P/1 – Mirian, boa tarde. Muito obrigado do Museu da Pessoa e do Projeto Mulheres Empreendedoras, por nos dar esse seu depoimento, é uma grande satisfação do Museu e do Projeto tê-la aqui hoje. Qual o seu nome, o local e a data de nascimento?
R – Meu nome é Mirian Madalena de Jesus Lourenço, eu nasci no dia 16 de maio de 1980, eu nasci na Comunidade da Casa Branca, com 12 anos eu vim morar aqui no Borel, minha mãe separou do meu pai e aí não tinha onde morar, minha avó cedeu um quarto dela para nós seis morar mais a minha mãe.
P/1 – Aqui no Borel. Quais são os nomes dos seus pais?
R – Antônio Francisco de Jesus, Marli Madalena de Jesus.
P/1 – O que os seus pais faziam?
R – Meu pai era motorista do Tijuquinha, minha mãe ela trabalhava na Ordem Terceira como faxineira.
P/1 – Legal. E como você descreveria seu pai e sua mãe?
R – Meu pai e minha mãe? Minha mãe para mim, assim, é o mundo, que ela me ajudou muito, sabe, você, ela é minha amiga, ela é minha irmã e mãe. Meu pai, meu pai não tem muito o que falar, porque meu pai abandonou a gente com 12 anos de idade, a minha mãe teve que trabalhar, dois trabalhos, assim, ser aquela mãe e pai.
P/1 – Ela te contava histórias da infância dela, sobre os seus avós, como é que era?
R – Ah, a minha mãe falava que ela foi moleca, pipa, subir em árvore, era o jeito dela assim, ela era dessa maneira.
P/1 – O que a sua família fazia? Em geral, quais são os costumes dela, o que ela fazia de diferente das outras famílias?
R – Minha mãe, todo final de semana levava a gente no Arpoador para brincar, eu achava a coisa mais, assim, a coisa mais emocionante brincar no Arpoador, assim, aquele espaço…
P/1 – E do que você brincava?
R – Ah, eu brincava de tudo, de gangorra, de balanço.
P/1 – Qual a brincadeira você mais gostava?
R – Ficar “gangorreando” o tempo todo, de...
Continuar leituraP/1 – Mirian, boa tarde. Muito obrigado do Museu da Pessoa e do Projeto Mulheres Empreendedoras, por nos dar esse seu depoimento, é uma grande satisfação do Museu e do Projeto tê-la aqui hoje. Qual o seu nome, o local e a data de nascimento?
R – Meu nome é Mirian Madalena de Jesus Lourenço, eu nasci no dia 16 de maio de 1980, eu nasci na Comunidade da Casa Branca, com 12 anos eu vim morar aqui no Borel, minha mãe separou do meu pai e aí não tinha onde morar, minha avó cedeu um quarto dela para nós seis morar mais a minha mãe.
P/1 – Aqui no Borel. Quais são os nomes dos seus pais?
R – Antônio Francisco de Jesus, Marli Madalena de Jesus.
P/1 – O que os seus pais faziam?
R – Meu pai era motorista do Tijuquinha, minha mãe ela trabalhava na Ordem Terceira como faxineira.
P/1 – Legal. E como você descreveria seu pai e sua mãe?
R – Meu pai e minha mãe? Minha mãe para mim, assim, é o mundo, que ela me ajudou muito, sabe, você, ela é minha amiga, ela é minha irmã e mãe. Meu pai, meu pai não tem muito o que falar, porque meu pai abandonou a gente com 12 anos de idade, a minha mãe teve que trabalhar, dois trabalhos, assim, ser aquela mãe e pai.
P/1 – Ela te contava histórias da infância dela, sobre os seus avós, como é que era?
R – Ah, a minha mãe falava que ela foi moleca, pipa, subir em árvore, era o jeito dela assim, ela era dessa maneira.
P/1 – O que a sua família fazia? Em geral, quais são os costumes dela, o que ela fazia de diferente das outras famílias?
R – Minha mãe, todo final de semana levava a gente no Arpoador para brincar, eu achava a coisa mais, assim, a coisa mais emocionante brincar no Arpoador, assim, aquele espaço…
P/1 – E do que você brincava?
R – Ah, eu brincava de tudo, de gangorra, de balanço.
P/1 – Qual a brincadeira você mais gostava?
R – Ficar “gangorreando” o tempo todo, de “gangorrear” o tempo todo, aquilo ali, ninguém me tirava dali.
P/1 – E, você sabe a origem da sua família?
