadeira, até porque tudo moçada, entrou o pessoal, mas era bacana, bacana!
P/2 – Tinha um ponto de encontro assim, um barzinho lá perto?
R – Não, o que tinha lá, eu me lembro uma data, tem um funcionário no Aché que chama Emílio, não sei se ele vai se dar depoimento, e o apelido dele era Rascunho, porque ele era muito bonito, só para você ter uma... [Risos] E chamaram ele de Rascunho e a sala do seu Depieri era no alto, no andar de cima e embaixo ficava o faturamento e tinha um rapaz que se chamava Belo, ele tinha o apelido de Guarda Belo e, na hora do almoço, às vezes o seu Depieri saía, e esse Guarda Belo sentava lá na sala do seu Depieri, colocava uma máscara daquelas de Carnaval, sabe, aquele que tem um animal com dente? E gritava lá de cima: “Rascunho!” Aí, ele: “Oh, sim senhor!” Moleque, era garotinho, subia correndo. Ele com o jornal na frente, ele batia: “Entra.” Na hora que ele entrava: “Sim senhor, o senhor me chamou?” Ele pegava, abaixava o jornal e com aquela máscara, ele era um garoto, ele quase que desceu a escada abaixo. [Risos] Ficou uma gritaria danada. Isso são coisas que aconteciam muito porque era... Não tinha horário de almoço, um clube, uma mesa de ping-pong, então ficavam fazendo essas peripécias. Era uma loucura total e o encontro era fim de semana só. Era no sábado que nós fazíamos os bailes. Era na casa de um, na casa de outro. Adorávamos quando tinha formatura, principalmente no Esperia, no Casa de Portugal, não sei se existe ainda hoje. Casa de Portugal, a gente adorava essas coisas.
P/1 – Formatura de escola?
R – É, formatura de escola era... Nossa, um tinha... Sabia, arrumava 30 convites, ia todo mundo. Então, carro era difícil nessa época, que nós não tínhamos. Aí, um ia no colo do outro, ia com o carro que cabia cinco, seis. Eu lembro uma vez numa festa do Aché, que um dos mecânicos, um dos funcionários tinha um Pontiac. Olha, da Vila Maria até aqui, acho que veio uns oito ou dez, se não tiver...
P/2 – O que é um Pontiac?
R – Um carro que chama Pontiac.
P/2 – Pequenininho?
R – Não, ele é grande. Mas cabe seis, cinco, seis pessoas. Ele veio, acho que umas 12 pessoas dentro, mas tudo farra porque o pessoal morava na Vila Maria, tal. Mas era muito bom.
P/1 – E vocês saíam sempre a turminha do Aché reunida?
R – Sempre, sempre tinha essa turma.
P/1 – Quem que era a turminha da pesada?
R – Olha, tem muita gente que hoje já não está mais. Mas a Dóris e o Wilson são casados até hoje. O Wilson e a Dóris se conheceram também na fábrica, e o Wilson chamava Tigrinho. Até hoje, a gente acaba esquecendo: “Ô Tigrão, Tigrinho!” Acaba ficando. Então, eles, eu com a minha mulher, não é isso? A Cida, a Marlene, eram muito garotas, elas entraram com 13 anos na companhia. Então, eles nem podiam sair. No máximo, o que podiam fazer era mesmo um ir na casa do outro. Mas o pessoal mais antigo dessa época, nós íamos era no baile, que era o que tinha para fazer. E outro, vamos dizer, o ponto, o point era mesmo no Imirim, era Chora Menino e nós morávamos na Vila Maria. Então, os homens que vinham muito para cá. [Risos] As mulheres não.
P/1 – Você falou assim, vários apelidos. Era comum isso as pessoas se darem apelido?
R – Era normal. O Emílio, Rascunho muito tempo...
P/1 – Você tinha apelido, não?
R – Não, eu era Carlinhos. Depois entrou um outro rapaz que chamava Carlos, ele era muito pequenininho, aí começaram chamar ele de Carlinho Meio Quilo, mas daí eu fiquei Carlão. [Risos] Aí começou também. Até hoje, sou Carlão. O Tião é o Negrão, o Sebastião é Barbosa e assim foi, como é hoje. O Antônio Russo é Toninho Químico. O Antônio Fernandes...
P/1 – Que vocês encurtaram para TQ.
R – É, TQ. O Toninho contador que é o Antônio, o Fernandes, era TC. Então, aí foi virando. É uma cultura que ficou e tem traços até hoje.
P/1 – E quando tem a mudança para o Aché depois do Imirim, para o Aché Guarulhos, como é que foi a expectativa, quando vocês ficaram sabendo que ia mudar?
R – Não, nós sempre... Já sabíamos porque já sabia da obra que estava construindo. E eles sempre falavam para gente que tem a empresa que vai mudar e todos sabiam que muitas não teriam condições de ir para lá. Mas, quando mudou, eles colocaram ônibus, o primeiro da companhia, a Manzi Turismo que começou. Ela ficou conosco até, eu acho, uns 10 anos atrás, ela estava conosco ainda. E tinha um ônibus que levava o pessoal. Levava e trazia, eu acho que, se eu não me engano, duas linhas. E nesse período que foi, teve muita gente que não quis ir, mas a maioria foi. Depois que estava lá em Guarulhos, realmente é longe. São mais de 20 quilômetros, eu acho que uns 25 quilômetros. Se tornou difícil estudar. Então, eu estudava no Colégio Salete em Santana, aí quando mudamos, quando o Aché foi para Guarulhos, eu conversei com a Olinda, nós já estávamos casados, que a gente casou em 1979, aí eu fui fazer a faculdade em Guarulhos também.
P/1 – Você fez o quê nessa escola?
R – Colegial.
P/1 – Colegial.
R – Colegial. Fiz o Primário... O Primário não, o Ginásio, na Vila Maria no Colégio Industrial e depois eu fui fazer o colegial no Colégio Salete em Santana.
P/1 – Você trabalhava de manhã?
R – Trabalhava o dia inteiro e estudava à noite, sempre foi assim.
P/2 – E o casamento de 1979, como é que foi? Você lembra da igreja, lembra da festa?
R – Lembro. Foi na Vila Maria, na Igreja Santa Zita, foram todos os nossos amigos. O Toninho foi meu padrinho de casamento, ele e a mulher dele.
P/2 – Ele não aprontou nenhuma com vocês?
R – Não, até que não. Os meus primos, sim. Pôs microfone e naquela época não era karaokê, não existia isso ainda. Começou a cantar dentro da minha casa... A festa foi muito restrita porque não tínhamos condições. Então, despedimos na igreja e a festa só foi em casa... Só para os padrinhos e parentes só, convidados. A minha Lua de Mel foi em Santos e os meus primos foram atrás de mim até lá, andaram atrás de mim até no apartamento. [Risos] Chegaram lá embaixo era de madrugada, queriam que a gente fizesse café para eles, [Risos] Mas é claro que a gente não fez. Eles levaram a mala, falaram: “Não, pode deixar, eu faço questão de levar a mala para você.” Quando levaram a mala, nós chegamos cansados à noite, fomos abrir, estava tudo amarrado, tinha pilha, tinha vaselina, tinha um monte de coisa dentro. O carro todo pintado, “recém-casados”, foi em São Vicente.
P/2 – E eles desceram a Serra buzinando?
