P/1 - Vamos lá!
R - Vamos.
P/1 - Bárbara, pra começar, eu gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Data e local? Beleza. Meu nome é Bárbara Rodrigues Vioto, eu nasci no dia 25 de dezembro de 1989, em Cianorte, Paraná.
P/1 - E qual os nomes dos seus pais?
R - Meu pai se chama Paulo e minha mãe, Silvana.
P/1 - E com que eles trabalham?
R - O meu pai trabalha vendendo material hidráulico e a minha mãe faz artesanato.
P/1 - E como você os descreveria?
R - Eu acho que eu não quero responder essa (risos).
P/1 - E, Bárbara, você tem irmãos ou irmãs?
R - Tenho. Eu tenho um irmão, que é cinco anos mais novo do que eu e ele se chama Júnior.
P/1 - E como é a sua relação com ele?
R - A nossa relação é muito boa, mas devido a pandemia, a gente não se vê muito, né? Mas a gente se fala todos os dias pela internet, que é o único meio, nesse momento, que a gente consegue conversar.
P/1 - E você sabe a história dos seus avós, você chegou a conhecê-los?
R - Eu conheço os meus avós, mas eu não sei a história deles.
P/1 - E você sabe a história do seu nascimento, como foi a escolha do seu nome?
R - Sim, eu sei a história do meu nascimento, porque eu nasci no Natal, né? (risos) Então minha mãe estava fazendo acompanhamento médico e o médico falou: “Eu só espero que ela não nasça no Natal”. E, durante a gravidez, a minha mãe também... na nossa casa tinha uma piscina que estava em construção e tem o motor da piscina, que é embaixo, tinha um buraco. Eu não sei porque a minha mãe inventou, com oito meses, de passar em cima da tábua desse buraco. E caiu comigo, (risos) grávida de oito meses. E acho que por isso eu vim um pouco antes. Dez da manhã, no dia 25, eu estava nascendo (risos). E foi o que o médico tinha pedido pra não acontecer e aconteceu.
P/1 - E você lembra da sua casa de infância?
R - Lembro um pouco, era uma casa...
Continuar leituraP/1 - Vamos lá!
R - Vamos.
P/1 - Bárbara, pra começar, eu gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R - Data e local? Beleza. Meu nome é Bárbara Rodrigues Vioto, eu nasci no dia 25 de dezembro de 1989, em Cianorte, Paraná.
P/1 - E qual os nomes dos seus pais?
R - Meu pai se chama Paulo e minha mãe, Silvana.
P/1 - E com que eles trabalham?
R - O meu pai trabalha vendendo material hidráulico e a minha mãe faz artesanato.
P/1 - E como você os descreveria?
R - Eu acho que eu não quero responder essa (risos).
P/1 - E, Bárbara, você tem irmãos ou irmãs?
R - Tenho. Eu tenho um irmão, que é cinco anos mais novo do que eu e ele se chama Júnior.
P/1 - E como é a sua relação com ele?
R - A nossa relação é muito boa, mas devido a pandemia, a gente não se vê muito, né? Mas a gente se fala todos os dias pela internet, que é o único meio, nesse momento, que a gente consegue conversar.
P/1 - E você sabe a história dos seus avós, você chegou a conhecê-los?
R - Eu conheço os meus avós, mas eu não sei a história deles.
P/1 - E você sabe a história do seu nascimento, como foi a escolha do seu nome?
R - Sim, eu sei a história do meu nascimento, porque eu nasci no Natal, né? (risos) Então minha mãe estava fazendo acompanhamento médico e o médico falou: “Eu só espero que ela não nasça no Natal”. E, durante a gravidez, a minha mãe também... na nossa casa tinha uma piscina que estava em construção e tem o motor da piscina, que é embaixo, tinha um buraco. Eu não sei porque a minha mãe inventou, com oito meses, de passar em cima da tábua desse buraco. E caiu comigo, (risos) grávida de oito meses. E acho que por isso eu vim um pouco antes. Dez da manhã, no dia 25, eu estava nascendo (risos). E foi o que o médico tinha pedido pra não acontecer e aconteceu.
P/1 - E você lembra da sua casa de infância?
R - Lembro um pouco, era uma casa que tinha quintal, né? Era grande. E tinha uma piscina que era compartilhada, porque o meu pai e meu tio fizeram casas no mesmo terreno e daí construíram uma piscina pros filhos, porque meu tio tinha... tem, né, três filhos. E eu e meu irmão e daí nós éramos cinco crianças. E a casa era bem gostosa, tinha quintal, tinha várias flores. Só que a maior parte da minha infância eu também passei na casa da minha vó, que era bem próxima da casa que eu morava, era duas quadras. Tanto que, quando eu brigava com a minha mãe, eu falava que eu ia fugir de casa e ia pra casa da minha vó, que é uma casa que eu tenho muito mais apego emocional do que... eu passei mais tempo lá. E é uma casa pequena, só que o quintal é muito grande. Minha vó sempre plantou frutas, verduras e flores, ela entende muito de flor. Então na minha infância eu tinha mais contato com a natureza mesmo na casa da minha vó.
P/1 - E tinha alguma atividade que você gostava de fazer com a sua avó?
R - A gente cuidava mais do quintal, de podar flor, ela explicava as coisas. Também ajudava na cozinha, enquanto ela cozinhava, fazia alguma coisa com ela. Lavava louça ou cortava alguma coisa. Mas a maioria era no quintal, porque eu gostava muito de brincar na rua e de estar em contato com terra, grama, subir em árvore. Então o quintal dela era um parque de diversões.
P/1 - E como era a cidade onde você morava?
R - Cianorte é uma cidade bem pequena, ela tem hoje acho que setenta mil habitantes, na época deveria ter cinquenta mil. Era uma cidade bem tranquila. Então a gente conseguia brincar na rua, eu tinha muitos amigos na rua, andava muito de bicicleta. Basicamente a minha infância inteira eu passei brincando na rua mesmo, pela cidade ser tranquila, não ter também muitos carros na época e tudo mais.
P/1 - E você pensava, nessa época, o que você queria fazer quando crescesse?
