Projeto Conte Sua História: Morte, Vida e Fé
Entrevista de Agnaldo Veríssimo de Carvalho (Aryel)
Entrevistado por Luiza Gallo (P/1) e Bruna Oliveira (P/2)
São Paulo, dia 11 de fevereiro de 2025
Código: PCSH_HV1441
Revisão: Nataniel Torres
P/1 - Queria que você começasse se apresentando, dizendo o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R - Legal. Então, eu sou Agnaldo Veríssimo de Carvalho, mas eu uso o nome de Aryel Veríssimo. Esse nome, quando eu fui para a Índia, eu sou formado em Kriya Yoga também. Aí eu tinha que ter um nome indiano, mas eu não quis. Não me identifiquei. E aí eu lembrei que tinha um anjo da guarda que se chamava Aryel. E é um nome masculino e feminino dependendo do lugar, dependendo das pessoas. E aí eu resolvi que fosse Aryel. Aí eu vim pro Brasil e tal. E eu fui fazer um programa de rádio na Rádio Mundial há muitos anos. No final dos anos... Em meados dos anos 90. E aí tinha que ter um nome. E aí eu usei o nome de Aryel. Fiz dez programas. Depois eu saí da rádio. E muita gente me conhece como Aryel. E eu, enquanto numerólogo, eu fiz a numerologia dos dois e a numerologia é a mesma. É exatamente a mesma. Aí algumas pessoas me chamam de Aryel, outras me chamam de Agnaldo, normalmente de Gui, mas chegou um tempo em que a identificação foi tão grande que quando chamam Aryel eu respondo, e às vezes, quando se chama Guinaldo, eu não respondo. Mas às vezes eu respondo, depende. Se me chamar de Gui, eu ainda respondo. Aí um dia uma advogada falou pra mim assim, uma cliente minha, ela falou, vamos mudar, eu faço isso, eu mudo o teu nome. Aí eu não quis por conta da minha mãe, do meu pai. Eu não quis mudar, mas ficou. Eu tenho até um cartão de crédito com o nome de Aryel. Um dia eu botei ali, assim, sabe o que você vai preencher? Aí o cartão veio com o Aryel, eu falei, “nossa!”. E tá lá o cartão, ainda não desbloqueei, tá lá, né, e tal. Então, assim, e aí eu resolvi usar esse...
Continuar leituraProjeto Conte Sua História: Morte, Vida e Fé
Entrevista de Agnaldo Veríssimo de Carvalho (Aryel)
Entrevistado por Luiza Gallo (P/1) e Bruna Oliveira (P/2)
São Paulo, dia 11 de fevereiro de 2025
Código: PCSH_HV1441
Revisão: Nataniel Torres
P/1 - Queria que você começasse se apresentando, dizendo o seu nome completo, a data e o local de nascimento.
R - Legal. Então, eu sou Agnaldo Veríssimo de Carvalho, mas eu uso o nome de Aryel Veríssimo. Esse nome, quando eu fui para a Índia, eu sou formado em Kriya Yoga também. Aí eu tinha que ter um nome indiano, mas eu não quis. Não me identifiquei. E aí eu lembrei que tinha um anjo da guarda que se chamava Aryel. E é um nome masculino e feminino dependendo do lugar, dependendo das pessoas. E aí eu resolvi que fosse Aryel. Aí eu vim pro Brasil e tal. E eu fui fazer um programa de rádio na Rádio Mundial há muitos anos. No final dos anos... Em meados dos anos 90. E aí tinha que ter um nome. E aí eu usei o nome de Aryel. Fiz dez programas. Depois eu saí da rádio. E muita gente me conhece como Aryel. E eu, enquanto numerólogo, eu fiz a numerologia dos dois e a numerologia é a mesma. É exatamente a mesma. Aí algumas pessoas me chamam de Aryel, outras me chamam de Agnaldo, normalmente de Gui, mas chegou um tempo em que a identificação foi tão grande que quando chamam Aryel eu respondo, e às vezes, quando se chama Guinaldo, eu não respondo. Mas às vezes eu respondo, depende. Se me chamar de Gui, eu ainda respondo. Aí um dia uma advogada falou pra mim assim, uma cliente minha, ela falou, vamos mudar, eu faço isso, eu mudo o teu nome. Aí eu não quis por conta da minha mãe, do meu pai. Eu não quis mudar, mas ficou. Eu tenho até um cartão de crédito com o nome de Aryel. Um dia eu botei ali, assim, sabe o que você vai preencher? Aí o cartão veio com o Aryel, eu falei, “nossa!”. E tá lá o cartão, ainda não desbloqueei, tá lá, né, e tal. Então, assim, e aí eu resolvi usar esse nome, Aryel, que eu acho que é um nome que... Eu acho que eu já tive esse nome numa outra encarnação também. Porque, na verdade, quem sugeriu esse nome foi um argentino. Eu tive um amigo médico que veio da Argentina, que morou na minha casa um tempo, e ele sempre falava, usa Aryel, usa Aryel. E quando eu fui para a Índia, o Aryel ficou. E depois eu fui descobrir que o Aryel era um anjo da guarda e era um anjo que protege as pessoas de coisas que podem vir a acontecer antes do tempo. E o meu trabalho, muitas vezes, ele previne as pessoas de algumas coisas, sabe? E eu achei conivente e falei: “então vai ser”. E ficou. E aí algumas pessoas me chamavam de Aryel, as pessoas que me conheceu como Aryel e tal, e ficou. Aí quando eu comecei a fazer programa de rádio agora, que eu faço um programa na web, na paranormal.plus, eu faço um programa de rádio que é domingo e quarta, repete na quarta, né? E aí ficou Aryel, Aryel Veríssimo. Durante um tempo eu usei Aryel Carvalho também. Mas Aryel Carvalho, ele era até mais legal numerologicamente. Mas o Aryel Veríssimo, todo mundo gosta, todo mundo coloca. Aí eu fiz um baralho com uma artista plástica e ela estruturou todo o baralho pra mim, desenhou do jeito que eu queria. E na hora de fazer ia ser Aryel Carvalho. E ela vai e coloca Aryel Veríssimo. Eu falei, então tem uma mensagem aí do universo. O que que eu preciso aprender? Porque quando você coloca o nome inteiro, dá uma vibração. Quando você diminui, então se fosse Aryel Veríssimo de Carvalho, é o mesmo nome de Agnaldo Veríssimo de Carvalho. Se fosse Aryel Carvalho, Aryel Veríssimo, dá uma diferença. Um busca uma coisa, outro busca outra. E aí eu falei, “o que que eu tenho que aprender com Aryel Veríssimo?”. E aí ficou. E tá sendo muito interessante porque eu tô percebendo que eu tô me identificando muito com esse nome e tá acontecendo mudanças no meu comportamento naturalmente. Eu tô deixando de ter algumas dificuldades com algumas coisas. Eu era uma pessoa extremamente tímida. Assim, quando vai no meu consultório, que eu faço conta dele, ou quando eu vou até você. Eu sentei ali. Então, eu tenho uma faxineira que ela tá comigo há 25 anos. Agora ela se aposentou, mas ainda tá na entressafra. Ficar e sair, né? Ela não quer ir embora, eu não sei se eu quero que ela vá e tá meio assim. E ela sempre fala, quando você entra no seu quarto de atendimento, vira outra pessoa. Embora eu não receba nem identidade, tudo é meu trabalho, né? Tudo é meu trabalho. Então, aí ela fez o... E ficou. E aí eu fiquei perguntando, o que que eu tenho que aprender com Aryel Veríssimo? Ele traz harmonia. Então eu tinha timidez, assim, pra falar e tal. E do nada, eu comecei a fazer isso, e gravar, fazer coisas e tal. E eu sou muito... Eu não faço pauta, eu vou e falo. Eu sei o que eu tenho que fazer, vou lá e não fico escrito, não fico criando coisas. Que nem amanhã eu vou fazer um podcast com uma amiga que é minha amiga há mais de 30 anos também e ela é uma terapeuta que mora em Portugal e ela tá no Brasil, até tava com ela agora. E ela é uma ótima consteladora, ela é uma ótima profissional e tal, e ela vai fazer um podcast. Hoje a gente saiu, almoçou e tal, mas ela falou: “como que a gente vai fazer?” Falei: “deixa rolar, deixa rolar. Só me fala o que você não quer falar e eu não vou entrar nesse assunto e tá tudo bem”. E as coisas fluem naturalmente assim.
P/1 - E Aryel, como era sua infância? Que recordações você tem?
R - Então, era muito tumultuada, porque eu era uma criança diferente, diferente no sentido de que ninguém chegou para mim e falou assim, “você tem que ser espírita, você tem que ser evangélico, você tem que ser católico”. Então, uma parte da minha família era evangélica, outra parte católica, a minha mãe. E eu era uma criança que falava com espírito, que brincava com o amiguinho original. Eu morava no fundo da casa da minha avó e tal. E algumas pessoas da família falavam, “esse menino é louco, esse menino é doido, esse menino não sei o que, leva no médico, leva no médico, leva no médico”. Um belo dia minha mãe levou no médico. E voltou no médico, e voltou no médico, e voltou no médico. O que que aconteceu? Um dia o médico virou médico. Assim, naquela época, o médico era mais conservador que hoje. Hoje eu acho que os médicos estão muito voltados à espiritualidade, dada a quantidade de médicos que eu atendo, né? Que eu acho ótimo, inclusive. E o médico virou pra mim um dia, pra minha mãe, e falou assim, “ó mãe, seu filho não tem nada. Seu filho é espírita, ou médium”. Eu falei: “é doutor”. Aí ela pegou um caminhão, pegou as coisas e mudou do quintal da minha avó na casa que ela estava construindo, que não tinha nem o telhado direito. Então eu lembro que eu devia ter sete anos, seis para sete anos, a gente mudando. Eu lembro daquele caminhão e a minha mãe me protegendo. Meu pai, ele meio que não me aceitava muito bem. Havia um problema cármico e tal. Se você pegar fotos minhas com o meu pai, eu sempre chorando, eu sempre recusando, ele também, era uma relação meio tóxica assim. E meu pai, naquela época, ele tinha problemas com alcoolismo, enfim. E minha mãe é uma pessoa, um ser humano iluminado. E minha mãe trabalhava, trabalhava na Telefônica. Então, ela trabalhava meio período de manhã, mas ela trabalhava sábado e domingo. E meu pai... Ele meio que me prendia para eu não brincar, para eu não colocar, porque eu acho que ele tinha medo de quem eu era, medo do que as pessoas fossem fazer, e não me aceitava tão bem. Não sei se era uma questão de não amar. Era uma pessoa antiga, vamos dizer assim, né? Ele nasceu em 1933, então era uma coisa mais antiga. E eu sofri muito nesse período. E era uma época assim que sexualidade era muito difícil, a aceitação das pessoas era muito difícil, eu sofria muito bullying no caminho da escola, e eu sofria tanto bullying e eu era miudinho, magrinho, e os meninos mais malvados queriam me bater, aquela coisa, roubar meu lápis, abusar, enfim. E eu logo me tornei amigo dos professores, eu logo comecei a ser importante para a escola, porque eu fazia o jornalzinho da escola com 9, 10 anos. Eu participava do centro cívico do colégio. E os trombadinhas do colégio, aqueles menininhos mais malvados, eles começaram a perceber que eu tinha uma influência com os professores. E eu inconscientemente, hoje olhando, nessa altura eu entendo que era um instinto inconsciente meu de defesa. Eu lembro que esses meninos começaram até a carregar meus livros, tipo assim. E nessa eu consegui entender que eu tinha que desenvolver a minha inteligência. E nessa fase foi quando o baralho pintou. Eu tinha uns nove anos e eu gostava de ler. Eu comecei a aprender a ler com seis para sete anos. E eu adorava ler revistas, gibi e tudo. E em um belo dia, eu tinha que andar uns dois quarteirões, eram uns 15 minutos a pé, pra chegar numa banca de jornal. E eu fiquei amigo da dona da banca de jornal, que era uma senhora que naquela época devia ter uns 50 anos, chamava Linda. E ela se vestia com umas roupas que na época não era comum, diferente, eram umas roupas assim meio ciganas, sabe? E eu achava aquela mulher um espetáculo. E eu logo fiz amizade com ela e ela meio que me adotou ali. E eu passava as tardes ali com ela. E ela era meio... Eu achava ela meio cigana. Ela usava uns brincos que não era muito comum. Naquela época, muita cor assim não era tão comum. Roxo era uma coisa esquisita que ninguém usava. E ela usava aquelas coisas, eu achava... E eu ficava fascinado com aquilo. E comecei a ficar amigo dela, ia lá e ela começou a me emprestar os gibis, as coisas, eu levava, eu lia, trazia de volta. E fomos ficando amigos. Um belo dia apareceu um senhor lá e ele era muito, tinha uma fisionomia muito estranha, era bem moreno, não chegava a ser negro. Um homem muito interessante, ele tinha as costas um pouco curvadas, usava uns casacos meio escuros. Eu tinha uma atração e um medo dele pelo que ele representava enquanto criança. E ele fazia um lance muito louco. Ele pegava uma folha, olhava para a pessoa, riscava e parava. Aí ele falava a vida da pessoa e era fantástico, era batata. Eu fiquei enlouquecido vendo aquilo.
