P/1 – Boa tarde, Edbert! Obrigado por ter aceito o nosso convite. Eu queria que, em primeiro lugar, você dissesse: o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – O meu nome é Edbert Pereira Leite Filho, eu nasci em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, no dia 15 de maio de 1961.
P/1 – O nome do seu pai e da sua mãe, por favor?
R – O nome do meu pai é Edbert Pereira Leite, o nome da minha mãe é Gerda Gumprich.
P/1 – O que o seu pai fazia?
R – O meu pai é aposentado do Banco do Brasil.
P/1 – Ele sempre foi bancário?
R – Sempre foi bancário. Trabalhou sempre no Banco do Brasil, por 30 anos, até se aposentar.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe era dona de casa até o meu pai se aposentar. Quando o meu pai se aposentou ela foi trabalhar na embaixada da Alemanha, substituindo uma pessoa. E aí, foi efetivada e trabalhou lá até se aposentar.
P/1 – O seu pai fazia o que no banco exatamente? A trajetória do seu pai, como ele começou?
R – O meu pai entrou no banco, se eu não me engano, em 1940. Isso! Em 1940. E, de lá pra cá, ele veio pra tomar posse em Brasília, em 1957, no Banco do Brasil, como primeiro funcionário transferido pra Brasília. Foi o meu pai e, ele assumiu, aqui, a tesouraria do Banco do Brasil e, se aposentou, aqui, como fiel tesoureiro, que era o cargo da época, de tesouraria.
P/1 – Os seus avós, você chegou a conhecer?
R – Não, não conheci. É, eu conheci o meu avô paterno, João Pereira Leite. Não conheci a minha avó paterna e nem os meus avós por parte de mãe, que morreram na época da guerra, na Alemanha.
P/1 – Você sabe o nome deles?
R – Não, da minha mãe, do meu...não! O pai da minha mãe é Fritz Gumprich, e da Oma eu não sei, eu chamava de Oma, né, então, que é o jeito da gente chamar. E do meu pai era João Pereira Leite, e da minha avó, por parte de...
Continuar leituraP/1 – Boa tarde, Edbert! Obrigado por ter aceito o nosso convite. Eu queria que, em primeiro lugar, você dissesse: o seu nome completo, o local e a data do seu nascimento.
R – O meu nome é Edbert Pereira Leite Filho, eu nasci em Nova Friburgo, no estado do Rio de Janeiro, no dia 15 de maio de 1961.
P/1 – O nome do seu pai e da sua mãe, por favor?
R – O nome do meu pai é Edbert Pereira Leite, o nome da minha mãe é Gerda Gumprich.
P/1 – O que o seu pai fazia?
R – O meu pai é aposentado do Banco do Brasil.
P/1 – Ele sempre foi bancário?
R – Sempre foi bancário. Trabalhou sempre no Banco do Brasil, por 30 anos, até se aposentar.
P/1 – E a sua mãe?
R – A minha mãe era dona de casa até o meu pai se aposentar. Quando o meu pai se aposentou ela foi trabalhar na embaixada da Alemanha, substituindo uma pessoa. E aí, foi efetivada e trabalhou lá até se aposentar.
P/1 – O seu pai fazia o que no banco exatamente? A trajetória do seu pai, como ele começou?
R – O meu pai entrou no banco, se eu não me engano, em 1940. Isso! Em 1940. E, de lá pra cá, ele veio pra tomar posse em Brasília, em 1957, no Banco do Brasil, como primeiro funcionário transferido pra Brasília. Foi o meu pai e, ele assumiu, aqui, a tesouraria do Banco do Brasil e, se aposentou, aqui, como fiel tesoureiro, que era o cargo da época, de tesouraria.
P/1 – Os seus avós, você chegou a conhecer?
R – Não, não conheci. É, eu conheci o meu avô paterno, João Pereira Leite. Não conheci a minha avó paterna e nem os meus avós por parte de mãe, que morreram na época da guerra, na Alemanha.
P/1 – Você sabe o nome deles?
R – Não, da minha mãe, do meu...não! O pai da minha mãe é Fritz Gumprich, e da Oma eu não sei, eu chamava de Oma, né, então, que é o jeito da gente chamar. E do meu pai era João Pereira Leite, e da minha avó, por parte de pai, eu não lembro.
P/1 – Por parte de pai, você sabe das origens da família? Quer dizer, a sua mãe é alemã?
R – A minha mãe é alemã, sim!
P/1 – E por parte de pai?
R – Não, muito pouco. O meu pai é do Rio de Janeiro, do estado do Rio de Janeiro, e ele foi trabalhar em Nova Friburgo. Ele trabalhou, também, no interior de São Paulo, em Santo Anastácio, e aí, quando surgiu a oportunidade de vir pra Brasília, ele veio pra morar numa chácara, porque aqui não tinha nada, né? A trajetória dele, da parte do meu pai. Antes de ir pro Banco do Brasil eu não conheço a trajetória dele. É, mas depois que ele veio pra Brasília, que eu sei mais, que viemos morar numa chácara e tal, não tinha infraestrutura nenhuma. Então, a gente morava numa chácara. Depois da chácara, fomos morar no Bandeirante, que era a antiga Cidade Livre, o nome, e fomos morar no Núcleo Bandeirante, atrás do Banco do Brasil, num barraco. Lá, que meu pai morava, onde ele abria toda vez a agência do banco, né?
P/1 – Você tem irmãos?
R – Tenho duas irmãs por parte de mãe e pai, e tenho duas do primeiro casamento do meu pai, que uma mora no Rio de Janeiro, outra mora em Fortaleza, e duas moram, aqui, com a gente.
P/1 – E os nomes delas?
R – Uma é Carla Pereira Leite, outra é Sandra Pereira Leite, a outra é Cristina Pereira Leite, e a outra é Elizabeth Pereira Leite.
P/1 – Vamos falar um pouco da sua infância. Como é que era a infância desse garoto de Nova Friburgo?
R – Eu não morei em Nova Friburgo, então, eu só fiz nascer em Nova Friburgo. Com três meses de idade, dois meses de idade, eu vim pra Brasília.
P/1 – Ah, já veio direto pra Brasília?
R – Já. Porque eu só fiz nascer em Nova Friburgo, porque aqui não tinha estrutura, não tinha lugar pra hospital bom. Então, a minha mãe, foi pra Nova Friburgo pra eu nascer lá, porque ela já conhecia, tinha conhecidos lá. Mas eu não conheço não. Eu conheço Nova Friburgo agora, mas não tive infância em Nova Friburgo. A minha infância toda foi em Brasília mesmo.
P/1 – E como foi a sua infância nessa cidade ainda em formação?
