P/1 – Gelly, muito obrigada. Primeiro agradecer por você ter vindo. Boa tarde, a gente vai começar a entrevista agora pedindo para você me dizer o seu nome, o local e a data de nascimento, por favor.
R – O meu nome é Gelly Jambert Gonzales, eu nasci em Barcelona, em 25 de novembro de 1948. E o que mais?
P/1 – O apelido Gelly é...
R – O meu nome é Ângela, mas desde pequenininha começaram Marcelly, Gelly e ficou assim.
P/1 – Foi dado por alguém o apelido ou...
R – Foi dado pela minha família, não sei, desde pequena.
P/1 – E seus pais, como é que é o nome deles?
R – Minha mãe é Eugenia Jambert e meu pai é Arthur Gonzales Monteiro.
P/1 – Os dois espanhóis?
R – Os dois espanhóis. Minha mãe nasceu em Palma de Maiorca e meu pai em Barcelona.
P/1 – Ah tá, fala um pouquinho pra gente sobre a atividade que eles exerciam, a profissão.
R – Meu pai tinha um cargo importante no governo na época do pós-guerra, e minha mãe desde pequena sempre gostou muito de mexer com cabelo, então meu avô colocou numa escola para cabeleireiros, se tornou uma grande cabeleireira. Na guerra, um pouco antes, ele montou um salão pra ela e para um tio meu, porque eles eram em dez irmãos, e esse salão em Barcelona fez o maior sucesso. Na época da guerra aquilo ficou parado com mil problemas e tal, e depois, no pós-guerra se reativou de novo, e foi aí que entrou o Jambert, Miguel Jambert, irmão menor deles, para ajudar. Porque naquela época todo mundo precisava ajudar um ao outro. E aí que começou. Eu nasci uns anos depois e me criei dentro daquele âmbito de deixar o _____ no colégio, na creche, depois voltava lá. Então na minha vida foi um pouco a minha casa e o salão, e amava aquilo, porque fui criada assim e vi aquelas coisas maravilhosas que eles realizavam e tudo. O Jambert foi crescendo também nisso, sem ele esperar de repente ele foi motivado pelos...
Continuar leituraP/1 – Gelly, muito obrigada. Primeiro agradecer por você ter vindo. Boa tarde, a gente vai começar a entrevista agora pedindo para você me dizer o seu nome, o local e a data de nascimento, por favor.
R – O meu nome é Gelly Jambert Gonzales, eu nasci em Barcelona, em 25 de novembro de 1948. E o que mais?
P/1 – O apelido Gelly é...
R – O meu nome é Ângela, mas desde pequenininha começaram Marcelly, Gelly e ficou assim.
P/1 – Foi dado por alguém o apelido ou...
R – Foi dado pela minha família, não sei, desde pequena.
P/1 – E seus pais, como é que é o nome deles?
R – Minha mãe é Eugenia Jambert e meu pai é Arthur Gonzales Monteiro.
P/1 – Os dois espanhóis?
R – Os dois espanhóis. Minha mãe nasceu em Palma de Maiorca e meu pai em Barcelona.
P/1 – Ah tá, fala um pouquinho pra gente sobre a atividade que eles exerciam, a profissão.
R – Meu pai tinha um cargo importante no governo na época do pós-guerra, e minha mãe desde pequena sempre gostou muito de mexer com cabelo, então meu avô colocou numa escola para cabeleireiros, se tornou uma grande cabeleireira. Na guerra, um pouco antes, ele montou um salão pra ela e para um tio meu, porque eles eram em dez irmãos, e esse salão em Barcelona fez o maior sucesso. Na época da guerra aquilo ficou parado com mil problemas e tal, e depois, no pós-guerra se reativou de novo, e foi aí que entrou o Jambert, Miguel Jambert, irmão menor deles, para ajudar. Porque naquela época todo mundo precisava ajudar um ao outro. E aí que começou. Eu nasci uns anos depois e me criei dentro daquele âmbito de deixar o _____ no colégio, na creche, depois voltava lá. Então na minha vida foi um pouco a minha casa e o salão, e amava aquilo, porque fui criada assim e vi aquelas coisas maravilhosas que eles realizavam e tudo. O Jambert foi crescendo também nisso, sem ele esperar de repente ele foi motivado pelos momentos, e ele gostou tanto daquilo que a minha mãe era a primeira cabeleireira em Barcelona, todo mundo gostava dela e tal. O Jambert, com a alegria dele, era uma pessoa que tinha uma vivacidade muito grande, porque ele amava a vida tanto que transparecia nele. As mulheres começaram todas “pô, mas está tirando as mulheres todas”, as clientes todas adoravam ele.
P/1 – Ele era irmão... Era irmão mais novo?
R – Irmão mais novo da minha mãe, eram dez irmãos, ele era dos mais novos. O outro irmão da minha mãe depois casou e deixou a profissão, aí ficou a minha mãe e o Jambert, trabalhando os dois. Tiveram o maior sucesso, os grandes artistas na época, na Espanha... A Espanha começava outra vez a ressurgir depois da guerra, então o Jambert se fez muito famoso atendendo as grandes artistas daquele momento e tal. Aí apareceu uma cliente que se encantou pelo Jambert, ela era brasileira e o marido dela era espanhol, eles vinham muito à Espanha. Toda vez que ela vinha, duas vezes por ano, falava para o meu tio: “olha, você tem que ir ao Brasil, você tem que ir ao Brasil, porque é a tua cara”, falava “é a tua cara, porque você é uma pessoa muito pra frente, muito alegre”. E ele era muito novo, tinha 19 anos na época, e minha mãe falava: “nem pensar, nem pensar”, mas aquilo foi sempre e sempre, e ele ficou a pensar, a sonhar com aquilo, porque a Espanha e o Brasil eram tão distantes. Até que chegou uma hora que Jambert falou: “eu vou embora, vou para o Brasil”, e aí que começou a vida dele aqui no Brasil.
P/1 – Tá. Antes de a gente chegar, então, fala um pouquinho da origem do nome Jambert. Qual era a origem da família de vocês?
R – A origem vem dos meus bisavôs, meu bisavô era médico na França, e viajava muito para a Espanha também. Conheceu a minha bisavó, que era espanhola, mas o nome Jambert é francês.
P/1 – É do seu bisavô.
R – A origem é francesa, e os pais do Jambert também eram espanhóis. Aí a família se constituiu na Espanha, mas o sobrenome Jambert é francês.
P/1 – Ah, então tá, e a senhora tem irmãos?
R – Eu tenho, tenho um irmão, o Marcelo. Nunca se dedicou a isso, nunca se interessou por nada disso.
P/1 – Ele está aqui no Brasil ou está na Espanha?
R – Ele está no Brasil, trabalha na firma de engenharia. Mas ele tem outro estilo de vida, nunca se interessou nesse lado. Ele é muito mais novo que eu, então ele também não nasceu nesse âmbito, já se criou diferente, nasceu depois que minha mãe deixou o salão.
P/1 – E a sua família ainda continua lá?
R – É, eu tenho muita família em Barcelona, muita família. Aqui praticamente veio só eu e meu marido, chamados pelo Jambert, e vim com um filho pequeno, depois nasceu o outro filho aqui, que é brasileiro. Somos a única família aqui no Brasil, o resto ficou tudo lá.
P/1 – Ficou lá. Fala então um pouquinho pra gente como foi a sua infância. Você falou que nasceu já dentro de um salão, né?
R – É verdade.
P/1 – Do que você brincava, como é que era?
R – Eu adorava ficar lá no salão. Quando minha (mãe?) me falava: “Não, fica em casa”, ou “não pode vir”, pra mim era um terror. Eu adorava tanto aquilo! Não sei, vivia aqueles momentos maravilhosos lá dentro, para mim aquilo era uma festa, e eu sempre, desde pequenininha falava para minha mãe “Eu quero ser cabeleireira”. Mas eu não sei o que cabeleireiro tem com a profissão deles que não quer que os filhos sigam aquilo, e a minha mãe sempre falou: “Nem pensar, nem pensar”. Mas eu estava firme, queria ser cabeleireira. Aconteceu que o Jambert saiu do salão e a minha mãe desistiu do salão, minha mãe falou: “Não, agora...”, minha mãe ficou grávida do meu irmão. “Vou deixar o salão porque a alma desse salão era o Jambert”, e eu perdi contato completamente. Cresci, estudei, ainda continuei falando: “mãe, será que eu não posso ser cabeleireira?”, minha mãe “não, tem que estudar”. Estudei a carreira de piano, eu sou formada em piano. Aí comecei a estudar Administração de Empresas, depois trabalhei numa firma, com a minha carreira. Depois, logo em seguida conheci meu namorado, que é meu marido. Casei, depois que casei recebi uma carta do meu tio aqui do Brasil, que falou: “Ah, se um dia vocês pensam em vir aqui para o Brasil, será ótimo, eu estou precisando de pessoas para me ajudar nos meus negócios”, porque ele tinha progredido muito aqui, e quando você é jovem, você sempre quer aventuras na vida, aí nós falamos: “Tudo bem, talvez a gente venha para passar um ano aqui e tal”. Eu falei pra ele: “Será que eu posso fazer um curso de cabeleireira?”, aí veio a minha ideia aquela, que nunca tinha saído da minha cabeça, e ele falou: “Não, eu não preciso de cabeleireiros, no Brasil tem muitos bons profissionais, eu preciso de um administrador, de umas pessoas que me ajudem, porque eu não tenho tempo”. A gente veio para o Brasil por um ano, mas continuamos morando no Brasil até agora. O Brasil é um país maravilhoso, e a gente se habituou muito bem aqui. Meu filho chegou com dois anos aqui, o outro nasceu aqui, acabamos ficando aqui no Brasil.
P/1- E lá no salão da sua mãe, a sua mãe tinha feito algum curso, como é que é?
R – Sim, na Espanha era obrigatório, você, para ser cabeleireira, tinha que fazer cursos de altíssimo nível, tinha um curso famosíssimo lá. Eu agora não me lembro o nome, mas que até agora continua, são três anos, então praticamente é uma carreira.
P/1 – Uma faculdade.
R – Uma faculdade, é muito importante, lá na Espanha isso é muito sério. Ela disse que bem novinha começou a fazer esse curso e depois, durante três anos ainda faz um estágio em vários salões para depois ter o seu salão. É uma coisa bem séria.
P/1 – E naquela época tinha cabeleireiro homem ou era mais cabeleireira?
R – Era mais mulher, na época. Cabeleireiro homem, naquela época, era muito difícil, porque tinha muito preconceito. O irmão dela entrou porque, pela situação no momento, da guerra, a Espanha estava destruída praticamente, as pessoas tinham que trabalhar, aí o irmão dela fez o curso também, mas de repente não era ambição e nem o sonho dele, tanto é assim que depois ele foi ser outra coisa. Mas na época foi mais obrigatório que nada. E o Jambert foi levado pelo momento, porque era muito jovenzinho, então era mais como ajudante, ele começou lá com ela.
P/1 – E a casa que vocês moravam, quando você era pequena, era perto do salão, como é que era a casa?
R – A casa que eu morava... Porque na Espanha você sabe, serviço era difícil. Eu morava com os meus avós, era uma casa daquelas de família mesmo, morava minha avó e meu avô, morava minha mãe... Não, perdão, minha mãe tinha a casa dela, porque acabaram de casar fazia pouco tempo, mas lá naquela casa morava toda a família, meus avós com todos os filhos solteiros. Eu ficava com eles porque a minha mãe trabalhava o dia todo, então eu ficava na casa que era da família, uma família muito grande, aquela casa gostosa.
