P/1 – Então Iara, eu queria que você falasse o seu nome completo, local e data de nascimento.R – Meu nome é Iara Heger, eu nasci em São Paulo em sete de janeiro de 1953. P/1 – Qual que é a sua formação?R – Sou jornalista formada em Jornalismo e depois fiz Ciências Sociais também.P/1 – Por que é que a senhora, você, desculpa... por que é que você quis fazer Ciências Sociais depois?R – Na verdade porque eu achava que o curso de Jornalismo não bastava. A gente tinha que, eu achava e ainda acho até hoje, que o curso de Jornalismo não tem que ter a possibilidade de você fazer, se dedicar à áreas específicas. Como a gente não tinha isso eu fui fazer Ciências Sociais para ter um conhecimento que me desse base também além do técnico do Jornalismo. Que era técnico, mais técnico, né? Então foi por isso.P/1 – Você fez em que data o Jornalismo e o Ciências Sociais? Que época, mais ou menos?R – Jornalismo eu entrei quando eu tinha 18 anos, em 1971. Terminei em 1975. E a Ciências Sociais eu entrei em 1978, terminei em 1984 já com a Licenciatura. P/1 – Tá, então foi logo depois que você saiu.R – É, foi três anos, né? Teve três anos entre um e outro.P/1 – E qual que foi o seu primeiro trabalho? Foi nessa área?R – Foi como jornalista. Eu fui contratada como estagiária. Repórter estagiária no jornal chamado Popular da Tarde, que não existe mais. Mas eu fiquei como repórter mesmo muito pouco tempo. O jornal era um jornal de esportes mas tinha uma parte de geral, que a gente chamava de Geral. Que a gente fazia matérias especiais mesmo para o fim-de-semana, umas coisas assim. Mas entrou uma coisa que chamaram de Crise do Papel. Os jornais encolheram e aí a gente deixou de fazer essas matérias especiais. Aí me botaram para trabalhar a noite em uma função, que hoje não existe mais, que era chamada de copy desk.Que a gente refazia matérias do jornal mãe,...
Continuar leituraP/1 – Então Iara, eu queria que você falasse o seu nome completo, local e data de nascimento.R – Meu nome é Iara Heger, eu nasci em São Paulo em sete de janeiro de 1953. P/1 – Qual que é a sua formação?R – Sou jornalista formada em Jornalismo e depois fiz Ciências Sociais também.P/1 – Por que é que a senhora, você, desculpa... por que é que você quis fazer Ciências Sociais depois?R – Na verdade porque eu achava que o curso de Jornalismo não bastava. A gente tinha que, eu achava e ainda acho até hoje, que o curso de Jornalismo não tem que ter a possibilidade de você fazer, se dedicar à áreas específicas. Como a gente não tinha isso eu fui fazer Ciências Sociais para ter um conhecimento que me desse base também além do técnico do Jornalismo. Que era técnico, mais técnico, né? Então foi por isso.P/1 – Você fez em que data o Jornalismo e o Ciências Sociais? Que época, mais ou menos?R – Jornalismo eu entrei quando eu tinha 18 anos, em 1971. Terminei em 1975. E a Ciências Sociais eu entrei em 1978, terminei em 1984 já com a Licenciatura. P/1 – Tá, então foi logo depois que você saiu.R – É, foi três anos, né? Teve três anos entre um e outro.P/1 – E qual que foi o seu primeiro trabalho? Foi nessa área?R – Foi como jornalista. Eu fui contratada como estagiária. Repórter estagiária no jornal chamado Popular da Tarde, que não existe mais. Mas eu fiquei como repórter mesmo muito pouco tempo. O jornal era um jornal de esportes mas tinha uma parte de geral, que a gente chamava de Geral. Que a gente fazia matérias especiais mesmo para o fim-de-semana, umas coisas assim. Mas entrou uma coisa que chamaram de Crise do Papel. Os jornais encolheram e aí a gente deixou de fazer essas matérias especiais. Aí me botaram para trabalhar a noite em uma função, que hoje não existe mais, que era chamada de copy desk.Que a gente refazia matérias do jornal mãe, na verdade, no caso. Porque o Popular da Tarde pertencia a um jornal chamado Diário Popular. E a gente pegava as matérias do Diário Popular e reescrevia. Transformava em outras matérias para não parecer que era da mesma fonte.P/1 – Como que foi essa Crise do Papel? Eu nunca....R – Na verdade o papel ficou muito caro e os jornais começaram a diminuir o tamanho dos jornais. Porque eles não tinham, não conseguiam comprar papel suficiente. Na época não era brasileiro, nacional, o papel imprensa não era nacional era importado. Agora, assim, qual era os custos, essas coisas, eu não lembro. Eu sei que isso foi lá em 1973, quando eu estava, quando eu comecei a trabalhar.P/1 – E depois você continuou trabalhando como jornalista?R – É, eu fiquei um ano e um mês no Popular da Tarde. Daí quando eu saí do Popular da Tarde eu fui para fazer um esquema oficial daí, digamos, de estágio. Porque o estágio só era oficial para o último ano, quem estava no último ano, né? E quando eu comecei a trabalhar eu estava no terceiro ano da faculdade. Em 1974, eu fui para um esquema oficial de estágio que tinha a Editora Abril. Que era uma coisa muito maluca que a gente, parece que existe até hoje. A gente passava dois meses em cada redação. Fazendo matéria, fazendo o que tinha para fazer. E algumas pessoas foram contratadas depois. Eu não fui contratada depois. Eu fiquei fazendo freela um tempo, depois saí de lá e fui tentar procurar outra coisa. Porque daí...P/1 – Você ficou quanto tempo na Abril?R – Um ano. Um ano e depois mais uns três meses fazendo freela. Aí em uma revista ou noutra, que eles chamavam para fazer freela. Na época a Abril tinha umas revistas técnicas. Eu fiz alguns freelas para as técnicas e fiz freela para, o que tinha na época de fotonovela. Era uma equipe mais, mais aberta, mais tranqüila para lidar e tal. Porque o resto do pessoal era meio [RISO] meio vedete demais para o meu gosto. P/1 – E nessa época você já conhecia o Dieese[Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos]?R – Nessa época, quando eu comecei a trabalhar, não. Eu fui conhecer, trabalhando, tanto que antes de entrar no Dieese eu vim no Dieese fazer entrevista. Mas isso já bem depois, bem depois.P/1 – Como que você conheceu o Dieese? Conta para mim. R – Olha, eu já trabalhava na época lá no Diário do Grande ABC. E que