R - Não, eu só... quando eu era mais nova, como eu era muito ativa, a minha mãe foi me colocando em coisas, assim. Então eu fiz pintura de guardanapo, (risos) que eu acho um barato isso (risos). Daí aprendi violão, um pouco de teclado, hoje não toco nada, o máximo que eu sei mais é violão, porque foi algo que eu fiz mais tempo. Mas quando eu estava na escola, eu sabia que eu queria fazer algo relacionado a arte, talvez, alguma coisa assim. E daí no meio do caminho eu descobri a Publicidade, daí eu disse: “Hum, pode funcionar”. E quando estava pra eu prestar vestibular, eu optei por prestar Publicidade e Propaganda, que era dentro do que eu tinha, ali, o mais próximo que eu imaginava pra trabalhar, só que com dezessete anos a gente não tem muita ideia do que... (risos) de escolher uma coisa pra vida inteira, que na realidade nem é pra vida inteira, mas fazer uma escolha ali, com dezessete anos, dentro do que eu gostava, Publicidade foi mais próximo que eu encontrei. E daí eu optei por isso, mas eu não... quando eu era menor, eu não tinha tipo um sonho de: “Ai, eu vou ser médica, vou ser advogada ou vou ser publicitária”. Nunca eu tive um objetivo, porque tem pessoas que têm, né? As pessoas, às vezes, estão na infância e já falam: “Não, eu vou ser veterinária”. Eu já quis ser veterinária, quis ser astronauta. Daí quando eu era pequenininha eu achava um barato os lixeiros andarem no caminhão de lixo. Então eu falei que eu queria ser lixeira. E daí depois passei pra: “Ai, gosto de cozinhar, vou ter um restaurante”, mas é tudo... são experiências que a gente vai vendo, vai vendo o que gosta, mas nunca tive uma escolha certa, assim. Sempre fiquei flutuando em coisas que me chamavam a atenção e que achava que me identificava mais. Aí com dezessete anos, eu achei que o mais próximo seria Publicidade. Daí fiz o vestibular, passei e fiz Publicidade e Propaganda (risos).
P/1 - Antes da faculdade, qual é a sua primeira lembrança da escola?
R - Da escola? Traumas (risos). Então, eu acho que o melhor é a gente não ter a parte da escola, porque eu sofri muito bullying na escola. Então, por ser gordinha, por não performar feminilidade. Então, eu acho que tipo, a escola, pra mim, principalmente no período que eu tô em Cianorte, que é desde que eu nasci, até o primeiro ano do segundo grau, foi horrível, sofri muito bullying. Então eu acho que não é uma parte da minha vida que eu gostaria de inserir, sabe?
P/1 - Claro, claro. E, me conta, como foi a mudança de cidade pra você?
R - Bem difícil, porque eu me mudei bem nova, assim. Cianorte fica próximo de Maringá, que é uma cidade um pouco maior, com mais estrutura, principalmente pra estudar. E lá é a faculdade que eu entrei, mas antes de entrar na faculdade, eu já fui lá fazer o terceiro grau, é isso, né? Ou segundo grau? É terceiro, né? Segundo?
P/1 - Segundo médio, né?
R - É, nossa, já tô perdida. Mas a mudança, em si, quando você sai de um lugar que você está acostumada, com amigos em volta e vai pra outra cidade, foi um choque, né? Num primeiro momento foi um choque, mas depois eu me senti mais livre pra ser quem eu sou, pra aproveitar aquele momento. E foi mais tranquilo também, depois, pros estudos, eu achei que foi uma mudança bem positiva na minha vida, porque daí eu consegui focar mais e fazer mais coisas que eu gosto e ter uma tranquilidade psicológica melhor, assim, também.
P/1 - Você foi sozinha?
R - Fui, fui. Eu morei primeiro em um pensionato pra entender como funcionava a cidade, depois eu morei em várias repúblicas, com várias pessoas, até meu irmão fazer dezoito anos e ir também pra Maringá, e daí a gente morar junto. E daí eu fiquei morando com o meu irmão até os 26, que daí eu me mudei pra São Paulo, que eu vim pra cá pra trabalhar, pra ter outra vida, assim, que lá já estava pequeno demais pra mim.
P/1 - E como foi o momento de escolha profissional, vestibular, essa época que é meio confusa, assim? Como…
R - Então, é muito difícil, né? Porque, com dezessete anos os pais ficam exigindo uma maturidade que não existe, é tipo, eu acho... se fosse agora, né? Eu acho que a maioria das pessoas escolheria com vinte, 22 anos uma faculdade, que daí ia explorar outras coisas. Mas a escolha foi por proximidade do que eu gostava, gostava de ver comercial, gostava de ver fotografia também, gostava de arte. Eu falei: “Ah, o mais próximo que a gente tem aqui é isso”, que é Publicidade. E daí eu escolhi, comecei o curso, foi ótimo, assim, que eu me identifiquei com várias matérias. Obviamente, outras a gente vai levando (risos). Mas no geral foi um curso que, dentro do que eu esperava, dentro das minhas expectativas, supriu certinho as minhas expectativas. E logo depois, na faculdade mesmo, eu já comecei a estagiar e fazer trabalhos de Publicidade, gostei muito. E fui indo na Publicidade, onde eu me identificava mais. Na época, estava começando o digital, bem no comecinho, eu era muito curiosa. E daí eu comecei a trabalhar com digital, com postagem de Facebook, Instagram e me aprimorar nisso, que eu gosto bastante de tecnologia também, apesar de hoje ter um trabalho totalmente manual, que a tecnologia vem das máquinas. Mas é só isso, não tem um processo tecnológico tão forte, mas eu gosto bastante. Então, a faculdade, em si, pra mim foi muito legal, que foi uma faculdade gostosa de fazer, porque eu me identificava com a maioria das matérias que estavam dando. Então foi um período muito bom, assim, pra mim.
P/1 - A faculdade, você fez em qual cidade?
R - Eu fiz em Maringá também. Maringá eu estudei no colégio lá, no segundo grau e fiz a faculdade lá também, que naquela época não sabia se queria... eu já tinha tido uma experiência, no meio do caminho, de ir pra Curitiba, fazer um curso de fotografia, mas não gostei de Curitiba. Voltei de novo pra Maringá, que eu me sentia mais à vontade, é a questão de criar vínculos na cidade, né? Então quando você tem amigos, você já conhece, fica muito mais fácil você estar lá. E eu achei que era a melhor cidade pra eu fazer faculdade, porque eu já tinha vínculos lá. É perto de Cianorte, é uma hora só. Então eu poderia ir todo final de semana ver meus pais ou eles poderiam ir me ver, era bem fácil o acesso. Então foi a melhor opção, naquele momento.
