Entrevista de Jum Nakao
Entrevistado por Grazielle Pellicel
São Paulo, 02/06/2023
Projeto: Vidas em Costura: Moda, Legado e Empreendedorismo
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista número VDC_HV007
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Luiza Gallo
P/1 – Jum, primeiramente muito obrigada por ter aceitado nosso convite e, pra começar, a gente começa da parte mais básica da nossa vida, que é seu nome completo, a data e local de nascimento.
R – Meu nome completo é Newton Jum Nakao.
P/1 – Seus pais, sua família… te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R – Não, não me contaram.
P/1 – Não? Você sabe por que seu nome foi escolhido?
R – Os japoneses, depois da guerra mundial, quando vieram ao Brasil, tiveram por hábito nomear os descendentes nascidos no Brasil com um nome brasileiro e mantiveram a tradição do nome do meio ser japonês e o último ser o sobrenome. Isso até pra evitar que eles fossem considerados aliados inimigos, porque Japão e Alemanha faziam parte da aliança inimiga dos outros países, durante a guerra. Então, como o Brasil era da aliança contra a Alemanha e o Japão, pra que não houvesse perseguição, enfim, campos de concentração, coisas que ocorreram aqui, na época, os mais antigos decidiram que os próximos teriam nomes brasileiros e mantiveram a tradição do nome do meio e final em japonês. O meu nome do meio, Jum, significa pureza, transparência e Nakao significa introspecção.
P/1 – E seu nome brasileiro?
R – Newton. Meu avô que escolheu, em função do Isaac Newton, cientista.
P/1 – E a origem da sua família, seus pais eram japoneses?
R – Não. Os meus avós eram japoneses, vieram pro Brasil jovens, tiveram filhos aqui no Brasil. Os meus pais se conheceram no interior de São Paulo e eu nasci já na capital.
P/1 – Qual é o nome da sua mãe e como era a sua relação com ela?
R – O nome da minha mãe era Cecília Setuko Nakao e eu era muito apegado à minha...
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Entrevistado por Grazielle Pellicel
São Paulo, 02/06/2023
Projeto: Vidas em Costura: Moda, Legado e Empreendedorismo
Realizado por Museu da Pessoa
Entrevista número VDC_HV007
Transcrita por Selma Paiva
Revisado por Luiza Gallo
P/1 – Jum, primeiramente muito obrigada por ter aceitado nosso convite e, pra começar, a gente começa da parte mais básica da nossa vida, que é seu nome completo, a data e local de nascimento.
R – Meu nome completo é Newton Jum Nakao.
P/1 – Seus pais, sua família… te contaram como foi o dia do seu nascimento?
R – Não, não me contaram.
P/1 – Não? Você sabe por que seu nome foi escolhido?
R – Os japoneses, depois da guerra mundial, quando vieram ao Brasil, tiveram por hábito nomear os descendentes nascidos no Brasil com um nome brasileiro e mantiveram a tradição do nome do meio ser japonês e o último ser o sobrenome. Isso até pra evitar que eles fossem considerados aliados inimigos, porque Japão e Alemanha faziam parte da aliança inimiga dos outros países, durante a guerra. Então, como o Brasil era da aliança contra a Alemanha e o Japão, pra que não houvesse perseguição, enfim, campos de concentração, coisas que ocorreram aqui, na época, os mais antigos decidiram que os próximos teriam nomes brasileiros e mantiveram a tradição do nome do meio e final em japonês. O meu nome do meio, Jum, significa pureza, transparência e Nakao significa introspecção.
P/1 – E seu nome brasileiro?
R – Newton. Meu avô que escolheu, em função do Isaac Newton, cientista.
P/1 – E a origem da sua família, seus pais eram japoneses?
R – Não. Os meus avós eram japoneses, vieram pro Brasil jovens, tiveram filhos aqui no Brasil. Os meus pais se conheceram no interior de São Paulo e eu nasci já na capital.
P/1 – Qual é o nome da sua mãe e como era a sua relação com ela?
R – O nome da minha mãe era Cecília Setuko Nakao e eu era muito apegado à minha mãe, isso sempre me relatavam, inclusive eu tinha uma grande preferência por estar sempre com ela, do que fazer viagens, ou brincar com os amigos.
(03:10) P/1 – E o seu pai, qual era a sua relação que você tinha com ele?
R – O nome do meu pai é Mituo Nakao, ele ainda está vivo e foi ele que me introduziu nos esportes, tanto pra jogar tênis de mesa... ele, junto com minha mãe, me incentivou a lutar judô. Então, até hoje eu tenho uma relação de jogar tênis de mesa com meu pai, às vezes.
P/1 – Você falou que seus pais se conheceram no interior.
R – Isso.
P/1 – Você sabe como é que foi?
R – A minha mãe era de Marília, meu pai de Bilac e eles se conheceram, vamos dizer assim, nos bailes japoneses que aconteciam no interior de São Paulo e posteriormente eles vieram pra São Paulo e eles se conheceram acho que num baile.
P/1 – Sua mãe, seu pai, até seus avós, costumavam te contar histórias?
R – Sim, meu pai sempre conta histórias de quando ele era pequeno, de como era a vida no interior, de como eram mais difíceis e complicadas as coisas naquela época.
P/1 – E você já nasceu em São Paulo?
R – Sim, eu nasci em São Paulo, na capital. Sou paulistano.
P/1 – Tem alguma história que você ouviu, que foi inesquecível pra você, que você se lembra?
R – Sobre o quê?
P/1 – Alguma história que seu pai, sua mãe, seu avós te contaram. Pode ser sobre qualquer coisa, mas que esteja... que você sempre lembra dessa história que te contaram.
R – Bom, tem duas histórias que eu me lembro sempre: uma que certa vez estavam indo todos viajar, minha mãe iria ficar, porque ela estava doente e eu não queria viajar, porque eu queria ficar com ela. Era uma viagem, acho que pra um destino que eu até gostava na época, que era praia, mas mesmo assim eu preferi ficar com a minha mãe. Tem uma outra história que o meu pai me conta, que certa vez ele nos levou pra ver as ruas enfeitadas no Natal e olhar as vitrines, passear pelas ruas e comprou cachorro-quente pra mim, pro meu irmão e pra minha irmã e de repente, quando ele olhou pra mim, eu estava sem o meu cachorro-quente e tinha um menino que estava com o meu cachorro-quente, aí eu falei pro meu pai que eu tinha dado o meu cachorro-quente pra ele, aí meu pai falou: “Mas por que você deu?” Eu falei: “Eu posso ter sempre, ele não”. Então, é uma coisa que meu pai me conta até hoje, acho que ele gravou muito isso na memória, de eu ter cedido aquilo que ele tinha me dado com esforço dele e carinho pra mim, mas não que eu tenha desprezado, mas que eu tive essa compaixão, de dividir aquilo que eu tinha acesso e condições.
P/1 – E qual é a atividade dos seus pais?
R – A minha mãe tinha um salão de cabeleireiros e, quando se casou com meu pai, ela se tornou dona de casa. Meu pai era diretor de uma empresa de construção japonesa, aqui no Brasil, acho que ela ainda atua no Brasil, chamada Toda, T-o-d-a.
P/1 – E agora ele está aposentado?
R – Agora ele está aposentado.
P/1 – Você comentou que você tem dois irmãos.