R – Não.
P/1 – E seus avós, você lembra nome deles?
R – Lembro, minha avó da parte de mãe, meu vô faleceu em 2005, mas a minha avó, a minha bisavó também, eu lembro também, porque a minha bisavó quando a gente era criança ela tinha bisnaga, a gente brigava pela aquela ponta do bico do pão, a minha bisavó comprava seis bisnagas para poder dividir para nós seis, porque todo mundo queria comer o bico do pão e dava café com leite naquelas canequinhas de malte, esmaltado, e a coisa que eu lembro da minha avó e da minha bisavó era isso.
P/1 – E eles são do Rio de Janeiro mesmo?
R – A minha avó era de Minas.
P/1 – Ela te contava história de Minas?
R – Não, não…
P/1 – … Como que era a vida dela lá.
R – Não, minha avó não.
P/1 – Você sabe por que ela veio para o Rio de Janeiro?
R – A minha avó veio porque a mãe dela, a mãe dela trouxe ela para cá, que ela veio trabalhar numa casa de um coronel, veio a minha avó, meus quatro tios, mais a minha mãe que estava nova, com a minha avó e a minha bisavó para cá, que ela não tinha condição, estava passando necessidade. Esse coronel adotou eles, até hoje ela chamava ele de pai, que ele adotou a minha bisavó para morar aqui. O que eu lembro da minha avó é isso.
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho.
P/1 – Quantos?
R – Cinco.
P/1 – Você lembra o nome deles?
R – Lembro de todo mundo. Vou começar do caçula, Cristiano, Guilherme, Maria Helena, [barulho de motor – inaudível].
P/1 – Como era a infância com os seus irmãos, como era a casa cheia, as brincadeiras?
R – Ah, era uma brigaiada, uma briga! Eu sou a mais velha o fato do meu pai abandonar a minha mãe e deixar a gente sozinho, eu parecia a mãe deles com 12 anos. Eu levava meus irmãos no hospital, no posto para pedir medicamento, tanto que uma época, eu não me esqueço, que o meu irmão caçula, ele estava trabalhando, caiu um tijolo na cabeça dele e abriu, eu com 12 anos de idade, eu estava no Andaraí, não tinha idade para poder socorrer ele, estava desmaiado. Aquilo ali, eu senti que eu era mãe dele, mas eu não tinha 18 anos, eu tinha 12 anos de idade. E ali a moça viu que eu estava indo socorrer meu irmão, deixou eu entrar, mas quando eu cheguei em casa a minha mãe, a minha avó, me deu uma coça, porque eu ter socorrido ele não ter avisado a ela, né. Então, eu era assim, como se fosse mãe deles, se estava errado, chama para poder conversar comigo, eles, quando precisam vão na minha casa: “Preciso conversar com você.” Eles têm mais contato comigo de falar as coisas do que com a minha mãe. Por eu sempre ter cuidado deles como mãe deles.
P/1 – E você se lembra da casa que você morava quando você era criança?
R – Lembro.
P/1 – Como que ela era?
R – Ela era uma divisa entre o Borel e a Casa Branca. Era uma casinha de estuque, tinha um quarto, uma sala e uma cozinha. O banheiro, não era banheiro, era tipo um buraco, uma fossa.
P/1 – E o bairro, como era, o Borel?
R – Como assim?
P/1 – Como que ele era, como eram as casas, como que era o bairro?
R – Não era bairro, assim, era uma casa aqui e outra lá em frente, tanto que a gente morria de medo quando escurecia, porque não tinha luz, tinha luz lá longe. Não eram casas próximas como agora é, era assim.
P/1 – E o Rio de Janeiro como é que era na sua infância?
R – O Rio de Janeiro? Eu fui conhecer o Rio de Janeiro, assim, com vinte e poucos anos, porque… Eu fui na Quinta sabe com quantos anos? Com 22 anos, porque eu não tinha tempo, tinha que cuidar dos meus irmãos que eram de menor, não tinha tempo de curtir.
P/1 – Como que foi assim, uma criança tendo que ajudar tanto em casa, cuidar dos irmãos, como é que você se sentia naquela época?
R – Eu sentia que eu estava ajudando a minha mãe, estava fazendo alguma coisa importante para a minha mãe.
P/1 – E nesse tempo todo, você tinha tempo para brincar?