P/1 - E quais eram os divertimentos da época, o que você gostava de fazer na hora de lazer?
R - Nossa, na hora de lazer eu gostava muito de andar de bicicleta, mas eu gosto ainda muito. Na infância, a minha infância era bicicleta, tanto que muitas das minhas fotos de infância, eu estou na bicicleta. E daí depois eu fiquei um tempo sem andar e tive um amigo lá, o Mamá, que andava muito de bicicleta e daí ele falou assim: “Por que você não compra uma bicicleta?”, que ele anda de fixa, que é uma bicicleta sem freio e só com uma marcha. Então eu falei: “Ah, pode ser, eu vou experimentar a sua”, gostei e voltei andar de bicicleta lá. Então eu andava muito de bicicleta em Maringá. Aqui em São Paulo eu voltei recentemente também, que a gente comprou bicicleta e agora eu vou pro trabalho de bicicleta e tudo mais. Mas um dos lazeres que eu tinha era andar de bicicleta com os meus amigos e obviamente, eu era jovem, né? Então tinha festa, tinha cinema, (risos) tinha teatro. O que a cidade oferecia, eu estava indo, que eu gostava muito de “rolê” mesmo, eu gostava de sair com as pessoas, ir pro parque, ir numa festa, ir num piquenique, qualquer coisa que me convidasse, eu estava à disposição (risos).
P/1 - E a mudança pra São Paulo, você ainda estava trabalhando na área de Publicidade?
R - Sim.
P/1 - Como foi essa decisão?
R - A minha mãe teve um AVC, bem... a minha mãe... foi há seis anos já o AVC dela. Nessa época do AVC foi horrível, porque minha avó paterna morreu numa quarta-feira e minha mãe teve um AVC na sexta-feira e daí ela foi direto pra UTI e ficou em coma, foi horrível, horrível assim, ninguém sabia como tinha acontecido aquilo. E a minha avó materna ia operar de um câncer de mama. Então, foi assim, um combo de coisas horríveis acontecendo na minha vida. Daí, meio que, naquela época eu estava bem em Maringá, porque eu tinha emprego dentro do mercado de Maringá estava tudo bem pra mim porque, como eu tinha começado muito cedo, com dezoito anos, a trabalhar e eu já estava com 26, eu já tinha uma cartela de clientes. Naquela época, eu já tinha... eu trabalhava com as empresas, eu já não trabalhava mais só dentro de uma empresa. Então, dentro da profissão eu estava muito bem, estabilizada. Estava tão estabilizada, que estava até parada na questão de conhecimento. Daí aconteceu esse caos na minha vida, né? (risos) E quando minha mãe se recuperou do AVC, que ela ficou bem e saiu do hospital, eu falei: “Eu vou embora pra São Paulo”, que aí eu já estava falando com alguns amigos, já tinha conseguido um freela aqui e vir trabalhar, porque eu queria sair de Maringá, eu já tinha muito tempo lá, morando lá, mais de dez anos morando lá e meio que me deu um estalo, depois que a minha mãe passou por isso, de tipo: “Meu, eu preciso fazer mais, preciso ir um pouco mais além do que eu tô fazendo aqui. Não quero ficar parada aqui”. E vim pra São Paulo trabalhando com Publicidade, trabalhei com Publicidade aqui dois anos, até conhecer o Mateus, que é um amigo, ele falou: “Ah, eu tô abrindo uma marcenaria”, daí eu falei: “Nossa, uma marcenaria! Eu acho que eu posso te ajudar na comunicação, investir e tudo mais”. Essa época estava dando muito certo o meu trabalho aqui em São Paulo. E daí ele falou: “Não, vamos fazer isso”. Então a gente virou sócio. Num primeiro momento, era mais pra comunicar a marca, ficar mais em casa e tudo mais, mas quando eu comecei a aprender a montar os móveis, eu falei: “Caraca, gosto disso, isso é muito legal” (risos). E construir coisas é muito legal, né? Então eu comecei a ir mais e mais vezes e fui gostando, até que chegou um momento que não fazia mais sentido a gente estar junto, eu e ele, na marcenaria. Daí a gente optou por se separar e eu meio que até tentei voltar pro mercado de Publicidade, que eu estava meio perdida assim, eu falei: “Ixi, não sei se eu vou querer ficar mesmo fazendo móveis e tudo mais”. Só que a sorte é que a minha namorada, Joana, ficou: “Não, você tem que fazer móvel, você tem que fazer móvel, você tem que fazer móvel”. Daí, eu falei: “Tá, eu vou”. Eu já tinha uma cartela de clientes, tipo mínima, eu trabalhava ainda como freela de Publicidade. No começo eu não larguei, porque é muito ilusório você achar que você vai abrir alguma coisa e ela vai te dar um rendimento ótimo, pra você pagar todas as contas e está tudo bem. É impossível isso. Às vezes tem pessoas que conseguem, mas eu acho que é toda uma transição, foi uma transição de carreira mesmo, até eu conseguir e daí eu comecei a me planejar pra voltar pra marcenaria. E, no meio do caminho, eu queria fazer estrutura de ferro para os móveis. E é muito difícil lidar com homens e serviço quando você é mulher, porque você chega até pra comprar um parafuso, muitas vezes acontece comigo, não só comigo, mas com várias amigas que são marceneiras também, que a gente chega: “Ah, eu quero duzentos parafusos do tamanho tal”, então o cara: “Mas você sabe o que é duzentos parafusos? O que você vai fazer com duzentos parafusos?” (risos), aí você fala: “Meu, mas não faz nem sentido isso”, sabe? (risos) Eu não fico perguntando quando você vai comprar alguma coisa ou porque você vai comprar essa coisa. Então existe muito isso. E quando você vai, por exemplo, num serralheiro, isso não quer dizer todos, mas vamos dizer 95%, eles questionam muito o que você quer fazer, tipo: “Você tem certeza que você quer fazer isso? Você tem certeza que você quer ser instrutora? Mas você trabalha mesmo com marcenaria?” Então é sempre um questionamento. Daí dentro disso eu fiquei puta e resolvi aprender a soldar. E daí comprei a solda. E foi louco, porque no dia oito de março foi a primeira vez que eu soldei na vida. Então é muito simbólico isso, sabe? (risos) Sem me tocar, não tinha nada, não tinha marcado, eu falei: “Vou soldar” e era oito de março. Tanto que a primeira foto que eu tenho com a roupa de solda, é no dia oito. Então, caraca, depois que eu me toquei. Um ano depois, quando eu fui postar a foto, eu falei: “Caramba, é dia oito, foi quando eu comecei, que coincidência louca!”