IDENTIFICAÇÃO Meu nome é Américo Brazílio Silvado Vieira. Minha data de nascimento é 23 de outubro de 1937. Faço anos na data do Pelé, mas dizem que ele é um pouco mais moço, eu não acredito porque acho que ele era “gato”. (risos) Remoçaram-no para que pegasse logo a categoria mais profissional, a categoria júnior. Meu local de nascimento é Recife, Pernambuco. Meus pais estavam morando lá, embora sejam daqui, eu nasci lá. Nós voltamos durante a campanha submarina. O navio que me trouxe – eu tinha cinco anos em 1942 – foi torpedeado na viagem de volta. Se eu não me engano foi o Baependi, não tenho certeza, ele foi torpedeado na viagem do Rio de Janeiro para Recife. Meu pai contava que o navio ficava todo iluminado à noite. O Brasil era uma nação neutra e ele ficava sempre com receio que o navio fosse torpedeado porque já tinha começado a campanha. De fato o navio foi torpedeado, mas felizmente para nós, (risos) na viagem de volta para Recife. Depois o navio iria até os Estados Unidos. FORMAÇÃO PPROFISSIONAL Sou Engenheiro Civil, especializado em estrutura. Na Petrobras, fiz o curso de refinação e sai como técnico de Refino, que passou a ser engenheiro de Refinação e, depois, engenheiro de Processamento. Formei-me pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, que passou a ser a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Ela ficava no Largo de São Francisco; era sucessora da antiga Escola Politécnica, onde meu tio Jorge tinha estudado. INGRESSO NA PETROBRAS Nesse meio tempo, eu trabalhei dez meses na Light e sempre tive o sonho de trabalhar na Petrobras. Para o meu azar ou sorte, a Ligth programou um serviço para domingo em que ia haver o concurso pra Petrobras. Eu faltei ao serviço da Light, fiz a prova da Petrobras, consegui passar e fui fazer o curso na Praia Vermelha. Era uma situação meio complicada porque eu morava na Tijuca com as minhas tias e ia...
Continuar leituraIDENTIFICAÇÃO Meu nome é Américo Brazílio Silvado Vieira. Minha data de nascimento é 23 de outubro de 1937. Faço anos na data do Pelé, mas dizem que ele é um pouco mais moço, eu não acredito porque acho que ele era “gato”. (risos) Remoçaram-no para que pegasse logo a categoria mais profissional, a categoria júnior. Meu local de nascimento é Recife, Pernambuco. Meus pais estavam morando lá, embora sejam daqui, eu nasci lá. Nós voltamos durante a campanha submarina. O navio que me trouxe – eu tinha cinco anos em 1942 – foi torpedeado na viagem de volta. Se eu não me engano foi o Baependi, não tenho certeza, ele foi torpedeado na viagem do Rio de Janeiro para Recife. Meu pai contava que o navio ficava todo iluminado à noite. O Brasil era uma nação neutra e ele ficava sempre com receio que o navio fosse torpedeado porque já tinha começado a campanha. De fato o navio foi torpedeado, mas felizmente para nós, (risos) na viagem de volta para Recife. Depois o navio iria até os Estados Unidos. FORMAÇÃO PPROFISSIONAL Sou Engenheiro Civil, especializado em estrutura. Na Petrobras, fiz o curso de refinação e sai como técnico de Refino, que passou a ser engenheiro de Refinação e, depois, engenheiro de Processamento. Formei-me pela Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, que passou a ser a UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Ela ficava no Largo de São Francisco; era sucessora da antiga Escola Politécnica, onde meu tio Jorge tinha estudado. INGRESSO NA PETROBRAS Nesse meio tempo, eu trabalhei dez meses na Light e sempre tive o sonho de trabalhar na Petrobras. Para o meu azar ou sorte, a Ligth programou um serviço para domingo em que ia haver o concurso pra Petrobras. Eu faltei ao serviço da Light, fiz a prova da Petrobras, consegui passar e fui fazer o curso na Praia Vermelha. Era uma situação meio complicada porque eu morava na Tijuca com as minhas tias e ia estudar atrás da Universidade do Brasil, na Praia Vermelha, no curso do Petrobras. A Petrobras tinha dependências do Cenap [Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisas de Petróleo] ali atrás. Entrei em Refino e quando me formei fui trabalhar na Refinaria Duque de Caxias. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS O Cenap hoje é o Cenpes [Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Americo Miguez de Mello]. Na época era um grupo ainda muito pequeno de profissionais da Petrobras que ao mesmo tempo em que fazia pesquisa, ministrava o curso. Vocês vejam como era meio complicado. O professor chefe do curso era o Mister Ford Campbell Williams, um canadense. É muito engraçado porque, em 1963, o Brasil estava em efervescência. Ele era muito exigente, e um grupo fez um manifesto para a direção da Petrobras dizendo que ele era um agente da CIA [Central Intelligence Agency] contratado para (risos) desmoralizar os profissionais brasileiros. O Mister Williams ficou danado. Veio me dizer o seguinte: “Fiquei muito satisfeito porque a administração da Petrobras me deu acesso aos nomes e o seu nome não estava lá”. Eu disse: “Não assinei a lista porque sei que o senhor é inocente. O senhor não é agente da CIA nem nada”. Ele disse: “Possivelmente sou até procurado pela CIA (risos) porque leciono para a Petrobras”. Foi muito engraçado esse lance. Para vocês terem uma idéia da radicalização, o patrono da nossa turma foi o João Goulart. O paraninfo acabou sendo o professor Roberto Gomes da Costa; que ganhou por pouco de um membro do Governo também. O Roberto Gomes da Costa me disse o seguinte: “Puxa, fiquei até desanimado porque sou o candidato da direita”. (risos) Foi um tempo muito interessante. O orador da nossa turma, o Newton Araújo, foi cassado depois da Revolução, porque o Flávio dos Reis Benquerer gravou a fita dele e entregou pro SNI [Serviço Nacional de Informações] depois de 1964 e ele foi cassado, embora fosse filho de general. Foi engraçado porque ele tinha feito um discurso até ameno, mas o pessoal reclamou dizendo: “Você não falou em encampar as refinarias particulares, em reforma agrária e socialismo. Então seu discurso não serve”. Ele, então, (risos) enxertou isso no discurso e se deu mal, coitado. Mas ele foi anistiado e foi trabalhar um tempo conosco no Decom [Departamento Comercial], depois ele foi para o Serplan [Serviço de Planejamento]. Ele já morreu. Era uma figura muito engraçada, tanto que o seu apelido era “Newton Palavrão”, porque ele não falava três palavras sem dizer um “pô” no meio (risos). HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Eu ia falar do meu casamento, pois me casei em primeiro de abril de 1963. Eu vivia numa “roda viva” de ônibus e o curso era muito apertado porque minha namorada trabalhava na Light e morava em Jacarepaguá. Eu morava na Tijuca e estudava na Praia Vermelha. De manhã, eu ia de ônibus para a Praia Vermelha, depois vinha para o Centro da cidade, pegávamos o trem pra Cascadura e de lá (risos) eu a levava a Jacarepaguá. De Jacarepaguá, eu voltava para a Tijuca de ônibus. Eu não tinha tempo para estudar e quem não passasse no curso, que naquele tempo era muito apertado, seria demitido. A maneira de conjuminar as coisas foi casar e ficar morando na Tijuca com ela. Dei sorte porque um dos professores do curso vagou um apartamento no prédio das minhas tias. Então, eu fui morar lá, onde ficamos até 1966. Depois fomos para Jacarepaguá, ficar perto dos pais dela, porque também, era bem mais perto da Refinaria. Depois de pegar o ônibus uns tempos às seis horas da manhã – por isso que eu disse que acordar às seis horas da manhã “é sopa”; eu acordava às cinco (risos). Por sorte, a Petrobras passou a dar um carro para quem tinha posto de chefia, uma viatura que pegava a mim e a outras pessoas e nos levava para a Refinaria. Em 1970, o Armando Guedes Coelho, que veio a ser presidente da Petrobras, me convidou para trabalhar com ele no Decom, foi aí que eu fui para o Decom, trabalhar no Secomb [Setor de Combustíveis]. Ponderei com ele que a Refinaria tinha a vantagem do carro, mas ele me ofertou um carro também. Ele disse que o Disguá [Distrito da Guanabara], que viria a ser da distribuidora [BR], mas na época era do Decom. Havia uma viatura que me pegava, depois passava na sede do Disguá para pegar o pessoal dele e levá-los em casa, me deixando em Jacarepaguá no caminho. Eles moravam ainda mais longe. Também entrou nessa viatura o Pinheiro, uma figura muito estranha, que era assistente do superintendente Carlos Sant’Anna, que depois veio a ser presidente da Petrobras. Esse Pinheiro estava montando a futura BR, Petrobras Distribuidora. E (risos) no trabalho dele, ele instituiu essa inovação, que hoje foi generalizada, de acabar com o quadro de motoristas e passar a contratar o transporte. Com isso, os motoristas da futura BR, iam ser demitidos. E ele me pediu sigilo. Mas eu era muito amigo do Menezes, o motorista que nos levava. Então, um dia, depois que nós deixamos o Pinheiro no Grajaú (risos), eu disse: “Menezes, não posso te dizer o porquê, [mas] se eu fosse você, você não é amigo do chefe da garagem?” “Sou”. “Pedia para voltar para a Petrobras porque é mais saudável”. (risos) Aí ele disse: “Ah Seu.. Ele me trata tão bem; quer me botar na rua?” (risos) Eu disse: “Não te falei isso, mas é saudável você mudar”. O Menezes mudou e dito e feito: a BR passou a contratar os carros e os motoristas. Nós ficamos com a