R – Isso.
P/1 – Qual é o nome deles e qual era a sua relação com eles?
R – O meu irmão se chama Fábio Ken Nakao e minha irmã Andrea Aparecida Yumi Nakao. A minha irmã tem loja de roupas e o meu irmão é advogado. Nós temos uma relação próxima. Minha irmã mais ainda, por ela estar em São Paulo, e meu irmão um pouco menos, por ele estar fora de São Paulo.
P/1 – E além dessas pessoas que você comentou, tem algum outro parente que você era próximo, que você ainda é próximo, talvez?
R – Tinha o meu avô, a minha avó e os meus tios. Os meus avós já faleceram e eu tenho uma proximidade com meus tios hoje.
P/1 – Existe algum costume especial na sua família, alguma coisa que vocês comemoram normalmente?
R – Bom, as comemorações de encontro familiar são as comuns a todos: Natal, Ano Novo, aniversários e o interessante é que, nas comemorações, se misturam muito as culturas. Ainda tem churrasco e sushi, sabe? Essas coisas que são esse sincretismo de culturas gastronômicas de dois países.
P/1 – Vocês tinham aquele costume de reunir a família toda em festas, como se fosse Natal, Ano Novo?
R – Sim. Como eu disse, as tradições e os encontros familiares são em torno dessas ocasiões e comemorações de celebração do calendário cristão das passagens de ano e de aniversários.
P/1 – E da cultura japonesa também?
R – Não. Não tem muitas comemorações japonesas que nos reúnam. Eu acho que, pra falar a verdade, nenhuma. Apenas as do Brasil.
P/1 – Entendi. E onde você cresceu, em São Paulo?
R – Eu cresci na periferia de São Paulo, perto do Zoológico, do Parque da Água Funda, num bairro chamado Vila Guarani.
P/1 – E você lembra como era a casa da sua infância?
R – Sim, eu nasci e passei toda a minha infância, até adolescência lá. Era uma casa numa vila, literalmente um pirulito que unia, uma ruinha com uma pracinha no final e no final da pracinha tinha um campo de futebol, era época ainda que havia muitos campos de várzea na cidade de São Paulo, a minha escola ficava do outro lado do campinho, então praticamente, pra ir pra escola de primeiro grau eu atravessava o campinho de futebol, ia estudar e depois já estava praticamente na minha casa.
P/1 – Você podia descrever um pouco como era sua casa, a rua, o bairro?
R – Era uma casa muito simples, numa rua de paralelepípedos. Primeiro nós morávamos num sobrado bem pequeno, até que meu pai teve condições de adquirir o terreno do lado, com a melhora de condições de vida e construiu uma casa, depois de alguns anos, mas a princípio nós moramos provisoriamente num sobrado.
P/1 – Entendi. E você costumava brincar na rua?
R – Eu só brincava na rua. Eu sou de uma época em que a gente jogava futebol na rua, andava de bicicleta, jogava futebol no campo. Minha vida foi bem dentro daqueles padrões de cidade ainda não grande, como a São Paulo de hoje.
P/1 – E aí foi nessa época que você começou a ser influenciado pelo seu pai a gostar de esportes?
R – Desde pequeno, na verdade eu era muito ativo, então minha mãe me colocava em todas as atividades esportivas possíveis e sempre com o apoio do meu pai e até em função da cultura japonesa, um pouco mais propenso a esportes como judô e tênis de mesa.
P/1 – E você ainda pratica?
R – Pratico tênis de mesa, mais pra manter meu pai com alguma atividade física. Eu praticamente não tenho muito tempo hoje, para as práticas esportivas.
P/1 – Entendi. Você tinha algum costume de escutar rádio, assistir TV em família?
R – Não. Esses costumes de ver coletivamente eu acho que já não são da minha geração. Acho que talvez venha de uma geração anterior. Na minha geração, meu pai sempre gostou de deixar a televisão ligada, como se fosse uma companhia, enfim; minha mãe sempre de ouvir rádio, mas familiarmente, de forma coletiva, não.
P/1 – Entendi. E quais eram suas brincadeiras favoritas, além do esporte? Você tinha alguma?
R – As brincadeiras favoritas que eu tinha era jogar jogo de botão, futebol de botão, disputar figurinhas, andar de bicicleta, jogar futebol na rua, basicamente isso. (risos)
P/1 – Você tinha muitos amigos na rua, também?
R – Tinha. Era uma época em que só se tinha amigos na rua, em que você tinha aquela... vamos colocar como se houvesse uma Organização das Nações Unidas, filhos de descendentes, filhos de brasileiros, enfim, todos numa periferia e todos brincando na rua. Então, eu tinha amigo que a gente chamava sem nenhum problema de negão, alemão, cabeça. Era uma época que você chamava as pessoas sem se preocupar com bullying, era normal, porque era a forma como você imediatamente identificava e aquilo não criava nenhum ranço.
P/1 – E tinha alguma comida da sua infância que te marcou, que você lembra até hoje?
R – Havia umas comidas bem simples, de pessoas simples, desde comer macarrão com feijão, macarrão com molho de salsicha. Havia os cheiros que eu sentia vindos da casa da Dona Tereza, que era italiana, então eu sentia o cheiro do orégano. Havia as comidas que a minha mãe fazia, os bolos que minha tia fazia. Então, tudo isso são memórias afetivas, tanto familiares, quanto da casa dos amigos. Havia gelatina do Jardim de Infância. São essas as memórias de infância, de gastronomia.
P/1 – E você comentou que a escola era do outro lado da rua.
R – É, isso de primeiro grau, a primeira escola de primeiro grau era do outro lado da rua. Já o parquinho infantil ficava um pouquinho mais distante.
P/1 – E você lembra como era esse parquinho?
R – Lembro, até hoje está lá. Era um parquinho cheio de seringueiras, um campinho de futebol, parecia... era um grande galpão. Eu me lembro até hoje o primeiro dia que minha mãe me levou, que eu chorei muito quando ela me deixou, eu não queria que ela fosse embora, mas a professora me puxou e me levou pra dentro da escola.
P/1 – E depois que você foi pra escola de ensino fundamental, como é que foi o primeiro dia de aula, você lembra?
R – Foi muito interessante, porque eu conheci pessoas bem maiores que eu, porque era primeiro grau e havia pessoas de todas as idades fazendo o primeiro grau juntas e eram crianças, mas eram classes bem misturadas em termos de diversidade de pessoas e foi bem interessante ir pra uma escola pública de primeiro grau.
P/1 – E ainda quando criança você já tinha um sonho de ser alguma coisa, quando crescesse?
R – Eu não imaginava o que ia ser quando crescer ainda. Acho que no primeiro grau, no ensino fundamental, eu apenas queria ser inventor, eu queria criar alguma coisa, ou contar histórias. Eu tinha a intenção de ser um cientista, alguém capaz de criar plataformas, acesso de comunicação e relação entre as pessoas. Não sabia exatamente como.
P/1 – E quais eram as suas matérias favoritas, na escola?
R – Eu gostava muito de Educação Física. (risos)
P/1 – (risos) E você tem algum professor que te marcou?
R – Tenho vários: Dona Elzira, a professora... esqueci o nome dela exatamente, mas eu me lembro de alguns nomes, desde o diretor, que era José Rosas; me lembro da minha professora do primário, a professora Nice; da professora de Matemática, Luciana. Tem vários nomes que me vêm à cabeça, de professores.