. E daí eu comecei a aprender a soldar, pelo YouTube mesmo. A marcenaria também foi basicamente aprendendo fazendo, por vídeos. O que é bem bom, que a internet te dá isso, ela te dá um apoio pra você aprender coisas gratuitamente. Foi o que aconteceu comigo, porque na época eu não tinha dinheiro pra ficar pagando curso e entre pagar curso e comprar a máquina, eu preferia comprar máquina, porque daí eu teria a máquina. Daí fui aprendendo serralheria fazendo, acertando e errando. E daí consegui me estabilizar, depois de uns dois anos. Eu tô há quatro ou cinco anos na área de marcenaria e serralheria e daí consegui uma estabilidade, que eu consegui largar a Publicidade, não precisar trabalhar com Publicidade. Daí, nesse meio tempo, consegui montar também a minha oficina, que hoje é uma... porque, durante todo esse tempo, até chegar o momento que eu tô hoje, eu dividi muito espaço, eu trabalhei em uns espaços que hoje eu penso: “Meu Deus do céu, como que eu trabalhei nesse espaço?” E hoje não, hoje eu tenho uma oficina, que eu divido com um amigo que trabalha com marcenaria também, que não dá pra se montar oficina de marcenaria... então não dá pra se montar uma oficina de marcenaria sozinha, porque é muito caro, só se você tem um apoio financeiro pra montar, desde o começo. Se você não tem, igual: o meu apoio financeiro foi muito baixo. Então é melhor você se juntar com alguém, eu e o Ricardo, que é esse meu amigo, a gente já está junto há três anos, trabalhando junto, só que separado, ele tem a marca dele e eu tenho a minha. Mas agora o espaço é nosso e é superlegal, porque a gente conseguiu, finalmente, montar uma oficina que tem todas as máquinas. Então é bem legal essa evolução, mas é isso. Eu vim pra São Paulo (risos) por causa de algo trágico, mas foi algo que transformou, assim, deu um salto, porque marcenaria não é algo que eu queria ou esperava, não era tipo: “Ah, eu quero ser marceneira”. Quando eu tinha uns dezesseis, dezessete anos, eu falava que eu queria reformar cadeiras, mas eu não sei porque vinha isso na minha cabeça, reformar e construir cadeiras. É bem doido isso, porque não tinha conexão nenhuma com tudo que eu estava fazendo na época. E agora fez algum sentido, mas eu não sei de onde veio essa ideia e eu também não fiquei buscando-a. Uma vez ou outra eu falava isso pra alguns amigos, mas parece que ficou no meu inconsciente que, de alguma forma, eu me conectei a essa ideia (risos) e produzi cadeiras. A minha primeira cadeira foi exposta na Design Weekend, aqui de São Paulo. Foi bem legal, bem doido e bem legal. E foi feita com postes antigos dos anos cinquenta, teve todo um contexto. Então foi bem simbólico, também, pra mim, porque eu disse que ia fazer cadeira e, quando eu fui convidada pra fazer um objeto, eu resolvi fazer a cadeira, que até então eu não tinha feito.
P/1 - Como foi isso? Conta mais desse momento.
R - (risos) Então, por não ter muitas mulheres serralheiras, hoje eu acredito que tenha um pouco mais, mas isso foi há dois anos. Obviamente existem mulheres serralheiras há muito tempo no mercado, só que elas estão em um lugar que não é de mobiliário, é um lugar de chão de fábrica, o que eu acho mais doido ainda, porque soldar aqueles canos enormes, aquelas coisas gigantescas, nossa, tem que ser muito mulher mesmo, porque é muito foda. E como eu comecei a comunicar que eu estava trabalhando com serralheira e tudo mais, um dos professores do IED entrou em contato comigo e falou: “Eu nunca vi uma mulher serralheira, eu quero fazer algum projeto com você. Vamos fazer algum projeto, vai ter a Design Weekend. Então eu vou te contratar pra você fazer os projetos dos alunos”. Daí eu falei: “Não, ótimo, maravilha”. Eu fiz cinco projetos, cinco projetos executados. “Na Design Weekend, pra mim vai ser incrível”. E daí ele falou, duas semanas depois que eu já estava produzindo, ele falou: “Por que você não produz um, também, seu, assinado?”, daí eu falei: “Com certeza, (risos) que eu posso produzir”. E daí no meio disso tudo eu fui fazendo, eu fiz uma cadeira e ficou exposta na Design Weekend. Eu acho que eles vão montar o e-commerce, ela vai ser comercializada, enfim. Mas foi basicamente isso, ele estava curioso pra saber sobre o meu trabalho e as pessoas chegam pra saber do meu trabalho também, porque é muito difícil uma mulher estar soldando no mercado. Marcenaria já é difícil, tipo, a cada dez marceneiros, uma mulher é marceneira.
P/1 - Então, você não tinha tido experiência com serralheria, nem com marcenaria, antes de começar, antes de conhecer esse seu amigo, o Mamá, é isso?
R - Não, nem tinha pensado nisso, não é tipo um sonho. Tipo: é bem pé no chão mesmo, as coisas foram acontecendo, meio que me escolheu, sabe? Não foi (risos) “Ai, eu tenho um sonho de fazer móveis!”. Nem passou na minha cabeça. Foram muitas coincidências, coincidências de ter cruzado com o Mateus e ele era arquiteto... ele é arquiteto ainda, né? Mas ele desenhava, já, móveis. Então estruturalmente ele já tinha um conhecimento de móveis muito grande. E aí ele quis produzir os móveis que ele desenhava e daí, no meio disso tudo, eu falei: “Ah, acho que eu consigo também”. Nessa época, tinha poucas mulheres na marcenaria, eu acho que só as _____ (32:13) e a Júlia Krantz, que eu tinha como referência. São mulheres que já estão há um tempo no mercado, sabe? Depois foram aparecendo outras, o que é incrível. Hoje eu conheço mais marceneiras e tudo mais, mas é um nicho, é um clubinho muito pequeno, a gente queria mais, né? Mas está aumentando. Então espero que em breve aumente mais, igual a serralheria, agora já tem mais mulheres fazendo móveis em serralheria. Então espero que aumente mais também, que a gente consiga se igualar, pelo menos, com os homens, né? Mas vai chão, ainda.