R – Mas uma bagunça até o pedágio que tinha. Uma vergonha danada, porque você do interior, você não está acostumado com esses negócios. Mas foi muito bonito também. Os primos e alguns amigos que foram atrás.
P/1 – E a sua roupa de casamento, o seu terno, você alugou?
R – Lindo. Bom, o meu cabelo era até aqui. [Risos] Você viu pela foto que tem aí. [Risos] Foi com terno xadrez avermelhado. Boca não de sino, meia de sino...
P/2 – E a gravata?
R – Gravata vermelha, toda quadriculada também, gravatona.
P/2 – E a noiva estava bonita?
R – A noiva sempre, sempre... A noiva fica uma maravilha de branco... Meu Deus, coisa... As mulheres é que gostam mais, mas o homem também a hora que vê aquilo lá, treme, que a gente fala que não liga nada. Na hora que começa a cumprimentar: “Parabéns, parabéns”, começa dar um nó na garganta. [Risos]
P/1 – E ela parou de trabalhar logo depois que vocês se casaram?
R – Não, ficamos quatro anos sem filhos. Quando nasceu o primeiro filho, aí ela saiu.
P/1 – Então teve uma época que vocês estavam casados, os dois trabalhando no Aché?
R – Isso. Durante quatro anos trabalhamos juntos. Nós íamos e voltávamos. E essa vida foi terrível porque eu estudava, então não tinha jeito. Então, o que nós fazíamos? Vinha os dois correndo, aí enquanto eu tomava banho, ela fazia a janta. Ela terminava a janta, eu ia comer. Aí era ela que ia tomar banho. Quando ela estava comendo, eu estava me trocando, saindo para o colégio que era… Na realidade, eu voltei a estudar depois de casado, fui fazer o Colegial e foi assim também na faculdade de Guarulhos.
P/1 – Qual o curso que você fez?
R – Fiz Química em Guarulhos. Fiz na Universidade de Guarulhos, foi a mesma coisa. Só que aí foi a época do famoso da gasolina, aquele boom da gasolina enorme, então não tinha mais condições. A gente falou: “É melhor ir para Guarulhos.” Nós arrumamos uma casa, alugamos uma em Guarulhos e a faculdade era perto, eu ia a pé. Com os dois trabalhando, eu consegui comprar o primeiro carro. Comprei um Corcel 73, que era do Vavá, [Risos] que era diretor de vendas, ele não é mais. [Risos] E é engraçado que o Vítor estava presente, ele me ajudou também a comprar o carro. Ele deu o primeiro pontapé, foi o próprio Vítor mesmo, nessa época, que...
P/1 – Por que até então era tudo transporte coletivo?
R – Exatamente, não tinha. Esse foi o primeiro carro. Eu tenho até hoje o documento do carro, que era o Corcel 73 porque era a assinatura do Vavá que transferiu. Foi o primeiro carro.
P/2 – Eu queria que você lembrasse um pouquinho mais essa mudança para Guarulhos. O que foi chegar em Guarulhos, que era muito diferente daquele espaço do Imirim, né?
R – É, nossa! A gente tinha uma ansiedade tão grande porque a gente foi... Quando os caminhões começaram a ir, ficou um grupo aqui despachando e um outro grupo recebendo e guardando, e a gente tinha uma ansiedade tão grande que, às vezes, a gente trocava: “Não, eu quero ir lá ver como é que está.” E a gente via aquele laboratório tão lindo, maravilhoso, que olha, a ansiedade era tão grande que... O que a gente pôs no estoque, praticamente usou 50% que tinha lá, porque éramos acostumados com tudo apertadinho. Depois não, que a gente foi arrumando, dando mais espaço, aí sim que começou a melhorar. Mas era uma ansiedade tão grande, que eu lembro que um dia, no sábado, eu fui buscar uma mercadoria que estava, pus no meu carro para levar para o Aché. Coisa de louco. Não precisava disso. Chego lá, aí fala o Rafael: “O que foi?” “Ah, aproveitei que vim para cá, trouxe matéria-prima.” “Mas não pode, rapaz! Tem que vir com nota fiscal, tem que tirar direitinho.” Você achava que aquilo era teu. Tudo que você estava fazendo. Aí, que vai entrando, que você vai começando a...
P/2 – A mudança começou numa sexta-feira?
R – Isso. Olha, na segunda-feira, estava tudo mudado, estava todo mundo lá, estava produzindo normal.
P/1 – E já estava tudo pronto?
R – Já, tudo pronto.
P/1 – Antes de ficar tudo pronto, vocês chegaram a visitar o local?
R – Chegamos. Até nós ganhamos, todos os funcionários, uma foto. Foi feito um churrasco lá que apresentou, com os vendedores, com os funcionários, todos que estavam lá. E mostrou aquilo, era realmente... Aquilo era para a gente era uma coisa... Uma coisa maravilhosa, parecia... Aquilo, meu Deus, era uma satisfação imensurável para a gente. Falei: “Meu Deus, aonde que estou?” Porque a Nova dos Portugueses era um lugar gostoso de trabalhar, mas era muito, vamos dizer assim, acanhado, muito apertado, a casa velha, tudo com escada, nada. Não podia usar carrinho. Lá não, tudo plano, tudo limpinho, tudo de granito que é até hoje. Quando você vem, é a mesma coisa de mudar de casa nova, é um prazer danado. E foi a mesma coisa nessa época. Aí, tinha carrinho, que nós nem estávamos acostumados a usar. Não sabíamos nem usar carrinho hidráulico. Aprendemos a usar. O próprio vendedor que vinha, ensinava para gente. A mudança, a gente passou meio bobo, acho que uns seis meses, porque você tinha orgulho falar: “Eu trabalho ali”. Aquele lugar bonito. O refeitório não era fabricado ainda, mas ele já tinha uma estrutura boa. Tudo bem arrumado, só que nós comprávamos a comida. Comprava comida e aquecia lá. Esquentava direitinho, que vinha... Era, se eu não me engano, teve... Era do Sesi que vendia, depois uma outra companhia que eu não me lembro mais. Mas ia naqueles caldeirões grandes, tal, bem arrumadinho, bacana também.
P/1 – Quando você diz “nós comprávamos”, eram vocês funcionários ou o Aché que comprava?
R – Não, desculpa. [Risos] O Aché que comprava.
P/1 – O Aché comprava.
R – O Aché, desculpa.
P/1 – E você disse que ficava naquele espaço que tem...
R – Hoje, o Rui Ohtake, ele denominava porque você, olhando de cima, o Aché, ele tem água, ele tem todo um contorno e ele chamava aquilo de ameba. [Risos] Ficou aquilo com nome de ameba porque parece realmente uma, você olhando de cima.
P/1 – Que era o primeiro restaurante?
R – Foi o primeiro restaurante.
P/1 – E depois, sai daí, vai para onde o restaurante?
R – Bom, aí foi o Aché um. Foi construído o Aché um, depois foi o Aché dois. No Aché dois, na parte do térreo foi construído um refeitório com toda estrutura, com câmara frigorífica para fabricar mesmo a comida, com capacidade, eu acho, que de 500 pessoas. É um negócio estúpido, muito bonito. De grande, estúpido de grande. Aí sim, era fabricado tudo lá. Desde que começou o Aché fabricar, a fazer a sua comida, como até hoje. É uma coisa perfeita, muito bem feita, muito bem cuidada. Você pode ver que, até hoje, é assim.
P/1 – E aí, o de hoje então, é o terceiro restaurante?