P/1 - Você se lembra?
R - Muito, muito. Isso não sai da minha memória. E aí, um belo dia, a Linda começou a aprender o baralho cigano com ele. E eu passava lá as tardes e eu ficava lendo as aulas dele, o que ele falava e tal. E passou. Há um belo dia, eu sei que a Linda tinha um marido muito autoritário e naquela época, as mulheres ainda eram muito submissas pros homens. E ela trabalhava, e hoje eu entendo que ela fazia questão de ter a banca, que era o momento de respiro dela. E o apego que ela teve por mim é porque ela viu em mim uma carência que provavelmente ela tinha também. Embora eu não tivesse carência de mãe. Um belo dia eu chego lá e ela estava muito triste. Ela falou assim, “meu marido foi transferido”, acho que ele era da polícia, da marinha, uma coisa assim, “e a gente vai mudar pro interior”. Eu falei: “nossa! Quando?”. Ela: “amanhã. Eu já vendi a banca, eu tenho que ir embora”. Ela ficou chocada, eu fiquei chocado. Foi um trauma para mim. Daí ela virou, ela falou assim: “mas não se preocupe, você vai ser muito feliz, você é um menino inteligente”, e me deu o baralho, e eu guardei, ficou ali, e depois eu comecei a brincar com o baralho.
P/1 - Mas você falou que foi uma experiência de luto.
R - Sim, uma experiência de luto. Eu não sei quanto tempo eu vivi o luto, mas foi uma grande perda que eu tive.
P/1 - Você acha que foi a primeira?
R - Eu acho que foi a primeira, e logo depois, eu tive uma outra perda, que eram os vizinhos que eu gostava muito. Um belo dia, eles encostaram o caminhão e foram embora para Taubaté. E lembro de eu criança, com 10 anos, por aí, e vendo eles ir embora, assim, e eram pessoas que eu gostava, porque eles me aceitavam muito bem. E ali na rua eu já não tinha mais tanta gente que tinha compreensão pra minha liberdade, pra minha independência. Só pra você ter uma noção, vou te falar uma coisa, uma história do meu pai pra você entender. Naquela época eu não tinha divórcio ainda, tinha desquite. Só que a mulher desquitada era malquista, vamos dizer assim. Então, o que que acontecia? Os homens falavam o seguinte, “ah, ela não cozinhava direito, ela não cuidava do marido, ela não passava, ela não fazia isso e tal”. E eu lembro do meu pai com os homens falando e detonando com uma vizinha que era desquitada. E eu virei para o meu pai e falei: “mas pai, quem não presta é ele. Ela é maravilhosa”. Meu pai olhou e falou assim: “cala a boca, moleque. Você não sabe do que você tá falando”. Ali foi uma coisa muito forte pra mim. E isso era natural naquela época. Não tinha o politicamente correto de hoje. As piadas eram normais. Você vivia num mundo e você tinha que se esconder. Principalmente quando você era uma classe mais pobre. Eu tinha casa, eu morava num bairro, eu tinha tudo. Mas não era uma classe média... Não faltava o básico, mas não tinha tudo. E eu era muito batalhador. Eu trabalhava, eu fazia bico, eu fazia isso. Sempre me virei em tudo. E aí, um belo dia, eu comecei a trabalhar na TELESP. Entrei lá com 17 anos.
P/1 - Antes disso, você quer continuar só para encerrar a história com a Linda e o baralho?
R - Aí, o que aconteceu com a Linda? Ela foi embora, eu vivi o luto... E nunca mais eu soube dela. Nunca mais eu passei... Assim, hoje, eu tô com 61 anos, vou fazer 62. Então isso faz mais de 50 anos. Ela provavelmente já fez a passagem. Nunca mais eu tive nenhuma notícia dela. Não sei, eu não lembro o neto dela. Isso não... Uma criança não lembra. Eu sou uma pessoa espírita. Eu faço minhas orações. Eu lembro dela hoje, ela parou naquela idade, naquele estilo, naquele lugar. E hoje quando eu passo no lugar onde ela ficava, não existe mais essa banca de jornal. Mas existe uma reverência pra ela. Eu ainda tenho esse carinho, esse afeto. Vai ficar sempre na memória o que aconteceu com ela. Lembro muito do Caio Fernando Abreu que escreveu um livro que fala sobre isso. Então é isso. É uma história que não dói, mas é uma história que talvez um dia, quando eu fizer a minha passagem, quando eu estiver no plano espiritual, eu consiga encontrar e entender o motivo dela ter passado na minha vida também. Ela foi uma pessoa importante.
P/1 - E seus pais sabiam que você passava a tarde com ela?
R - Eu acredito que sim. Isso nunca é uma coisa clara. Não é uma coisa clara pra mim, porque meu pai, ele fazia as coisas dele, ele trabalhava, a gente ficava em casa naquela época, criança brincava na rua. Então criança era solta, eu podia andar e tal, desde que você chegasse na hora, você tinha que entrar, você tinha que estar em casa. Tinha esse processo. Então, eu lembro que eu era uma pessoa, eu gostava de andar, eu andava no bairro, eu caminhava. Eu lembro que eu escrevi um conto, de uma casa, uma casa linda, que eu achava linda assim. E eu ficava imaginando quem morava lá, o que eles faziam. Isso com 11, 12 anos de idade. E eu lembro que quando eu passo, a casa não existe mais, mas a lembrança existe. Era um tempo de ditadura e tal, e era muito complicado no colégio. Eu lembro que a polícia parava na rua e te humilhava por conta de nada. Essa história é muito engraçada. Um dia eu tava entrando na rua e esse vizinho... Ele era vizinho assim, ele morava umas duas quadras de mim, mas ele me conhecia. Me conhecia de colocar. E ele me intimidou, ele parou, eu tava entrando na minha rua, ele parou, me encostou na parede, fez toda aquela palhaçada que pode fazer, me humilhou e passou. Anos depois, eu tô na minha casa e tal, e aí quem aparece? Essa pessoa. Aí eu olhei, recebi ele no meu quarto de atendimento, fiz o melhor atendimento que eu pude, não toquei nesse assunto, não toquei nesse assunto, mas um olhar dele, pra mim soou como um pedido de desculpa. Pra mim soou, talvez porque ele tivesse encontrado algumas respostas que ele precisava e talvez que ele tivesse falado coisas que, de alguma forma, tocou a alma dele. E aquilo, para mim, foi uma interpretação também. Libertação é essa sensação de você ser parado, sem culpa de nada, sem ter feito nada errado e ser machucado pela suposição de alguém só pra mostrar poder. Naquele momento, a polícia tinha muito poder na rua. Tinha rota, tinha... Eram uns fusquinhas assim. E a gente se intimidava mesmo. Porque eles passeiam na periferia com abordagem que eles não faziam em bairros mais nobres. Então você tinha um certo receio do que podia acontecer. E a gente sabia de histórias, então a gente tinha muito medo. Eu lembro disso, quando ele apareceu e tal, depois ele acabou ficando meu amigo, inclusive. Ele ficou meu amigo, eu não fiquei amigo dele, mas eu não tenho nada contra ele. Mas eu não falaria a minha vida pra uma pessoa que eu não sei se só me procurou por conta da dor que tava passando. Mas foi isso.
P/1 - A fé entra na sua vida desde cedo?
R - A fé me salvou.
P/1 - Conta um pouquinho.
R - Então, eu lembro uma época em que eu não tinha para quem falar, eu não tinha para quem dizer as coisas que eu sentia. Eu tinha um lance com a espiritualidade, eu tinha um lance com a vida, eu queria ser ator também. Aí eu comecei a estudar teatro na EAD, depois eu parei. Eu acabei saindo porque eu vi coisas que eu não gostei. E aí eu fui para vários centros de Umbanda. Quando eu era criança, minha mãe gostava. A gente ia num centro maravilhoso e tinha uma preta velha que chamava Vó Maria Joana. E eu ia lá para saber se eu ia passar de ano, essas coisas. E era maravilhoso. E a primeira vez, eu lembro que a minha mãe e minha vizinha foram no centro e deixaram a gente na minha casa. Ficou eu e os vizinhos brincando, todos crianças. E eu tinha uma certa vidência e a minha vizinha, a Sueli, também tinha. Em um belo determinado momento, a minha mãe virou, ou a Dona Nilde, que era vizinha, falou, “ah, será que as crianças estão bem?”. A preta velha falou: “vou olhar”. E tinha uma janela, ela olhou, ela apareceu a preta velha na janela, a vó Maria Joana, ela olhou assim, eu e a Sueli vimos, as outras crianças não viram. A gente viu ela certinho. Ela voltou e falou pra minha mãe, e falou para a dona Nilde também que a gente estava bem. E aí quando a minha mãe chegou, minha mãe estava fazendo um café, minha mãe fazia um bolo de fubá muito bom, ela tinha feito um bolo de fubá. E eu sentei na mesa da cozinha para comer o bolo e minha mãe falou. “Ah, eu sabia que vocês estavam bem, porque a vó Maria Joana falou”. Eu olhei e falei: “mas eu vi ela. Eu a vi”. Aí a minha mãe ficou assim, sabe? Tem uma outra história também que é muito interessante. Eu e meu irmão, a gente sempre teve alguma rixa. A gente sempre brigava, discutia, batia boca, enfim. Meu irmão tinha muita dificuldade às vezes de me aceitar. Mas ele gostava de mim do jeito dele, enfim. E a gente brincava com o japonesinho. E naquela época as ruas eram de terra. E os postes estavam deitados no chão, os postes de cimento, para colocar, para instalar a luz. Quando a gente mudou para o bairro não tinha luz elétrica ainda. Estava instalando. Na minha rua já tinha e algumas ruas na frente não tinham, porque era um bairro novo. E tinha duas ruas que desciam assim. E a casa do japonês era entre as duas ruas. E a gente ficava brincando lá. Na verdade, eu ia lá porque a mãe dele tinha muitas revistas e eu não queria brincar com japonês, eu queria ler as revistas. E ele não queria deixar, porque era da mãe dele, ele não podia mexer, mas eu sempre dava um jeito de ver. E aí meu irmão brigou comigo por conta disso. E ele veio por uma rua e eu vim pela outra. E aí eu encontrei um senhor e comecei, sentei no poste e fiquei horas falando com esse senhor. E aí todo mundo procurando, me procurando, me procurando, começou a escurecer. Aí, de repente, eu levanto e vou nessa direção. Minha mãe: “meu filho, onde você estava?”. Eu falei: “eu estava aqui conversando com esse senhor”. “Que senhor?”. Aí eu falei: “é um senhor, assim, assim, assim, fiz a descrição”. Minha mãe falou, “era o meu avô” e o avô dela falecido. E ele, acho que chamava Joaquim. E ele me contou toda a minha vida. E eu só lembro à medida que vai acontecendo. Então, eu comecei a ter fé muito por esses acontecimentos. Mas não é fé exatamente numa religião. Eu procurei várias religiões, mas eu nunca me identifiquei 100% com nenhuma. Então, se você perguntar qual é a sua religião, eu posso te dizer que sou budista, kardecista, messiânico, umbandista. Eu fui para Paris e eu fui naquele cemitério dos famosos, onde está enterrado Allan Kardec. Por quê? E eu fui com uma amiga, essa minha amiga de Portugal, ela foi comigo me acompanhar e chegou lá, eu agradeci, porque eu não sou kardecista praticante, mas todo o ensinamento do Kardec, muitos deles eu utilizo. E eu fui agradecer, eu chorei, eu me emociono, porque eu sou muito sensível. Minha amiga, que não tem essa religião, ela é russa ortodoxa, ela se emocionou também. Enfim, então a espiritualidade para mim é muito natural. A espiritualidade é natural, mas quando eu era criança eu tinha um lance de ficar olhando para as estrelas, adorava. Naquela época, São Paulo era muito menos poluído que hoje. Eu lembro que eu botava uma toalha no gramado assim na frente da minha casa e ficava olhando para o céu. Às vezes eu até dormia ali. Minha mãe até brigava comigo, mas eu adorava olhar as estrelas. E eu mentalmente, eu conversava com algum lugar como se eu tivesse vindo de lá, mas eu nunca exatamente soube. E eu acreditava nessa inteligência. Depois eu fui entender que o Deus que eu acredito é uma inteligência muito forte. Então, de uma certa forma, eu sempre me conectei com o espaço. Então, eu acredito numa inteligência muito forte que você pode chamar de Buda, de Deus, daquilo que tu quiser, mas pra mim, tanto que a minha postura ética tá muito à noite eu sempre pergunto, eu fui útil hoje? Eu fui legal? Por que eu tenho raiva disso? Por que eu tenho isso? Como eu sofri horrores de preconceitos, eu acabei desenvolvendo uma baixa (auto)estima durante muito tempo. Hoje, eu diria que essa baixa estima acabou porque eu não estou mais preocupado com o que pensam a meu respeito. Você entende? Pode pensar o que quiser. Eu tenho algumas tias que são um pouco preconceituosas. Ela é meio evangélica, então ela foi na minha casa. Daí ela fica olhando assim pra tudo, né? Porque a minha casa tem muito mandala, tem muita imagem, é muito colorida. Enfim, agora menos, eu dei uma diluída. E aí ela olhou pra um livro de numerologia e tava escrito assim: “numerologia ao alcance de todos”. Um dos primeiros livros que eu tive, que tem uns números assim. Ela olhou, olhou, daí ela virou e falou assim: “é coisa do diabo?”. Eu olhei e falei: “é. Ele me emprestou, preciso devolver. Quer um chá, tia?”. Ali eu percebi que não me importava mais, que eu respeitava ela, que eu não queria... Mas o humor me salvou de mim mesmo. De sofrer, de me sentir diminuído. Porque todo mundo quer a aceitação da família, mas eu sou diferente. Mas não é porque eu sou melhor, não é porque eu sou pior, não é porque o outro é melhor. Isso não existe. O que existe são pessoas. E a espiritualidade, ela tá nisso. Eu ainda procuro entender de onde a gente veio, pra onde a gente vai. Isso é que me move. Então a fé, ela me move profundamente, o tempo inteiro. Cada pessoa que eu atendo... Eu tenho muita facilidade em perceber a pessoa quando eu faço numerologia, quando eu vou pro... Sabe, às vezes as pessoas, elas entram em mim, me cumprimentam como se eu fosse muito íntimo dela, e às vezes eu não tenho essa intimidade, mas eu tenho respeito por essa coisa que, vamos dizer assim, de uma certa forma, eu conquistei, não eu em si, mas eu enquanto instrumento da minha fé. Porque eu sou uma pessoa que eu não sou católico, por exemplo, né? Já fui, fui batizado por uma questão de família, mas eu acredito nos santos porque eu acho que eles são bons espíritos. Então eu acredito profundamente nele. Assim como eu acredito num caboclo e tal. Então onde tiver luz, se tiver um caboclo na pracinha ali dando passe, eu entro, se eu achar legal, eu entro na fila. Eu gosto muito do Johrei. E o Johrei é da messiânica, então eu costumo ir tomar Johrei num determinado lugar que eles aplicam Johrei. Aí quando eles começam a me chamar pra salinha, pra que eu seja messiânico, aí eu saio de lá e vou pro outro. Aí quando o outro vai nessa mesma pegada, eu volto pra aquele. Agora eu parei assim porque eu tô numa fase que eu tô mais autolimpante, tô me sentindo legal. Com essa transição da Terra espiritual, eu tô num entendimento profundo do que a gente tem que entender, porque a Terra, ela tá passando por uma fase de pré-evolução. Então a gente tá num momento de pré-evolução. E nós somos muito sortudos de estar aqui. A gente nasceu no século passado. A gente está nesse século vendo todo o movimento que está acontecendo. As crianças que vão começar a nascer vão vir de um planeta muito, muito, muito evoluído. Vão vir para ajudar a Terra a evoluir. As pessoas que não se adaptam à Terra. E muita gente que não se adapta, que não quer evoluir, por isso que está esse conflito político, econômico, social, espiritual, eles vão nascer em um planeta chamado Quíron. E a Terra vai levar muito tempo para essa transição, pelo menos uns 50 anos, pelo menos uns 30 anos. Então a minha função de fé, isso é uma fé, eu acredito muito nesse pensamento, eu acredito muito que quanto mais a gente iluminar a vida do outro, se você melhora uma pessoa, se você melhora a outra, você melhora o planeta. Você tem empatia pelo outro? É importantíssimo hoje. E isso está em falta. O capitalismo tomou conta de tal maneira. É muito interessante. No Chile, por exemplo, as pessoas que são ricas, elas nem sempre são conceituadas. Por quê? Se você é chileno e você tem uma vinícola no fundo da tua casa, você é rico. Quem tem dinheiro, não. Porque eles valorizam quem tem uma vinícola. Por quê? Porque no Chile, o vinho é o alimento deles. É a maior renda que eles têm através do vinho.
