P/1- Então, gostaria de começar a entrevista com o Sr., pedindo pra o Sr. falar pra gente estar registrando, o nome completo, o local e a data de nascimento?
R – José Geraldo dos Santos, nasci em Getulina, região noroeste do estado de São Paulo, entre Lins e Marília no dia 9 de março de 1944.
P/1 – E Dr. José, qual é o nome dos seus pais?
R – Júlio dos Santos, nacionalidade Portuguesa, já falecido, né? E Leopoldina do Espírito Santo, também nacionalidade Portuguesa, também já falecida.
P/1 – E o Sr. sabe em que condições eles vieram para o Brasil?
R – Sei. Lembro bem. Primeiro veio a minha mãe com a minha avó. Vieram os meus avós. O meu avô veio trabalhar na Estrada de Ferro, na construção da Estrada de Ferro, no noroeste do Brasil. Sai de Bauru e vai hoje até Corumbá. Depois meu pai, depois de ter feito serviço militar em Portugal, portanto com 18 anos, também veio pra trabalhar na construção da Estrada de Ferro, ou seja, cortar madeira para os ___________. E aqui se conheceram. Nesta cidade de Getulina, e ali, ambas as famílias abandonaram a Estrada de Ferro, adquiriram propriedades e até hoje nós temos essa propriedade lá em Getulina, que era uma fazenda de café e outras coisas mais.
P/1 – E o Sr. cresceu em Getulina?
R – Não. Até os cinco anos. Aí vim pra São Paulo. Vim com a minha mãe e meus irmãos, meu pai ficou lá pra ter oportunidade de estudar... Meu irmão mais velho tinha cinco anos. Então, eu vim pra São Paulo em 1949.
P/1- E até os cinco anos que o senhor ficou em Getulina, como era a cidade, que oportunidades ela oferecia, o que que o senhor se recorda?
R – É como hoje. Ela é muito pequenininha, a cidade. Nós morávamos na fazenda mesmo. Em Getulina mesmo morava a minha avó. Minha falecida avó tinha uma pensão lá. Então, na cidade de Getulina eu só lembro depois que eu voltava lá. Voltei diversas vezes lá pra passar...
Continuar leituraP/1- Então, gostaria de começar a entrevista com o Sr., pedindo pra o Sr. falar pra gente estar registrando, o nome completo, o local e a data de nascimento?
R – José Geraldo dos Santos, nasci em Getulina, região noroeste do estado de São Paulo, entre Lins e Marília no dia 9 de março de 1944.
P/1 – E Dr. José, qual é o nome dos seus pais?
R – Júlio dos Santos, nacionalidade Portuguesa, já falecido, né? E Leopoldina do Espírito Santo, também nacionalidade Portuguesa, também já falecida.
P/1 – E o Sr. sabe em que condições eles vieram para o Brasil?
R – Sei. Lembro bem. Primeiro veio a minha mãe com a minha avó. Vieram os meus avós. O meu avô veio trabalhar na Estrada de Ferro, na construção da Estrada de Ferro, no noroeste do Brasil. Sai de Bauru e vai hoje até Corumbá. Depois meu pai, depois de ter feito serviço militar em Portugal, portanto com 18 anos, também veio pra trabalhar na construção da Estrada de Ferro, ou seja, cortar madeira para os ___________. E aqui se conheceram. Nesta cidade de Getulina, e ali, ambas as famílias abandonaram a Estrada de Ferro, adquiriram propriedades e até hoje nós temos essa propriedade lá em Getulina, que era uma fazenda de café e outras coisas mais.
P/1 – E o Sr. cresceu em Getulina?
R – Não. Até os cinco anos. Aí vim pra São Paulo. Vim com a minha mãe e meus irmãos, meu pai ficou lá pra ter oportunidade de estudar... Meu irmão mais velho tinha cinco anos. Então, eu vim pra São Paulo em 1949.
P/1- E até os cinco anos que o senhor ficou em Getulina, como era a cidade, que oportunidades ela oferecia, o que que o senhor se recorda?
R – É como hoje. Ela é muito pequenininha, a cidade. Nós morávamos na fazenda mesmo. Em Getulina mesmo morava a minha avó. Minha falecida avó tinha uma pensão lá. Então, na cidade de Getulina eu só lembro depois que eu voltava lá. Voltei diversas vezes lá pra passar férias e etc. Mas na realidade até os cinco anos, eu morei dentro da fazenda do meu pai. Nasci dentro dessa fazenda. Aliás, meu registro de nascimento é muito interessante: “Fazenda Lagoa Bonita, bairro do (Vencáia?), distrito de Getulina, município de Lins” Getulina naquela ocasião era distrito de Lins, né? É uma certidão de nascimento muito interessante. (risos)
P/1 – O que vocês brincavam na fazenda?
R – Lá?
P/1 – É.
R - Até os cinco anos, o que todas as crianças brincam. Era levantar cedo e... Eu não tinha o que fazer. Eu lembro bem que a gente levava o café para os meus irmãos, para o meu pai no cafezal, né? Eu lembro muito pouco. Quando lá eu estive em outras ocasiões passar as férias, sim, eu lembro bem de lá, das atividades, mas até os cinco anos não, não lembro de muita coisa não.
P/1 – E quando o senhor chega em São Paulo, o senhor lembra, da viagem?
R – Lembro. Lembro sim. Aliás, até os cinco anos tem uma passagem. Eu estava com dois para três anos, eu contraí tétano. E internado na Santa Casa de Miseric... Miséri...
P/1 – Misericórdia. (risos)
R – (risos) de Lins, saí de lá enganado pra morrer em casa. Aí um farmacêutico amigo da família me tratou com bicarbonato de sódio e eu consegui sobreviver. Mas realmente eu estava desenganado naquela ocasião, em 1947, né? Então, essa passagem eu lembro. Eu lembro bem que eu estava em casa e as minha irmãs... Eu tenho três irmãs mais velhas, nós somos em onze, né? Estavam ali para se despedir de mim, e eu consegui passar por isso daí.
P/1 – Agora, deixa eu perguntar uma coisa para o senhor. O que o senhor aprontou pra ter contraído tétano?
R – Não lembro. Naquela ocasião eu não lembro. Hoje em dia “Ah, numa coisa enferrujada” Mas naquela ocasião eu não lembro mesmo. Não sei porquê, só sei que contraí tétano. E a viagem que você me perguntou, com cinco anos, eu só lembro quando eu cheguei aqui em São Paulo meu pai comprou uma casa no Jardim da Glória, Cláudio Rossi, ficamos lá alguns meses. Aí, comprou um armazém ali perto, na Lins de Vasconcelos, nós éramos uma família numerosa, né? E enquanto meus irmãos procuraram emprego e estudavam, evidentemente os mais novos só estudavam, né? Eu lembro muito bem disso daí. Fiz aqui todo o meu primário em São Paulo, o ginásio em Jabaquara, Ginásio Ipiranga, Colégio Ipiranga. Depois eu fui obrigado a continuar os estudos, apesar que eu não queria, minha mãe me forçou e eu acabei estudando contabilidade, coisa que eu não imaginava o que que era.
P/1 – Porque que o senhor escolheu contabilidade?
R – Não. Não fui eu que escolhi, foi minha mãe que intimou, né?
P/1 – Deixa eu só pedir o seguinte, para o senhor não bater o pé.
Voz de fundo – É melhor tirar o sapato.
R – Não precisa. Vocês falaram de tudo menos bater o pé.
P/1 – É porque aí fica interferindo, é muito sensível, o áudio.
R – Garanto que na próxima vez eu... (risos)
P/1 – Mas o senhor estava falando do curso de contabilidade, que a mãe do senhor que escolheu o curso.
