P/1 –Tá legal. Queria que você começasse com seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Então, eu me chamo Claudia Aparecida Travasso Nunes, nasci em 9 de maio de 1974, no Rio de Janeiro.
P/1 – Tá. E os seus pais, o que que eles fazem, faziam?
R – Minha mãe é professora também, trabalha também na Prefeitura, e meu pai, a última notícia que eu tive era motorista de táxi, meus pais são separados.
P/1 – E como é que era a sua infância, onde você cresceu e tal?
R – Eu cresci em Botafogo, estudei a vida inteira em colégio público, foi tranquilo, eu me alfabetizei muito cedo, me alfabetizei aos 2 anos de idade, aos 15, eu já tinha terminado o fundamental, estava entrando na faculdade. Minto, já tinha terminado o segundo grau, já estava fazendo o vestibular, eu entrei na faculdade com 16 anos.
P/1 – Como que foi essa alfabetização aos 2 anos?
R – É, porque minha mãe não tinha com quem me deixar, então ela me levava para escola. Como ela pegava classes de alfabetização na época, para eu não ficar fora do grupo, ela me uniformizava e me deixava ter contato com o material didático, com o mesmo que as crianças tinham, e ela dava aula normalmente e eu ficava ali, só que ela não tinha aonde me deixar, só que quando ela percebeu eu estava acompanhando as aulas e eu me alfabetizei junto com a turma.
P/1 – Aos 2 anos?
R – Aos 2 anos.
P/1 – E fora esse ambiente escolar, na sua infância, assim, do que você brincava, você tinha amigos?
R – Tinha, eu brincava com os meninos do meu prédio pique pirulito, eu lembro, eu não esqueço porque eles me ajudavam a fazer a bagunça, mas não me ajudavam a arrumar a bagunça. Foi, assim, foi tranquilo. Eu não saía muito, não dormia em casa de amigos, porque minha mãe sempre foi muito superprotetora, ela queria sempre eu debaixo da asa dela, então ela não me dava asas para voar, tanto é que aos 15...
Continuar leituraP/1 –Tá legal. Queria que você começasse com seu nome completo, o local e a data de nascimento.
R – Então, eu me chamo Claudia Aparecida Travasso Nunes, nasci em 9 de maio de 1974, no Rio de Janeiro.
P/1 – Tá. E os seus pais, o que que eles fazem, faziam?
R – Minha mãe é professora também, trabalha também na Prefeitura, e meu pai, a última notícia que eu tive era motorista de táxi, meus pais são separados.
P/1 – E como é que era a sua infância, onde você cresceu e tal?
R – Eu cresci em Botafogo, estudei a vida inteira em colégio público, foi tranquilo, eu me alfabetizei muito cedo, me alfabetizei aos 2 anos de idade, aos 15, eu já tinha terminado o fundamental, estava entrando na faculdade. Minto, já tinha terminado o segundo grau, já estava fazendo o vestibular, eu entrei na faculdade com 16 anos.
P/1 – Como que foi essa alfabetização aos 2 anos?
R – É, porque minha mãe não tinha com quem me deixar, então ela me levava para escola. Como ela pegava classes de alfabetização na época, para eu não ficar fora do grupo, ela me uniformizava e me deixava ter contato com o material didático, com o mesmo que as crianças tinham, e ela dava aula normalmente e eu ficava ali, só que ela não tinha aonde me deixar, só que quando ela percebeu eu estava acompanhando as aulas e eu me alfabetizei junto com a turma.
P/1 – Aos 2 anos?
R – Aos 2 anos.
P/1 – E fora esse ambiente escolar, na sua infância, assim, do que você brincava, você tinha amigos?
R – Tinha, eu brincava com os meninos do meu prédio pique pirulito, eu lembro, eu não esqueço porque eles me ajudavam a fazer a bagunça, mas não me ajudavam a arrumar a bagunça. Foi, assim, foi tranquilo. Eu não saía muito, não dormia em casa de amigos, porque minha mãe sempre foi muito superprotetora, ela queria sempre eu debaixo da asa dela, então ela não me dava asas para voar, tanto é que aos 15 anos, quando eu terminei o científico, que naquela idade foi o curso normal, na verdade eu já fiz o curso normal, porque eu queria já ter uma profissão, queria ter meu dinheiro. Então assim, desde os 15 eu já queria trabalhar, ter meu dinheiro, buscava minha independência. E quando eu entrei na faculdade também, consegui bolsa, e aí foi, aula particular, bolsa, sempre buscando já construir o meu mundo, a minha vida.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho, tenho uma irmã, ela mora atualmente em Manaus, ela é engenheira, então ela tá em Manaus, mas a gente nunca teve uma relação, assim, muito próxima acho que a diferença de idade, contribui para isso. Ela tem sete anos de diferença para mim, ela é sete anos mais nova. Então assim, quando ela tava numa etapa eu já tava buscando outra etapa, então a gente não se encontrava muito, porque como a minha mãe sempre lutou com muita dificuldade, eu estudei em escola, no Pedro II, porque eu fiz o Pedro II, eu fui…
P/1 – … Pedro II é uma escola pública?
R – É, é uma escola pública federal, é uma escola super cobiçada, e todo mundo quer fazer concurso para ir para o Pedro II, antigamente um pouco mais, hoje em dia um pouco menos, mudou um pouco a filosofia do colégio e tudo mais. Eu estudei no Pedro II do quinto ao oitavo ano, que agora é sexto ao nono, antigamente era a quinta série, sexta, sétima e oitava, agora é do sexto ao nono, mudou a nomenclatura, e aí, na época não existia essa parte de computador, a publicidade de matrícula, o que a minha mãe fez? Ela não tinha dinheiro para pagar um cursinho para mim, pré-vestibular, ela trancou a minha matrícula no Pedro II, eu saí do Pedro II, fui para o estadual fazer o (pausa) normal e aí eu voltei depois que eu terminei o normal, para pegar só uma base de Matemática, Química e Física, quer dizer, eu meio que retrocedi, como eu tava muito adiantada, eu fui voltando fui, terminei, voltei para pegar a base para fazer o vestibular. Aí eu passei, fiz para Licenciatura em Educação Artística, Artes Plásticas, eu sou artista plástica também, então fiz a federal, minha vida inteira em escola pública inclusive a faculdade na UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro].