foi um lugar onde eu fiquei quase três anos. Dois anos e oito meses trabalhando. E no Diário do Grande ABC, a gente já ouvia falar do Dieese bastante. Inclusive porque o pessoal das entidades sindicais já tinha relação com o Dieese. E então lá, por lá eu ouvi falar, mas eu nunca, não fiz nenhuma, enquanto eu estava no Diário do Grande ABC eu não fiz matéria com o Dieese. Porque pouca tinha uma pessoa específica que fazia sindical, e ela é que tinha eventualmente mais contato. Mas assim mesmo não me lembro. Inclusive porque, como na época não era lá, o Dieese não tinha subseção no ABC, eles, e o jornal tinha mania de ser regional, regional, a gente não podia sair muito de lá para fazer matéria. Tinha que fazer lá. Então aí era uma coisa mais [RISO] provinciana até, mesmo .Mas quando eu saí do Diário do Grande ABC eu fiquei um tempo ainda lá em Santo André fazendo, trabalhando em um, mas aí freelando para uma assessoria. E uma das contas dessa assessoria era da Cooperativa de Funcionários da Mercedes. E na Cooperativa dos, eles tinham uma revista, e para essa revista eu tive que entrevistar, fazer matéria com o Dieese. P/1 – Você entrevistou uma pessoa no DIEESE?R – Entrevistei o Maurício. O Maurício que acho que já deu depoimento para vocês. Entrevistei. Porque era sobre preços a matéria, tal, né? A cooperativa tinha também a parte de venda. Então eu entrevistei na época o Maurício. Ele não lembra. [RISO] Mas eu me lembro muito bem.P/1 – E como que foi assim, como que foi isso?R – Essa entrevista?P/1 – É, sua recepção, como que você conseguiu articular? Como que foi esse primeiro contato seu com o Dieese?R – Ah, olha, eu acho que foi tranqüilo.Não, o Maurício, já naquela época, ele era assim aquele tipo de pessoa que fala pelos cotovelos. Detalhista para caramba. Então foi, e aí ele acabou me ajudando. Ainda que ele tivesse um pouco reticente. Porque como eu estava falando de preços, de ponderação de preços, e na época já se começava a pensar em atualizar o ICV [índice do custo de vida] do Dieese, ele estava um pouco reticente de falar aqueles dados. Os dados do ICV, o que era ponderação na época do ICV. Ele achava que ia ser superado logo em seguida. Mas aquela história, você está fazendo uma matéria, a matéria não vai esperar sair um outro resultado, que ia ficar em, inclusive ficou, eu participei já dele, né? [RISOS] Foi ficar pronto muito tempo depois. P/1 – E depois disso você manteve um vínculo ou começou prestar mais atenção no Dieese?R – É, mas aí também eu fui fazer Ciências Sociais. E nas Ciências Sociais, aí o, a ponte era muito mais direta. O Dieese era muito mais, uma fonte importante para as Ciências Sociais já naquela época. E eu trabalhava, eu estudava lá, logo que eu entrei não. Mas no ano seguinte ao ter entrado - eu entrei em 1978 - 1979 eu comecei a estudar com a Vera. Que é do Dieese até hoje também. Que a gente foi colega. E ela tinha entrado a tarde e eu entrei a noite. Depois ela passou para a noite a gente estudou. E aí através dela eu ouvia falar direto no Dieese também. Mas aí ele ficou mais, mais presente mesmo. Foi por causa dela que eu acabei vindo parar no Dieese mesmo. [RISOS]P/1 – Tá. E as pessoas falavam o quê, do Dieese na faculdade?R – Na verdade ele era uma fonte de referência. E era isso, era assim que pelo menos de, eu, pelo que eu me lembro, ele era uma fonte de referência. Fazia estudo em uma área que era uma área que o pessoal das Ciências Sociais sempre se interessou, né? Sindicalismo. Era uma área que, e era uma área que estava efervescente naquela época. Estava começando a pensar em reestruturação. Estava se reestruturando mesmo. Começando a se reestruturar. Então aí era uma referência, tinha, o Dieese tinha essa importância. Por ser uma coisa ligada ao movimento sindical. A história dos índices que foram, do índice, eu só fui me tocar por ela muito depois. Nessa época não estava atenta nisso não. Era mais a questão sindical mesmo. P/1 – Você falou que nessa época o sindicalismo estava efervescente, não é isso?R – Então, é que na verdade, é assim, eu tinha relações com o movimento estudantil, o pessoal do movimento estudantil tinha vínculos também em algumas pontes com parte do movimento sindical. Então essas coisas, a gente tinha esse contato. O contato também com gente do movimento sindical. E aí a gente tinha a referência do Dieese por aí também.P/1 – Qual que era a sua relação com o movimento estudantil? Você participava mesmo, assim?R – Não, não participava. Eu era mais ou menos ligada à Liberdade e Luta. Mas não era participante ativa dentro do movimento estudantil. Atuava um pouco na área sindical, no Sindicato dos Jornalistas, e aí também. Tinha o Dieese, o sindicato era sócio do Dieese, né? Mas assim, é engraçado como hoje eu pouco lembro da minha atuação como [RISO] na área sindical. Era, era, atuava, mas era assim: pessoa que participava de assembléia. Não era, nunca fui destaque no movimento sindical não. [RISO]P/1 – E você falou que você entrou no Dieese através da Vera. Como que foi essa entrada?R – Quando eu entrei no Dieese, assim, o Dieese foi fazer o projeto piloto da PPVE [Pesquisa de Padrão de Vida e Emprego] em 1981. Eu fazia Ciências Sociais na época, estava fora do jornalismo na época, não tinha emprego. E a Vera era minha amiga, ela falou assim: "Mas o Dieese vai fazer, vai pegar pesquisador”. Então eu, a partir dela, através dela eu fui me inscrever para ser pesquisadora em 1981. Sem registro nessa época, a gente fez, eu fui pesquisadora de campo no piloto da PPVE. Trabalhei acho que entre março e junho. Em junho ainda tinha algumas coisas para ser feita de campo e tal, mas aí eu já, como eu tinha feito o senso do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] em 1980 em 1981 eles me chamaram para fazer o censo econômico. E eu fui fazer treinamento do IBGE e acabou que eu me desliguei do Dieese, nessa época. Mas depois no mesmo ano, em 1981, ainda em dezembro, em novembro, de novo o Dieese estava catando gente para trabalhar pesquisador em uma pesquisa de perfil que eles fizeram para