R – Tinha, eu fazia a obrigação de casa, eu e meu outro irmão e aí a gente ia brincar, brincava de bola. Meu falecido avô fez, assim, uma casa de árvore para a gente brincar, que era eu, meus três irmãos que eram maiores e meus quatro primos. Então, meu avô pegou a árvore, construiu uma casa ali para a gente brincar e ficava o dia inteiro brincando, fazia as coisas de casa e ia para lá.
P/1 – Como era a casa na árvore, como era sentir que tinha uma casa na árvore?
R – Ah, era muito legal! Eu achava uma coisa, assim, legal, porque como se fosse a nossa casa, a gente botava cama, cozinha. A minha avó, a minha avó fazia comida e tinha as panelinhas de ferro, botava ali para a gente e a gente ficava o tempo todo ali, mas era uma coisa tão legal!
P/1 – Você tinha muitos amigos?
R – Não, eu não tinha muito, não.
P/1 – Era mais seus irmãos?
R – As primas, eu tinha e tenho muito primo. Muitos primos mesmo.
P/1 – Como é o convívio com os primos, do que vocês brincavam?
R – A gente brincava de pique-esconde, de lata, brincava de jogar bola.
P/1 – Qual era o seu sonho de criança, o que você queria ser quando crescer?
R – Eu queria ser médica.
P/1 – Por que?
R – Eu achava que tinha que curar todas as pessoas que ficavam doente.
P/1 – Quando você cresceu, por que você não…
R – … Porque eu estava estudando, aí eu engravidei do meu filho, aí eu parei de estudar, aí eu falei: “Então, eu não vou conseguir.” Parei de estudar, porque eu também trabalhava e estudava, fiquei grávida, eu não aguentei, parei.
P/1 – E o que você mais gostava de fazer quando você era criança?
R – Era ficar dentro daquela casinha que meu vô fez para a gente. Se era uma coisa que eu fazia rápido, fazia as coisas rápido para poder ficar naquela casinha.
P/1 – Como era o dia a dia na casinha? Do que brincava, como ela era?
R – A gente não tinha como fazer roupa de boneca, pegava revista, a gente cortava as roupas das bonecas, das modelos e botava nas bonecas. Relógio, aqueles relógio que tem em revista, a gente cortava, botava.
P/1 – Entendi.
R – Joia a gente botava também.
P/1 – E como era essa casa na árvore?
R – De madeira, com telha, com as telhas brasilit. De telha, de madeira, a gente forrava com tapete, muito legal.
P/1 – E quem ia nessa casa?
R – Ia eu e meus três irmãos, mais meus primos também, é isso. Até brigava às vezes, meu avô: “Não vou deixar voltar mais naquela casinha.”
P/1 – Tinha que subir para chegar nela?
R – Tinha.
P/1 – Como é que era?
R – Meu avô fez uma escada na árvore mesmo para gente brincar.
P/1 – Alguém já caiu da casa da árvore?
R – Ah, sim, olha o que eu fiz com o meu irmão, olha, eu vi Super Homem na televisão, o Super Homem voou. A gente pegou folha de bananeira, tentamos voar com aquilo. E aí eu para o meu irmão: “Olha, eu vi, eu acho que o homem tem que ir primeiro.” Aí meu irmão: “Não, vamos nós dois.” “Não, o homem que tem que ir primeiro.” Meu irmão foi pular dali, se quebrou a perna, todinho. Aí eu fui falar com a minha mãe que eu que tinha falado: “Fui eu que mandei.” Quando chegou no hospital, ele falou: “A menina que me mandou.” Mas a minha mãe me deu uma coça.
P/1 – E qual a sua primeira lembrança da escola? Como é que era?
R – Na escola, assim, como assim?
P/1 – Como que era a escola, quando você chegou na escola, como é que você se sentia?
R – Fui sozinha, porque meus irmãos estudavam no Solon e eu estudava no Araújo, aqui em cima. Aí tinha uma professora, a Marlene, professora de leitura, eu conversava muito com ela, ela falava: “Você está triste?” Eu falava para ela: “Não, meus irmãos estão lá embaixo e eu estou aqui sozinha, me sentindo só.” E essa professora gostava muito de mim. O que é que ela fez? Ela passou para a diretora, a diretora buscou a diretora do Solon, e ela falou: “Não, são irmãos, eles querem ficar juntos.” Me passou para a outra escola. E lá ninguém me batia, batiam nos meus irmãos, e eu enfrentava: “Ah, tão me batendo.” Às vezes, nem batia neles, eles falavam. Sabe tipo aquela mãe? Mãezona?