P/1 – Tá, você disse que cresceu em Botafogo.
R – Isso.
P/1 – Como que era, mudou muito, como que era?
R – Mudou muito, mudou muito. Cresceu muito, mais comércio. Era bem mais pacato viver em Botafogo, agora não, agora eles tão destruindo muitas casas e construindo muitos prédios, com infraestrutura parte de transporte fica muito prejudicado.
P/1 – E tinha algum sonho, assim, quando você era criança, de quando crescer, alguma coisa que você queria ser, Claudia?
R – Na verdade eu sempre tive esse dom artístico e sempre tive o dom para lidar com crianças. Então, acho que uma parte eu consegui, eu sou professora, atualmente sou coordenadora de escola essa parte de relação é uma parte que eu tenho uma facilidade, assim, pelo menos é o que me dizem sempre me disseram. Antes de trabalhar com escola eu fui secretária para uma empresa de advogados e falo dois idiomas, e depois que eu tava nessa empresa eu decidi, eu já formada e trabalhei como secretária por um tempo, recepcionista também, fui recepcionista de uma empresa também de advogados, e aí eu decidi que eu queria ir para área de educação, aí fiz o concurso, passei fiquei na área de educação, tô na área de educação até hoje, mas no meio do caminho também uma outra coisa que me deixa, que eu gosto muito é a parte do Direito. Eu acho que com essa, advento da tecnologia dos direitos e dos deveres, as pessoas ficam muito preocupadas com os direitos e esquecem os deveres, e eu gostei muito de trabalhar nessa empresa de advogados que eu tinha acesso a processos e eu lia e eu me fascinava, e a vida inteira, como a minha mãe se separou, quem resolvia essa parte prática da coisa era eu. Então assim, aluguei um apartamento, o apartamento tá dando problema, a minha mãe não sabia o que fazer, e eu ia lá, pegava livro, pesquisava: “Não, isso vocês que tem que resolver.” Trabalhei e eu tomei gosto por isso. Então, antes do meu filho nascer eu fiz faculdade de Direito até o sexto período, aí tranquei porque eu tava grávida, no oitavo mês de gravidez, tranquei, tive um filho e ainda não retornei, porque ele ainda é pequeno, tem quatro anos e meio, não entende que a mãe fica o dia inteiro fora e ainda não tá a noite com ele. Então assim, é ruim porque ele é um filho terceirizado, ele fica o dia inteiro na creche, mas eu acho que ele, na idade que ele tem não vai entender que: “Cadê a minha mãe, eu não vejo a minha mãe nem de manhã, nem de tarde nem de noite.” Então, eu tô esperando ele crescer, tem entendimento e tudo para que eu possa revalidar, porque agora eu já perdi o direito de voltar, para eu revalidar o que eu fiz para eu poder dar continuidade e me formar.
P/1 – Voltando um pouquinho ainda lá da sua infância, o começo da sua adolescência, o que mudou de uma fase para outra, da sua infância para adolescência?
R – Mudou que eu sempre quis, sempre pensei muito no futuro, sempre quis alcançar uma independência, sempre, eu sempre tive isso como meta. Na verdade eu não tive muita adolescência, porque com muitos problemas familiares em casa, eu estabelecia metas que pessoas da minha idade não estabeleciam. Então assim, eu era muito madura para determinados assuntos e muito imatura para outros. Então na minha adolescência eu almejava, eu queria saber se eu ia no futuro me dar bem na profissão, construir, ter a minha casa, ter o meu meio de locomoção, na verdade eu nunca projetei muito essa questão de casar, ter filhos sempre quis formar a minha família, mas assim, eu sempre quis ter primeiro estabilidade para que eu pudesse dar início a isso.
P/1 – E você falou que você entrou na faculdade, como é que foi isso?
R – É, entrei na faculdade com 16 anos e fiz o vestibular, passei, e a faculdade também era por tempo integral, aí a faculdade entrou em greve, faculdade federal entra em greve, trabalhei de vendedora, quer dizer, eu não parava a faculdade, entrou em greve três meses, aí falei assim: “Não, não dá.” Porque aí entra em greve, você também não recebe a sua bolsa, a bolsa que recebe de projetos que você participa, aí não, não dá. Aí eu fui trabalhar de vendedora, por coincidência numa loja de criança, também de roupa infantil, aí trabalhei durante o período da greve na loja e depois quando voltou a faculdade eu voltei, pedi demissão e voltei. Então assim, a minha adolescência meio que foi traçando como seria a minha vida adulta buscando isso.
P/1 – E nessa época o que é que você fazia com o dinheiro que você ganhava?
R – Eu guardava. Eu guardava, e eu sempre fui muito vaidosa, então eu ia comprando as coisas para minha vaidade.
P/1 – Você fez faculdade de…
R – … Licenciatura em Educação Artística, habilitação em Artes Plásticas. Eu sou tanto artista plástica como, porque quando a gente faz a faculdade de Licenciatura em Educação Artística, você passa por todos os ateliês. Você faz pintura, gravura, estilogravura, litogravura, e fora a parte pedagógica, fora a parte de história da arte, o que diferencia a escola de Belas Artes, porque a gente estuda, na verdade, em três prédios da faculdade, a Escola das Belas Artes, que fica no fundão, é a escola de Educação que fica na Praia Vermelha e a Escola de Música que fica no centro, porque quem faz a licenciatura passa por todas as estampas das artes, para poder escolher a habilitação, que pode ser artes plásticas, desenho ou música, e eu optei pela artes plásticas.
P/1 – E você, como é que você se divertia nessa época?
R – Cinema, namorado, barzinho. Era a diversão que eu tinha.
P/1 – E o primeiro namoro, como é que foi?