o Sindicato dos Psicólogos e o Conselho Regional de Psicologia. E aí eu fui trabalhar lá. Fui pesquisadora e codificadora de dados. Fiz entrevista lá com os psicólogos aí na, grande número de psicólogos e depois a gente fez a codificação dos dados. Trabalhei ainda um tempo aí, acho que foi em novembro, dezembro, janeiro, talvez tenha sobrado um pouquinho para fevereiro de 1981, e de 1982 já. Daí depois eu trabalhei também uma outra pesquisa, não foi para o Dieese, mas a Vera de novo teve a ver com isso. Porque a pessoa que estava recrutando pessoas para trabalhar nessa pesquisa. Era uma pesquisa de mercado. Trabalhar, morava com uma técnica do Dieese, e essa técnica não tinha contato com pesquisadores. Mas a Márcia falou para ela assim: "Ah, vai lá no Dieese que o pessoal conhece gente que pode trabalhar”. E a menina falou com a Vera, a Vera indicou meu nome e eu fui trabalhar lá nessa pesquisa que ela estava pilotando. Mas aí foi uma pesquisa também de mercado, de dois, três meses, tal. Quando acabou a Vera, de novo, na faculdade falou assim: "Iara, vai voltar agora a pesquisa de, a PPVE. Vai voltar agora em agosto." Daí eu fui lá no Dieese no local onde era. Era, na verdade, era no Sindicato dos Químicos que funcionava a PPVE. Já quando eu tinha trabalhado em 1981 era lá no Sindicato dos Químicos. Daí eu fui lá, conversar com as pessoas. Daí me chamaram não para ser pesquisadora, mas aí para ficar como codificadora de dados.P/1 – Aí era registrado, ou não?R – Registrado. Daí foi, isso já era agosto de 1982, que foi quando eu fui contratada no Dieese. Eu comecei a trabalhar nessa área, como codificadora de dados. Eu fiquei lá como codificadora e crítica nessa área, até a gente começar a movimentação uma área de assessoria de imprensa no Dieese. Isso foi em, é, 1985, 1986, que a gente começou a... Porque na época tinha algumas pessoas no Dieese que ou, eu já era jornalista. Tinha o Álvaro que trabalhava também na PPVE que estava acabando a faculdade de Jornalismo. O Emilio estava fazendo Jornalismo. Esses todos eram lá da PPVE. Tinha, no escritório do Dieese na época lá nas Carmelitas, tinha a Janete. Que acho que ela era datilógrafa na época, que também estava prestando vestibular para Jornalismo. E um diretor do, da Executiva do Dieese na época, era jornalista. E ele me conhecia da minha época da minha militância no sindicato, né? E o Paulão me encontrava, falava assim: "Você nunca pensou em botar, a fazer uma assessoria de imprensa no Dieese. O Dieese já tem nome suficiente. Tem importância suficiente para ter alguém que faça isso”. E aí começou, dessa conversa é que a gente começou a se interessar. Eu me lembro que o Barelli na época, dizia: "Cabe a vocês, que gostam da área, me provarem que é importante ter uma área de assessoria de imprensa no Dieese”. Então foi, aí a gente começou a se articular até que quando ficou pronta a primeira divulgação da pesquisa, da PPVE, lá dos resultados do índice do custo de vida, com a ponderação tirada da PPVE. Foi em fevereiro de 1987. Os dados era referentes a janeiro de 1987 aí estava montada a assessoria. Tinha eu, o Emilio, a Janete.P/1 – 1987?R – É. E tinha mais uma pessoa que é uma pessoa assim, que foi muito importante no movimento sindical, que era o Nunes. Mas ele não era fixo dentro do Dieese. Ele tinha um contrato com Dieese por duas horas diárias, alguma coisa assim. Mas do mesmo jeito que ele tinha contrato no Dieese, ele tinha vários sindicatos. Porque ele fazia jornal para um monte de sindicatos. Uma pessoa assim, que de história de vida da, nessa relação é uma coisa. Na história do Dieese ele fazia, o que ele fazia na época era, era fazer em parte a secretaria gráfica da publicação do Dieese. Do Boletim Dieese, que tinha na época. Era isso, basicamente o que ele fazia. Fazia alguma revisão de texto, tal. Mas ele era uma pessoa assim, que à medida que foi entrando o computador ele foi se afastando. Porque ele continua até hoje [RISOS] só trabalhando no, na régua de cálculo de picas e coisa assim. Não, não, ele não tinha, foi embora para o Mato Grosso por isso.P/1 – Não acompanhou. Então, você me falou que o Barelli era o diretor técnico na época.R – Hum, hum.P/1 – Como que vocês conseguiram convencer ele, enfim.R – É, eu acho que na verdade foi um trabalho que foi pelos dois lados. Porque o Paulão que era o diretor do Sindicato dos Jornalistas ele achava mesmo, né, e ele mesmo já estava atuando em área de assessoria. E achava que o Dieese comportava uma assessoria de imprensa. E ele dava todo o estímulo. E a gente, internamente, eu principalmente, por ser a que era formada. Mas os outros também forçavam, fomos convencendo. E, na verdade, eu acho que por outro lado teve o lado dele. Que ele começou a achar que como era tudo nas costas dele, era ele que dava todas as entrevistas. Ele começou a achar que era legal se pudesse ter mais gente falando. Mas para isso precisava alguém que fizesse essa triagem. Eu acho que daí ele começou a achar que isso realmente podia. Se tivesse uma equipe de jornalistas essa equipe de jornalistas podia fazer essa triagem. Além do que o Dieese já na época divulgava dados. Divulgava o índice do custo de vida. E assim, acho que a cesta básica também. Mas era, o que é que era, né? Alguém fazia um textinho rapidinho e um monte de office-boys [RISOS] que o Dieese tinha na época, saía entregando em cada redação de São Paulo. Porque não tinha, a gente não tinha telex. Não existia o sistema de computador, e o pessoal saía entregando nas redações. Os boys, o Dieese tinha acho que cinco seis office-boys. Por sorte, na época, as redações eram quase todas no Centro. E o Dieese também era no Centro. Era lá na Tabatingüera. Então o pessoal saía entregando essas...P/1 – E como que ficou depois? O que é que mudou nisso? Nessa divulgação, enfim.R – Bom, primeiro que a gente começou a fazer as entrevistas coletivas. Organizar a entrevista coletiva para fazer a divulgação. Chamava a imprensa, ligava. A gente organizou cadastro, organizou todo o levantamento de dados que a gente precisava para os