R – É o terceiro restaurante.
P/1 – No Aché cinco.
R – É, no Aché cinco.
P/1 – Certo. Como é que era assim, quando você foi para o Aché Guarulhos, qual era a sua função na época?
R – Na época, eu já era encarregado, era o nome que eles davam.
P/1 – O que fazia o encarregado?
R – O encarregado era como se fosse... Era abaixo do chefe, vamos dizer assim. Aqui na Nova dos Portugueses, eles me colocaram como encarregado. Eu tomava conta de todo almoxarifado de matéria-prima e material de embalagem. Quando foi para Guarulhos, a pesagem também já foi estruturada, já foi feita uma área de dispensação. Aí, eu fiquei como chefe da seção. Já tinha uma estrutura maior, eles me deram tudo quanto era parte de estoque, que não era acabado para mim. Ficou: impresso, matéria-prima, material de embalagem, semi-fabricados; eles me deram tudo. O que eu tinha muita sorte, que eu gostava, é que eu gostava muito de organizar, gostava das coisas bem arrumadinhas, contadas. Eu sempre tinha aquilo, uma linha, até o estoque eu gostava que fosse bem alinhado, arrumadinho, limpo. Então, já começou desde essa época, tanto é que no almoxarifado fiquei durante dez anos. Porque eu prestei vestibular e um dos donos, o seu Rafael, me convidou para ser assistente do Toninho na produção. Então começou todo o envolvimento.
P/2 – Eu ia te perguntar assim, os primeiros anos do Aché em Guarulhos, como é que estava organizado a produção, era muito diferente do que é hoje?
R – Sim, claro...
P/2 – Como é que era a produção?
R – Primeiro é o seguinte: o aspecto na Nova dos Portugueses para Guarulhos era completamente diferente. Onde nós tínhamos, que existia... Levamos estufa estacionária, lá no Aché já tinha a estufa com leito fluidizado. Leito fluidizado igual aquela que fica pipoca, fica jogando assim, o granulado fica assim. E esse é o primeiro equipamento que “startou” inclusive o Toninho Químico. Foi ele que “startou” esse equipamento, os primeiros testes foram feitos lá. Foi o Somálio inclusive, era uma graduação hidroalcóolica que era feita.
P/2 – Mas, a grande diferença foi de equipamentos?
R – Foi de equipamento... Primeiro foi física, de cara, que foi completamente diferente. E na época, já dentro das normas de GMP, foi um grande salto. Hipodermia com fluxo laminar, as máquinas de ampola toda... Não era... Era igual, mas num ambiente diferente. O líquido tinha tanques maiores porque os tanques aqui na Nova dos Portugueses eram de 300, 400 litros. Lá era tanque de 3 mil litros. As primeiras encartuchadeiras porque era feito... A embalagem era manual. Lá já tinha encartuchadeira. Eu, essa época, ainda não era da produção. Eu fazia parte, mas era do almoxarifado. Mas a grande mudança, não tinha máquina, tinha máquina de carimbar, a máquina de envase de líquido. Quando foi para lá, já foi com as máquinas da Wada compradas, que são máquinas envasadoras, que colocava a tampa, fechava, colocava etiqueta e rotulava. Embora fosse com cola, a própria máquina que fazia, já com conceito de fabricação de área limpa para área cinza, que naquela época, nós não sabíamos, já era esse conceito. O Aché agora, daquela época com o Aché de hoje é completamente diferente. Está muito mais moderno. Quer dizer, quase não tem máquina daquela época mais. Quando nós saímos de Santana, que é da Nova dos Portugueses, para Guarulhos, quase não tínhamos máquinas. Praticamente se saiu de tudo manual para muitos equipamentos, mas ficou muita coisa manual. E daquela época do início de Guarulhos para hoje, eu tenho duas linhas, quatro linhas... Duas de sólidos e duas de semi-sólidos que são manuais. O resto é tudo automatizado. Hoje, nós temos mil funcionários. Na fábrica, temos 500. Naquela época, no máximo na fábrica, se tivesse, eram 200. Era Aché um, hoje nós estamos no Aché oito, nove. Hoje é...
P/2 – E lá no Imirim, quantos funcionários? Era bem pouco?
R – Olha, era pouco. Eu lembro das chapeiras que vinham construindo, eram 25. Eu acho que se tinha lá no Imirim uns 100, 150 era muito. Estou exagerando até.
P/2 – O que ficou ainda sendo manual nessa mudança para Guarulhos? O que era manual ainda...
R – Ah, porque tem muitos produtos que, naquela época, os propagandistas, às vezes, bolavam aquela do trenzinho. Principalmente amostra grátis, que é muito difícil de automatizar, não tem jeito. Embalagem sextavada, embalagem quadrada, aqueles estojos, é difícil você automatizar. Então, para atender esse... A parte de vendas, principalmente a de propaganda que eram as amostras, era tudo feito manual.
P/1 – Mesmo hoje? Tem algumas coisas...
R – Não, hoje não, hoje não. Hoje é diferente. O pessoal de marketing junto com... Já é contato com a produção, há uma discussão com produção, engenharia e marketing, com desenvolvimento de embalagem, de produto. Hoje já tem esse sinergismo, esse contato. Você vê o que é melhor para a empresa, não porque é melhor para Fulano ou para Ciclano. É bem diferente. Hoje, todas as linhas são automatizadas. Linha de líquidos, todas automatizadas. Compressão, todas automatizadas. Semi-sólido envase, tudo é automatizado. Embalagem, 95% automatizado.
P/1 – Carlos, como é que estavam divididos os setores da produção nessa época da mudança para Guarulhos?
R – Para Guarulhos? Tínhamos almoxarifado junto com a pesagem. Almoxarifado já separado da expedição, uma expedição já com produto acabado, só produto pronto. Tinha o setor de líquidos, que era junto com o setor de creme. Tinha hipodermia, que hoje não tem mais...
P/1 – Que é o tal do injetado?
R – Isso, que são os injetáveis. Tinha sólidos e tinha a parte de embalagem nessa época.
P/1 – Certo. E dessa estrutura de 1973 para hoje também já houve modificações...
R – Sim...
P/1 – Substanciais.
R – Muita. O líquido, tinha duas linhas, hoje tem oito. A semi-sólidos tinha uma batedeira só com uma maquininha de envasar. Hoje, nós temos duas máquinas de envasar, tem quatro batedeiras, uma sala completamente separada, classificada, tem uma outra área classificada só para envase. Tem seis linhas só de blister. Embalagem tem seis máquinas, duas manuais. Nós temos quatro linhas totalmente automatizadas de sólidos. Líquido hoje é um... De máquinas de compressão hoje é o top que tem no mercado.
P/1 – Como é que era essa parte de controle de qualidade em Guarulhos quando vocês fizeram a mudança para lá e começaram a fabricar lá?
R – Também foi uma coisa muito bem estruturada, já separada. Isso, eu... Eu sei que já teve na época, foi montado um controle de qualidade completamente separado.
P/1 – Um departamento?
R – Um departamento. Até então, ele era meio misturado com o da produção. Agora, quando mudou para lá, já foi uma área dedicada só para controle de qualidade, com mais equipamentos também. Não me lembro quais os equipamentos, mas com muitos equipamentos novos.
P/1 – Certo. Nesse dia-a-dia dos trabalhadores, você tinha um contato grande com as pessoas que trabalhavam na fábrica, na produção?