R – Foi bom, ainda eu tava contando essa história outro dia lá na escola, porque foi na época que estavam construindo o Rio Sul, sou velha, aí a gente foi o primeiro namorado, era um colega de escola que tinha crescido comigo, morava numa vila até que foi desapropriada pelo metrô, lá em Botafogo e aí quando eu trabalhei de recepcionista numa das empresas de advogado, ele surgiu na empresa como sócio da empresa, que era um cliente em potencial para empresa, e quando ele me viu, ele falou, veio, fez mó festa, me abraçou, veio para o outro lado da mesa e tudo e até eu lembro que na época o sócio ficou meio, porque advogado tem uma postura meio assim: “Eu sou tudo e você é nada.” E aí, depois disso, ele atendeu lá o meu ex-namorado, o meu primeiro namorado, ele foi embora e o sócio não satisfeito, veio na minha mesa e perguntou: “De onde você conhece?” Aí eu falei assim: “Foi meu primeiro namorado.” E ele ficou super consternado, porque não sabia, às vezes as pessoas que elas já nascem naquele patamar, esquecem que houve toda uma construção anterior. E aí é isso, foi bem legal revê-lo, foi interessante.
P/1 – E aí quando você então tava na faculdade, você já tava fazendo esse curso de licenciatura, você já imaginava que você queria ser professora?
R – Não, eu já era professora. O curso normal já tinha me dado essa habilitação, eu já era professora e já tinha habilitação para exercer em colégios particulares. Eu cheguei, até entrei em colégios particulares, mas é aquela história, não tem experiência e aí, assim, você só tem experiência se te derem espaço para ter experiência, e aí começa aquela coisa de querer tirar proveito, tipo: “Eu não vou assinar a carteira.” Tipo você vai ficando desse jeito, assim, assado, e não me agradava, eu saía fora. Porque eu não sei trabalhar com coisas, assim, pouco estruturadas, você tem que ter uma organização. Você, ah, vai meio que fazendo tudo, aí eu não, acabei optando por trabalhar em empresa de advogados, na verdade como recepcionista, eu entrei. Eu tinha o inglês, na época que eu tava lá houve a abertura do comércio e aí teve a necessidade da língua, do espanhol, a empresa custeou para quem estava interessado, eu fiz, então eu falo inglês e espanhol fora a base do francês que eu tive no Pedro II, porque eram duas línguas que nós tínhamos. Assim, eu não falo francês, entendo o pouco que eu lembro, e inglês e espanhol eu sou formada. Não sei falar se sou fluente hoje em dia, não sou porque eu não uso, a habitualidade é tudo.
P/1 – E em que momento você começou a trabalhar em escola?
R – Mil novecentos e noventa e nove. Escola de fato é quando fiz o concurso, tipo: “Cansei de trabalhar em escritório, quero exercer a minha profissão.” “Já falei demais a língua estrangeira, agora eu quero exercer a minha profissão.” Aí fiz os concursos aí passei e desde 1999 eu tô em escola. Hoje em dia eu não tô em sala de aula, porque na verdade eu sou coordenadora de escola, meio que a coisa foi acontecendo, e meu filho, quando nasceu, ele era muito alérgico, então eu comecei a tirar muitas licenças. O sistema em que eu trabalho não pressupõe material humano para substituição do professor. Então o que que acontecia? Eu acabava prejudicando as crianças, porque não tinha quem ficasse com elas e meu filho não podia ir para creche doente. Então, e não sei se você percebeu, mas eu tenho a voz meio rouca, é um problema que eu tenho nas cordas vocais, então eu fui, como o meu filho tava tendo muito problema de saúde e eu tava tendo que me ausentar muito, para não prejudicar as crianças eu pedi uma readaptação, que significa botar a professora em uma função extraclasse. Então aí eu fui ficar, aí eu consegui ser readaptada pela voz, por causa do problema que eu tenho, fiquei readaptada seis meses, na escola onde eu estou, e aí fui convidada para coordenação, aí tô na coordenação até agora.
P/1 – E nesse período em sala de aula você trabalhava…
R – … Trabalhava com, no início eu pegava só, eu pegava mais terceiro e quarto anos atuais, às vezes, peguei o quinto ano, mas quando eu, quando, mais perto de engravidar eu peguei a educação infantil; então assim, na verdade, eu passei por todas as séries por todos os anos, como se fala agora. Era o primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, inclusive educação infantil, e foi uma parte que eu gostei muito, no início quando me falaram que eu ia pegar a educação infantil eu entrei em pânico, porque eu falei assim: “Gente, como eu vou trabalhar com aqueles pequenos, olha só, eu tenho a unha grande, eu vou machucar, eu sou toda, toda perua, como é que vai ser isso?” Porque professor de educação infantil senta no chão: “Como é que vai ser?” Aí a diretora na época da escola falou para mim: “Claudia, mas você é formada em Educação Artística, lembra, não esquece que você tem toda a parte de artes, de motoras que eles precisam.” E eu: “Ah é!” E assim, foi muito bom, foi uma experiência maravilhosa trabalhar com as crianças pequenas, entendeu, foi, acho que foi um, me preparou para maternidade. E um fato curioso é que eu lembro até hoje do primeiro aluno da educação infantil, quando eu me apresentei na sala, ele chegou para mim e falou assim, aquela coisinha pequenininha puxou minha saia e falou assim: “Oi.” Aí eu falei: “Oi.” “Sabe qual é meu nome?” Eu falei: “Não.” “Gabriel.” Aí eu falei: “É?” Aí ele: “É, minha mãe me deu esse nome, porque é nome de anjo.” Eu falei: “Hum.” “Sabe que dia eu nasci?” Eu falei: “Não.” “Dia 27 de setembro.” Para algumas religiões é a comemoração de Cosme e Damião, são meninos, santos meninos tem um sincretismo também, mas aí eu falei: “Hum, esse menino vai ser sapeca.” Aí no primeiro dia que ele se apresentou, ele já aprontou, eu falei: “Vai pensar, vai sentar ali para pensar.” Ele foi pensar, ele andou, sentou, voltou, na mesma hora, não teve nem, voltou, puxou a minha blusa, olhou assim: “Vem aqui juntinho de mim, já pensei.” Aí eu falei: “Ah, tá bom, tá bom então.” E aí assim, daí por diante foi muito legal porque eu consegui, assim, voltar para uma coisa que tava adormecida, que era a parte de artes plásticas que, na época que eu fiquei do primeiro ao quinto ano, eu tinha um ateliê em casa; então normalmente era meu hobby, para me desestressar. Então quando as pessoas lá da minha casa viam que eu tava, que eu ia para o ateliê, e a unha vermelha também era um código, hoje em dia não, mas era um código tipo: “Não tô bem.” Entendeu, e aí eu ia para o ateliê, e comprava a tela, ou comprava o barro, e ia esculpir, ou ia pintar, e ninguém me interrompia.