mesma concessão por mais um ano. Quando estava vencendo a concessão, eu chamei o motorista e o contratei para continuar prestando o mesmo serviço, só que agora para mim. O Pinheiro me destratava. Uma vez ele demorou muito para descer, eu fui embora e o deixei. Ele disse: “Você está pensando que o carro é seu? O carro é da Petrobras Você não pode fazer isso, tem que me esperar”. Eu falei “Está bom”. Agora o carro era meu. A primeira coisa que eu fiz foi cortar o Pinheiro da lista (risos). Tinha um comandante do Decom, que era assistente do Carlos Sant’Anna, que era muito diplomático, e ele foi me perguntar, como o carro era meu – ele sabia que eu o tinha contratado – se eu poderia dar uma carona para o Pinheiro. Eu disse o seguinte: “Meu amigo, no carro da Petrobras, eu sou obrigado a levar o Pinheiro. Mas no meu carro só os meus amigos entram. Ele não vai entrar. Vai entrar o sujeito que eu pego na estrada Grajaú-Jacarepaguá e que ele queria deixar a pé no carro da Petrobras. O carro agora é meu”. (risos) O comandante ficou muito espantado. Depois, ele veio no Natal perguntar se eu daria carona ao Pinheiro. Eu disse: “Bom, considerando a data, hoje, eu dou. Hoje” (risos) Uma vez, nós encontramos o Pinheiro na farmácia Granado, ele virou para Maria do Carmo e disse: “Seu marido é muito durão, sabe?” (risos) E a Maria do Carmo veio me dizer: “Por que o Pinheiro disse que você é durão?” Eu lhe contei a história e ela disse: “Eu acho que você fez bem”. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL / DECOM Em 1970, eu estava no Setor de Combustíveis da então Divisão de Derivados, depois ela virou Divisão de Combustíveis. Exercia a função de chefe de setor. [Minha atividade] era o suprimento de combustíveis em todo Brasil. O mercado nacional era o monopólio da Petrobras e eu programava as entregas de combustíveis ao mercado. Os empregados lotados do meu setor iam às reuniões do Conselho Nacional do Petróleo [CNP] e participavam da locação de derivados. Nós cuidávamos para que o mercado fosse atendido ao mínimo custo. Fiquei como chefe de setor algum tempo, depois eu passei a exercer o cargo de adjunto da Divisão; depois a Petrobras acabou com os adjuntos, mas admitiu uma função similar, o assistente do superintendente para a Divisão de Combustíveis, cargo que eu exerci. Até que o Armando, o superintendente, me convidou para chefiar, exercer uma função na Divisão de Petróleo. Disse-me que era emocionante porque se ia para aqueles países árabes e lá eles chamavam o teu nome em árabe pelo alto-falante, para pegar o avião, e você não entendia nada porque teu nome em árabe era um troço irreconhecível. Eu disse: “Puxa Armando, eu pensei que você fosse meu amigo Esse cargo eu não aceito não (risos) Eu estou muito bem aqui como divisor de combustível, eu viajo pela América Latina e, afinal, a gente entende o que eles falam”. Eu tive uma experiência interessante na África, mas isso foi muito depois. Mas o Armando me convidou para chefiar a Divisão de Abastecimentos a Navios, onde tive um aprendizado interessante. A Petrobras é uma empresa de vendas a granel, mas a Divisão de Abastecimentos a Navios vendia ao mercado de varejo. Nós entregávamos quantidades bem menores. Isso foi no final de 1979, início de 1980. Fiquei nessa Divisão até 1986 e tive muitas experiências interessantes. Estou repetindo muito a palavra interessante. Tive muitas experiências “alecionadoras”, como dizem em castelhano: instrutivas. Tinha muito contato com as companhias americanas, com os italianos, japoneses e soviéticos. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Os russos tinham uma subsidiária alemã, a Bominflot, sediada perto de Hamburgo, que era dirigida por um alemão, vamos chamá-lo de Shoots. Aqui no Brasil, eles eram representados pelo Guilherme Padilha, neto do Raimundo Padilha, um líder integralista. O Guilherme uma vez me disse: “Meu avô morreria de novo se soubesse que eu trabalho para os russos”. (risos). Eu lhe disse: “A vida dá voltas”. Em 1985, o presidente da Sovbunker veio ao Brasil; eles eram os nossos maiores clientes, porque os navios russos vinham pegar trigo na Argentina, mas como o calado de Buenos Aires era pequeno, eles vinham se abastecer no Brasil e pegar soja em Paranaguá. Eles se abasteciam no Rio Grande e em Paranaguá. Eu também abastecia o supply-boat para a frota russa, que eles diziam que era de pesqueiros, mas que eu desconfio muito de que era de submarinos. Inclusive abasteci alguns desses supply-boats que levavam produto para a Angola, que estava lutando contra a África do Sul. Veio o Vasilevich da Rússia e aí eu vi que a União Soviética não ia lá muito