R – Sim, porque eu trabalhava no almoxarifado e entregava o material para a produção, embora eu já fosse chefe nessa época, mas eu tinha muito contato com eles. O pessoal entregava na produção, mas eu estava sempre junto, sempre no meio.
P/1 – E você sabe se já existia uma política de prevenção contra acidente de trabalho? Como é que isso funcionava?
R – Começou aí uma preocupação com segurança do trabalho, começou a ter as primeiras Sipats [Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho], Cipas [Comissão Interna de Prevenção de Acidentes], aquelas comissões internas de prevenção começaram a ser montadas, estruturadas. Eu já fui um dos presidentes da Cipa também. Então, se começou a partir disso uma estrutura de uma empresa grande mesmo.
P/1 – E isso começa acontecer...
R – Quando mudou para lá, tudo isso começa a se estruturar, mesmo que foi acanhado com uma só Sipat, tinha o pessoal da segurança, mas era muito pequenininho, mas já começou assim a se consagrar, se consolidar. Ambulatório médico...
P/1 – Como é que era o ambulatório?
R – O ambulatório médico era só uma sala que tinha uma enfermeira, o médico vinha de fora. Hoje não, hoje tem um médico full time. Hoje, tem médico para vários... Tem três, quatro médicos trabalhando dentro da companhia. Antigamente...
P/1 – Para várias especialidades?
R – Exatamente. Antigamente, tinha um médico do trabalho que vinha, ficava meio dia, porque o número de funcionário não necessitava. Hoje não, o médico do trabalho fica full time, tem um especialista, tem dentista, tem... Desculpa, não lembro da especialidade deles. Mas tem salas para descanso. Hoje tem um mini hospital.
P/1 – E a parte de entrega que antes era feita na Kombi, passou a ser... Qual sistema?
R – Passou a ser por transportadoras. Já mudou. Então, o que acontecia? Nós fazíamos, o (Roman?) e eu, separávamos os pedidos, aí vinha a transportadora, pegava e ia entregar. Aí, já estava outra diferencial. Quer dizer, era transportadora que fazia as entregas. Não era mais a gente.
P/1 – E vocês tinham alguma relação com as filiais, não?
R – Não.
P/1 – Nenhuma?
R – Nada, nada. A gente só mandava... A relação era mandar os produtos para as filiais, porque, no início, o Aché começou a fazer as filiais no Brasil inteiro e tinha o depósito. Nós mandávamos para eles, de lá fazia a distribuição.
P/1 – Você lembra quando parou de mandar para... Porque aí deixou de ter depósito, não?
R – Lembro. Não sei dizer para você a época certinha, mas lembro bem disso, acabou-se com as filiais, vamos dizer assim, e depois começou a usar as distribuidoras, que começaram a entregar.
P/1 – Teve que aumentar o espaço de estoque no Aché de Guarulhos ou continuou igual porque já tinha espaço suficiente lá?
R – Não, a expedição sempre foi um lugar que, vamos dizer assim, era o nosso termômetro. Então, a expedição sempre está cheia, estava... Não tinha espaço, aí começava ampliar. Ampliava para a expedição, para o almoxarifado. Sempre foi o nosso termômetro, vamos dizer assim, vai. Relacionava que estava fabricando bem, vendendo bem. Das filiais mesmo, eu não me lembro a partir de quando teve estoque. Eu sei que daqui, nós mandávamos para a expedição, a expedição é que mandava para as filiais. A expedição não era a minha área. O meu era almoxarifado. Não lembro muito bem.
P/2 – E nos primeiros anos de Guarulhos, como é que era assim, a relação das pessoas, Carlos? Porque saiu daquele casarão lá no Imirim, tudo meio um labirinto e passa a ir para uma sede, para uma fábrica construída na beira da Dutra. Como é que era esse ambiente de trabalho, como é que era a relação das pessoas? Vocês passaram almoçar lá, a se encontrar lá? Aqueles bailinhos de fim de semana já era outra situação agora. Descreve um pouco essa época.
R – Veja, nós não conhecíamos Guarulhos, então ficou, vamos dizer assim, Guarulhos e São Paulo. Com o tempo, como que começou as amizades? Nós começamos o jogo de futebol, nós jogávamos bola. Aí, começaram os campeonatos internos, porque tinha uma quadra que foi feita. Começou a integração do pessoal, as meninas vinham assistir. Com o tempo, o pessoal de São Paulo também foi ficando muito longe, foi se afastando, muitas pessoas foram demitidas, pediram a conta, poucas pessoas ficaram de Santana, pouquíssimas. E as que ficaram tinham um nível assim, de supervisão e que ficaram... Já estavam casados, então começou praticamente a Era Guarulhos mesmo. Esse pessoal daí que, vamos dizer assim, vai... O pessoal fazia os bailinhos deles, mas lá em Guarulhos. Esse tipo de atitude que nós tínhamos em Santana, em Guarulhos já foi ficando mais restrito. Por que? Porque já estávamos casados, já tinha uma família, começou um outro lado. Então, o lado do esporte, que a gente fazia muito, fazia campeonato feminino, fazia campeonato masculino, começou a aparecer o primeiro grêmio, uma sala que tinha uma mesa de ping-pong, aquele joguinho de taco. Aí, começaram os primeiros passos do grêmio.
P/1 – Onde ficava esse primeiro grêmio?
R – O primeiro grêmio, ficava no térreo, onde são hoje os vestiários dos supervisores, era muito pequeno. Depois, ele foi para um lado que era... Onde era a manutenção, porque faltava espaço e o grêmio era o primeiro acabar. [Risos] Depois, onde é o ambulatório médico. Hoje, o ambulatório médico, uma parte de lá era o grêmio. Sempre o grêmio mudava. Até que, então, o Vítor, a direção da empresa, construiu o grêmio que tem hoje, faz acho que uns nove anos, mais ou menos. Quando construiu, ele me chamou na sala dele e falou: “Você é o presidente do clube.” [Risos] Falei: “Bacana.” Só que não tinha nada. Não tinha nada estruturado. Não tinha estatuto, contabilidade, não tinha nada. Aí, para não ficar sem, como nós já tínhamos experiência pelo nosso grêmio, quem fazia a parte contábil para a gente era o pessoal da nossa contabilidade, mas eles só mexiam quando tinham tempo. O que nós fizemos? A gente se estruturou, mandou... Terceirizamos a contabilidade, o estatuto nós pegamos da Pfizer, nós pegamos da (Barb Green?), pegamos da Shering do Rio de Janeiro, fizemos lá um mix daquilo, montamos o nosso. Até então, ficou montado até quando foi lançado o famoso da (Deiviti?). A companhia mesmo que foi atrás de especialista, de advogado, de esporte, aí se fez um novo estatuto.
P/1 – Por que o contrato com as moças lá do vôlei foi por meio do grêmio?
R – Foi através do grêmio, só que gerenciado, administrado pelo pessoal da companhia, pelos vendedores, pelos marketeiros, pessoal de marketing.
P/1 – Entendi. E antes de ter esse grêmio, você estava contando antes da entrevista para mim dos times de futebol que vocês tinham no Aché e que vocês jogaram fora do Aché, né?
R – É, nós não tínhamos...
P/1 – Onde era, que times eram esses?