P/1 – O Jambert morava, também?
R – Também, moravam todos lá. Minha mãe passava a me buscar e me levava de noite para a casa com meu pai e ela. Mas era aquela família bem européia, sabe, os avós eram patriarcas e todos os filhos em volta, era muito bonito, tenho lembranças muito bonitas Da minha infância.
P/1 – E de seus amigos, primos...
R – Primos muitos, porque imagina, com tantos irmãos. Eram 40 e poucos primos. Minha infância na Espanha, minha adolescência, foi muito bonita. Eu me eduquei em um colégio de freiras dominicanas, lá que estudei. Depois estudei na faculdade e estudei no Liceu de Barcelona. A minha carreira de piano, que não exerci, comecei depois que casei a dar aulas de piano para as crianças, mas depois vim para o Brasil e larguei a história da música.
P/1 – Com quantos anos você começou a tocar piano?
R – Com nove anos, no colégio. Primeiro para aprender...
P/1 – Você que quis ou...
R – Não, quis. E minha mãe também fazia um pouquinho de questão. Falava: “Ah, começa, começa”. Depois, como tinha habilidade, as freiras falaram para a minha mãe: “não, ela tem que estudar a carreira” e eu entrei no Liceu de Barcelona e terminei a minha carreira, que são nove anos.
P/1 – É um curso completo?
R – Completo, nove anos.
P/1 – Era junto com a escola?
R – Junto, era paralelo. Eu não tinha tanto recreio. Ficava, nas horas do recreio, de repente, estudando. Na saída do colégio também, estudando piano para completar, para poder fazer as horas necessárias. Então abdiquei de algumas coisas, mas em beneficio dessa arte maravilhosa, também.
P/1 – E tocava algum outro instrumento, também?
R – Não, só piano. Eu estudei violão também, mas assim, só para me acompanhar. Mas o piano foi completo.
P/1 – Mas tinha apresentação, assim?
R – Tinha, lá no Liceu fiz varias apresentações, e foi bom.
P/1 – E brincadeira, qual era a brincadeira favorita da senhora quando era criança?
R – Eu sempre gostei muito de praia, por isso que a Espanha e o Brasil para mim se encaixa muito bem. Sempre que tinha momentos de prazer era na praia, eu acho o que mais gosto é isso. Saía de um lugar para ir pra um lugar assim de que te ________, a não ser liberdade.
P/1 – Tinha algum lugar que vocês iam passar o verão?
R – Tinha, nas praias de Costa Brava, a 100 quilômetros de Barcelona. E meus avós tinham uma casa lá, então a gente sempre, no verão – porque lá também tem o inverno – todo fim de semana a gente ia pra lá, na Costa Brava, que são praias maravilhosas.
P/1 – E ia para Palma de Maiorca também? Que é...
R – Não conheço Palma. É que meu avô era militar, então eles nasceram em _______, e minha mãe em Maiorca. Pelo destino dele e depois que ele foi pra Barcelona, eles se criaram em Barcelona. Mas conheço Maiorca só de visita mesmo, porque eles não se criaram lá, não tem vínculos lá não, mas é um lugar muito bonito, também.
P/1 – E a senhora assim, voltando à questão de brincadeira, a senhora brincava no salão?
R – Brincava.
P/1 – Com escova, com alguma coisa, fazer penteado, como é que era?
R – Brincava, sempre mexia, e eu me lembro que, falando disso, de cabeleireiro, na época que minha mãe se formou, você não era formada só em cabeleireira, você tinha que saber fazer tudo dentro do salão. Tinha que ser manicure, esteticista, maquiadora, tudo. Por isso que de repente o curso era mais completo também, então eu me lembro muito que eu brincava com os esmaltes; a minha mãe com as maquiagens, ficava lá me maquiando o dia todo, me pintando as unhas. Depois a minha mãe tinha o maior trabalho na hora de sair, de tirar tudo em cima de mim, e eu participava muito daquilo, a minha brincadeira lá dentro era isso, mexer com as cores.
P/1 – Não incomodava, assim, o cliente?
R – Não, eu acho que não, porque o Jambert sempre falava... Ele foi embora da Espanha e praticamente me conheceu lá dentro, então ele falava: “Ai, era tão bom quando você ia lá”. E ia muito, era todo o dia, praticamente, que ia lá.
P/1- Como é que era o salão da sua mãe, era pequeno? Só pra gente ter uma ideia.
R – Era um salão num lugar nobre de Barcelona, um lugar bem bonito, a parte alta, que eles falavam, de Barcelona. O salão que deveria ter, a parte de salão era grande, deveria ter uns cem metros, mais ou menos. Eu me lembro... Tinha um corredor, e no final tinha um outro salão muito grande, onde tinha a parte da estética, onde fazia pedicuro, manicure, maquiagem. Era um salão bem grande, não era pequeno não, e era um lugar muito bom de Barcelona.
P/1 – E tinha manicure separada ou todo mundo fazia tudo? Como é que era?
R – Eram três cabeleireiros: minha mãe, o irmão dela e o Jambert. Depois tinha duas mocinhas que ajudavam, ajudavam a minha mãe a fazer manicure também. Então todo mundo fazia de tudo um pouquinho, menos os meus dois tios, que eram só cabeleireiros e coloristas, o resto, a minha mãe e as duas moças faziam tudo, depilação também.
P/1 – E lembra de algum penteado dessa época que era moda na Espanha?
R – Ah, eu lembro que a mulher passava muitas horas no salão, muitas, muitas, porque eram cabelos muito complicados. Na época eu me lembro muito de uns aparelhos que tinha para fazer permanente, que a mulher fazia muita permanente. E era uma permanente a quente, aquele aparelho tinha que ser esquentado no fogo. Me lembro... Aquilo pra mim era uma coisa estranhíssima, porque era uma coisa muito demorada e complicada também. Me lembro disso, de que elas ficavam muitas horas lá dentro.
P/1 – Mais do que hoje em dia?
R – Nem comparação. A mulher tinha que enrolar aquilo, ficar naquele secador horas, e aquilo era três, quatro horas tranquilamente. A mulher tinha que ficar no salão pra sair com o penteado da moda.
P/1 – E era cabelo grande, cabelo curto, o que tinha mais?
R – Tinha cabelo grande, elas faziam muito cabelo preso, na época. E cabelo médio, aqueles cabelos cheios de cachos, aquilo demora muito para pegar bem. Não era muito cabelo curto na época não, que eu me lembre. Que nem, nos anos 50, 50 e pouco, eram muitos cabelos médios, cabelos bem trabalhados. O Jambert penteava muito artistas que dançavam flamenco, tinha uma artista famosíssima, Lola Flores, agora eu não me lembro a outra, muito famosas, na época, e ele sempre fazia uma aposta com elas: “vou fazer um coque e garanto que esse coque...”, porque elas, no final o coque cai, porque elas pulam tanto... E era uma aposta todo o dia: “hoje o coque não vai cair, hoje vai cair”, e ela falava: “vai cair”. Tinha dias que ganhava um e no outro dia ganhava outro, mas ele penteava muito essas artistas.
P/1 – Ah, legal, fala então um pouquinho dos seus estudos. Como é que foi?
R – Estudei num colégio de freiras, como eu te falei, até os 18, 19 anos. Depois, na faculdade, estudei administração de empresa. Me empreguei numa firma que hoje em dia é até conhecida, é a firma Waterman, de canetas Waterman, e Carandage, de lápis de cor, uma empresa francesa e suíça, trabalhei lá só dois anos. Depois conheci meu marido, casei. Naquela época mulher casava e deixava de trabalhar, aí parei de trabalhar e me casei. Tive um filho, e quando esse filho meu teve dois, três anos, vim para o Brasil, foi na época que o Jambert nos chamou. Viemos para o Brasil, aí comecei a trabalhar duro.
P/1 – A adolescência, assim, conta um pouquinho como era a adolescência na Espanha?
R – A minha adolescência foi passada no regime militar, do Franco. Era uma ditadura, mas engraçado, eu não me lembro de repressões. Eu sempre fui uma pessoa muito tranquila, uma pessoa que gostava de viver, que gostava de viver a vida, tinha um círculo de amigos muito grande. Nos divertíamos muito, então nessa parte sombria de repente não vivi muito, porque eu nunca entrei muito em política, nunca me interessei demais. Às vezes não precisei, então não tenho nada o que falar, minha adolescência foi muito boa na Espanha, me diverti muito.
P/1 – Não teve caso de alguém na família ser preso, ou algum caso assim?
R – Teve, teve um primo meu, um primo de segundo grau meu que entrou na política, foi preso e ficou bastante tempo mal, depois saiu e ficou bem. Mas realmente, eu não tenho mágoas da minha adolescência, foi muito boa, muito.
P/1 – E como você se divertia?
R – Ah, muita, naquela época a Espanha tinha muita coisa para se divertir, muitas... Eram boates, eram festas particulares. Naquela época se fazia muita festa na casa de fulano, e a turma toda ia pra lá. E tinha muita boate para se divertir; cinema, teatro, eu fiz teatro durante muitos anos, também, gostava muito de teatro, entrei num círculo de teatro, fiz teatro uns cinco, seis anos antes de me casar. Depois que me casei parei também, porque quando a mulher casava, naquela época, na Espanha, tinha que assumir tantas coisas. É a casa, a família lá é difícil o serviço, então você tem as horas realmente bem completas, mas antes disso eu fiz muita coisa.
P/1 – O teatro era o que, era um grupo?
R – Era um grupo... Na época eu trabalhava, tinha acabado a minha faculdade e começado a trabalhar, e eu saía do trabalho doida pra entrar nesse grupo, era um grupo... Primeiro foi na faculdade, começou lá, depois eles formaram um grupo independente, e a gente fazia, fizemos várias peças de teatro. Foi muito boa aquela época.
P/1 – E lembra de alguma peça que tem, assim...
R – Lembro, fizemos o Pirandelo, fizemos teatro experimental também do Namono, fizemos bastante coisa. Era todo amador, não era nada... Mas uma vez me convidaram para trabalhar numa televisão na Espanha, aí a minha vida já estava comprometida com outras coisas, não pude entrar nisso. Talvez... Eu gostava muito de teatro, teria conseguido ser uma artista, gostava muito mesmo.
P/1 – E a senhora se produzia pra sair, sei lá, até para o teatro, no salão da sua mãe?
R – No salão da minha mãe eu era muito pequena, mas gostava muito. Me lembro que a minha mãe às vezes fazia... Minha mãe era uma pessoa muito moderna, muito pra cima e muito bonita, a minha mãe foi Miss Espanha.
P/1- Ah, é? Que ano que foi?
R – Ui, não me lembro. Eu não tinha nascido, ela era muito jovem, não me lembro, mas Jambert sempre falava. Ela não gostava que falasse nisso, mas Jambert sempre falava, e tenho foto, algumas fotos tenho, era linda. E eu vivi naquela... Então eu também gostava de me arrumar e tudo, pedia para minha mãe, quando fazia um vestido, minha mãe falava: “Ah, vou fazer um vestido da Rita Hayworth”, aí eu falava: “Ah, então faz um para mim”, e ela fazia o vestido dela pequenininho para eu vestir, porque eu curtia muito aquela... Então nasci um pouquinho nesse lado.
P/1 – Na sua adolescência a sua mãe não tinha mais o salão?
R – Não, aí morávamos em Barcelona, ela era dona de casa.