bem das pernas. Ele já tinha negociado tudo e aí eu lhe disse: “Como vai o camarada Gromiko?” Gromiko era o ministro de Relações Exteriores da Rússia que o Gorbachev deslocou para a Presidência da República; era o primeiro-ministro. O russo me respondeu: “O camarada Gromiko vai muito bem, porque há muito tempo ele está acima das nuvens”. Achei aquela frase estranha e disse: “O que o senhor quer dizer com isso seu Vasilevich”, ele disse: “A União Soviética, assim como a Esso, onde eu já estagiei, e a Petrobras, que eu estou vendo aqui pela sede de vocês, é uma grande organização. Essas grandes organizações são todas iguais. Elas parecem um grande pinheiro que é tão alto que a camada intermediária fica na altura das nuvens. Quem está acima das nuvens não tem muitos problemas porque tem uma grande visão periférica, mas não enxerga nada já que está em baixo, por causa das nuvens. Recebe periodicamente relatórios dizendo que tudo vai bem e que existe uma baixa probabilidade de que algumas coisas possam não ir tão bem, mas elas não chegam a ameaçar o sistema. Com base nesses relatórios, ele elabora diretrizes e manda para baixo; clara e objetivas. Só que essas diretrizes não podem ser cumpridas. O pessoal que está em baixo das nuvens, lá no chão, também não tem muito problema porque recebe ordens claras e a instrução de enviar relatórios dizendo qual foi o resultado da operação. Terrível é para nós que estamos na altura das nuvens, que recebemos diretrizes que não dá para se cumprir e relatórios dizendo que as coisas não vão bem. Temos que converter isso naqueles relatórios otimistas e converter as diretrizes que podem ser cumpridas em ordens que possam ser cumpridas”. Eu disse: “Puxa, é uma tarefa difícil, como se resolve isso?”. Ele disse: “O chefe reúne os seus colaboradores imediatos e tem uma longa discussão, um brainstorm, que leva o dia todo e não chega à conclusão nenhuma”. Eu disse: “Ué? Não chega a conclusão nenhuma. Por quê?”. Ele disse: “Porque todos são incompetentes”. Eu disse: (risos) “Mas se são incompetentes por que o chefe não demite os caras ou substitui por outros que sejam competentes?”. Ele disse: “O chefe não pode fazer isso, porque ele é amigo dos “caras”, foi ele que os nomeou e se ele fizer qualquer coisa eles também vão se queixar lá para cima. O que vai preocupar o pessoal de cima e não convém que eles sejam preocupados”. “Então como ele resolve o problema?”. Ele disse: “Muito simples. Tem um relatório padrão, que é só preencher os vazios; que é esse vai para cima (risos)”. Eu disse: “Mas esse sistema não pode funcionar bem”. O cara disse: “De fato, não funciona muito bem não”. Eu disse: “Mas vocês ganharam a guerra, destruíram a máquina de guerra alemã, que era a mais poderosa do mundo. Como você explica um sistema que não funciona?”. Ele disse: “Na guerra é diferente, porque na guerra morre gente. Então, o negócio tem que dar certo. Aí o negócio vai bem”. Com isso, eu vi que o troço lá na Rússia não ia bem. Outra coisa: O Gorbachev tinha proibido as pessoas de beber antes de uma determinada hora do dia. Porque um dos problemas da Rússia era o alcoolismo; ainda deve ser. Mas chegou a hora do almoço, o “cara” pegou o maior whisky e eu disse: “Mas o camarada Gorbachev não proibiu de beber antes do pôr do sol?”. Ele disse: “Mas tem o fuso horário. Aqui (risos) é essa hora, em Moscou é outra. Eu posso beber”. E bebeu tranquilamente. CRISE / DÉCADA DE 1980 A Petrobras só passou por problemas quando o Brasil quebrou na década de 1980. Porque até lá o dinheiro era relativamente farto, embora a Petrobras importasse uma quantidade muito grande de petróleo, porque ela produzia 150 mil barris e o consumo brasileiro beirava a um milhão; ou já era maior. Quando o Brasil quebrou, a nossa situação ficou muito difícil e quem nos deu uma boa mão foi o Iraque. O Iraque encampou o campo de Majnoon, mas em troca nos forneceu petróleo praticamente de graça para permitir que a Petrobras comprasse, porque o Governo brasileiro não nos dava dinheiro. Um dos problemas que a gente tinha era para pagar o Iraque, porque o pagamento tinha que ser feito por bancos. O circuito bancário passava por Nova York e não podia ser seguido porque os americanos confiscavam o dinheiro. Nós conseguimos abrir um circuito via Paris, para não ter esse problema. Mas a Petrobras só veio a receber de volta o dinheiro que pago ao Iraque anos depois, quando os Estados Unidos suspenderam esse embargo. Foi uma experiência interessante, mas não foi vivida diretamente por mim, porque nessa ocasião eu era mais ligado à área de combustíveis marítimos. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS O problema que eu tive na época foi que a Polônia também quebrou e eles pararam de pagar. Tem outro fenômeno pitoresco com a Rússia. Eu fui a Londres e estive com o representante da então Sovflot e perguntei: “Vocês compram combustíveis marítimos para todos os paises da órbita socialista, menos a Polônia. E a Polônia está nos criando um problema porque eu sou obrigado, às vezes, a embargar um navio polonês, outras vezes a exigir pagamento antecipado muito superior ao que eles vão comprar para me ressarcir. Eu estou conseguindo recuperar esse milhão de dólares, mas com extrema dificuldade. Por que vocês não compram para a Polônia?” O russo se irritou pela primeira vez. Os russos davam o treinamento para os funcionários e quem trabalhava em Londres se comportava como um nobre britânico; quem trabalhava aqui no Brasil, se comportava como um malandro da Praça Mauá (risos). Era gozadíssimo. Não sei por que eles tomaram como modelo o malandro da Praça Mauá e não outro personagem brasileiro. Mas o de Londres perdeu a calma pela primeira vez e me disse: “Nem se Moscou mandar”. Eu o esperei se acalmar e falei: “Mas se Moscou mandar você vai ter que comprar, não é?” Ele disse: “Não Nós não compraremos porque os tratados que nós temos com os outros países dão cobertura ao crédito. Mas os tratados com a Polônia não dão. Então, a firma polonesa não tem esse crédito.” Escapou-me o nome da firma polonesa. O nome pouco importa. Mas aí foi esse lance pitoresco. Outro lance pitoresco foi quando o russo foi ao mapa e parecia que ele tinha visto o Brasil pela primeira vez. “Mas o Brasil é um país muito grande É mais ou menos um terço da União Soviética”. Eu disse: “Ele é também muito mais rico, porque lá a maior parte das terras é tundra, é gelado. E aqui nós temos belas florestas e muita água”. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Durante o tempo que eu estive na Divisão de Combustíveis a gente exercia o monopólio de petróleo. Teve muitos acontecimentos pitorescos; vou me lembrar de alguns. Por exemplo: em uma reunião no CNP, o meu representante me telefonou dizendo que tinha havido uma votação e que ele tinha votado de um jeito. Eu disse: ”Pois você agiu mal em votar sem nos consultar; a instrução é justamente o oposto. Então, vai lá e mude o seu voto, justifique que recebeu instruções da sede para isso”. O Jorge Morales me respondeu: “Doutor Vieira, eu não posso fazer isso” Eu disse: “Como não pode? Você é o representante da Petrobras. Vai lá e faz” Ele disse: “Mas, Doutor Vieira, eu vou ficar envergonhado”. Eu disse: “Deixe a vergonha de lado, porque vergonha dá e passa. Vai lá e (risos) e faça isso, senão eu vou ser obrigado a te destituir do cargo”. E ele: “Está bem, vou fazer”. Eu disse: “Você deve se lembrar do Roberto Campos que, embora nosso adversário, dizia: é um privilégio dos países independentes, dos homens inteligentes e das mulheres bonitas mudar de opinião (risos). Então, você exerce esse privilégio e muda o voto”. Aí ele foi e mudou. Mas foi um lance interessante. MONOPÓLIO / CNP A relação se dava por meio dessas reuniões mensais em que havia a locação de produtos da Petrobras. O CNP era um órgão muito conservador, como depois veio a ser o DNC [Departamento Nacional de Combustíveis], seus sucessores, a própria ANP [Agência Nacional de Petróleo]. Mas não existe mais monopólio, não há mais esse tipo de reunião. O CNP e o DNC não tinham a agilidade da Petrobras, padeciam desse problema. QUEBRA DO MONOPÓLIO Tive um único atrito com o DNC, mas sempre tive um bom relacionamento com eles. Curiosamente, foi com uma diretora do DNC que era empregada da Petrobras. Ela, já naquela época, era a favor da ruptura do monopólio. Ela até veio me cantar uma vez, dizendo que tinha sido das passeatas pelo monopólio, mas que agora ela via que estava errado e que o Ozires Silva, então ministro de Minas e Energia, iria à Petrobras propor a quebra do monopólio. Isso foi no início do Governo Collor. Ela queria saber como ele seria recebido. Eu disse que ele seria muito bem recebido, porque antes, o Antônio Maciel, que depois foi trabalhar em Brasília, pelo Ministério de Minas e Energia, tinha vindo à Petrobras falar sobre quebra de monopólio e tinha sido escorraçado da empresa pelos colegas. Ele já era um cara meio esquisito, mas não tínhamos idéia que ele fosse pela quebra. O pessoal só faltou bater nele. Então, ela estava com medo que o pessoal agredisse o ministro também. Eu disse: “O ministro será muito bem recebido. Ninguém vai faltar ao respeito com um ministro da República. Agora, eu não sei se vão aceitar a sugestão, mas o ministro tem mais poder”. Logo depois, veio