contatos. Coisa que era um pouco era muito disperso. Ainda que o Dieese não tenha perdido um pouco, a característica de atender a demanda muito mais do que impor a sua, o seu interesse, as notícias. Mas assim ele organizou, organizava entrevista coletiva, chamava a imprensa para participar dessas entrevistas coletivas. E mantinha, continuava atendendo aquela, aqueles pedidos das pessoas que ligavam para o Dieese. Só que aí foi centralizado na assessoria de imprensa e, ao mesmo tempo, diversificado enquanto quem dava a informação. Não era só mais o Barelli dando a entrevista. O Maurício passou a dar entrevista do custo de vida. E aí as pessoas eram, davam, os outros técnicos davam entrevistas dependendo de assuntos que eles eventualmente estivessem tocando. E foi um trabalho que a gente, na assessoria, que fixo internamente na época era eu, o Emílio e a Janete, e o Nunes prestando serviço, mas aí prestando serviço na parte do Boletim do Dieese, que a gente também, que também passou para a nossa responsabilidade. O Boletim o Dieese sempre teve. Alguma coisa, alguma publicação. Mas eram técnicos que tinham, que eram responsáveis pela, pela elaboração desses, do Boletim. De juntar o material, né, do Boletim para ele ser divulgado. Para ele ser publicado, impresso, tal. E aí era vários técnicos que tinham sido, tinham sido responsáveis. Dos que tinham sido responsáveis acho que hoje só a Suzana continua no Dieese. Os outros, pelo que eu me lembro, já saíram do Dieese. Uns porque aposentaram, outros porque saíram mesmo. Mas várias pessoas passaram por essa responsabilidade até que ela foi desembocar na nossa mão. Daí a gente fazia o Boletim inteiro.P/1 – Então quer dizer que você entrou em 1982, aí em 1987 você passa para a assessoria de imprensa.R – É, nós montamos a assessoria de imprensa a partir de 1987.P/1 – E desde 1987 até hoje você executa a mesma função? Ou mudou?R – Mais ou menos, né? Por quê? Primeiro porque a gente não tem mais publicação regular como tinha impressa. E então parte dessa atividade, da edição de um Boletim não existe mais. Então a gente edita um monte de textos, mas edita eletronicamente. Publica eles eletronicamente. E poucas coisas hoje são impressas, a divulgação impressa. O Boletim ficou até 2001. 2001 ele foi descontinuado. Mas ele é, ele tinha um problema muito grande.Para a elaboração dele, que demandava muito trabalho. E assim, as pessoas nunca respeitavam o prazo de entrega. Então você não conseguia fazer os boletins no prazo. O ritmo de trabalho do Dieese não é um ritmo de publicação [RISO], né, que a gente, que eu estaria acostumada lá fora. De fazer tudo muito rapidamente. O ritmo de trabalho do Dieese era um ritmo mais técnico mesmo. Um trabalho mais detalhista. De, então, aí você, todas as coisas do Dieese demoravam para chegar na mão. Pouca gente conseguia entregar. Porque o que é que era o, os estudos do Dieese eram trabalhados para entrar no Boletim. Tinha, o Boletim tinha uma série de sessões. Ele era, tinha conjuntura, tinha estudos e pesquisa. Tinha linha de produção. Documentos sindicais. Internacional. E fixamente a divulgação do índice do custo de vida, da cesta básica e do mercado de trabalho. Mas essas três aqui eram relativamente, era responsabilidade da imprensa, né? A cesta básica, o ICV e o mercado de trabalho, acabava ficando como responsabilidade da imprensa. Primeiro, porque no caso da cesta básica e da, do ICV a gente fazia o release. A responsabilidade pelo release era nossa. E depois, a gente refazia um texto, para divulgação. Agora, o resto a gente dependia daquilo que os técnicos produziam e encaminhavam. Internacional acabava eu traduzindo. Quase todos os textos de internacional, de inglês, de francês, de espanhol, tudo que eu conseguia traduzir era eu que traduzia para publicar. Não falo nenhuma delas, [RISOS] mas eu leio razoavelmente todas elas. Então dava para fazer a tradução. E o resto dependia de quando alguém conseguia, entregava o material. A gente cobrava muito. Mas sempre barrava aqui, barrava ali. E além, ah, ainda tinha no Boletim também ele publicava o levantamento de acordos e o levantamento de greves. E aí era o Emílio que fazia o levantamento de greves. E a Janete que era responsável pelo levantamento dos acordos. Era escolher cláusulas e divulgar no Boletim a greve. E teve época que foi um horror fazer greve para o Boletim. Mais de 300 greves em um único mês. E era um levantamento que era assim, você tinha, você reproduzia os dados. O nome da categoria, o nome da empresa, ou a data base. Todas as informações. O período em que foi a greve. E contava a história. Quais eram as reivindicações. A publicação trazia todas essas informações de cada uma das greves. Quando era 20, 30, 40 greves, tudo bem. Mas quando era 300 como teve mês que chegou a ser, né? Era complicado fazer esse levantamento.P/1/2 – Uma perguntinha. A senhora é jornalista... Você...R – A senhora eu não sei onde está. Não encontrei com ela ainda.P/1/2 – Uhhh. Perdão. Não encontramos, por sinal.R – [RISOS]P/1/2 – Você é jornalista por formação, e já trabalhou no mundo do jornalismo lá fora, e trabalhou, trabalha como jornalista aqui dentro. Qual a principal diferença que você pode falar além do, lógico, do diferencial desse foco de trabalho daqui de dentro. Qual a principal diferença no estilo de ser jornalista lá e ser jornalista no Dieese?R – Bom, ser jornalista no Dieese tem um, é muito diferente ser também jornalista em qualquer outra assessoria de imprensa, tá? O Álvaro, que começou com a gente mas depois saiu do Dieese, depois voltou, trabalhou um tempo na assessoria. E saiu de novo, e depois andou em outras assessorias disse que não tem nada a ver mesmo. Não adianta. Assessoria de imprensa do Dieese é uma coisa, outras assessorias é outra. O assessor de imprensa, em geral, é sempre muito mal visto no jornal, né? Porque ele é visto como um chato que está querendo obrigar ao jornal ou ao meio de comunicação a divulgar aquele produto ou aquela empresa que ele representa. E daí você sempre tem um interesse conflitante. Agora, ser