P/1 – Esse código servia para quem, da unha?
R – Para minha família, para minha mãe, para minha irmã. “Não tô bem.”
P/1 – Nessa época, então você morava…
R – … É, na época do ateliê sim, na verdade eu não me casei muito jovem, eu me casei, eu namorei nove anos antes de casar.
P/1 – Com seu atual esposo?
R – Com meu atual esposo.
P/1 – E como é que você conheceu ele?
R – Eu conheci ele numa colônia de férias, porque eu também, nas férias, eu não parava nas férias a gente, eu participei dessa colônia, lá no Forte do Leme, o nome dos participantes eram colonins, da colônia. Então, eu participei da colônia, minha irmã também, na época, a gente não tinha dinheiro para ir viajar, então era uma opção. E aí essa colônia paga, era paga, mas aí minha mãe conseguiu um trabalho lá e aí passou a não ser paga para gente. Então, na verdade eu fui até a última faixa etária que tinha de colônia e lá a gente tinha, ia na piscina, na praia, das sete e meia ao meio-dia. Se ia na praia, passeio, o lanche na época era muito bom, tinham vários patrocinadores de peso e a gente ia para colônia. Quando eu parei, quando eu fui até a última turma de colonim, eu fui trabalhar na colônia, porque era bom que depois desse horário de meio-dia a gente podia ficar lá no Forte usando as dependências como se fosse um clube, até três da tarde. E aí era a colônia dos professores, que a gente chamava, era lá onde rolavam os flertes, as saídas, eram os passeios até a Pedra do Anel, que é aquela metade onde tem a bandeira, ali no Leme atrás daquela parte ali tem a chamada Pedra do Anel. Aí a gente, era a parte boa assim, agora é a parte da azaração e aí foi lá que eu conheci ele, eu, lá eu fui auxiliar, que é auxiliar, monitora e professora eu fui auxiliar, monitora, professora, e depois, formada em Artes, o major que cuidava me presenteou com a atividade fixa, que eram os professores, porque cada professor tinha uma blusa para os alunos identificarem, que eram os camisas verdes, e todo mundo queria ser camisa verde, porque você ficava paradinho. Aí vinha a turma, você fazia o que tinha que fazer, a turma ia embora e aí ele me presenteou com uma atividade de Artes. Então, e eu trabalhava inclusive com crianças deficientes nessa colônia, autistas, síndrome de down, que já era uma coisa que a colônia abraçava, naquela época; então aí eu conheci o meu marido lá, eu fui trabalhar lá com o, trabalhar na praia e aí nessas saídas dos grupos e tal a gente se conheceu e aí a gente ficou junto.
P/1 – Vocês namoraram nove anos?
R – Nove anos.
P/1 – E como é que foi o seu casamento?
R – Foi bom, ele me falou: “É agora ou não é?” Porque assim, é, como eu disse antes, eu sempre tinha a meta de ter primeiro uma estabilidade antes de seguir adiante, quer dizer, eu tava trabalhando, na época eu já tinha feito concurso, já trabalhava na escola, quer dizer, já tinha uma estabilidade, mas quando eu falava estabilidade eu falava mais. Quer dizer, ter a minha casa, ter o carro a gente já tinha, porque logo que eu entrei na faculdade, eu já namorava ele, não, ele me conheceu eu já tava na faculdade, eu liguei para ele e falei: “A gente precisa, vamos comprar um carro.” “Mas a gente não dirige” “Não, a gente não dirige, mas a minha mãe não vai deixar eu dirigir, nunca.” Se eu chegar para ela e disser que eu, a minha mãe sempre teve muito medo do novo, então com a minha mãe eu tinha que ser meio que de trás para frente, tipo: “Vamos comprar um carro.” Aí a gente comprou um fusca e tipo, eu parei o carro lá embaixo, e falei assim: “Mãe, olha, eu tenho um carro agora, eu tenho que dirigir, não tem jeito, eu vou ter que tirar a carteira.” Porque se eu chegasse nela e falasse que eu ia tirar a carteira, ela ia botar todos os empecilhos do mundo e eu não ia conseguir tirar a carteira, entendeu? Ela ia acabar me convencendo de que não era a hora de eu tirar a carteira e aí eu meio que, eu já tinha o carro, tirei a carteira depois de ter o carro, era um Fusca 69, a gente chamava ele de Azeitona, era o Azeitona. E aí eu tirei a carteira antes dele, ele tirou, tudo e foi com as minhas economias juntando com algumas dele, desde a época dos 15 que eu dava aula particular e mais as da bolsa e aí a gente falou: “Bom, você já tem emprego fixo, a gente já tem um carro.” E depois a gente foi mudando: “Mas a gente já tem um carro, então agora já pode… ” Aí eu falei: “É, já pode.” “Então tá, já pode.” E aí a gente casou e aí eu só vim ter filhos agora, quatro anos atrás.
P/1 – E quantos anos tem seu filho?
R – Meu filho tem quatro anos e meio.
P/1 – E como que ele se chama?
R – Enrico.
P/1 – E como é que é, para você, ser mãe?