R – É, bem bacana, porque a gente sabe o que a gente podia fazer nessa cidade antigamente, que, hoje em dia, não pode se fazer, né? Pegar carona, andar de bicicleta no meio da rua. Eu andava de bicicleta no meio da W Três. Onde têm carros hoje, eu pegava carona nos ônibus, com bicicleta, que, hoje em dia, você não pode fazer isso. E brincava muito na terra. A nossa brincadeira era brincar nas construções de Brasília, né? Então, eram escavações e, nas escavações, a gente ia brincar de lama, porque, na época, era jogar lama um no outro. A nossa brincadeira era essa. Então, sair, ir brincar na rua, a gente só podia brincar na rua até o poste acender. O poste acendia e eu tinha que ir pra casa, porque senão eu apanhava da mãe, né? Era o horário: o poste da rua acendia, era casa.
P/1 – Era o sinal?
R – É. E aí, a gente, tipo, morou… voltando um pouquinho, a gente morava na chácara, era uma chácara boa, que foi construída pelos irmãos da minha mãe, que são marceneiros. Foram os primeiros marceneiros em Brasília. Construíram a Esplanada dos Ministério, essas coisas todas, e eles construíram a nossa chácara também, a sede da chácara, que era a nossa moradia. Lá, tinha, né, uma chácara mesmo, com rio, com um lago e tal. E, depois, fomos morar no Núcleo Bandeirante. Logo depois, fomos morar na 114 Sul, que foi o primeiro edifício do Banco do Brasil feito em Brasília, a primeira quadra na 114 Sul. De lá, meu pai e minha mãe não gostaram do apartamento, de morar em apartamento, que era sexto andar, muito alto. Então, trocaram logo que foi construído a 714 Sul, que era uma quadra residencial do Banco do Brasil, mas de casas, e trocaram o apartamento pela casa. Aí, o meu pai comprou essa casa na 714 pelo banco, onde a minha mãe mora até hoje, né? Aí, ali, a nossa infância era na rua brincando a pé, brincando de pique-esconde, brincando de, é, de sair na rua sem, né? Era uma coisa que a gente podia fazer, hoje em dia, é mais difícil você ficar na rua, ali, até mais tarde e tal. Até, que nessa quadra da minha mãe é tranquilo, a 714 ainda é tranquila, mas a gente podia fazer bastante coisa, era muito bom.
P/1 – Era uma espécie, assim, de tradução da liberdade?
R – Era, era! Sabe, Brasília, com 20 anos de idade, é, era, assim, todo mundo se conhecia, hoje em dia, ainda, eu passo na rua e cumprimento muitas pessoas, né? Então, todo mundo se conhecia. Com 16 anos, 15 anos de idade, eu tinha uma turma que chamava a Turma de Bicicletas, então, a gente saía pra todos os lugares de bicicleta, todos os lugares! Ia pra festa de 15 anos de bicicleta, ia pra clube de bicicleta, ia pra qualquer lugar. Nós tínhamos as nossas bicicletas e nós íamos de bicicleta, e não roubavam, não mexiam nas nossas bicicletas, nada, né? Hoje em dia, você não. A gente ia de terno e gravata pra festa de 15 anos, né? [Risos] Botava os meninos de terno e gravata pra ir pra festa, né? Então, tinha uma liberdade, era uma boa liberdade.
P/1 – E a sua escola, a sua primeira escola?
R – A primeira escola foi… como é que era, não era o Notre Dame, era? Era a escola do Frei Lamberto… eu não lembro. Eu lembro do nome Frei Lamberto, eu não lembro o nome da escola. Ela ainda existe, ela fica na 912 Sul… eu não lembro o nome dela, mas o padre... era uma escola de padres, era do Frei Lamberto, né, eu era… quando eu era bem novinho mesmo, né, então, eu estudei lá. Depois dela, depois dessa escola, aí, eu fui pro Notre Dame, que era outra escola, era uma escola pública. Mas no ginásio, eu fui pra, é, Escola Planalto, o Colégio Planalto de Brasília, que era uma das primeiras particulares de Brasília, que era da Dona Geosma e o… eu esqueci o nome do outro.
P/1 – Nesse período, algum professor ou professora te marcou?
R – Ah, não! Assim, eu lembro de quase todos, né? Eu lembro que tinha uma professora de português… eu não lembro o nome dela... é, professora de inglês, que ela era a filha do dono da escola, tinha… ah, não lembro dos professores todos... tinha o de educação física e tal, mas...
P/1 – Você gostava de estudar, era um bom aluno?
R – Não, não, eu nunca fui bom aluno. Eu fui médio. Não é que fui péssimo aluno, mas também não era um aluno de tirar dez em tudo, não!
P/1 – Mas pedalava bem, né?
R – Eu estudava. Fazia, passava de ano, né?
P/2 – O que você mais gostava, de que matéria?
R – Ah, eu gostava de, na época do ginásio? No ginásio, eu acho que eu gostava de geografia, acho que era mais de geografia, sabe? É, era uma matéria que eu gostava de explorar, ver cidades, e mundo, ver onde é que estão os lugares no mundo. Acho que a que eu mais gostava era essa.
P/1 – Essa relação com os seus amigos, com o seu grupo de amigos, era muito facilitada ou dificultada pela amplidão da cidade?
R – Nessa época? Não, era facilitada! A gente, é, esse meu grupo de amigos que eu andava de bicicleta, a gente era muito unido, muito unido mesmo, em todo lugar a gente ia. Éramos tão unidos que, é, a minha mãe costumava fazer bolos em casa, não é? Ela como alemã, né, fazia muito bolo e, tinha um bolo de uma semente, que ela fazia, que tinha que moer essa semente, eu só podia sair depois de moer essa semente. Então, os meus amigos, iam comigo moer essa semente, pra eu poder sair, né? [Risos]
P/1 – Que bolo que era esse?
R – É bolo de semente de papoula, que ela fazia. Então, tinha que moer aquelas sementes pra virar uma papa, e era na mão mesmo, não tinha máquina, como hoje em dia, de triturar, né? E aí, os amigos iam lá pra casa me ajudar pra gente poder sair mais cedo, e aproveitava e comia o bolo também, né?
P/1 – E que tipo de divertimento vocês tinham, fora os bailes, que tipo de divertimento vocês tinham?
R – Olha, na época de criança, antes da bicicleta, né, que era só, ali, na rua, era pique-esconde, era brincadeira de menino mesmo, bolinha de gude, finca, é... pique-esconde eu já falei... essas brincadeiras de criança mesmo, de ficar, ali, na rua e, depois da bicicleta, né, veio bicicleta mesmo, que saía, era brincadeira de sair. Viajamos, até, de bicicleta, falava que era viagem. 50 quilômetros, era uma viagem, né? A gente menino, 15 anos, 14 anos pegávamos a bicicleta e saíamos na estrada, era uma viagem, né? Então, ia, viajava, voltava.
P/1 – E era uma paisagem muito diferente dessa que a gente vê hoje?