P/1 – E aí, depois, no ensino médio, você continuou na mesma escola?
R – No ensino médio eu fui pra uma formação técnica industrial, em eletrônica, onde eu já começava a focar um pouco numa profissão.
P/1 – E você acabou seguindo?
R – Não segui, porque a Academia não me criava acessos, ou caminhos, pra aquilo que eu esperava, através da tecnologia. Quando eu fui estudar eletrônica, eu gostaria de poder criar a internet, redes sociais e o ensino acadêmico técnico não tinha sequer percepção dessas potencialidades através da tecnologia. Eu acabei desistindo. Quer dizer: eu concluí, mas nem fui buscar o diploma.
P/1 – E nessa época da escola você chegava a sair, se divertir pela cidade?
R – Sim, até pra encontrar novos caminhos, porque aquilo que eu esperava, se eu tivesse encontrado um ensino capaz de me conduzir pro ‘universo’ que eu queria talvez eu tivesse me isolado um pouquinho do mundo e me tornado muito nerd, pra chegar nessas tecnologias que não havia naquela época, ainda. E como eu não encontrava esse tipo de respostas eu flanava por outros ‘mundos’, pra ver se eu encontrava algumas respostas. Então eu saía muito, principalmente na época do segundo grau, que era o colegial, na época.
P/1 – E onde você saía?
R – A gente ia pra vários ‘mundos undergrounds’ que havia na época: Madame Satã, ‘baladas’ um pouco mais alternativas, pra eu descobrir novos ‘mundos’. Esses ‘mundos’ que eu queria conectar eu fui descobrir nesses lugares.
P/1 – E a partir do momento que você terminou a escola, qual foi seu próximo passo? Você entrou na faculdade, num emprego?
R – O próximo passo foi eu ter um emprego, trabalhava no banco, mas ao mesmo tempo eu me tornei autodidata na busca por uma formação na área de moda.
P/1 – E esse interesse pela moda surgiu quando?
R – Quando eu percebi que essas plataformas tecnológicas, de você conectar as pessoas, criar comunidades já acontecia através da moda. A moda permitia que você identificasse visualmente, pela estética, a que grupo, gueto, cada pessoa pertencia. E a forma como as pessoas se vestiam era quase que o perfil, já no tipo de maquiagem, no tipo de camiseta, no tipo de acessório, demonstrava que banda que ele gostava, a que ‘mundo’ ele pertencia, que livros ele lia. Se identificava claramente pela forma como as pessoas se vestiam, antigamente.
P/1 – E nessa época que você falou que você ia no Madame Satã, como era o seu estilo?
R – Eu me vestia como todo mundo que vai no Madame Satã, todo de preto. Às vezes indo pro gótico, às vezes pro dark. E era bem interessante quando você via, encontrava pessoas fora do ambiente de trabalho, trajadas com esse avatar de outras possibilidades das vidas dessas pessoas.
P/1 – Como foi esse processo de você entrar na graduação?
R – Bom, depois que eu tive uma longa jornada autodidata, ainda queria ter uma formação acadêmica superior e fui estudar Artes Plásticas, que era o que havia de mais próximo de moda na sua complexidade, porque eu encarava moda não apenas como roupa, mas como a soma de várias linguagens. Aí a faculdade de Artes Plásticas fazia todo sentido pra mim.
P/1 – E antes, que você falou dos processos autodidatas, como é que você o fez?
R – Minha formação autodidata começou também numa busca solitária, porque a Academia que havia de moda na época também era muito restrita, ainda não havia faculdades de moda. O máximo que havia eram cursos de corte e costura. Eu iniciei um curso de corte e costura, onde eu percebi que não havia uma formação, mas uma formatação de pensamento: você ganhava regras e réguas que você tinha que seguir, pra fazer roupas, sem se explicar a origem de curvas, de alturas e aí eu decidi, então, entender e fui trabalhar com alfaiate. Trabalhei anos com alfaiate, até entender todas aquelas curvas, que dialogavam com as formas de cada cliente e percebi que não havia uma regra, havia o entendimento de que cada pessoa, assim como o mapa astral tem suas linhas e curvas traduzidas, em formas de moldes. Depois eu fui trabalhar com alta costura, porque eu queria trabalhar e manipular tecidos mais leves, ao contrário da alfaiataria, que trabalha com tecidos mais estruturados, aprender a bordar, a costurar tecidos delicados e depois fui trabalhar com joalheiro, pra entender tudo aquilo que são os acessórios que eu gostaria de trazer, pra se juntar com a moda. Fiz depois vários cursos na Rhodia, no CIT, Coordenação Industrial Têxtil, que era uma associação mantida pela Rhodia, pra capacitar funcionários das empresas associadas a Rhodia. Na época eu não poderia fazer os cursos, porque eu não trabalhava ainda na área, eu não era funcionário de nenhuma empresa do setor têxtil, associadas a Coordenação Industrial Têxtil, então eu tive que ser estagiário na Rhodia, pra poder fazer os cursos que a Rhodia oferecia, então eu fiz vários cursos, com professores que a Rhodia trazia de fora e depois então é que eu decidi ainda complementar, com uma faculdade de Artes Plásticas.
P/1 – Entendi. Então, você fez um curso de corte e costura e seguiam muitas regras e aquilo não se enquadrava com o que você via no modo de vestir?
R – É. Na verdade, toda a Academia do Brasil é um fracasso, porque elas não capacitam, ou estimulam as pessoas a fazerem a diferença, muito pelo contrário: elas formatam as pessoas pra fazerem igual. É um ensino de reprodução de mão-de-obra, de reposição no mercado de trabalho, em série. Então, você não tem profissionais geniais, tem poucos. O Brasil não tem um prêmio Nobel de qualquer área (risos) no mundo até hoje, por falta de uma Academia que estimule a diferença.
P/1 – E aí depois que você trabalhou com alfaiate, fez vários cursos e teve a graduação também, isso supriu essa sua ‘fome’ pela criatividade?
R – Não, porque a ‘fome’ pela criatividade eu acho que é eterna porque, pra você criar, você vai precisar, sempre, colocar pra dentro, se alimentar de esperança, de inspiração e isso é uma troca que é contínua ao longo da vida, em todas as oportunidades e vivências cotidianas, experiências profissionais, de trocas. A criatividade exige uma evolução e uma renovação contínua, então acho que isso nunca será saciado.
P/1 – E quando é que você percebeu que você podia fazer diferente?
R – Porque quando você olha, existem muitas coisas que podem ser melhores do que elas estão. Se você pensar, isso é infinito. Então, acho que a criatividade vem dessa percepção de potências, de melhorias, de aprimoramentos. Eu acho que sempre existe uma nova geração por vir em tudo.
P/1 – E assim que você terminou a faculdade qual foi... durante a faculdade você teve algum estágio, alguma coisa?
R – Não, eu já estava trabalhando, já. Na verdade, graças a eu ter conseguido acessar, participar dos cursos que a Rhodia oferecia, que a Coordenação Industrial Têxtil oferecia, eu tive contato com muitos profissionais e donos de empresa que atuavam já na área de confecção, foi como se fosse meu LinkedIn na vida real e aquilo me conectou com muitas pessoas e eu já comecei a trabalhar desde aquela época. Eu tinha dezesseis anos, praticamente, nessa época e eu já estava trabalhando na área. Eu fiz a faculdade mais por uma busca de mais ferramentas, mais repertório, pra melhorar a qualidade do meu trabalho. Eu acho que eternamente a gente busca repertório complementar.