P/1 - E você lembra qual foi o seu primeiro cliente, qual foi a sua primeira entrega?
R - Sim, eu lembro, porque isso me marcou muito. Foi caixa pra abelha. Foi um cara que pegava, ia em lugares onde ele sabia que tinha abelha-rainha de determinada espécie e ele ia lá, deixava a caixa e voltava depois de duas semanas pra pegar a caixa, porque às vezes a abelha-rainha ia pra caixa. Ele fazia isso. Então a gente fez caixas de abelha. Foi algo que me marcou muito, (risos) porque é bem diferente isso. Foi a primeira entrega (risos).
P/1 - E, Bárbara, como funciona o seu processo de construção? Ou de uma peça, um móvel, como você desenvolve?
R - Então, normalmente os móveis que eu faço hoje e que são o que o sustenta a oficina, são sob medida. Então, normalmente, as pessoas que chegam até mim já têm o projeto. Quando não tem, eu desenho, vejo a necessidade e tudo mais. Eu fiquei três anos fazendo só sob medida e depois virou uma chavinha, que eu falei: “Ah, vou produzir algumas coisas com a minha assinatura”. E daí o meu processo basicamente adentrou da minha cabeça. Eu construo todo o móvel dentro da minha cabeça, fico quase um mês assim: “Ah, eu vou colocar isso, eu vou colocar aquilo, vou colocar isso”, mas eu não passo pra papel, não passo pra nada. Fico pensando, vai indo, vai indo, vai indo, até ganhar forma na minha cabeça. Ganhou forma na minha cabeça, aí eu abro o computador e desenho pra ver se funciona ou às vezes eu já vou direto fazer. Eu só faço cálculo de tamanho e de peça, como vai ser no papel, mas o meu processo é basicamente dentro da minha cabeça. É meio diferente, porque as pessoas, normalmente, ficam rabiscando um monte de coisa, mas pra mim funciona. Então eu faço um móvel dentro da minha cabeça e depois eu o produzo, na oficina. Às vezes dá muito certo e às vezes dá muito errado (risos). E daí você tem que pensar em outras coisas pra dar certo.
P/1 - E como é a experiência de transformar, com as próprias mãos, tipo, uma madeira você transforma em um objeto que você utiliza, como é isso, pra você?
R - Ah, então, é muito doido, porque você pega (risos)... pra mim, é muito doido. Hoje eu tenho privilégio de ter móveis meus em casa, mas eu passei três anos sem ter móveis, porque tipo: “Casa de ferreiro, é espeto de pau”. É bem difícil, mas nos últimos dois anos eu produzi. Na pandemia, principalmente, a gente viu a necessidade de ter coisas em casa e produzir mais. Então, é muito louco, porque você pega a madeira, aí você vai transformando-a e o ferro também vai criando formas. E depois se torna algo pra se utilizar no dia a dia. Então, agora que eu tô tendo a experiência de ter um móvel meu em casa, é muito incrível isso de você ver que dá pra usar uma coisa que você fez, (risos) que não deu errado, que é algo que rolou. E você usa no dia a dia e vai usar a longo prazo, porque a maioria dos móveis que eu faço são de madeira maciça e ferro. Então a durabilidade deles é pra ser muito durável, para os netos e bisnetos de quem compra, assim.
P/1 - E como funciona essa cadeia de produção, escolher fornecedor, quais são os cuidados que você toma?
R - Então, quando eu entrei, eu optei por não ter fornecedores grandes. Então, se você tem um poder de escolha, eu acredito que você tem que usá-lo muito bem. Eu não queria estar numa empresa que eu sei que desmata muito, por exemplo, e não tem um selo de reflorestamento, não tem um selo que fala que a mão de obra não é uma mão de obra abusiva. E grandes empresas fazem isso, né, a maioria. Pode não estar mostrando, pode descobrir depois, mas elas fazem, pra ter valor competitivo no mercado e tudo mais. Então eu resolvi escolher negócios que priorizem mulheres estarem administrando o negócio e que seja de família. Então toda a minha cadeia de produção, por mais que... a pessoa paga mais mesmo pelos móveis e você, tipo... diversas vezes já aconteceu isso, mas as pessoas falam: “Ai, é muito mais caro do que o fulano X” e daí eu: “É muito mais caro mesmo, porque eu tenho outro processo. Eu não tô fazendo coisas rápidas, tanto que o meu processo de produção leva em torno de trinta a noventa dias. Então, não é algo que eu vou lá e vou fazer super-rápido e entregar qualquer coisa, pra alguém”. E daí, dentro desse processo também, as empresas são pequenas. Então a entrega demora um pouco mais e está tudo bem também. Mas a minha prioridade é sempre fortalecer o negócio local, porque as grandes empresas estão chegando cada vez mais, pra derrubar esses negócios locais, né? Então, eu acho que, pra mim, o meu dever como cidadã é apoiar um negócio local, porque eu quero que as pessoas também me apoiem e não apoiem uma grande empresa que faz mobiliário e que está explorando várias pessoas, porque pro valor do móvel ser aquele valor que está no site, com certeza existe uma grande exploração. E é basicamente isso, as escolhas.
P/1 - E onde você encontra os materiais? Você tem uma preocupação em reutilizar, com as sobras, isso é... você pensa sobre isso?
R - Sim, os materiais eu... eu tenho muito material que... tanto que eu já fiz uma mesa de peroba rosa e a peroba só encontra de demolição. É muito difícil você encontrar árvore porque, em determinados momentos, desmataram demais e não tinha mais, então... ou batente de porta. Quando as pessoas reformam apartamentos aqui em São Paulo, eu vou falar, porque é de onde eu tenho experiência, elas tiram os batentes, que são de peroba. E são batentes muito fortes e ótimos, e descartam. E, normalmente, quando eu tô passando em alguma caçamba e vejo esses batentes, eu levo pra oficina e reaproveito, tanto que eu já fiz banco, já fiz estrutura de mesa, agora eu tô fazendo uma cama e é tudo com batente de porta que foi deixado pra trás e a gente reutiliza. E daí tem fornecedores também que só vendem madeira de demolição, que eles chamam, são madeiras que eram taco de chão, que era porta, que era um móvel e que as pessoas descartam, as pessoas vão lá vender madeira maciça e revendem. E todas as madeiras que eu utilizo têm certificação de replantio, tem certificação de que foi extraída corretamente. Se é real, tem um órgão (risos) que cuida disso, mas eu não sei te falar até que ponto isso é real, até que ponto (risos). Mas eu tento acreditar, porque é um processo sério, pra ter esse selo. Então eu tento acreditar que está tudo dentro dos parâmetros necessários.
