Projeto Mulheres Empreendedoras Chevron
Depoimento de Deise Lúcia Barreto
Entrevistada por Raul Varela
Rio de Janeiro, 21 de maio de 2012
Realização Museu da Pessoa
Entrevista MEC_HV029
Transcrito por José Roberto Ruiz / MW Transcrições (Mariana Wolff)
Revisado por Bruna Ghirardello
P/1 – Muito obrigado Deise em nome do Museu da Pessoa e do Projeto Mulheres Empreendedoras, por favor, qual o seu nome, local e data de nascimento?
R – Meu nome é Deise Lúcia Barreto, eu morro aqui na comunidade do Borel, na Chácara do Céu, a parte mais alta do Borel. Eu nasci no dia 6 de fevereiro de 1972, tenho 40 anos.
P/1 – Qual é o nome dos seus pais?
R – O nome do meu pai, o meu pai se chamava Geraldo Barreto e a minha mãe Heloisa Cavalcante Pereira.
P/1 – O que os seus pais faziam?
R – A minha mãe trabalhava em uma fábrica de tecido, América Fabril, depois ela virou doméstica, e o meu pai trabalhava em prédio, o meu pai era porteiro, foi zelador, depois trabalhou com obras e só.
P/1 – Como você descreveria seu pai e sua mãe? Como eles eram?
R – A minha mãe, minha mãe é um doce de pessoa, minha mãe é tudo para mim. Ela é muito boazinha para mim. E o meu pai também era uma pessoa muito boa, embora ele bebia muito, mas como eu era a filha caçula, ele me tratava com muito carinho.
P/1 – Quais eram os principais costumes da sua família? O que é que vocês mais faziam?
R – O que nós fazíamos. Como assim?
P/1 – Quando estava a família toda reunida, o que é que vocês faziam?
R – Eu não me lembro não, assim da família reunida, era muito difícil, a família toda reunida. Isso eu não lembro não. Quando a família estava reunida é quando a gente ia buscar, pegar água na mata. Que ia todo mundo, ia a minha mãe, o meu pai, os meus irmãos. Todo mundo tinha que pegar uma lata e ir para a mata pegar água, que era bem distante da nossa casa.
P/1 – Como é que era esse pegar a água?
R – É porque não tinha água encanada naquela época. Então, tinha uma mata lá pra dentro da floresta, quase chegando na floresta da Tijuca, e todos os moradores lá da comunidade que tinha poço tinha poço, quem não tinha, tinha que pegar essa água lá para beber e todo mundo ia. Minha mãe ia lavar roupa lá na mata, e a gente ia pegar água para encher os barris, para lavar louça, para tomar banho. A família toda ia para essa mata pegar água, dava banho nas crianças, já vinham de banho tomado de lá.
P/1 – Como é que eram as brincadeiras nesse lugar?
R – Era bem divertido, porque os colegas amarravam os capins, e aí você vinha com uma lata d’água, e você caia, tinha que voltar de novo lá para cuidar, tinha cobra, e era bem divertido. Tomava banho com a água bem gelada.
P/1 – Você gostava de ouvir história em família?
R – Gostava.
P/1 – Você lembra de alguma?
R – A minha irmã que contava muita história para mim. E eu era muito medrosa. Então contava diversas histórias para mim.
P/1 – Tem alguma que você lembra, que te assustava?
R – Nossa, tinha a da loura, da loura, tinha do lobisomem. Tinha um moço lá de onde a gente morava, que a gente falava que ele ia para a mata virar lobisomem, era um castigo, e essas histórias assim.
P/1 – Você sabe a origem da sua família? De onde os seus pais vieram, os seus avós?
R – Olha o meu pai é lá de Minas Gerais de Bom Jesus de Tabapuã, e a minha mãe, ela é de Pernambuco. A minha mãe contou um pouco da história dela. O meu pai não contava muito não, mas a minha mãe contava muitas histórias lá da terra dela.
P/1 – E como é que era a terra dela?
R – Ela falava que ela foi criada pelo pai, que mãe dela morreu, ela era muito novinha. E ela foi criada pelo pai. E aí ela falava que tomava banho no açude. E aí ela falava que pegava uma plantinha que chama melão de São Caetano, ela falou que aquilo espuma para caramba, que ela lavava com sabão, que ela lavava as roupas com aquilo. Outro dia eu até fiz na minha casa, e ela falou que era aquela plantinha. E essas histórias que ela contava, as coisas que ela comia. Tomava purgante e isso aí. Ela contava um montão de histórias.
P/1 – O que é que ela comia assim de diferente?
R – Ela falou que de manhã eles não tomavam café, comia carne seca com aipim. Comia muita fruta. Então essas coisas.
P/1 – E sobre os seus avós? Você tem alguma recordação deles?
R – Não, eu lembro só da mãe, do meu pai, que eu era bem criança, eu lembro só dela, só. Que ela ia à minha casa, mas eu era bem pequenininha, mas assim, não tenho muita recordação.
P/1 – E seus pais, contaram como é que foi a viagem para o Rio de Janeiro?
R – A minha mãe falou para mim que ela veio de navio para aqui para o Rio. E o meu pai eu não sei como é que ele chegou ao Rio, mas a minha mãe veio de navio para cá.