R – Nós saíamos. Nós íamos para Guarulhos, Santana, Penha. Tanto é que a própria empresa viu isso e montou uma quadra lá dentro. A partir do momento que fez a primeira, aí fez, acabou, fez uma outra, aí sempre teve. Quando era quadra era society, era de terra, outra de areia. Sempre teve, sempre.
P/1 – Vocês tinham uniforme?
R – Tínhamos, tínhamos uniforme.
P/1 – E tinha nome ou não?
R – Tinha nome do Aché.
P/2 – Qual que foi o jogo que entrou para a história assim, o jogo memorável? Teve algum assim?
R – Ah, teve vários. Nós disputamos campeonato em Guarulhos pelo Festival da Primavera, tiveram jogos primorosos, brigas primorosas porque sempre sai. Salão, nós saímos para jogar, mas era... Tudo aquilo, a briga é ali, naquele momento, acabou e pronto. Não tinha nada de faca, tiro, não existia isso.
P/1 – E tinha lá no Aché assim, lugares onde as mulheres se reuniam mais, onde os homens se reuniam mais? Ou algumas atividades de lazer que eram mais específicas das mulheres e dos homens? Tinha esses clubinhos assim, não?
R – Olha, não me lembro disso. Não sei... Sempre o clube, a partir do momento que tinha o grêmio, quem mais frequentava mesmo eram sempre os homens. A partir do momento que a gente começou a estruturar o grêmio e colocar academia, esteira, as bicicletas, aí não. Começou a mudar porque a maioria do Aché é mulher. Então, inclusive as mulheres começaram a frequentar mais o grêmio.
P/1 – E outra coisa, você disse que na Nova dos Portugueses, o uniforme era um avental, né?
R – Isso.
P/1 – Quando passou para Guarulhos, como é que foi essa história do uniforme?
R – Aí, acabou avental. E começaram os uniformes já bem diferenciados, muito bonitos, com calça, sapato, jaleco; ele era bem diferenciado. Ele era diferenciado pelo seguinte: por exemplo, eles eram magenta. Mas a Expedição, a gola era de uma cor, o da Química era verde, por exemplo. O do Almoxarifado, a gola era preta. O da Expedição era gola marrom e o Controle de Qualidade era branco. Era muito bonito, muito bonito mesmo, só que começou a ficar inviável. Porque o Aché começou a crescer muito e este tipo de uniforme começou a ficar inviável, tanto é que foi trocado e hoje é tudo branco. Mas com calça e jaleco.
P/1 – E teve um momento que começaram a introduzir algumas coisas descartáveis também, né?
R – Sim, isso com o próprio tempo começaram a ser introduzidos. Até então, os gorrinhos eram de pano, depois foram substituídos por gorros descartáveis; muitos lugares têm aventais descartáveis; propé, que são as sapatilhas. Hoje, a própria exigência da indústria farmacêutica, foi se tornando diferente, cada vez mais rigorosa nisso. Aí, vieram alguns descartáveis.
P/1 – Certo. E assim, pensando um pouquinho na sua trajetória, a gente já tinha parado quando você estava no almoxarifado como encarregado, não?
R – Isso. Como supervisor já.
P/1 – Supervisor, né?
R – Isso.
P/1 – E qual foi o próximo estágio?
R – Quando eu saí do... Eu entrei para a faculdade em 1978, eu fui convidado para trabalhar na produção. Eu entrei como assistente de produção. A partir de assistente de produção, eu trabalhava em todas as áreas. Aí, quando de assistente me chamaram para trabalhar conta, para ser gerente de produção da parte de líquidos, já tinha a Química. Depois disso, me chamaram para ser supervisão... Supervisor de sólidos... Supervisor não, gerente de Sólidos. Foi vindo natural. Depois, me juntaram Sólidos e Líquidos para eu tomar conta, aí eu fiquei gerente da área de Sólido, Líquido e Semi-Sólidos. E depois foi tendo outra mudança, me... Olha, colocaram embalagem. O próprio Toninho evoluiu, subiu, foi como diretor, eu acabei ficando no lugar dele.
P/1 – Você sempre trabalhou muito próximo dele, né?
R – Sempre, sempre trabalhei com ele.
P/1 – Como é que foi a relação de amizade, de trabalho, enfim?
R – Sempre uma relação de respeito e bastante profissional. Aprendi muito com ele porque ele é uma pessoa que te dá muita liberdade para que você execute, mas ele te cobra isso. Desde que a gente iniciou esse trabalho com ele, ele me deu sempre muita liberdade, sempre tendo ele como uma pessoa de correr na hora das necessidades, da gente trocar algumas ideias. O que me deixou muito mais tranquilo, vamos dizer, mais à vontade, foi a partir do momento que ele ficou como superintendente, porque eu assumi a direção toda da parte industrial, ele praticamente... Agora, o nosso relacionamento é mais: “Como é que estão as coisas? Está tudo bem? Está ótimo?” Tem já tudo consolidado, tudo estruturado. Hoje, ele passa só para ver como é que andam as coisas mesmo.
P/1 - Nesses anos todos, tem alguma outra pessoa assim, que você... Com quem você tenha aprendido muito, que...
R – Teve. A vinda do Parke-Davis para cá, eu acho que foi uma... A nível de qualidade, de controle, de procedimentos, foi um grande pulo, uma grande mudança a partir desse momento, porque até então nós tínhamos aquele... Vamos dizer assim, cultura da indústria nacional. A hora que entrou o Parke-Davis tem aquela cultura americana, procedimento para isso, tudo que você faz tem que estar registrado, só que de uma outra maneira. Nós tínhamos tudo isso, mas de uma maneira mais sucinta, e com a vinda do Parke-Davis, não. Era de uma outra maneira, mais detalhada e, a partir desse momento, toda a empresa aprendeu. Embora nós tenhamos melhorado todos os produtos do Parke-Davis a nível de fabricação, nós aprendemos com ele também esse controle. Pode estar escrito procedimento disso, procedimento daquilo. A gente aprendeu muito com eles e principalmente com a pessoa que era o representante deles, que até hoje trabalha, que é a Hilda. Essa pessoa nos ensinou muito. Se aprendeu muito com ela, uma pessoa honestíssima, com um carisma muito bom, justa, que gosta das coisas muito sérias, muito certinhas. Isso nos aproximou muito dela e hoje eu digo para você que eu aprendi muito com ela nesse aspecto. No geral, eu acho que não só eu, muita gente.
P/1 – Carlos, essas mudanças de... Essa escalada de funções e tal, como é que você avalia isso? O que isso representa para você?
R – Para mim, sempre foi desafio. Eu era assim: eu trabalhava no almoxarifado, vinha o dono da empresa falava: “Olha, eu preciso de alguém para arrumar, organizar tal departamento.” “Ah, pode deixar.” Eu ia para lá. Eu trabalhei... A seção de compras do Aché, fui eu que comecei também. Só que, quando eu fui para lá, ele me falou: “Eu quero que você estruture e você vai voltar para a Produção.” Então, o Departamento de Compras a gente que preparou o talão de pedido, cotação que não tinha. Eu tenho muita essa facilidade de organizar, de estar arrumando, organizando, controlando. Era sempre assim. Trabalhei nas compras, fui supervisor de lá, voltei para Produção. Na Produção, começou com a Indústria Química: “Estou precisando de alguém que fique na Química.” Então, vamos lá, fomos para a Química. “Ah, mas olha, o Líquido está aí de pé, não dá para ficar ali, Química e Líquido separado.” Aí, fiquei com a Química e com Líquido. Sólidos: “Olha, estamos com problema sério no Sólidos, a gente não consegue, não sai, ba-ba-bá.” Então, vamos para lá. Só que nisso, ao invés de tirar, eu ia agregando, mas eles sempre me... Esse desafio sempre me elogiando, me contagiando. Todo esse período do Aché: encarregado, supervisor, aí eu fui gerente de Sólidos, gerente de Líquidos, gerente da Embalagem, Química, trabalhei no Suprimentos, com grêmio, me deram o grêmio, [Risos] fui presidente da Cipa... Sempre isso, até que um... O próprio Vítor, com uma consultoria na época, chegaram e me colocaram como diretor. Eu lembro que, na época, eu fui diretor e ganhava menos que um gerente até. Eu falava: “Não tem problema.” As coisas foram se estruturando e foi sempre assim. Sempre o Aché vem: “Volta Almoxarifado para você.”