P/1 - E como você se sente na oficina, em construção, como é esse momento pra você?
R - Então, igual eu te disse, é muito legal eu construir coisas, né? É bem doido você pegar o material e transformar em algo, só que também não dá pra gente romantizar a profissão, porque muita gente romantiza e fala: “Meu Deus, você faz móveis, deve ser muito terapêutico”. E a parte terapêutica é quando você tem como um hobby. E quando é um trabalho, é um trabalho, independente, assim (risos). Tem gente que cobra prazo, tem gente que não entende quando atrasa. Tem coisas pra cumprir, tem cliente pra atender, então... mas o processo de construção é maravilhoso por você ver um ferro que não era nada, era um ferro, só uma barra de ferro, se transformar num pé de mesa, se transformar numa estante. Quando ele fica pronto, você fala: “Meu Deus, eu fiz isso, que legal, né?” E que incrível ter isso em alguma casa, em algum lugar, é maravilhoso pensar que tipo daqui a sessenta anos vão ter móveis aí que eu fiz na casa das pessoas, sabe? (risos) Ou daqui muito tempo e vão estar lá. E é muito louco isso, porque vai passar por várias vidas, porque a pessoa pode, depois, não querer, repassar, enfim. Um móvel tem a vida própria de existência, é bem legal, principalmente entregas. Eu acho que a entrega é a mais importante, é você ver que está pronto, que fechou o ciclo e que agora começa outro ciclo com um móvel que é da vida da pessoa e depois o que ela vai fazer com isso, né?
P/1 - E como foi a escolha do nome da oficina?
R - Então, Piná... a gente tem uma ferramenta que chama pinadeira, que você usa pra junção de móveis, mas não é uma ferramenta estrutural, ela junta fundos, é pra te ajudar. E daí do pinar veio Piná, que eu achei que era um nome fácil pra se decorar e pequeno. Quem me ajudou também a escolher foi a minha namorada, que ela é redatora, então ela sabe de nome, e ela que deu a ideia, inclusive (risos). E a gente tinha três nomes, o que mais se encaixava na lembrança, em ser fácil de falar e tudo mais, foi Piná. E é um processo dentro da marcenaria. Então acho que faz total sentido esse nome.
P/1 - E quais foram os maiores desafios, ou ainda são, que você enfrenta, nessa sua trajetória?
R - Ah, o maior desafio é se manter no mercado, porque existem muitas empresas grandes, que daí você compete com diversas empresas que estão vendendo na internet, além de ter outras pessoas que produzem também. Então acho que o processo mais difícil, pra mim, na minha situação, é conseguir que o cliente pague um valor que eu ache que vale o meu trabalho, porque é um trabalho totalmente manual. Eu não tenho grandes máquinas pra executar um trabalho em três dias, quatro dias, é um trabalho que demanda tempo e leva tempo, né? Então eu acho que, hoje, o mais difícil pra mim é equilibrar as contas quanto vendas de mobiliário, porque muitas vezes as pessoas, por mais que você explique todo o processo, a pessoa ainda sim acha que não vale esse valor. Historicamente, no Brasil, a gente sabe que serviço e pessoas que fazem coisas com as próprias mãos são muito desvalorizadas. Então tem esse grande problema pra mim, que hoje eu fico batendo cabeça, mas, ao mesmo tempo, vem pessoas que querem comprar e sabem todo o processo e por isso que querem comprar, né? Então isso é bem legal também, (risos) que me ajuda a continuar no mercado (risos).
P/1 - Bárbara, quais são os seus maiores aprendizados, ao longo desses anos?
R - Os meus maiores aprendizados são ter paciência (risos), é muito importante isso (risos), principalmente fazendo móveis. Tipo, você tem que aprender a errar mesmo e está tudo bem, sabe? Isso eu acho que dentro da marcenaria e da serralheria, é um grande aprendizado, é uma grande escola, porque você aprende a errar e não tem como, você sempre vai errar lá. Em todos os projetos. Não tem nenhum projeto que eu faça, que eu não erre alguma coisa. E daí você tem que aprender também a ir lá e consertar as coisas (risos). E eu aprendi a me comunicar também, melhor, com as pessoas, porque eu faço atendimento ao cliente. Então você tem que aprender a conversar, a perguntar também sobre os gostos das pessoas, a saber passar um sonho pro papel, né? Então isso foi algo que eu aprendi também. E eu acho que é fazer as coisas com calma também, porque a gente está num mundo... meu, a internet faz a gente correr contra o tempo, o tempo inteiro. Estão exigindo da gente produtividade o tempo inteiro e ser rápido. Então eu desacelerei nesse processo, que eu trabalhava com mídias sociais, que é isso, que é tudo rápido, tem que ser pra ontem. E eu entrei num processo que eu não consigo entregar pra ontem, porque existe o tempo e nem se eu trabalhasse 24 horas num dia, eu conseguiria fazer com que esse tempo rendesse da forma que pedem. Então eu acho que é basicamente isso.
P/1 - E junto com esse momento de ressignificar o trabalho, imagino que tenha transformado muitas coisas pessoais também, desde valores…
R - Sim, não, me transformei muito, porque primeiro eu aprendi a dar valor ao manual, ao processo manual. Eu já valorizava, mas depois que eu comecei a fazer, eu comecei a valorizar muito mais, tanto que eu vejo artistas, artesãs, até mulheres que prestam serviço e instalação, eu já bato palma, porque é um trabalho que é invisível e, ao mesmo tempo, tem que ser muito valorizado, porque é muito difícil de fazer. E... você me perguntou o que eu aprendi? (risos) Aquelas, né? Pá! Não deu certo, deu um tilt aqui. Mas eu aprendi a ter paciência, a me estressar um pouco menos, assim, sabe? Porque ser autônoma é muito difícil (risos). Então você tem que aprender a lidar com todas as questões que aparecem e respirar fundo e um dia de cada vez, porque é um processo. E eu acho que vai ser sempre um processo. Todo dia a gente aprende um pouquinho mais de cada coisa e vai evoluindo, como um ser humano mesmo e é isso.