R – Brasília, com certeza! Eram prédios construindo, era casa construindo, é, barro, terra. É, em Brasília a terra é vermelha, então, coitada da mão da mãe que tinha que lavar essa roupa da gente, que era terra vermelha mesmo, né?
P/1 – E a vegetação, como é que era o seu olhar sobre a vegetação do cerrado?
R – A gente gostava de sair pra colher o cajuzinho, que era. O cajuzinho, era quando dá sempre a primeira chuva, depois da seca. Em Brasília têm uns seis meses de seca e uns três meses de chuva, nessa primeira chuva a gente saía pra catar o cajuzinho, que é típico, aqui, do cerrado, né? É, e pequi, que tinha pequi do cerrado, né? Essa era a vegetação nossa, aqui, o que a gente olhava, o que a gente via era isso, era cajuzinho, árvore de pequi, né, tinha. E bem seco, e tudo bem, a árvore bem seca, né?
P/1 – Vocês catavam os frutos pra que fim?
R – Comia! Pra comer mesmo.
P/1 – Ali mesmo ou levava pra casa?
R – Levava pra casa! Levava pra casa, comia em casa, fazia um piquenique, lá, no meio do mato mesmo. Antigamente, não tinha tanta construção, então, quando a gente saía de bicicleta pro mato, o mato era a dois quilômetro da nossa casa, né, dois, três quilômetro do centro da cidade já era mato, no máximo três quilômetros. O parque da cidade mesmo era mato, mato puro. Hoje em dia, não, é um parque e, era bem pertinho de casa, a gente saía pro mato a um quilômetro, dois quilômetros, né?
P/1 – Você não é brasiliense por acidente, então?
R – Só por acidente. Só, porque não tinha hospital bom aqui mesmo.
P/1 – E a continuidade dos seus estudos, foi toda aqui em Brasília?
R – Tudo aqui. Eu acabei o ginásio, né, e aí, fui trabalhar, parei e fui trabalhar. E aí, não fiz faculdade, fui fazer a minha faculdade bem tarde, com 37 anos. Aí, fiz a faculdade de Publicidade e Propaganda.
P/1 – O seu pai, quer dizer, pioneiro do jeito que ele foi, o que isso determinou na vida dele, quer dizer, evidentemente que você só foi olhar sobre isso depois dele estar há muito tempo em Brasília. Você nasceu em 61, mas como é que isso funcionou na cabeça do seu pai, quer dizer, vir pra um lugar inóspito, Planalto Central, sozinho?
R – É, isso foi uma idéia do pai dele, né, o pai do meu pai, o meu avô João. Foi ele que falou: “Olha, estão construindo uma cidade, vai ser a capital, eu acho que é a sua oportunidade, é a oportunidade da sua vida. Vai pra lá, vai trabalhar lá, que lá vai ter oportunidade de emprego, você vai poder criar a sua família lá”. E ele veio, ele aceitou a idéia do pai dele e veio pra cá. Veio sozinho a princípio e, depois, é que ele mandou o telegrama pra minha mãe e tal, falando que poderia vir que ele já tinha arrumado onde morar, onde ficar.
P/2 – O que ela achou disso tudo?
R – A mãe? Ela primeiro ficou meio assustada. Ela falou assim: “O que é que tem aí, né?”. Ele falou assim: “Não, não tem nada, né? Aqui não tem nada” “Mas não tem uma cidade?” “Não, não tem cidade! Não tem cidade aqui, nós vamos morar no mato, numa chácara primeiro, que eu arrumei e, depois, a gente vai construindo a nossa casa e tal”. E ela veio, ela topou a idéia de vir e veio pra Brasília. Ele veio em 1957… 1957 ou 1956, acho que em 1957, é! E aí, depois, chamou ela pra vir, depois de um mês, dois meses… não sei quanto tempo, chamou pra vir morar aqui.
P/1 – Mais tarde, o que o seu pai contava do trabalho dele aqui, o que ele veio fazer?
R – Ele veio só pro Banco do Brasil, ele já era funcionário do Banco do Brasil. Então, ele veio transferido pra Brasília, ele veio trabalhar, veio ser funcionário do Banco do Brasil mesmo. Ele botou na cabeça dele que a carreira dele era ser bancário mesmo. É, e trouxe a minha mãe pra morar, mas a minha mãe não trabalhava, né? Então, a idéia dele era ser bancário.
P/1 – Mas o seu pai fazia o quê? Que responsabilidades ele tinha nessa época?
R – Ele era fiel tesoureiro. Ele tomava conta da tesouraria do Banco do Brasil, ele tomava conta do dinheiro do Banco do Brasil.
P/1 – Que era usado pra quê? Pra pagamento?
R – Pra pagamento dos peões das obras. Todo mundo tirava dinheiro lá, ele tomava conta dessa área, ele que administrava o dinheiro do caixa forte do Banco do Brasil.
P/1 – Era um grupo grande, pequeno? Ele chegava a comentar isso com você?
R – Pequeno, pequeno! Ele foi o primeiro funcionário, né, transferido. Tinham outras pessoas que trabalhavam no Banco do Brasil, só que eram adidos do Banco do Brasil, eles eram emprestados, depois é que vieram a tomar posse, ficando, é, efetivando mesmo aqui em Brasília. Mas eu acredito que no começo tinham uns cinco funcionários, né, e aí, foi crescendo, e aí, na medida do...
P/1 – E era um caixa forte, assim, literalmente?
R – Não, era um barraco! O primeiro, era um barraco! Era uma agência de madeira feita lá no Núcleo Bandeirante, na Cidade Livre, e que eles moravam nos fundos dessa agência, né? E ele que abria, todo dia de manhã ele ia, lá, e abria a agência, né?
P/1 – Pensava-se em segurança nessa época?
R – Todo mundo andava armado nessa época, né? Numa terra de ninguém. Então, a cidade toda andava. Parecia um faroeste, né? [Risos] Segurança, ninguém roubava, não tinha assalto. Só teve um caso, que meu pai estava dormindo, e ele ouviu um barulho na agência de madrugada, e ele foi lá ver o que estava acontecendo. Quando chegou lá, ele se deparou com o nosso tio, que era tio por afinidade, que foi o primeiro presidente da AABB [Associação Atlética do Banco do Brasil?], do clube da AABB em Brasília. Ele tinha 230 quilos, mais ou menos, ele estava sentado em cima do ladrão. Ele viu o ladrão entrando na agência e ele sentou em cima do ladrão e deixou o ladrão, é, gritar, enquanto o ladrão gritava o meu pai foi, lá, e pegou o ladrão e botaram ele na cadeia, mas o tio Bele sentou em cima dele.
P/1 – Essa é uma arma poderosa, né?
R – É, era a única arma. [Risos]
P/1 – O seu pai chegou a descrever como era essa agência, assim, fisicamente como é que ela era?