P/2 – E era um sonho teu assim? Quando você começou lá menino, você falou assim: “Eu quero continuar trabalhando nessa empresa? Eu vou chegar lá?”
R – Olha, você fez uma pergunta legal. Quando nós éramos garotos, a gente trabalhava na Nova dos Portugueses. Nós víamos o seu Miro todo bonitão, o seu Vítor, o Vavá, aquelas pessoas todas naquela estica danada, trabalhando de venda, a gente tinha eles, não só eu, como os outros, como, Nossa Senhora... como Deus. A gente falava: “Um dia a gente chega lá!” Mas não imaginava isso. A gente sempre achava isso, eles como espelho. Todos eles que viram, falaram: “A gente chega lá!” Porque os donos eram os donos, mas os outros eram funcionários, a gente sabia disso, tanto é que veja, eu sou hoje, eu acho, que o segundo... É, o segundo diretor da companhia que chega em uma posição que começou com eles trabalhando de office-boy. Eu sou o segundo a acontecer isso aí. Um já saiu da companhia e eu estou até hoje. Quer dizer, eu sou... Hoje, eu sou o único.
P/2 – Mas você imaginava isso?
R – Eu imaginava que eu chegaria lá, e hoje eu estou fazendo uma outra faculdade, eu invisto em mim, faço pós-graduação, vou para a GV [Fundação Getúlio Vargas]. Talvez não apareça, não aparente isso, mas eu sempre estou procurando isso, sempre! Sempre investindo em mim porque eu sei todo esse tempo que, mesmo que eu tenha voltado a estudar tarde, a gente sabe, a companhia olha isso, de uma maneira ou outra ele vem.
P/2 – E você que assistiu todas essas mudanças, quer dizer, esses prédios pipocando naquele terreno, o número de funcionários crescendo, que filminho que você tem na sua cabeça da história do Aché? Como que é esse filminho? Como é que você imagina esse crescimento?
R – Olha, eu nunca vi o Aché falar assim: “Nossa, quanto tempo que eu não vejo uma obra?” No Aché tem obra todo ano. Você vê assim, só crescimento, seção reformando, ampliando, aumentando. Parece uma coisa que não tem fim. Toda hora, você fala: “Meu Deus, eu lembro quando...” Às vezes, eu pego essas fotos e vejo. Às vezes, eu tenho a fotografia dos quatro, depois só tinha os três. Eu não consigo vê-los separados. Para mim, eu trabalho para os três. Engraçado, mas toda vez que eu falo do Aché, lembro dos três. Não vejo um separado do outro. Então, quando passa isso, eu imagino, às vezes... Eu lembro quando estava no Almoxarifado, os filhos deles iam brincar de patinete com os nossos carrinhos hidráulicos. E, hoje, você fazendo parte, vê os filhos deles. Eu estou trabalhando para os filhos. Eu falo: “Puxa vida, eu estou envelhecendo mesmo.” [Risos] Você fala que está envelhecendo, mas você está vendo um negócio bonito. Você vê uma empresa que tinha 50, 60 funcionários. Hoje, ela está com mil, mil e cem, mais ou menos. Eu acho que até mais, acho que mil e duzentos parece ali na Nova dos Portugueses. E eu sempre que me vejo deles, eu me vejo eles trabalhando conosco. Eu, às vezes, quando estou na produção, fazendo, eu tenho a impressão que um deles está me olhando, está do meu lado. Essa é a impressão que sempre tem. Quando você está trabalhando lá, parece que você está junto com eles, desde que você começou. Aquela presença física. Era muito, vamos dizer assim, a amizade deles. Hoje, eles não estão lá, e nós estamos fazendo que aconteça isso para eles. Então, acho que eles nos ensinaram, a gente aprendeu muito e eu acho que deixou raiz para que a gente continue a obra deles. Com os filhos já têm, uns três já não estão mais, mas estão os filhos deles. Eu acho que esse filme a gente fica vendo, falo: “Daqui a pouquinho, não sei se vai estar o neto deles, provavelmente não, porque mudou um pouco”. Agora está mais profissional, mas você fica enxergando, fica vendo: “Puxa vida, parece que a empresa perpetuou, ela está perpetuada.” Embora seja uma empresa familiar, eles... Tem... Está perpetuada. Pelo menos, enxergo assim.
P/1 – Carlos, você fez viagens para o exterior?
R – Fiz. Engraçado, sempre com a presença do Vítor. Também foi a primeira vez quando ele assumiu para cá, foi a primeira viagem, foi para a Alemanha, foi no comando dele, quando ele assumiu a parte toda de RH, Industrial, toda essa parte. O que em vinte, vinte e poucos anos de empresa eu nunca saí, em dez anos eu visitei não só empresas, mas eu fui para fora, fui duas vezes agora... Duas vezes para Alemanha, duas para a Argentina e agora vou esse ano novamente para a Alemanha. Quer dizer, até isso eles nos proporcionaram, para que você vá ver tecnologia, o que está acontecendo lá fora, o que há oportunidade de aplicar dentro. E eu tenho dado sorte. Cada vez que a gente sai, é sempre alguma coisa você vê, traz, implanta, implementa. Isso também foi uma coisa, não só satisfação pessoal, mas também trouxe a parte de benefício para a companhia.
P/1 – Bom, você falou que, atualmente, você está... Você voltou a estudar, está fazendo um outro curso de graduação?
R – Eu, na realidade, quando terminei Química, eu fazia muito curso tipo pós-graduação. Fui para a GV, fiz a (Capof?), fiz o CIA [Centro Integrado de Aperfeiçoamento?], vários cursos. Mas, você vai percebendo que, na realidade, agora, você precisa de outras ferramentas para que você comande isso. Então, na realidade, eu acabei fazendo... Estou fazendo uma graduação normal de Administração. Esse ano, eu faço 51 anos e termino a faculdade. Voltei para fazer e, pelo que eu senti, eu sempre gostei disso, só que agora eu faço uma coisa muito mais estruturada, eu sempre fazia curso, agora não. Eu acabei pensando na carreira porque a gente vê que realmente precisa ter alguma coisa estruturada, como diploma, como currículo mesmo. Então, eu já estou pensando... No ano que vem, já pensar numa pós-graduação específica, MBA [Master in Business Administration]. Tenho um sonho de fazer MBA e eu vou fazer, mesmo que a empresa não faça, [Risos] eu vou fazer. Vou fazer MBA na área de Produção.
P/1 – E o Aché sempre incentivou que você fosse fazendo esses cursos fora?