R – É. Acontece o seguinte, naquela ocasião, com quatorze anos eu fui ajudar o meu irmão que tinha uma farmácia na Vila Mariana e já estudava e repetiu um ano do ginásio. Aí, minha mãe me forçou... Quando eu terminei o ginásio falei: “Agora tô livre” Já trabalhava na Elevadores Atlas, né? E aí, não tinha mais vontade de estudar. Achava que já tinha cumprido a minha missão. E aí, a minha mãe me intimou e me deu dinheiro pra fazer a matrícula, para que eu voltasse pra casa com a matrícula efetuada em algum colégio. E como a gente vai pelos amigos... Eu tinha uns amigos que lá estudavam, na Vila Mariana, colégio famoso, né? Técnico de contabilidade. Aí eu fui e iniciei as minhas atividades na contabilidade que depois me formei em contabilidade, me formei em contador, me formei professor do ensino comercial. Tenho cinco cadeiras de contabilidade. E aí, saí da empresa de Elevadores Atlas para dar aulas. Aí, eu ia dar aulas de manhã e à noite. Vejam bem, naquela época não tinha o rumo definido, porque, se Deus deu o dom, me deu a cruz pra mim carregar na terra foi ser professor, né? Quer dizer, é uma profissão mal remunerada. Eu queria dar aula de manhã e à tarde. Então eu saí da indústria Villares da Elevadores Atlas. Mas nessa ocasião, eu tinha um aluno, José Ângelo Botari, que trabalhava na Santa Cruz. Ele se aposentou ano passado. E o tio dele era o contador na Santa Cruz, e ele soube por alguma razão que eu ia sair de lá, Elevadores Atlas, me procurava, ia todo dia em casa: “ Pô, vamos lá? Meu tio está precisando de um sub contador...” Até que um dia eu falei: “Bom, vou satisfazer a vontade dele e ele deixa de me encher a paciência em casa.” E eu vim na Santa Cruz, eu trabalhava numa empresa com oito mil empregados, no departamento de compras e almoxarifado, andava dentro da fábrica e de repente, eu vim me candidatar numa empresa que apenas o escritório central e a diretoria. Era ali na Senador Feijó, com 30 pessoas. E naquele dia que eu cheguei lá, eles estavam comemorando aniversário, né? Aquela tranquilidade, o parabéns a você, bolinho, eu falei: “Nossa! É isso aqui que eu quero.” E era trabalhar de meio dia às sete da noite direto. Porque a diretoria da Santa Cruz, além da Santa Cruz, eles tinham uma empresa elétrica de Londrina. Era a mesma diretoria, o mesmo conselho. Então, eles ficavam na Londrina de manhã, na empresa que era na Benjamim Constant e à tarde ficavam na Santa Cruz. E o expediente da Santa Cruz iniciava ao meio dia e ia direto até às sete horas da noite. Eu falei: “Puxa vida! Vou dar aula de manhã, trabalho a tarde e a noite vou dar aula também.” Na ocasião, lembro bem, me ofertaram um emprego, um salário bem melhor do que eu ganhava quando eu saí em posição de chefia no Elevadores Atlas. E eu comecei a trabalhar no dia 21 de julho de 1966 e estou até hoje aqui. Essa foi a minha entrada na Santa Cruz.
P/1 – E me fala uma coisa, retornando um pouquinho, o que agradava o senhor, lecionar no ensino de comércio?
R – É.
P/1 – O que que atraía o senhor?
R - Olha, na verdade, não é que me atraiu nada. Foi mais por indicação do diretor geral desse colégio, Nelson Carrozzo. Ele intimou a mim e mais um amigo meu pra ir na Álvares Penteado que tinha um curso de formação de professores de Ensino Comercial de três anos que você podia fazer em um, e a gente poderia dar aulas. E foi como eu te falei, Deus falou: “Você vai ser professor.” (risos) E de repente, eu que não entendia nada de contabilidade no primeiro dia que eu entrei na escola, de repente eu estava dando aula depois de três anos e meio, de contabilidade. E naquela ocasião, eu tinha 21, 22 anos, eu dava aula para senhores, senhoras e fazia parte do corpo docente de antigos professores. Quer dizer, foi uma situação muito bonita, tenho boas recordações daquela época.
P/1 – Agora, na Elevadores Atlas, o senhor não chegou a trabalhar como contador?
R – Não. Eu entrei lá como boy, no setor de compras, eu entregava, eu vinha entregar aqui na indústria Votorantim os pedidos, as cartas com pedidos. Naquela época comprava-se muitos retalhos para limpeza, né? O pessoal que trabalhava em manutenção e conservação dos elevadores e escadas rolantes. E fiquei seis meses, fui promovido pra boy interno. Aí, fui trabalhar no setor de controle de estoques. Eu com 18 anos chefiava uma turma de 30 pessoas lá dentro. E saí pra dar aula, veja bem. (risos)
P/1 – E aí, quando o senhor começa na Santa Cruz, como é que foi conciliar as aulas de manhã e à noite e o trabalho na Santa Cruz?
R – É, a vontade prevalecia, né? Meu único problema era na época das provas e as provas eram mensais. Então, eu carregava os maços de provas corrigindo no ônibus, no metrô, sábado, domingo à noite e etc. Mas dar aula foi uma satisfação muito grande. Fiquei 18 anos seguidos dando aula, depois fiquei na coordenação do corpo docente do colégio. Lidar com aluno é fácil, o duro é lidar com os professores.
P/1 – Porque?
R – Porque sempre... Porque o ensino no Brasil, infelizmente, ficou sempre no plano secundário. A principal atividade como era minha, era na Santa Cruz, a Segunda atividade paralela, era lecionar. E veja, eu peguei uma fase, que o ensino, ele começou a decair e isso é explicável. Além da má remuneração, nós tivemos aquela fase de uma __________ do supletivo. E depois de três, quatro anos nós começamos a receber professores que fizeram ____________ e fizeram o supletivo. Passamos aquela fase que a gente era mais _________. E hoje, quando você entra numa sala de matemática do ginásio, é aquela balbúrdia tremenda, aquela bagunça! Então, o professor sentava na mesa fumando e etc. Naquela época não. Naquela época era uma disciplina muito forte. Então, dava pra conciliar sim. No período da manhã, muito embora, eu dei aula muito pouco tempo, um ou dois anos, porque eu não conseguia levantar de manhã. Eu saía da Santa Cruz sete horas, ia pro colégio e ia jantar onze e meia, meia noite, ia dormir duas horas pra levantar às seis horas. Era difícil. Mas dava pra conciliar sim. Fiquei lá durante 32 anos. Fiquei como professor, coordenador, diretor do Colégio Financeiro. E uma época difícil quando a inflação era 80, 40, 50, 60%, todo mês você tinha que alterar a mensalidade escolar. Era um problema. Mas mesmo assim, lidar com alunos era muito mais fácil do que lidar com professores. (risos) Mas dava pra conciliar.
P/1 – E quando o senhor ingressa na Santa Cruz, né? Porque que a Santa Cruz precisava tanto de um sub contador? Tava uma fase de expansão? Qual era a situação da Santa Cruz nessa época?
R - Não. A Santa Cruz, tinha o tio desse rapaz que eu te falei que se chamava José Botari. O rapaz que trabalhou até o ano passado era José Ângelo Botari e esse contador, José Botari. Tinha um contador e estava faltando um auxiliar. E naquela época, era manuscrita, a contabilidade. Era um livro grosso. E eu tinha um problema, porque eu não conseguia ficar muito tempo escrevendo, me doía as costas, né? Mas graças a Deus eu fiquei muito pouco tempo escrevendo. Porque por um motivo desagradável, o senhor Botari veio a falecer logo depois. E eu assumi a contadoria. E aí, eu já não precisava mais escrever no livro, né? Mas foi pra substituir, preencher uma vaga existente. Não é que estava em esplendor.
P/1 – Agora, a hidrelétrica é em Piraju?
R – É. Aqui em São Paulo era o escritório central e diretoria. Naquela época em 1966, a comunicação, pra você ter uma idéia, nós pedíamos um interurbano às oito horas da manhã para ser completada essa ligação no período da tarde. Então, aqui ficava o escritório central, o setor de compras, porque não funcionava no interior. Não havia estradas o suficiente. Era muito difícil. Para você sair daqui e trabalhar no interior, você trabalhava oito horas de carro até Piraju, até ________ que era o centro geográfico e antiga sede da companhia. Então eram duas vidas, dois mundos diferentes. A comunicação era muito difícil. Precisamos até colocar rádio. Aqueles rádios de: “Câmbio. Fala. Desligo.” Que melhorava um pouquinho a comunicação. Mas era precária. Então, essa era a razão principal de se manter um escritório em São Paulo. E até hoje nós continuamos com esse escritório aqui. Até hoje.
P/1 – E me fala uma coisa, uma parte da energia era fornecida para a cidade de São Paulo e daí a necessidade de ter o escritório?