P/1 – Mas ela, mesmo em casa, fazia penteado, cortava cabelo, assim, ou o seu?
R – O meu sim, mas o resto não. Ela se dedicou já pra casa e a tranquilidade, era dona de casa.
P/1- E como era o ambiente da faculdade? Qual foi o nome da faculdade que você fez?
P/1- Naquela época a faculdade na Espanha era uma faculdade que era uma Universidade, era Universidade de Barcelona, dentro daquela Universidade tinha todas as especialidades. Agora mudou muito, a faculdade em Barcelona são bairros inteiros, e na minha época era só na faculdade, lá você estudava tudo. Foi muito bom, conheci pessoas maravilhosas, foi lá que comecei o teatro, até eu fiz um pouquinho de cinema amador também lá dentro, foi uma época que me lembra muito essas coisas, o descobrimento de muitas coisas. Eu tinha saído de um colégio de freiras rigorosíssimo, e de repente você estar livre, você poder falar, pode atuar, então foi muito bom.
P/1 – E o colégio de freira era só mulher?
R – Só mulher. Agora mudou muito, na época era bem rigoroso, a educação era muito rigorosa. Então de repente você vai para a faculdade, é um alivio tão grande. Estudei quatro anos na faculdade e no último ano, onde eu comecei a trabalhar também, terminava os meus cursos de noite e depois trabalhava durante o dia.
P/1 – Na faculdade você já entrou para fazer administração?
R – Administração, sim, direto.
P/1- E essa história de boate, que saía... Porque a Espanha é conhecida como um lugar que à noite é bem agitado. Como é que era?
R – Muito. Mas sabe que na minha época eu não podia sair muito à noite não, porque era tudo tão rigoroso. Imagina, 40 anos atrás. Então eram boates de tarde, praticamente. De vez em quando me deixavam sair à noite, eu saía. Mas a Espanha é um país muito vivo, muito alegre. Eu até acredito que naquela época da ditadura o povo é tão efervescente, o povo querendo viver tanto, que eles conseguiram superar tudo isso, por isso que te falo, não tenho mágoas daquela época, eu me diverti muito, vivi aqueles momentos muito bons da minha adolescência. Porque eu acho que o povo espanhol é muito assim, muito para frente, um pouquinho como o brasileiro, sabe sair das adversidades. E não me lembro de nada ruim, só me lembro de coisas boas.
P/1- E músicas, assim, da sua adolescência, que você ouvia?
R – Ah, Elvis Presley, Beatles, era uma loucura, era o que mais estava... Muito cantor francês também, na época, Charles (Aznavour?), ______, muita coisa boa, muito artista bom.
P/1- Tinha shows, assim? Vocês iam para shows?
R – Tinha, tinha shows, era tudo controlado. Tinha no Palácio dos Esportes, fazia de vez em quando shows com bastante artistas, tinha bastante coisa.
P/1- E Barcelona tinha tourada famosa na Espanha?
R – Sim, Barcelona não é a região que evidencia mais essas coisas, seria mais Madrid, no caso. Eu sou da Espanha, Barcelona sempre foi uma cidade muito mais pra frente do que o resto da Espanha, não sei se pela proximidade com a França. É uma cidade muito mais cultural, que revendencia muito mais essas coisas, cultura e arquitetura, tudo isso sempre esteve em primeiro plano, antes que essas coisas mais folclóricas, eu diria; como é a tourada, como é o flamenco. Sempre foi do centro da Espanha pra baixo, Catalonia. Onde está Barcelona sempre pensou diferente. Claro que gosta, mas não é a parte principal deles não, eles preferem ver uma exposição de pintura ou de escultura que uma coisa dessas.
P/1 - Você frequentava bastante Museu?
R – Eu frequentava. Não tinha muito na época, a gente conheceu os de lá, o Dalí, Picasso. Mas não tinha muita coisa nesse país, esse país estava um pouquinho fora do resto do mundo, tinha sido um pouquinho deixado do resto do mundo, então tudo o que a gente podia aproveitar, aproveitava.
P/1 – E flamenco, você chegou a dançar flamenco?
R – Não. Não porque, eu te falo, Barcelona é um pouco _______ a isso, ela se acha um pouquinho acima dessas coisas. Mas adoro flamenco, adoro, e Jambert adorava também, porque é uma musica que tem muita emoção, muita arte. Eu gostava mas eu nunca estudei flamenco, nunca aprendi.
P/1- E a moda, como era, assim? Como a senhora gostava de se vestir?
R – Ah, eu gostava de me vestir muito moderno, eu seguia todos os cânones da moda. Na época dos Beatles com aquelas roupas compridas, na época da Twig com aquelas minissaias bem curtas. Eu gostava de seguir moda, sempre gostei, sempre eu seguia bem a moda em Barcelona, nos lugares de moda eu estava lá sempre seguindo a moda, adorava.
P/1- E a questão da língua que você falou, catalão é, como é que vocês, explica um pouquinho pra gente assim, né?
R – Catalão não era a língua oficial de lá. Na época, quando eu estudava, catalão era proibido nas escolas, você não podia falar catalão, você falava na tua casa. Eu não falava com meus pais em catalão porque minha mãe tinha nascido em Palma, falava castelhano, mas eu falava com meus amigos, fora da escola. Era proibido falar dentro da escola, mas na rua você podia falar, então eu me criei falando os dois idiomas, o catalão e o castelhano, e estudei em castelhano.
P/1- O oficial era castelhano?
R – Sim, sim, e você estudava... Hoje em dia não, hoje em dia você estuda as duas línguas, o castelhano e o catalão no colégio; tem gramática castelhana e gramática catalã, mas naquela época não tinha. Eu falo bem o catalão porque todo mundo que tinha nascido na Catalunha falava o catalão, nas ruas, no colégio, fora das aulas, então a minha segunda língua é o catalão.
P/1- É muito diferente?
R – Muito diferente, muito. Ele parece mais, de repente, com o francês do que com o castelhano, bem mais. Até a maneira de escrever, com apóstrofos, ele lembra muito mais o francês do que o castelhano. E eu acredito que deve ser pela proximidade que tem, a Catalunha com a França tem muita coisa parecida, é um idioma bem bonito, bem interessante. Hoje em dia todo mundo fala em Barcelona, a escola quem ensina os dois idiomas, as crianças têm os livros dos dois, é liberado agora.
P/1- E como é que você conheceu seu marido? Conta um pouquinho pra gente essa história, seu casamento.
R – Eu conheci meu marido eu estava trabalhando. Meu marido também era artista, tocava num conjunto lá, e conheci ele por meio de outro amigo que nos apresentou. Eu fazia teatro e ele tocava num conjunto, ele gravou discos.
P/1- Ele era cantor?
R – Era cantor, tem discos gravados na Espanha. Ele canta muito bem, e nos conhecemos assim, os dois. Eu trabalhava no teatro e trabalhava na empresa, ele tinha uma firma de... Os pais dele são óticos, têm várias firmas de ótica em Barcelona, e o hobby dele era cantar, igual o meu, que era teatro. Nos conhecemos assim, depois de três anos nos casamos e depois viemos para o Brasil, os dois juntos, largamos tudo lá.
P/1- Ele era cantor o que, era rock, o que ele cantava?
R – Era de tudo um pouco: música moderna, cantava Beatles, cantava rock, cantava várias coisas, aquela musica mais moderna.
P/1 – E tinha uma música especial que ele cantava que a senhora gostava?
R – Eu adoro quando ele canta boleros, os boleros dele são incomparáveis, ele canta muito bem.
P/1- Ele fazia shows?
R – Sim, toda a semana. Ele tem um contrato em algumas boates, já participou de festivais de verão na Espanha, ganhou prêmios, gravou quatro discos. Depois, quando viemos para cá é que deixamos essas coisas.
P/1 – E você não tinha ciúme dele, assim, de cantar?
R – Um pouquinho, mas não demais, também.
P/1- E como é que foi o casamento, a festa?
R – Foi maravilhoso, o Jambert veio do Brasil para me pentear lá em Barcelona, foi muito bonito.
P/1 – Foi em que ano que vocês casaram?
R – Foi em 70, porque depois, em 73, viemos para cá... 71... Final de 73 viemos para o Brasil, o meu filho tinha dois anos, mais ou menos.
P/1- Como é que foi essa ideia, então, essa ideia do Brasil? Retoma um pouquinho como é que foi que o Jambert veio.
R – Essa ideia do Brasil foi uma ideia que veio de repente. O Jambert escreveu uma carta e falou... Ele gostava muito de mim, porque eu era a sobrinha que ele tinha convivido muito, porque morava comigo, ficava sempre, ficava com meus avós, ficava lá, então a única sobrinha. Eu me lembro – ele sempre conta – que, quando minha mãe entrou em trabalho de parto, foi ele que foi chamar a... Como é que chama? A comadrona – a mulher que ajuda no parto – e o médico para me assistir, então ele conviveu muito de perto, tudo. Ele sempre falava que eu era a filha que ele nunca teve. E começou assim, com uma carta combinando para vir ao Brasil, e aquilo realmente nos deu um pouco de medo, porque é um país desconhecido, e não tínhamos intenção, de repente, de fazer aquilo. Estávamos começando na vida lá, não tínhamos dificuldades porque a família do meu marido já tinha essas empresas, então era mais uma aventura do que nada. E essa aventura ficou incógnita por um ano, deixamos o apartamento fechado e viemos aqui por um ano para ver se nos dávamos bem. Nem reparamos que aquele ano passou e começou o outro e começou o outro e a nossa vida se fez aqui. E aquilo se foi assim, correndo normalmente. Você já fazia parte daqui, você amava tanto isso aqui como o que você tinha deixado, de repente. E foi assim, nos demos muito bem, aprendemos a... No começo foi difícil, porque é muito diferente o caráter da Espanha do Brasil; os costumes, as amizades. Mas depois foi tudo tão normal, tão... Gradativamente foi chegando tudo que nós sentimos também que fizemos parte daqui, e continuamos aqui até agora.
P/1 – E antes de vir, que ideia... O que você imaginava, o que ia encontrar aqui no Brasil, que ideia de Brasil vocês tinham, lá na Espanha?
R – Eu tinha um pouco de medo, no começo eu tinha um pouco de medo, porque eu nunca tinha saído da Espanha.
P/1- Não conhecia nenhum outro país?
R – Conhecia, conhecia a França, só a França, mais nada. Conhecia Paris, conhecia o sul da França, mais nada. É que Europa para América do Sul é muito longe, muito diferente tudo. Mas engraçado, eu cheguei aqui, vi as pessoas e falei: “Essas pessoas são muito melhores do que os espanhóis”. É, pensei isso. Olha que o espanhol é o melhorzinho que tem na Europa, assim, eu digo na parte de receber, pessoas mais alegres. Mas eu cheguei aqui, aquele calor do povo brasileiro, aquela simpatia natural, tudo aquilo me cativou demais, eu falei: “Nossa, mas que gente maravilhosa”. Aí só se acostumar a algumas coisinhas. Se você entra você se adapta muito bem, é muito fácil.
P/1 – Veio você, seu marido...
R – E o meu filho, pequenininho, que tinha dois anos na época, depois de alguns anos nasceu o meu outro filho, que é brasileiro.
P/1- E vocês foram morar aonde, aqui no Brasil?
R – Aqui no Brasil nós primeiro morávamos em Ipanema, nossa vida lá. Depois, quando o salão inaugurou, no Leblon, fomos para o Leblon, para a Visconde de Albuquerque. Agora estamos na Timóteo da Costa, morando lá.