o Itamar e permitiu à Petrobras a defesa ao monopólio e o José Fantine se engajou. Ele era o superintendente do Serplan, ele se engajou na campanha em defesa ao monopólio e transformou o Serplan em uma verdadeira agência de publicidade. Eu lembro que ele distribuía uns manuais todos preenchidos com X, X, X nos dados, para devolvermos com os dados corretos. Eu me gabo de ter colaborado bastante com ele; até mais do que o Castilho gostaria. Mandei o José Maria Nevares para Brasília para fazer a campanha. E o José Maria, que é um cara eficiente, fez uma campanha magnífica, coadjuvou bastante o Fantine. O Marcos João foi a um encontro com municípios e conseguiu o manifesto dos prefeitos contra a quebra do monopólio. Em 1995, o Fernando Henrique proibiu que a Petrobras se defendesse e o monopólio foi quebrado. Como sou um dos dinossauros, daqueles que o Roberto Campos falava, até hoje não perdôo o Fernando Henrique e é por isso não voto no PSDB [Partido da Social Democracia Brasileira] nunca. O monopólio para Petrobras era muito conveniente, porque era uma armadura contra a destruição da companhia. Depois a Petrobras se tornou tão musculosa que já não precisava dessa armadura. Mas era uma questão de principio defender o monopólio. Afinal, como eu falei (risos), era um dinossauro e não ia me sujeitar. Passei a vida aplicando o monopólio. Eu estou falando um assunto bastante controvertido. Não sei se pode. Mas aí eu me engajei nessa luta e ajudei bastante o José Fantine. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL Havia a regulação de preços. Isso era uma luta constante com o Governo que até custou a cabeça do primo da Maria do Carmo e do Breno Cauduro, que eram diretores da Petrobras. Eles foram a Brasília para reclamar dos preços e voltaram destituídos. Brasília, de fato, tinha a faca e o queijo na mão. Eles talvez tenham passado um pouco o sinal e Brasília “rodou” com os dois. Ficaram só por seis meses na diretoria. Eu ainda fiquei um ano e meio. Só perdi a chefia em 1996, depois da quebra do monopólio, quando reorganizaram a Comercialização e o Decom deixou de existir. Trabalhei 26 anos no Decom. E eu fiquei “no pincel” porque o MKC [Marketing e Comercialização] não me quis. Fui ser assistente do Albano, que depois foi diretor da Petrobras. Foi primeiro diretor da Transpetro [Petrobras Transporte S.A.]; Eu fui com ele e me tornei secretário-geral da Transpetro, mas era um cargo menos importante que o Segep. Para se ter uma idéia, a remuneração de chefia era nível 19, o que equivalia a chefia do setor. Fiquei na Transpetro até a vinda desse Sérgio Machado, aí ele se desentendeu comigo e eu voltei para a Petrobras. Fui trabalhar em Novos Negócios, mas não fiquei por muito tempo, cheguei em fevereiro, se eu não me engano. APOSENTADORIA Em outubro de 2005, fui acometido dessa infelicidade, mieloma múltiplo. Tive oito fraturas de coluna tossindo. Primeiro tossindo rompeu uma, depois outras, no exame (risos) que o médico recomendou. Trata-se da cintilografia, em que você fica deitado, como se fosse numa bacia. Quando a enfermeira me tirou da bacia me quebrou as outras. Aí eu passei a ter crises horríveis e tive que ser operado da coluna. Mas isso já não interessa mais. Fui aposentado por invalidez, o médico do INSS [Instituto Nacional do Seguro Social] disse que eu estava sujeito a cair na Rua Senador Dantas e me quebrar todo. De fato, os meus ossos estavam muitos fragilizados. Eu estava com osteoporose generalizada. Fui operado da coluna e comecei o tratamento de fisioterapia. Eu que tinha saído de andador, passei a andar de muletas: duas, depois uma, passei para a bengala e, agora, estou andando relativamente bem. Ainda não tenho muito equilíbrio, mas estou até jogando futebol com a minha fisioterapeuta (risos) – jogo futebol com uma bolinha de borracha. Estou ficando mais ágil. Essa foi a minha vida. Têm alguns outros lances na Petrobras. ABASTECIMENTO DE NAVIO A frota brasileira que a Petrobras abastecia era a própria, a da Docenave e de alguns pequenos armadores privados, como o Aliança e outros, que eram a clientela menor. No abastecimento de navios tem que se tomar muito cuidado com o crédito porque o armador, o estrangeiro, tem muita facilidade de escapar – principalmente, os armadores pequenos, como os gregos, porque eles trocam os nomes dos navios, mudam de companhia e você perde a sua pista. Então, tem que exigir pagamento antecipado, manter um controle rígido de crédito e cobrar juros contra o atraso de pagamento. O meu antecessor na Dinave [Divisão de Abastecimento de Navios] dizia que podia ser dado crédito e a Petrobras levava na cabeça porque eles