P/1 - Vou te ouvindo e vou entendendo que a fé tem a ver com uma busca por entender, questionamentos e ajudar o outro. Isso tem alguma relação com a sua profissão? Terapeuta holístico?
R - Tem. O terapeuta holístico é todo aquele que trabalha com astrologia, com numerologia, com baralho, com tudo isso. Mas o terapeuta holístico, às vezes, consegue ter um diagnóstico, não é de curar o outro, mas de diluir um pouco a dor do outro. Por exemplo, na numerologia, muitas pessoas que eu atendo há muitos anos, elas tinham muita dificuldade de comunicação, por exemplo. À medida que eu ensino elas a colocar o número 7 na assinatura e elas começam a vibrar o 7, e eu já faço isso há muito tempo, eu percebo claramente a evolução dessas pessoas e a comunicação delas se abrindo para o mundo. Então, isso é uma forma de ser um instrumento de ajuda. É uma forma de ter fé naquilo que eu estou passando. Então, a fé, para mim, é tudo aquilo que alivia a dor do outro, tudo aquilo que cura, tudo aquilo que faz o outro acreditar. Eu tenho uma sensibilidade que, às vezes, numa mesma consulta, eu falo dez vezes pra pessoa, como você é bonita, porque eu sei que, além dela ser bonita e ela não acreditar, essa frase vai ecoar junto com o que eu tô passando pra ela. Porque as minhas consultas, elas estão ligadas à psicologia, elas estão ligadas à adivinhação, mas elas estão muito ligadas... Porque você existe porque pensa, você pensa porque existe, você é resultado do pensamento. E você tem o livre-arbítrio, você entende? Então, eu nunca digo pra pessoa, “é isso, isso, isso”. Eu sempre digo pra pessoa, “você tem essa escolha, essa escolha, essa escolha”. Eu nunca, não é nem que eu não direcione, mas assim, eu mostro as várias opções que ela tem e eu não digo, você tem que ser assim, “você tem que fazer isso, senão vai acontecer isso”. A não ser em casos extremos, que eu vejo que vai acontecer e a minha intuição tá berrando aí... Aí eu pago para ver. Tem situações que eu arrisco. Mas 90% dos casos são escolhas que a pessoa tem que fazer. São escolhas que a pessoa precisa fazer. E aí eu mostro qual é o caminho. E isso, quando a pessoa escuta, ela toma uma das três piores direções, vamos dizer assim. Daqui um tempo ela volta, ela fala, “poxa, você me falou e tal”. E eu percebo que ela escuta melhor o que eu vou dizer. Porque como eu faço isso há 35 anos. Eu nunca botei um anúncio no jornal, nada. Então é tudo, eu tô atendendo os netos dos primeiros. E é tudo que vem de família. Então isso eu acho que traz uma certa credibilidade e também me ajuda a ter respeito de mim por mim mesmo, de acreditar. Mas eu não tenho essa vaidade de querer ter razão. Mas ainda hoje, a primeira vez que eu atendo uma pessoa, pra mim é mágico, porque eu não tô influenciado por nada. Quando você é indicada por alguém, a única coisa que eu pergunto pra você assim, ela me manda no WhatsApp pra marcar tal, eu pergunto “quem te indicou?”. Eu só quero saber quem indicou por uma questão de ética… Que pode acontecer, já aconteceu. Então, tiro isso. A pessoa, “ah, é porque…”. “Eu não quero saber. Fica quieta”. Eu gosto de falar sem estar influenciado, porque a primeira impressão que eu tiver de você é a que está valendo, porque eu não estou influenciado. E isso causa um efeito, tanto para mim, quanto para outra pessoa que está me escutando. E isso eu adoro fazer. Eu curto fazer. Então quando eu falo ajudar, é ajudar a pessoa a refletir, ajudar a pessoa a entender que existe uma coisa chamada livre-arbítrio. E a vida foi me mostrando isso através de ensinamentos. Por exemplo, eu li um livro que chama... Um dia eu queria entender, mas será que você pode mudar teu destino? Será que se você nasceu para casar com o João, você pode casar com o Pedro? E aí eu queria essa resposta. Aí a vida me mandou um livro espírita, chamado “Amai os Inimigos", do Antônio Carlos, com psicografia de Vera Lúcia Mairinque Carvalho. E esse livro conta a história de Noel, que era um cara muito rico, tinha uma empresa, casou com uma moça, ele namorava uma moça chamada Luciana, apareceu uma outra moça, Lara, seduziu o Noel, casou com ele, teve um filho com ele. Num determinado momento, essa Lara foi tirar o carro da garagem sem querer, o filho estava embaixo, ela não viu, ele acabou morrendo. O Noel ficou em crise, largou a empresa na mão do melhor funcionário dele e foi morar numa ilha de pescadores sozinho, se separou da Lara, traumatizado, se espiritualizou. Aí passou uns anos e ele resolveu voltar. Quando ele voltou, ele encontrou a Lara casada com o tal de Carlos, que depois ele foi descobrir que era um irmão bastardo dele e a Lara teve mais dois filhos. Em um determinado momento, o Noel viu o Carlos e os filhos do Carlos tendo problemas no mar e entrou no mar para salvar as crianças e salvar o Carlos, que ele estava se afogando. Ele conseguiu salvar as crianças, mas ele morreu. Quando ele morreu, ele chegou no plano espiritual e ele encontrou o filho que ele tinha perdido e o filho e os pais dele receberam ele muito bem no plano espiritual. E eles ficaram ali, tendo uma relação bacana. Em um determinado momento, o filho chegou e falou para o pai que ele ia voltar, que ele ia reencarnar. Ele falou: “mas já?”. Ele falou: “é”. “Mas você vai reencarnar como?” Ele falou: “é porque na verdade era para eu ser seu filho com a Luciana, mas como você usou o seu livre-arbítrio, e se deixou corromper pela Clara, agora eu vou voltar para cumprir a minha missão”. E a Luciana, isso eu não tinha contado, ela tinha casado com o cara que ficou no lugar dele cuidando da empresa. E aí eu entendi essa compreensão, foi logo que eu pensei, veio. Então as respostas espirituais, elas sempre vêm através de um livro, através de um ensinamento, através de uma situação, porque eu tive muita sorte. Eu conheci uma senhora quando eu tinha vinte e poucos anos, ela tinha sido filha de escravos, ou neta de escravos, eu não lembro. E ela era uma preta velha de oitenta e poucos anos e ela adorava a minha leitura de carta. E ela tinha sido mãe de santo durante 50 anos e ela largou e foi para o Mahikari, foi fazer uma outra coisa porque ela já tinha cumprido a missão, mas ela adorava. Tanto que quando ela faleceu, os netos dela me deram os livros antigos dela, me deram quadros que ela tinha. Eu tenho um de Saint Germain maravilhoso numa parede que ela deixou para mim e eu ajudei a espalhar as cinzas dela no horto florestal. E ela me tratava com muito amor, com muita reverência e tal. E eu me sentia muito assim. Eu sempre ia na casa dela, porque ela já estava velhinha. E foi uma relação muito bonita. Eu tenho uma foto dela guardada. Ela era muito especial, muito especial. E ela me ensinou simpatias, algumas coisas que são de família, e coisas que ao longo da vida eu ensinei para outras pessoas, eu fiz para outras pessoas, que funcionou para a vida das pessoas, que abriu portas ou através do pensamento da pessoa, através da fé da pessoa, mas funcionou. E para mim, se um pai está desempregado e tem três filhos, subir no pé de coqueiro resolve? Resolve, a gente sobe, não tem problema. A fé é uma coisa que você pode praticar da forma como você quiser. Então eu não tenho o menor problema com a fé. Eu sou uma pessoa extremamente de fé. Agora eu não falo muito de religião porque eu tenho as minhas vírgulas e meus pontos e eu não estou aqui para julgar ninguém, nem sou ninguém para julgar ninguém. Mas eu respeito a energia que habita em mim. Isso eu não abro mais mão. Você entende? Isso é meu. Quem quiser gostar, goste. Quem quiser estar comigo, vai estar. E assim, se a pessoa chega pra mim e fala… Porque às vezes vem uns clientes que começam a falar: “porque eu fui fazer isso e aquilo”, e querem me induzir a falar o que eles precisam ouvir. Eu levanto e falo: “querido, é melhor você ir embora. Você já sabe a resposta, você não tá buscando”.
P/1 - Quando você diz não abro mais mão, o que mudou? Quando você deixou?
R - Quando eu ainda tinha dúvidas qual o caminho. Se tal filosofia era melhor, se outra era melhor, se outra era melhor. Quando eu entendi que a essência da sua fé e aquilo que intuitivamente habita em você é mais legal, eu resolvi esse problema comigo.
P/1 - Quando foi isso?