P/1- Fala um pouquinho pra gente recuperar como é que foi a ideia do Jambert abrir esse salão. Como é que ele abriu o primeiro salão dele aqui no Brasil? Aonde foi, se foi no Rio?
R – Não, o Jambert como eu te contei, veio direto de Barcelona, ele era muito jovem. Sem nada, sem nada, praticamente, porque meus avós não tinham muita coisa pra dar na época. Ele vendeu a parte do salão dele, e, como ele sempre fala, pegou um baú, colocou os ternos dele – todo mundo anda de terno na Espanha –, pegou um navio e desembarcou em Santos. Mas só conhecia essa amiga dele, mais ninguém no Brasil, ninguém.
P/1- Amiga dele era de lá de Santos?
R – Era de São Paulo, mas a amiga dele tinha dado um endereço em Santos que era um salão, era num hotel em Santos, aí o Jambert desembarcou lá e começou a trabalhar nesse hotel, em Santos.
P/1 – Sabe o nome do hotel?
R – Não. Ele sempre conta, mas eu nunca me interessei em saber, nem sei se existe mais. Ele chegou lá e trabalhava todo o dia, trabalhava domingo, porque hotel não para, então trabalhava-se muito, muito. E falaram assim pra ele: “não, vai ser melhor você ir para São Paulo, lá é que tem trabalho”, e ele “não, mas eu trabalho tanto”. Mas aí ele foi para São Paulo, no melhor salão de São Paulo, e ele foi contratado lá, começou a trabalhar em São Paulo. Fim de semana ele ia para Santos pra atender aquele hotel todo, clientes que já conhecia ele e turistas também, porque na época ia muito turista para Santos. Ele começou a fazer dinheiro assim, trabalhando muito.
P/1- Isso foi em que ano, mais ou menos?
R – Foi no ano 51, 52, foi nessa época que ele chegou no Brasil. Ele trabalhava assim, disse que era incansável. Era da manhã até meia noite, domingo, todos os feriados. Porque ele queria ter o salão dele, então durante um ano, dois, ele guardou dinheiro para construir o primeiro salão dele, que foi em São Paulo, na Antônio Carlos com a rua Augusta. Foi o primeiro salão dele, era um lugar muito chique, na época, de São Paulo. E aí que ele começou a ficar famoso, mas a ideia dele era sempre de vir para o Rio de Janeiro, porque ele adorava praia, adorava aquela natureza, então sempre falava: “um dia eu vou vir para o Rio”, que ele trabalhava duro lá, mas que ele iria vir para cá.
P/1- E o primeiro salão... Ficou quanto tempo com esse salão, lá em São Paulo?
R – Ah, ficou muito anos, muitos anos. Depois, quando inaugurou o salão aqui do Rio – que foi 61, talvez, 61, 62 –, ele ainda trabalhava nos dois lugares, porque aqui o Rio era uma experiência nova. Ele abriu um salão em Ipanema, não era nada, Ipanema era três, quatro casinhas. Mas ele acreditava, “Ipanema vai ser o boom do Rio de Janeiro”. Montou um salão aqui, trouxe uma equipe de São Paulo para trabalhar aqui e trabalhava três dias aqui e três dias em São Paulo. Trabalhava segunda, terça e quarta aqui, pegava o trem à noite, chegava de manhã e trabalhava quinta, sexta e sábado em São Paulo. Na segunda voltava de novo para cá, e isso foi durante muitos anos, porque ele não tinha... Aqui ele não conhecia nada, estava começando. Mas aí, de repente aquilo virou moda, e começou a se falar nos jornais todos. Ele ficou durante dois anos fazendo esse trajeto, até que no final ele falou: “Não quero mais São Paulo, vou ficar aqui”, e ficou definitivo no Rio de Janeiro, passou o salão dele para os sócios que tinha lá em São Paulo e ficou definitivo no Rio. Ele amava o Rio de Janeiro.
P/1- Aqui ele morava aonde?
R – Ele morava na Avenida Atlântica. Primeiro morava na Vieira Souto, depois foi para Avenida Atlântica.
P/1- Que lugar de Ipanema era o salão?
R – O primeiro salão foi em Ipanema, na Visconde de Pirajá, esquina com a Maria Quitéria. Esse foi o primeiro salão, o salão tradicional que começou a moda em Ipanema. Tinha uma loja do lado que chamava Biba, e o Jambert e a Biba começaram aparecer em todos os jornais de moda em todo o lugar, porque Ipanema estava ressurgindo, e a moda em Ipanema começou com eles, Ipanema se fez famosa com esses lugares.
P/1 – Como era o nome da loja?
R – Biba.
P/1 – O que era?
R – Era uma loja de roupa moderníssima, muito moderna, porque a roupa vinha da Inglaterra, com ideias da... Na época da Twig, aquelas coisas assim, e chamava Biba. Em Londres tem uma loja com esse nome ainda, e isso fez muita moda, movimentou muito Ipanema. Ipanema começou a ressurgir, se fizeram muitas lojas, começou a... Ipanema nasceu naquela época, e depois de uns 15 anos o Jambert pensou em fazer uma coisa muito maior, porque aquele salão era grande, mas era pequeno, tinha se tornado pequeno. Na época estava ótimo, mas tinha, pela quantidade de cliente, se tornado pequeno. E não tinha como expandir aquilo, então o Jambert comprou um prédio no Leblon, na General São Martim, um prédio de quatro andares. Construiu o Jambert no Leblon, a gente saiu de Ipanema e foi para o Leblon. Foi um prédio maravilhoso, cada andar decorado todo estilo oriental, com estatuas trazidas da China. Os quadros também, gravuras, era uma coisa assim, de primeiro mundo. Vinha gente... Quando vinha cabeleireiros do mundo todo e vinham visitar aquilo, vinham de ônibus para visitar aquele salão, porque era uma obra de arte, aquele salão ficou 20 anos funcionando lá no Leblon, aí a Barra começou a ressurgir muito, nossos clientes, a maioria, vão pra Barra. “Jambert, tem que abrir alguma coisa na Barra, tem que abrir”. Nesse meio tempo Jambert inaugurou o salão de Nova Ipanema, que é um salão pequeno, mas muito bonito. Parecia uma coisa de ________, você bem rodeado de verde, junto com uma academia de ginástica, então uma coisa bem moderna, bem atual. Mas aquele salão é pequeno também, aí falava: “Não Jambert, tem que fazer uma coisa maior na Barra”. E que coisa, parecia que todo mundo ia morar na Barra. Foi quando Jambert decidiu voltar para Ipanema com um salão menor do que aquele do Leblon e abrir um salão maior na Barra, que foi na Dalton, um salão que deve ter uns 500 metros quadrados ou 600, muito, muito bonito. O de Ipanema, que é um salão muito charmoso e muito gostoso, onde nós temos toda aquela clientela daquela época do começo de Ipanema, as filhas, as netas daquelas clientes que frequentavam antigamente Ipanema.
P/1- O nome Jambert ficou porque ele só era chamado como Jambert? Ninguém chamava ele de Miguel?
R – Não. Engraçado, em São Paulo todo mundo conhecia ele por Miguel, mas aqui no Rio não, Miguel Jambert. Ficou Jambert e ele colocou, nos salões dele é Jambert, o nome dele era...
P/1 – E em São Paulo?
R – Também, mas as clientes chamavam pelo primeiro nome, então quando chegava alguma paulista aqui em Ipanema, falava: “Miguel”, todo mundo “Ih, paulista”, porque só chamava ele de Miguel, mas aqui no Rio todo mundo conhece por Jambert, sempre, ele colocou o sobrenome dele sempre.
P/1- Fala agora pra gente, então: quando você veio pra cá, em que ano você chegou aqui, foi 70, né?
R – Não, foi 73, final de 73.
P/1 – Chegando aqui você foi morar aonde, como é que...
R – Fui morar em Ipanema, perto do Jardim de Alá, e eu trabalhava em Ipanema, comecei a trabalhar no salão de Ipanema. O Jambert me ensinou muito essa veracidade, a amabilidade. Eu sabia muitas coisas, mas ele me ensinou muitas mais, muitas. E eu comecei a trabalhar recebendo as clientes, tratando do pessoal. Na época, no salão de Ipanema, trabalhava 70 e poucas pessoas, então eu tinha que trabalhar com um lado pessoal e um lado das clientes, e tudo isso fui aprendendo. Gostei muito, e até agora estou aqui fazendo a mesma coisa.
P/1- Você já chegou pra trabalhar ou...
R – Já, já.
P/1 – Não tirou umas férias pra conhecer o Brasil, passear?
R – No começo fui devagarinho, porque claro, eu também não sabia o idioma. Então eu ficava o dia todo vendo televisão para aprender bastante, comprava livros para aprender bem. Mas é engraçado que se aprende logo, porque, se tratando com o público... Com o pessoal do trabalho, em dois, três meses já me comunicava muito, muito bem. Comecei a trabalhar assim, no dia a dia, devagarinho.
P/1- E adaptação aqui, ao calor, ao...
R – Não, eu gosto de calor. Eu te falei que eu gosto muito de praia. Na Espanha, chegava o verão, ficava louca pra ir na praia. Então eu me adaptei muito bem, melhor do que o inverno. Inverno... Eu não gosto muito do frio, então pra mim o Brasil é o melhor país do mundo.
P/1- E o seu marido, ele entrou, também, pra trabalhar?
R – Sim, ele trabalha... Meu marido é uma pessoa mais reservada, ele não gosta de aparecer, então hoje em dia... Hoje em dia não, naquela época também, ter uma pessoa atrás de tudo isso, na parte burocrática, na parte contábil. Ele sempre esteve por trás dos panos, gosta disso e sempre se dedicou muito a isso.
P/1 – E você foi trabalhar no salão, mesmo?
R – No salão mesmo, no salão de Ipanema. Fiquei lá, depois fiquei grávida do meu filho quando ia inaugurar o salão do Leblon, e eu só rezava “que meu filho nasça ante do salão, porque eu tenho que estar no salão na inauguração”. Meu filho nasceu 20 dias antes, e depois de 20 dias eu estava trabalhando lá, por isso que eu me mudei: morar no Leblon para poder dar um pulinho em casa e voltar para o salão. A minha vida sempre foi o trabalho, e minha família também, mas compartilhando sempre as duas coisas.
P/1- E como é que era o seu trabalho lá no salão?
R – Meu trabalho começa desde que abre a porta e entra uma cliente. Eu recebo aquela cliente e levo ela, falo com ela. Porque o nosso salão se diferencia um pouco do resto por isso, porque aquela cliente que está entrando não é um número, é uma pessoa que você tem que saber o nome, que você tem que saber as dificuldades, anseios, tudo. Aquela mulher está entrando lá e procurando o que? Então a maioria das nossas clientes – a não ser a primeira vez, aí é diferente –, elas já te conhecem, já sabem. Você pergunta, você sabe os problemas que ela tem ou as alegrias, os momentos de felicidade, você sempre tem que corresponder a tudo isso, então meu trabalho começa aí, começa desde o momento que entra cliente até o momento que ela sai. E ______ também dirigir aquilo para que funcione, porque em Ipanema temos 50 pessoas, e na Barra temos mais 50 trabalhando. Você sabe que isso custa coordenar um pouquinho, você mexe com muitas mentes diferentes, com muitos níveis, também, e para que funcione você tem que estar sempre lá, dando a mão, dando apoio, dando dicas. Meu trabalho é esse, trabalhar com a cliente e com os profissionais, os funcionários que estão lá dentro, trabalhando.