R – Ah, é ótimo, é ótimo. É ótimo porque assim, ainda mais com a experiência que eu tenho na parte de educação, eu acho que nos dias de hoje me dá um subsídio muito melhor para orientar meu filho e perceber algumas coisas que às vezes as pessoas comuns não tem essa formação, não percebem. Então assim, ele já passou por algumas escolas porque fica o dia inteiro, e eu nunca tive uma escola que dissesse que ele não é uma criança educada. Ele pede licença, ele dá bom dia, são coisas que a gente vê que hoje em dia tão meio perdidas na criação, não é uma criança de fazer birra até porque eu tenho uma postura muito firme com ele, e o pai também, me apoia justamente por entender que eu tenho essa formação que me dá um quê a mais para direcionar a educação dele. Também pai bem atuante, tá sempre junto, tá sempre participando, é muito amigo dele, sabe, e assim, eu até às vezes me cobro, porque eu chego tão cansada a noite, não consigo estar aquela meia hora que é necessária para toda criança que fica fora o dia inteiro tá com a mãe ou com o pai, mas aí quando ele tá com o pai jogando, normalmente no videogame, mas sempre limitando porque se deixar o pai vai direto no videogame. Então eu, às vezes, eu chego muito cansada e não consigo estar com ele, tipo assim, gosto de videogame, mas não gosto do que ele gosta. Eu gosto do Wii, que é o que tem o movimento, ele gosta do Playstation, que tem jogos de luta e não sei o que, aí eu falo que luta eu não jogo. Então assim, para ter a balança ele joga um pouco de luta com o pai mas em contrapartida ele faz o carrinho comigo, joga o lego comigo para fazer aquele meio termo, porque o mundo tá aí, misturado, não adianta eu querer criar numa redoma de que não existe a violência, existe sim, não é para ser reproduzida e ponto, entendeu.
P/1 – Ah, legal ter essa clareza.
R – Não, tem, tem, entendeu, porque é o que eu falo para ele, você joga os jogos de luta e tal, mas ele não é daquela criança que fica reproduzindo, porque eu converso muito com ele e claro que tem momentos que ele quer reproduzir. Aí eu chamo para conversar alguns toques básicos que são importantes para criação de uma criança que é você chamar e, isso existe até em literatura, mas acho que as pessoas não dão muita importância, você falar com a criança na altura dela, olhando no olho dela, não de cima para baixo, de cima para baixo já pressupõe uma agressão assim. A criança já vê o mundo enorme, você ainda tá acima com aquele dedão assim falando que não pode, então o ideal é que você abaixe na altura da criança para repreender com firmeza e, mas tem que ser uma repreensão com um ponto final, entendeu, sem reticências, porque a criança testa o tempo todo, então: “Você não vai, porque eu não quero. Não vou te explicar o porquê, porque eu não quero e ponto, você tem que fazer o que eu quero, acabou.” E aí assim, e eu tive algumas, na escola anterior que ele tava, era uma escola somente construtivista, com muitos pais que ficavam o dia inteiro fora, mas botavam as crianças com babás e com babá é um pouco diferente, elas não dão limites, elas não querem é ter trabalho, a maioria. E até tinha um pai de um amiguinho do meu filho que chegou uma vez e falou na frente do filho assim: “Eu não sei o que é que eu faço para ele me obedecer.” Eu falei: “Primeiro não fala isso na frente dele, tem que ser a primeira coisa.” Tipo ele chegava no parquinho o pai falava assim: “Não tira o sapato nem a meia.” E o garoto já tava descalço, durante a fala do pai ele já tava descalço: “Eu não sei como é que eu faço para ele me obedecer.” Você pega ele, você abaixa e você fala na altura dele que se ele não calçar a meia e o sapato ele não vai brincar e ele vai ficar sentado do teu lado, aí eu: “Experimenta.” Aí naquela hora foi uma situação que eu passei, ele fez, o garoto na mesma hora botou, sentou, porque ele queria brincar, ele olhou para mim e falou: “Deu certo.” Eu falei: “Dá certo.” Dá certo, mas é trabalhoso, é muito trabalhoso.
P/1 – É verdade.
R – Entendeu?
P/1 – E Claudia, como que você ficou sabendo desse projeto da Discovery?
R – Então, quando eu fui readaptada para escola onde eu tô, fui readaptada brincando, a gente brinca, me encostaram, porque ele tem limitações que são geradas pela, a perícia manda para escola o que você não pode fazer, e aí todo o resto você pode fazer, mas aí você não é obrigado a fazer, você pode porque você quer, porque não é uma função sua fazer, mas como eu tenho duas matrículas, eu não, eu não consigo, assim, acordar cedo, ir para um lugar fingir que tá trabalhando, cumprir o horário e ir embora. Então já que você tem que acordar cedo, se arrumar e estar num lugar, que seja produtivo. E eu não parava, ficava fazendo as coisas e tudo, e aí tinha um projeto dentro da escola, o projeto já tinha chegado na escola, aí a minha diretora me chamou, falou: “Você não quer ser coordenadora do projeto? Porque aí você organiza as coisas, você vê o calendário, participa das reuniões e tudo.” Eu falei: “Ótimo.” Nessa época eu ainda era readaptada, e aí eu fui, vim ser coordenadora do projeto representando a escola nas reuniões com a Renata, discutindo as coisas, tudo, vim ser uma ponte e aí depois eu virei coordenadora da escola e continuei sendo coordenadora do projeto, entendeu?
P/1 – E como que é, você, como é que funciona essa ponte entre você e esses professores, digamos?