R - Ah, já tem um tempo, já tem um tempo, mas isso foi amadurecendo aos poucos. Foi um processo, primeiro você pensa, depois você vai, aos poucos você vai colocando na sua rotina, e aos poucos aquilo que te incomodava, que outras pessoas vem tentar te falar ou tentar te impor, aí você vai colocando. Então hoje eu não tenho muita... Assim, se as pessoas quiserem falar sobre filosofia, sobre religião comigo, numa boa, eu vou escutar, eu vou permanecer, eu vou até respeitar muito. Mas se ela quiser impor, ela não vai me escutar mais porque eu não tenho tempo para perder com isso. Eu sei quem eu sou. Eu sei o meu tamanho, nem para mais, nem para menos. Eu sei exatamente o meu tamanho, eu sei exatamente o que eu estou fazendo na Terra, eu sei exatamente o que eu quero. E eu quero gostar de mim. Gostar de mim no sentido de olhar e falar, “cara, talvez você não esteja 100% certo, mas você faz aquilo que você acredita e você tenta não prejudicar absolutamente ninguém, pelo contrário”. Então isso para mim é muito importante, porque o que é fé? O que é amor ao próximo? Amor ao próximo é querer ter uma religião que ele tem que se enquadrar naquilo que ele acha certo ou olhar para aquela pessoa e entender que é essa naturalidade dela. Da mesma forma que quando eu vou atender uma pessoa, eu quero não estar influenciado porque eu quero que a minha leveza chegue naquela pessoa. Não quero o contrário. Porque se eu for impor dogmas, não vai ser legal, não é isso que eu quero. Por isso que eu falo, religião é uma coisa, espiritualidade é outra. Ser espírita quer dizer que você frequenta um centro ou kardecista e tal. Ser espiritualista, você tá aberto. Você tá aberto pra ir num kardecismo, pra ir em algum lugar, pra seguir uma... Eu, se tiver uma procissão numa cidadezinha do interior, eu adoro Nossa Senhora, por exemplo, eu sou louco por ela. Eu vou atrás. Mas eu sei o meu propósito. Eu sei exatamente o meu propósito. Então me interessa muito entender o propósito das pessoas, o porquê elas me procuram, o que elas estão interessadas. E quando você estuda a sua espiritualidade, e a Terra por ela estar no momento de transição, a gente sabe muito pouco e a gente daqui para frente, e esses espíritos diamantes que vão nascer agora, são crianças que se chamam diamantes, elas vão nascer, elas vêm de um planeta muito, muito, muito evoluído e elas vão nascer na Terra, não é porque elas precisam resgatar nada, elas vão nascer voluntárias para ajudar a evolução. Então, esse é um momento que se você olhar para a dimensão que é o universo, você pode olhar para tudo. É nisso que eu acredito. Agora, eu respeito as religiões, eu respeito alguma coisa, mas às vezes eu acho que limita um pouco. Mas isso é uma coisa minha. Porque quando você tá preso e tem que validar aquilo e você não pode sair daquilo, é muito complicado. Porque assim, eu só valido aquilo que é meu espontâneo, senão não dá.
P/2 - Você estava falando que faz mais de 30 anos que você faz atendimentos, que você trabalha com terapia holística. Eu queria saber que caminhos te levaram para isso, em que momento você decidiu?
R - Como eu falei, eu comecei a brincar com o baralho com 7, 8, 9 anos em casa. E aí comecei a jogar para amigos, para as pessoas. Eu fazia isso meio que como... Era um hobby e era uma coisa que eu queria que fosse eternamente um hobby. Quando eu, um belo dia, eu trabalhava na Telesp e tal, e um dia o chefe começou a me pedir cafezinho, começou a encher meu saco. E eu não tinha que servir café pra ele, e ele queria impor a situação dele e tal, e eu olhei e falei, “meu, o que eu tô fazendo aqui? Eu não nasci para trabalhar dentro de um escritório. Eu não quero isso”. Naquela época era máquina de datilografia. Ela já estava mais moderna, em umas máquinas elétricas assim. E eu preenchia fichas, assim, que eu trabalhava numa empresa chamada Sistel, dentro da Telefônica, que era um clube que pertencia à Sistel, mas era da Telefônica. E tinha um cara, o Uganda, que faleceu, inclusive, um cara maravilhoso. Ele era um chefe incrível, mas tinha um outro que era muito arrogante. E um belo dia, eu estava fazendo terapia, eu fui fazer uma terapia, fiz duas sessões. E nessas duas sessões eu entendi que eu era muito jovem e que eu tinha que escolher o meu caminho. Aí esse cara começou a me encher o saco, começou a me pedir um cafezinho, eu levei o café. Aí cinco minutos depois ele pediu outro. E eu comecei a perceber aquele mundo. Eu falei, “não, não quero isso pra mim”. Eu fui lá e falei, “olha, eu quero ser demitido”. E aí foi um rolo, porque pra você ser demitido da TELESP, naquela época, você tinha que passar... Eu sei que eu pedi demissão. Só que eu pedi demissão e... E aí eu arranjei emprego, eu sou vegetariano. Arranjei emprego no McDonald 's, que tava surgindo o McDonald' s. No primeiro dia, eu tinha um cabelo grande. No primeiro dia, o cara virou e falou assim: “você tem que cortar o cabelo pra trabalhar aqui”. Falei: “não, não vou cortar o cabelo”. Ele falou: “sim, tem que cortar o cabelo”. E ele me deu uma tesoura. Eu joguei a tesoura em cima da mesa, fui embora, fui registrado um dia e saí. Aí eu fui trabalhar numa loja de sapatos. E a loja era um cativeiro, assim, era muito ruim. E um dia uma amiga me ligou e eu falei: “ah, esse lugar é muito ruim, a dona é uma pessoa tóxica, não sei o quê”. E ela gravava as conversas, e ela ouviu, e ela falou pra mim: “você não sei o quê”. Eu falei: “ah, Lia, quer saber? Tchau”. Saí também. Aí eu lembro que eu tinha um Bamba. O Bamba era mais ou menos um tênis parecido com o All Star. E assim, eu tingi ele de azul, eu amava ele. Mas ele começou a furar. E eu ensinei um... Um papelão assim nele. E eu tava sentado na escada e a minha melhor amiga da época olhou e falei: “bom, eu vou ter que procurar um emprego, né?”. Ela falou: “não”. Eu falei: “como assim não?”. Ela falou: “você já tem”. Eu falei: “mas como assim eu já tenho?”. “Cara, se gratuitamente fazem filas pra você ler tarô, bicho. Você tá louco? Você tem que cobrar. Você tem que fazer uma troca”. Eu falei: “não, mas eu não quero que isso seja um trabalho. Eu quero que isso seja um hobby. Eu faço isso… Não quero, não quero, não quero”. Aí pintou um grupo de teatro, montamos um grupo de teatro que chamava Guarda-Trapos. E esse grupo era um grupo de teatro infantil. A gente começou a montar peça, eu escrevia e tal. E o grupo começou a fazer sucesso. Mas aí, quando o grupo começou a ganhar dinheiro, começou a brigar. Aí eu falei, “não, também não quero”. Sai. E deu que eu acabei jogando, fazendo disso um trabalho e virou. E aí um belo dia eu fiz a leitura e eu previ uma morte de alguém e passou. E realmente essa morte aconteceu. Aí eu entrei em parafuso. Aí aquilo mexeu profundamente comigo. Eu falei: “meu Deus!”
P/1 - Por quê?
R - Porque você vê a morte, mas você não quer que ninguém morra. E eu não tinha ainda compreensão para tudo aquilo. Aí eu falei: “não quero mais fazer isso, é muito complicado”. E todo mundo que tinha entendimento começou a falar que isso era normal, que eu tinha um dom, que de vez em quando eu ia ter umas visões, que era uma coisa assim e tal. E eu falei: “não, não quero”. Aí eu pensei, “eu preciso de alguma coisa”. Aí eu comecei a comprar livros de numerologia, comecei a estudar numerologia. E aí eu estudei vários tipos de numerologia, até que eu descobri a numerologia do triângulo divino, que eram duas americanas que criaram um método, triângulo divino, que conta a vida da pessoa dos 0 aos 81 anos. E eu comecei a devorar aquilo, devorar aquilo, devorar aquilo. Aí resolvi fazer um curso de numerologia. Aí, na época, um bam-bam-bam da época de numerologia, eu fui pra aula, chegou lá na aula, eu comecei a falar, falar, falar, não parava de falar. Segunda aula, falar, falar, falar. Na terceira aula eu sentei, quando eu abri a boca ele falou: “vem aqui”. Me levou pro corredor e ele falou: “vai embora, você tá atrapalhando a minha aula”. Aí eu entendi que eu era um numerólogo. E aí eu passei a usar aquilo. E aí esse método que eu aprendi através dos ensinamentos dessas duas, que era um livro muito profundo, muito bem feito. Aí eu entendi, aprendi com esse método era muito legal e ele era ligado assim. Ele tinha uma conexão com a astrologia, e ele tinha uma conexão com o tarô, tanto que ele é a única numerologia que vai até o número 78. Se ele for 79, ele vira um 16, 7 + 9 = 16. Então, cada vibração é ligada a uma carta do tarô. E o triângulo divino é um triângulo, tem o primeiro quadradinho, o segundo quadradinho e o terceiro quadradinho. O primeiro quadradinho é zero aos nove anos, nove aos dezoito, dezoito aos vinte e sete, que é a fase da juventude. Na segunda fase começa vinte e sete, vinte e oito. É a fase da força que vai até o 54. Do 54, vai até o 81, que é a fase da sabedoria. Quando você chega aos 81 anos, você tem três caminhos: ou tu desencarna porque tu resolveu tua história aqui, ou tu continua vivo, continua feliz, continua lúcido, tipo Dercy Gonçalves, Carlos Drummond de Andrade, que viveram com lucidez até o final, com sabedoria, ensinando as pessoas, porque ganhou alguma coisa, ou você regride e volta para essa linha de 0 a 9 anos e passa a usar fraldão, a depender dos outros. Eu achei isso incrível. E aí eu comecei a trabalhar em cima disso. E aí, com os anos, eu comecei a entender o que eram os ciclos que as pessoas viviam pela prática. Então hoje, vamos dizer que eu tenho um trabalho sobre isso autoral. Eu tenho a base, que vem das duas americana, mas eu consegui, na prática, entender os ciclos e tanto é que quando eu falo sobre os ciclos, por exemplo, se eu falar para uma pessoa, “olha, esse período você corre um risco de separação”. Aí o que se avalia? Se a pessoa está em crise nesse casamento, se ela está infeliz e tal. Se não for no casamento, pode ser no trabalho, pode ser em algum lugar. Então, esses ciclos, eles me ajudam a pontuar situações onde eu posso tentar levar uma clareza para a pessoa resolver e mudar o destino dela. Por exemplo, às vezes eu abro a carta, eu olho para a carta e falo para a pessoa assim: “e aí, você tem um plano B de trabalho?”. Ela fala: “como assim um plano B?” Aí ela se assusta e fala assim: “mas por quê? Eu vou ser demitido?”. Eu falo: “quando você acorda de manhã, o que você faz? Você toma banho, toma café, escova os dentes, come pão francês? Depois você vai trabalhar de Uber, de ônibus, de helicóptero, de carro, de condução? E você vai como? Você vai feliz da vida que você está indo trabalhar ou você vai de saco cheio do seu chefe e vai reclamando?”. A pessoa fica verde, né? “Sim, é”. Falo: “então, você está pedindo para o universo que você não quer mais esse lugar. Então, se você não tomar uma atitude, se você não procurar uma coisa, se você não tentar consertar isso, o que vai acontecer? A primeira oportunidade que a empresa tiver que desligar, você está na lista. Cara, porque você está pedindo isso para o universo?”. Energia é isso. E isso é muito comum. Eu conto isso para você entender o processo da energia. A gente é que conduz a nossa vida, através do nosso desejo. Por isso que essas coisas de “O Segredo", essas coisas do poder do pensamento estão tão em moda hoje, porque tem uma verdade aí. A maneira como você conduz. Mas só que não é só com sorte, com destino. Tem a ver com a criação, tem a ver com o lugar que você veio, tem a ver com seus traumas. O Brasil é um país muito iluminado, porque a gente tem os melhores médicos, a gente tem os melhores psicólogos, a gente tem os melhores terapeutas. Se você procurar, você encontra cura pra tudo. Ou pelo menos um entendimento. Tem muita coisa que talvez não seja legal, mas a maioria é. Mas tudo é um conjunto. A espiritualidade, pra mim tá ligada com a inteligência emocional também, com o desejo, com uma série de coisas. E eu busco no meu trabalho esse entendimento, essa compreensão. Tanto que as minhas consultas duram no mínimo uma hora e trinta, não é menos que isso. A não ser quando a pessoa é muito restrita, tem uma vidinha muito simples, muito simplificada. Ela não tem objetivos, ela está ali muito fechada. Aí, às vezes, eu até tenho que fazer um trabalho para ela entender que ela precisa despertar. Isso também me incomoda, porque quando me torno instrumento do que eu faço, a minha sensação é muito importante, porque muita gente tem evidência, eu tenho sensação, 80% é sensação.
P/1 - Qual é a diferença?