abasteciam e só iam pagar daqui a três meses e não pagavam nada a mais por isso. Eu instituí a cobrança de juros, que tinha um nome, não era juros, era taxa de não sei o quê. Uma taxa relativamente pesada para constranger os “caras” a pagar. Quem não pagasse perdia o crédito e passava a ter que pagar antecipado. Nós estabelecemos o seguinte: para a Petrobras fazíamos um preço mais baixo do que para o mercado. Eu até fiquei muito chateado porque a Fronape editava um mensário e nesse mensário eles me agradeceram de público revelando isso; e isso é prática condenável no comércio: ter dois preços para a mesma mercadoria. Um preço para quem é de fora e outra para a companhia. Tive que reclamar: “Vê se vocês não fazem tanta coisa, eu fico muito grato por me elogiar ou agradecer, mas isso aí está nos deixando a descoberta. Os armadores privados estão reclamando que pagam mais caro em condições mais drásticas do que a Petrobras; reclamam ainda que pagam juros quando atrasam e a Petrobras não paga nada. Isso é consumo próprio, para Petrobras cobrar para vocês é brincadeira, porque o dinheiro não sai. Ele sai de um bolso e entra no outro”. ABERTURA DE MERCADO O ambiente ficou meio sujo. Eu guardo essa mágoa do Fernando Henrique, porque, inclusive, o pai dele tinha sido tesoureiro da campanha “O Petróleo é nosso”. O pai dele era um partidário ferrenho da Petrobras e ele virou a casaca. Nós, petroleiros, nos sentimos traídos por um cara que achávamos que era nosso amigo. Aliás, até hoje, ele diz que é, que a intenção dele não era a privatização da Petrobras, o que é mentira, porque a administração da Petrobras preparou tudo. Inclusive, o Philippe Reichstul preparou até mudança de nome da Petrobras para Petrobrax, mas a reação foi muito forte e ele voltou atrás. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS O Reichstul era uma personalidade fascinante. Ele pode não ter se dado muito bem depois que saiu da Petrobras, mas não foi por falta de capacidade. Eu tenho que reconhecer que ele era um sujeito competente. Ele tinha uma mulher muito inteligente, a Clarissa. Ela era muito capaz, lia todas as pautas, dizia para ele o que ele podia assinar e o que ele não devia. Agora, ela era muito chatinha (risos). Eu me dava bem com ela, mas foi engraçado que um colega foi fazer uma exposição para o Reichstul e ela me disse: “Ele só pode falar dez minutos”. E esse cara era um boquirroto, estouraria os dez minutos fácil, embora eu tivesse avisado a ele. Quando ele chegou perto dos dez minutos, a Clarissa fez um sinal para ele parar. E ele nem ligou. Ela disse para mim: “Faz esse cara parar senão eu vou chamar os vigilantes pra tirá-lo daqui a força”. (risos) Eu disse: “Rapaz, cala boca” (risos). E o cara nada. Eu disse: “Cala boca senão você vai sair daqui por vigilantes”. O cara acabou, foi embora, mas ficou chateado – não com ela – comigo. Eu disse: “Eu não fiz nada quem deu a ordem foi a Clarissa. Ela manda aqui.” Parece que é até a mulher do Philippe, mas não era não. MOMENTO MARCANTE Foi o período que eu chefiei a Divisão de Planejamento, gostei mais do que a própria superintendência. Na divisão de planejamento, você tem a oportunidade de desenvolver o teu trabalho. E o nosso trabalho envolvia o Plano Nacional de Abastecimento, que era baseado em um sistema de computador muito interessante que a Petrobras teve, e ainda deve ter uma evolução dele. O sistema era quase igual ao da Arábia Saudita, que tinha um sistema similar. Só que a Petrobras tinha 11 refinarias e a Arábia Saudita tinha cinco ou quatro. Embora as refinarias da Arábia Saudita fossem de capacidade maior que as da Petrobras. Mas o sistema da Arábia Saudita era muito menor e eles não têm uma costa como a da Petrobras. O nosso sistema era muito desenvolvido e era mantido por uma equipe técnica excelente, da Seorg [Serviço de Organização], que veio a ser a TI [Tecnologia da Informação]. Tinha dois profissionais de pesquisa operacional trabalhando só pra mim, alocados na Divisão, como se fossem meus empregados. Eu me sentia o “rei da cocada preta”. Mas havia uma oposição muito grande a esse sistema. Quando a Diplan [Divisão de Planejamento] acabou, o Albano, que era um cara de visão, contratou uma firma americana para desenvolver um sistema similar. Eles, praticamente, copiaram o nosso. Era um sistema de programação linear em que tudo era levado em conta: a entrada de petróleo, a saída de derivados, a importação e a exportação. Era um sistema bem complexo. Tinha oitenta e tantas mil equações. O pessoal do Seorg fez um trabalho modelar. Tenho que lhes dar o elogio. Antes era Seorg, depois passou a ser TI. A mudança ocorreu