P/1 – E sobre a sua infância, você lembra da casa que você passou a sua infância?
R – Lembro.
P/1 – Como é que ele era?
R – Era uma casa pequena de estuque, isso eu lembro. Do meu pai construindo ela, era de barro. Ele colocava a gente para ficar amassando barro, todo mundo descalço ali, ele tinha que ripar, depois ia pegando o barro e ia colocando ali. Era de folha de zinco. Quando chovia ficava fazendo aqueles barulhos da folha de zinco. Às vezes, chovia mais dentro do que fora. e era assim.
P/1 – Como é que era o morro do Borel nessa época?
R – O morro do Borel não era asfaltado, os carros não subiam. Subiam até uma certa parte. Quando subia ficava emperrado, por causa das lamas. E tinha que subir isso tudinho a pé.
P/1 – E o Rio de Janeiro, você tem alguma recordação de como ele era na sua infância?
R – Não tenho muito não. Mudou muito. Mudou muito. Não tenho muitas recordações. Para mim continuou do mesmo jeito.
P/1 – E você passeava fora do morro?
R – Eu passeava quando eu ia para a casa das patroas da minha mãe, que elas me levavam para passear. Elas moravam em Copacabana, e na Afonso Pena, e aí eu passeava por aí mesmo. Mas para outros lugares eu não ia. Até hoje eu conheço poucos pontos turísticos aqui do Rio, conheço o Cristo. Só.
P/1 – Como é que você pode descrever a sensação de conhecer o Cristo, como é que é?
R – Eu fiquei encantada, porque eu moro aqui há muitos anos, e assim, eu não conhecia, e era novo, e assim, depois de adulta que eu vim a conhecer, eu fiquei encantada de chegar lá no Cristo. Subir naquele elevador, e chegar lá em cima, eu achei lindo demais ver o Cristo de braços abertos ali.
P/1 – E quando você era pequena do que é que você brincava?
R – Eu brincava de pique, de passar o anel. Brincava de bonecas, brincava de queimada, essas brincadeiras?
P/1 – E com quem é que você brincava?
R – Eu brincava com as minhas vizinhas que moravam lá perto de casa, e aí a gente brincava disso, de boneca.
P/1 – Como é que elas eram?
R – Elas eram bem legais comigo. Meu pai ganhava as bonecas no prédio, trazia, o pai dela também trabalhava em prédio, aí as bonecas que as madames davam. E a gente se divertia com aquelas bonecas.
P/1 – Tem algum dia que foi marcante para você, algum dia que foi especial nessas brincadeiras?
R – Não lembro.
P/1 – E o que você queria ser quando você crescesse?
R – Ah, eu queria ser muitas coisas. Eu queria ser professora, eu queria ser médica, essas coisas. Eu brincava de médica, ficava fazendo receitinhas, nã, nã, nã… eu queria ser médica.
P/1 – Sempre com as mesmas pessoas?
R – É.
P/1 – Sempre com os mesmos amigos?
R – É.
P/1 – E hoje, como é que eles estão?
R – Hoje eles não moram, alguns não moram mais aqui, outros moram, mas estão todos bem, trabalhando, têm suas famílias, e de vez em quando aparecem.
P/1 – O que é que você gostava mais de fazer quando você era criança?
R – Eu que eu mais gostava de fazer? Ah eu gostava de andar atrás da minha irmã, e ele não deixava. E ela não deixava.
P/1 – E quantos irmãos você tem?
R – Nós somos em, são duas mulheres e dois homens.
P/1 – E os nomes?
R – A minha irmã mais velha se chama Denise, meu outro irmão se chama Geraldo, e meu outro irmão se chama Gilmar.
P/1 – E como era o convívio em casa? Como é que eram as brincadeiras dentro de casa, como é que era a relação com os pais?
R – É com os meus irmãos, eles sempre me mimaram muito, ficavam pegando no meu pé, não podia fazer nada que eles estavam pegando no meu pé, e a nossa relação, era uma relação mais com a mãe, com a minha irmã, com a minha mãe, que ajudou a minha mãe a, ela era minha irmã só por parte de mãe. Minha irmã é filha do mesmo pai, mas ela é como se fosse minha mãe. Ela que ajudou a minha mãe a criar a gente. E ela que brincava muito com a gente, a minha irmã, fazia barquinhos, fazia gaivota para a gente ficar jogando da janela. Ela pegava o fósforo, riscava e aí quando o fósforo apagava, ele apagava as luzes e prendia o palito assim para dar susto na gente.
P/1 – Com relação à escola, qual a primeira lembrança que você tem da escola?
R – Ah, eu chorando porque eu não queria ficar na escola, porque minha mãe me deixou lá. Ia embora e eu ficava chorando o tempo todo querendo a minha mãe. E essa foi a lembrança que eu mais lembro. Até hoje eu falo para a minha mãe. Ela indo embora e eu ficando naquela escola sozinha.
P/1 – E depois disso, como é que foi?
R – Aí fiquei indo, mas chegou um tempo em que eu não queria mais estudar, porque devido a uns problemas. Aí eu não queria mais estudar, mas a minha mãe me obrigava, e aí, mas chegou um tempo que eu parei de estudar por conta própria, então a minha mãe falou: então você vai trabalhar. Aí eu parei de estudar.