R – É, na verdade, a gente discute aqui algumas proposta de trabalho que são viáveis dentro da realidade da escola, a gente visualiza alguns profissionais que seriam capazes de desenvolver essas propostas, eu levo as propostas para esses profissionais e depois vou repondo para elas se vai acontecer ou não, basicamente assim. Fora isso, a organização do calendário para ela visualizar os vídeos, as aulas com vídeos na escola, sempre como a minha escola é uma escola que vai do primeiro ao nono ano, sempre procurando fazer uma balança de uma vez ela vê do primeiro ao quinto, na outra vez ela vê do sexto ao nono tentando mudar os profissionais em que ela vai tá visualizando a aplicação do vídeo. A aplicação do vídeo também tem um responsável que a gente faz, e associando com outros tipos de produções de mídia. Na verdade agora a gente fez uma capacitação de stop motion, nós estamos aí com um concurso na rede e a gente, eu capacitei o grêmio para passar esse concurso para os alunos, o grêmio já fez essa passagem, e aí, como esse concurso envolve filmar, gravar etc., eu já disponibilizei para os grupos interessados a capacitação para o stop motion. Eu vou tá capacitando o grêmio, para que o grêmio capacite o grupo interessado em fazer participar deste concurso através do stop motion, e não o moviemaker.
P/1 – E o que te motivou nesse momento que você descobriu, você ficou conhecendo esse projeto do Discovery, o que é que te motivou a realmente aplicar, usar isso em sala de aula?
R – Olha, é, na verdade, uma coisa puxa a outra. O vídeo é uma coisa que a gente já usava bastante nas salas de aula aqui no, pelo menos nas escolas que eu passei, era um recurso que eu sempre usei muito, e que eu usei muito no final, antes de me readaptar, porque eu chegava quarta-feira eu já não tinha voz e como educação infantil exige que você transforme, que você mude a voz, porque os personagens mudam a voz, o que que eu comecei a fazer, a lançar mão de audiovisual, porque assim, não é justo que por um problema de saúde meu meus alunos não ouçam histórias. Então o que eu encontro visual, porque as crianças, elas não tão mais na era, antigamente a gente usava arte só do áudio você conseguia ter uma turma quieta, interessada, entretida só na parte do áudio, que eram aquelas historinhas que a gente levava e que eu peguei no início, em 1999, isso ainda dava certo e aí agora mais no final, antes de eu me readaptar, que eu tava com a educação infantil, as crianças não tem mais essa concentração. Se a coisa não for audiovisual, entendeu? E aí eu comecei a buscar vídeos que tivessem contando historinha, não desenho, mas assim, meio teatral mesmo, dava preferência a questão mais teatral, não de desenho animado, mas também usava. E era uma tática que eu já tinha, então assim, lá na escola os professores, alguns de algumas disciplinas, já tem esse hábito, então a disciplina de História, a disciplina de Geografia, as professoras de primeiro ao quarto já tem esse hábito de usar, porque já tinha esse hábito. Mas o que me motivou foi estar associando, foi o braço que isso cria, você tem um braço que você pode unir a nova tecnologia, ao que chegou, ao computador, ao datashow, então você tem esse braço. E na época eu engatinhava nessa parte de, e engatinho ainda, mas hoje muito mais sem medo, e consigo dar esse suporte para os professores, de é, não ter medo, “vambora”, vamos testar, vamos: “O vídeo não tá passando? Traz o laptop, a gente bota no datashow, a gente bota para passar.” Sempre dando as soluções, criando as soluções junto com eles.
P/1 – E você ajuda a pensar nas atividades junto com os professores?
R – O que é que acontece? No início do projeto isso acontecia, tá, aí a gente fez um fichário que a proposta da Renata no projeto era que as escolas digitassem essas fichas e fizessem uma troca entre elas, entre escolas, e isso sempre foi feito nas reuniões. Então, antigamente você ia me ver chegando aqui com uma mala, porque eu vinha com uma mala com fichário, com todas as fichas, para fazer esse intercâmbio, tudo, porque era muito pesado. Hoje em dia eu já não preciso mais trazer, porque o fichário fica lá e os professores já têm as aulas lá preparadas. Então, assim, por exemplo, a minha professora de História, ela trabalhou O Patriota ano passado e esse ano ela já tinha a ficha pronta, então ela não precisou repensar, ela precisou pegar a ficha e de repente só adaptar o debate, em virtude da potencialidade da turma, porque a turma não era a mesma, é o mesmo ano, mas não é a mesma necessidade que a turma apresenta. Então assim, o sexto ano de um ano é diferente do sexto ano de um outro, a abordagem tem que ser diferente, mas tudo que vai ser trabalhado, o conteúdo, tá ali, o vídeo que vai ser usado, o segmento que vai ser usado. A minha professora de Geografia, ela usa muito a dos vulcões, que é o da Discovery, inclusive na capacitação do stop motion ela quis fazer uma reprodução de como acontecem os terremotos com os vulcões. Ela é muito multimídia, essa professora, e a gente divide muito, troca muito. Então assim, esse fichário existe, na minha escola, ele acontece, as pessoas dão as aulas que já estão lá, que já foram, foi uma construção e lá acontece esse… Eles utilizam.
P/1 – E como é pros alunos usar esses vídeos, como é que, qual é o feedback que você tem?
R – Eles gostam muito, inclusive foi até uma coisa falada no nosso conselho de classe desse ano. Nós temos um aluno muito difícil, alunos com muita dificuldade em tudo e aí assim, uma constante reclamação dos professores em relação a esses alunos era eles não… “Não consigo, eles não prestam atenção.” E aí essa professora de Geografia, um dia, ela entrou lá na sala, ela veio: “Gente, para tudo! Eu consegui dar dois tempos no nono ano, como assim eles ficaram quietos?” Aí eu falei: “Aposto que você mudou a abordagem.” Aí ela: “É, eu passei o vídeo, depois eu entrei no Youtube, depois… E aí eles, aí no final da aula, aquele que mais perturba, virou para mim e falou assim ‘Ô, professora, na próxima aula você faz a mesma coisa, tá, que a gente gostou muito.’” Então assim, foi um feedback interessante, foi até um feedback que a gente reproduziu no nosso conselho de classe para que os outros professores entendam que a gente discute muito essas questões não só a criança como o jovem, ele tá antenado em tudo ao mesmo tempo. Então assim, querer que ele fique sentado só na base do caderno, do lápis e do livro é complicado, porque eles tão em casa, eles tão com o Face aberto, com Orkut aberto, com e-mail aberto, com Messenger aberto, e dão conta daquilo tudo, e de repente até no meio eles tão fazendo uma pesquisa de escola, no doutor Google, como a gente fala, entendeu? Que às vezes ajuda, mas atrapalha também, então assim, se você não diversificar você não consegue ter a atenção deles, e aí a gente até falou nisso, foi o feedback que a gente teve em conselho de classe. Então eu sempre trago feedback para Renata em termos de depoimentos de alunos e de professores, também gosto muito de usar e dos responsáveis, só que dessa vez eu não tive a oportunidade de pegar dos responsáveis.