assessor de imprensa no Dieese é diferente. Porque o Dieese é fonte. A imprensa trata o Dieese como uma fonte de informação, não como alguém que está vendendo produto. Então é uma vantagem. É uma vantagem ser assessor de imprensa no Dieese. Porque o Dieese não vende um produto, um produto como venderia sei lá, um sapato. Eu sou, eu estou lá, eu vou, olha, eu tenho a conta da Azaléia - sei lá, de qualquer empresa de calçados - então eu tenho que inventar coisas para que a imprensa publique aquilo que eu estou, o meu produto. No caso do Dieese a gente tem, o nosso produto é a informação. Fazer divulgar indicador, divulgar dados de mercado de trabalho, ou divulgar os nossos trabalhos sobre piso salariais, sobre balanços de negociações, isso é uma coisa que a imprensa tem uma receptividade muito maior. Eles querem essa informação. Então é nesse sentido assim, a minha situação é cômoda em relação ao jornalista de assessoria de imprensa. Porque a gente não, o jornalista de assessoria de imprensa tem esse problema. Ele tem que defender, e a gente é essa diferença, aquilo que eu falei que a gente atende à demanda? É isso, a característica do Dieese sempre foi muito isso. A gente responde àquilo que a imprensa quer. E o nosso produto também é aquilo que a imprensa quer, que é a informação. Então essa vantagem a gente tem. Mas também já senti gente enchendo o saco, já teve gente que virou: "Ah, vocês só servem para atrapalhar." isso já aconteceu. Particularmente quando a gente, quando, porque o Dieese é assim: ele é um órgão do movimento sindical. Como órgão do movimento sindical, muitas vezes ele tem que se equilibrar entre as diferentes posições do movimento sindical. E se, por acaso, um jornalista que está querendo checar, botar em cheque uma dessas posições nos procura, a gente não deixa essa história ir muito além. Para não gerar, para que a saia justa não se configure internamente. Então aí você tem, de repente, aqueles que te dizem: "Ó, assessor de imprensa só serve para atrapalhar. Vocês não querem me deixar chegar na fonte”. Na verdade a gente está fazendo serviço do outro, né? Porque, para o técnico não ter que falar: "Olha, eu não vou te responder”. Mas, essa coisa existe. Mas é pouco. No Dieese, felizmente é muito pouco. Pouquíssimas vezes eu deparei com isso. E a gente teve saias justas por outros motivos. Porque um resolver dizer uma bobagem a respeito do Dieese, isso já aconteceu. Uma vez a gente publicou um trabalho, e daí um jornalista publicou outros dados como sendo do Dieese. Eu não me lembro exatamente como é que foi a história. Que ele pegou uma tabela que não era a tabela real do Dieese. Daí toda a imprensa queria aqueles dados que tinha sido publicado no Jornal da Tarde. Eu falei: "Não, gente, esse dado não é o dado do Dieese, oficial do Dieese. O dado oficial do Dieese é o da matéria que saiu na Folha de São Paulo”. Por acaso tinha sido mesmo. A matéria tinha saído publicada na Folha de São Paulo. Não era matéria, era um artigo assinado. "Isso é o oficial do Dieese”. "Não, mas o do Jornal da Tarde está mais interessante." "Só que não é o que nós estamos dizendo. O que nós estamos dizendo é o outro." [RISOS] “Está mais interessante para quem? Para quem está a fim de falar a verdade ou de quem está querendo usar uma informação de uma forma inadequada." Eu me lembro de ter acontecido uma vez. Foi uma das, dos arranca-rabos que a gente teve. P/1 – Vocês tiveram com a imprensa.R – É, é. Na verdade, particularmente, um jornalista que acabou provocando a história. Para o resto a gente tinha que esclarecer que não era bem assim. Que não era aquilo. Que o jornalista tinha publicado. E ele não tinha publicado da cabeça dele. Tinha publicado porque tinha gente no meio sindical que estava a fim de fazer isso. Então...P/1 – Vou fazer uma pergunta mais interna do Dieese. Vocês conseguiram estabelecer então a assessoria de imprensa. E você acha que as pessoas, qual a importância que o Dieese dá para essa assessoria, para a comunicação?R – Ah, isso hoje em dia o Clemente, particularmente, que investiu muito na área de comunicação. P/1 – Bem recente, né?R – É. E assim, a gente, na verdade a gente sempre teve, depois que a gente conseguiu, que instalou a assessoria a gente passou a ter importância dentro do Dieese porque era um canal para ir, chegar, todo material que ia ser divulgado passa por lá. Todo material que vai ser divulgado no escritório nacional. Não nas subseções. O material das subseções eles têm um canal próprio para divulgação. E às vezes gera até as tais saias justas para a gente. Porque chegam na imprensa, o pessoal vem perguntar para a gente de dados que a gente não está sabendo. Porque chegou por outro caminho. Chegou porque o sindicato tem uma forte presença na mídia, ou coisa que o valha. Mas o resto, todas as publicações de alguma forma passaram lá na nossa mão. Livro, essas, toda essas coisas, esses publicações que o Dieese fez passou pela gente. Mesmo sem ter mais o Boletim, que é uma publicação específica da área, ou uma revista que fosse específica da área, todas essas coisas passam pela gente. Agora, hoje, talvez, a gente não tenha tanta a chance de elaboração. Justamente porque a gente não tem uma publicação da assessoria. Do Dieese. Uma publicação, a gente publica estudos e pesquisa, a gente publica na internet notas técnicas. A gente divulga os dados das pesquisas. Mas a gente não tem um canal para: "Ó, aqui a gente vai por, editar um texto de conjuntura. Aqui a gente vai editar um texto de debate sobre um assunto qualquer do interesse do movimento sindical, uma coisa assim." Isso a gente não tem. É o que a gente se recente um pouco disso. Mas o grande problema para isso, sempre, mesmo quando a gente tinha o Boletim. Era ter como publicar isso, porque custa muito mais caro você fazer isso. Essa publicação sai cara. Então, é uma coisa assim, que sempre o sonho, foi o sonho. A gente chegou, quando a gente tinha o Boletim, quando a gente avaliava que o Boletim não dava conta do recado, porque não dava mesmo. O movimento sindical