R - A diferença é que quando você tem evidência, você vê. Quando eu tenho só 20%, às vezes eu vejo alguma coisa, mas eu tenho mais sensação. Por isso que eu gosto desse primeiro impacto com a pessoa não ter nenhuma informação. O rosto dela me traz, o cabelo me traz, o jeito de sentar me traz, tudo me traz. Tudo é espiritual, tudo. Se você abre o braço, você está aberto. Se você fecha o braço, você está com medo, você está se fechando. Então, tudo na vida tem um movimento. E eu sou de uma geração que começou a entender isso, porque eu fui buscar. E tem uma coisa na minha criação que é esse processo que eu passei de criação, de falta de entendimento e tal. Talvez se eu não tivesse nascido hoje com um casal moderno, eles teriam muito mais compreensão para mim do que antes. Mas quando você tem essa compreensão e hoje eu entendo que toda a dor que eu passei e tal, por quê? Porque eu passava um momento de sofrimento e, logo em seguida, os meus clientes vinham com esse problema e eu tinha passado. E eu conseguia saber o que é aquela dor. E isso me ajudava a fazer a leitura de toda a simbologia. Tanto que esse baralho do cotidiano que eu fiz, baseado no baralho oceano junto com a Márcia, ele é um baralho que foi feito propositalmente até para ter esse olhar, tanto do cotidiano como do movimento, como da busca, como do que você deseja, o que você sente. Porque no baralho tem todos os personagens. É quase uma constelação sistêmica familiar. Você consegue ver o pai, a mãe e tal. Às vezes, vai algumas pessoas que só saem questões afetivas, porque a mente dela tá tão nesse sentido que mesmo que você tente colocar outra coisa, tá fechado ali. Ela está muito na energia de quem ela está se relacionando ou no desejo de consumo de um relacionamento. E aí eu tento acalmar essa pessoa para a gente conseguir ver em volta dela. O ser humano não percebe, mas ele está muito ligado ao que ele sente. Ele é muito isso. E essa questão de sentir…Então a fé pra mim, ela é tudo isso, é sensação, é paladar, é cheiro, é memória, é olhar, é busca, é ambição, é falta de ambição. Tem pessoas que têm ambição. Eu faço limpeza de ambiente às vezes, eu gosto de trabalhar com ervas e tal. Tinha uma casa aqui em Pinheiros mesmo que eu ia fazer uma limpeza pelo excesso de energia positiva. Uma vez, porque era tanta energia boa que não funcionava algumas coisas. E um dia eu saquei isso. E aí eu falei pra ela, “vamos tirar um pouco de energia, vamos limpar um pouco”. E a gente foi aos poucos. Porque ela tinha excesso, ela trabalhava com todas as simbologias, ela botou amuletos de todos os tipos ali. E ali todo mundo queria ter poder e ninguém tinha. Então era um ambiente tranquilo? Era, mas era um ambiente que as pessoas não conseguiam produzir porque tinha excesso de proteção, e você precisa do fluxo. Então isso foi um olhar que eu tive num belo dia e aí foi uma coisa da minha sensação. Eu senti isso e eu fui pesquisar e eu comecei a fazer perguntas assim e as respostas começaram a bater com o que eu acreditava e a pessoa começou a entender a minha linguagem e começou a perceber. “Acontece assim, acontece assado”. “Sim”. E aí eu comecei a perceber porque é tudo. Cenoura é maravilhoso, mas se você comer só cenoura, suco de cenoura, você morre queimado. Então tudo que é em excesso E tem pessoas que são tão aficionadas, elas querem se proteger de todos os lados e botam todo tipo de amuleto. Excesso gera saturação. E aí você começa a ficar protegido, não entra nem o bem nem o mal, entende? Nem as coisas positivas e negativas. Não é só uma questão de bem e mal. Porque o mal, às vezes, é a intenção. Às vezes você tem uma boa intenção, da sua ótica, mas para o outro não é. Então, eu preciso entender o que o outro está procurando. Então, nas minhas leituras, eu sempre procuro entender o que a pessoa está buscando, onde ela sofre. E normalmente, principalmente agora com o baralho do cotidiano, eu tenho conseguido chegar nesses lugares. E quando chega, é muito interessante, porque parece que abre uma chave na cabeça da pessoa. Ela começa a ser o próprio terapeuta dela e ela começa a se curar.
P/1 - Relacionando à sua história de vida, em que momento foi isso? Que aberturas você teve que ter, que mudanças aconteceram na sua vida?
R - Então, tem coisas que aconteceram emocionais, coisas que eu não preciso falar, mas que aconteceram e que me levaram a um longo tristeza, sofrimento, discriminações muito fortes, e isso foi me machucando, me machucando, me machucando. Então, eu era aceito por algumas pessoas pela minha espiritualidade, por outros eu era rejeitado exatamente por elas. Alguns aceitavam a minha sexualidade, outros rejeitavam a minha sexualidade. E numa época que você não tinha leitura, você não tinha acesso, é como um negro que não tinha referência. É a mesma coisa pra mim. E eu tinha uma sexualidade que era complicada. Eu tinha uma espiritualidade que era complicada. Eu tive uma mãe que nunca me recriminou. Ela foi o meu suporte. Talvez por isso eu tenha existido. Mas eu tinha um pai que entrava num processo de negação. Só que no final da vida do meu pai, quando eu comecei a trabalhar, ele começou a aceitar. Eu lembro que os primeiros clientes, ele fazia café para as pessoas. Ele era um homem muito divertido para as pessoas. Ele era um homem bonito, ele era um homem de dois metros de altura, porque eu puxei a minha mãe. Ele tinha um olho verde e um olho azul. E ele era sedutor dentro da coisa, mas era um homem rústico ao mesmo tempo. E ele fazia um café maravilhoso e ele tratava as pessoas bem. Então, de uma certa forma, foi um resgate. Ele morreu de Alzheimer, eu lembro. Na semana que ele faleceu, eu tive uma intuição. Ele adorava bolo, a gente fez um bolo. Eu chamei os filhos e os netos dele. E eu falei pro meu irmão, amanhã você vem que a gente vai levar o papai pra internar ele no São Camilo de Santana, no hospital, pra fazer os exames e tal. Eu tinha certeza que ele ia partir. Eu tinha certeza absoluta. Aí, na quinta-feira, ele foi internado. Eu fiquei com ele até as 11 horas da noite e minha mãe ficou lá. E quando foi 11 horas da noite, ele não tinha mais memória, mas ele teve um segundo de lucidez e ele olhou pra mim e ele me agradeceu. Eu fui embora e a minha irmã era muito ligada nele. Eu cheguei para minha irmã e falei: “se prepara que amanhã nós vamos enterrar o papai”. Seis horas da manhã ligaram e eu falei: ”já sei, estou indo”. Quando eu cheguei no hospital, ele tinha falecido. A minha mãe, na hora que os médicos chegaram, que a minha mãe chamou os médicos, eles pediram para ela sair. Ela sentou no quarto de frente com uma senhora. A senhora falou: “senta, vamos rezar”. Minha mãe fechou os olhos e viu o meu pai indo num túnel azul. E ela tem uma prima que se chama Nair, que é uma pessoa kardecista espiritualizadíssima. E aí, quando ela contou isso, pra minha prima, pra prima dela, e contou pra mim, aí a gente falou que ela tinha visto a mesma coisa que está no livro do Brian Weiss, que é o “Muitas Vidas, Muitos Mestres”, que ele conta exatamente esse túnel. E ela não tinha lido o livro. E aí ele partiu, ele estava lindo no caixão, a pele de bebê assim, e todo o carma que eu tinha com ele, ele estava lindo assim no caixão, e todo o carma que eu tinha com ele foi embora. E a minha vida só melhorou da minha família também, não porque ele se foi, mas porque a história dele… Ele foi alcoólatra, e aí é uma história que vale a pena, eu acho. A minha mãe... Naquela época, nos anos 60, a minha mãe era muito ingênua. Ela morava na Vila Aurora, numa casa de dois andares e estava construindo uma igreja. Meu pai era um mestre de obra que estava construindo essa igreja. Minha mãe conheceu meu pai ali. Minha mãe era uma mulher ingênua. E ela começou a namorar com ele. Um belo dia, ela foi numa cartomante em Santana, e a cartomante olhou e falou pra ela assim: “você tá grávida”. Ela não sabia. Ela falou: “não, não é possível”. E ela tava. Aí, naquela época, a gravidez de uma mulher solteira era muito esquisita. Tanto que minha mãe falou que eu nasci de sete meses. Aí, as minhas tias não falaram pra minha mãe que meu pai era alcoólatra.
P/1 - Você é mais velho.
R - Eu sou mais velho. Abraçaram a minha mãe, casaram eles. Ela casou em Aparecida do Norte. Abraçaram a minha mãe, pegaram a minha mãe, casaram a minha mãe, casaram em fevereiro e eu nasci em agosto. E sempre a história era de sete meses. Um belo dia, eu fazendo as contas. Aí minha mãe acabou contando a história no final da vida. Depois meu pai tinha falecido. Aí eu entendi. E nesse tempo a gente morava num bairro que era muito deserto e tinha um sítio de uma outra mulher que fazia leitura também de baralho. E ela falou pra minha mãe: “seu filho vai ser o teu preferido, o teu filho que vai te acompanhar”. E de fato, tanto que ela foi embora dois anos e meio, nos meus braços ela não tinha nada, ela não tinha nenhuma doença. A última frase dela olhou pra mim e falou assim: “o que eu faço? Eu vou ou fico?”, e foi. E foi aos 81 anos de idade, exatamente aos 81 anos de idade. E eu um dia sentado, meu pai se foi em 2003 e minha mãe em 2022, em maio de 2022. Então em 2023 eu estava vivendo o ano 36-9 temporário quando o meu pai se foi, e em 2024 eu estava vivendo o ano 36-9 quando a minha mãe se foi. Aí eu entendi todo o processo. Então, quando você fala de fé, ou quando a gente pergunta de fé, eu acho que a fé é nisso. Teve uma época que eu fiquei doente e eu sou muito ligado ao Sagrado Coração de Jesus, aquela coisa afetiva. E nessa época, nos anos 90, não tinha convênio médico. E eu fiquei com o meu olho inchado, dois anos, expurgando pus, foi uma coisa absurda. E não podia fazer cirurgia, não podia fazer nada, por conta... Não podia fazer cirurgia porque era uma bola de pus que eu tinha que, todo dia, colocar. Enquanto não desinflamasse, né? Em todos os lugares que eu ia, tinha um quadro do Sagrado Coração de Jesus. Todos. E uma vez, a minha mãe tinha feito uma promessa para o Sagrado Coração de Jesus e ela pediu para mim fazer uma impressão e eu fui numa gráfica e eles fizeram assim, a gente recortou e distribuiu que era a promessa dela, e esse Sagrado Coração Então… Eu acho que os sinais de fé, eles vêm por esses caminhos. Então eu sempre entendi. Agora, eu sou livre, eu vou a qualquer lugar, eu não tenho o menor preconceito. Tem algumas filosofias, alguns pensamentos que não me compram, que pode falar o que quiser, que pra mim não rola nada. Porque você é o que você sente. E quando você entende que você não mata, não rouba, não prejudica ninguém, está tudo bem. Está tudo ok. Quando as pessoas entenderem que a essência é o maior caminho espiritual, eu acho que vai ficar tudo bem para todo mundo. É assim que eu penso. Então a fé para mim é uma liberdade de expressão.
P/1 - E como você define a morte?