P/1 – E os professores aderem, usam, começam a usar essa metodologia?
R – Usam, eles usam muito, usam, eles gostam, porque facilita muito o trabalho. Eu tinha a professora de Arte lá na escola que quase não utilizava, mas até agora um dos projetos que vão estar presentes lá na nossa mesa redonda vai ser de Artes, que trabalhando, porque uma das propostas da rede é enfatizar a cultura, a parte de índios, negros e tudo. E aí elas utilizaram os dois vídeos sobre índios da Discovery, partiram dos dois vídeos para chegar na nossa cultura, e aí fazer uma análise dos povos indígenas ao longo do mundo com grafismo indígena, então isso vai gerar até telas que vão ser pintadas pelos próprios alunos. Então assim, acho que a coisa já existia, mas deu uma incentivada muito grande para os professores e, assim, essa questão de ter o encontro da mesa redonda, do professor, eu costumo dizer o seguinte: a gente corre muito lá na escola, a gente não tem tempo para parar, e eu gosto de sempre que eu posso elogiar, porque é muito difícil. Às vezes, você não tem tempo nem para elogiar, e eu prezo muito por isso, porque você trabalhar bem e receber um elogio te massageia o ego, te dá força para seguir apesar das dificuldades, entendeu? Você não ganha mais nada por isso, mas você segue, você segue sabendo que você tá fazendo o melhor e sempre que eu posso, eu tô elogiando. E aí, quando um professor vê um evento, ou onde esse trabalho, ele aparece, por mais que ele diga: “Ah, é normal, mas massageia o ego.” Massageia, porque assim, ano passado, a gente não pôde ter todos presentes, porque era dia letivo, não houve um acordo para liberação de todos. Então quem foi chegou dizendo que foi muito bom, quem não foi queria ter visto, aí chegou o banner, aí o pessoal falou: “Ah lá, tem até foto.” Então assim, massageia o ego de alguma forma e: “Ah, repetiu por quê? Repetiu a dela duas vezes e a minha não apareceu.” Então dá um, é um incentivo a mais, porque é muito corrida a vida do professor, principalmente do sexto ao nono, que dá aula em vários colégios.
P/1 – E você sente que teve alguns desafios para se implantar esse projeto do Discovery?
R – Desafio sempre tem, porque no momento que você faz naturalmente é uma coisa, no momento em que isso tem que ser registrado a coisa muda de figura. As pessoas têm uma resistência muito grande em registrar o que elas fazem, registrar para si é uma coisa, registrar para outros é diferente; e a gente tem essa dificuldade de aceitar esse registro. A questão do planejamento, da ficha de planejamento também, para gerar essas fichas digitáveis, que são fichários, esse é um trabalho bem de formiguinha, mas aconteceu, sabe? O desafio de você apresentar a data em que a Renata ia ver, ia estar na escola, e você ver que as pessoas marcavam assim, as outras datas, mas não aquela data e aí assim, e aí eu mudei a abordagem, falei: “Não, vocês podem dar nas outras datas, mas nessa data também tem que ter.” Entendeu? E sempre buscando mesclar para que ela não visse sempre o mesmo profissional, porque eu tinha profissionais usando direto o vídeo, mas que não marcavam naquele dia, entendeu? Porque as pessoas não gostam de ser observadas. É estranho isso, não gostam, mas foi uma coisa que fluiu, com, direitinho, com: “Ah, por favor vai, vai ser legal, ela ajuda.” Não sei o que, e aí foi, a coisa fluiu.
P/1 – E os pais, assim, você tem o retorno dos pais, eles comentam alguma coisa dos filhos sobre esses vídeos?
R – Nas reuniões a gente até aborda, por exemplo, do projeto dentro da escola, porque é muito complicado a criança chegar em casa e falar assim: “Eu tenho professores que fazem as nossas aulas em vídeo.” Tem professor de Ciências que utiliza muito os vídeos, a professora de Artes agora muito mais, a professora de, a Aura acabei falando o nome dela, que é a de Geografia também. Eu tenho esses professores que se baseiam muito em vídeo, então o aluno chegar em casa e falar assim: “Hoje eu tive vídeo.” E aí no outro dia chega em casa: “Hoje eu vi vídeo.” Aí no outro dia: “Vi vídeo.” Aí o pai pensa assim: “Poxa, ele vai para escola só para ver vídeo?” E aí a gente dá a abordagem do projeto dentro da escola, explica como a coisa funciona, e também utiliza com eles, a gente também utiliza com eles, e fazendo a mesma metodologia que é aplicada com os alunos, com eles, e ao final normalmente a gente faz uma dinâmica onde utiliza o vídeo, chega no nosso objetivo e chama a atenção: “É dessa forma que a gente também promove o debate dentro de sala com o filho de vocês quando eles assistem o vídeo.” E aí a coisa fica muito clara para eles, então eles percebem que eles gravam muito o conteúdo quando eles assistem parte da coisa audiovisual. Inclusive na nossa reunião agora, a última de responsáveis, nós usamos o do Hugo, para trabalhar a hierarquia, respeito às normas, grupo, exclusão do grupo, motivos de exclusão do grupo que são questões muito fortes na adolescência. Aquela questão da aceitação, do estar no grupo ou não estar, até que ponto é exclusão ou não é, e fizemos também uma dinâmica de parceria com eles: antes do vídeo pedimos que eles comessem bala abrindo a bala com uma mão só, com a outra mão para trás, pusemos dez pais e pedimos para eles abrirem a bala e comerem a bala com uma mão só, e sem usar a boca.