R – Não, eu só sei que era de madeira mesmo, um barraco de madeira! Assim, fisicamente tinha uma, duas portas, a frente dela eu… eu sei que tinha uma placa, tinha a fachada Banco do Brasil, mas, assim, como era lá dentro eu não me lembro.
P/1 – Nessa casa que ficava atrás da agência, você chegou a morar lá?
R – Eu cheguei a morar, só não me lembro, porque eu era muito pequeno, mas eu sei que nesse barraco... primeiro, só moravam a minha mãe, o meu pai e nós três, né, eu e minhas duas irmãs. E com o tempo, a minha mãe queria chamar os irmãos dela pra vir morar em Brasília também, porque vieram os três da Alemanha, né, a minha mãe e os dois irmãos dela, aí, meu pai falou: “Não, pode trazer que a gente divide o barraco”. Só, que era um barraco de um cômodo só, né? Então, eles botavam, é, lençol, pra dividir os cômodos, né? Então, dividiu os cômodos, dividiram, em três e eles moraram juntos, lá, um tempo. Um barraquinho pequenininho mesmo, faziam comida no chão.
P/1 – O seu pai comentava sobre esse pioneirismo, como era a relação dele com esse tipo de experiência?
R – Ele tinha muito orgulho. É, o orgulho dele era de ter vindo pra Brasília e ter conseguido ficar em Brasília naquela época, que era muito difícil, né? Como é que a pessoa vai ficar numa cidade dessa? Se não tem nada, só terra, terra! Construções, construções! Então, ele tinha muito orgulho disso, e orgulho de ser funcionário do Banco do Brasil. Eu acho que quando eu entrei no Banco do Brasil, eu acho que o maior orgulho dele foi esse, de eu ter entrado também pro Banco do Brasil, né? Que me orgulhou muito também! Mas pra ele era uma...
P/1 – Ele chegou a relatar algum tipo de dificuldade grande pela qual tenha passado?
R – Não, não! Meu pai era um cara muito centrado, muito seguro de si, então, ele tinha... Nunca guardou dinheiro, meu pai nunca guardou dinheiro, ele podia ter uma fortuna boa aqui em Brasília, ter um bom dinheiro aqui em Brasília, mas não era a idéia dele, a idéia dele era viver mesmo, então, o que ele fez? Ele comprou a casa dele na 714, comprou dois carros e a chácara. E o resto do dinheiro ele viajava! Ele e a minha mãe sempre viajavam, sempre saíam com a gente, todo ano, 30 dias de férias, era sagrado, botava a gente dentro de uma Kombi e iam pro nordeste, é, indo pras praias sempre. A idéia dele era essa, não precisava guardar dinheiro.
P/1 – Essas viagens, a origem era Brasília, dessas viagens?
R – Sempre, sempre!
P/1 – Como eram essas viagens?
R – Ele sempre levava muita gente, né? Era eu, ele, minha mãe, minhas duas irmãs e, sempre dois primos juntos... um primo. É, ia todo mundo numa Kombi, né, ele tinha uma Kombi, e uma Kombi bonita e tal. E sempre ia acampando, sempre acampava, botava as barracas dentro do carro e iam nordeste afora, aí, até Fortaleza, ia até Salvador, e acampando. Acampava na beira do lago aqui. A gente ia pra beira do lago fazer piquenique, né, era a diversão deles. Na época, a minha mãe conta que saía no final de semana pra um piquenique, né, e iam pra beira do lago, ficavam lá fazendo churrasco na beira do lago, tinha um riozinho perto e tal. E tem uma história que ela conta, que eles botaram a garrafa de pinga ou não sei de que pra… de vodka ou alguma bebida pra gelar no rio, e aí, quando viu a garrafa estava indo embora, um foi lá e pegou a garrafa, mas quando viu só tinha metade da garrafa, que o resto já tinha ido embora, né? Então, a diversão deles era essa aí, fazer piquenique na beira do lago aqui, do Lago Paranoá.
P/1 – E essas viagens longas, as estradas não eram exatamente autopistas, né?
R – Não, mas tranquilo. É, uma Kombi não desenvolve uma velocidade tão grande, né? Na época, não tinha motor mil, era até 1300, se não me engano. Então, era dois, três dias viajando até chegar numa praia... quatro dias! É, pra você ter uma idéia, na época que ele veio, que estava só ele, ele demorou dois dias pra ir até Goiânia, que são 200 quilômetros daqui. Ele demorou dois dias no Jipe, era só na estrada de terra. Mas depois que nós saímos pra viajar, que ele saía com os filhos, já era um pouco mais desenvolvido, mas também eram dois, três dias pra você chegar numa praia, três dias aí, né? Mas ele sempre andou devagarzinho, ele nunca...
P/1 – O garoto Edbert devia achar isso ótimo, né?
R – Ah, ótimo, né? Sempre tinha um dormindo lá atrás, no fundo da Kombi. É, meu pai virava os dois bancos da Kombi e, no chão, virava cama pra todo mundo, então, os meninos, todo mundo dormia na... Era muito bom, eram umas viagens boas.
P/1 – E a conversa do teu pai nesses trajetos, assim, como é que ele era nesse tipo de relação, ele era mais relaxado, ele era divertido, era uma pessoa séria?
R – Meu pai era sério, meu pai era um cara muito sério, acho que o contrário de mim, eu brinco bastante e tal, mas o meu pai era um cara muito sério, ele brincava assim, mas sempre comedido, sabe? E bem sério, não gostava de piadas fortes e tal. Na mesa todo mundo de camisa, sem boné, todo mundo almoçando junto, no horário, ao meio-dia todo mundo almoçando, e, sabe, era um cara sério, mas tranquilo.
P/1 – Mais metódico, né?
R – É, é!
P/1 – E aí, o seu pai, depois desse período heróico, digamos assim, ele continuou no banco até se aposentar, que responsabilidades ele teve nessa trajetória, ele continuou como tesoureiro, como fiel tesoureiro?
R – É, meu pai, ele se aposentou como fiel tesoureiro em 1970. Em 1970 ele comprou uma caminhonete, que era uma Veraneio na época, né, e mais quatro amigos e foram ver a Copa do México em 1970, de carro. Demoraram um mês daqui até lá, né, um mês de viagem, 30 dias exatos. Chegaram lá no primeiro jogo do Brasil na Copa. E aí, passaram, lá, 30 dias, viram a Copa toda e tal, depois, botaram o carro num navio e voltaram pra Brasília. Nessa volta, ele ainda trabalhou, parece, um mês em um órgão do governo, que eu não me lembro qual. E aí, ele desistiu, ele falou: “Não, eu já trabalhei demais na minha vida”. E daí pra frente só foi viajar, só fez viajar, depois de mais de 30 anos, aposentado, ele só fez viajar, viajava o mundo todo, de dois em dois anos ele viajava, juntava dinheiro, aí, dois anos fazia uma viagens. Gostava de pescar, fazia umas viagens pelo Brasil, pros rios, e de dois em dois anos ele ia pra fora do Brasil conhecer outros países. E conheceu, aí, o mundo todo sem falar uma palavra de inglês ou alemão ou qualquer coisa.