P/1 – Teve algum dia que ficou marcante isso para você, que você teve que…
R – … Não, marcante, não. Mas fazia muita besteira, a gente fazia.
P/1 – Tipo o que?
R – Tocar os apartamento, os porteiro reclamando. Uma vez que um porteiro pegou a gente, botou a gente dentro da portaria e foi levar a gente lá na escola, foi lá na escola, minha mãe foi lá na escola, deu uma coça na gente, nos meus primos, coisa assim de criança.
P/1 – Legal, e como é que você ia para a escola?
R – Como assim?
P/1 – Você ia a pé…
R – … Eu ia de ônibus.
P/1 – E aí demorava muito o ônibus?
R – Não demorava, que a gente ia, que o meu pai era motorista, então a gente já marcava com ele, o tempo que ele ia passar, a gente fica esperando ele passar.
P/1 – Como é que era andar de ônibus naquela época, como é que era o ônibus?
R – Ah, o ônibus era assim, como assim?
P/1 – Ele era, se ele estava quebrado, como é que era?
R – Não, ele era bem melhor que a van, achava bem melhor.
P/1 – Estava sempre lotado?
R – Não era tão lotado.
P/1 – Como é que é uma criança no ônibus, como é que você se sentiu?
R – Achava legal, achava muito bom.
P/1 – E com relação a sua juventude, você lembra qual foi seu primeiro namoro?
R – Foi com o meu esposo.
P/1 – Como é que foi?
R – Na escola, na escola, uma amiga minha dizendo que ele queria namorar comigo, eu falei: “Não quero namorar esse menino, não.” “Não, só um beijo.” “Não quero beijar você, não”. Um dia pegando o ônibus, meu pai tinha demorado a passar, a gente pegou um ônibus, meu pai tinha demorado, eu peguei o 415 e aí nesse 415 ele estava no ônibus, eu morava no Camisa Branca e ele morava no Borel, aí ele disse: “Agora você vai me dar esse beijo sim.” “Não vou te dar, não.” Aí ele foi, tentou me beijar forçado, quando eu botei aqui no ponto do Borel, ele falou: “Se você me dar beijo, eu vou te levar para o Borel.”“Pode me levar, eu tenho parente lá.” Aí quando chegou o moço falou: “Não faz nada com ela, não”. Aí a gente saímos correndo e chegamos na Ordem, a minha mãe trabalhava na Ordem, a mil. Minha mãe: “O que aconteceu?” “Nada não, mãe.” Aí depois passou um tempo eu comecei a trabalhar, trabalhei numa empresa de limpeza no Sesc da Tijuca. Aí uma certa vez o aspirador não estava pegando, eu fui e desci com raiva que o aspirador não estava pegando, sai jogando o aspirador, ele chegou e falou: “Menina não faz isso, não.” Eu não reconheci ele, de tanto tempo que havia passado.
P/1 – Quando você começou a sair, você ia sozinha, ia com seus primos, seus amigos, como é que era?
R – A minha mãe não deixava a gente sair, não, prendia a gente dentro de casa, ela achava que o que aconteceu com ela ia acontecer com a gente também. Ela botava assim: “Se bota no caminho, do caminho não pode passar.” Ela falava assim: “Só pode nesse beco aqui, no outro beco você não pode.” Então, a gente era preso dentro de casa.
P/1 – Como é que você se sentia sendo uma jovem, presa em casa, vendo os outros amigos sair, como que era isso?
R – Eu ficava triste, escutava: “Fui em tal lugar, fui em outro.” E eu não podia ir.
P/1 – E o que mudou da sua infância para a sua juventude?
R – Como assim?
P/1 – Coisas que você não fazia quando você era criança e você começou a fazer na juventude.
R – O que mudou? Agora eu posso sair, eu vou para onde eu quero, não tinha mais aquele limite: “Não vai ali.”
P/1 – E com relação a sua juventude, o que você fazia por aqui, como é que, tinha baile, sabe, o que é que tinha?
R – Eu não gostava muito de ir em baile, minha mãe não deixava, a minha irmã do meio, ela pulava, ela tinha essa coragem, eu tinha um medo da minha mãe, mas a minha irmã do meio pulava a janela para ir para o baile. Eu não tinha aquela coragem, eu achava que eu ia, sei lá, eu tinha medo da minha mãe, mas ela não tinha.
P/1 – Já houve um dia que a sua mãe pegou a sua irmã saindo?
R – Já, já pegou uma vez.
P/1 – E como é que era?