P/1 - E, antes, eu tinha perguntado se você tem alguma ajuda ou você faz tudo sozinha?
R - Eu faço tudo sozinha. Eu já tive sociedades que foram um fracasso e está tudo bem, eu acho que é isso, você vai aprendendo no meio do caminho, né? Já tive sociedades de produção e não deu certo. Daí, obviamente, gostaria de ter ajuda, mas o momento que a gente está, que é pandemia, não dá. E também, é bem importante falar isso, mas quando você é autônoma, quando você produz coisas - eu, por exemplo - existem várias pessoas que chegam em mim e falam: “Eu trabalho pra você de graça, pra aprender”. Daí eu falo: “Não, eu gostaria de pagar um valor justo de mercado, pra ter alguém me ajudando”. E às vezes não dá. Por exemplo, agora não dá pra mim, porque eu optei... como no ano passado começou a pandemia, estava todo mundo despreparado, todo mundo ficou super instável assim, de como seria, eu fechei muitos projetos ano passado. Tantos projetos, que eu fiquei trabalhando até fevereiro desse ano, nesses projetos. Então foi quase um ano inteiro de muito estresse, de muito cansaço e muito medo, porque deu a pandemia, em um mês eu já estava voltando trabalhar. Então estava ainda naquele processo que estava tudo fechado e você saía de casa e não sabia o que poderia acontecer. Daí esse ano eu optei por pegar menos projeto. Então menos projeto é menos entrada de dinheiro e, consequentemente, eu não consigo pagar uma mão de obra que me ajude. Então eu tercerizo coisas, do tipo instalação. Daí tercerizo pra ele me ajudar a instalar. E entrega. Essas são as duas coisas que eu sempre preciso de ajuda, se é algo grande, que às vezes eu pego.. eu entreguei um escritório inteiro de um quarto. Então eu precisei de ajuda pra instalar todos os mobiliários que tinham. Então... e também entrega. E daí essas são as duas áreas que eu tercerizo mais, pra me ajudar. Mas de resto eu produzo tudo sozinha. Vou escolher o material, vou cortar, (risos) faço atendimento, faço a contabilidade (risos). Eu sou uma “eupresa”.
P/1 - E, Bárbara, pra você, qual foi... não sei se você consegue elencar, o momento mais marcante nessa sua trajetória como mulher empreendedora?
R - Bem, os momentos marcantes, assim, foi quando eu vi que eu conseguia soldar, que é mágico isso e muito doido. Solda é algo muito forte, solda queima a pele mesmo, tanto que eu passo protetor solar, uso todos os EPIs necessários. Então, isso me marcou, porque é algo muito legal de se fazer. E também coisas que me marcaram, que é tipo como reconhecimento mesmo, foi sair na Casa Jardim, eu saí na Trip. Eu fui convidada pra fazer um programa no Futura... não fazer um programa, né? Fui convidada pra um programa da Futura, num quadro. Então, isso são... até mesmo a Design Weekend, que é uma coisa que às vezes a pessoa está dez anos no mercado e vai expor pela primeira vez. Eu, com dois anos, eu consegui estar lá produzindo pra designers e também expondo como designer. Então eu acho que essas pequenas vitórias me marcam muito, porque mostram o reconhecimento do trabalho, que está dando certo.
P/1 - E o que representa, o que significa pra você trabalhar em uma área que, culturalmente, é considerada masculina, né?
R - Sim. Pra mim, é algo difícil, muitas vezes, não dá pra falar que é fácil, porque vem questionamentos de todos os lados, tipo: “Você consegue mesmo fazer? Mas você faz, mesmo? Mas você solda, mesmo? Mas você constrói mesmo aquele móvel?” Mas, ao mesmo tempo, eu vejo hoje, por depoimentos de pessoas que já entraram em contato comigo, que eu posso ser um exemplo pra mostrar pras mulheres, que elas podem estar nesse ambiente. Então, sendo esse exemplo, podem vir mais. Então isso é muito legal, porque hoje eu vejo muito mais mulheres interessadas e sempre que eu encontro alguma, eu falo: “Não, você pode soldar. Você pode furar uma parede. Você pode construir um móvel”. Acho que todo mundo consegue, sabe? Então, acho que essa quebra de estereótipo, de ser só masculino, é o que ajuda a trazer mais mulheres pra essa área, porque precisa. Eu espero que daqui a vinte anos isso esteja muito, muito melhor. A gente está dando um passinho de cada vez, cada ano, mas eu espero que venha mais mulheres pra trabalhar nessa área.
P/1 - E como é seu dia a dia, hoje em dia?
R - Meu dia a dia é: levanto cedo (risos) e vou pra oficina, fico o dia inteiro lá e volto pra casa (risos). Não é nada muito emocionante, porque a gente está no meio da pandemia ainda. Então, o meu foco esse ano está basicamente no trabalho e voltar pra casa. Não tem muitas saídas, porque não dá, nesse momento. Mas é isso: eu acordo, vou pra oficina, produzo o que eu consigo no dia, em oito horas de trabalho e volto pra casa, nada muito emocionante (risos).
P/1 - E como essa pandemia afetou você, desde o aspecto profissional mesmo e também pessoal?
R - Então, a pandemia, no aspecto profissional, eu nem posso dizer que ela foi afetada porque no primeiro momento, eu falei: “Meu Deus, o que eu vou fazer?”, porque eu sou autônoma, então eu dependo de projetos mensais. Só que pelas pessoas terem que ficar em casa, foi um benefício pra minha profissão, que daí as pessoas veem: “Ai, está faltando um rack aqui, está faltando uma mesa aqui, eu preciso de um banco”. Então nesse aspecto de continuar no mercado, continuar com a empresa, foi bem positivo, porque não afetou o meu trabalho. Em contrapartida, o meu psicológico ficou super afetado e eu acho que não só comigo, mas a maioria das pessoas até agora estão com o psicológico afetado. E é muito difícil ter que lidar com alguns clientes, por exemplo, arquitetos. Quando estava no começo da pandemia, me ameaçaram se eu não entregasse projetos, foi algo bem difícil. Então, nesse aspecto, psicologicamente não foi fácil, porque eu saía todos os dias e a gente não tinha tanta informação sobre o coronavírus. Então eu estava me expondo, obviamente não estava me expondo em transporte público, nem nada, porque eu tenho o privilégio de ir pra oficina a pé ou de bicicleta, que é muito perto de onde eu moro. Então não ficava me expondo tanto, mas estava saindo de casa. Foi bem difícil, mas agora vacinada e tudo mais, está num processo bem melhor. Até agora eu ainda tenho uns baques assim, de coisas, tanto que esse ano eu criei outra forma de trabalhar, que foi por conta do ano passado. Foi tão pesado o medo de não pagar conta, com medo de não ter cliente. E daí peguei todos os clientes que eu podia ter na frente. E daí esse ano eu dei três passos pra trás e falei: “Não, vou ganhar menos, mas eu vou ter o meu psicológico de volta”. Então desde março até agora, eu trabalho o meu psicológico pra estar um pouco mais no lugar, assim, um pouco mais tranquila. E faço menos projeto, que me dá uma vida mais saudável, porque eu tenho tempo pra fazer outras coisas, porque ano passado eu não tinha, por exemplo.