R – Não. Daí então, o que é a Santa Cruz? É uma concessionária de serviços públicos de energia elétrica. Ou seja, o poder concedente transfere a um particular para que ele faça esse serviço no lugar do governo. Então, a Santa Cruz, ela tem uma concessão, é um monopólio, tem uma concessão, uma área de concessão de aproximadamente 12 mil quilômetros quadrados. Isso daí é a mesma área da Eletropaulo aqui em São Paulo, só que com uma diferença, lá nós temos 12 mil quilômetros quadrados e atendemos 160 mil consumidores. Isso daí vai dar mais ou menos treze consumidores por quilômetro quadrado. E a Eletropaulo aqui tem quase 500 consumidores por quilômetro quadrado. Não são 500 habitantes não. São 500 consumidores. Se você multiplicar por quatro, quatro e meio, são duas mil pessoas por quilômetro quadrado. A densidade democrática é muito grande, né? Então, essa é a diferença entre a Santa Cruz e a Eletropaulo. Porém, a Santa Cruz como concessionária, ela foi outorgada, teve a sua concessão para produzir, transmitir, distribuir e comercializar essa energia. Então, era uma empresa completamente independente. Naquela ocasião não existia, em 1909, não existia o grupo Votorantim. Então, esse serviço era voltado à 27 municípios. 24 em São Paulo, três no Paraná. E ela nasceu com uma pequena usina hidrelétrica na cidade de Santa Cruz em Rio Pardo. É uma usina de 500 KW. Quer dizer, o que é 500 KW? Hoje daria pra você fornecer energia para 700 residências no máximo. Ela serviu na ocasião, foram alguns empreendedores, foram os fundadores dessa empresa em 1909 para servir às suas propriedades rurais. Mas aí o progresso foi, foi estendendo a linha, saiu do município de Santa Cruz, foi para os municípios vizinhos. E até que chegou em 1925 em Piraju. Lá, essa empresa fundada em 1909 adquiriu uma pequena usina hidrelétrica construída em 1913. Vejam bem, 1913 para fornecer energia elétrica a uma linha de bonde. Bonde mesmo. Não sei se vocês já ouviram falar em bonde. Esse bonde, ele saía de uma fazenda em __________ numa fazenda de café, carregava esse produto até a estação de Piraju e de lá vinha até o porto de Santos para ser exportado. Era um bonde. E tinha o bonde de carga e o bonde de passageiros. Então, em 1925 a Santa Cruz adquiriu essa usina e com essa usina vieram os bondes. Que os bondes ficaram funcionando e sendo explorados pela companhia até 1936.
P/1 – Que tipo de carga que eles transportavam?
R – Café. Basicamente café. De ______ da fazenda desse senhor Ataliba Leonel e esse produto ia até o porto de Santos. Então, em 1925 foi adquirida essa pequena usina 800. Tinha 500? Ficou 1300. Na ocasião essa energia sobrava. Não tinha quem consumir. Diz a história, eu tenho isso daí nos arquivos que os funcionários da companhia iam até as residências, as propriedades tentando vender, colocar uma lâmpada. Davam lâmpada, fogão elétrico. E muitas vezes eram recebidos ali a bala. Isso está escrito, tem histórias policiais inclusive.
P/1 – Só um parênteses, como a Eletropaulo, a Light, né? A Santa Cruz também comercializava ferro, essas coisas?
R – É. Vou chegar lá. (risos) Aí, em 1925 juntamente com a compra dessa usina, iniciou a construção que lá está em Piraju que é uma usina com uma barragem de 300 metros com 25 metros de altura. E no pé da barragem tinha uma casa de máquinas com três máquinas, projeto, total 7200 KW. Veja bem, começou com 500, comprou 800, ficou 1300, vamos construir uma usina com 7200. Era a mesma coisa que hoje construir uma em Itaipú, na mesma proporção. Era muita energia que ia sobrar na ocasião. E o grau de dificuldade para se construir uma usina no interior... O cimento ia puxado por carroças, as máquinas, burros puxando etc. Foi uma dificuldade muito grande. E conforme ia crescendo a barragem, isso a gente tem anotado, muitas mortes aconteceram. Nós tivemos também o filho do presidente dos Estados Unidos trabalhando nessa barragem. Theodore Roosevelt, ele esteve em Piraju.
P/1 – Nossa! (risos)
R – Ele desceu no Rio de Janeiro, tá lá o homem em Piraju com Ataliba Leonel. Mas essa barragem conforme ela ia crescendo, dava elevada vazão no rio, hoje não tem as técnicas de suportar, fazer em secadeira. Queria ir embora e aí começava tudo outra vez. Bom, conclusão, de 25, a primeira máquina entrou em 36, a primeira e a Segunda máquina, 2400 cada uma, ficou 4800. Aí nós tínhamos energia o suficiente mas não tinha quem consumir. Aquela usina primeira de 500 KW foi desativada nessa ocasião porque não tinha mais condições e nem necessidade de ficar com uma “usineca” dessa daí. E essa usina evidentemente, as duas máquinas entraram em 1936, a terceira máquina só houve necessidade em 1950. E essa usina fornecia energia nessa altura... A companhia em 1950 ela já estava aí com seus 18 mil consumidores em 27 municípios. Era suficiente. Em 1958 foi ampliado nesse mesmo local do lado, na margem esquerda, colocado mais uma máquina de quatro mil. Em 1970 a Segunda máquina de quatro mil. Só que no final da década de 1950, a energia que era produzida ali já era insuficiente para atender a demanda. Então, o que aconteceu? A Santa Cruz precisou investir em duas subestações e começou a receber energia de fora, da ___________ que hoje é a SESP, que você conhecem como CESP. E com isso evidentemente, pra vocês terem uma idéia, hoje, que nós temos 34 mil KW instalados, é suficiente para atender apenas 30% dos nossos consumidores, 70% vem de fora. Nós vamos no PU, no mercado atacadista de energia comprar essa energia.
P/1 - Para poder distribuir para a região?
R – Isso. Então, nós só distribuímos para os nossos consumidores cativos, né? Nunca fornecemos energia para o grupo. Vamos começar agora a diferenciar. A Santa Cruz que já existia nunca forneceu e não fornece energia pro grupo. Mas pra frente vocês vão ver porque que a Votorantim entrou na Santa Cruz. Muito bem, falei um pouquinho da história da Santa Cruz, falei da geração, chegamos até hoje. Evidentemente tivemos um hiato em 1983 já com a CBA dentro da Santa Cruz, já proprietária da Santa Cruz, a elevada vazão do Rio Paranapanema no dia 8 de junho de 1919, desmantelou completamente a usina da margem direita que estava no pé da barragem acabando com a três máquinas. Sendo que uma máquina, a máquina nº3, ela estava em operação a pouco tempo e foi totalmente reformada já pelo grupo Votorantim através da metalúrgica Atlas. Essa máquina veio novinha, foi instalada, uma maravilha. Ficou dois, três meses e também sofreu as consequências.
P/1 – O que aconteceu para ter essa elevada vazão da água?
R – É fácil de explicar, isso daí é um fenômeno que acontece que se chama Decamilenar. Quer dizer, a cada 10 mil anos acontece um fato desse e aconteceu. A montante da usina da Santa Cruz, tem a usina Jurumirim. Essa usina Jurumirim, ela serve, ela regula toda vazão do Rio Paranapanema para todas as usinas até o rio Paraná. E naquela ocasião, no período de chuvas se prolongou. Quando termina em março, abril, não. Abril continua chovendo. A represa de Jurumirim começou a ter seus níveis no vermelho, né? E uma hora tinha que abrir todas as comportas porque senão arrebentava lá. E se não arrebentasse podia arrebentar a barragem de terra de Jurumirim. Aí, levava todas essas cidades ajuizantes com Piraju etc. e levava tudo embora. Então, nós ficamos no mês de maio, no início de maio até o dia que aconteceu isso daí, eu e o Dr. Carlos Manzaro que é o engenheiro responsável pela Santa Cruz, que é responsável por todas as usinas da CBA. Nós ficamos lá no interior com os engenheiros da CESP. Colocamos sacos de areia etc. Mas chegou nesse dia, ou abria tudo ou... e falavam: “Então foi por causa da abertura das comportas de Jurumirim que arrebentou...” Não. Não foi. Porque a água que entrava em Jurumirim tinha que sair, se não houvesse essa usina, o que que acontecia? O Rio ia subir de qualquer forma. Então, foi uma elevada vazão. Passou 3769 metros no dia que foi desmantelado, coisa absurda. Sendo que a nossa capacidade de vazão é no máximo 1200 metros, com as máquinas funcionando, comportas de fundo e etc. Então, a margem direita, nós tivemos a margem totalmente destruída, a casa de máquinas. E casa de máquinas da esquerda com duas máquinas de quatro mil, ela foi afetada mas não destruída. Então, depois de dois, três meses, nós recuperamos as duas máquinas. Você poderia me perguntar agora, e essa energia que vocês deixaram de gerar? O que que aconteceu nessa época? Onde vocês foram buscar essa energia para fornecer para os seus consumidores? Bom, ali nós tivemos a ajuda da CESP. Primeiro, emprestando uma subestação nova que nós instalamos na nossa subestação mais próxima, onde passa a linha da SESP, que é a Bernardino de Campos, colocamos essa subestação lá. Enquanto que ela estava lá, nos emprestaram de junho até o dia 31 de outubro, porque a subestação móvel, em novembro ela tinha que descer e ir pra __________ pra esperar o verão nas praias que aumentam etc.