R – Ela ficou, ela chegou lá no quarto e ela não estava lá, ela falou: “Cadê a Helena?” “Eu não sei.” Eu fui para o banheiro. Ela foi, deitou na cama da minha irmã, aí quando a minha irmã voltou, minha irmã deu de cara com ela. Aí esse dia apanhou as três, eu, a minha irmã caçula e ela, por a gente estar acoitando ela.
P/1 – Quando você começou a trabalhar?
R – Com 14 anos de idade.
P/1 – O que você fazia?
R – Eu fui ser babá, numa amiga da minha tia, ela trabalha num colégio particular, então essa amiga da minha tia, ela tinha acabado de ganhar neném, não tinha quem ficar com a neném, aí eu fui trabalhar ali próximo a Apoteose. Uma menina que, ela trabalhava numa concessionária de carros, então ela não podia tirar folga, eu cuidava dele, a avó dela também ficava lá, e quando eu fui embora, eu saí de lá ele estava com seis meses, eu tive que ir embora porque a minha mãe começou a implicar.
P/1 – Como é que era trabalhar de babá, como é que era o dia a dia do trabalho?
R – Ah, era tão legal, eu sentia que o bebê era meu, ficava pensando que o bebê era meu, sabe?
P/1 – E como é trabalhar com criança?
R – É muito legal criança, prefiro trabalhar com criança do que trabalhar com adulto.
P/1 – O que você fazia com o dinheiro que você ganhava?
R – Eu dava para a minha mãe, para ela fazer compra para a gente.
P/1 – E teve algum dia no trabalho que te chamou mais atenção? Um dia que foi especial para você?
R – Foi quando eu pesquisando, a minha patroa, ela me deu um kit da Boticário, aquilo ali para mim foi uma coisa que foi profundo, sabe? Ela falou que tinha uma coisa para me dar, mas eu não imaginava que fosse um kit da Boticário, cheguei, assim, parecia que eu estava, eu não, uma coisa mais importante, cheguei em casa fui mostrar para todo mundo.
P/1 – Como é que você se sentiu?
R – Senti assim, como dizer, recompensada assim, sabe? Que ela viu que eu tratava bem o filho dela.
P/1 – E que outros trabalhos depois você fez?
R – Eu trabalhei no Sesc Tijuca, em Botafogo também, no Sesc de Botafogo, trabalhei em casa de família, trabalhei como babá e empregada doméstica também tomando conta de três meninos e depois fui trabalhar com o Celebrando.
P/1 – Ah, bacana! E com relação ao seu casamento, quando você, você já contou como você conheceu seu marido, e depois desses dias aí? Vocês começaram a se encontrar, como é que foi?
R – Aí a gente começou a namorar, aí depois do namoro eu fui além, antes de casar, tive um filho, aí eu fiquei grávida do meu filho, descobri que eu estava grávida do meu filho em junho, eu não acreditei, aí quando eu cheguei lá no posto, lá no posto fiz o teste de gravidez, eu chorava, chorava, chorava, que eu achava que eu ia decepcionar a minha mãe. Aí, e para contar para ela? Eu tinha, eu contei para a minha prima, eu falei: “Tô grávida, como é que eu vou contar para a minha mãe?” Aí chegou numa sexta-feira tinha um almoço lá, um jantar na minha avó, eu fui e chamei ela: “Mãe, eu tenho uma coisa para contar para a senhora.” Ela falou: “Eu já sei,” “Como a senhora já sabe?” “Eu já sei, estou notando o seu corpo.” Que eu estava grávida, ela chorou, chorou muito. Ela chorou muito, ela disse que ela não esperava eu engravidar, esperava as outras, mas eu não. Foi assim.
P/1 – E como você se sentiu nesse momento?
R – Ah, eu me senti a pior pessoa do mundo, isso.
P/1 – E seu casamento, como foi? Você se lembra do dia do seu casamento, como foi, festa?
R – Eu casei só no civil. Foi legal
P/1 – Que sensação você teve, o que você lembra?
R – Ah, fiquei feliz.
P/1 – E as pessoas que estavam lá?
R – Todo mundo me dando parabéns, para eu ser feliz.
P/1 – Legal, e você tem filhos. Quantos filhos você tem?
R – Tenho dois, dois.
P/1 – Quais são os nomes?
R – Denis com 11 anos, Tamires com 9 anos.
P/1 – Como é que você sente sendo mãe?
R – É uma coisa muito boa ser mãe.