P/1 – E algum professor te marcou nesse tempo?
R – Ah, marcou. Era professora, a tia Bete. Ela tinha uma Brasília branca, e eu ficava sentada lá perto dela, e na hora de vir embora ela trazia eu, meu irmão, e alguns alunos. A Brasília vinha lotada, até aqui na São Miguel, ela dava carona para gente. Todos os dias ela dava carona para gente. Levou a gente foi conhecer a casa dela, a família dela. E ela era uma professora muito boa. Boa em tudo. Ajudava a gente em tudo. Dava coisa para a gente trazer para casa. Ela era muito boa.
P/1 – E como você ia para a escola nessa época?
R – E ia a pé. Para a escola?
P/1 – É.
R – Eu ia a pé. Aí eu ia a pé, meu irmão subia de carona no caminhão, e eu ficava para trás. Mas era assim.
P/1 – E como é que era, como era esse, você falou que vinha a pé. Vinha sozinha, vinha com seus amigos?
R – Tinha amigos, primos que estudavam, e subíamos o morro todos juntos.
P/1 – Como é que era a brincadeira subindo, como é que era?
R – A gente subia e fazia a maior bagunça mesmo. Às vezes, o meu irmão subia de carona no o caminhão. Aí me dava a mão para eu tentar alcançar ele, mas eu não conseguia, e a gente subia fazendo uma bagunça. Pegava jamelão, manga verde, subindo e comendo manga verde. E quando chegava em casa já tinha passado da hora, e minha mãe brigava com a gente. Mas era bem legal. A gente vinha da escola às vezes brigava na escola, perdia o material, mas era bem divertido.
P/1 – E como é que eram os vizinhos? Brigavam por causa da bagunça na rua, como é que era?
R – Não uma vez em que a minha prima brigou com o meu irmão, aí uma mulher lá do prédio jogou um balde d’água em cima deles, porque eles estavam todos brigando. Mas acho que o povo já estava acostumado, porque eles sabiam que naquele horário a turma da escola estava passando, e tinha uma casa mal assombrada, que tem aqui na São Miguel. Dizem que era uma casa mal assombrada, que quando chegava perto dela todo mundo saia correndo.
P/1 – E com essa casa, o que é que você poderia falar sobre ela?
R – Hoje eu vejo ela ainda como coisa mal assombrada. Dizem que virou um restaurante e tal, mas até hoje eu passo ali eu lembro da minha infância. Casa mal assombrada.
P/1 – Como é que ela é assim?
R – É uma casa de pedra, bem esquisita mesmo, bem esquisita parecia uma casa mal assombrada, toda escura por dentro.
P/1 – Teve alguma história nessa casa, que algum amigo seu ficou com medo, ou tentou entrar?
R – Não. Acho que ninguém nem tentava entrar porque o povo tinha medo mesmo. Atacavam pedra lá, para ver se tinha alguém, mas não aparecia ninguém.
P/1 – E com relação à sua juventude, você lembra do seu primeiro namoro, seu primeiro beijo, pode falar dele?
R – Tinha uma amiga minha, que ela é amiga minha até hoje, e a mãe dela pegava no pé dela, minha mãe pegava no meu pé, mas tinha dois meninos que eles eram amigos também, e aí a gente fugia para encontrar lá com eles, escondida, atrás da casa da vizinha.
P/1 – E teve algum dia que alguma vizinha viu, e foi falar para a mãe?
R – Não, quando a vizinha via a gente saía correndo, saía em outro beco, e aí ele saía para um lado e a gente saía para outro. É às vezes eu ouvia a minha mãe me gritando de longe: Deise. Eu já estava lá pertinho dela, ela estava com uma vara na mão para me pegar.
P/1 – E como é que era essa relação com a sua mãe?
R – É como assim?
P/1 – O que é que fazia, se, por exemplo, você não chegava em casa na hora?
R – Ah, ela me batia. Porque ela falou que eu sempre fui muito abusada. Aí ela me batia, porque eu resmungava, respondia, aí ela me batia, mas eu sei que ela batia para o bem, para eu obedecer ela, porque ela queria o meu bem.
P/1 – Ela já teve que sair da sua casa, da casa dela, para procurar você?
R – Já, já. Ela mandava os meus irmãos. Olha a Deise, a Deise foi lá para cima. Aí meus irmãos vinham: pode indo para casa, minha mãe mandou tu descer agora. Aí eu tinha que ir senão eles também me batiam, também.
P/1 – Isso aqui no morro do Borel mesmo?
R – É lá na comunidade, é a parte mais alta aqui do Borel, é a Chácara do Céu.
P/1 – E mesmo assim eles iam...
R – É eles ficavam tomando conta de mim, como a minha mãe. Quando eu não ia eles falavam para ela: eu chamei a Deise, ela não quis descer. Aí ela ia atrás de mim com uma vara na mão. Mas quando eu ouvia a voz dela, já dava volta pelos caminhos, já estava em casa.
P/1 – Você já passou alguma vergonha por causa disso?