R - Então, eu defino a morte como uma passagem. Defino a morte como um aprendizado também, como uma continuidade. Como eu acredito que o ser humano está em evolução e acredito em reencarnação, eu acho que a gente vai mudando de ciclo e vai evoluindo. Cada encarnação a gente vem por um motivo. Alguns vêm como generosidade, porque já evoluíram, como vai vir essa geração agora de criança que vão trazer conhecimento absurdo, se a gente olhar as últimas décadas, já apareceu coisas incríveis. Então eu acredito muito nesse processo. Às vezes, quando a minha mãe se foi, eu quis viver um luto mesmo. Eu fiquei um ano vivendo um luto, foi uma perda muito dolorida e foi um momento que eu questionei muito, muito mesmo. E aí, um belo dia, a minha mãe era uma benzedeira, mas ela não benzia assim para as pessoas. Ela sabia que você estava doente, ela fazia três dias e você ficava bem. Era impressionante a minha mãe. Minha mãe era uma serpente de luz absurdo. E aí apareceu um curso de benzimento e eu resolvi fazer esse curso, no meio do luto da minha mãe. E eu fiz o curso. E quando terminou o curso, era um curso online, a pessoa falou: “agora você tem que fechar o olho, tem que imaginar que está entrando num teatro para receber seu diploma de benzedor. Aí você fecha o olho, imagina uma rua, entra no teatro, entra na lateral, fica assim. Aí, quando chega a sua vez de ir para o palco, você vai abrir os olhos e você vai olhar uma pessoa na plateia te olhando”. Aí eu abri os olhos e a mãe estava lúcida ali. Mas umas horas antes dessa conclusão, eu tinha ido no Horto Florestal, e quando eu voltei, era tipo cinco da tarde assim, antes de fazer aula, eu vi um círculo assim, era a minha mãe, ela entrou no meu coração. Eu estava muito sensível ali. Era um desapego que eu tava fazendo com ela. Não que eu tenha ficado triste, porque a minha mãe, ela foi embora porque ela pediu isso. Não que ela quisesse morrer, nada disso. Ela sempre falou, “não quero dar trabalho”, e ela não deu. Ela queria ir embora inteira. E ela era tão divina, tão espetacular, tão gigante como pessoa. E o Universo não tinha como dizer não. Isso é um consolo para mim, porque ela ainda tinha muitos anos para muitas coisas. Os próprios netos dela, com 7 ou 8 anos, não deram conta daquele luto. Então, esse um ano de luto foi bom para eu entender o que era essa alma. Era uma alma gêmea espiritual mesmo. Hoje, por exemplo, a minha vida é perfeita, eu sou uma pessoa que tem um Tô de boa, não posso me queixar da existência. A vida tem facilitações pra mim, tem os desafios como toda pessoa. Mas assim, eu não tenho pra onde voltar. Emocionalmente falando, não é que eu tenha tristeza, não é isso, não tenho nenhuma tristeza, sou uma pessoa que tem grandes lugares pra ir, mas... A minha mãe era um lugar. Pra você tem uma noção, a gente morava do lado. Eu fazia café, levava as duas canecas, a gente deitava na cama e a gente ficava conversando até às 6 horas da manhã. Era incrível isso. Era um entendimento assim. Muito legal. Então, essa intimidade eu tenho com mais de quê? Embora eu tenha amigas de viajar, só tem amizade e às vezes dorme até na mesma cama, conversa, bate papo, tá tudo bem, cê entende? Então eu falo, a alma gêmea ela é uma coisa muito que tá ligada… Então para vocês verem, eu não sei se eu e a minha mãe já viveu muitas encarnações, com vários sexos, com várias coisas e tal, mas é impressionante a força que essa energia tem. Tanto que as pessoas falam, “ah você é terapeuta floral, toma floral”. Quando as pessoas passam por luto, eu tenho florais, receitas maravilhosas para ajudar no luto. Eu não quis, eu quis a dor. Eu precisava da dor. E foi a melhor coisa que eu fiz. Porque eu posso escrever sobre essa dor. Entender o que é viver esse luto. Chorei dois meses e meu nariz gerou uma ferida. E foi muito com esse choro. E eu não imaginava, eu não estava preparado para entender que eu ia ficar triste, mas que eu ia despertar. Era um choro, não era um choro e desespero. Só para concluir, eu tive a sorte. Foi uma aprendizagem. Eu podia fazer 40 anos com o meu pai e 50, quase 59 com a minha mãe. E foi muito incrível assim. Ela, ela, ela assim... Até o velório dela tava pago. Nada. Ela não deu muito trabalho. Nada. E de vela tava, o enterro dela tava ali… Tudo tava... E quem pagou o velório dela? A Sistel, que é onde eu trabalhei na Telesp, onde ela trabalhou lá também, que era um clube que funcionava da Telesp e as pessoas recebiam benefício, aposentada. Então, tudo dela estava ali. Até o convênio dela era um convênio um pouquinho que vinha dali. Então ela teve... E ela viveu no último mês de ano fazendo o que ela gostava: lendo, vendo filme comigo, indo ao teatro. Uma mulher simplérrima, sem nenhum tipo de vaidade. E você anda no bairro, todo mundo te fala coisas que ela fazia pra todo mundo e ninguém sabia. Sabe aquele ser humano que o que a mão esquerda fazia, a direita não apontava, o que a direita fazia, a esquerda não apontava? Era ela. E olha que pra mim ela apontava tudo. Mas essa coisa de ajudar o próximo, jamais. E eu até puxei um pouco dela nesse quesito. Mas a passagem dela me trouxe um outro olhar pra vida. E eu tô assim... Não é mais duro, mas hoje não é tudo que me emociona, mas tudo me emociona, se é que você entende? Com outro olhar. Então todas as dores que uma pessoa pode passar, do abandono, da discriminação, do bullying, tudo eu passei e tudo eu sobrevivei. Isso não é uma queixa. Eu acho que, para mim, foi útil. Para mim, foi bom. Porque se eu acredito na espiritualidade enquanto evolução e eu sou um ser em evolução, nasci em uma época de evolução, então está tudo bem. Está exatamente tudo bem. Quando você começa a trabalhar a oração do perdão para tudo isso, você começa a se libertar. Então eu olho para a inteligência de alguém, eu reverencio, olho para a burrice de alguém, também reverencio. Ela não tem culpa de nem ter esse alcance. Agora, ela tem escolha essa ignorância ou não. Isso quando eu encontro pessoas assim e elas estão dispostas a me ouvir ou ao meu trabalho, pra mim é um prazer. Mas eu deixo o espaço aberto, mas eu não bato na porta. Ela tem que entrar. E isso eu aprendi. Sabe, então muitas vezes... Hoje eu vi uma história que eu achei muito interessante. E era um ____ . Ele era médico. E durante um dia ele fazia um trabalho, acho que na China, de voluntário como médico. Mas só que ele fazia um trabalho voluntário, não como médico. Antes de ser médico, ele foi barbeiro. Então ele cortava o cabelo das pessoas e as pessoas gritavam. “O cabelo não ficou assim”. Às vezes até ofendiam ele e tal. E ele pedia desculpa, agradecia. E o filho dele falou: “pai, por que você aguenta isso? E ele falou: “meu filho, essas pessoas são muito sofridas. Elas têm vergonha de não ter condições de pagar. Então, elas precisam desse comportamento para se sentir úteis, para não se sentir para baixo. E eu preciso ter o meu lugar de entender isso”. Eu achei isso incrível. Então, isso é espiritualidade. Então, essas coisas que eu busco entender. É como a pessoa no Chile, o rico não é quem tem dinheiro, o rico é quem tem uma vinha. Porque eles consideram o vinho, a maior exportação deles, como uma coisa que eles têm que ter pelo dinheiro. Então, se você cultua o vinho, você é um ser rico. Não pelo dinheiro, mas porque você libera em si a terra que tem a melhor uva, de repente. Então, tem coisas que você tem que saber olhar e respeitar. Você não pode chegar lá e magoar a pessoa por uma coisa que pra ela é importante. E vai chegar um momento em que aquilo pode deixar de ser importante, ela vai encontrar outros valores. Então, qual é o seu tamanho? Aonde você quer chegar? E tamanho não é se melhor ou pior, é só o tamanho que você tem até aqui. Você quer ser uma Mercedes? Tudo bem, você pode ter uma Mercedes. Você sabe que é caro, você sabe que vai causar inveja, você sabe que vai ter que pagar taxas ao fisco. Você está a fim de trabalhar para isso? Então, tá tudo bem. Eu nem carro tenho. Poderia ter. Não quero. Não me interessa carro. Agora se uma pessoa chega para mim e fala que quer um carro, eu acho muito bom. É um desejo? Eu gosto de viajar. Então, cada um investe o seu tempo, a sua energia, a sua fé naquilo que te faz sentido.
P/1 - Fiquei pensando, te ouvi logo no começo falando “eu sou autolimpante”. Vou te ouvindo nessa sensibilidade toda e essas trocas, são muitas horas de atendimento hoje em dia. Como era no começo essa troca, e receber toda essa energia? E agora, o que mudou?
R - No começo, era muito assim... Eu tinha aquela preocupação de ser legal, de fazer uma coisa legal. Mas as coisas foram sempre tão espontâneas. Eu aprendi a lidar com todo tipo de energia, do bem, do mal das pessoas. E aquilo foi incrível pra mim. Com o bem e com o retorno que eu fui tendo… Porque são várias décadas, então as gerações começaram a mudar e a partir. E as pessoas me tratavam muito bem. E as pessoas me davam muita afeto, carinho e respeito. Então, o meu respeito foi para essas pessoas que conheci. E aí, com o tempo, foi como andar de bicicleta, eu não tinha mais receio de nada. Eu não tinha mais preocupação. Às vezes, eu com estresse, quando eu compreendo pessoas muito famosas, isso me incomoda um pouco. Eu preciso respirar um pouco porque eu tenho que olhar para aquela pessoa famosa, para o ego daquela pessoa famosa, e não deixar aquilo me contaminar, entende? Porque, não estou dizendo mal de ninguém, mas há uma prepotência, às vezes, no tamanho que as pessoas se acham. E para mim, o artista, o médico, o engenheiro, é todo igual... Sabe, tem pessoas inteligentíssimas, tem mulheres inteligentes, eu tenho maior referência por essas pessoas, mas eu também... O profissional holístico, enquanto numerólogo, enquanto tarólogo, eu olho para essas pessoas como um humano. Eu não quero saber o poder que elas têm, eu quero saber a alma que elas têm. Isso que me interessa. Então, hoje, para mim, é como andar de bicicleta. Tirando essas pessoas mais famosas que às vezes me incomoda um pouco. Eu fico precioso de não conseguir ter 100% de espontaneidade. Não que elas me induzam, porque ninguém me compra, eu não estou à venda. Não é isso. Mas é... Elas têm uma frieza tão grande para algumas coisas. Não estou falando de todas, tá? E às vezes ela não tem escuta para a minha pureza. E isso, me incomoda, é a única coisa. Tirou isso, se a pessoa entender a minha essência e o meu propósito e a minha boa vontade, tá tudo ok. Tá tudo bem. Uma vez eu tava em casa, porque teve uma época que eu não tinha telefone e as pessoas iam na minha casa e faziam filas. Uma fase assim. E tinha vez que juntava 10, 15, 20 pessoas, 30. E não dava para eu atender todo mundo ali. Mas eu atendia por ordem de chegada e tal. E um dia chegou uma senhora muito rica. Eu acho que ela era da família Matarazzo, milionária. Chegou chegando querendo prioridade e tal. E eu falei pra ela: “espera, porque eu não sei quantas pessoas eu vou conseguir atender”. E aí, tinha uma moça Dalva, uma senhora que é enfermeira, muito bacana, atendeu ela há muitos anos, e ela é negra, maravilhosa pessoa. Daí a gente foi pro meu quarto de atendimento, ela olhou e falou: “sabe o que eu gosto de você?”. Falei: “o quê?”. “Todo mundo é igual”. Eu falei: “é”. Então isso pra mim é uma coisa super importante. Às vezes eu faço um trabalho de pessoas que não têm acesso a mim, que minha consulta não é uma consulta cara, mas também não é uma consulta super barata, então não é todo mundo que tem acesso. Mas se a pessoa pede, se a pessoa quer, se a pessoa precisa, eu atendo numa boa. E é igual, não tem diferença. Para mim não tem diferença. Então é sempre assim e isso eu procuro preservar sempre. Óbvio que tem alguns momentos em que te encanta mais atender uma pessoa ou outra, porque a energia bate muito e você de alguma forma o universo está te empurrando para aquela, porque você tem que ser o instrumento para aquela pessoa, e normalmente é. Normalmente eu vou perceber depois que aquilo, que aquele atendimento fez uma diferença muito grande na vida daquele ser humano, daquele espírito de luz. E é muito bom isso. Então a minha ótica é essa, é a qualidade, é o respeito. É assim porque eu fui criado numa época em que tinha muito preconceito e talvez até eu tivesse pela própria criação. E eu fui corrigindo isso muito, a vida inteira. Porque, que nem por exemplo, tem palavras que eu falo até hoje, às vezes algum amigo fala: “essa palavra não pode”. Mas pra mim não é uma palavra de crítica ou de discriminação. Era uma coisa que era usada com amor. Que tem palavras que a gente fala que era afetivo antes e hoje é assim. Então, eu ainda tenho algumas coisas que eu preciso me policiar. Mas muitas vezes a gente tem que prestar atenção no tom. Por exemplo, tem clientes meus que falam: “você me cura com a palavra”. Eu fico muito feliz quando eu escuto isso de alguém. Porque eu uso a palavra o tempo inteiro, o tempo todo. E a palavra é muito… Porque quando você olha para uma carta, ela tem mundos ali. E às vezes ela fala com você. Por isso que eu falo, a evidência vem de vários caminhos. Você tem que estar muito atento, extremamente atento. Você pode observar, quando você tem que corrigir uma falha sua, você ignora uma vez, acontece de novo, você ignora, acontece de novo, aí se você não perceber e não mudar, alguém vai chegar e falar, “porra, quando que você vai mudar isso?”
P/1 - Aryel, eu queria te perguntar, o que você gosta de fazer nas horas de lazer?