não é muito de ler um texto técnico. A gente sentia. A gente chegou a fazer algumas experiências de folheto, de tablóidezinho, tal, para tratar de assuntos específicos. Mas a gente nunca teve fôlego para tocar um projeto real de revista que implicasse em ter ilustração, dar este, fazer aquilo lá que vocês viram a toque de caixa lá. Que era uma publicação interna. Que é uma coisa que a gente tem até hoje. A gente tem publicação interna hoje também. Aquele foi o primeiro que foi uma coisa, aquele lá foi uma idéia da equipe que, da assessoria na época, ainda. Em 1987, 1988. Fomos nós que tivemos a idéia e começamos. E o barelli comprou porque fazia, principalmente, as subseções e os escritórios prestarem conta de algumas, do que estavam fazendo. Então ele comprou a idéia na época. Só que a gente fazia amadoristicamente, totalmente amadoristicamente. Digitando ali, na máquina de escrever, não era no computador não. Digitando na máquina de escrever o texto. Calculando o tamanho de coluna para, reduzindo e ampliando no xérox [RISO] para dar diferença de corpo, de box, essas coisas. Quer dizer, coisa de jornalzinho de estudante mesmo. De centro acadêmico.P/1 – Você falou que o Clemente investiu bastante nessa área. Mas o Clemente é super recente. O que é que ele trouxe de novo?R – É, ele como diretor técnico é recente, né? Ele já tinha sido da coordenação antes. E já na época que ele era da coordenação quem, uma publicação, a divulgação interna para o sócio, para a equipe toda ele, a gente tinha feito aquele a toque de caixa que ficou lá atrás, lá em 1987 e 1988 quando a gente conseguia tirar. Depois ele, quando ele era da coordenação ele instituiu um negócio chamado 2000. E o 2000 ele era um informativo para a equipe das atividades da equipe. Que foi feito em parte lá na assessoria. Teve época que as secretarias juntavam as informações para divulgar. E depois voltou para a assessoria. A gente tinha auxiliar técnico na época que os meninos faziam esse levantamento sempre. Daí, quando o Clemente voltou agora como diretor técnico ele transformou esse 2000. Que o 2000 começou em meados da década de 1990, como, apontando para o Dieese 2000. Foi todo um processo. Um processo que não foi só na imprensa. O projeto Dieese 2000. E ele estava integrado nisso. Daí depois quando ele voltou ele passou a transformar o 2000 que já existia há muito tempo no Conseqüência. Que chama Conseqüência justamente conseqüência do 2000. P/1 – Legal.R – Que é uma divulgação interna também. Que vai para a equipe e no caso ele vai também para a direção sindical do Dieese. Antigamente ele era só interno. Só para a equipe. Agora ele vai para a direção sindical do Dieese. Hoje chama Conseqüência. E a gente tenta fechar ele toda quinta-feira. Ontem eu consegui. [RISOS]P/1 – É semanal?R – É semanal. É semanal exceto em períodos tipo dezembro, janeiro, porque aí tem pouca coisa acontecendo. Mas senão ele deve ser semanal. Mas, e ele consegue ser relativamente, quase sempre, quase toda semana tem. Exceto se você tiver assim um feriado emendado, aí acaba que você, que quebra, né? A semana não tem muita atividade você acaba dando, interrompendo ou alongando o prazo dele. Mas, ele tem um pouquinho essa flexibilidade. Mas a proposta dele é ser semanal. E ele é semanal na maior parte do ano. Só o dia que às vezes varia. A idéia é ser fechado na quinta-feira, ontem foi.P/1 – Eu queria que você falasse para a gente como que é seu cotidiano de trabalho no Dieese, relação com as pessoas? Enfim, como que acontece?R – Bom, eu não entro de manhã no Dieese. Eu normalmente, exceto quando tem coletiva. Quando tem coletiva eu venho cedo, ou vou cedo aonde for a coletiva. Mas senão eu chegou por volta do meio-dia no Dieese. Também...P/1 – Coletiva é?R – É entrevista coletiva para a imprensa. Divulgação de algum tipo de dado. Por exemplo, essa semana agora, dia 26, tem a entrevista coletiva da divulgação da PED. Ela não é aqui no Dieese. É lá na Fundação Seade que é nossa parceira na pesquisa. Mas aí a divulgação é marcada para as nove horas da manhã. As nove horas da manhã a gente está lá acompanhando a coletiva lá na Fundação Seade. E senão eu, a minha opção é entrar por volta do meio-dia e fico trabalhando até nove, oito e meia. Eu prefiro, eu gosto de trabalhar até mais tarde. Acho que eu aprendi isso sendo jornalista. Durante muito tempo eu trabalhei, quando eu comecei a trabalhar logo que o jornal entrou em crise do papel que eu passei a fazer copydescagem eu entrava às sete horas da noite. E então eu habituei com a idéia de trabalhar mais no cair da noite. E eu até hoje sempre que eu posso tento fazer isso. Inclusive porque fica muito mais tranqüilo, para atividade que não depende da demanda externa. Quando a atividade, o que é demandado pelos jornalistas nesse horário já é bem menos. É durante o dia que eles fazem e principalmente no período da tarde. A imprensa tem uma característica de se dedicar mais a essas atividades. Já foi mais. Hoje até eles já trabalham de manhã. Mas ainda assim o grosso do jornalista ainda trabalha no período da tarde. Só corre atrás do material no período da tarde. No começo, inclusive, a gente fazia coletiva sempre a tarde. Porque não adiantava fazer de manhã. Jornalista não aparecia. Agora, aos poucos é que eles foram mudando de, a atividade hoje, ainda tem publicação que não vai. Tem publicação que não vai em uma coletiva de manhã porque não cobre, não funciona. Não funciona de manhã. Ela só funciona a tarde. Quando você tem jornalistas setorizados eles cobrem aquilo, aquela divulgação de manhã. E hoje com a internet mudou. A internet é muito, o dia que a gente teve uma coletiva, foi aqui nessa casa, um jornalista chegou aqui: "Ai, eu levei um furo." "Como, um furo? A coletiva está começando." "Mas é on-line. Eu já tinha que ter passado os dados." Aí é que eu acordei, né? Porque dentro da assessoria você não se toca tanto por isso. É on-line. Uma matéria que vai ao ar cinco minutos depois já perdeu a atualidade para quem está vigilante lá com todos os meios da internet. Todos os