R – Já, já, porque ela. Assim ela não xingava palavrão, mas falava um montão de coisas para mim. Eu já falei que não quero você com essa garota, não sei o que. Falava ali para mim no meio dos garotos. Eu ficava morrendo de vergonha.
P/1 – Quando você começou a sair. Você saia sozinha, com amigas, como é que era?
R – Eu saía muito com a minha irmã, eu saía muito com a minha irmã na comunidade mesmo. Eu não saía para rua sem ser com a minha irmã, ou com a minha mãe. Então tudo era ali dentro da comunidade, ou então em uma outra comunidade vizinha que era no Andaraí, aí para as festas juninas, mas aí eu ia com a minha irmã.
P/1 – Como eram essas festas?
R – Tinha baile, baile de charme, música lenta. E eu ia atrás da minha irmã lá, e ficava lá dançando, brincando com as minhas amigas do meu tamanho.
P/1 – Você tem alguma lembrança de alguma brincadeira, de alguma música que te chamou a atenção nesses bailes?
R – Não tenho porque as músicas eram, não eram brasileiras. Entendeu?
P/1 – E as brincadeiras?
R – As brincadeiras, a gente brincava lá, lá na festa lá, ficava brincando, eu era menina ainda, e a gente brincava lá de correr e tal, de paquerar os garotos, assim.
P/1 – E teve algum garoto que te chamou atenção naquela época?
R – Teve.
P/1 – Você pode falar para a gente como é que foi?
R – Ah, nada. O nome dele era Natal, e eu achava ele lindo, ele era um preto e eu achava ele uma gracinha e tal, e isso.
P/1 – E quando você saía com a sua irmã, você só saía com a sua irmã?
R – É.
P/1 – E aí você chegou a sair aqui do morro em outro lugar?
R – É, quando a minha irmã trabalhava em supermercado, antigamente era o mercado Casas da Banha, e a minha irmã era caixa desse mercado, e aí ela ganhava muito ingresso lá. Eu ia para outros lugares, ia para o Maracanãzinho. Ver a chegada do Papai Noel, todo ano ali, a minha irmã ganhava os ingressos né no mercado, e aí ela levava eu, meus irmãos, todos lá para o Maracanãzinho para ver o Papai Noel chegar de helicóptero. E era muito bom.
P/1 – Como é que você se sentia com a sua irmã, com seus irmãos no Maracanãzinho?
R – Ah, para mim, nossa eu ficava contando os dias para chegar a época de dezembro para poder ir para o Maracanãzinho ver o Papai Noel chegar. Aquele monte de papel picado, voando, aquele vento. Nossa era muito bom. A minha irmã comprava roupa, comprava sandália nova para eu poder ir. A gente ganhava brinquedos lá, era bem divertido.
P/1 – E como era a sua família em relação a essas saídas com sua irmã, eles iam junto, como é que é?
R – Não. A minha mãe ficava em casa. A minha mãe e o meu pai, só ia eu, a minha irmã e os meus irmãos.
P/1 – E os seus outros irmãos, como é que era relação deles com seus pais?
R – Ah era uma relação assim, a gente tinha muito medo do meu pai. Do meu pai, da minha mãe não, mas do meu pai a gente tinha muito medo do meu pai. Porque o meu pai quando ele não bebia ele era uma ótima pessoa, mas quando ele bebia ele era uma pessoa muito violenta. E quando ele estava bom ele quase não conversava com a gente, então tudo era com a minha mãe, tudo era com a minha mãe.
P/1 – E hoje um pouco mais madura, como é que você vê essa relação com o seu pai, o alcoolismo para uma criança. Como é que você se sente?
R – É assim. O meu pai, o meu pai faleceu em 2006, mas eu tenho as lembranças das coisas que ele fazia com a gente, com a minha mãe, mas assim o meu pai ele, eu amo ele. E depois que ele ficou doente eu que cuidei. Eu sempre cuidei dele. Eu botava fralda nele. Eu fiquei no hospital com ele. Até o dia em que ele foi embora.
P/1 – O que é que mudou para você, da sua infância para a juventude?
R – Da minha infância para a juventude. Na minha juventude eu fui trabalhar, fui trabalhar muito nova. E aí eu comecei a ganhar o meu dinheiro, para eu comprar as minhas coisas, porque quando eu era criança a minha mãe não tinha condições de nos dar. E aí mudou muita coisa porque aí era o meu dinheiro, era pouquinho mas eu ajudava a minha mãe, eu comprava as minhas coisas.
P/1 – Quando você começou a trabalhar, e qual foi o seu primeiro emprego?
R – Eu comecei a trabalhar, eu deveria ter uns 13 anos, aí eu fui trabalhar de babá, fui ser babá de uma criança. Minha mãe trabalhava na casa de uma moça que era psicóloga e a irmã dela era médica, médica pediatra, estava precisando, e aí a minha mãe falou assim: eu tenho a minha filha que ela não quer mais estudar. Aí eu fui trabalhar na casa dessa moça e trabalhei como babá.
P/1 – Como era trabalhar como babá?
R – Eu era muito nova, mas aí a mãe da dona Neide ficava em casa e me ajudava a tomar conta da menina, que se chama Ana Carolina. E eu gostava de ficar com aquela criança, que ela era boazinha. E eu só cuidava dela só. E era muito bom. Eu dormia lá também. Vinha para casa só nos finais de semana.