P/1 – Já tinha esse problema.
R – Eles falaram: “Até 31 de outubro eu empresto pra vocês.” Então, nós tínhamos que construir, ampliar uma subestação. E para você ampliar uma subestação, você tem que ter um transformador de força. E o gerador de força era e é um prazo médio de 18 meses para fabricar. Nós fomos até a Companhia Paulista de Força e Luz que hoje indiretamente pertence ao grupo e lá nós conseguimos um transformador de força de 30 ______ chamado Wagner, fabricação americana que eles tinham desativado. Eles trocaram. Ele era 88, 66. Eles fizeram uma nova subestação de 138, então desativaram. Então, nós conseguimos comprar. Compramos e instalamos em Bernardino. Quer dizer que no dia 28 de outubro nós devolvemos a usina móvel. E as duas máquinas que estavam sendo recuperadas entraram aí no mês de agosto, setembro, outubro. Então, dessa forma, nós conseguimos, ficamos no fio da navalha, mas conseguimos passar sem nenhum problema. E a usina da margem direita ficou lá desativada. Isso de 1983. Até que em 1985 o Dr. Antônio Ermírio fazendo uma visita falou: “Vamos recuperar que temos tanta água.” E no lugar dela nós fizemos uma usina de dez ______. Quer dizer, além de recuperar, ampliamos de 10 MW.
P/1 - O que eu queria que o senhor contasse assim para a gente com mais detalhes, é que o senhor tava falando lá fora sobre esse dia, essa noite enchendo sacos de areia?
R – É o que eu falei, nós ficamos de maio a junho na preparação... Tanto ali na usina em Piraju como em Jurumirim o pessoal da CESP. E uma das defesas que nós encontramos foi colocar sacos de areia um em cima do outro para que a água conforme vai subindo, não passasse da, e protegesse os equipamentos. Isso daí foi feito em Jurumirim, em Piraju e foi feito em Chavantes. Chavantes é uma usina da CESP hoje _________ Paranapanema que fica à jusante da nossa. É uma usina muito grande. Ela também foi afetada. Teve toda parte da subestação, almoxarifado, tudo inundado. Nós passávamos lá de barco, lá por dentro. E até hoje quando fiz algumas visitas com o presidente da BCE para entregar o prêmio de segurança lá para os funcionários, e até hoje tem a marca de água lá dentro. E eu lembro. Tá registrado direitinho. Eu vi, passei aqui e fotografei os equipamentos elétricos todos pendurados por corrente, por corda etc.
P/1 – Agora, chegou a inundar a cidade?
R – Inundou sim. Do lado ali da nossa represa tem um clube da cidade, tem uns restaurantes, aquilo lá ficou tudo debaixo d’água. E na recuperação da nossa usina... Porque quando veio essa vazão, as comportas de fundo, elas começaram a ser abertas para dar vazão, mas no desespero ali elas ficaram meio abertas. Aquilo lá arrebentou com tudo as quatro comportas. Então. Nós tínhamos que primeiro recuperar as quatro comportas. E para ver isso daí tivemos que esvaziar toda a represa, estudar rapidamente, tomar atitude, recuperar uma por uma, porque você não pode recuperar as quatro. Partir para margem esquerda onde existem as duas máquinas que foram afetadas. Mas elas foram inundadas lá embaixo, lá no fundo onde ficam as turbinas. Ficou uma lama só. A saída da água ali ficou cheia de pedra. Então, nós tivemos que tirar a mão ali aquelas pedras, fazer toda essa recuperação, recuperar a parte estrutural lá de baixo. Então, isso nós fizemos. Eu e o Dr. Manzaro, nosso gerente, de madrugada ali, muitas vezes dando força para os funcionários, equipes. Um frio que fazia, você com o pé na água. Foi triste mas foi a realidade. Hoje em dia a gente lembra e dá risada. Mas eu e o Dr. Manzaro nós não saímos de Piraju dia e noite.
P/1 –E Dr. José, pra esgotar a represa teve que fazer um canal de desvio?
R – Não. Jurumirim fechou as comportas, deu aquele tempo, a água baixou, nós fomos analisar os estragos. Aí depois de tantas horas, eles abriram, fechou e tal. Quer dizer, fomos a pé. Para entrar lá precisava estar vazio. Aí, vimos o que tinha que fazer, as providências. Construímos muros de concreto para dividir nossas comportas em horas, né? E trabalhava. Recuperamos as quatro ali, depois recuperamos as duas máquinas, a casa de máquinas. Enfim, ficamos de junho até outubro trabalhando intensamente. Foi uma luta. Mas nós não deixamos nenhuma cidade sem energia nesse período. Nenhuma cidade. Foi em 1983, né? Deixando a parte de geração um pouquinho de lado, quando a CBA comprou a Santa Cruz, depois nós vamos falar sobre objetivo. Mas quando ela entrou, veja bem, uma empresa que de repente ela fica sendo negociada um, dois anos. Uma empresa onde seus administradores tinham compromissos com 400 acionistas, ou seja, tem que se pagar os dividendos. Então, sobra-se muito pouco para investir. E num setor elétrico investimento é dinâmico, o investimento é maciço. Você não pode parar. Vejam a pouco tempo aí o que que nós fizemos, né? O racionamento em 2001. Foi por por falta de investimento também. Não foi só por falta de chuva. E na Santa Cruz por falta de investimento, quando a CBA entrou... Porque ela entrou com o objetivo, vendo somente a geração e o aproveitamento que lá existia, de repente ela queria passar, a intenção dela não era ficar com a distribuição, era vender pra CESP, era passar para a CESP.
P/1 –Fazer o contrato, né?
R – Isso. Ela ficaria só com o segmento de geração e passaria a parte de geração pra CESP. Porque a CESP era distribuidora também. Mas as negociações não chegaram a um bom termo. E de repente: “Peraí, já que nós estamos aqui, vamos investir.” E aí foi uma luta contra o tempo. Porque imagina você, queimava um transformador de força, nós não tínhamos uma peça para colocar no lugar. Não tínhamos uma subestação móvel. Então, a gente saía alugando transformadores por aí de outras empresas. E nesse período que estava sendo reformada que demorava 45 dias, eu vou falar uma coisa pra você mas é verdade, eu rezava diariamente para não queimar outro transformador, porque como ia fazer? E foi assim a nossa vida. 1979, 1980, 1981, 1982, 1983 perdemos a usina. Mas nesse período nós tivemos todo apoio, toda retaguarda do Grupo Votorantim e a região deve muito ao grupo Votorantim. Não só nessa época, como até hoje. Então, além de reinvestir todo o lucro, ficou assim durante 20 anos, ainda fazia porta de capital. Porque veja bem, quando a CBA entrou, havia sete subestações, pequenas subestações, hoje existe 27. Aquelas sete todas foram ampliadas e nós construímos mais 20. Ampliamos todo o parque de geração. Então a média deu uma subestação por ano. Construção de uma subestação por ano. E quando a gente construía uma subestação, construía uma usina. Então, nós passamos momentos difíceis, eu e o Dr. Manzaro, principalmente. Agora, porque eu e o Dr. Manzaro? Técnico era ele, sempre foi ele. Mas você sabe que tem um ditado que diz que quando você fica sozinho numa situação, você tem que se virar. Então, quem não tem inteligência para fazer, construir, tem que ter coragem para copiar. E é o que eu fazia. Um contador, um administrador se metendo na parte de engenharia elétrica. Aí, foi assim, consegui angariar um conhecimento muito grande no setor em todas as situações. Então, eu estava sozinho focando a Santa Cruz, porque o Dr. Manzaro ficava aqui na Votorantim e eu ficava na Senador Feijó. O Dr. Manzaro é responsável por toda parte de usina de geração da CBA. Eu é que ficava o dia inteiro com os meus problemas. Aqui e do interior. E com isso me fez aprender muita coisa, agregar os meus conhecimentos e isso fizeram com que paralelamente às nossas funções aqui dentro do Grupo, nós exercemos outras atividades fora, sem prejuízo das nossas funções aqui dentro. Então, só pra finalizar, eu fui presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica do Brasil. Ou seja, todas as empresas de energia elétrica são associadas a essa associação que que existe a 68 anos. Fiquei presidente, hoje eu sou vice-presidente. Sou e continuo no segundo mandato, presidente do Sindicato das Indústrias e Energia Elétrica do Estado de São Paulo. Todas as empresas de energia elétrica são associadas ao sindicato. Sou membro conselheiro da agência descentralizadora da Anel que em Brasília, aqui no estado de São Paulo é a Comissão de Serviços Públicos de Energia Elétrica. Faço parte do conselho. Sou vice-presidente do COGE Comitê de Gestão Empresarial da Eletrobrás. Faço parte do Comitê Gestor do complexo Canoas que é da CBA, depois nós vamos falar um pouquinho, atuante. E em 2003 nós fomos agraciados com o líder empresarial, setorial, evidentemente setorial do setor elétrico, né? Então, isso paralelo, sem prejuízo. Porque hoje você consegue fazer tudo isso daí só complementando. Então, antes o expediente aqui ou após o expediente. Então, lá na BCE, no sindicato eu sou o homem das sete sete, ou antes das sete ou depois das sete da noite. São esses horários que não gostam muito, mas conseguimos tocar aí.