P/1 – Como é que você se sente tendo trabalhado numa casa de família, onde você cuidava de um bebê, agora você tem os seus filhos, você tem o seu espaço, o seu papel de mãe? Como é que você se sente sendo mãe, sendo…
R – … Ser mãe é uma coisa, assim, que você não consegue explicar, é uma coisa tão maravilhosa que não sei como explicar.
P/1 – E depois, como são seus filhos, como é no dia a dia?
R – O meu filho é o meu tudo, a minha filha é muito boa, muito boazinha, sabe, ela acorda de manhã já arruma a cama dela, o quarto dela, não preciso pedir, se eu sinto uma dor ela já vem correndo para saber o que está acontecendo, e ele, sabe, meus filhos são meu mundo.
P/1 – E as brincadeiras deles, como é que são?
R – Ah, eu brinco muito com os dois, brinco de luta com os dois, sabe, fico encarnando, o menino que está com 11 anos de idade, eu falo para ele: “Você é meu, não vai namorar com ninguém, não, hein.” Fica danado comigo: “Mãe, não sou só teu, não, mãe.” Sabe, e ela é a minha bonequinha.
P/1 – Interessante. E com relação ao projeto, como você ficou sabendo?
R – Eu fiquei sabendo, anunciou na igrejinha, eu estava lavando roupa, aí eu falei: “Ah, vou ver esse negócio aí, ver se dá dinheiro.” Eu não acreditei. Aí eu chamei a minha cunhada, falei: “Ana, vamos comigo.” Ela falou: “Não, isso é mentira.” Fomos lá, aí eu cheguei na reunião, conversando, falando, me interessei. Aí ele me falou: “Você tem que ir no hotel, fazer um diálogo lá para você conseguir.” Eu vou, e é isso.
P/1 – Como é que foi o impacto, o que você sentiu quando você soube o que é que era o projeto, qual era a oportunidade de ter uma ação específica? O que você, o que passou pela sua cabeça nessa hora?
R –Eu falei: “Eu vou ser a minha patroa, eu mesma, chega de ficar sofrendo, vou ter o meu dinheiro, eu poder tirar do meu suor.”
P/1 – Como você se sente em relação a isso?
R – Ah, eu sinto, assim, uma pessoa importante, eu sinto assim, quando a pessoa fala assim: “Mirian, você está no Celebrando Festa, seu trabalho.” Sabe, eu fico com aquela, assim, dá orgulho, uma coisa que eu adoro quando fala assim: “Celebrando Festa.” Essa semana eu estava na rua, escutei uma menina falando na van: “Celebrando Festa.” Sabe, aquilo ali, fiquei toda boba, como uma mãe? É certo mesmo, eu faço parte daquilo ali, eu fui falando e falando para ela.
P/1 – Legal. E quando você começou a fazer parte do projeto?
R – No começo.
P/1 – E como era esse início, como era as pessoas, os anseios? Como é que era no dia a dia, o trabalho?
R – Como assim? O diálogo ou o trabalho?
P/1 – É, o diálogo, o que vocês pensavam, quais eram, sabe, as pretensões?
R – Era um pouquinho de medo, um pouquinho de medo, sabe, será que vai dar certo mesmo.
P/1 – Legal, e você se lembra do primeiro dia, a primeira festa que foi no Celebrando?
R – Lembro.
P/1 – Como é que foi?
R – Ah, foi legal, foi assim, uma experiência que eu me senti tão importante, sabe, me senti tão importante, quando eu comecei armar o pula-pula ali, sabe, eu tenho que fazer o melhor, é o nosso primeiro. Uma coisa muito legal.
P/1 – Como que era o espaço que tinha na primeira festa?
R – Era uma festa, assim, dentro de casa, a pessoa não alugou um espaço, foi dentro da casa dela, no quintal, o quintal tinha um pula-pula ali, mas foi muito bem, adorou ela, bagunçou até o final com a gente, super gratificante para mim.
P/1 – Quantas pessoas tinham nesse dia?
R – Tinha, trabalhando? Só duas, eu e a outra menina.
P/1 – E como é que foi só duas pessoas?
R – Não, porque só tinha um brinquedo só, e era praticamente uma festa particular, só a família, não tinha mais pessoas, não.
P/1 – E como é que eram as pessoas, o que elas achavam, como eram as crianças?
R – Ah, elas acharam legal, as crianças, eu falei: “Olha, quando a gente fizer um ano vou chamar vocês, vou botar tobogã, piscina.” As crianças ficaram assim: “Hum, hum, titia.” Sabe, ficaram: “Traz o tobogã aqui.”