R - O que eu gosto de fazer? Eu gosto de viajar, eu gosto de ler, eu gosto de seriados, eu gosto de filme, de cinema, eu gosto de teatro, eu gosto de música, eu gosto de natureza, eu gosto de cozinhar, eu gosto de dar atenção para amigos quando eles precisam, eu gosto de ficar em silêncio, eu gosto de não fazer nada, eu gosto de fazer uma comidinha, uma bandeja, levar pra cama e ficar uma manhã, quando eu tô com vontade, de cuidar de mim. Eu gosto de vadiar, às vezes, no sentido de cuidar de mim. Eu cheguei numa altura da vida que eu não tenho filhos. Eu tenho uma gata que eu herdei da minha mãe. Eu tenho que cuidar da gata, mas ela é livre também. Ela vive no quintal, ela vive nos telhados. Quando quer comer, ela vem, ela fala, ela explica. Enfim, e é isso assim. Eu só volto pra casa muitas vezes porque eu tenho a gata, senão eu tenho que cuidar da gata. Mas eu gosto de coisas tranquilas. Eu não gosto de festa de aniversário. Eu até vou, mas é muito complicado pra mim festa de aniversário. Porque eu chego na festa, aí se você olhar assim pra pessoa, “você viu alguma coisa? Você tá sentindo algo? Você tem algo pra me falar?”. É um processo assim, sabe? Então, se eu sou seu amigo, eu prefiro ir no hospital, ficar com você, te fazer companhia. Eu não tenho muita paciência para festinha. Agora, eu gosto de ir na sua casa, por exemplo, num almoço com três ou quatro pessoas, pessoas que têm a mesma energia, no sentido... Isso me atrai. Se você for na minha casa, eu vou te dar a melhor comida, a melhor atenção. Vai ser muito legal. Mas, hoje, ficar sozinho, como eu já falei antes, é uma coisa legal. Mas, assim, por exemplo, eu gosto muito de sair. Então, eu sempre tenho um amigo, uma amiga para ir ao teatro, para ir ao show, para ir em algum lugar. E isso, para mim, é bom. Porque o melhor do show é você curtir e depois sair para um café, tomar o café e falar que “o que foi isso?”. “Que legal!”. “Você prestou atenção nisso?”. “Você viu aquilo?”. Então, buscar cultura, buscar conhecimento, buscar aprendizado, buscar espiritualidade, isso me interessa muito. Balada, não necessariamente, mas cultura, entendimento, conversar com as pessoas, entender uma cabeça mais jovem, uma cabeça mais velha, ter solidariedade com o outro. Então, assim... Eu gosto de sair também, eu gosto muito, mas se, por exemplo, se tem um filme francês que não vai passar no Brasil, alemão, iraniano, cara, com certeza eu vou fazer das tripas o coração, mas eu vou ver aquele filme. O Universo vai conspirar. Meu desejo é tanto que acontece. Durante uma época que se usava muito DVD, eu tinha um traficante de filmes europeus. Então vinha o Festival Internacional de Cinema na Paulista. Então, às vezes, eu ficava o dia inteiro, saía de uma sala e entrava na outra. E aí tinha o... Não sei o que acontecia, muitos filmes não davam para ver e só passava uma vez e você nunca mais ia ter oportunidade. Mas o cara tinha o DVD ali. E aí eu fiquei... O cara trazia um DVD maravilhoso. Então, o cara tinha os DVDs ali e aí eu comecei a apelidar ele de traficante de filmes europeus, de filme mundial, de Israel, não sei o quê e tal. Aí, um belo dia, eu peguei o metrô, desci na Paulista e cadê o cara? “Ah, ele foi preso”. Nossa! Pensa nas mães de Buenos Aires, de luto pelos filhos, era eu. Eu voltei arrasado, sem nenhum filme. Falei, “e agora?”. Então, passou. Meses depois, eu tô andando na Paulista, eu dou de cara com ele. O meu sorriso foi no auge. E eram sempre 10, 12 filmes que eu ia vendo assim, devagar. Filmes, como eu gosto de cultura, então eu pegava um filme da Albânia. Era muito bom aquilo. Aí depois o DVD saiu, hoje você consegue na internet, mas naquela época era até romântico. Eu me sentia muito feliz quando eu conseguia aqueles filmes. Porque eram filmes que você não vai encontrar em loja, você não vai encontrar eles legalizados. Então era uma coisa que eu pensava, eu tô fazendo uma coisa errada, mas eu tô fazendo uma coisa certa pro meu bem-estar. E as vezes eu tava andando na rua, mas será que eu devo fazer isso? Mas você fez tanta coisa legal, uma assim tá tudo bem. Aí tentava me consolar, entendeu? Porque a gente que é espiritualista, a gente quer ser muito correto. E tudo tem um peso. Tudo. Isso às vezes é um sofrimento. Então quando eu falo que a idade tá me fazendo me perdoar, isso é fato. Aí eu olho assim pro passado e eu penso, eu não tenho do que me envergonhar. Por quê? Porque até os erros que eu cometi foi por imaturidade. E tudo tem um lugar. Tem a época que você vive, o momento que você vive, a política que você vive, a história que você vive. Então, essa questão que eu estava falando antes, de ficar em paz, de ficar sozinho, é muito necessário para uma pessoa espiritual. Porque tem uma coisa assim, eu não sou muito de panelinhas, de grupos esotéricos. Eu tenho contato com muitos, que eu respeito, mas eu lembro que eu queria fazer psicologia e uma pessoa, quando me conheceu, muito jovem, fazendo o meu trabalho, falou, “não faça, não faça. Vai nessa pegada, vai nesse caminho”. E durante muitos anos eu fui. Agora que eu tô querendo estudar psicanálise, porque eu tô num outro lugar agora, com outras buscas. Como eu acredito que vai haver muitas revelações do Universo, a gente vai saber muitas questões que a gente não sabe. E se eu estiver vivo nesse período, eu quero estar preparado. Então entender o olhar da psicanálise, o olhar de todas as filosofias que existem, é muito bom. Eu li alguns mestres, mas tem coisas que eu concordo, tem coisas que eu não concordo, e eu não tenho o menor problema de falar, não gosto disso, não gosto daquilo. Então é fácil e difícil conviver comigo. Porque quando você fala e aquilo não lhe interessa, eu escuto. Quando aquilo me interessa, eu viajo. É bem diferente. Então, como eu falei, quando me interessa, eu viajo. Por quê? Porque quando você encontra uma mente diferente, uma mente evoluída, uma mente que fala com amor, e o falar com amor, ele tem toda uma diferença. Sabe, tem total diferença. E hoje você percebe as pessoas que são paz e amor e não são. E as pessoas que são duras e são paz e amor. Você consegue ver isso claramente. Porque as pessoas que são paz e amor, elas têm um terreno muito sólido ali. Elas buscaram, elas passaram. Não basta só ler, tem que vivenciar, é importante vivenciar. Teoria, eu atendo muitos profissionais que têm a melhor faculdade, que têm as melhores teorias, mas não conseguem vingar. Porque querem pôr teorias e não dão atenção de como praticar aquela teoria de uma forma leve. E deixa de ouvir um cara que não é formado, que faz aquilo há décadas, que ela não quer respeitar e o cara tem as respostas para… Isso eu vejo muito. Então quem estuda tem que estar atento. Hoje tem poucas parteiras, mas está voltando as parteiras. Eu atendo uma enfermeira que montou um grupo de parteiras que é sensacional. Porque o Brasil é um país que faz cesárea o tempo todo. E o mundo não é assim. O Brasil é. Então a volta da cesárea… A volta das parteiras, é muito legal. E eu vejo nas parteiras, benzedeiras, pessoas de cura. Essa enfermeira, ela mora em Santo André. Ela é incrível. Quando ela me chama para fazer um atendimento com ela, é uma festa para mim. Sabe, porque ela tem tanta luz. E ela enquanto enfermeira, enquanto parteira, ela é sensacional. Ela enquanto pessoa, ela é muito conflituosa. E aí a gente consegue se entender e a gente consegue conversar. E a leitura vira um diálogo, mas ela é uma leitura. E é isso que me interessa, é trabalhar com o meu instrumento de trabalho dessa forma.
P/1 - E Aryel, quais são os seus sonhos?
R - Olha, eu quero ser uma pessoa melhor, cada dia mais. Sonhos materiais, eu quero ir para alguns lugares ainda. O baralho cigano veio da Índia 800 anos antes de Cristo, parece. Não é uma certeza, não tenho certeza de nada. Depois teve um momento que ele foi para o leste europeu. Depois ele chegou na França, a Lenormand patenteou ele. Ela foi a cartomante inclusive do Napoleão, ela previu até o fracasso dele e tal. Mas ele passou pelo leste europeu, Hungria, Bulgária e Romênia. Então, eu conheço muitos países da Europa, mas eu não conheço o leste europeu. Então a minha vontade é poder ir nesses países. É um sonho, uma vontade. Poder ficar pelo menos 15 dias em cada lugar, sentir a energia, porque eu devo ter passado por esses lugares em alguma encarnação. Então, quando eu vou em um país novo, é muito bom para mim. Isso faz a minha criança ser ativa. É como se eu tomasse uma vitamina que me traz a juventude de volta. Eu não tenho por minhas pernas, eu caminho 300 quilômetros por dia se for necessário. Eu olho para todos os lados, eu escuto mesmo sem entender o idioma e está tudo bem. Eu uso a minha intuição para entender aquela energia. Então eu quero tanto que eu quero morar um ano na Itália para poder viajar bastante. Sabe fazer todos esses países. A Itália é um país que eu gosto muito. Então eu quero muito isso. Muito essa experiência. Aí esse menino que gosta de ficar em casa sai. Vai e tal. O que eu não gosto é de gente chata. Gente que não tá nem aí com o planeta, gente que não tá nem aí com o outro, gente que não percebe o tamanho da vergonha que tá passando nessa encarnação, que não tem nenhum respeito. Essas pessoas não me interessam. Jamais. E eu já não tenho paciência pra conviver com elas.
P/1 - Você dividindo e partilhando tudo isso com a gente, será que você consegue dizer qual a relação da fé, da vida e da morte para você?
R - Eu acho que a gente vem de um lugar, a gente volta para o lugar. Então assim, eu acho a vida sem fé muito triste, para começo de conversa. A fé, ou você tem ou você não tem. Se você estuda muito, se torna muito racional, a tendência é você perder a fé. A tendência é essa. Mas, por exemplo, a fé existe e você pode aproveitar isso por vários acontecimentos. Há muitos anos atrás, no Fantástico, um médico que era completamente ateu, completamente frio, ficou dois anos em coma. Dois anos! Você pode procurar isso, eu não sei o nome, mas você procura que existe essa matéria. Quando ele voltou do coma, ele voltou normal, ele não desenvolveu nenhum tipo de coisa. E ele virou um médico com fé e acreditando no outro plano e trazendo histórias e curando as pessoas. Então, quando você vê essa história, cara, como não ter fé, né? E esses acontecimentos que eu fui falando pra você, com avô, com bisavô, com isso, com aquilo, isso pra mim é uma resposta. Então, a fé estar aqui com vocês deve ter um objetivo de um plano espiritual maior. Eu não me considero uma pessoa nem difícil, nem fácil, nem especial, nem nada. Eu me considero uma pessoa que está buscando um lugar no sol, não para brilhar, não é nesse sentido. Aqui dentro, para ser feliz. Para olhar para o universo e não ter vergonha dessa existência. Agora, se a gente for falar das minhas sombras, eu tenho sombras. Mas eu tomei a vida inteira cuidado para que os meus defeitos prejudicassem só mim. Eu sempre respeitei muitas outras pessoas. Mas também nunca deixei ninguém invadir o meu espaço. Por conta da minha infância, por conta daquele período do colégio, eu fui conseguir colocar barreiras. E eu fui entendendo que o meu intuitivo era muito forte. Ele ia me protegendo. Até por isso a psicanálise me interessa, porque ela busca entender o intuitivo. Na verdade, ela busca entender o inconsciente. E o inconsciente, para mim, está muito ligado ao intuitivo. Porque eu deixo meu inconsciente falar muitas vezes. Tem vezes que eu tô atendendo uma pessoa e eu começo a falar e a pessoa olha... “Como que você descobriu isso? Como é que você sabe disso?”. “Só sei que sei. Não me espere teorias, não sei. Não existe”. Quando você tem fé, você tem fé. Quando você não tem fé, você não tem fé. Agora, eu costumo dizer que os meus melhores amigos são ateus. Por quê? Os ateus, eles são ateus. Mas se você olhar e procurar as ONGs da vida, você vai ver que a maioria dos ateus estão ali, estão ajudando, estão ensinando. E se você perguntar para um ateu na rua onde é tal endereço, ele te leva A maioria, 90%, não vou dizer todos, porque eles são ateus, mas querem um mundo justo, eles não querem prejudicar ninguém, eles são mais frios assim. Então eu tenho um amigo ateu, ele não gosta de nada do que eu faço, mas ele às vezes quer conversar comigo, ele me escuta e tal. E eu percebo que ele quer falar, que ele tem um espiritual muito forte. Aí eu sempre falo: “então tá, então a gente pode tomar um café”. Daí de vez em quando ele manda mais: “Hoje você tá livre? Você consegue tomar um café?”. Às vezes eu tô, vou. E eu deixo ele falar. E ele escuta tudo, de uma certa forma. Sabe, ele vai ouvindo tudo. E o mais impressionante que ele é ateu. Mas ele olha pra mim com tanto amor de amizade que aquilo pra mim é fé. Ele só não sabe disso, mas é fé. E eu não tenho o menor preconceito com os ateus. Ao contrário, até porque eu não sou ateu, mas eu sou espiritualista, eu estou aberto a tudo, até o ateísmo. Eu não sou de precisar ver para crer, mas eu preciso que tenha uma certa lógica as coisas. Porque a minha espiritualidade vem muito do meu mercúrio. Eu sou leonino quase virginiano. Eu nasci meio dia e vinte, se eu tivesse nascido seis horas, eu seria Leão. Então, eu estou na linha de divisa. E meu ascendente é Sagitário. Sagitário me traz a aventura. E Sagitário é regido por Júpiter, que é a expansão espiritual, que é o planeta da expansão. Então, o meu prazer está nisso. Fora que eu tenho a lua em Libra. E eu sempre achei essa lua em Libra muito confusa. Até que eu vi um cantor falando de uma música e na música ele fala que seria ótimo se eu tivesse a lua em Libra. E ele falou com tanto romantismo que eu comecei a me apaixonar pela minha lua em Libra. E aí eu falei: “nossa, tudo é uma questão de ótica mesmo”. Então, o que eu ia falar assim, eu tenho mercúrio em virgem e mercúrio não faz aspecto com nada e mercúrio é o que te leva para a comunicação. Então, toda a minha espiritualidade está na minha facilidade de buscar informação muito rápido e vem desse mercúrio também. Então tem alguma coisa no DNA que te leva para um lugar. Fora que uma coisa que eu não falei. Numa vida passada, eu não pude exercer minha espiritualidade porque eu vivia numa época de inquisição. Eu tinha medo de morrer queimado. Eu tinha medo de que me atirasse uma pedra no rio e me jogasse e tal. E eu, por medo, acho que eu não podia. E eu voltei nessa encarnação para cumprir a minha espiritualidade. Por isso, que nada funcionou no começo e eu tive que ir pra esse caminho. E realmente, eu posso dizer que ele me trouxe a sobrevivência. É uma troca. Eu faço uma troca com as pessoas. Eu dou o meu melhor e sobrevivo disso. Então isso pra mim me ajudou muito. Porque como é que eu ia trabalhando no escritório?