R – Não, não, não. Nunca o Aché pediu: “Você deve fazer isso.” Não, não.
P/1 – Isso era uma coisa da sua iniciativa?
R – Exatamente, nunca, não. Pelo contrário, eu acho que eles deviam ter feito isso.
P/1 – Carlos, com tanto assim dentro do Aché, eu queria que você descrevesse um dia seu de trabalho hoje. Como que é o cotidiano de trabalho atualmente?
R – Cotidiano mesmo?
P/1 – É.
R – Olha, eu levanto às seis da manhã; dez, quinze para às sete eu já estou na fábrica. Vou tomar café com o pessoal, espero todo o pessoal entrar na fábrica, encho o saco de todos eles, cumprimento quase todo mundo, praticamente. Eles vão para a seção, eu vou para a minha sala, limpo a minha caixinha que eu tenho que fazer os meus e-mails e vou para a produção. Passo em todas as seções, em todas. Tudo quanto é setor do dia, Almoxarifado, eu passo na Produção e sempre tentando motivar todo mundo. Gosto disso, do pessoal motivado, alegre, gosto disso e sempre vendo uma oportunidade de melhorar. Ou uma limpeza, ou uma máquina, ou uma seção, sempre também nisso. Isso está meio... Isso, eu peguei muito da companhia. A companhia me ensinou muito isso, sempre quando você está conversando em uma esteira, em uma máquina, o que você sugere, o que você acha que a gente tinha que mudar, o que nós tínhamos que fazer e sempre escutando, anotando e sempre… Pode ver que, até internamente, a fábrica está totalmente mudada, completamente, em função disso também. Porque daí você escuta, vai mudando, porquê não atingiu a produção naquele dia, o que houve. Se atingiu, brinco com o pessoal: “Parabéns!” E você vai passando seção por seção. E à tarde, depois do almoço, eu vou para a minha seção, aí eu começo a me preparar para o outro dia. Às vezes, [tenho] reuniões com o pessoal para tentar melhorar, aí você vai com planejamento mesmo. O que você vê, o que você enxerga de uma maneira bem dinâmica para que melhore, se a produção atingiu ou não atingiu, porque você tem que estar atento, você tem que fazer um planejamento. Você tem que prever lá na frente. Hoje, você tem que fazer isso e você tem que ter meios para fazer isso. Então, é isso que a gente vai buscando com o pessoal. Procura fazer sempre reunião com os gerentes, convido supervisores para participar, às vezes líderes. Já convidei até operadores de máquinas para participar da reunião. Então, o meu dia-a-dia é um dia na fábrica com o pessoal. Claro, não é todo... Às vezes, eu fico focado em um lugar só. Às vezes, nós estamos com problema. Eu fico nele junto com o pessoal. Hoje, já mudou muito essa parte profissional, porque veja, eu tenho pela empresa mais sete anos para trabalhar. Eu tenho gerentes que têm cinco anos, eu tenho gerentes que têm com dois anos e meio. Então, o que nós estamos fazendo de alguns anos para cá? Nós estamos substituindo todos nós. Toda, não só a minha equipe de gerente, como a mim mesmo. Então, nós já... Já estou fazendo isso há muito tempo. Hoje, você vai perceber que, em cada área, cada supervisor, o perfil dele já é diferente do nosso. Hoje, os supervisores da Produção já são farmacêuticos, universitários e formados. Você vai na embalagem, nos Sólidos, nos Semi-Sólidos, na Pesagem que é a dispensação, nos líquidos. Hoje, já tem... São moços, são pessoas beirando os 30 anos, todos eles já estão sendo preparados para substituir os gerentes. Duas vão sair daqui a dois anos e meio e a outra vai sair daqui a cinco anos. Esse pessoal também já está sendo preparado para assumir o lugar deles. E um deles deve entrar no meu lugar, embora eu pense que, pela própria administração que nós estamos, a nível de comando, isso vai ficar muito mais restrito. Eu não vejo mais os gerentes no futuro. Eles sendo como é o organograma hoje. Eu vejo alguém tomando conta da produção, mas junto com o supervisor, com o gestor da seção. Provavelmente, esse cargo de gerente vai extinguir, eu vejo dessa maneira. Por que? Porque a fábrica está automatizando, vai diminuindo o número de operadores. Não há necessidade disso, um tomar conta daquele... Líderes de linha, essas coisa devem acabar todas. Provavelmente, vai estar assim: alguém tomando conta da Produção como um representante e cada seção com um gestor. Os demais, que nós estamos implantando em ferramentas TPM [Manutenção Produtiva Total], porque dá liberdade para o próprio operador que ele tome conta da máquina, ele sabe a hora que tem que lubrificar, ele tem que tocar, ele sabe, ele tem a programação. Não preciso mais do papel do líder da linha, do líder daquele grupo. Hoje já tem PCP [Planejamento e Controle da Produção], que faz o planejamento da seção. Muito provavelmente, vai achatar muito isso.
P/1 – Você tem, assim, um sonho para o Aché?
R – Eu gostaria muito de ver essa fábrica nova funcionar. Me dói muito quando eles falaram em parar a fábrica porque a fábrica, quando você olha aí fora, parece que está crua, mas internamente ela está praticamente completa. Essa fábrica, a hora que ela tiver rodando, isso aqui vai ser um sonho. Às vezes, quando eu estou vendo os desenhos, que eu tenho esse hábito, fico vendo as plantas, eu vou na fábrica visitá-la, vejo já com as divisórias, com ar-condicionado, tudo posicionado, piso colocado, os reatores instalados. Então, aquilo... Eu sei que é muita grana para ativar ainda, mas a maioria já foi. Eu acho que se houvesse aí um... Talvez um empenho maior das cabeças em pensar nisso, eu acho que valeria a pena tocar essa fábrica. Porque eu sonho com essa fábrica... Eu conheço muito indústria nacional, indústria que... A Multi no Brasil, tem muitas excelentes, maravilhosas, mas não vai ser igual ao Aché que toda área é controlada. Toda área classificada que vai estar... Que tem contato com o produto é classificada, toda. É um exagero, vamos dizer assim, perante ao que existe no mercado, mas o futuro vai ser isso. Onde que está o produto exposto são todas áreas controladas. Se a área é Sólidos Orais está lá 100 mil. Se é Semi-Sólido é classe 10 mil, totalmente climatizada. Sistema de vestiário completamente diferente. Você entra à paisana, você tira toda a roupa, e coloca uma roupa só para entrar naquele ambiente. Se você sai, tem que fazer tudo de novo, tem que trocar novamente, fora a higiene. Você tem que lavar a mão, etc, etc. Quer dizer, é outro conceito. Toda a parte de manutenção separada de utilidades, nada, não tem nenhum contato. É área preta, é separada, não tem contato com a área que está o produto. A gente conhece muito a indústria que está aí fora, mas igual essa, no conceito que foi montada essa, não. O sonho é ver isso e o sonho é preparar... Ela foi projetada para crescer mais, que ela é modular. Se você vê hoje, ela são os fingers A, B, C, D e E. Você pode continuar com os fingers. Tem muito espaço. Dá para fazer fitoterápicos, dá para fazer tudo. [Risos]
P/1 – Ok. E fora o Aché, tem alguma outra atividade à qual você se dedica? Você tinha mencionado...
R – De voluntário, né?
P/1 – Isso.