P/1- Tá. A senhora, então, quando chegou ao Brasil, foi morar primeiro em Ipanema depois Leblon, então assim, entre Ipanema e Leblon, o que a senhora notou de mudança nesses bairros em relação ao comércio?
R – Eu senti que mudou algumas coisas, de repente algumas podiam ter mudado muito mais para melhor, e eu acho que Ipanema, na época que eu cheguei ao Brasil, era mais glamourosa, e isso me entristece muito. Por quê? Porque o Brasil ficou mais pobre, o Brasil, de repente, agora, tem mais dificuldade. E você vê mais latente tudo isso no dia a dia. Eu me lembro que quando eu cheguei no Brasil, Ipanema era um charme. Você não via pobreza, era tudo light, tudo bonito, e agora você convive com uma situação meio triste, de pobreza, de camelô, tudo isso você está vivendo dia a dia, muito latente isso. Por outro lado, também tem, em Ipanema, um charme. É moda, cresceu tudo muito mais, tem mais lojas, a moda está mais saltitante, mais patente em Ipanema. Você vê que o que você vê em Ipanema, você vai à Paris, vai à Londres, e de repente o daqui é muito melhor do que o de lá. Não adianta comprar roupa lá fora, aqui tem roupa maravilhosa, a moda está bem representada. Mas tem um lado que precisa ser melhorado muito, é isso que eu sinto diferença daquela época. O Leblon já é diferente, o Leblon eu acho que não é um lugar que você vê tudo isso de charme, de moda, é um lugar mais pacato, mais tranquilo, um lugar ótimo para se morar, mas pro comércio acho que não, não pegou e nem vai pegar, eu acho.
P/1- A senhora falou assim, de moda, de Ipanema. Tinha uma loja, no passado, que chamava atenção da senhora?
R – Sim, no passado já te falei, é aquela que estava do lado do Jambert, a Biba.
P/1- Como é que era essa loja, a Biba?
R – A Biba era assim: o mais moderno que você pudesse pensar que existia em roupa, a Biba tinha. Era uma loja pequininha. Eles foram famosos, as colunas sociais sempre que falava, era a Biba e era o Jambert. A moda era muito forte, muito, coisas que você nem pensava, coloridos muito fortes, era muito forte. Também tinha outra loja que na época era muito chique, era a Liu e Lui, que ainda existe. Só que naquela época era assim, era moda também considerada de alto nível, mas uma moda mais clássica, então tinha os dois lados.
P/1- E onde você comprava roupa assim, nos anos 70, quando você veio pra cá?
R – Comprava na Biba, gostava muito; comprava na Liu e Lui também. Eu não gosto também, de repente, marcar muito a moda com coisas marcantes demais, gosto também de coisas clássicas. E algumas outras lojas que agora não me lembro. De repente ia gostar mais... Mas por Ipanema, normalmente.
P/1- Alguma loja assim, de livro, de CD? Alguma outra assim, que a gente... Pra lembrar, mesmo.
R - Naquela época?
P/1- Naquela época. Lanchonete, tem alguma que você ia?
R – Bom, lanchonete eu gosto muito, e levei muitos e muitos anos no Beber Lanche. Ia muito no Beber Lanche, lá no Leblon, quando fui morar no Leblon, adorava.
P/1- Ainda tem?
R – Ainda.
P/1 – Fica aonde?
R – Fica na Ataulfo de Paiva, esquina com a Rainha Guilhermina... Não, a outra, do lado, não me lembro agora, depois da Rainha Guilhermina, agora eu não sei o nome dela, é uma lanchonete fantástica, que ainda existe. Quando eu fui trabalhar no Leblon eu ia sempre almoçar lá, e é de primeira qualidade.
P/1 – Fale um pouquinho pra gente se nessa época, nos anos 70, ou quando o Jambert foi pra lá, se tinha outros cabeleireiros, quem eram, como é que era.
R – Na época, em Ipanema, o primeiro, pioneiro, foi o Jambert, não tinham outros salões, ele que apostou numa coisa que ainda estava por vir. Mas tinha um salão muito bom, de um cabeleireiro famosíssimo, que era o Renan, ele trabalhava no Copacabana Palace, em Copacabana. Tinha o Arman também, um cabeleireiro em Copacabana, na Avenida Atlântica. Eram os cabeleireiros mais famosos na época, o Jambert foi o pioneiro em Ipanema, na época não tinha salões, em Ipanema.
P/1- E será que no centro da cidade tinha ou era mais...
R – Acho que... Conhecidos não me lembro. Os mais famosos eram eles, a maioria dos salões se concentravam todos em Copacabana, na época. Os salões mais famosos, tinha tido dois, três salões famosos que depois acabaram, e todos eles eram em Copacabana. Copacabana era most do momento. Depois que ele apostou em Ipanema que ela foi chegando, e Ipanema se converteu no centro da moda do Rio, e o primeiro foi o Jambert.
P/1- Você não quer falar um pouquinho do Jambert, da pessoa?
R – Bom, eu sou suspeita pra falar, mas qualquer pessoa que fale dele vai falar muito bem. Ele é uma pessoa altamente disciplinada em tudo o que faz: no trabalho, nas amizades, em tudo. É uma pessoa muito para a frente, muito para cima, com ideias altruístas, com querer cada vez conquistar mais espaços sem nunca pisar no outro. Ao contrário, ele tinha grandes amigos em todas as áreas, dignificou muito a classe, porque a classe de cabeleireiro era uma classe que era muito mal considerada, muito, e o nome dele, com as coisas que ele fez pela profissão, ele dignificou muito isso. Fez grandes congressos no mundo todo representando o Brasil, ganhou prêmios em todo o lugar, inclusive aqui também, no Brasil. Ele era uma pessoa incrível, muito bonito, muito alegre, muito amigo dos amigos. As clientes adoravam ele, era uma pessoa maravilhosa, poucas pessoas conheci na minha vida como ele. E não sou eu que falo, que sou sobrinha dele, que... Tudo nos laços. Mas eu escuto falar as amigas, as clientes, os maiores elogios, ele recebe.
P/1- Vamos só esclarecer aqui. Atualmente são três salões do Jambert. Diz os endereços.
R – Sim, o salão, a sede, vamos supor, o primeiro é em Ipanema, na Avenida Vinícius de Moraes, 71; o outro é no Condomínio Nova Ipanema, que é na Barra da Tijuca, em frente ao Barra Shopping, e o último que foi no Shopping Downtown, no bloco seis. São quatro lojas e um salão enorme com uma decoração do Luiz Fernando Redoma, decoração maravilhosa. É o ultimo dele, são os três salões.
P/1- E a sede, como é que é o salão?
R – Bom, o salão é o de Ipanema, que é na Vinícius, é o salão mais chique. É muito engraçado, porque eu trabalho lá há quase 30 anos, então agora eu me lembro da Sabor. Agora, vendo as filhas, vendo as netas, às vezes as tataranetas, é muito bonito, porque você vê o segmento daquelas pessoas que te acompanhavam há 40 e poucos anos quando o Jambert inaugurou, e agora está vindo toda a descendência delas, então é uma coisa muito interessante e muito bonita que você vê: “é, vai nascer o meu bisneto”, é uma coisa bem emocionante. E aquelas pessoas continuam vindo, elas encontraram uma qualidade naquela época que sabem que essa qualidade está continuando, e ela se encontra... Tem pessoas lá, de repente até o garçom, até o manobreiro, que daquela época... Sabe, assim? Uma coisa um pouco familiar também, e você já sabe também da vida de casa pessoa. É uma coisa bem gostosa.
P/1- E a decoração do salão?
R – A decoração o Jambert sempre primou por ter uma decoração não moderna demais, sair um pouquinho desse âmbito, porque normalmente todo salão faz, hoje em dia, uma decoração mais moderna, mais clean. Ele, dentro da modernidade − porque tem que ter modernidade −, tudo mudou, então a aparelhagem do salão não é a mesma de 40 anos atrás. Mudou tendo aparelhagens modernistas, secadores, aparelhos para tratamento, tudo isso continua sendo... Você tem que evoluir, e isso foi evoluindo. Por outro lado, ele sempre quis conservar e fazer um salão um pouquinho... Um reduto, também, da tua casa, com um charme especial, com um acolhimento, então sempre ele deu um toque de classe dentro do salão. No salão de Ipanema tem um puff com umas flores em cima, é aquela coisa meio francesa, aquele charme especial. Ele sempre deu um toque de decoração dentro dos salões dele. No Downtown nós temos um lustre que ele tem um pé direito de 5 metros de cristal, uma escada de bronze toda trabalhada... Sempre tem que ter dentro da modernidade mais alguma coisa com muita classe, que dá um estilo, estilo Jambert.
P/1 – Em termos de equipamentos, o que mais mudou? O que você lembra de equipamentos que tinham antes?
R – Os equipamentos foram mudando muito rapidamente, tanto o material de cabeleireiro trabalhar... Hoje em dia tem tesouras muito mais avançadas, de titânio, antigamente eram de ferro; os secadores agora todos são digitais, agora tem aparelhos para você acelerar as colorações, e tudo computadorizado, tudo isso mudou. Mas foi assim, uma coisa bem natural. As grandes firmas multinacionais foram introduzindo tudo isso no Brasil e chegou tranquilamente. A gente foi se adaptando a tudo isso muito facilmente, porque tudo foi para melhorar, para a rapidez, foi uma coisa muito boa.
P/1- Em termos de estilos, como eram nos anos 70, quando você começou a trabalhar lá, o que...
R – Aí mudou bastante. Mudou porque antigamente a gente chegava no salão e ficava... As senhoras ficavam três horas lá dentro, até saírem produzidas. Hoje em dia não, hoje em dia elas entram já querendo sair, então tem que ser muito mais fácil, muito mais rápido. A moda mudou muito, e mudou para isso, para você ter uma agilidade e não precisar tanto do cabeleireiro, uma coisa que foi um pouquinho contra nós, mas a vida é assim, a vida agora é mais corrida, é mais rápida. A mulher antigamente ficava no secador uma hora, mais outra hora pra preparar o cabelo. Agora não, agora a mulher vem pra cortar um bom cabelo, o corte tem que ser perfeito; faz uma escova rápida e em uma hora tem que sair do salão, se puder ser meia melhor, então mudou, mudou muito. A moda mudou e mudou para melhor, porque acompanhou a vida dessa mulher que hoje em dia trabalha e que tem pouco tempo para essas futilidades, que é o salão. É muito bom poder ter futilidades, mas a vida moderna não te dá muito tempo pra essas coisas, então você tem que acompanhar a rapidez da vida também nesse lado.
P/1- Qual é o horário do salão?
R – Em Ipanema, como é um salão tradicional de um bairro, nós funcionamos, começamos a trabalhar muito cedo. Por quê? Porque ainda temos aquelas clientes que gostam de chegar de manhã bem cedo pra depois ficarem livres, então abrimos o salão oito horas da manhã e fechamos sete e meia da tarde. Agora, o último salão que nós abrimos, que foi num shopping, aí você já tem que se adaptar ao estilo de vida daquele bairro, que é a Barra. É um shopping que fecha às dez da noite, então abrimos às nove e meia da manhã e fechamos às dez da noite. Nove e meia, dez horas da noite, que é outro estilo de vida, é diferente, porque as pessoas vêm de fora para morar lá e aproveitam para fazer o cabelo antes de ir para casa, aí é outro estilo de vida.
P/1- E nesse de Ipanema segunda não abre.