P/1 – E o que é que você fazia com o dinheiro que você ganhava?
R – Eu ajudava a minha mãe, e o restante eu comprava, eu era nova, eu comprava roupa, eu pagava as coisas para as minhas colegas, a gente ia para o baile no Renascença, eu pagava a entrada do baile para as minhas colegas.
P/1 – E como é que era esse baile?
R – Era baile de charme, de funk. Era assim. Não tinha, não era essas letras que é hoje. Era bem legal.
P/1 – Como é que era o lugar, as pessoas?
R – Tinha pessoas de várias comunidades da chácara, do Andaraí. Tinha as brigas, porque antigamente tinha o lado B, um lado A., mas assim a gente, eu ia para me divertir com as minhas amigas até porque a minha mãe não deixava eu ficar até o dia amanhecer. Então como eu ia com as minhas vizinhas a gente tinha hora para voltar.
P/1 – Que músicas tocavam, você lembra?
R – Não, eu não lembro, porque era, eu não lembro.
P/1 – E as suas amigas, são as mesmas da infância, que iam com você?
R – Uma é. Ela é minha amiga desde pequenininha, até hoje ela é minha amiga.
P/1 – E que outros trabalhos você fez depois de ser babá?
R – Aí depois eu fui, eu trabalhei, eu fiquei de babá, depois eu trabalhei em uma academia, depois trabalhei em uma casa de família, onde eu trabalhei nessa casa até 13 anos, durante 13 anos eu trabalhei nessa casa.
P/1 – O que é que você fazia lá?
R – Eu era doméstica lá.
P/1 – E como é que era a relação com você, da casa, as pessoas da casa?
R – Era bem problemática, era uma família meia complicada. Tinha uma menina que era doente. Ela gostava muito de mim. Ela chorava para eu não ir embora, mas eu mesma queria sair. Porque era muita briga na casa. Mas eu ainda consegui ficar lá durante 13 anos. Minha patroa também foi uma pessoa muito legal, que me ajudou a construir a casa da minha mãe. E foi bom.
P/1 – O que é que você sente, sempre trabalhando desde cedo, como é que você se sente em relação a isso?
R – Por um lado eu acho que foi bom, por um lado me atrapalhou porque eu parei de estudar.
P/1 – Você conheceu o seu marido onde?
R – Eu conheci o meu marido aqui na comunidade mesmo.
P/1 – Como é que foi?
R – Assim, ele já estava, já me paquerava diz ele, e aí a minha mãe combinou ir até na porta da minha casa, e aí ele ajudava a minha mãe à noite quando ela vinha do serviço com bolsa, aí ele ia levar as bolsas lá na minha casa para a minha mãe. Aí quando a minha mãe chegava eu pedia para ela para ir lá para cima, aí ela deixava e ir um pouco. E foi aí que ele mandou o amigo dele me tocar, se eu queria ficar com ele, aí eu fui e aceitei, e estou com ele até hoje.
P/1 – Quanto tempo faz?
R – Já tem 25 anos que a gente, contando o tempo de morar junto e de namoro, 25 anos.
P/1 – E como é que é a relação de vocês?
R – Bem legal.
P/1 – Você lembra o dia em que vocês foram morar juntos, como é que foi?
R – É eu lembro assim, que a gente morava nesse barraco de estuque, minha mãe foi embora para ser caseira, ela e o meu pai, e aí deixou essa casa para mim, e aí o meu marido foi morar lá comigo nessa casa de estuque. Aí ficamos lá um bom tempo, aí quando eu engravidei da minha primeira filha, quando ela estava com um ano e pouco, a casa era muito velha, aparecia cobra, sapo, aí ele foi e comprou outra casa para gente. Que é onde eu moro hoje.
P/1 – Como era essa casa com cobra, sapo?
R – Aparecia de tudo ali naquela casa, e eu sou muito medrosa. Uma vez a gente estava dormindo apareceu um gambá lá na cozinha. O gambá entrou pelo buraco da telha, e aí foi aquela confusão. Uma vez teve um ataque de formiga, e aparecia o chão, era de barro, aí aparecia sapo, aparecia cobra, lagarto. Tudo no quintal aparecia.
P/1 – E quantos filhos você tem?
R – Eu tenho duas filhas.
P/1 – E o nome delas?
R – A mais velha é Ana Caroline, está com 18 anos, e a caçula é Ana Beatriz com 12 e tenho uma neta.
P/1 – Como é que é ser mãe?
R – Ser mãe. Ser mãe é uma palavra, é muito bom. Minhas filhas são tudo para mim, são minhas amigas. Ser mãe para mim, não sei nem explicar, porque é muito bom.
P/1 – Como é a relação de você com seus filhos?
R – Eu procuro ser amiga delas, converso, embora a mais velha engravidou muito cedo, me deixou muito triste, mas eu faço de tudo para ajudar, oriento elas sobre a vida, porque o meu marido não é muito de falar. É igual ao meu pai. Mas as minhas filhas são muito minhas amigas, e é isso.
P/1 – E agora, como é que é ser avó?