P/1 – E durante a formação teve algum momento marcante pra você?
R – Em qual patamar?
P/1 – Não sei. Algum momento que você lembra até hoje, que te marcou dentro da faculdade, ou na época mesmo, ou nos seus cursos.
R – Eu lembro até hoje das aulas de um professor da faculdade chamado Duschenes, na faculdade de Artes Plásticas, eu fiz na FAAP, na Fundação Armando Álvares Penteado e as aulas dele eram verdadeiras viagens através de palavras, imagens e músicas, por ‘universos’ que ele ordenava pra nós, ele organizava esses ‘mundos’ e nos trazia, tal que me deu uma percepção e um entendimento de que a capacidade e a necessidade de você se comunicar é só preenchida quando você perceber que o ser humano tem multi percepções. Isso é fundamental pra você conduzi-lo pra ‘universos’ distantes.
P/1 – Quando você terminou a faculdade você já estava estabelecido, então, no mercado de trabalho?
R – Sim.
P/1 – E você estava fazendo o quê?
R – Na época eu já trabalhava pra um japonês, que tinha uma rede de lojas de vestuário aqui no Brasil e ele me ofereceu uma bolsa no Japão, pra conhecer as marcas e os estilistas de Tóquio.
P/1 – Você foi?
R – Sim, claro.
P/1 – Como é que foi essa experiência?
R – Uma experiência fantástica você ir pra um país que era totalmente diferente do mundo, até hoje é, mas a sensação que eu tive, assim que eu cheguei em Tóquio, é como se eu entrasse literalmente no filme do Ridley Scott, Blade Runner. Era um outro ‘mundo’, muito distante e exótico e eu nunca vi tanto japonês junto, porque eu nasci no Brasil, estou acostumado a ver um japonês aqui, outro ali, mas você ver um vagão de metrô só com japonês, pra alguém conseguir visualizar a sensação, ver uma multidão de japoneses foi o que me impressionou mais, fora depois conhecer empresas, ver todo um know how, a seriedade e a tecnologia viabilizando processos criativos foi fantástico.
P/1 – E esses processos te inspiraram, de alguma forma, no seu trabalho?
R – Sim. Eu estabeleci muitas trocas, tive a possibilidade de conhecer um grande mestre onde eu estagiei, que foi Issey Miyake, depois voltar ao Brasil e poder compartilhar isso dentro do meu segmento foi muito marcante pra mim, eu diria uma ‘pedra’ fundamental, pra que eu entendesse todas as potências que havia e ainda não haviam sido realizadas por aqui e continuam não sendo.
P/1 – E como foi essa experiência, pra você, de trabalhar com Issey Miyake?
R – Pra mim foi incrível, porque eu descobri... eu achava que Issey Miyake era só Issey Miyake, mas era muito mais, ele tinha uma rede de outras marcas, que o sustentavam manter a Issey Miyake. É como se ele tivesse várias outras, atuasse desde o mercado mais pop, até o mais... eu vou chamar fast fashion, até a marca premium dele e ele ter diversos e delegar a criação pra vários grupos criativos de cada uma das marcas que compunham a empresa dele. Então, pra mim foi algo que eu não imaginava, que por trás de Issey Miyake havia toda uma inteligência, uma estrutura que mantinha aquilo como negócio saudável e criativo, ao mesmo tempo.
P/1 – E no seu trabalho você também segue essa linha, de pensar pra todas as classes?
R – Sim. Hoje eu atuo em diversos segmentos, minha atuação hoje… eu não tenho uma marca, uma indústria, eu sou um artista, um professor, alguém que dissemina o conhecimento, atuando desde grandes empresas, até com projetos em comunidades. Então, eu trabalho, eu diria, da base ao topo da pirâmide, dividindo aquilo que eu recebi da forma mais acessível, democrática, inclusiva possível.
P/1 – E como é que é esse processo de arte-educador?
R – Eu acredito que seja você, acima de tudo, criar esperanças, manter essa ‘chama’ acesa, principalmente numa fase em que as experiências são tão marcantes e decisivas pra eternidade da sua vida, então eu poder atuar como arte-educador com crianças é onde eu vejo mais esperança latente em cada olhar, movimento, descoberta, surpresa provocada.
P/1 – Tem alguma história de alguém, particular, que você deu aula e mudou a vida da pessoa, de alguma forma?
R – Tem várias. Hoje tem várias pessoas que tiveram algum momento de inspiração durante algum processo educativo comigo e que alavancaram a sua carreira em direção a moda, a outros segmentos, a partir de uma oportunidade de trocas e de construção coletiva. Eu acho que quando você propicia a pessoa se sentir capaz, ela nunca mais se esquece dessa potência e aquilo se mantém ao longo da vida, então hoje, inclusive, eu sou, às vezes, contratado por ex-alunos que já são CEOs de empresas. (risos)
P/1 – Quanto tempo você ficou no Japão?
R – No Japão eu fiquei cerca de seis meses, em 1987, 1988 isso.
P/1 – E quando você voltou, o que você fez?
R – Eu montei uma sociedade com esse meu chefe, que havia me propiciado essa experiência e a partir daí eu desenvolvi a minha primeira marca, a minha primeira experiência empreendedora, junto a ele.
P/1 – E como é que foi essa experiência de ter sua marca própria?
R – Foi bem interessante, porque o melhor local de aprendizado é com seu próprio negócio, onde você se torna gestor, não apenas criativo, mas de tudo aquilo que é adjacente, desde a parte contábil, a parte de engenharia de custos, a parte de engenharia de produção. Você não pode ser apenas um funcionário quando você é dono, você se torna proprietário de todos os departamentos. Então, o conhecimento precisa ser ampliado de uma forma rápida, até porque se trata de um negócio pequeno e a sobrevivência depende, literalmente. Quando nasce um filho, nasce uma mãe. Quando você monta uma empresa nasce um empreendedor, que vai ter que tomar conta de tudo, vai ser um negócio que está começando, como um bebê. Então, pra mim foi o meu maior aprendizado, em curtíssimo prazo de tempo.
P/1 – E vocês foram sócios por quanto tempo?
R – Nós fomos sócios durante dois anos, aí ele voltou pro Japão e eu abri uma sociedade com um amigo da época de infância, pra continuar com os negócios e o negócio cresceu como indústria, mas eu queria crescer como criativo e aquilo, naquela época, lá nos anos noventa, na verdade final dos anos oitenta, começo, início dos anos noventa, ou era final dos anos oitenta ainda, era 1988, 1989, a moda ainda não era ‘moda’ no Brasil. Então, era muito difícil você ter um espaço pra estilistas, que era um conceito que ainda nem sequer existia. Havia as grandes marcas e no lugar dos estilistas ainda reinavam os costureiros, que faziam roupas pra festas e coisas do gênero. Então, eu abdiquei da minha parte na sociedade e decidi continuar a trabalhar como estilista, designer, enfim, em outras empresas que estavam me chamando, pra crescer mais no segmento, porque eu só queria ter uma empresa pra poder ter a minha marca, mas como ter uma empresa com sua marca própria, como estilista, ainda não era viável naquele momento, a empresa que nós tínhamos mais fornecia serviços e produtos pra terceiros. Havia empresas que compravam e pediam que nós colocássemos as etiquetas deles nas nossas criações. Então, nós nos tornamos muito mais um fornecedor, do que uma marca e não era isso que eu queria, eu queria ser uma marca. Então eu decidi voltar a trabalhar no mercado de moda, prestando meus serviços como criador e não sendo fornecedor de roupas.