R – Ultimamente, diminuí muito devido à faculdade, a outra que estou fazendo. Mas eu fui voluntário, tomei conta enquanto eu fui presidente do clube. Para o Laramara, fui muito voluntário para eles. Hoje, a nível de voluntário, eu só faço o voluntário com três famílias que são da minha família, às quais a gente se dedica como voluntários no fim de semana. Mas a nível de atividade externa, que eu tinha um grande envolvimento no Laramara e no clube, não faço mais. Não faço porque não tenho mais tempo para isso. Eu mesmo e a minha mulher, nós chegamos à conclusão que é a seguinte: nós temos a necessidade da família que precisa muito de ajuda. Então, nós, todo fim de semana, nos reunimos e a gente vai ajudar uma família. Às vezes, compramos material de construção, entrega para um, a gente vai lá, olha os filhos, eu tenho um sobrinho que ele é... Tem a Síndrome de Down, então a minha mulher sempre está levando ele para especialista. Mas é assim.
P/1 – E atividades de lazer, o que você gosta de fazer nas horas livres?
R – Bom, no sábado e domingo, eu e minha mulher caminhamos, corremos. Nós vamos ao cinema, vamos ao teatro, gosto de dançar e procuro muito conciliar essa parte da família com lazer e o trabalho, porque o exercício, essas saídas às vezes, viajar fim de semana, viagens curtas, isso aí me resgata para chegar segunda-feira e eu estar inteiro porque eu, na realidade, saio seis da manhã e chego meia-noite em casa, às vezes uma hora. Então, eu preciso me compensar nisso. Eu gosto muito. Eu jogo bola. O que dá para fazer, eu faço, só que um pouquinho mais restrito agora. E outra, a idade também, agora estou com 50 anos. [Risos] Embora eu não saiba que tenho 50 anos, mas não tem problema. [Risos] Faz de conta que eu não sei.
P/1 – E quem que mora hoje na sua casa?
R – Somos eu, a minha mulher e as minhas duas filhas.
P/1 – Queria que você falasse um pouquinho das suas filhas, nome, idade?
R – A minha primeira filha é a Camila, que hoje é formada em Jornalismo, está fazendo pós-graduação na Cásper Líbero e montou um escritório de assessoria de imprensa. Está tentando a vida, [o escritório] chama Portia, de fazer eventos, muito voltado para Medicina Alternativa. Está começando a vida, não consegue ganhar dinheiro, mas está indo. E a outra é a Carla. A Carla se formou ano passado em Turismo. Esse ano também vai fazer a mesma coisa. Vai fazer pós e vai tentar entrar no mercado. Quer dizer, uma tem 21, a outra tem 23 anos. E o pai delas que está estudando ainda. [Risos] A gente estuda. A minha mulher é uma mulher maravilhosa, nós estamos casados há quase 30 anos. E ela que segura toda essa bucha aí porque duas moças em casa, sempre recorrem à mãe.
P/1 – Você é um pai ciumento?
R – Olha, sou. [Risos] Mas eu também entendo o lado do pessoal. A minha filha mais velha namora. A minha filha, a outra, eu falei para você que conheço todas as casas noturnas de dança porque eu levo a minha filha. Eu vou levar, às vezes onze horas, e vou buscar às quatro horas da manhã. Agora a outra tem carro, mas essa menor não tem. Mudou um pouco agora, porque elas são... Estão um pouquinho maiores e as amigas, às vezes, chamam os pais também. Então, a gente acaba trocando. Mas eu encaro naturalmente. Eu tenho bastante ciúme, me preocupo muito com horário, essas coisas, mas eu também fiz isso. Então, elas têm liberdade, a gente tem uma relação muito aberta nesse aspecto.
P/1 – Certo.
R – Mas eu adoro elas. [Risos]
P/1 – Eu queria te perguntar, você tem um sonho de vida, um grande sonho que você gostaria de realizar?
R – Olha, eu sempre vivi a vida intensamente, toda a minha vida. Então, às vezes, quando eu penso que eu tenho que me aposentar, eu não me vejo parado. Eu me vejo, talvez, com ritmo menor de trabalho, mas eu pretendo montar alguma coisa para mim. Tenho alguns sonhos, alguns projetos, que estou estruturando bem devagar, mas eu penso nisso.
P/2 – Um restaurante, o quê?
R – É, não. Até consultoria na própria indústria eu já pensei. Já pensei muito em trabalhar com produtos naturais, porque eu sou virado para isso. Eu não como carne vermelha, eu não... Quase não tomo refrigerante, não bebo, não fumo, pratico bastante esporte e vejo muito esse lado, principalmente de verdura com agrotóxico, eu acho uma loucura isso. Quer dizer, a gente procura estar comprando essas coisas que não têm produtos químicos. Então, eu me vejo muito desse lado aí. Ou talvez até uma plantação de alguma coisa, mas tudo com produto orgânico. Me vejo assim. Têm alguns projetos, até comida, mas vegetariana. Eu não sei. Eu espero que eu consiga mesmo.
P/1 – Está joia. A gente já está encaminhando para o final, eu queria perguntar para você o que você achou da experiência de ter contado um pouquinho da sua vida aqui?
R – Eu achei muito bom. Eu acho que, não parece, mas você acaba se emocionando, esquecendo às vezes de muita coisa e te resgata muito. Você volta alguns anos atrás e lembra de você, das pessoas, lembra que passou momentos bons, ruins, mas eu acho que, de tudo, eu só passei bons momentos, porque a minha mulher, minha filha, minhas filhas, todas elas praticamente nasceram do fruto do Aché. Eu realmente tenho muita emoção até de falar disso. Eu fico até meio... Meio não, engasgado de falar da companhia. Você espera sair da companhia de peito aberto, de cabeça em pé, de missão cumprida. E desejo não só para aqueles que vêm chegando na companhia e que eu também, de uma certa maneira, eu não vejo saindo da companhia, mas me vejo, claro, eu já tenho uma... Enquanto a garotada está entrando, aí tem um monte de anos pela frente, eu tenho sete anos. Mas tudo isso vocês me deram a oportunidade de mostrar a história do garoto que entrou... Entrei, tinha 17 anos incompletos e hoje estou com 50 anos e fico bastante envaidecido, orgulhoso de contar e, sinceramente, fico satisfeito. Fico até, de uma certa maneira, muito motivado de comentar e faltam palavras às vezes, mas você vê que se sente valorizado. A partir do momento que, através de vocês, a companhia mostra a preocupação de estar resgatando a cultura deles, a história deles do passado, você se sente realmente parte disso, você se sente muito valorizado.
P/1 – Está joia. Queria agradecer muito a sua participação aqui, te parabenizar por toda essa trajetória e enfim, é isso. Muito bom.
R – E vocês me perdoem, não só vocês duas, mas toda equipe, a equipe maravilhosa de vocês e eu gostei muito da história do Museu, que eu achei... Para mim foi uma novidade, eu acho que vai ser uma coisa de muito sucesso e espero que, realmente... Ela já me contou que vocês eram pequenininhos, estavam numa sala grande, eu acho que a história de vocês está me parecendo do Aché. Começa pequenininho e vai crescendo. [Risos] E a gente percebe que vocês fazem isso, não só vocês duas com profissionalismo, a gente viu os técnicos também, vê que também é muito unido, me parece, me lembra a companhia quando nós éramos pequenos. Boa sorte para vocês, todos vocês estão de parabéns.
P/1 e P/2 – Muito obrigada pela participação.
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