porque eliminaram essa questão de nomear serviço e a divisão. Esso foi uma inovação também do Philippe Reichstul, que eu não gostei, porque acabou criando atribuições conflitantes em várias áreas e isso gerou uma certa ineficiência na Petrobras, resolvida com as tais reuniões com o russo em que os chefes se reúnem e, afinal, não chegam a resultado nenhum. (risos) Nesse período em que estive em Novos Negócios, eu achei que não gostaria de ser de novo gerente na Petrobras, porque o trabalho ficou muito cansativo, pelo menos pra mim que já estava velho. Já estava mesmo na hora de me aposentar. O José Maria continua lá até hoje. Ele tem mais resistência que eu. Nós tivemos carreiras paralelas, embora ele seja mais novo. Nós fomos superintendentes-adjuntos do Decom ao mesmo tempo. Depois, quando eu estive na Diplan, ele teve um período de resguardo lá também; ele ficou sem função. Agora, ele é gerente de Novos Negócios. Está muito bem de vida. Outro período interessante foi na Divisão de Combustíveis, em que nós geríamos o abastecimento nacional. O [Wilson] Santarosa é uma pessoa interessante de ser entrevistada porque tem uma vivência boa da Petrobras. Ele começou um pouco antes, embora ele seja mais novo do que eu, ele foi meu chefe na Divisão de Combustíveis. Nós bolamos o projeto da tancagem reguladora que eu gerenciei durante algum tempo, que semeou tancagens da Petrobras nos portos e que depois foram absorvidas pela BR - tancagens também de GLP [gás liquefeito de petróleo]. Outro dia, eu estava sonhando com isso (risos). Como a vida é engraçada, eu ainda sonho com a Petrobras. Fico sonhando com a tancagem de GLP, com a luta que foi para a implantação da tancagem, porque havia muita gente que era contra. AMPLIAÇÃO DA TANCAGEM Os navios da frota tinham que abastecer os portos. A tancagem que havia nos portos brasileiros, principalmente no Nordeste, era do tempo da Segunda Guerra Mundial. Então, era relativamente pequena para o porte dos nossos navios. Isso obrigava a viagens antieconômicas, com muitas paradas. Eu bolei um dimensionamento dessas tancagens, que permitisse viagens mais econômicas, com duas paradas no máximo. Nós partimos para investir nos portos, para construir essas tancagens. Na época, eu percorri vários portos brasileiros. Só não cheguei a Belém e Manaus por razões alheias a minha vontade. Mas fui a todos os outros portos e nós fizemos a tancagem. HISTÓRIAS / CAUSOS / LEMBRANÇAS Em São Luis, nós descobrimos algo interessante. A Depex [Departamento de Exploração] tinha um porto clandestino (risos) em Fortaleza. O capitão dos portos, que estava fazendo a visita comigo nas instalações existentes em Fortaleza, disse: “Nessa instalação. eu não posso ir porque se eu for vou ter que prender o chefe da instalação, porque essa instalação é ilegal. Ela não está registrada na Capitania dos Portos”. (risos) Outro lance gozado: nós descobrimos que tinha um terreno que havia sido doado a Petrobras e o pessoal não sabia. Nesse terreno foi construída depois uma instalação da Petrobras. Eu não me lembro se foi em Pecém ou não. A negociação com o Governo do Ceará sobre o porto de Pecém também foi bastante interessante, e a do o porto de Suape também. TRAJETÓRIA PROFISSIONAL A minha vida foi dedicada à Petrobras durante 43 anos. É até difícil selecionar os fatos para contar, porque muita coisa acontece em 43 anos. Foi uma época boa da minha vida. Não me arrependo de nada. Não fiz relativamente muito sacrifício, pois não fui da área do E&P (Exploração e Produção). Quem foi do E&P foi o Hélio Falcão, ele foi diretor da Petrobras, tem uma larga experiência em exploração e produção, foi superintendente da SRAZ [Superintendência Regional da Amazônia], da região da Amazonas, ele esteve envolvido na Bacia de Campos e foi, de avião, com o Ozires Silva a um poço que pegou fogo. Tenho muitas histórias, mas também já contei quase tudo que interessava e confesso que estou ficando cansado (risos). Acho que vou dispensar esse pós-morten. MEMÓRIA PETROBRAS Fiquei envaidecido, sabe? Uma vez eu fiquei muito triste porque o presidente da Petrobras reuniu 50 veteranos para um almoço e eu não fui chamado. Eu era até mais velho do que alguns daqueles veteranos, até mais antigo na Petrobras. Senti que tinha sido esquecido. Agora, eu fiquei agradavelmente surpreso em receber esse convite. Eu gostei, não sei se vocês gostaram. Eu nem pude elogiar vocês, mas eu achei que o projeto está andando muito bem e me sinto honrado de ter sido convidado. A vitória do Barack Obama também me agradou, porque vai mudar a política americana. Espero. Obrigado
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