P/1 – Eu queria que o senhor recuperasse para a gente que ano e qual contexto que a CBA adquiriu na Santa Cruz?
R – Muito bem. Então, vamos falar porque que a CBA entrou, né? Foi em 1979, em fevereiro... É o seguinte, a CBA, se você analisar o histórico da CBA, você vai chegar a conclusão que ela cresce a 10% ao ano desde 1955. Cresceu 10% ao ano. Como o Dr. Antônio fala: “Cresceu mais que a China.” Então, pra CBA ser o que é hoje ela trabalhou muito com a energia própria, ela construiu as suas usinas. Porque a energia elétrica na fabricação, na produção do alumínio é o insumo mais caro. Diz que o alumínio é energia empacotada. Hoje a CBA tem um dos melhores índices mundiais. Ela gasta 13.500 KW por tonelada de alumínio. Isso aí no início das atividades era algo de 20, 20 e tantos mil KW. Então, desde que a CBA começou a crescer, ela sempre cresceu com uma parte, com energia própria, né? Hoje ela mantém um índice de 60%. E ela sempre ficou próximo, um pouco menos, dependendo. Ampliava a fábrica, tinha que ampliar o parque gerador, né? Então, ela tinha as usinas dela do Juquiá, algumas, construiu outras depois que adquiriu a CBA lá no Juquiá, construiu o Iporanga. Havia adquirido da Light, da antiga Light em 1973 a usina de _________. E dentro da área, aí entra a Santa Cruz, dentro da área da Santa Cruz existia um aproveitamento hidrelétrico. Que é aproveitamento? Aquele local que pode ser construído uma usina. Quando o governo do estado de São Paulo através da Conambra estudou todo o rio Paranapanema, ali em Piraju, a montante da nossa usina. Quer dizer, antes de chegar a Piraju, antes de chegar a cidade, construiria ali uma barragem e através de um túnel de dois quilômetros e meio, levaria água até a casa de máquinas num degrau de 54 metros. Ali poderia ser construída uma usina de 150 MW.
[troca de fita]
R – Muito bem. E porque o governo não construiu como ele construiu Jurumirim, Xavantes e outras usinas à jusante? Não construiu porque teria que indenizar. Porque as usinas da Santa Cruz deveriam ser desativadas, porque a água é uma alça que passa dentro da cidade deixaria. Ali ia se tornar um meandro seco com três, quatro metros cúbicos. Hoje passa em média 150 metros. Imagina Três, quatro metros apenas. Ali ia ficar uma coisa horrorosa pra cidade. Evidentemente a população foi contra e a Santa Cruz falou: “Vocês não vão ter que indenizar só a minha usina, vocês vão ter que indenizar a Santa Cruz inteira. A parte de geração e distribuição também.” E aí o negócio com o governo não deu certo e ficou parado. Então, existia esse aproveitamento. Mas isso também não era um aproveitamento que era do governo. Ele inventariou. Hoje se você apresenta um projeto bom, ótimo, você constrói, você vai ter a concessão. Mas na época, o pessoal da CESP e num sei quem, colocou para o senhor Antônio: “Olha, fica mais fácil você construir essa usina se você comprar a Santa Cruz. Quer dizer, o que o governo deveria ter feito. E ele comprou a Santa Cruz. Comprou a Santa Cruz. E nós, nessa época eu era Chefe do escritório sabia que com muita satisfação que o Grupo Votorantim estava comprando a Santa Cruz. E já naquela época o grupo era referência. O Dr. Antônio era referência e é referência. O pai dele, senador que tinha acabado de falecer a algum tempo atrás era referência. E os Ermírio de Moraes já eram bem vistos por todos os empresários daqui e de fora. Acontece que eu como chefe do escritório não sabia da estratégia, compra-se e passa-se a parte de distribuição, fica com a geração. Evidentemente ficar com a geração... A legislação quando é empreendimento ativo do serviço público não há condições de se passar para setor privado. Somente em termos de privatização que passa de ser serviço público para produtor independente. Foi o que ocorreu quando a CESP foi privatizada com as usinas do Paranapanema e do Tietê. Passaram de serviço público para produtor independente. Mas não era o caso da santa Cruz, porque ela já era privada. Como eu falei, não deu certo passar a parte de distribuição, o Grupo Votorantin botou a camisa e : “Vamos tentar fazer essa usina.” Tentamos fazer a usina e esbarramos no mesmo problema. Mesmo dos três, quatro metros: “Vamos passar dez metros que dá pra manter o lago e vai ter que desativar aquela usina de 32 MW. A população não aceitou, foi um movimento, aquele Eco 2000...
P/1 – 1992.
R – Foi 1992. Foi no Rio, né?
P/1 – Ahã...
R – Foi o assunto principal, foi a usina de Piraju.
P/1 –É mesmo?
R – Foi.
P/1 – E qual era a importância para a cidade de se manter o lago?
R – Pra cidade? Como morador?
P/1 – É.
R – É a beleza, né? É o cartão postal de Piraju. Ninguém consegue ver aquele rio não passando mais dentro da cidade. Porque ele divide a cidade, ele passa no centro da cidade. É uma beleza natural. E nós ainda ajudamos colocando holofotes à noite, aí fica um negócio muito bonito. Tem um lugar lá que o pessoal vai pra ver peixe subindo escada. Visita pública, dá pra ver na época da piracema todos os peixes subindo escada. Então, o povo não queria aceitar isso daí e não aceitou. Mas aí o Dr. Manzaro e sua equipe falou: “Vamos modificar. Vamos fazer o barramento no mesmo lugar. Vamos levar casa de máquinas ao invés de ser no final do turno no pé da barragem, só que a capacidade... Porque sabe que a energia quanto mais a queda for maior, ela produz mais, né? Então, tinha uma barragem lá de 30 metros, foi colocado o máximo que ela podia produzir ali que era 80 MW. No lugar de 150, passou 80. Mas as águas não tiveram o seu desvio. Continuava passando no meio da cidade e continuava a fornecer água para Santa Cruz fornecer energia lá também. Então, ficou 80 na CBA, 32 na Santa Cruz, conclusão 112 ainda pra 150. O que sobrou? Lá onde ia ser construída a casa de máquinas no final do túnel... Na Santa Cruz, na barragem da Santa Cruz até esse local, há uma queda. E o projeto, nós já demos entrada na Anel, vamos construir uma usina ali de 30 MW. Então, nós vamos ficar com 142 sem desviar água do rio. Quer dizer, onde ia ficar 150, vai ficar 142. O objetivo da CBA foi esse aproveitamento hidrelétrico, que de 1979 ele só foi construído agora em 2002. Eu considero a usina da CBA mais bonita de todas as 16 que a CBA possui.
P/1 – Porque?