P/1 – Como é que você se sente trazendo a felicidade às crianças, proporcionando esse momento para elas?
R – Muito gratificante.
P/1 – E seus filhos vão lá, participam, brincam?
R – Vão, às vezes tem que tirar, puxar.
P/1 – O que eles falam para você depois?
R – “Ah, mãe, deixa eu brincar, isso aqui também não é teu?” “Não, isso aí é trabalho.”
P/1 – Legal. E você sabe o que é e o que faz o projeto Celebrando Festa?
R – Como assim?
P/1– O que é o Celebrando Festa?
R – O Celebrando Festa para mim é levar conforto, segurança, alegria para as pessoas. A responsabilidade, muito cuidado com as crianças, às vezes as crianças ficam: “Não, não pode… ” Sabe, para mim Celebrando Festa é isso.
P/1 – O que ele faz?
R – O que ele faz? Traz muita alegria.
P/1 – E quais são as atividades realizadas pelo projeto?
R – Atividades, como assim?
P/1 – O que ele faz?
R – O que a gente faz?
P/1 – As atividades.
R – A gente faz recreação com as crianças, é, tenta fazer uma boa presença para poder o pessoal gostar.
P/1 – E quais as atividades que você desenvolve no Celebrando Festa?
R – Todas, a gente faz de tudo um pouco.
P/1 – Você tem plena noção de toda divisão do trabalho, de todo o processo?
R – É, na montação de um brinquedo até ter um salgado.
P/1 – De que maneira é realizada a divisão desse trabalho?
R – A gente faz uma reunião na sexta-feira e planeja a festa ali, já está planejado quem quiser fazer, quem não quiser fazer.
P/1 – Como você escolhe o que você quer fazer?
R – Assim, eu gosto muito de ficar no pula-pula e no tobogã, gosto de ficar, como as meninas falam, gosta de ficar tomando conta de criança para brincar, para poder, sabe?
P/1 – O que você sente nessa hora?
R – Ah, é uma coisa muito boa, muito assim, é como se fosse um filho, que eu estou ali segurando para poder ele crescer.
P/1 – E o projeto é importante para você?
R – Muito.
P/1 – Por que?
R – Porque é dele que eu vou receber bons frutos.
P/1 – O que o projeto agregou na sua vida? O que trouxe para a sua vida?
R – Me deu um ânimo, eu estava desanimada, vida de casa, lavando roupa, passando, arrumando casa.
P/1 – E com a sua família, e as pessoas em geral, como veem você participando do projeto?
R – Olha, assim, a parte da minha família, da minha mãe, dos meus irmãos, eles me dão uma força, sabe: “Não para.” Eu tive momento assim: “Eu vou parar.” “Não, não vai parar, não.” E da parte assim, do meu esposo, ele é uma pessoa assim: “Ah você está cheia de grana.” “Não, não estou cheia de grana, estamos começando.” Aconteceu um fato de um conhecido do meu esposo me pedir dinheiro emprestado, ele nem sabe disso, eu falei: “Não tenho.” Ele falou: “Ah você tem, você tem uma casa de festa.” “Não, temos o aluguel de material, temos cinco sócias, nós temos que dividir o dinheiro todo, pagar conta, pagar água, pagar luz.”
P/1 – Como são escolhidos os temas, as festas, como é escolhido cardápio, tudo?
R – A pessoa vai lá conversa com a gente, a gente mostra as festas que já fizemos, ela fala: “Eu quero isso, eu quero aquilo.”
P/1 – O que você apresenta do projeto?
R – Muita coisa, muita coisa.
P/1 – Você pode falar alguma coisa?
R – Respeitar. Saber que o outro tem problema como a gente tem também, chorar junto, já choramos muito, uma levantar a outra quando quer parar. Dar força uma para a outra.
P/1 – Como é feita a comercialização do projeto, das festas, como a pessoa entra em contato com vocês?
R – Eu sou uma que desço o morro dando panfleto, falando com as pessoas. As pessoas ligam para a gente, a gente marca um dia com ela e a pessoa vai lá ver as fotos, ver o que a gente tem a oferecer.
P/1 – Como era a realidade antes do Celebrando Festa?
R – Como assim?
P/1 – O que tinha antes que hoje mudou?
R – O que tinha antes? Como assim? Tiroteio, teve vezes de ter que deitar no chão da cozinha, com medo de pegar um tiro.
P/1 – Quais foram os principais desafios que você enfrentou?