R – Acho que ser avó, eu acho que avó é pior do que mãe, sabe. Porque a minha neta ela é muito amorosa. Ela me ama assim de chorar por causa de mim, eu amo ela, e ela é muito meiga sabe. Eu quero proteger ela, às vezes, penso que ela é minha filha, não filha da minha filha, sabe.
P/1 – E a relação de vocês, com a sua filha, com a sua neta, como é que é?
R – É uma relação saudável. É boa.
P/1 – Quantos anos têm a sua neta?
R – A Gabriela está com, vai fazer três anos.
P/1 – Vocês saem junto, como é que é?
R – Às vezes, saímos.
P/1 – Onde é que vocês vão?
R – Às vezes, a gente vai no shopping, quando eu tenho tempo, que agora eu trabalhado muitos finais de semana, não tenho tempo. Mas, a gente vai ao shopping, vai à casa da minha prima em Jacarepaguá, vai à casa da minha comadre. Já fomos à praia, já fomos à Quinta, já fomos andar de barca. Fomos ver o Cristo, é assim. Na Pizzaria, no Mc Donalds.
P/1 – E nesse sentido assim, do ponto de vista humano, o que é que agregou ser avó, como é que você vê agora o mundo sendo vó?
R – Eu não queria ser avó cedo, mas a Gabriela veio, e não sei te explicar.
P/1 – Com relação ao projeto como é que você ficou sabendo?
R – Eu fiquei sabendo, assim, onde eu moro o povo fala que é uma roça, tudo para chegar lá é difícil. Primeiro tudo passa pelo Borel para depois chegar na Chácara do Céu. Eu vim saber por uma menina que fazia parte também do projeto e ela avisou para mim lá na Igreja, pediu para anunciar, mulheres que queriam ser dona do seu próprio negócio e tal, aí explicou. Aí eu não levei fé como muitas coisas que entram aqui na comunidade, mas é só de boca, aí eu não levei fé. E tem uma vizinha minha que ela me convidou para ir. Vamos Deise, a gente vai ser empresária, tal, vamos ter o nosso próprio negócio, tal, aí eu fui. Aceitei e fui no hotel.
P/1 – Como é que é fazer parte de um projeto de mulheres, como é que você acha, qual é o papel da mulher na sociedade para você?
R – Como assim?
P/1 – Como você acha que a mulher deve agir com relação a isso, com relação ao trabalho, sabe, ela é dona de casa, ela trabalha fora, e ao mesmo tempo os filhos para estudar, como é que você vê a mulher nesse sentido?
R – Eu acho que a mulher tem que fazer isso mesmo, ela tem que ser guerreira, tem que saber administrar, a casa, os filhos, o marido, o trabalho, estudar.
P/1 – E quando você começou a fazer parte do projeto?
R – Desde o começo, desde a ida ao hotel, no hotel São Francisco, e depois fomos para a capacitação, e eu não saí mais.
P/1 – E como é que foram os primeiros dias no projeto para você?
R – Como, como?
P/1 – Como foram os primeiros dias quando você estava na capacitação ainda, tudo o que você achava que seria o projeto, como é que foi?
R – É foi bem, porque a gente pensou em fazer várias coisas. No princípio ia ser uma coisa, depois ia ser outra, depois ia ser outra, até que chegou na casa de festa.
P/1 – Você lembra-se do primeiro dia em que houve um evento, você lembra-se de uma festa. O primeiro dia em que vocês atuaram de fato, a primeira festa que vocês fizeram?
R – É primeira festa foi lá na chácara. Foi lá na chácara.
P/1 – E como é que foi essa festa?
R – Foi o máximo, foi o máximo.
P/1 – O que é que tinha nessa festa?
R – Tinha de tudo na festa. Nós levamos os nossos brinquedos. Nós trabalhamos para caramba, fizemos bolo, salgados, tudo. Foi cansativo, mas foi gratificante porque todas nós queríamos trabalhar para a festa.
P/1 – E que brinquedo foi?
R – Nós temos a cama elástica, nós temos o tobogã, nós temos o pula-pula, temos o tobogã, temos os castelinhos, temos a piscina de bolinha, e temos os aluguéis de mesas e cadeiras também.
P/1 – Qual foi a sensação de ver as crianças se divertindo?
R – A gente se diverte juntinho com eles. A gente se diverte. Eu até dentro da cama elástica já entrei para pular junto com as crianças. E assim, volta a ser criança. Você está ali no meio das crianças, volta a ser criança. É muito bom ficar no meio das crianças.
P/1 – E que sensação que é essa de estar lá, brincar com eles, estar junto brincando, realizando coisas com as crianças?
R – É até coisas que a gente não teve na infância, e aí a gente aproveita ali. Eu volto a ser criança quando eu estou ali, eu volto a ser criança.
P/1 – E você sabe o que é, e o que faz o projeto ser grande festa?
R – O que é?
P/1 – O que é o Celebrando Festas e o que ele faz?
R – Celebrando Festas é uma casa de festa, buffet, onde a gente trabalha com tudo. Com tudo. A gente faz a festa.
P/1 – Como é que você se sente levando alegria para as pessoas?
R – Me sinto muito bem, é muito bom levar alegria.
P/1 – Quais são as atividades realizadas pelo projeto?