R – Em Ipanema não abrimos segunda feira, que é um dia muito tranquilo no salão, e na Barra já tem que abrir, porque já faz parte do movimento do shopping, que abre segundas feiras.
P/1 – E antigamente também não se abria salão segunda feira ou tinha...
R – Às vezes se abria na parte da tarde. Nós abrimos durante muito tempo só segunda feira à tarde, mas depois não vimos que é necessário, porque é um dia que a gente aproveita para fazer muita coisa no salão. Um salão tem uma manutenção diária terrível, tem mil coisas para ter, tem que ter tudo em ordem na terça feira. Ar refrigerado que tem que ser toda semana mantido, é secador, é pintura. É um desgaste muito grande, porque entra muita gente de uma vez só, ficam horas lá, e é um desgaste muito grande, então a manutenção tem que ser diária, constante, para que aquilo esteja funcionando sempre perfeito. Então agora dedicamos as segundas-feiras para essas coisas.
P/1- E como é a disposição dos produtos, as escovas? Como é que vocês... Fica amostra do...
R – Nós temos uma lojinha que faz parte do salão que vende os produtos para as clientes. Porque sabe, salão de cabeleireiro é prestação de serviço, não pode ter venda, aí ele tem que ter outra empresa dentro da empresa dele que se dedique a vender para cliente, e nós temos dentro do salão essa empresa que faz parte do salão mas é dedicada só à venda de produtos. Vendemos todos os tipos de produtos importados, a maioria para o cabelo.
P/1- E é dentro do salão?
R – Dentro do salão mesmo a cliente pode comprar. Só a parte fiscal que é diferente, mas você tem que ter aberta essa firma exclusivamente para venda, o salão não pode vender nada, porque o salão é só prestador de serviço. A gente fez, de uns anos para cá estamos fazendo isso.
P/1- A senhora podia explicar assim pra gente... Descrever principalmente a matriz em Ipanema, como a disposição de salão, por exempl, a parte que cuida de cabelo, de unha, como, mais ou menos, é dividido isso. Como são arrumados esses produtos, o material. Pode dar uma... Descrever?
R – O material...
P/1 – É, o material para o uso do salão. Os produtos, nesse caso que eu falo, são os materiais. Em que parte do salão fica a manicure, em que parte que eles tratam do cabelo, como é isso?
R – Bom, dentro de um salão existe uma equipe, uma equipe formada por profissionais: cabeleireiros, manicure, tinturistas, esteticista, podólogo, então cada um tem o seu setor. O podólogo tem o quarto dele, a cabine; a esteticista também; a parte de coloração são profissionais que só se dedicam àquilo. Não é uma pessoa que faz tudo, cada um tem a sua missão. Por quê? Porque cada um está preparado para exercer aquele lado. Salão é muito complexo, às vezes fala: “Ah, cabeleireiro que faz tudo”, pode ser, eu não duvido disso, tem gente que tem possibilidades de fazer tudo, mas não tem nada melhor do que cada um se dedicar a uma área e estudar aquela área com ________. Uma manicure só pra fazer manicure, um colorista só vai mexer com química, ele vai estudar aquilo e só vai fazer aquilo; o cabeleireiro só vai cortar, só vai pentear; a esteticista, no caso, a mesma coisa, então nos nossos salões é tudo dividido, o maquiador só vai maquiar... Nós temos essa peculiaridade, cada um faz uma coisa determinada, e aí, como eu te falei, cada um tem as suas cabines reservadas. As manicures ficam em conjunto, trabalham em conjunto. Como eu te falei, hoje em dia o tempo é primordial, enquanto faz o cabelo tem que fazer a unha, enquanto pinta o cabelo tem que fazer a unha, então tudo isso movimenta geral. Só fica reservada a cliente na hora que vai fazer uma limpeza, que vai fazer um tratamento, uma massagem, um tratamento dos pés, aí são cabines separadas, o resto é tudo assim, no dia a dia, rápido e em conjunto.
P/1- Como a senhora faz a seleção de pessoal, de funcionários? Tem algum tipo de teste?
R – Tem. É muito divertido, porque é muito difícil fazer isso. Nós trabalhamos com gente há muitos anos, temos ajudantes que não querem ser cabeleireiros, eles querem ser ajudantes e trabalham com a gente há mais de 20 anos. Eles não pretendem, então estão lá ajudando o cabeleireiro a lavar um cabelo, a enrolar um cabelo, fazer uma escova. Temos cabeleireiros... Não, os cabeleireiros têm alguns que já são cabeleireiro há muitos anos também. Posso falar nomes?
P/1 – Pode.
R – Tem o Wilson, que trabalha há 30 anos com o Jambert; tem o França, que já foi dono de salão, já foi nosso profissional há muitos anos e agora voltou, está trabalhando com a gente; tem o William, que se formou lá dentro, o Jambert formou ele, depois ele viajou o mundo todo e agora é cabeleireiro nosso há muitos anos. Tem gente que tem anos de preparo, gente muito capacitada. O resto é difícil, é como eu falo: “No Jambert ninguém sai”. Às vezes vem gente pedir emprego e eu falo: “Pô, tem que sair alguém, não sai ninguém”. É muito gostoso que tem gente que veste a camisa da casa, está muitos anos contigo. Quando é alguém novo, que você tem que pegar... Porque também tem gente que se aposenta, aí a gente vê, falamos com o SENAC e eles sempre nos mandam gente capacitada. Fazemos um teste e sempre tem dado certo.
P/1- Como é que o Jambert treinava os cabeleireiros?
R – Ele treinava... Bom, os cabeleireiros, quando iam trabalhar no Jambert, iam bem treinados. Ele nunca teve escola, sempre já chegaram com alguma bagagem e ficaram trabalhando do lado dele. O Jambert logo via que aquela pessoa tinha possibilidades, porque a arte do cabelo não se faz, se nasce muito com ela, com as mãos. Você pode estudar muitos anos, mas é o que eu falava: quer ser assistente a vida toda, porque não tem capacidade. Ele via logo em seguida “Essa pessoa vai ser ótima”, e aquela pessoa ficava trabalhando com ele. Hoje em dia não, lá fora tem grandes cabeleireiros que trabalharam junto com o Jambert e que ele formou, incentivou, e que hoje em dia são donos de salões, todos gente muito boa, e os outros que estão juntos, que fazem parte da equipe Jambert.
P/1- Qual é o mais antigo, então?
R – O mais antigo é o Wilson, mas tem muitos. Os que começaram na Barra, há quatro anos, estão todos também. Tem gente muito importante que trabalhou na Globo. Tem cabeleireiros muito bons, sabe, só pegamos gente que realmente é muito boa, muito.
P/1- E como é que são as propagandas? Como é que vocês atraem os clientes, promoção, como é que é?
R – Nós não fazemos muitas promoções, fazemos muitos convites. Nós temos aquela dedicação que toda vez que é o aniversário de uma cliente nós mandamos um cartão bonito, convidando ela a fazer um tratamento, é a maneira de atrair. Não fazemos promoções porque não é o nosso estilo de salão, não estamos direcionados para isso. Agora, quando a cliente entra lá, ela sabe que lá dentro tem muitos agrados para ela. De repente a cliente chega “Ah, vou cortar”, “primeiro vai fazer uma massagem, primeiro vai fazer isso, a casa está te oferendo isso”, então é uma coisa muito particular, não é uma coisa como hoje em dia tem muito salão que faz. E não discuto...
P/1- Promoção, terça e quinta é mais barato?
R – É, mas não é o nosso estilo de salão, nós podemos fazer isso, mas de maneira mais reservada, mais assim. Na questão de propaganda, quando o salão... Por exemplo, na Barra a gente precisa fazer muito isso. Tem naquelas revistas da Barra, a gente sempre entra fazendo comerciais, fazendo coisas, e fazemos muito incentivo para o teatro. Em Ipanema também, tem muitas peças de teatro. Agora, atualmente, tem duas ou três peças que nós estamos ajudando, fazemos cabelo e fazemos sempre, e há muitos anos que nós fazemos isso. Na Barra é a mesma coisa, então nós temos também em vários lugares de moda, de televisão que nós pede para preparar os modelos. Isso sempre fazemos, é a maneira que nós acostumamos a trabalhar muito tempo.
P/1- E o dia de maior movimento? Sábado?
R – É, sexta e sábado continuam sendo os dias carro chefe. Sábado, de repente, agora mais, porque a mulher trabalhar mais, e é o dia que ela tem para ficar no cabeleireiro.
P/1- E o período do ano, tem uma certa época do ano que as mulheres procuram mais?
R – Sim, setembro é um mês muito bom para os cabeleireiros.
P/1- Setembro?
R – Setembro. Era maio, mas mudou. Engraçado, maio que falavam que era o mês das noivas, mas agora ficou mais setembro; julho, setembro. Maio também é bom, mas de setembro para o final do ano são os meses mais fortes num salão de cabeleireiro.
P/1- Verão, assim, é...
R – Janeiro, fevereiro... Janeiro é bom, porque janeiro vem muita gente de fora, muito turista, e em Ipanema nós sentimos isso muito bem. Na Barra já não tanto, porque não tem turista, mas em Ipanema janeiro é um mês muito bom. O mês de carnaval é um mês muito tranquilo. Março começam as aulas, é um mês também mais devagar. Depois de março, a partir de abril, começa a melhorar.
P/1- E os funcionários trabalham de uniforme?
R – Sim. Não os cabeleireiros, os funcionários assistentes: manicures, garagistas, garçons, tudo uniformizado. Os cabeleireiros não porque os nossos cabeleireiros, eu já falei, é diferente; são cabeleireiros que têm muita bagagem, e são pessoa que trabalharam muito, viajaram. Eles, por si, são pessoas com uma classe, com uma distinção, você já sabe que ele vai ir bem apresentado no salão, então eles não trabalham de uniformes, os cabeleireiros.
P/1- Mas as manicures são a mesma cor ou tem tom diferente para as manicures e esteticista?
R – Não, nós sempre temos um padrão de uniforme, que não é uniforme branco, porque o nosso salão também não é branco e preto, é diferente. Então é uma roupa assim... Agora, atualmente, é uma roupa bege, é bordado, bege e branco, é uma roupa um pouquinho mais fina.
P/1- Como é que é o logotipo do salão?
R – O Jambert tem um escudo que foi registrado já há muitos anos, e é o que a gente usa muito, um escudo com ______, né, tem uma tesoura, tem uma escova, um escudo bem bonito.
P/1 – Quem criou isso, foi ideia dele?
R – Foi ideia dele, já há muitos anos ele fez esse escudo. Ele registrou aquele e ele sempre coloca em todos os lugares, foi colocado sempre.
P/1 – Já aqui no Rio ou o mesmo em São Paulo?
R – Sim, o mesmo sempre, e o nome Jambert.
P/1- E a famosa cacatua que ficava na porta do salão de Ipanema, conta aí essa história pra gente.
R – A cacatua acompanha a gente, o Jambert comprou ela quando chegou em São Paulo, quando inaugurou o salão dele comprou ela em São Paulo, numa loja de aves, e é a mesma. Muita gente diz: “não é possível”, e eu digo: “é a mesma”. Essa cacatua tem 50 anos, e ela está lá. Ela é um cartão de visita, todo mundo vai para lá e tira fotografias dela. Ela é muito carinhosa, bota a cabecinha assim para acariciar ela, ela é demais, é incrível, todo mundo conhece ela, e ela tem 50 anos.
P/1 – Ela traz clientes, então, também.