portais da internet informando. Essa urgência que hoje tem no jornalismo. Mas hoje já não, hoje infelizmente os nossos indicadores também não são mais tão fundamentais quanto eram há alguns anos. Tem muito mais indicadores também. Então... E, por exemplo, o custo de vida, infelizmente hoje ele está com uma ponderação antiga. Então hoje ele não é tão, não reflete tanto a realidade atual de consumo. Não de preços. Porque o comportamento de preços ele acaba sendo parecido, independente da coisa. Da idade da ponderação. Mas a, de consumo. Que tem coisa que a gente não tem. Celular, por exemplo, não é uma coisa que a gente acompanha. Então isso tira um pouco, não tem jeito, tira um pouco da importância do indicador.P/1 – Você acha que o Dieese perdeu espaço na sociedade? Ou, como que está o reconhecimento social do Dieese?R – Não, hoje o Dieese se, ele continua sendo respeitado. O Dieese continua sendo respeitado. As divulgações, as publicações do Dieese continuam sendo respeitadas. Aquilo que a gente fala é respeitado. O que ele perdeu, talvez, tenha perdido assim em alguns aspectos, junto à própria mídia. Porque a mídia tem os seus próprios critérios de valorização. Então tem momentos que eles voltam correndo. A semana passada a gente lançou um estudo sobre jovens. Um trabalho sobre jovens. Nossa, foi assim, todo mundo veio correndo atrás da informação, dos dados. No dia seguinte estava super manchete da Folha de São Paulo, e tal, e quem não fez no dia saiu correndo no dia seguinte. Porque o dado foi super importante. Então essa é uma, uma coisa. A gente continua tendo a capacidade de fazer coisas desse tipo, e de dar esse destaque. Agora, outra coisa é a, que como você tem vários indicadores eles priorizam um ou outro. O Dieese tem um índice do custo de vida, por exemplo, que é de São Paulo. Hoje existem vários indicadores que abarcam mais localidades. Então isso deixa o do Dieese um pouco menos, ele é menos importante. Outro indicador que é só de São Paulo no caso do custo de vida, da Fipe. Mas a Fipe lança dado toda semana. Nós não, a gente laça uma vez por mês, né? Então tem algumas coisas que fazem, e hoje, hoje realmente para revitalizar o índice como coisa, teria que mudar muita coisa. Porque ele está com uma ponderação antiga, de 1994, 1995. P/1 – E qual que é a perspectiva do Dieese para o futuro? O que você acha?R – Nessa área? Eu não sei. P/1 – Do Dieese em um modo geral, na sociedade? Acha que tem uma demanda? Ele continua?R – Ah, ele sempre tem áreas para atuar. Ele sempre tem coisa para, área para desenvolver, sempre. Mesmo com o movimento sindical meio, em uma maré não tão alta, digamos assim, como formador de opinião. Tá, tudo bem, está no governo. Mas é o que, os que estão no governo não são os que estão no movimento sindical. Eu sinto esse, os jornais eliminaram as editorias específicas, ou os jornalistas especialistas em área de sindical, de trabalho. Eles estão fazendo uma coisa mais geral mesmo. Na economia mesmo, e menos direcionado. Porque teve uma época que tinha tudo muito direcionado. E hoje não tem mais. Poucos jornais, raríssimos, tem algum jornalista que trata especificamente desse tema. E assim, trata especificamente porque tratava antes, mas faz isso hoje junto com outras coisas. E então não tem esse direcionamento hoje não está existindo no meio de comunicação. Pelos menos assim, até onde eu estou vendo. Não sei, pode ser que seja eu que esteja meio vesga para o que está acontecendo. Mas assim, acho mesmo, mas assim, as coisas do Dieese, elas saem muito na mídia, elas são os clippings que a gente tem sempre mostram informações que a gente faz, daquilo que a gente faz. Às vezes coisas que com características regionais. O pessoal de região costuma fazer algumas divulgações específicas, com coisas mais voltadas para aquela região. Acho que a penetração do técnico do Dieese nas regiões talvez seja até maior do que aqui. Inclusive porque as regiões, a gente está em 16 estados. Boa parte desses estados não tem um plantel de formadores de opinião. Então um técnico do Dieese é um formador de opinião. Aqui em São Paulo você tem ocasiões em que é muito procurado e ocasiões em que é menos procurado. Assuntos em que eles continuam correndo atrás e assuntos que eles esquecem, digamos assim. Então tem essas coisas. Mas é que nós somos a sede, né? Então, e aqui assim, quando também tem isso. Muitas vezes eles, tem alguns jornalistas ainda que ligam para você querendo falar com o Clemente. Mesmo se o Clemente não está, se o Clemente não pode falar, às vezes, tem aqueles que torcem um pouquinho o nariz. Mas tem outros que não, tem outros que já aceitam tranquilamente. Principalmente se você dá um status para o técnico que vai falar: "Ah, ele é supervisor”. "Ah, ele é coordenador." [RISOS] “Ah, ele é coordenador da pesquisa." Pode ser uma coisa não tão rigorosa assim essa coordenação. Mas se ele é coordenador já dá um peso maior e aí a pessoa [RISO] a pessoa acha legal falar. Não faz muito tempo a gente fez uma, eu tive uma experiência dessa. A pessoa queria falar com o Clemente. Mas o assunto: "Olha, tem uma pessoa que está coordenando uma pesquisa. Ainda não temos resultados, o resultado vai sair mais para a frente." Daí não queria mais o Clemente. Queria era o coordenador. [RISOS]P/1 – Então, deixa eu perguntar uma coisa aqui, meio diferente. As pessoas que a gente tem entrevistado eles demonstram um envolvimento muito pessoal assim, com o Dieese, com o trabalho...R – Todo mundo tem.P/1 – Como que é isso para você?R – O fato de você ter uma instituição onde tudo, onde grande parte da equipe está a 20, a 15, há 30 anos isso hoje em dia não é uma coisa tão comum assim.E no jornalismo, particularmente, isso é muito raro. Jornalista, muitos jornalistas até defendem a rotatividade. E eu nunca gostei. Nem pelo meu lado pessoal, porque pessoalmente eu odeio me imaginar sem emprego. Nem pelo lado da constante transformação. Eu acho que as transformações podem ocorrer dentro do mesmo ambiente. Se eu for pensar hoje tudo, esses 24 anos, com certeza a