R – É bonita. Naturalmente falando, que fica do lado de uma estrada, que você passa e vê todo o visual. A usina lá dentro é uma beleza. Os equipamentos são de primeira qualidade, uma subestação enorme, uma escada para peixe construída sensacional. Ali é motivo de final de semana, o povo vai lá conhecer. Colocamos barcos entre a nossa usina da Santa Cruz e da CBA e depois da usina da CBA até Jurumirim. Vai ter uma estação Ecológica que a CBA comprou. É lindo de morrer aquilo lá. Ficou bonito mesmo. Nós estávamos visitando agora quando tava pronto, deu gosto, deu uma satisfação. Olha, é impressionante! E olha que nós já construímos usinas bonitas. Agora, eu estou falando nós, da CBA e da Santa Cruz, porque a Santa Cruz 100% é da CBA. E como o objetivo da CBA é ter sempre 60% não parou nesse projeto, nessa usina de Piraju, nem do Juquiá, nem do Iporanga, nem de Itupararanga. A CBA está hoje em __________ em Santa Catarina, tem participação em duas usinas que estão sendo construídas chamadas Barra Grande e Campos Novos, construiu Canoas, um e dois, construiu. Isso daí era a CESP que tinha que construir. A CESP iniciou, fez as fundações e duas usinas ao mesmo tempo e não tinha mais dinheiro para construir, só iniciou. Aí, foi o primeiro consórcio dentro do antigo modelo, que era novo modelo, que hoje existe outro modelo. Nós fizemos um consórcio com a CESP que foi o primeiro na modalidade e a CBA construiu as duas usinas, ou seja, ela bancou, ela participou, eu, Sr. Nelson Teixeira e participação de outros diretores lá, em menor escala, mas, o Sr. Nelson Teixeira e eu, até hoje nós participamos do comitê gestor desse complexo. Nós juntamente com a SESP, nós colocamos o ________, mas, nós comercializávamos e submetíamos à _______, aos projetos feitos. Construímos duas usinas no tempo recorde. Que também são duas usinas bonitas, são máquinas “Bobos” que não existiam aqui no Brasil, está lá. Hoje a CBA possui 50.3. Recebe todo final do mês 40 milhões de kWh. E toda operação, quer dizer, e a CESP que não botou dinheiro? Ela ficou com a incumbência de operar pro resto da vida sem custo para a CBA. A CBA bancou, construiu, entregou, a CESP começou a operar, que hoje não é SESP, é _____________ que faz isso, que é o Rio Paranapanema.
P/1 – Agora, eu gostaria de clarear um pouco uma coisa. Quando a CBA adquire a Santa Cruz, parte dessa energia é consumida na CBA?
R – Não. Foi o que eu falei. A Santa Cruz nunca vendeu energia pra CBA. A CBA que construiu em Piraju, é dela, não é da Santa Cruz. A usina da Santa Cruz totaliza 34 MW. 32 em Piraju. Essa energia serve para os seus consumidores cativos. Nunca vendeu pra CBA. A CBA lá construiu Piraju dentro da área da Santa Cruz, está terminando Ourinhos de 44 MW, também que nós participamos, a CBA que está construindo. Construiu Canoas um e dois, já fora da área da Santa Cruz, mas, no Rio Paranapanema. Então, o que que a CBA tem hoje, 16 usinas? Rio Juquiá, Rio Iporanga, Rio do Peixe, Rio Sorocaba, Paranapanema, e em Santa Catarina, Machadinho, Campos Novos e Barra Grande. Então, são 16 usinas. Isso faz com que a CBA continue, mesmo com essa expansão toda e a que virá aí, ela vai ser suportada com 60%, em torno de 60% da energia própria. É isso que deu sustentação a CBA para poder concorrer com as multinacionais, ________,________ etc.
P/1 – Inclusive nessa época do racionamento de energia, esse mais recente, a Votorantim foi muito elogiada porque ela tinha uma certa auto suficiência para estar _________ energia, né?
R – É. Os 20% que as indústrias ficaram privadas, aqui na CBA graças a Deus nós conseguimos através de contratos que nós tínhamos, através da auto geração, conseguimos na realidade... Isso eu vou dizer mas me parece que foi em torno de 4%. Esses 25... 4% só. Porque nós tínhamos diversas alternativas que deu pra suprir o nosso parque industrial, nossas plantas industriais. Então quando os outros perderam 25%, me parece que algo ficou em 4, 5% apenas.
P/1 – Agora, voltando um pouquinho aí dessa questão, da aquisição da Santa Cruz pela CBA. São empresas diferentes com culturas diferentes. Como foi essa fusão de culturas?
R – Foi muito difícil, porque quando a CBA entrou na Santa Cruz, ela colocou como presidente o Sr. Osvaldo Batista Campos, falecido Osvaldo Batista Campos que era diretor financeiro da CBA, excelente pessoa. E colocou como vice-presidente o Dr. Carlos Manzaro que é engenheiro eletricista. Os relatórios da CBA não batiam e não podiam bater com os relatórios da Santa Cruz. A forma de apresentar para o Dr. Antônio os resultados. Porque? Como concessionária ela por decreto tem planos de contas diferentes, a maneira de conduzir, de contabilizar. Existe um prazo em você contabilizar o fato e levantar o resultado desse fato de 45, 60 dias. Então, para compatibilizar com os relatórios que a CBA enviava praticamente diariamente para o Dr. Antônio, era muito difícil. E pra explicar isso daí era mais difícil ainda. Então, é uma empresa que mexe com o público, com o povo. Veja bem, 600 mil pessoas, imagina que diariamente tem pelo menos 100 que tem problema. “A lâmpada da rua está queimada, o medidor está consumindo a mais.” Sempre tem um problema: “Acabou energia aqui.” O nosso centro de atendimento lá no interior, tem mês que dá muita chuva, recebe mais de 30 mil telefonemas ou para religar, ligar, para nova ligação etc. Então, imagina, como você mesma falou, foi muito difícil essa cultura no início. Então, muitas vezes nós ou o Geraldo que ficava lá do outro lado, era taxado de estatizante. “Mas esse aproveitamento elétrico... Porque que que?...” “Não. Não pode. Não sou eu. A constituição federal que...” “Você que não está com vontade.” (risos) Toda parte legal, desrespeito a outorga de concessão desde que nós entramos na CBA, nós ficamos com essa incumbência. Então, nós fazemos esse papel lá em Brasília. Tudo que é legal, que precisa apresentar, precisa prorrogar e assim por diante. Fizemos toda legalização de algumas usinas que estavam com o prazo prorrogado, assim como um monte no Brasil inteiro. Nós legalizamos tudo isso daí. E toda vez que tem um aproveitamento novo somos nós que vamos lá e iniciamos. Hoje não. Hoje a CBA está muito bem aparelhada. Hoje ela tem uma diretoria que cuida da parte energética e da parte do meio ambiente. Antes, a Santa Cruz que dava todo esse apoio pra CBA. Então, ________ desde 1998, Secretaria do meio ambiente, IBAMA, as resoluções do _________. Hoje não. Hoje ela está bem aparelhada. Naquela época nós tínhamos que fazer também aquele papel.
P/1 –Agora, quando tem essa compra, quais são os principais valores do Grupo Votorantim que são implantados na Santa Cruz, que passam a modificar o cotidiano de trabalho de vocês? Tem alguma coisa de horário, de jeito de se vestir.
R – Veja bem, quando iniciou nós tínhamos o horário de meio dia às sete, né? Tá lembrada que eu falei isso? Então, um dia o Dr. Antônio falou assim: “Geraldo, tudo bem mas você precisa chegar pelo menos às nove.” (risos) e ia às nove horas pra lá, porque não era aqui no prédio. Aí resolvemos, por iniciativa dos próprios funcionários, fazer o mesmo horário da CBA. Então, nós começamos a trabalhar das oito ao meio dia e da uma e meia às cinco e meia. Isso foi iniciativa do próprio quadro, né? E já fazem uns 12 anos quando a Votorantim ___________ saiu daqui para ter os seus escritórios em outros lugares ou mesmo nas fábricas, né? Sobrou espaço e nós resolvemos vir pra cá pra ficar mais perto e facilitar a vida de todo mundo, né?
P/1 – E até então você continuavam na Senador Feijó?
R – Na Senador Feijó. Nós estamos em 2005. Já fazem dez anos que nós estamos aqui. Então, o horário compatibilizou. Enfim, a cultura, a disciplina que é adotada aqui no prédio, nós nos adaptamos, né? E nós temos aqui 37 funcionários. Antes nós mantínhamos o escritório central, porque a comunicação era muito difícil, hoje, nós não temos esse escritório central devido às exigências do poder concedente. São muitas. São tantos órgãos. __________, ___________, CESP. Nós temos aí diariamente fiscalização. Aqui e no interior. Ou é da CESP ou da ANEEL, ou da Auditoria Externa. Então, nós tivemos que manter, continuar com o escritório aqui. E lá no interior, nós temos em torno de 450 empregados. A área de construção da Santa Cruz, nós dividimos ela em quatro. Temos quatro regionais, cada um com um responsável. Porque isso daí e não só uma gerência como era antigamente? Porque vamos imaginar um gerente, um engenheiro que sai de Piraju para ir até o município de ________, demora duas horas e pouco pra chegar lá. Quando chega lá já é hora do almoço. E não dá para ir conversar com o prefeito, com autoridade. Ficava um tratamento frio. E nós adotamos isso daí já na década de 1980, de ter um contato praticamente quinzenal com as prefeituras, com as câmaras, com as autoridades, com os Procons etc. Então, esse tratamento ficou mais próximo. E isso foi uma das atitudes que deu certo dentro da Santa Cruz. Que hoje ela é considerada uma empresa modelo no Brasil. Os índices de satisfação do consumidor residencial feito pelo poder concedente através da ________ já à quatro, cinco anos, nós estamos sempre em 2º, 3º, 4º, 5º, porque depende de pesquisas feitas em diversas cidades sorteadas e com consumidores que nem sempre você... Se sai uma pesquisa em Piraju onde temos um contingente muito grande de funcionar, é mais fácil. Mas se vai numa cidade onde num tem nem esse contato mais próximo, mensal e etc. O consumidor não vai estar satisfeito. Mas mesmo assim nós estamos em 2º, 3º, 4º. Pesquisa feita pelo poder concedente. Que não é nossa pesquisa não. A pesquisa feita aqui em São Paulo no 1º ano da Comissão de Serviço Público nós ficamos em 1º lugar. É a única. Não teve 2º pesquisa. Então, nós sempre brincamos: “É a Santa Cruz que lidera.” E comparando com a Eletropaulo, com a ____________, com Bandeirantes etc.