P/1 – E tem alguma marca que você foi trabalhar?
R – Eu fui trabalhar, na época, pra Carmim, que era uma marca da época e permaneci lá até o momento em que surgiam as Semanas de Moda, pra revelar novos talentos. Quando surgiu o Phytoervas Fashion, a Semana de Moda Casa de Criadores que eu, enfim, voltei a me apresentar ao mercado como criador, recebi convites pra galgar mais cargos como diretor criativo, me tornei diretor criativo da Zoomp!, logo após eu ter participado do Phytoervas Fashion e ter sido considerado a revelação do evento. Em paralelo a ser diretor criativo da Zoomp! eu mantinha ainda a minha participação como criador na Semana de Moda Casa de Criadores, até que depois de vinte anos, praticamente, desde quando eu comecei, desde quando eu havia começado, que eu decidi empreender novamente, deixar a Zoomp!, pra voltar agora, num momento em que já havia, a moda já estava na ‘moda’, lançar minha marca autoral. Foi quando eu comecei a fazer parte do São Paulo Fashion Week.
P/1 – E esse processo como criador, como estilista, como foi a diferença de antes?
R – A diferença é que antes, pra você ter uma ideia, em 1988, quando eu tinha a minha empresa, eu fiz um evento que se chamava Cooperativa de Moda, foi quando estilistas que trabalhavam pra grandes marcas se uniram, sem haver uma Semana de Moda e fizemos um desfile coletivo no MIS, no Museu da Imagem e do Som. Funcionários de empresas, que trabalhavam pra essas empresas, fizeram apresentação de um trabalho solo, autoral. Só que não aconteceu absolutamente nada, porque moda não estava na ‘moda’, não havia sequer Instagram, Facebook em 1989, ninguém fotografou, ninguém filmou, ninguém ficou sabendo do nosso projeto autoral, haviam poucas revistas de moda e nada aconteceu, voltamos no dia seguinte aos nossos velhos empregos e permanecemos lá por pelo menos mais oito anos, praticamente, até que o mundo começava a dar sinais de que haviam talentos além das indústrias e marcas, foi quando surgiram os eventos Phytoervas Fashion, pra revelar novos talentos, que foi o momento em que eu decidi de novo arriscar, ser selecionado, participar e fazer um desfile autoral que, no caso, esse que eu fiz no Phytoervas Fashion, foi aclamado e me levou a uma nova contratação: eu ser estilista e diretor criativo de uma marca grande, gigante na época, a Zoomp!. Permaneci lá até 2002, porque o mercado de moda começava a dar sinais de que era o momento dos novos estilistas. Foi quando eu comecei a minha marca própria integral, mesmo. Antes eu me dividia, eu tinha dupla jornada: durante o dia eu era funcionário e à noite, de madrugada, eu cuidava de desenvolver as minhas coleções pra, mesmo eu trabalhando como funcionário, como civil, como gente normal, numa empresa, eu trabalhava de madrugada, pra mostrar os meus trabalhos nas mostras que havia, que eram as apresentações dos novos estilistas na Casa de Criadores, depois Mercado Mundo Mix. Então, eu vivia trabalhando dia e noite, mas ainda não havia essa ‘avenida’ aberta pra novos estilistas florescerem, mas isso eu percebi que estava mudando definitivamente, até que em 2002, quando eu saí da Zoomp!, voltei, me dediquei integralmente a minha marca, o Paulo Borges me chamou pra fazer parte do line-up de marcas do São Paulo Fashion Week.
P/1 – Como é esse processo de criar uma coleção pra um desfile?
R – Na verdade é o mesmo processo de criar uma coleção que não fosse pra desfile, não existe diferença entre criar uma coleção pra desfile e uma coleção não pra desfile. O processo é o mesmo, só que num desfile você tem uma síntese, toda a potência e as referências criativas do estilista condensados numa passarela. Você tem a sonoridade, o cenário, os personagens ali, fazendo literalmente uma grande performance pro público. Agora, quando você cria uma coleção que vai pras lojas é a mesma fonte de inspiração e de ideias, só que diluídas pra padrões e mais em sintonia com o consumidor comum. Então, os exageros que existem numa passarela são diluídos e distribuídos em produtos mais comerciais, mas o processo criativo é muito próximo, o que varia é o grau de concentração de ideias, podemos dizer assim.
P/1 – E aí, voltando pra sua marca própria, como é que você estabeleceu o início dela?
R – Como eu já trabalhava praticamente há mais de vinte anos na área, eu já tinha um grande networking de fornecedores, de pessoas que me conheciam, de representantes, foi muito fácil - nesse momento que o mercado se abria, nós éramos os influenciadores, as celebridades da época - a marca crescer rapidamente, ainda mais que eu participava do São Paulo Fashion Week, só que era um ‘bebê’, uma marca que estava nascendo ainda, então ela precisava de todo cuidado, de todo investimento, tempo e recursos que eu havia acumulado ao longo desses vinte anos. Então, era uma empresa com muito potencial, mas muito também, ao mesmo tempo, ainda frágil. Todo pequeno negócio que se inicia nesse segmento, vamos chamar, aspiracional, de ser marca e desse mundo todo de projeções... uma marca nada mais é do que algo que, através dela, você se projeta mais aceitável, mais bonito, mais dentro, mais in, mais dentro da moda mesmo, ela tem muito mais, isso muito maior do que realmente a estrutura em si, que é algo que se mantém em pé graças a toda uma dedicação do empreendedor, de manter aquilo em pé. Você paga pra sua marca existir e ser o sonho de pessoas durante muito tempo, até que aquilo chega num estágio de maturação onde você recupera, como qualquer criança, qualquer filho, que até ele sair da faculdade, só dá despesa. Então, ter uma marca, literalmente, num primeiro momento é muita doação, muita dedicação, pra que ele... a empresa possa ‘andar com os próprios pés’ e um dia trazer algum retorno. A gente estava assim, de 2002 pra 2004, quando eu decidi... ocorreu um tsunami, não foi uma decisão minha. Veio um tsunami de fora, que foi o processo de globalização e o início do fast fashion, que literalmente devastaram com um país tão frágil quanto o Brasil. Foi o início da ‘quebradeira’ das indústrias e das marcas aqui no país e que estavam levando marcas pequenas e frágeis, que haviam recém-nascido, como a minha, pro ‘ralo’. Ou a gente fazia um produto extremamente competitivo, de baixo custo, de baixo valor agregado, pra sobreviver diante daquela situação que vinha de lá pra cá, ou você ‘naufragaria’, porque o patamar e tudo aquilo que eu havia acreditado, investido e mantido ao longo dos anos, que era busca por excelência, mão-de-obra de qualidade, tudo aquilo que eu acumulei durante vinte anos, pra jogar na minha marca, deixaram de existir da noite pro dia, porque o que importava era o mais rápido e o mais barato, era o fast fashion que dominava aquela cena, dois anos depois de eu ter começado a minha marca. E, diante desse cenário, eu decidi fazer o Desfile de Papel, que foi quando eu estabeleci um corte, uma ruptura, porque eu não podia abdicar dos valores e de tudo aquilo que eu acreditava e havia construído e me constituído ao longo de todos os anos da minha carreira, que era entregar excelência e o melhor que um ser humano poderia fazer, por isso eu capacitava todas as empresas, os meus funcionários, investia em qualidade e aquilo tudo deixava de ser o futuro que eu acreditava.