P/1 - Gostaria de te perguntar se você gostaria de acrescentar algo que a gente não tenha te perguntado.
R - Algo que não tenha perguntado?
P/1 - O que você acha que seja importante estar aqui registrado.
R - Não sei, eu acho que a gente está falando o que cabe, o que tem que falar mesmo sobre fé. Essa é a minha forma de lidar com a fé. Se tiver que falar algum registro, é isso, é sobre a fé. É você aprender que você tem muita sorte de nascer no Brasil e poder exercer sua fé, apesar de tudo que a gente vive. Enfim, ainda há espaços que vão cabendo às pessoas. Eu acredito muito que o Brasil está sendo muito preparado para ser a terra do Evangelho, a terra da paz. É um processo que talvez a sua geração alcance, eu não sei. Mas isso vai acontecer. Essas crianças que vão nascer, isso tudo vai acontecer. Se você olhar para a história, muita coisa melhorou. Embora lá fora, olhando para a política do mundo, o mundo está empobrecendo lá fora. Mas eu acredito que aquilo é muito rápido. Aquilo não vai funcionar. Então, acrescentar, eu acho que não, porque esse é meu olhar, assim, essa é a forma que eu tenho de ver. Quando isso se transformou no meu trabalho, quando eu falo que eu não gosto muito de panelinhas, não é que eu não queira, eu já até fiz parcerias com pessoas, tem profissionais lindos dessa área que eu indico, mas ser fiel ao que eu estou aprendendo, é muito útil para mim. Então a minha fé está ligada à minha fidelidade com a existência. Então eu sempre falo para as pessoas, quando as pessoas falam: “eu quero que o meu marido vá fazer uma consulta com você”. Eu falo: “mas ele está afim? Ele quer? Ele está pronto? Ele pediu? Se não pediu, não faça. Não é assim que funciona”. As pessoas quando vêm para mim, têm que vir na hora certa. E eu quero estar na hora certa da vida deles. O que me alimenta é todos os dias olhar, sair de uma leitura e sair feliz. E é muito engraçado que eu sou muito exigente. Às vezes eu saio de uma leitura. “Podia ter falado assim, podia ter olhado isso”. E aí passa um tempo, a pessoa volta para mim e eu percebo que aquilo era daquele momento e ali me dá um alívio. Porque não é receio de errar, mas é receio de não ajudar, de não contribuir para a evolução daquela pessoa. Isso me ajuda. Eu recebo muitas mensagens. Às vezes eu estou triste, como qualquer ser humano. Estou lá triste, achando que eu não sou nada, que eu não represento nada, que meu trabalho é inútil, começa a vir mensagens de pessoas assim: “cara, eu lembrei de você, você me ajudou” ou “eu tô andando no parque, tô ouvindo a tua consulta”, porque as pessoas gravam, “meu, eu não tinha prestado atenção que você falou isso, isso. Isso fluiu assim”. Isso me dá um ânimo. Não é de ego, é de utilidade. Porque uma das minhas perguntas à noite é, você foi útil? Você está útil. Ser útil é fundamental. Eu não gosto de gente inútil, gente que só pensa em si. Eu acho que tem uma escritora, uma psicóloga americana que escreveu um livro chamado Perdas Necessárias. Num determinado momento ela fala o seguinte, que o narcisismo em si é horrível, mas a falta total de é pior. Então você tem que saber… E no mundo hoje, todo mundo tem um grau de narciso, uns maiores, outros menores e tal. Mas qual é o teu tamanho de Narciso? Então ele prejudica, ele ataca. Então você tem que entender o processo. Então eu, basicamente, eu me fiz autodidata. E hoje eu estou buscando, fiz um cursinho ou outro, fiz cursos de florais, fiz algumas coisas assim. Mas o que funcionou mesmo para os meus clientes foi a minha sensação. Que ela trouxe respostas que fez as pessoas mudarem. Esses dias, esse filho dessa minha amiga de Portugal, acho que ele tem 40 anos hoje, e quando ele tinha 16, eu fiz a primeira leitura pra ele e ele tem a folha com a numerologia. E eu falei: “você vai casar, você vai ter dois filhos, você vai morar fora do país, você vai encontrar uma mulher assim e assim assado”. E todas as vezes que eu vou a Portugal, ele mudou pra Portugal, eu fico às vezes na casa dele e dessa minha amiga que mora no mesmo prédio, a mãe dele. E aí, esses dias, ele me mandou pelo WhatsApp uma foto da primeira que eu fiz pra ele, que ele tinha 16 anos, ele falou, “cara, tudo”, ele anotou, “tudo aconteceu, tudo fluiu”. Sabe, tudo fluiu. Essa última vez que eu fui a Portugal foi em 2022, começo de 2022, em fevereiro. Eu fiz uma leitura lá pra ele, eu falei: “você vai mudar de país de novo”. E ele trabalha no Banco de Portugal. E aí, ele recebeu uma proposta para ir ter um cargo grande do Banco de Portugal em Cabo Verde. Resumo da ópera, está morando em Cabo Verde. E tem o irmão dele que também tinha a mesma faixa etária. Então essas coisas me alimentam. Então assim, se sentir útil. Então a fé está relacionada com se sentir útil. Você aumenta a fé quando você é útil. Você diminui a fé quando você se sente um pouco inútil. E tudo tem a ver com energia, por exemplo, a lua. A Lua Minguante que eu sempre pego situações mais brandas na Lua Minguante. A Lua Minguante me traz uma queda, é natural. Na Lua Nova, e eu nasci numa Lua Nova, eu sou muito inspirado para fazer meu trabalho. Então eu gosto muito da Lua Nova porque eu consigo ir longe com o meu trabalho, eu consigo estar... O que é ir longe? É ter disposição, é ter argumento para mergulhar na vida do outro, no conselho para o outro, na intuição para o outro, nos perigos que o outro tem que desviar. Isso me ajuda muito, porque não é assim. Você sempre tem que olhar para a pessoa que você está fazendo um trabalho. O que ela precisa nesse momento? Às vezes a vida dela está parada, não tem futuro, porque ela parou ali. O que vai ter é rotina. Se ela não mudar isso, porque esse papo de vai com Deus, fica com Deus, se Deus te ajuda, isso é papo furado, para morrer e dormir. Sabe? Deus não vai, não fica, não ajuda, Deus não te deu livre-arbítrio e falou, te vira, filho. Se você rezar e tal, o universo pode até conspirar, mas saiba o que está pedindo, pelo amor de Deus. Se a pessoa pede um... Às vezes eu ensino uma moça a fazer uma oração, porque ela quer encontrar um relacionamento. Aí ela volta para mim, com a maior cara de pau, assim, e fala, “mas ele é gordo, ele tem barriga, ele é careca”. Eu falo: “você especificou o que você queria. Você quer devolver agora?”. Conversa com a pessoa, vai mudar. Então, você atrai, porque se você tem um anjo, um protetor, e você pede uma coisa, ele vai pegar o primeiro. Se você não especificar, é a mesma coisa. Se você vai fazer uma ficha de trabalho e você fala um monte de coisas que você não sabe fazer, e eles te contratam, cara, você vai dar vexame, você vai passar vergonha. Então a vida não é diferente, a oração não é diferente. O universo pode te mandar, porque o desejo atrai.
P/1 - Como foi para você dividir um pouco da sua história com a gente?
R - Para mim é tranquilo. Eu ando numa fase que eu tenho falado muito sobre isso para muitos lugares, para muitas pessoas. Então, de uma certa forma, eu fiz um trabalho comigo mesmo, de conversar comigo e com a minha criança interior. Eu tenho uma memória boa, então eu volto naquela dor dos cinco anos, eu volto naquilo e eu converso, eu acolho, eu transformo, eu mudo, eu dou risada. Eu acho engraçado, eu acho triste. Então hoje, aquilo que eu falei, eu tenho o meu tamanho, nem mais nem menos. Eu tô consciente. Ah, você queria ser uma pessoa mais bonita? Talvez. Você queria ser uma pessoa mais inteligente? Também. Mas tá tudo bem. A minha história me levou pra esse lugar. E eu não tô infeliz nesse lugar. Agora, felicidade geral não existe, esquece. Alegria total não existe, esquece. Eu passei a vida inteira procurando coisas que algumas foram boas não terem vindo, outras foram boas terem vindo e outras vieram que deveriam não ter vindo, mas faz parte da vida. Então, essa lei da atração, essa lei do desejo, essa liberdade, porque as pessoas não entendem o que é livre-arbítrio de verdade. Elas acham que você tem que, quando você fala de fé, você está ligado em uma religião. Não é assim. A fé está muito além de uma religião. Eu tenho absoluta certeza que existe uma inteligência muito grande e eu sempre, desde criança, falo com ela. Não conheço, não posso te falar fisicamente, mas eu sei que tá. E isso me move. Então, assim, eu posso mentir pra você, pra ela, mas eu não minto pra mim. Eu sei a minha verdade, você sabe a tua verdade. Então, quando você busca espiritualidade, você busca conhecer seus defeitos, melhorar seus defeitos, melhorar sua dor, melhorar sua baixa (auto)estima, melhorar tudo. É que nem eu estava falando com um cliente, ele começou a curar, a fazer um trabalho espiritual num centro e tal, pra curar o joelho dele, e eu falei: “vai no médico também”. Ele falou: “mas eu estou me sentindo melhor”. Eu falei: “vai no médico também”. “Mas por que eu tenho que ir ao médico?”. Eu falei: “você tem que ter certeza da sua cura”. Porque qualquer espiritualidade ou qualquer filosofia legal, qualquer religião, que você for que for legal, ela tem que olhar… Você tem que olhar para a cura espiritual e você tem que olhar para a cura dos médicos também. É natural isso. O próprio Chico Xavier, que para mim é um ídolo, falava isso. E o Chico, ele me ensinou muita coisa assim. Ele tinha uma pureza, uma entrega. Então pra mim disparadamente, ele é o maior de todos os brasileiros que pintaram nessa terra. Olhar pra ele, ninguém consegue chegar perto do que ele foi e nem ele tinha essa vaidade. Mas ele tinha algumas vaidades, como a da peruca, como tinha medo de avião, medo de cair, medo de morrer. E se ele tinha medo de morrer, quem sou eu pra não ter? Então, essas referências são muito úteis para a minha fragilidade, para entender a minha fragilidade. Então, hoje, você está conversando com um cara um pouco mais seguro, mas não é um cara inflexível e não deixo mais de ser um cara flexível a entender. Se vier um ensinamento legal, eu estou aberto. Não é que eu não quero panelinha porque cada um... Quando eu comecei, era muita gente e tal, umas clínicas começaram a me chamar, mas eu não fui, porque eu não vou. Eu não vendo um sabonete que eu não acredito. Se você tem que trabalhar em um lugar e tem que vender a pomada, aqueles vinhos, esquece, eu não vou fazer isso. Quando eu falo pra você ler tal livro, é porque o livro é bom, não é porque o autor me pagou. Então, essa ética eu preciso. Essa coisa eu percebo quando você lida com o outro e principalmente quando você lida com o outro que te procura fragilizado, aí amor, eu tenho que ter muito mais amor. Eu tenho que ter muito respeito por aquele ser e é isso é um receio que eu tenho de estar sempre atento a isso. É muito importante isso para mim. Porque se uma coisa que eu tenho é respeito pelas pessoas, porque eu também sou muito duro com algumas pessoas, mas essa dureza o tempo também me mostrou que foi bom, foi interessante. Então eu tô sempre olhando pra minha história, eu tô sempre olhando pra minha história, tô sempre olhando pra quem eu sou, tô sempre olhando pra minha fé. E a fé, ela nasce com você, ela não é de uma religião. A fé no poder dessa árvore, a fé no poder desse diálogo, a fé no poder de atravessar a rua, olhar pros lados e ter certeza que nada vai acontecer, a fé de saber que nada vai... Por exemplo, eu sou uma pessoa que moro numa cidade mais violenta do mundo que é São Paulo.
P/1 - Então, te agradecer por esse espaço, por esse momento, por vir até aqui, apesar desses desafios, foi muito prazeroso.
R - Pra mim não foi ruim não, foi bom. Eu faço tudo com amor, então pra mim é tranquilo. Se de alguma forma isso tiver um efeito positivo pra alguém, pra mim é o que importa. Eu não tenho filhos e nem quero ter filhos, mas se você consegue deixar uma marca, em algum momento alguém consegue ter acesso a isso e fizer um bem ou por algum motivo, pra mim tá tudo bem.
Recolher