P/1 – Agora, eu queria que o senhor comentasse a importância dessas regionais, essa questão de estar perto das prefeituras...
R – Da população.
P/1 – Da população, mas me parece ter um questão assim, acaba fornecendo energia para a cidade, iluminar as ruas essa coisa toda. Tem um planejamento? Você fazem juntos? Como é que é isso?
R – Existe. Nós temos um centro de gerenciamento das nossa redes centralizado... Veja bem, acabou a energia numa rua em determinada cidade. Nosso telefone de atendimento já passa pro departamento, esse já vai localizar, já puxa, já trás a rua, o posto que serve essa residência, e ali já vê, já dá as coordenadas através de um email, através de rádio. O nosso veículo fica na rua. Quer dizer, é rápido. Isso daí, nós temos índices de atendimento. O consumidor não pode ficar acima dessa média. Chama-se DEC –Duração Efetiva da Interrupção. DEC-FEC e o FEC é a frequência. Então, nós temos que nos manter abaixo dessa média, senão vamos ser penalizados. Então com esse sistema que liga, já vê e tal. De repente já está o nosso veículo. Então, o sistema de atendimento de defeito da Santa Cruz é excelente! Por isso que nessa pesquisa a gente está sempre em 1º lugar. Isso daí foi também ação aqui que nós tomamos, de introduzir esse centro de atendimento do consumidor e esses departamentos que no ato você localiza. Isso daí foi um trabalho muito difícil para ser implantado. Hoje nós temos isso daí. Não temos ainda o que nós queremos ter. Controlar todas as subestações a distância. Requer trocas de equipamentos e nós temos outras prioridades ainda. Mas em termos de atendimento ao consumidor, a Santa Cruz está com uma estrutura excelente. A qualidade do serviço é muito bom. Nós também atacamos, aquela época de 1979, 1980, 1983, começamos a construir subestações, usinas, mas não deixamos também de construir novas linhas, de reformar redes antigas, sabe? Rede de mil novecentos e alguma coisa. Então, reformamos, estamos sempre reformando, estamos sempre aplicando. A iluminação pública, por exemplo, há uns dez anos atrás nós trocamos todas as lâmpadas incandescentes. Não existe uma lâmpada incandescente na nossa iluminação pública. Na ocasião, nós trocamos para o que havia de melhor que era vapor de mercúrio e uma partezinha final, já fizemos de vapor de sódio.
P/1 – O que que melhora uma da outra?
R – A luminosidade, né? O grau, né? Ilumina melhor e tal. A de sódio é aquela amarela, né? Meio até feia. Mas além disso daí ter implantado, nós pegamos todas as prefeituras através de um programa chamado Reluz, tem um financiamento feito da Eletrobrás, e trocamos todas as luminárias de 250, quer dizer, vamos economizar energia para prefeitura. E colocamos luminárias de 250. Aquela que faz o mesmo papel de uma luminária de 500W. então, trocamos para as prefeituras, financiamos e obtivemos esse financiamento. Então, a gente recebe da prefeitura e a prefeitura paga com essa economia, nos paga e nós recolhemos para a Eletrobrás. No Campo, só para ter idéia e terminar o que eu estou falando bem da Santa Cruz evidentemente (risos) A Santa Cruz é eminentemente rural e residencial, a área. Industrial subiu um pouco, mas com a saída de dois grandes consumidores industrial da nossa área, o campo industrial retrocedeu pro terceiro lugar. O rural nosso é muito grande. Nossa área de 12 mil quilômetros é muito grande. Nós temos hoje aproximadamente em potencial 13 mil consumidores rurais. E temos já com energia, praticamente está nos faltando em torno de 1000. Em 2006, no nosso programa até junho de 2006 nós vamos zerar essa conta. Todos os consumidores ou toda a habitação na área rural vai ter a sua energia elétrica. Já temos todos cadastrados, estamos já naquela fase de implantação. Esse ano, pra você ter um idéia, nós fizemos 400... 313... Umas 400 propriedades já sendo eletrificadas. Está em andamento. E passamos a receber mais... Conclusão, faltam 1000 que nós vamos terminar também se Deus quiser até junho de 2006. Uma parte é financiado pelo governo, uma parte é subsidiada, fundos perdidos pelo governo. Mas é a Santa Cruz que banca pra depois receber, pegar esse dinheiro.
P/1 – É dentro desse programa Luz no Campo?
R – É. Começou com a Luz no Campo que nós já vínhamos trabalhando, já tínhamos 1500 eletrificadas. Aí paramos com a Luz no Campo e começou a Luz para Todos que é do Governo Lula. Então, até junho de 2006 nós devemos ter todas as propriedades dentro da área da Santa Cruz rural. Urbanas, todas já tem energia. Mas todas zeradas. Energia para todas. E temos um plano chamado P e D, Pesquisa e Desenvolvimento, que todas as empresas de energia elétrica, seja geradora, seja distribuidora, já está embutido na tarifa esse custo. Você tem que aplicar 1% em pesquisas, em programas de eficiência energética... e nós há uns quatro, cinco anos temos um programa muito bem feito dentro das escolas através de nosso pessoal e do pessoal do Procel, que é da Eletrobrás. Vamos incutir lá na cabecinha das crianças o que deve fazer com a energia para ter um melhor aproveitamento, a segurança com a energia elétrica. E aproveitamos e conseguimos embutir energia solar nas Santas Casas, nos asilos, nas APAEs. Quer dizer, estamos dando uma qualidade de vida melhor lá pro pessoal lá de dentro. Instalando programas aí que em média custam 80 mil reais, né? Mas que vem desse valor que indiretamente é o consumidor que paga, mas é nós que gerenciamos. Então, nós temos dentro do P e D essa... Além do que o grupo mesmo, o próprio Dr. Antônio, nós temos 27 municípios. Imagina quantas entidades sociais vem pedir ajuda aqui dentro? Quantas?
P/1 – Milhares.
R – Centenas. E o Dr. Antônio tem um coração maior que esse prédio. E ele ajuda igreja. Construímos igrejas, construímos APAE, construímos asilo. Compramos equipamentos hospitalares para diversas Santa Casas. Damos em dinheiro, dando desconto na conta de energia. Na realidade nós não podemos dar desconto em uma energia que tem ICMS. O que nós fazemos? Pega-se aí 12 meses de consumo, pega seis meses e contribui em dinheiro e eles pegam esse dinheiro e nos pagam, né? Temos ajudado muito a região. Como temos ajudado a região no sentido econômico social também. Nós terminamos no ano passado e até estivemos visitando agora em janeiro uma subestação chamada Avaré Nova. É a maior subestação de toda a região. É em 230 mil W. ela rebate 138 e vai pra nossa subestação. Nós temos 150 MVA lá. A região de Avaré esquece energia elétrica por muitos anos. Não vai ter problema nenhum. Também fizemos tudo com recursos próprios. Nós não pedimos financiamento para nada. Vem tudo da tarifa ou vem do acionista.
P/1 – Agora, eu queria que o senhor me falasse porque... O senhor comentou que a Companhia Paulista de Força e Luz hoje faz parte indiretamente do grupo?
R – Tá bom. Também nasceu com a Santa Cruz...
P/1 – Porque a CPFL tem uma área de atuação mais Campinas, a noroeste...
R – É. Não é só CPFL Paulista. Tem a CPFL Piratininga, tem a RGE lá no Rio Grande do Sul, tem a Serra da Mesa. Mas tudo nasceu por incrível que pareça com a Santa Cruz. Porque? O Dr. Antônio falou: “Geraldo, nós vamos entrar num consórcio aí. Bradesco e _______________” E não tinha ________. E precisava esse consórcio ter uma empresa operadora, quer dizer, que mexe com energia, que tenha usinas. Então, nós compramos a parte que pertencia a nacional energética que era do Banco Nacional quando deu todo aquele problema, teve que vender. E a nacional energética tinha formado consórcio com FURNAS e ela tem a maioria, 50 ponto alguma coisa...