P/1 – Ele e sua mãe?
R – Só ele! Porque quando ele aposentou a minha mãe começou a trabalhar. É, e aí, a minha mãe não podia sair.
P/1 – E o que a sua mãe fazia na embaixada?
R – Era telefonista, era telefonista da embaixada alemã. Ela foi, lá, só pra substituir uma pessoa por um mês de férias e acabou sendo contratada, ficou lá até se aposentar.
P/1 – O seu pai era um sujeito atilado, hein?
R – É, ele era um cara. Sabe, que... primeiro, que ele não juntou dinheiro pra juntar fortuna, que ele sempre achou que não precisava disso, ninguém precisa de fortuna pra viver. Precisa viver bem, tranquilo! Então, ele com 30 anos de banco se aposentou, foi fazer essa viagem que era o sonho deles, lá, dos amigos. Pro México! Depois, tentou ainda trabalhar um mês num órgão, e não trabalhou, e aí, só ficou viajando, só passeando.
P/1 – E a tua relação com o banco, ela foi muito estimulada pela história do seu pai ou você também se sentiu...
R – Bastante! Eu fui muito estimulado pelo meu pai, meu pai sempre quis. Eu trabalhei... é... o meu primeiro emprego foi numa loja de eletrodomésticos. Eletrodomésticos, não! De luminárias, eletrônicos e tal. Aí, eu fiquei só um mês lá, briguei com o dono, que eu era novo, tinha uns 16 anos, 17 anos.
P/1 – Fazendo o quê?
R – Balconista, era balconista. Depois disso, fui trabalhar temporário numa loja de roupa, como vendedor de roupa, de jeans, numa loja de jeans. Depois, fui pro cartório, que, aí, eu trabalhei um ano nesse cartório, do primeiro Ofício de Registro de Imóveis, eu era datilógrafo. E aí, depois desse ano, eu fui pro Banco do Brasil.
P/1 – Como é que você decidiu fazer o concurso?
R – É, eu fiz um concurso pra contínuo do Banco do Brasil, porque abriu a inscrição e meu pai falou assim: “Não, vai lá fazer, vai lá”. E fomos lá fazer, passamos, e aí, eu fiquei, não sei quanto tempo, eu não me lembro quanto tempo, de contínuo. Aí, eu fiz o concurso interno do Banco do Brasil e passe. E hoje...
P/1 – Essa aprovação foi uma coisa que significou muito pra você ou foi apenas uma satisfação ao seu pai?
R – A primeira, foi mais uma satisfação pro meu pai, quando eu entrei como carreira de apoio. Agora, a segunda, quando eu passei no concurso interno, foi uma satisfação minha, porque eu pensava que eu não tinha capacidade pra passar naquele concurso, né?
P/2 – Pra que era o concurso?
R – Era pra carreira mesmo do banco, de carreira efetiva do banco, de escriturário. Eu acho que na época era escriturário. E aí, eu passei nesse concurso. Então, pra mim foi bacana, porque eu estudei muito, sabe, na época? E tinha um chefe nosso, lá, que deu muita força pra gente, pra mim e para uns outros amigos meus que faziam na época. Ele liberava a gente duas horas mais cedo do serviço, deu uma sala só pra gente estudar dentro do Banco do Brasil, então, a gente ficava, lá, o tempo todo estudando.
P/1 – Em que local era isso?
R – Era no Edifício Sede I do Banco do Brasil. Eu trabalhava, acho, que no décimo sexto ou décimo quinto, eles cederam uma sala pra gente no segundo subsolo.
P/1 – E quais eram as suas funções e responsabilidades nesse momento?
R – Eu era contínuo: levava papel, trazia papel. Era cargo de contínuo mesmo, de levar papel para um lado e para o outro.
P/1 – E depois que passou no concurso interno?
R – É, aí, eu fui ser escriturário.
P/1 – Em que seção?
R – É, eu trabalhei num departamento do banco que era de patrimônios do banco, cuidava dos prédios do banco, administração predial, né? Então a gente… esse prédio mesmo que nós estamos aqui, eu vi ele nascendo. Eu vi esse prédio sendo construído… que eu vim pra cá pra tomar conta dos móveis do banco, pra mobiliar o prédio, trazer os móveis de um lugar pra cá e ver aonde que colocava, né?
P/1 – E a sua trajetória no banco foi sempre aqui em Brasília?
R – Sempre em Brasília, eu nunca saí de Brasília, sempre aqui!
P/1 – Você lembra o que você fez com o seu primeiro salário, quando você recebeu o seu primeiro salário?
R – Não lembro. Não, não lembro! Mas deve ter ido tudo pro ralo, né? Assim, eu não investi em nada, com certeza eu não investi.
P/1 – E como era esse ambiente naquele momento, o ambiente de trabalho, os seus colegas de trabalho, como é que isso era nesse momento, nos seus primeiros meses dentro do banco?
R – Ah, bom! É, assim, a gente sempre entra um pouquinho inseguro, né? Eu só tinha trabalhado um mês no cartório. Um mês, desculpe! Um ano no cartório. E aí, pra você ir num emprego como o Banco do Brasil você já chega meio assim: “Como é que vai ser, né? Como é que vai ser esse primeiro emprego?”. Porque era quase o primeiro emprego. Só um ano que eu tinha no outro. Mas fui muito bem recebido, tinham pessoas muito acolhedoras no setor onde eu comecei a trabalhar, que era a Detec [Departamento Técnico da Área de Crédito Geral], era Diban [Diretoria de Crédito Geral, Captação e Serviços Bancários] Detec o nome do departamento.
P/1 – O que significa?
R – Ah, Diban, não lembro! Diretoria, eu não lembro!
P/1 – E Detec?
R – É Departamento Técnico alguma coisa. E tinha mais uma sigla chamada (EDIBRA?), que eu também não lembro como é que é. Tinha até uma brincadeira, que o pessoal ligava pra lá procurando a Dona Edibra, se ela estava ou não, e não tinha ninguém lá, assim, com esse nome. Mas, é, o pessoal é muito acolhedor sempre, até hoje, nos lugares que eu trabalhei, em todos os lugares que eu trabalhei no Banco do Brasil fui muito bem recebido! Muito bem recebido, muito bem tratado em todos eles.
P/2 – E as pessoas lembravam do seu pai ou chegou um momento que você conseguiu desvincular?