R – É verdade, todo mundo para lá na frente e é uma coisa. Agora eu vou contar uma coisa que me fez rir muito. Tem um neto de um cliente, o avô dele trouxe ele no salão e falou pra ele: “olha, essa é a Lola” − ela se chama Lola − “ela tem 50 anos”, falava para o neto, e o neto: “nossa, mas ela não tem ruga nenhuma” (risos), mas é verdade, tem 50 anos e está lá, e todo mundo conhece ela.
P/1- Quem cuida dela?
R – Ah, todo mundo lá. Ela tem comida maravilhosa, é muito bem tratada, muito querida, muito mesmo, muito querida.
P/1 – É o mascote.
R – É. Ela dá beijinho, é assim, uma coisa fofa.
P/1- Em termos de cliente, é mais mulher que vai?
R – Nós temos os dois setores. Em Ipanema, na parte térrea é o salão feminino e no primeiro andar é o masculino; nós temos uma equipe de cabeleireiros só para mulheres e uma equipe só para homens, porque o cabelo de homem é muito diferente do de mulher, então nunca um cabeleireiro masculino vai cortar igual a um feminino, e vice e versa, não. Então nós temos... O salão feminino foi inaugurado há 25 anos atrás, separado. Por quê? Porque tinha muito homem, marido das mulheres, que falavam: “Jambert, tem que abrir um salão masculino só para a gente”, porque homem não gosta de ficar num salão feminino. A mulher, de repente, nem se importa tanto de ter um homem lá no feminino, mas o homem não gosta. Engraçado, o homem gosta de ficar separado, porque se o homem quiser fazer uma tintura, fazer alguma coisa, ele não gosta que a mulher esteja olhando para ele, a mulher não tem mais preconceitos desses, então o Jambert fez um salão masculino sempre separado do das mulheres, se alguém quiser cortar lá no feminino, pode, não tem problema, não tem essa frescura toda, mas o homem que queira estar no lugar reservado dele, ele vai estar. E tem esse lado separado, com os profissionais separados.
P/1- Em que época mais ou menos começou isso, o homem procurar salão em vez de barbearia? Tem ideia, assim?
R – O Jambert foi o primeiro também que fez um salão, chama Salão For Men, que é dentro do salão Jambert, mas com um reservado só para homens. O homem deixou de ir à barbearia para ir num salão de cabeleireiro, tanto é assim que nós não fazemos barba, só cortamos cabelo. Limpeza de pele e coloração também, tem muito homem hoje em dia que faz coloração e ninguém sabe.
P/1 – E a unha, faz a unha?
R – Muito, unha e pedicure homem faz muito hoje em dia, só que não pinta, homem não bota... Só poli a unha. Não, mas está fazendo muito.
P/1 – Legal, e os clientes vêm todos do bairro ali, vem gente de fora pra lá.
R – Sim, nós temos clientes de muitos anos, desde que inaugurou, há 30 e poucos anos que inaugurou o masculino, e eles são clientes assíduos, sempre estão lá, a gente já conhece todos eles. É muito bacana, porque o homem já é mais reservado, sabe. Mas cada vez está avançando um pouquinho mais: “ah, será que eu faço uma limpeza, será que... Meu cabelo está começando a ficar grisalho e eu disfarço? Agora tem coisas incríveis para disfarçar os cabelos brancos...”. E tudo isso ele faz. Mas não precisa ninguém saber, isso é muito bonito de ver, como o homem está se cuidando e está entrando nesse mundo também da beleza.
P/1 – Em que época, mais ou menos, assim? Anos 90, que isso começou?
R – Homem?
P/1 – É, essa preocupação deles de pintar cabelo, assim... Quando é que vocês sentiram isso?
R – Já tem bastante tempo. Eu tenho certeza que de uns 15 anos para cá, que cada vez está mais... Homem depila, o homem pinta cabelo, faz muita coisa que a mulher nem sabe. E eu acho muito bacana isso, muito, porque o homem está no mercado de trabalho diário e está vivendo uma vida corrida, e tem que estar sempre bonito, apresentável, então tem que cuidar da beleza. Não, e é muito bom, o homem está fazendo isso cada vez mais.
P/1- Mas ainda vai mais mulher do que homem, no salão?
R – Sim, e homem é mais reservado também, ele não gosta quando faz isso, que ninguém fala, que apareça. O homem é... Mas hoje em dia a clientela masculina é boa, é muito boa.
P/1 – E vem gente de outros lugares da cidade, da zona norte?
R – Sim, e é engraçado, porque nós temos também − e isso é muito importante num cabeleireiro −, porque as pessoas de mais idade... Mas a juventude, a juventude é muito importante para nós, porque você também não pode ter um salão só de pessoas de idade. Claro que são as que mais gastam, as que tem mais dinheiro, mas você tem que ver modernidade também. Então no salão masculino e no salão feminino nós temos muita gente jovem. De repente não gasta tanto, mas que é muito bom para o salão, porque você vê que aquilo está evoluindo, está indo pelo lugar certo. Temos muita garotada, muita, e se preocupam com isso, sabe, com a beleza.
P/1- Tem muita gente que vai com a mãe desde pequena, né?
R – Sim, nós temos lá quatro gerações, às vezes: a bisavó, a avó, a mãe, a filha e a neta. É muito bonito isso, você vê a netinha pequinininha já querendo cortar o cabelo, querendo não sei, participar daquele momento. Isso é muito bom, e com os homens também.
P/1- Você tem alguma parte reservada para crianças?
R – Não, já tivemos. No Leblon era um salão muito grande, tínhamos um lado que era reservado para crianças, mas não interessou muito pra nós ter um espaço só para crianças, não temos.
P/1 – E clientes famosos, assim?
R – Ah, clientes famosas sempre tem muitas, muita artista da Globo, das novelas, temos muita gente. Muitas mulheres da sociedade também, que frequentam nosso salão, pessoas muito agradáveis, muito bacanas, aqui e na Barra, na Barra também, muito.
P/1- O Jambert já fez cabelo de atriz pra algum filme específico, penteado pra novela, alguma coisa assim?
R – Para filme eu não saberia falar, mas pra novelas já, várias. Ele fazia muito o cabelo da Eva Wilma, de varias artistas, tem artistas lá que vem há muito tempo, Christiane Torloni, a Luíza Brunet, Alessandra Negrini, então é muita rotatividade, gente muito amiga da casa que sempre está lá. Hoje em dia a Globo tem o departamento dela, de cabelo, então na época da novela é difícil que alguém faça o cabelo, mas elas não deixam de frequentar para fazer mão, para fazer qualquer outra coisa está sempre no salão. E lá na Barra também, porque lá na Barra tem mais proximidade, de repente muitas delas moram lá, então tem muita gente famosa.
P/1- Gelly, qual é a maior exigência das clientes do salão, dos clientes? O que eles mais exigem, fazem questão? Eles estão mais exigentes hoje em dia do que antes?
R – Hoje estão mais exigentes. De repente, com o tempo, com a rapidez dos trabalhos, mas o resto não, porque antigamente a mulher era mais exigente, tanto é assim... Tudo era mais complicado para fazer, e hoje em dia não, exigente é isso, a rapidez do trabalho. Deu o horário, é aquela coisa, aquela pontualidade que a cliente tem para não demorar demais, e a exigência é você continuar oferecendo sempre um serviço muito bom, um trabalho muito bom. Ninguém é exigente pedindo coisas mirabolantes, não é... Ela vai te pedir o que ela sempre encontrou lá dentro, você não pode se descuidar um minuto e aquilo tem que ir seguindo os padrões de você ir oferecendo as mesmas coisas, senão você deixa de receber aquela cliente. Hoje em dia, que ainda tem adversidades nos negócios, você tem que continuar dando aquele serviço e aquele tratamento especial.
P/1- E acesso à loja, como é que é, tem estacionamento?
R – Tem. Bom, em Ipanema nós não temos estacionamento, mas temos dois garagistas para dar aquele apoio quando o cliente chega com o carro. Ipanema é terrível, então temos dois garagistas pegando o carro. Leva até o estacionamento, estaciona lá na rua, quando tem espaço. Oferecemos esse apoio para a cliente, porque senão é terrível. Tem muitas que vêm de motorista, mas aquela mulher que trabalha, que vai com o carro, elas tem duas pessoas lá que está dando apoio.
P/1- E tem muita perua que vai, fica o dia inteiro lá, e sai com o cabelo assim... Como é que é?
R – Tem algumas, de vez em quando. Mas já mudou muito isso, mudou muito. Eu me lembro que quando comecei a trabalhar tinham mulheres que iam três vezes ao dia no cabeleireiro, iam de manhã, para o almoço, iam de tarde para o chá e à noite para uma festa de gala. Mudava a maquiagem de manhã, mudava o cabelo e mudava a maquiagem à noite, e o cabelo também. Hoje em dia não existe mais isso, para a nossa pena não tem mais. Não, porque tudo mudou, e hoje em dia a mulher já é... Agora, de vez em quando aparece alguma que você fala: “nossa, de onde que saiu, o que essa mulher espera da vida? A vida já não é mais isso, não”, mas tem mulheres que se tratam, porque eu acho que a mulher tem que saber se vestir e se pentear para diversos momentos do dia. Tem festas maravilhosas que a mulher não pode ir com um cabelinho simples, solto e ao vento; não, aquele vestido que ela está usando merece um cabelo mais penteado, nada de cabeção, nada assim, mas um cabelo chique, bonito e como a gente vê nos desfiles de moda, de alta costura, um complemento, porque o cabelo é um complemente do resto. Isso ainda tem que existir, porque às vezes está perdendo um pouquinho, e isso é o que fazemos questão de falar para a mulher, que a mulher não precisa ser perua para estar chique, para estar “classuda”. Ela tem que saber que tem todos os momentos, tem o momento descontraído, que você usa um cabelo simples com um corte e uma escova e acabou, mas tem momento que não, que aquele vestido de gala, aquela coisa merece um cabelo especial, uma maquiagem especial. Acho que isso a gente ainda tem, que dá em cima para que não acabe.
P/1 – Desde a década de 70 até os dias atuais, quais os cortes que ficaram mais na moda, que foram mais marcantes nesses últimos 30 anos?
R – Eu me lembro que o Jambert falava muito do corte pigmaleão, eu não estava aqui ainda. Era um corte todo em camada. Me lembro desse corte, mas ainda não estava aqui. Ele marcou muito esse corte, fez muitos cabelos com esse corte pigmaleão. Depois eu me lembro do Chanel; Chanel é um corte que se usou durante muitas décadas, continua se usando muito, que nunca vai passar de moda. Tem mulheres que ficam chiquérrimas com esse corte, o Chanel, e é um corte que eu vi passar durante muitas décadas até agora. Agora é a parte dos cortes desfiados, então pode ser curto, pode ser médio, pode ser longo, mas com muita leveza, um corte muito desfiado é o que está agora, atualmente, na moda, e isso é o que está se fazendo mais atualmente.
P/1- E unhas, esmalte?
R – Nas unhas teve uma evolução muito grande. Nós temos uma moça que trabalha com unhas de cristal, de porcelana, e isso evoluiu muito, porque o material evoluiu muito. Normalmente tudo vem dos Estados Unidos, e a mulher usa muito essa unha, porque não tem tempo de tratar. Essa unha dura muito mais, ela pode ficar um mês com uma unha perfeita, comprida, que é muito difícil... Não, e hoje em dia a mulher está fazendo muito esse tipo de trabalho nas unhas, muito.
P/1- Quando começou isso, antes era só unha mesmo ou já tinha unha postiça?