transformação que houve dentro do Dieese foi muito grande. Foi, não dá, inclusive eu mudei de função no começo. Mas então eu acho mesmo que existe isso. Já existiu até mais. A gente leva trabalho para casa. A gente vira a noite trabalhando, se for necessário. E a gente, eu me lembro, teve uma vez, foi um pacote econômico aí. Eu entrei no Dieese no domingo as cinco horas da tarde para finalizar o trabalho que tinha sido discutido no fim de semana. Era eu e o Emilio. Nós saímos do Dieese na segunda-feira as seis horas da tarde. Depois de já ter tido, rodado, a noite inteira com trabalho, tido dado, acompanhado coletiva. E daí é que a gente foi sair depois de ter... Isso acontece, aconteceu, já aconteceu muito no Dieese. Ainda tem gente que faz coisas parecidas em determinados momentos. E eu faz tempo que não faço. Faz bem tempo. Na última vez que eu fiz algo bem parecido com isso, no dia seguinte meu pai teve um AVC. A gente tinha ficado trabalhando até às quatro da manhã. E eu não gostei muito dessa experiência não. [RISOS] Pode não ter nada a ver, mas pode ter. E então, mas a gente faz, a gente leva serviço se for necessário. A gente dobra a jornada. Eu sou contratada por seis horas. Raro o dia que eu faço seis horas. E sempre foi assim. O dia que eu entro as nove porque tem coletiva, eu continuo trabalhando até as oito, nove horas da noite. Então isso, e, por outro lado, também a gente, a gente, o Dieese também reconhece um pouco.Um pouco, na medida em que você, assim, se você precisar - e eu passei por essas experiências, quando minha mãe estava internada. Eu passei dias e dias sem vim e tal, nunca fui cobrada por conta disso - então essa sensibilidade existe também. Pode ser, acho que pode ser que muita gente queira mais. Ou acha que é de outra forma que se reconhece. Mas assim, eu acho que em uma situação, em uma instituição que vive na pindaíba que o Dieese sempre viveu, né? Onde ninguém tem assim grandes esperanças de ter uma ascensão salarial, as pessoas tem que se empenhar porque se identificam com ela. É isso que, é por isso que tem tanta gente com mais de 20 anos de casa. Ninguém ficou rico dentro do Dieese. E não vai ficar rico dentro do Dieese, em hipótese alguma. Só se ganhar na loteria lá fora. Não dentro do Dieese. Então é só mesmo com identificação com aquilo que está fazendo.Não sei hoje se as novas turmas que estão entrando, se as novas pessoas que estão entrando, se elas têm a mesma perspectiva. A gente, eu tinha. Eu era uma pessoa de esquerda, que atuou na esquerda. Mesmo que não tenha sido nenhuma ponta de lança nesta área, atuou na militância, militou, tal. Então para essas pessoas o Dieese era, era até uma militância remunerada. Mesmo que a remuneração fosse inferior àquilo que a gente achasse que pudesse ser em algum momento, tal. Mas então para quem tem essa trajetória de vida é difícil não ter essa identificação com o Dieese. A minha dúvida é realmente com relação à turma mais nova. Que já entra em uma outra realidade democrática. A gente passou por ditadura. A gente teve todo um outro tipo de percurso mesmo, fora da, antes de chegar no Dieese. Então é, agora, para quem está chegando eu não sei. Aí é uma questão que tem que ver com eles mesmo. [RISO]P/1 – E qual que é a principal lição que você tirou desse trabalho?R – No Dieese?P/1 – Hum, hum.R – Eu não sei se eu já tirei alguma lição, assim, que seja. Eu acho que ela vai se somando. Coisas vão se somando no dia-a-dia. E eu ainda não quis parar. Então talvez eu não, claro, eu mesma aprendi até lidar com certas técnicas dentro do Dieese. Algumas até superadas já. [RISOS] Eu aprendi a operar telex, que é coisa que não existe mais. Quando o Dieese arrumou um telex eu era, operava também o telex, tal. Mas essas, a gente, mas assim, eu não sei, não sei se eu já pensei em fazer esse balanço, porque eu acho que assim, as coisas vão, muitas coisas vão acontecendo a cada dia. Já teve um momento que eu tive vontade de pegar o meu boné e ir embora. Já teve momento que eu falei: "Não, isso não é o caso”. Porque acho que todo mundo passa por certos momentos que cansa, né? Que quer uma coisa diferente. Mas, por outro lado, eu era tolhida também, aí eu era tolhida pelo meu pavor pessoal de desemprego, de um monte de coisa. Daí passa essa fase aí você volta a fazer tudo, todo o esforço possível para tocar o serviço da melhor forma possível. Eu pelo menos sou assim. Hoje eu estou, reviso os meus textos, muito. Às vezes reclamo muito de um deles, porque um deles, eles vêm às vezes com umas coisas muito complicadas, muito difíceis. Você não encontra o começo, o meio e o fim deles, mas [RISOS] tudo bem. Isso faz parte.P/1 – Faz parte do trabalho.R – Tá?P/1 – Só para finalizar, eu queria saber o que é que a senhora acha de...R – A senhora eu não sei onde...P/1 – Ah, desculpa. [RISO]R – ...a senhora você pergunta lá.P/1/2 – Ela não está presente.P/1 – Até esqueci do roteiro.R – Você vai perguntar lá para ela. Agora...P/1 – Desculpa.R – ...para mim você pode perguntar também.P/1 – [RISO] Então, eu queria saber o que você acha de estar participando desse projeto de memória?R – É, eu acho que na verdade eu sou remanescente de uma parte da história do Dieese mesmo. Isso não dá para negar. Porque eu, a assessoria só existe no Dieese, eu participei desde a criação dela. E eu sou a única que continua. Então eu tenho uma parte nessa história, com certeza. A relevância dela é que eu não sei se é tão grande assim. Isso daí é uma coisa que ainda, né, que a participação existe, quanto à importância dela é que eu não sei. Mas é legal pensar que a gente pode, de alguma forma, tocar a bola para a frente. Porque a memória é o passado mas ela também deve trazer coisas para o futuro. Eu acho que a gente aprende no passado, com o passado, para ir para a frente, para seguir adiante. Então, nesse sentido, eu acho que é legal estar participando disso. Muito legal. Eu quero ver mais tarde como é que está isso. [RISOS]P/1 – A gente também. [RISOS] Obrigada Iara, é isso.R – De nada.
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