R – Quando eu tomei posse no Banco do Brasil, eles confundiram a minha conta com a conta do meu pai, a minha matrícula com a matrícula do meu pai, que era o mesmo nome! E aí, eles confundiram um monte de coisas lá de matrícula e tudo, mas isso, com o tempo, foi dividindo, né, e não teve mais problema, não!
P/1 – Você encontrou muita gente que lembrava do seu pai?
R – Encontrei! Encontrei bastante gente que depois, porque o meu pai se aposentou e muita gente ainda ficou, né? E aí, o pessoal falava: “Ah, o filho do Edbert, o filho do Edbert!”. Então, é, muita gente tinha... Hoje em dia, não, né? Hoje em dia, todos que conheciam o meu pai já se aposentaram também, mas até dez anos de banco, que eu tinha, todo mundo conhecia.
P/1 – É, mas o seu pai tem uma marca que é única, isso ninguém tira dele!
R – É, é! Não, essa, não! [Risos]
P/1 – E foi nesse momento do banco que você decidiu fazer o seu curso de Publicidade e Propaganda?
R – Eu decidi fazer... Eu trabalhava numa área de seguros do banco, no UEN [Unidade Estratégica de Negócios] Seguridade. Bem, não fui eu quem decidi, quem decidiu foi o meu chefe, né? É, ele decidiu por mim, ele me falou: “Você tem seis meses pra passar na universidade e cursar o curso que você quiser, mas você tem seis meses, senão você está fora da minha diretoria”. Falei: “Sim, senhor!”. E no outro dia eu fiz a inscrição e, depois, eu passei na faculdade e fiz Publicidade e Propaganda.
P/1 – Onde?
R – Na Unip [Universidade Paulista]. É, Unip/Cesubra [Centro de Ensino Superior de Brasília], né? E aí, eu fiz essa faculdade, que era uma coisa que eu queria, que eu gostava, Publicidade e Propaganda. E aí, acabou essa unidade onde eu trabalhava e, como eu já estava cursando Publicidade e Propaganda e, eu sabia que tinham duas vagas na diretoria de marketing, eu pedi que me colocassem nessa área, porque a área que eu trabalhava, que era o Uen Seguridade tinha acabado. Eu falei assim: “Não, eu quero trabalhar na diretoria de marketing, vê se consegue me colocar lá”. E aí, eles conseguiram. Realocaram todos os funcionários, né, porque era uma diretoria, mas, é, em cada lugar do banco tinha um pouco de vagas e foram realocando os funcionários.
P/1 – Só um detalhe, como é que se chamava esse departamento que terminou?
R – Uen Seguridade?, Unidade de Negócios em Seguridade. Já tem hoje de novo, ele existe!
P/1 – Nesses primeiros momentos nessa área de marketing, o que lhe pareceu o trabalho e, o que você foi fazer especificamente?
R – É, eu comecei a trabalhar na diretoria de marketing num… eu já trabalhei em quase todos os departamentos lá dentro, né? Mas comecei com patrocínios, é, patrocínios institucionais e tudo, então, a gente fazia análise de patrocínios. Aí, fiquei bastante tempo lá, uns dois anos. Depois, fui pro cultural, eu fui trabalhar no departamento cultural da diretoria de marketing, e fiquei por uns três anos nesse setor, e comandei lá, fiz lá o circuito cultural do Banco do Brasil, bastante evento cultural, shows e, enfim, toda a área cultural. Todos os patrocínios culturais passavam pelo nossa divisão lá e, a gente administrava isso e fazia. Depois daí, do cultural, eu voltei para patrocínios institucionais e eu estou até hoje neles.
P/1 – Como você avalia essa presença do banco nesse tipo de ação, quer dizer, de estimular a cultura, de patrocinar atletas, quer dizer, de ter uma inserção maior junto a um público e, não necessariamente ao cliente do banco... ele tem uma presença mais ampliada. Como é que você avalia isso, que importância isso tem?
R – É, da cultura eu acho, assim, fundamental, né, o banco patrocinar a cultura. Eu acho fundamental, tem que ter, você tem que patrocinar a cultura, você tem que ajudar as pessoas, que de uma forma ou de outra elas estão passando isso pra outras pessoas, e não tem recurso pra isso. Eu acho que tendo o recurso, a gente como patrocinador, da pra ajudar essa pessoa que desenvolve esse produto a mostrar pra outras pessoas, culturalmente, né, seja no cinema, seja no teatro, numa peça, livros. Apesar, que a gente não patrocina livro, tem uma premissa de não patrocinar livro, edições de livro, mas tudo que é cultura eu acho louvável.
P/1 – E existe um critério de escolhas, como é que se dá esse tipo de apoio, e como é que eles são escolhidos e decididos?
R – Hoje em dia, todos os patrocínios lá da diretoria de marketing eles entram através da Internet num período pré-fixado. Esse ano começou em maio e terminou em julho, todos são inscritos pela Internet e são avaliados por uma equipe técnica de patrocínios nossa, lá da diretoria, né? Esse ano, entraram três mil projetos novos pra analisar pra 2009, então, nós vamos analisar esses três mil projetos, é, pra entrar no (PAC?) de 2009, para os patrocínios de 2009.
P/1 – E quais são os critérios que são usados para essa análise?
R – Ah, vai das premissas do banco, né, de sustentabilidade, vai de… O esporte nós já temos. Que a gente patrocina vôlei, a vela, né? Têm outras agora que eu não estou lembrando.
P/1 – O que isso significa pro banco, assim, do ponto de vista do retorno de imagem, como isso é mensurado?
R – É, não tem uma mensuração, hoje, física disso, isso está sendo providenciado.
P/1 – Mas o teu feeling indica o quê? Isso faz bem pro banco?
R – Sim, sim, faz! Faz muito bem pro banco, a gente vê as pessoas comentando. A gente vê as pessoas comentando do vôlei, a gente vê as pessoas comentando da cultura: “O banco patrocinou a cultura. O banco patrocinou...” Tem o Centro Cultural do Banco do Brasil, a gente ouve muito falar, as pessoas falam: “Ah, só passam peças boas no Centro Cultural do Banco do Brasil”. Então, você vê que isso dá um retorno, sendo de imagens, sendo de recursos e tudo, mas dá uma imagem, dá um retorno pro Banco do Brasil.
P/1 – Tem a ver um pouco também com uma preocupação de inserção comunitária do banco, você avalia assim, quer dizer, há uma presença maior do que aquela apenas limitada pelo negócio, né, ela tem uma presença mais ampliada do que o negócio?
R – Sim, sim! Não é tanto o negócio, né? É claro que o negócio faz parte de patrocínio, é lógico, né, um negócio também. Mas é muito mais do que isso, é a cultura, é você desenvolver um país, né?
P/1 – Nessa sua relação profissional, você escuta, têm retornos, quer dizer, têm episódios de pessoas ou de instituições que reagem a essa atividade, a essa ação do banco de uma forma que te chame a atenção?