R – Olha, foi a dificuldade que eu tive com os meus filhos, filho com febre, eu tive que ir e deixar com a minha sogra.
P/1 – Quais foram os marcos mais importantes para você dentro do Celebrando Festa?
R – O mais importante? Foi o dia da inauguração, foi muito bom.
P/1 – O que você deseja alcançar?
R – Desejo alcançar, assim, a minha casa, acabar de fazer a minha casa, dar uma condição de estudo melhor para os meus filhos, é meu sonho eles terminarem o estudo. Comprar um carrinho para mim, não aguento mais subir o morro.
P/1 – Se você pudesse definir o Celebrando Festa em uma palavra, qual seria?
R – Vitória. Vitória.
P/1 – O que você faz hoje? Profissionalmente?
R – Nada, sou do lar.
P/1 – Só o Celebrando Festa?
R – Só.
P/1– Quais as coisas mais importantes para você hoje?
R – Os meus filhos, minha mãe.
P/1 – Como é que você se sente fazendo parte de um grupo de mulheres que estão aí batalhando, como você se sente com relação a isso?
R – Eu me sinto recompensada, porque eu aprendo muito com elas. Antes eu achava que eu tinha problemas, mas todos têm.
P/1 – Qual é o papel da mulher para você, dentro da sociedade, dentro da Celebrando Festa?
R – Como assim?
P/1 – O que você acha que uma mulher é nesse sentido?
R – Acho que é a mulher é muito vitoriosa, valente, por tudo que a gente passa.
P/1 – Como mulher, como mãe, como empreendedora, o que você pode falar nesse sentido para as pessoas que estão começando, tanto no projeto que querem participar deste, o que você podia falar para essas pessoas?
R – Como assim? É…
P/1 – … Uma mensagem de motivação a elas.
R – Siga em frente, nunca parar, nunca olhe para trás. A dificuldade vem, mas ela passa.
P/1 – Com relação aos seus sonhos, quais são eles?
R – Sonho… Meu sonho é terminar a minha casa, como eu disse né, e ter um carrinho para mim. Ter uma conta, tipo assim, ter uma garantia, onde eu possa precisar, eu tenho aquela garantia.
P/1 – E com relação ao Morro do Borel, o que você tem para me falar, como ele era antes?
R – Morro do Borel antes era tiroteio, era matança, jovem, agora você não escuta jovem anunciar que jovem morreu. Morrer uma pessoa que você viu desde pequenininho. Eu também, não poder mais deitar no chão quando tinha tiroteio, meus filhos, a gente ficar deitado no chão. Entrou bala na minha cozinha, eu fazendo janta, a bala bateu ali na minha cozinha, passou por cima da minha cabeça. Não ter mais medo de ficar num lugar por causa de um tiroteio.
P/1 – E o Celebrando Festa, qual a função dele para a comunidade?
R – Melhoras.
P/1 – Se você pudesse tirar uma mensagem dentro desse projeto e lançar, qual que seria, o Celebrando Festa, qual o mote de você, o que leva a vocês a realizar um trabalho, seja uma festa, seja uma… Desde o início?
R – Como assim, é…
P/1 – … O que você podia falar para as pessoas que acompanham o trabalho de vocês, as pessoas aqui da comunidade, sobre o Celebrando Festas?
R – Não sei…
P/1 – … Um convite a elas.
R – Assim, de realização? Realizado?
P/1 – Isso, para chamar eles até o projeto, para conhecer melhor, para ajudar.
R – Vem conhecer a gente, vem ver o que a gente faz.
P/1 – Como é trabalhar com o grupo?
R – Trabalhar com o grupo é uma coisa boa, porque tem coisas na festa, é um nervosismo, uma primeira vez, sabe, e tipo assim, é uma dando força para a outra: “Não, vamos fazer, a gente consegue fazer, vai dar certo.” É isso.
P/1– Você, pensando na sua infância, o que significa o Celebrando Festa para você? Pensando em todo seu passado, o que ele significa?
R – Uma realização.
P/1 – E para finalizar, você gostaria de deixar alguma mensagem a todo mundo que acompanha o trabalho, alguma palavra para as pessoas que acompanham?
R – Não.
P/1 – Como foi contar a sua história?
R – Assim, umas coisas que acontecem, assim, é, você falar, você lembra, né, o que você está guardando…
P/1 – … Tem mais alguma que você gostaria de falar?
R – Não.
P/1 – Então, muito obrigado.
--- FIM DA ENTREVISTA ---
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