P/1 – Isso foi na época das privatizações?
R – Isso. Foi até um pouquinho antes. Muito bem. Aí foi a Santa Cruz. Se inscreveu, foi aprovada em leilão juntamente com o Bradesco e compramos lá por 182 milhões. Os 61, 62 milhões vieram por porta de capital, uma parte que a Santa Cruz tinha que depois ela passou para o Grupo. Passou para o Cimento Votorantim 30%, Cimento Rio Branco 30%, CBA 30% e ficou com 10%. Essa Votorantim energia que vocês conhecem aqui, ela trata mais da parte de investimentos. Ela faz parte da ______ e consequentemente é onde a _________ atua. Ela atua na Paulista Força e Luz, atua na Piratininga, ela atua em Serra da Mesa, ela atua lá no Rio Grande RGE e alguns investimentos novos que estão sendo construídos. E a Santa Cruz tem 10% da Votorantim Energia. Então, ela continua no contexto. Quando fala em Paulista, nós temos uma pequena participação que se reduz a três ponto alguma coisa. Mas tudo nasceu com essa empresa que veio sem querer parar dentro do grupo, porque não tinha nada a ver um grupo desse tamanho que trabalha basicamente com indústria de básico, cimento, ferro, aço, níquel e etc. E de repente vem uma empresa de serviços públicos. Quer dizer, vender energia para terceiro. Mas tocou. Tá tocando e acho que nós não decepcionamos a família Moraes.
P/1 – Dr. José, como você vê os desafios para o futuro da Santa Cruz?
R – Da Santa Cruz?
P/1 – É.
R – Olha, aí é uma pergunta que você deve fazer pros Ermírio de Moraes, né? Em termos de Companhia, eu acho que eu não tenho nada a reclamar não, porque é uma empresa que sempre apresentou lucro, sempre esteve acima da média dos percentuais obtidos por todas as empresas no Brasil, tem uma estrutura bem razoável, não tem o seu nome inserido nos jornais, na imprensa como normalmente vocês vêem aí... Enfim, não tem motivo para passar isso daí pra frente. Já teve por diversas vezes ser até compradora. Mas não sei. Aí é uma questão de estratégia. Então, isso deve ser perguntado para os Ermírio de Moraes. Mas em termos de energia eu posso falar.
P/1 – Certo. E fazendo uma avaliação agora pra gente começar a encerrar a entrevista do senhor, qual é a importância que o senhor vê do Grupo Votorantim para a indústria brasileira?
R – No contexto geral ou só em energia?
P/1 – Aí o senhor fica à vontade.
R – Posso falar em energia. Aí eu falo a vontade. Veja bem, o grupo Votorantim é um dos maiores consumidores de energia do Brasil. Ele consome aí se não me falha a memória, em termos de 8 a 9% do que é gerado no Brasil. Desses 8% ele tem 40% de energia própria. Quer dizer, o que o grupo fez e ajudou o país nesse ramo, quer dizer, substituiu a função do governo em construir usinas para fornecimento de energia e não vem como a maioria fala: “Você tá construindo mas é pra você usar na fabricação de lata de cerveja, de panela...” Não é bem isso daí. A energia, é bom entender, toda a geração é colocada no sistema integrado. A energia que nós estamos consumindo aqui você não pode dizer que é da usina mais próxima, pode ser de Tucuruí, pode ser de Serra da Mesa, pode ser de ilha solteira, não sabemos porque toda energia vai para o sistema. E aí tem a distribuição então. Nós compramos energia pra revender, por exemplo, da _________ que é virtual. Não é que a ______ está dando energia para nós, é virtual. Eu compro de todas as empresas do Brasil geradoras. Então, voltando à Votorantim, a CBA, fazendo e construindo as suas usinas ________- a anos a trás, ela era criticada pelos empresários, pelas multinacionais: “Você está louco! Tem muita energia! Vai gastar!” E um dos sustentáculos do sucesso do Grupo Votorantim é esse segmento de energia elétrica. Então, desses 8% que ela consome, que é a maior consumidora do Brasil. O que ela gera dava pra fornecer energia para um Paraguai inteiro. O que ela gera, não o que ela consome. Então, foi muito importante sim e está sempre querendo construir mais, né? Veja bem, o Grupo Votorantim está voltado para o centro de custos. É muito diferente como a Santa Cruz está voltada para um centro de lucro. Ela faz da energia elétrica um lucro. Ao passo que a CBA faz da energia elétrica um custo, um centro de custo: “Vamos diminuir o custo porque aí meu lucro virá lá na venda deste produto.” E com isto ela está substituindo as funções essenciais do governo. Então, em termos de energia sim. O Grupo Votorantim já tem o seu nome registrado tranquilamente.
P/1 – O senhor está dando entrevista hoje para o Projeto Memória Votorantim. O senhor conhece o projeto? O que que o senhor acha da importância do projeto, de estar registrando a trajetória das pessoas mais antigas, dos funcionários mais antigos, colaboradores?
R – Os funcionários mais experientes. (risos) É uma excelente idéia. Tem que deixar registrado, porque uma empresa ou qualquer coisa no mundo tem que ter a sua história. E a Votorantim sempre foi uma empresa referência. Família Ermírio de Moraes sempre foi referência, sempre foi padrão, sempre foi exemplo não só aqui no Brasil como lá fora. E tem que ter esse registro da história por parte do seu corpo de funcionários. Achei excelente idéia. Não conheço a fundo, com sinceridade, mas superficialmente eu sou um dos que as atitudes tomadas pelo Grupo nos últimos anos, seja como instituto, seja como museu, seja como conselho familiar. É por isso que um dos poucos grupos no mundo inteiro que fatura acima de 500 milhões, que está no nível de 1% no mundo inteiro que deu certo. A maioria não deu.
P/1 – Certo. Assim, não sei se o senhor já tinha dado uma entrevista tão longa falando do senhor, dessa trajetória toda, né? Recuperar a trajetória do senhor, a trajetória pessoal, profissional e aqui dentro da Votorantim, né? Da Santa Cruz para o Grupo Votorantin. O que o senhor achou de ter feito esse flashback para o passado?
R – Foi uma oportunidade ímpar, né? Porque mesmo assim se pode acreditar que daqui a pouco: “Puxa vida! Eu deveria ter falado sobre aquele assunto! Tão importante aquilo que aconteceu e eu esqueci. Aquele empreendimento e da dificuldade.” Enfim, tem muitas histórias que a gente precisava ter muito tempo. E tempo é assim, de repente você lembra aí você fala, não é na ocasião. Mas foi muito importante participar com vocês aqui. E como você disse essa meia hora você lembrar do que é a vida, porque 39 anos é uma vida. Imaginar tanta coisa que aconteceu aqui dentro. Quanto foi importante o grupo dentro da minha vida particular, a qualidade de serviço. O que eu aprendi, porque eu trabalho com o Dr. Antônio diretamente já há muitos anos, há 25 anos. O que eu pude aprender com o Dr. Antônio em termos de humildade, de simplicidade é algo assim que você procura transmitir isso daí, né? O espelho é ele e eu tenho certeza que eu sou o espelho de muitos. A gente procura transmitir. Acho que a razão principal aqui do sucesso do grupo é a humildade e a simplicidade, isso você pode ter certeza. Nunca vi o Dr. Antônio... As atitudes dele... Não só na questão de ajudar entidades. Ele ajuda porque ele pode. Mas quando você leva um problema pessoal ou de um funcionário lá de baixo, ele nunca virou as costas. Sempre: “Vamos lá. Vamos ajudar. Faz isso, faz aquilo.” Então, todas as ocasiões que nós visitamos, seja a Santa Cruz, seja outros locais de trabalho. Eu viajo muito com ele aí. Ele cumprimenta da primeira pessoa até... Ele dá uma lição de simplicidade, né? E ele representa a família inteira, não tem nenhum que... Todos humildes.
P/1 –Foge à regra.
R – É.
P/1 – Tá ok. O senhor acha que ficou faltando alguma coisa pra estar falando?
R – Imagina. Só vou pensar isso depois. (risos) acho que não faltou não. Desculpa aí a sequência, a gente ia, voltava, ia voltava.
P/1 – Imagina.
R – Pô, você vai falar das minhas atitudes aqui dentro, você vai falar da história da Santa Cruz, e vai falar da CBA e o que é a CBA e o que é o grupo Votorantim...
P/1 – Foi ótima a entrevista. Obrigada.
R – Foi mais de meia hora.
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