R – As atividades?
P/1 – O que é que o projeto faz?
R – A gente trabalha com recreação com recreação.
P/1 – O que você especificamente faz no projeto?
R – Eu, na verdade todas fazem um pouquinho de alguma coisa. Eu na minha comunidade eu divulgo muito. No entanto a maioria das festas são lá mais na Chácara, porque assim, eu falo para todo mundo, que a gente tem uma casa de festas, que a gente trabalha com, todos os nossos brinquedos eu aviso para todas as pessoas. Tem aparecido bastante cliente.
P/1 – E de que forma é feita essa separação do trabalho, quem vai fazer o que, como é que é?
R – É assim, uma está fazendo o docinho, a outra está fazendo salgadinhos junto com a outra, a outra está limpando um brinquedo, a outra está limpando as bolinhas que vão botar na piscina de bolinhas. A outra foi no mercado, entendeu, duas foram ao mercado comprar as coisas que vai ser feito. A outra foi ver a mesa que a gente aluga, é assim, tudo dividido.
P/1 – É você que escolhe essa divisão, que escolhe o que você vai fazer, como é que é isso?
R – Não a gente senta e chega a uma conclusão. Vê o horário, porque tem uma que trabalha, é assim.
P/1 – O projeto é importante para você?
R – É muito importante.
P/1 – Por quê?
R – Porque ele está mudando a minha vida, e para mim é muito importante,
P/1 – O que ele trouxe para você de tão importante?
R – Ah ele mudou, hoje eu tenho o meu trabalho, hoje eu tenho um trabalho. Os finais de semanas eu ficava em casa. Agora não, eu tenho um trabalho, a gente ganhando dinheiro legal.
P/1 – E por que um projeto desse aí é importante para a comunidade, o que é que ele tem, o que é que ele traz para todo mundo de mais importante?
R – Ah ele traz oportunidade, traz oportunidade para as pessoas que não tiveram. Eu acho que é muito importante os projetos que entram dentro da comunidade.
P/1 – E como a sua família e as pessoas com que você se relaciona elas encaram o projeto, elas encaram saber que você é do projeto, que você faz parte?
R – Bom, lá na minha casa todo mundo me apoia. Meu marido, a minha mãe, as minhas filhas, elas falam que eu sou empresária, e a minha mãe também dá uma força. Então todo mundo feliz porque eu queria trabalhar assim, eu queria ter o meu próprio negócio. Não queria mais trabalhar para os outros. Então lá na minha casa todo mundo me apoia. E acha que está dando certo.
P/1 – Como é que é a escolha do tema da festa, como é que é escolhido, a forma que vai ser feita uma festa, como será elaborado o trabalho, como é que isso é feito?
R – Depende do que o cliente pede. É de acordo com o que o cliente pede. Eu quero uma festa da Barbie, e aí a gente vai buscar o tema da Barbie conforme o cliente quer?
P/1 – Como é que é o aprendizado do projeto?
R – Como assim?
P/1 – O que você aprende nele?
R – A gente aprende a trabalhar como, nesse projeto que a gente está hoje, a gente está aprendendo a trabalhar com festa. Então a gente está aprendendo tudo sobre festa. Garçom eu já fiz curso, técnicas de garçom entendeu, e tudo de festa.
P/1 – E como é que é feita essa comercialização dos produtos. A venda da festa, a contratação da festa. Como isso é feito? Por exemplo, eu quero fazer uma festa, como é que eu posso fazer para chegar em vocês e contratar?
R – Você chega até a gente, a gente leva você até a nossa loja, o nosso escritório, e ali a gente mostra nossas fotos, fotos de festas que já fizemos. E ali a gente vai conversar para saber, a gente tem pacote. E é assim.
P/1 – Quais foram os principais desafios que você enfrentou para fazer parte do projeto?
R – Nenhum.
P/1 – Quais são as suas principais motivações? O que te faz abrir os olhos, acordar e querer fazer parte desse projeto, o que te faz ter essa garra para esse projeto?
R – Porque eu acredito que esse projeto vai mudar a minha vida, acredito que ele vai mudar a minha vida.
P/1 – O que é que ele mudou já?
R – Ele me mudou em muitas coisas, porque antes eu ficava em casa, uma pessoa fechada. E hoje não, trabalho com o público, trabalho com pessoas, com criança e ele tem mudado muita coisa na minha vida.
P/1 – E esse trabalho com criança, como você enxerga a criança nesse sentido, trabalhar com ela, por trazer alegria, por trazer a festa, como é que você se vê dentro desse processo? Como você se sente quando você traz a felicidade para uma criança, quando você consegue chegar em uma criança e saber que ela está feliz?
R – Eu fico feliz e, às vezes, tem aquela criança que está ali travada e a gente põe ela lá no pula-pula, a gente anima ela, pega ela no colo. E ela acaba se soltando também e quando você pensa que não, ela está ali sorrindo e a gente fica feliz em ver uma criança sorrindo.
P/1 – E quais foram os maiores feitos, uma coisa que mais te marcou dentro do projeto?
R – Uma coisa que mais me marcou eu acho que foi quando eu fui lá para Petrópolis. Foram todos os empreendimentos e foi bem para mim, foi uma coisa que me marcou eu ter ido lá para Petrópolis.