R – Tem, assim, eu ouço na rua das pessoas, né? Quando eu falo: “Ah, eu trabalho na área de marketing do banco” “Ah, que bacana! Eu vejo isso, eu vejo aquilo do banco, que eu vou ao Centro Cultural do Banco do Brasil. É bacana, os filmes que passam lá são bons”. Né, ou então: “Eu vejo muito o vôlei. Pô, o vôlei! Estão patrocinando de novo o vôlei, que parceria boa que vocês fazem”. Então, a gente vê.
P/1 – Tem algum caso interessante, assim, que você se lembre do teu trabalho nesse processo todo de estimular patrocínios, estimular produção?
R – Tem! Tem um caso bacana de cultura, né? Eu fazia o, eu trabalhava com o circuito cultural e, a gente fazia uma itinerância com o circuito cultural no Brasil todo, tinham cidades que não dava pra gente levar a estrutura inteira, então, a gente fazia só uma peça de teatro ou um filme, né? Numa praça, botava filme na praça pra todo mundo ver. Na ocasião, nós fizemos uma peça de teatro em Belém, em Belém do Pará, só que foi dentro do presídio, né, de Belém do Pará, pros presos, né? E nisso, nós fomos pra lá, pegamos autorização e tudo, e estávamos, lá, passando o filme, os 200 presos, lá, sentados. Estava passando um filme! Uma peça de teatro sendo passada lá e começou a chover, em Belém chove quase todo dia, né? Então, foi aquela correria, todo mundo correndo, e eu e um colega: “Vamos correr! Vamos correr! Vamos embora, a chuva, a chuva!”. E todo mundo foi para um canto e nós fomos junto. E aí, entrou todo mundo numa cela e nós entramos junto. Mas naquela cela só podia entrar os presos, né? Então, tinham 200 presos e nós dois dentro da cela. Aí, eu olhei pra ele, falei assim: “Olha, eu não estou vendo ninguém mais aqui dentro, só preso e nós dois”. Aí, ele falou assim: “É”. E eu estava de terno, ele falou assim: “É, o primeiro que eles pegam é o de terno”. Aí, o guarda viu e tirou a gente de lá, rápido, né? Mas foi um risco, assim, uma coisa meio arriscada, mas bacana, porque, é, tinham presos lá que passavam pela gente e falavam assim: “Rapaz, eu nunca vi isso na minha vida. Eu nunca vi uma peça de teatro na minha vida. Foi a primeira vez que eu vi uma encenação de alguma coisa na minha vida”. Então, a gente fica naquela: “Ah, estão presos, deixa preso”. Eu tenho. Até eu falo isso também, mas quando você vai lá e vê a situação que eles vivem, tá, eles têm que pagar pelo que fizeram, mas eu acho que também merecem um negócio desse. Sabe, você está levando uma cultura pra uma pessoa que nunca viu uma peça de teatro, nunca viu uma encenação de nada na vida. Então, é bacana, é um negócio bacana que eu fiz, me orgulho muito de ter feito, fiz umas três inserções dessas em presídios do país todo.
P/1 – E você viajava com frequência com essas produções?
R – Viajava, viajava! Viajei bastante! Até hoje eu ainda viajo, assim, pra fazer outros tipos de coisa, mas no circuito cultural eu sempre viajei junto, né?
P/1 – E aquilo que eu te perguntei sobre os retornos que você havia percebido, quer dizer, e você disse: “Não, eu escuto muito as pessoas falarem na rua”. Essa voz rouca das ruas, aí, que você escuta nessas suas andanças, como é que o banco é traduzido para essas pessoas, como é que eles traduzem essas iniciativas do Banco do Brasil?
R – Ah, eu não sei te dizer, assim, como. Eu acho que de modernidade, de brasilidade, porque todos os nossos.... Por exemplo, no circuito cultural, é, a gente só apoiava cultura nacional, né? Então, era música nacional, era teatro nacional, eram peças nacionais, era artesanato nacional. Então, isso traduz muito a brasilidade. E as pessoas reconhecem isso que o Banco do Brasil está fazendo pelo Brasil, né? Eu faço eventos, eu faço, hoje, alguns eventos que têm música, é, música ambiente, e eu não admito em hipótese alguma tocar música estrangeira, é só música nacional, sabe, em todos os eventos que eu faço, é música nacional.
P/1 – E hoje, você está se dedicando especificamente ao que no banco?
R – É, eu trabalho na área de patrocínios um, né, e a minha função é assessor sênior, então, eu analiso projetos mais voltados para a área de investidores, né? Então, eu faço projetos para investidores, reuniões para investidores do Banco do Brasil, né?
P/1 – E como é que é isso, como se define isso?
R – O Banco do Brasil, ele apresenta, é, o resultado trimestralmente pra essas pessoas, pra esses investidores, então, ele faz uma reunião em cada cidade e estado. Esse ano, foram em 16 capitais que nós fizemos, e eu faço a organização do evento, pra que a gerência de relacionamento com investidores apresente os resultados para os investidores. Então, são convidados os investidores pra essa reunião, uma reunião formal, séria, que eles apresentam os números do Banco do Brasil.
P/1 – É um Road Show?
R – Hein?
P/1 – É um Road Show?
R – É, eles mostram todos os números do Banco do Brasil naquele trimestre, né, no relatório anual e tudo. E eu organizo esses eventos, faço a organização deles.
P/1 – Ultimamente esses números andam bem risonhos, né?
R – Estão bons, estão bons! Aumentaram, aí, agora. Eu não acompanho muito, não, né? Eu acompanho mais a organização, não os números.
P/1 – E nessa trajetória toda, tem algum fato marcante que você tenha presenciado e que ficou na sua memória, quer dizer, de reação de investidores ou de reação do público nesse período ainda do circuito cultural?
R – Não, no circuito cultural. Não, eu acho que só esses eventos que a gente faz. No circuito cultural, marca bastante a presença do público levando alimentos, né, eles levam bastante. A gente tinha como premissa cobrar um ingresso bem barato pra todos poderem ter acesso, mas levando um quilo de alimento, né? Então, todo mundo levava, isso marca bastante, que você vê as pessoas com a sacolinha na mão indo lá levar o alimento pro Banco do Brasil. E isso tudo era dado pra uma entidade carente da cidade, né?
P/1 – E como é que você avalia em toda essa sua trajetória a presença e a importância do banco no desenvolvimento social dessas relações sociais no Brasil, como é que você vê o banco inserido no Brasil?
R – O banco como... Desculpa, repete a pergunta pra mim.
P/1 – Eu queria que você refletisse um pouco sobre a presença do banco no desenvolvimento desse país, não só na relação dos negócio, mas também, nesse lado imaterial, por exemplo, da produção, né, que é a cultura e etc. mas a presença do banco no desenvolvimento desse país?