P/1 – E você acha que hoje ainda está assim, ou as coisas podem melhorar um pouco?
R – Hoje as coisas podem piorar um pouco. Infelizmente hoje a gente está num momento em que as coisas podem piorar porque, mais do que nunca, a gente vive um universo onde a aparência... nem a própria felicidade conta mais, você aparentar ser feliz é suficiente. As pessoas buscam hoje um grau, mais do que ostentação, eu acho que é de uma simulação pra causar inveja, pra fazer o outro, enfim, acreditar numa felicidade que sequer é real. Então, se nos anos 2000 o que existia era a busca pela inclusão, através de preços acessíveis, de você se sentir pertencente, hoje nós temos uma busca por você aparentar algo inexistente. Então, as possibilidades de algo muito pior se sobrepor a uma entrega de excelência são muito maiores, porque naquela época ainda havia-se a busca por você ter acesso a um produto, só que não de boa qualidade, mas ainda assim uma experiência pra você desfrutar. Hoje sequer existe essa busca por essa experiência. As pessoas não estão nem aproveitando e estão tirando uma foto, pra postar. Não estão nem gostando, mas estão fazendo cara de que gostou. Antigamente era um pouquinho diferente, mas então a possibilidade das coisas piorarem são enormes e é por isso que é fundamental iniciativas como a de vocês, em falarem um pouco de pessoas, essa atuação de formação artística, acadêmica, de incluir pessoas através da esperança, de sonhos e não de ilusão. (risos)
P/1 – Você também falou da excelência das pessoas. Tem muitas pessoas por trás disso. Aproveitando que você estava falando da excelência das pessoas, pessoas são necessárias pra existir uma excelência. Quantas pessoas estão envolvidas em todos esses processos da moda, por trás?
R – Isso eu não sei exatamente, é melhor você ir no sindicato das indústrias perguntar. Eu sei de quantas pessoas eu cuido, agora o segmento é gigantesco na área de moda. Mas essa era uma pergunta que fazia parte do seu roteiro?
P/1 – Não, é que eu estava pensando, que você estava falando de excelência...
R – Sim. Bom, posso até responder sem precisar número, mas que pras pessoas possam imaginar o número de pessoas envolvidas no segmento da moda, isso é gigantesco, porque conta tanto com a parte que nós podemos chamar que é a camada das imagens, que gera todo o desejo de moda, que são as revistas, os sites, os fotógrafos, os espetáculos de moda, modelos, cabeleireiros, maquiadores, fotógrafos, cenógrafos, tudo aquilo que faz parte desse mundo visível do espetáculo da moda, mas fora isso nós temos todos os arquitetos, iluminadores de espaços físicos, lojas de departamentos, vitrinistas. Temos toda a parte de vendedores que trabalham nesse segmento, produtores de manequins, produtores de mobiliários, produtores de equipamento de loja. Depois nós temos, especificamente, toda a parte têxtil de confecção. Da parte, vamos falar, não dividindo, na parte têxtil nós temos todos os fabricantes de fios, tecelagens, tinturarias, empresas de estamparia, de acabamento, de tinturamento de tecido. Depois, na parte de confecção, nós temos todas as indústrias e os profissionais envolvidos, desde a pilotagem, modelagem, costura, passadoria, acabamento, embalagem, todo o pessoal de logística, pra fazer esse transporte, todo o pessoal envolvido com a parte de desenvolvimento de produto, de pesquisa, engenharia de produção, engenharia de custos, modelistas, controle de qualidade. É uma cadeia gigantesca, tanto direta, quanto indiretamente conectada, porque muitas empresas compram e revendem produtos, outras detém uma verticalidade. Toda empresa de transportes e de inteligência, tanto de canais virtuais, quanto canais finais, de pontos de venda. Então, é um número gigantesco de pessoas que atuam na área de moda.
P/1 – Então, é que eu estava pensando, você falou fast fashion. Por exemplo: tem muita gente envolvida, então… e elas precisam ter salários dignos, então era isso que eu quis dizer, quando eu perguntei.
R – Na verdade, a grande questão toda de salários dignos depende muito de nós não termos corrupção ao longo de toda a cadeia. Valores sendo corrompidos, melhor dizendo. Esses valores são corrompidos em cada um que barganha excelência por uma vantagem apenas financeira. E onde que acontece isso? Desde o consumidor, que opta por comprar um produto sem se importar se ele é falsificado, onde ele é produzido, mas simplesmente pelo desejo de levar a vantagem de ter aquele produto. É como se eu não ligasse e eu tivesse aquilo que eu tanto gostasse de ter, custe o que custar. E quando a etapa seguinte sabe que o que você quer levar é vantagem, quer pagar barato, naturalmente isso vai cadeia atrás, fazendo com que tudo se degrade. A capacidade de degradação do ser humano é sem fim e se o consumidor não estabelecer valores, tudo que está por detrás vai se corromper. Então, acredito que a culpa não é do final da cadeia. A culpa vem sempre de cima. E o de cima, no caso, é o consumidor. Literalmente o problema não é o lixo que vai pro mar, é muito... o lixo, em si, não tem culpa de nada, se é plástico, se é metal, o problema é quem joga o lixo, o consumidor que faz isso. Então, se a gente tem um bando de gente fazendo e cometendo essas atrocidades e comandando o resto da cadeia a ter que satisfazer esse egoísmo, esse pensamento apenas de se preocupar com si e não com o entorno, em todos os sentidos, enquanto meio ambiente, sociedade, outras pessoas, nada vai mudar. Só existe compra de artigos roubados porque... só existe roubo, porque alguém compra artigo roubado, senão não roubariam. Então, o problema é muito simples de resolver: é a gente ter um povo decente. Enquanto você comprar coisas roubadas você corre o risco de ser assaltado.
P/1 – Você falou que foi até 2004 que teve esse ‘baque’ das fast fashions. E como é que você seguiu, a partir daí?
R – Depois que eu realizei meu último desfile, que foi o Desfile de Papel, eu encerrei as atividades da minha indústria, da minha empresa e passei da noite pro dia, não era algo programado... recebi convites do mundo inteiro pra atuar em outras áreas, desde cinema, espetáculos, no mundo das artes e a partilhar um pouco dessa minha experiência de muitos anos dentro do universo acadêmico e me tornei praticamente conferencista, palestrante, professor, realizador de workshops, diretor de espetáculos, artista. Foi uma coisa assim, que acabou acontecendo.
(58:55) P/1 – Voltando um pouco, você falou do Desfile de Papel, como é que foi esse desfile, pra você? Ele foi muito importante.
R – Como é que foi em que sentido?
P/1 – Como foi fazer esse Desfile de Papel?