P/1 - Você falou da Joana, você quer contar como que se conheceram?
R - Eu e a Joana, a gente se conheceu pelo Tinder (risos). Demos match e combinamos de nos encontrar num barzinho. E daí a gente descobriu que a gente fazia aniversário no mesmo dia (risos). Eu, Joana e Jesus, eu falo (risos). Daí a gente começou a ficar, eu queria namorar com ela, ela não queria namorar comigo. E daí foi um processo (risos), até que ela decidiu que ela também queria namorar comigo. E a gente já está junta há quatro anos. A Joana foi um apoio muito grande pra mim, em todo esse processo, de sair da marcenaria, voltar pra marcenaria. E até hoje, porque sendo autônoma às vezes o dinheiro não entra com o tempo do boleto. Então ela me ajuda nessas questões, mas ela é uma grande apoiadora do meu trabalho. Eu acho que, sem ela, nos momentos que eu estava passando, talvez eu nem estaria trabalhando com marcenaria, se não fosse ela me apoiar, falar: “Não, vai, você é boa nisso”. E até hoje, porque às vezes dá essa crise, de tipo: “Meu Deus, acho que não tô fazendo as coisas direito”. Então a Joana é um porto seguro, assim, ela me dá estabilidade pra continuar a fazer as coisas.
P/1 - E, Bárbara, o que a Piná representa, na sua história?
R - A Piná representa um laboratório muito doido da vida (risos), porque os meus pais sempre exigiram... não exigiram, mas acho que a projeção da época e até agora, é faculdade, é estabilidade, é um trabalho CLT. Então sempre foi o sonho deles e eu sempre gostei de explorar coisas. Então nunca cumpria essa expectativa deles. Então, a Piná, pra mim, é um grande laboratório, tanto de descobertas do que meu corpo pode fazer, porque a gente usa muito o corpo, quanto descobertas de criatividade também e de entender sentimentos, entrar em contato com outras coisas, assim. Ganhar mais paciência, resiliência, ter mais habilidades manuais também, que eu acho que a gente perde no meio do caminho, da tecnologia. Então, a Piná, pra mim, representa um laboratório maravilhoso, assim, que entrou na minha vida e que continua sendo, porque todo dia é um aprendizado diferente. Não tem um dia que eu não aprenda alguma coisa, porque são sempre desafios pra juntar peças e montar móveis, que outras pessoas pensam, que outras pessoas querem. Então é muito louco você trabalhar com o sonho de outra pessoa, né? Você materializa o que ela tinha na cabeça. Então, isso é incrível, assim, não consigo nem descrever.
P/1 - E o que representa, pra você, ser mulher e estar dentro da marcenaria e da serralheria?
R - Ah, ser mulher e estar dentro da marcenaria e da serralheria, pra mim é uma felicidade e um grande desafio diário. Mas eu acho que é o que eu disse: eu tô aí pra ser um exemplo pra outras mulheres que nem eu, pra mostrar que rola, rola sim. E a gente pode qualquer coisa, porque não precisa ter músculo, não precisa ter força, é algo ilusório, é tudo técnica. Então, eu acho que ser mulher na marcenaria e na serralheria, é eu estar sendo um exemplo pra que outras venham e venham, mesmo. E façam também, porque é muito importante a gente ocupar esses lugares, né? E mostrar que a gente é bem melhor que os homens.
P/1 - E quais são os seus maiores sonhos, hoje em dia?
R - Os meus maiores sonhos hoje são ter estabilidade financeira, (risos) que eu acho que traz várias outras coisas, né, emocionalmente falando. Mas eu quero viajar mais, eu acho que eu tenho o sonho de estar em outros lugares, conhecer outras formas de... não só de produzir móveis, mas conhecer outros tipos de produção, até mesmo crochê, até mesmo... não sei, fazer um sofá, ter novas descobertas. Eu acho que a marcenaria e a serralheria trouxeram isso pra mim, que é importante você conhecer outras coisas, bem distante do que você trabalha ou do que você convive porque, querendo ou não, vai ser um aprendizado. Então eu acho que um dos meus grandes sonhos é continuar aprendendo outras coisas, até que eu consiga construir toda minha própria casa sozinha (risos). Tô brincando, mas pode ser que aconteça (risos).
P/1 - Ah, Bárbara, você gostaria de acrescentar mais alguma coisa ou contar alguma coisa que eu não tenha instigado ou deixar alguma mensagem?
R - Nossa! Não, acho que não tenho nenhuma coisa, assim, que agora eu me recorde, acho que não. Eu achei que eu falei tudo. A mensagem é: “Mulheres, venham para serralheria e marcenaria e contem comigo” (risos).
P/1 - E, pra finalizar, queria saber como foi esse encontro pra você, ter participado... a entrevista, não, contar um pouco.
R - De como foi? Eu achei muito louco ser escolhida, sabe? Tipo, quando você mandou por e-mail, eu falei: “Caralho, meu! Já pensou? Eu vou estar no Museu!” Isso é muito doido. Nem na minha maior loucura, assim, de brisa, eu iria imaginar isso (risos). Então é uma experiência nova, né e única. É algo incrível, que eu nunca imaginei que eu iria estar e tô aqui. E me sinto muito grata por estar aqui. E que bom que eu fui selecionada, uma experiência, mais uma pra o caderninho de experiências da vida. Eu fiquei bem feliz de poder contar a minha história aqui.
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