R – Olha, a importância do Banco do Brasil fazendo 200 anos agora, né? É, tem a história do Banco do Brasil, ele, eu acho que, é, pro desenvolvimento do país, é, conta muito… como é que eu posso dizer? São 200 anos, né, ele passa isso pros brasileiros, sabe, ele passa honestidade, ele passa credibilidade pro país, pro desenvolvimento do Brasil, né? Eu não sei te falar muito sobre.
P/1 – E o que significa pra você trabalhar no banco?
R – Ah, pra mim é orgulho, né? Eu gosto do que eu faço, hoje em dia, eu tenho... 2008, que nós estamos… eu tenho oito anos de marketing, na diretoria de marketing, não quero sair dessa diretoria, né? Sabe, eu faço o que eu gosto, eu trabalho no que eu gosto hoje, sabe? Que eu não sei se é fácil encontrar isso hoje em dia por aí, você trabalhar no que você gosta, né? Então, pra mim, trabalhar com marketing, trabalhar com eventos, trabalhar com análise de projetos visando, é, a melhor parceria pro Banco do Brasil em seus patrocínios, pra mim, é o que eu gosto de fazer hoje em dia, eu me orgulho muito do que eu faço.
P/2 – Você sabe que essa é uma área muito cobiçada dentro do banco?
R – É, as pessoas não sabem o tanto que a gente trabalha. Sabe, [Risos] é uma área bem cobiçada, o pessoal quer muito trabalhar lá, mas a gente trabalha bastante, é muito, muito serviço, mas é um serviço gratificante. É um serviço gratificante que você faz, desenvolve três meses um projeto e você vê ele se realizando ali, no final, vê ele acontecendo, você formata um evento, você formata um patrocínio e, você vê que aquilo dá retorno, você vê que aquilo deu um retorno pro banco, seja institucional, seja mercadológico, seja de dinheiro, seja de imagem do banco, aquilo, se você fez, você viu o retorno que deu, sabe? Você chega lá e tem a marca do banco, está todo mundo passando pelo estande do Banco do Brasil e elogiando aquela coisa que você fez. Então, é gratificante você trabalhar ali, é muito bom!
P/1 – Você saberia resumir o que o trabalho no banco mudou a sua vida?
R – Sim! Eu devo tudo que eu tenho pro banco, hoje, né? É, tudo que eu tenho: a minha casa, a minha família, o meu carro, a minha moto, tudo, tudo que eu tenho hoje foi o banco que me proporcionou. O salário do Banco do Brasil foi... É, a minha formação hoje, quem me proporcionou foi o Banco do Brasil, porque eu acho que se eu não estivesse trabalhando lá eu não ia dar muito… muita visão pra ter feito uma faculdade, alguma coisa assim. E foi ele que me proporcionou isso, né?
P/1 – Vamos falar um pouco da sua família, você é casado?
R – Sou, sou casado.
P/1 – Como é o nome da sua mulher?
R – É Darlene, Darlene Gomes Faria.
P/1 – O que ela faz?
R – Ela é contratada pela Câmara dos Deputados. É uma firma que presta serviços pra Câmara dos Deputados.
P/1 – Têm filhos?
R – Tenho um filho, chamado Paulo Cesar, de 17 anos.
P/1 – E a sua família, sobretudo a sua mulher, compreende esse seu casamento com o banco?
R – Compreende, sim. Apesar, que eu viajo bastante e vira e mexe eu saio e tal, mas compreende, gosta. Ela sabe que eu gosto do que eu faço, né, então, ela não se importa, não. Ela gosta.
P/1 – O que você considera a sua maior realização dentro do banco?
R – Ter feito a minha faculdade, o banco ter me proporcionado isso, né, eu ter feito o meu curso superior, e ter ido trabalhar na área de marketing, uma área que eu gosto, a minha maior realização é essa.
P/1 – E com relação a essa ação do banco em resgatar a sua memória a partir do gancho dos 200 anos, o que isso significa para um homem de marketing?
R – É, foi bacana! Na hora que me ligaram, sabe, e me chamaram pra fazer essa entrevista falando que: “Olha, você foi escolhido por vários motivos, tal ‘por meu pai, também, ter sido do banco’ pra fazer uma entrevista, eu achei esse rapaz...” É bom você ser reconhecido, talvez até pelo meu pai, né? É, eu acho que o meu orgulho mesmo é do meu pai, de ter vindo pra cá no começo de Brasília e, de ter me estimulado a entrar dentro do Banco do Brasil, né? Então, pra mim, isso de ter vindo aqui e feito essa entrevista com vocês, pra mim, é muito bom, muito bacana.
P/1 – Edbert, e o futuro, o futuro do banco e o seu futuro, como é que você enxerga?
R – O futuro do banco! Sempre crescendo, eu só acredito no banco crescendo, só crescendo, crescendo, crescendo! Eu não acredito num banco... No banco que a gente faz, hoje, eu acredito nele pra mais 200 anos, né? É, o meu futuro é me aposentar no Banco do Brasil, eu vou até os meus últimos dias de banco, até a minha aposentadoria e, quero ficar ali, na diretoria de marketing, me aposentar ali.
P/2 – E o seu filho, o Paulo Cesar, o que ele imagina, ele tem já 17 anos, que você falou.
R – Tem 17 anos!
P/2 – Já está na hora dele começar...
R – É, ele tem, ele...Você diz como profissional?
P/2 – É.
R – É, ele quer ser ou publicitário, né, que ele quer. De vez em quando ele passa. Toda hora ele passa, ele vê outdoor e comenta sobre o outdoor, ele comenta sobre uma peça gráfica que tem no ponto de ônibus: “Oh, isso aí, tinha que ser maior, meu pai, olhe lá, não dá nem pra ler aquilo ali” “É meu filho, tem que ser”. Ou ser veterinário, que é um sonho dele bem de infanciazinha, né? Ele gosta muito de animais, tudo. Mas ele tem puxado alguma coisa de publicidade, sabe? Não sei, vamos ver, aí, o que ele vai puxar, né?
P/1 – Tem alguma coisa que você gostaria de dizer e não lhe foi perguntado?
R – Não, não vem na memória agora. Não, só agradecer vocês mesmo!
P/1 – O que você achou de ter dado esse depoimento, que avaliação você faz disso, de ter participado disso?
R – É, eu nunca tinha participado de uma entrevista nesse porte, né? Eu achei bacana, muito gratificante e muito, é, assim, levanta o nosso ego, né, participar de uma entrevista que vai fazer parte de uma história do Banco do Brasil, ela vai. Não é qualquer empresa que faz 200 anos e, não é qualquer um que é chamado para uma entrevista de uma empresa que faz 200 anos. Eu vou guardar isso, né, guardar! E mostrar pro Paulo Cesar!
P/1 – Muito obrigado, Edbert!
R – Obrigado a vocês, obrigado!
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