R – Bom, o conceito por detrás do Desfile de Papel era colocar, na mais simples das matérias, tudo aquilo que havia de excelência humana, de saberes, de artesanias, pra valorizar algo que era em branco e mostrar que tudo aquilo só era possível porque havia humanidade por trás, em transformar o nada no máximo de potencialidade, de experiências e de sonhos, criar magia e acima de tudo fazer com que a magia não fosse um truque de mágica, mas um momento de encantamento, pra que naquele momento, quando tudo aquilo se rompesse, se rasgasse, as pessoas caíssem em si do ‘universo’ que elas estavam colocando de lado através das suas decisões. Foi por isso que nós fizemos esse desfile, pra reconectar as pessoas com o invisível. E por isso que o projeto se chamou “A Costura do Invisível”.
P/1 – E quando é que surgiu o ateliê?
R – A minha empresa tem desde 1996, foi quando eu fui a revelação do Phytoervas Fashion, então eu trabalhava na Zoomp! desde 1996 e paralelo a trabalhar na Zoomp! eu mantinha meu ateliê como um espaço, pra eu ter as minhas atividades criativas em andamento, paralelo ao container, vamos chamar de responsabilidades industriais e sociais que eu tinha, dentro de uma grande empresa. É como se aqui fosse minha válvula de escape, onde eu poderia criar o meu ‘universo Jum Nakao’, fora do ‘universo da Zoomp!’. Eu mantive esse ateliê o tempo inteiro aberto, onde eu saía do emprego, eu vinha pra cá, pra desenvolver os meus projetos, pra apresentar nas Semanas de Moda, nos desfiles. E o ateliê, a partir de 2004 se tornou laboratório onde eu presto serviços a grandes empresas e projetos que são, todos eles, comissionados, contratados.
P/1 – Você falou que você trabalha até como diretor de espetáculo. Você faz figurinos?
R – Isso. A gente faz, na verdade, mais do que figurinos, porque figurino é uma parte da direção de arte. Figurino é uma ‘pincelada’ dentro de um grande ‘quadro’, que tem ainda cenografia, todas as experiências, as camadas. É uma parte do espetáculo, fundamental. Iniciei como figurinista, até porque eu sou egresso da área de moda, então as pessoas achavam que eu fazia só figurino, só que quando você trabalha na área de moda você consegue a totalidade de um universo, que vai desde a trilha, você já imagina como vai ser a campanha, as fotografias, os cenários, tanto de desfile, quanto de showroom, quanto vitrines de loja. Você já tem uma noção de todo o ‘universo’, em diversos estágios, então dar um ‘pulo’ de figurinista pra direção de criação foi muito rápido, porque eu já tinha toda essa bagagem de anos de atuação em moda.
P/1 – Interessante. E pensando no geral, durante toda sua carreira, qual foi o momento que você considera o mais importante?
R – Eu considero o mais importante o Desfile de Papel, porque foi, literalmente, um ‘grito de liberdade’, um manifesto sobre os valores que eu defendo.
P/1 – E como foi depois do desfile, as reações?
R – Bom, as reações, por mais que elas não tenham sido esperadas, porque obviamente eu nunca esperava uma aceitação tamanha, como a que eu tive, porque você dizer que você previa, em uma Semana de Moda, onde só tem roupas em tecido, fazer um desfile com roupas de papel e pedir pras modelos rasgarem, no final, você saber o que vai acontecer depois, eu não sou adivinho, (risos) mas as reações e a receptividade e a percepção de todos os segmentos de comunicação e de artes e da própria moda foram extremamente positivas. Eu literalmente posso dizer que, se eu fechei uma porta, abriram-se infinitas depois do Desfile de Papel e por isso eu considero o trabalho mais marcante e fundamental da minha carreira.
P/1 – Você lembra de algumas dessas portas que abriram?
R – Eu passei a ser convidado por governos de países pra capacitar o segmento de moda nesses países. Passei a receber convites de países pra fazer projetos com a matéria-prima desses países, pra valorizá-las. Eu passei a ser chamado pra todos os eventos de moda, onde o Brasil seria representado e outras áreas em que eu jamais atuei, eu passei a ser chamado. Então, todos esses convites de pessoas que enxergaram algo que a moda poderia expressar através dessa performance do Desfile de Papel, passaram a me chamar pra desenvolver peças icônicas, que fossem algo pra momentos celebrativos, momentos-chaves, em todos os segmentos, desde o Oscar, que me chama pra fazer uma peça, pra falar do Museu de Hollywood; peças que vão pra (Lily?), pra falar sobre a renda que se produz em (Lily?); peças que foram pra Tóquio, pra falar de um tecido que estava impedido de ser produzido desde a Segunda Guerra Mundial e que foi, depois de cinquenta anos, relançado; projetos pra falar sobre a primeira olimpíada a ser realizada num país da América Latina. Então, foram projetos bem celebrativos e icônicos, que as pessoas percebiam que aquele desfile representava essa ruptura, esse renascimento. Então, quando acontece algum momento meio sísmico, importante, as pessoas passaram a me chamar e é sempre um desafio criativo quando uma Monsanto alcança um patamar de produtividade gigantesco no planeta, pra comemorar eles pediram pra desenvolver uma peça, porque era um momento de celebrar esse novo patamar de produtividade que as sementes deles propiciam ao mundo. Quando a Globo comemorou cinquenta anos eles pediram pra eu desenvolver uma peça pra celebrar mais meio século pra frente. Então, pra mim foi muito importante passar a ser considerado o criador, enfim, de novas eras.
P/1 - E no seu dia a dia, como é a rotina do seu trabalho?
R – Eu acordo super cedo, durmo super cedo, porque eu procuro manter esse meu ciclo circadiano ________, até pra eu estar conectado com aquilo que nos rege, com algo muito maior, que é todo universo e cada vez que eu entro no universo de algum projeto eu procuro me ‘contaminar’ no sentido mais produtivo possível, pra ser algo que entre nas minhas entranhas e eu passe a fazer parte desse todo onde eu estou me inserindo, pra poder realmente trazer uma cura, uma resposta. Então, a minha forma, a minha rotina, cada vez que eu estou envolvido em algum projeto é literalmente mergulhar, não apenas de cabeça, mas de corpo, alma, até a última gota, mas é uma rotina bem que eu chamaria nutritiva pra mim também, porque cada vez que eu entro nesses cosmos eu me nutro de mais experiência, como eu disse o processo criativo é algo infinito, porque você é capaz de odiar até um limite, porque o ódio te mata. Agora, quando você se alimenta de amor, isso se torna infinito, porque não há limite pra você entregar ou receber amor. Então, pra mim, a minha rotina sempre é essa, de muita troca afetiva, pra poder encontrar as respostas e a luz, enfim, tudo aquilo que compõe a excelência do que, juntos, podemos produzir.
P/1 – Tem alguma coisa que você mudaria na indústria da moda?
R – Eu mudaria o consumidor, porque ele é o problema de tudo. O ser humano é o problema de tudo. Eu me esforço a cada dia pra mudar o ser humano e pra que a gente mude o ser humano a gente precisa encantá-lo, fazer com que ele volte a acreditar em magia e é por isso que eu capacito profissionais e empresas, pra fazer magia.
P/1 – Você falou de sentimento, amor. Você tem alguma inspiração? Por exemplo: sua mãe, você falou que você era muito próximo dela...