P/1– Para abrir a…
R – … Não pode usar a boca para abrir a bala, e não pode usar as duas mãos. E aí a importância da parceria, eu tinha que pedir ajuda para o meu colega ao lado: “Você me ajuda a abrir a minha e depois eu te ajudo a abrir a sua?” Para comer a bala, essa questão do compartilhar, que hoje em dia é tão difícil. Então a gente fez isso na última reunião com os pais, a gente tá sempre procurando abordar temas específicos, e sempre utilizando a parte o audiovisual também, porque é muito mais interessante você participar de uma reunião ao sábado de manhã, porque a gente trabalha o dia inteiro, só tem sábado para resolver suas questões, e só ouvir blá blá blá não, então a gente procura dar uma diversificada.
P/1 – E tem algum vídeo específico que os alunos gostem muito, comentem, que gerem muito debate nas atividades, você lembra de algum assim?
R – Não, eu não me lembro de nenhum específico, assim, da Discovery, eu não me lembro, assim, o dos vulcões já é uma coisa que eles já sabem que é fato, que o professor de Geografia vai usar, porque ela tem o hábito de construir o vulcão e botar ele em erupção. Inclusive na nossa outra mesa redonda esteve o vulcão presente lá, com dois alunos botando em erupção. Eles comentam esse e os pequenos, o ano passado, comentaram muito porque eles trabalharam muito animais, a cadeia dos animais na natureza, então nós tivemos inclusive presença dos animais domésticos na escola. Então esse foi um vídeo também que marcou bastante as crianças, que na época eram do segundo ano, hoje atual terceiro ano. Eles levaram peixe, cachorro, gato, fizeram uma combinação, porque eles vieram ao longo do bimestre estudando os vídeos da Discovery, vendo os peixes, os animais naturais, a diferença do selvagem para o doméstico, e isso foi sendo trabalhado.
P/1 – Legal. E Claudia, o que é que, as coisas que são importantes para você hoje, na sua vida, quais são?
R – Ah, é, a estabilidade que eu sempre quis, o conseguir dar conta dessa dinâmica toda que é estar dentro de uma escola, gerenciando todas essas questões junto com a direção, fazer as coisas acontecerem juntas, porque é tudo ao mesmo tempo, meu marido, meu filho, minha casa, descansar, me divertir e rir muito. Eu gosto.
P/1 – E assim, dentro desse projeto de Discovery você tem… Quais são as metas que você pretende com ele, tem alguma meta que você tá traçando?
R – É, agora a gente tá se preparando para esse encontro que vai ter, como eu disse antes, a gente tá já colhendo materiais para esse encontro, estamos em processo de desenvolvimento das telas, que são os vídeos da cultura indígena. A gente tá também com a professora de Geografia, pedindo que ela trabalhe com eles os problemas urbanos e busque com que eles produzam alguma coisa em stop motion. Então assim, a gente tá numa fase mesmo de colher material para esse encontro que nós vamos ter e produzir, produzir muito. O tempo todo.
P/1 – E você tem um sonho seu, da sua vida, assim?
R – Não, eu acho que o sonho que eu tenho é concluir tudo o que eu começo. Eu gosto de concluir. Mas assim, ah! O que vai ficando pelo meio do caminho com certeza eu vou retomar em algum momento para terminar, porque isso sempre foi uma característica, não gosto de deixar nada inacabado.
P/1 – Tem alguma coisa mais que eu não te perguntei que você acha importante registrar sobre esse projeto da Discovery, sobre você ou o você acha…
R – … Não, eu acho que o grupo é bem participativo, acho que todo mundo se empenha bastante, o pessoal vem sempre em escolas, eu acho que houve um crescimento de… O incentivo das pessoas usarem eu acho que a desmistificação dessa observação que é uma coisa que existe muito forte. Eu acho que tudo o que é experiência ela traz lados positivos. Eu acho que é isso.
P/1 – Por que você acha que tem alguns professores…
R – … Eles não gostam se serem observados, viu? É uma coisa da classe. Não gostam de ser observados. Só professores mais extrovertidos, isso porque se usa um pouco dessa característica para que você acolha uma pessoa estranha dentro da sua sala. Estranha entre aspas, porque a Renata já não é mais estranha, mas é uma resistência que existe.
P/1 – Não, resistência em usar os vídeos?
R – Não, de maneira alguma. Resistência na observação das… Acho que hoje não existe mais, tá, não existe mais, mas no início existiu. No início… Não na minha escola, nem tanto. Existiu assim, burlar a data. Que não deixa de ser isso numa forma educada. Mas tranquilamente, eu chego agora para os meus: “Oh, eu preciso de visualizações no dia tal. Você vai fazer?” “Ah tá, é, eu tava pensando em passar o vídeo tal, aí vamos passar nesse dia.” Né, então a coisa fluiu com naturalidade. Foi bem assim, tranquilo. Não precisou de imposição nenhuma, no início a gente fingia que não sabia que a data tava burlada e eu comecei a, ligava para Renata e mudava a data. Então assim, não marcava na data que tava no calendário, eles marcavam nas outras datas, aí tem que mudar para data como escola, aí ela vinha: “Você não vai ver o vídeo? Então, ela vai lá te ver.” E aí depois nem precisou, eu chegava com a data: “Oh, você vai dar o vídeo?” “Não.” “Você pode dar vídeo no dia tal?” “Deixa eu ver meu planejamento. Ah não, eu tenho que falar sobre esse assunto, tem um vídeo legal que eu posso usar, então eu vou dar, marca o meu nome aí.” E aí eu comecei a fazer dessa forma, mas foi muito tranquilo, muito natural. A equipe lá da escola não é muito resistente, não, ela aceita. Assim, com jeitinho a coisa vai. Tranquilo.
P/1 – Tá bom, então.
R – Tá bom?
P/1 – Então é isso. Como foi para você contar a sua história aqui?
R – Ah, tranquilo. Tranquilo.
P/1 – Então é isso, obrigada pelo seu depoimento.
R – Nada.
--- FIM DA ENTREVISTA ---
Recolher