P/1 – Por que assim, o que é que foi tão diferente para você?
R – Porque lá nós aprendemos muita coisa, aprendemos, a cada dia a gente vai aprendendo um pouquinho. Mas o fato de eu ter saído daqui junto com as minhas sócias foi bem legal, porque a gente não levou filho, não levou marido, só foi mulheres. Para mim foi bem legal.
P/1 – O que você espera alcançar desse projeto ainda?
R – Eu espero alcançar muita coisa. Eu quero crescer. Eu quero aprender com as minhas amigas. Eu quero crescer cada dia mais.
P/1 – O que você acha de ser um grupo de mulheres fazendo esse projeto, o que é que você acha disso?
R – Eu acho legal, eu acho legal ter mulheres trabalhando na própria comunidade.
P/1 – Você acha isso importante para a sociedade brasileira hoje?
R – É.
P/1 – E quais foram as coisas mais importantes para você, para sua vida e do projeto?
R – Para a minha vida, ah não sei.
P/1 – E para o projeto?
R – Para o projeto, eu quero ver o projeto crescer cada dia mais, a cada dia mais.
P/1 – E os seus sonhos, quais são?
R – Os meus sonhos? Os meus sonhos são terminar os meus estudos, sair da comunidade, descer um pouco mais lá para baixo, e poder comprar um carro.
P/1 – Para as pessoas que estão nos assistindo, para as pessoas que vão ver esse vídeo, você pode deixar uma mensagem para elas, tanto para as mulheres, como para a sociedade, para as pessoas que estão lutando por um lugarzinho aí para trabalhar, você poderia deixar um recado?
R – Para eles não desistirem dos sonhos deles. Os sonhos acontecem e pedir para que projetos e projetos entrem nas comunidades porque é muito importante para todas as comunidades, esses projetos.
P/1 – Como é que é o dia-a-dia da comunidade?
R – Hoje, hoje a gente pode dizer que é feliz, feliz, bem feliz.
P/1 – Você tem lembrança de como é que era antes?
R – Tenho, tenho as lembranças de quando tinha os tiroteios. A gente ficava presa dentro de casa com medo. Às vezes a nossa família estava na rua, não podia subir, e a gente não podia descer. A gente ficava presa com medo, com muito medo, mas isso graças à Deus passou e hoje a gente pode dizer que a comunidade voltou a sorrir.
P/1 – Com relação a esse contente da comunidade, qual você acha que é o papel do Celebrando Festas neste movimento?
R – Não entendi.
P/1 – Agora que está calcificado, que é uma outra realidade aqui em cima, qual você acha que é o papel do Celebrando Festas, o que você acha que é o Celebrando Festas hoje na comunidade. O que é que ele significa para as pessoas?
R – O Celebrando Festas ele… ah ele trouxe um… não sei.
P/1 – O que você sente quando você pensa no Celebrando Festas?
R – Eu penso e alegria, penso em alegria, penso em paz.
R – Como foi contar a sua história para gente?
P/1 – Foi bom, foi bom.
R – Como é que você se sente agora dividindo um pouco mais sobre o seu passado, a sua memória, a sua vida?
P/1 – Leve.
R – O que você acha sobre as crianças e como elas pensam sobre o Celebrando Festas?
P/1 – As crianças e a visão que eles têm...
R – Do Celebrando Festas.
P/1 – Todas as crianças ficam pedindo festa. Às vezes eles me param. Você vai fazer na festa? Você vai levar os brinquedos?
R – Como é que você se sente quando elas falam?
P/1 – Eu se pudesse eu faria festa para todas as crianças, se pudesse eu faria festa de graça para ver as crianças felizes.
R – O que é que você acha que é uma festa para essas crianças?
P/1 – É estar com o pula-pula. É levar o pula-pula para as crianças, levar o tobogã, para eles já é uma festa. Eles adoram. Eles veem montar o pula-pula e ficam loucos.
R – Qual é a primeira coisa que você pensa quando vê uma festa montada e as crianças felizes?
P/1 – Eu fico feliz também. Fico feliz. Me sinto satisfeita, realizada. É muito bom.
R – Pensando em toda a sua história de vida, todo o seu passado, todas as suas marcas pela vida, você acha o Celebrando Festas, é um espaço de liberdade?
P/1 – É.
R – Como é que você consegue enxergar essa liberdade do Celebrando Festas?
P/1 – O Celebrando Festas me ajudou a eu me libertar de muitas coisas.
R – Você poderia falar para gente, você pode?
P/1 – Porque antes eu era, eu sou muito tímida, eu não gosto de falar, e depois com o Celebrando, eu mudei, eu tinha uma depressão forte. Hoje eu consigo encarar as coisas do jeito que elas são. Eu consigo sair muito de casa e tudo através do Celebrando Festas. As minhas amigas que me ajudam com uma palavra.
R – E para deixar um recado para todas as suas companheiras do Celebrando Festas, o que é que você poderia falar para elas, uma mensagem?
P/1 – Que eu amo muito elas todas, e que a gente tem que continuar juntas que o Celebrando Festas vai bombar.
[Fim da Entrevista]
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