R – Sim, mas a relação não é pessoal, porque ela se torna muito ‘umbigo’, muito incapaz de dialogar com mais pessoas. Enquanto você ama o seu parceiro, a pessoa que está próxima de você, é algo que está numa esfera da sua vida particular. A minha relação com a minha mãe, ou com as pessoas que eu amo, amei não ‘contaminam’, não têm a menor relação com aquilo que eu faço enquanto profissional. Enquanto profissional a minha relação é com o todo de cada empresa, de cada equipe, de cada público, cliente, é com esse cosmos todo que eu interajo. Eu preciso entrar nesses ‘universos’ e entender, valorizar, eu diria, as partes desse lugar. Se eu estou aqui, agora, com vocês, eu estou 100%. Se eu estou no sul, no norte, no nordeste do Brasil é nesses lugares que eu estou 100%. Se eu estou fora, em qualquer lugar, eu tenho que estar lá, pra me apaixonar literalmente, pra me envolver com cada uma das partes que compõem essas relações e potencializá-las ao máximo.
P/1 – E a paixão que você tem pelo seu trabalho é a mesma de quando você começou?
R – É muito maior. Ela se tornou muito maior, porque você entende cada vez mais o impacto que o seu trabalho tem. A visão que uma pessoa tem quando está no início é muito a partir de uma percepção pessoal, temporal, daquele acúmulo de repertório, de experiências que aquela pessoa tem. Jamais me imaginei fazendo projetos e espetáculos pra cinco bilhões de pessoas. Eu nunca me imaginei capaz de atuar em uma única empresa que tem 24 mil colaboradores. E quando você faz parte de cada um desses projetos, quando você entende o impacto que esse trabalho tem eu me apaixono mais ainda do que quando eu iniciei, porque hoje eu percebo que eu sou muito mais efetivo, eficiente, eu diria, em termos de atuação, porque eu entendo mais todo o sistema. Antes eu entendia parte e, naturalmente, quanto mais eu entender, mais abrangência, mais complexidade eu vou alcançar, de entendimento e mais apaixonado eu vou estar.
P/1 – A gente passou por um período agora, que foi da pandemia de coronavírus. Como foi pra você esse período da pandemia?
R – Pra mim foi muito interessante e um momento de extremo crescimento, porque eu passei a receber muitas solicitações de pessoas que perderam emprego, que estavam impedidas de se ocuparem, ou de se aprimorarem. Durante o período da pandemia eu fui acessado por várias pessoas que estavam impedidas de prosseguirem e, pra nutrir essas pessoas de esperança, eu criei pílulas, não de esperança, mas dos meus conhecimentos, que eu distribuí de uma forma muito inclusiva, pra que as pessoas pudessem realizar os seus sonhos. Então, tudo aquilo que eu aprendi em mais de quarenta anos eu coloquei num projeto onde, por dezenove reais e oitenta centavos as pessoas têm acesso a todas as informações, numa plataforma que é retroalimentativa, porque esses dezenove reais é pouco, mas tendo várias pessoas que colaboram eu consigo alimentar e fornecer esse material pra mais pessoas, então foi um projeto que surgiu durante a pandemia e que até hoje é um sucesso.
P/1 – E quantas pessoas você atingiu?
R – Com pílulas?
P/1 – É.
R – Eu distribuí mais de três mil pílulas, (risos) tem mais de três mil alunos em pílulas, que acessam as informações e potencializam seus sonhos, realizam seus projetos. É um projeto, entre aspas, de empreendedorismo, de autoformação, ensino à distância. Então, tudo aquilo que são segredos da modelagem e da costura as pessoas têm acesso nesse projeto.
P/1 – Tem alguma coisa que eu não perguntei e que você gostaria de complementar?
R – Eu acho que não. Acho que só esqueci de perguntar se ainda tem pastel, porque se você quiser comer pastel, você tem que ir rápido.
P/1 – Ah, é.
R – A não ser que você não queria.
P/1 – Não, eu quero, mas ___________. (risos)
R – Mas acho que você perguntou tudo.
P/1 – Não, que a gente está caminhando pras perguntas finais, eu queria saber: além do trabalho, você tem algum hobby, alguma coisa que você goste de fazer?
R – Eu gosto de comer pastel. (risos) Eu gosto de comer qualquer coisa, na verdade. Eu gosto de comer aquilo que é feito com amor. Eu gosto de conhecer pessoas, de ouvir histórias, de ler, porque isso tudo me alimenta. Na verdade, quando você encara o vampiro de uma forma, entre aspas, maligna, na verdade é o próprio ciclo da vida, porque ele se alimenta de vidas e metaforicamente eu me considero quase que um vampiro, porque não que eu tire a vida das pessoas, não é isso. A vida das pessoas é o meu alimento.
P/1 – E, pra você, hoje, quais são as coisas mais importantes da sua vida?
R – Eu considero toda essa parte de inspirar as pessoas. Pra mim a parte mais importante é manter organismos vivos. Eu procuro salvar tudo que é possível, através de uma regeneração; de uma nova geração, que sucede a anterior; dos aprimoramentos do processo da vida que ali já existem. Então, é quase como se fosse uma missão minha em salvar vidas e pra isso eu estou sempre interagindo muito com todos esses projetos dos quais eu faço parte.
P/1 – E qual você acha que vai ser o seu legado pras próximas gerações?
R – O meu legado eu acho que é o exemplo que eu deixo. Muitas pessoas buscam como legado se tornarem heróis ou heroínas, celebridades e são pessoas que têm uma noção errada, porque nós não temos que buscar, eu acho, uma autopromoção, ou glória, porque isso com certeza não se trata de legado, se trata de algo muito egoísta e que vai embora com você. Então, eu nunca quiser ser herói, ou celebridade. Eu busquei, sempre, em toda a minha carreira, ser exemplo pra minha equipe, pras pessoas que trabalham comigo. Eu acho que esse é o maior legado: ser um bom exemplo.
P/1 – E qual seu maior sonho hoje?
R – É continuar fazendo o que eu faço todos os dias, não tenho nenhuma... eu acho que eu diria que não tem nada que me corrompa, eu espero continuar assim. (risos)
P/1 – E, por último, como é que foi contar um pouco da sua história pra gente?
R – Eu espero que sirva de exemplo pra alguém, foi por isso que eu aceitei.
P/1 – Legal. Jum, muito obrigada, foi um prazer falar com você.
R – Eu que agradeço. Obrigado!
P/2 – Bacana. Você quer gravar o que você...
R – Sim.
P/2 – Vamos lá?
R – Olá, meu nome é Jum Nakao, sou o autor convidado do Color Trends 2024. Estou aqui especialmente pra convidar você para o lançamento, no dia 22 de agosto, durante o World Plastic Connection Summit, que já está com inscrições abertas no site da Think Plastic Brazil. Espero você lá!
P/2 – Legal. Posso te falar uma coisa? Eu acho... vamos lá.
R – Olá, meu nome é Jum Nakao, sou o autor convidado do Color Trends 2024. Estou aqui especialmente pra convidar você para o lançamento, que acontecerá no dia 22 de agosto, no World Plastic Connection Summit. Espero você lá, as inscrições já estão abertas no site da Think Plastic Brazil.
P/2 - Legal, beleza.
R – Vamos ver se eu falei certo aqui?
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