R – Tem aquela unha postiça há 20 anos que você colava, mas isso deu problemas, não dava certo. Mas de dez anos para cá o material tem evoluído por demais, é uma perfeição. Você vê a unha da pessoa e não acredita pensa que é dela. Mas a perfeição é tão grande que é impossível... De cinco anos para cá a perfeição é fantástica, essas unhas de porcelana são muito... E ela não estraga a sua unha, porque não encosta na raiz da unha, e elas são tão finas, tão transparentes, que é muito mais bonita que a tua unha. Isto a mulher está vendo, então isso está fazendo muito esse trabalho, muito.
P/1- Em termos de cor de cabelo, coloração: preto, vermelho, loiro, como é que é?
R – Coloração evoluiu muito também, de ano a ano muda muito. A coloração já se usava a 30 anos atrás, 40, e tem evoluído porque as firmas, as grandes firmas multinacionais, para elas interessam que mudem a cor do cabelo. Todo ano tem que ter tendências, e dentro das tendências cada vez as coisas são mais naturais. Hoje em dia as mulheres pintam o cabelo de várias cores, já não querem mais aquele cabelo uniforme, querem sempre com reflexos, alguma coisa que não marque tanto, e a mulher cada vez pinta mais o cabelo, cada vez mais, até, sobretudo, a pessoa jovem. As garotas de 16 anos começam já não como pintura, mas com um reflexo, com uma balayage. Elas começam desde muito cedo a mudar um pouquinho a cor do cabelo delas. Isso é bom pra nós, e interessante.
P/1- Antigamente era só quem ia começar a aparecer o branco e pintava.
R – Antigamente a mulher pintava para esconder os branquinhos, e agora não, agora a garotada pinta para dar uma luz no cabelo. Não precisa aparecer, mas tem que ter uma luz, tem que ter alguma coisa assim, que dê luz ao cabelo e ao rosto também. E se pinta o cabelo assim, com luz, com cores diferentes, nada muito ______ não.
P/1- E essa questão de... Quando é que vocês começaram a diversificar os serviços? Desde o início tem depilação, limpeza de pele?
R – Desde o início. O Jambert quis sempre fazer esse lado, cada profissional ter o seu espaço, ter o seu lugar, então desde que foi inaugurado o Jambert tem o colorista, tem a depiladora, tem a manicure, tem o cabeleireiro, tem o assistente. Cada um tem o seu espaço, e até agora deu certo sempre.
P/1 – Tem algum serviço novo que não tinha quando você entrou?
R – Tem o massagista, terapeuta, que não tinha... Tem alguns tratamentos capilares que tem evoluído com o tempo. Tem o negócio das unhas que antigamente não tinha, então muitas coisas têm evoluído. Na parte de química muito tem evoluído, é o que falamos, que tem aquela tinta para tampar o branco. Agora não, agora tem mil gamas de cores, de maneiras de fazer que já não são as mesmas de antigamente, tem muita coisa.
P/1- Tem produtos que não estragam tanto o cabelo?
R – Muita, ou então nas firmas de cosmético que trabalham para cabeleireiro. Tem evoluído muito, a maioria são multinacionais, então todo ano eles apresentam novidades, todo ano tem novidades nesse lado do cabelo, e muito bom, sempre para melhor.
P/1 – E quais são as mais conhecidas, as marcas mais conhecidas, no passado e atualmente?
R – Continua nas mesmas, é L’oreal, Wella e _________, são as três marcas pioneiras e que adquiriram um resultado muito bom até agora.
P/1 – E a loja tem algum produto próprio?
R – Não.
P/1 – Com a marca Jambert?
R – Não. Foi oferecido pra ele, mas ele nunca... O Jambert é uma pessoa tão certa, tão... Sumamente. Se cobrava tanto de tudo que se não fosse uma coisa garantida, ele não aceitava.
P/1- Vamos falar um pouco sobre sistema de pagamento, né. Como é a forma de pagamento na loja, cheque, cartão?
R – Também muda muito. Era dinheiro, depois...
P/1 – Antigamente era só em dinheiro, né?
R – Só. Depois passou para cheque, e agora a maioria é cartão, 50 por cento, 60 por cento é cartão.
P/1- Mais ou menos, assim, há quantos anos começou esse boom do cartão?
R – Ah, deve ter uns seis, sete anos que o cartão está cada vez mais avançando sobre o resto.
P/1 – E na época de mudança de moedas, nas crises econômicas, teve alguma diminuição no numero de clientes?
R – Teve. Eu me lembro muito da época do Collor, a gente... Já te falei, as clientes fazem parte, um pouco, como se fosse a nossa família, então de repente eu via: “nossa, aquela senhora tal” − nomes que eu não vou falar − “não está vindo mais, o que aconteceu? Cliente aí de tantos anos”, eu ligava “oi fulana, o que aconteceu?”, “o Collor acabou com a minha vida, está tudo parado”, teve crises, mas depois Graças a Deus o Brasil tem esse poder tão grande de superar todas essas crises, todo voltou à normalidade, mas teve muitas crises.
P/1 – Atualmente você acha assim que o movimento está bom, tá estável?
R – Tem de tudo, tem épocas que você fala “Ih, é uma crise mesmo”, mas de repente você vê que volta de novo. É aquela coisa, está normal.
P/1- E a relação dos funcionários, assim, como se dá todo mundo? Se dá bem?
R – Sim, nós conseguimos ter uma grande família lá dentro, isso é difícil, mas nós conseguimos. Eles são amigos da casa, a casa adora eles, e você tem que dar muito valor ao seu empregado, se ele é bom, porque ele convive mais contigo do que na própria família, às vezes, então aquela pessoa que está contigo a tanto tempo, que está trabalhando lá, você tem que dar valor. Você dando valor ele vai agradecer e vai trabalhar muito melhor também, é um lema que nós temos, nós somos uma grande família, sempre falo isso.
P/1- Rotatividade não é muito grande.
R – Muito difícil, só quando queremos ampliar, de dizer: “Não, vamos colocar mais gente, porque está precisando”, aí que nós vamos procurar. Mas alguém sair da firma é muito difícil, a não ser que... Às vezes saem para ir morar no estrangeiro, porque tiveram um contrato, alguma coisa que aconteceu; ou que se aposente, que fala: “Olha, vou deixar de trabalhar”, mas senão, para ir a outro lugar é difícil, muito difícil. Ou cabeleireiros que abriram o próprio salão deles também, aí é muito bacana também, mas senão é difícil.
P/1- A senhora já falou da sua família, a senhora é casada... Tem filhos?
R – Tenho dois filhos, dois homens.
P/1- Quais os nomes deles?
R – O mais velho se chama Daniel e o outro Oliver. O Daniel tem 30 anos e o Oliver tem 21 anos. O Daniel ele estudou engenharia eletrônica, se formou, e o Jambert inaugurou o salão do (Dan Ton?), e não tinha ninguém para colocar lá, porque era um salão muito grande, um salão com muita coisa para ver. Não, falou para meu filho: “Por que você não entra lá para me ajudar?” e meu filho começou a trabalhar lá no (Dan Ton?), há quatro anos, que foi quando inaugurou o salão.
P/1- Na administração também?
R – É, dirigindo tudo, ele que leva tudo lá.
P/1- E o outro?
R – O outro ainda está estudando.
P/1- Então a senhora... Quer dizer, pelo que se está caminhando, a senhora gostaria mesmo... Ele deve dar continuidade ao negócio, o que a senhora acha disso?
R – Eu acho que é uma empresa familiar, é uma empresa que a família toda entrou para lutar e pra levar o nome do Jambert à frente, e é uma missão que eu acho que eu tenho e faço com todo o meu maior agrado, com toda a minha vontade de fazer alguma coisa e levar o nome do Jambert à frente, ainda que ele não esteja, ele deixou muita história, deixou uma equipe muito boa, então é fácil para eu continuar isso.
P/1- Nas horas vagas você faz o que para se divertir? Você vai pro salão e... Vai no salão, mesmo?
R – A minha vida é salão mesmo, mas domingo eu me divirto, eu gosto de teatro, gosto de cinema, gosto de passear, de ir a restaurantes, de ira a Búzios, adoro Búzios, essas coisas assim.
P/1- E é vaidosa?
R – Sou bastante. Nas minhas férias vou para Barcelona ver a minha família, uma vez por ano costumo ir, aí vou à Paris, visito salões também dos amigos do Jambert para ver se algumas coisas mudaram de cremes aqui... Vou aos Estados Unidos também uma vez por ano, para Nova York. Então a minha vida é assim, movimentada.
P/1- E aonde a senhora costuma fazer suas compras, que bairro?
R – Não tenho lugares muito certos não, sabia? Eu costumo fazer em Ipanema, eu gosto muito... Uma segunda-feira de andar por Ipanema, nas galerias de Ipanema, aí de repente vê alguma roupa que eu gosto e compro lá, mas não tenho uma loja certa não.
P/1- E a senhora é vaidosa?
R – Sou bastante. Eu gosto de me vestir... Um modelo, mas mais clássicas, muitas vezes pelo meu trabalho. Eu gosto quando chega uma cliente e fala: “Ai, que roupa bonita, que não sei o que”, porque ela está entrando no mundo da futilidade, e você também tem que acompanhar um pouquinho isso. Gosto de me vestir bem, de estar na moda, faz parte também do meu mundo.
P/1- E cabelo, unha, frequenta também bastante o salão?
R – Sabe que nem tanto como eu deveria? Porque às vezes não tenho tempo.
P/1- Mas é só ir ali do lado.
R – Engraçado, mas não posso, porque eu não sei como te dizer... Eu me entrego muito a tudo, então quando entro no salão, entro para trabalhar, sabe, isso eu me esqueço de mim mesma. Às vezes não, tenho que fazer o cabelo porque de noite vou ao Municipal, vou a algum lugar importante, mas senão eu esqueço. Chego em casa, lavo, seco, e acabou. A unha também, eu não tenho muito tempo para essas coisas, porque para mim o principal é o trabalho, me dedico muito ao trabalho.
P/1- E a senhora é fiel ao seu cabeleireiro lá no salão?
R – Não, também não. Também nem posso, senão eles ficam com ciúmes. Eu mudo bastante, senão eles ficam com ciúmes, cabeleireiro é uma raça terrível.
P/1- Ciumento, né?
R – Terrível. Eu mudo, um dia faço na Barra, outro dia com faço com um, outro com outro, mas eles são ciumentos, sim.
P/1- A gente já vai finalizando aqui a entrevista. Mais duas perguntas: uma, se você quisesse mudar alguma coisa na sua vida, na sua trajetória, você mudaria?
R – Mudaria. Eu teria sido cabeleireira, não me deixaram. Ainda bem que eu fiquei dentro de um salão de cabeleireiro, alguma coisa ficou.
P/1- De repente a contribuição sua era essa.
R – É verdade, pode ser, a minha missão era essa.
P/1- Então tá. O que a senhora acha de participar desse projeto do SESC, do livro sobre Memórias do Comércio do Rio de Janeiro, dando o seu depoimento?
R – Adorei, porque eu acho que o Brasil merece um pouco isso, reconhecer grandes nomes que passaram, que ainda estão... Porque o Brasil é um país maravilhoso, mas com uma memória muito curta. E o Brasil esquece muitas coisas boas que teve, então se ela teve e tem... Tem que dar valor a esse... Eu agradeço demais, e no que puder cooperar vou cooperar.
P/1 – A gente que agradece, muito obrigada de ter participado.
R – Obrigada a você.
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