Correios – 350 Anos
Depoimento de José Luiz Peron
Entrevistado por Rosana Miziara
Brasília, 8/07/2013
HVC031_José Luiz Peron
Realização Museu da Pessoa
MW Transcrições
História de vida
P/1 – Senhor Peron, o senhor pode começar falando o seu nome completo, local e data de nascimento?
R – José Luiz Peron, nasci em Santa Rita do Passa Quatro, Estado de São Paulo em 14 de fevereiro de 1944.
P/1 – Os seus pais são de Santa Rita do Passa Quatro?
R – São. Meus pais eram de Santa Rita...
P/1 – Seu pai e sua mãe?
R – É. Agora, meus avós eram todos quatro italianos.
P/1 – Tanto do lado de pai quanto de mãe?
R – É. Todos da região do Vêneto.
P/1 – Como é a história deles? Como seus avós maternos e paternos vieram? Eles vieram juntos?
R – Não...
P/1 – Ou se conheceram aqui?
R – Se conheceram no Brasil. Eles vieram como imigrantes, entraram pelo porto de Santos, começaram a trabalhar na lavoura. Foi justamente naquele grande fluxo migratório que houve entre 1870-1890 para substituição da mão de obra escrava pelos imigrantes estrangeiros, foi o caso de italianos, principalmente em São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e alemães em Santa Catarina, Rio Grande do Sul e eslavos no Paraná, principalmente. Então foi nessa época que eles vieram.
P/1 – E eles vieram para onde, para qual cidade? Para Santa Rita?
R – Foi para Santa Rita.
P/1 – Os quatro?
R – Foi. Não só esses, mas outros tantos.
P/1 – Lá era um lugar...
R – Era um lugar de fazendas de café, então havia muita disponibilidade para mão de obra cafeeira. Então, os imigrantes lá chegaram em grande número. Basta dizer que era a população de Santa Rita por volta de 1920, a maioria dos habitantes, de cinco mil e poucos habitantes praticamente quase uns três mil eram italianos legítimos. Depois é que, naturalmente, foram criando os filhos e netos, mas era uma cidade que surgiu praticamente no ciclo do café na região...
P/1 – E onde seus avós trabalhavam? Na lavoura?
R – Começaram a trabalhar na lavoura e depois, aos poucos, foram adquirindo terra e eram pequenos sitiantes.
P/1 – Os dois?
R – É. Depois mudaram para as cidades e aí os filhos deles que continuaram com a parte de lavoura e...
P/1 – Mas os dois eram sitiantes, tanto o materno quanto o paterno?
R – Eram, é! Naquele tempo eram pequenas fazendas.
P/1 – E você sabe como o seu pai e a sua mãe se conheceram?
R – Foi na cidade, já por volta de 1940.
P/1 – E você sabe como é que foi, em que ocasião eles se conheceram?
R – Se não me falha a memória foi em igreja que eles se conheceram e depois se casaram.
P/1 – E o senhor nasceu em Santa Rita? O senhor tem mais irmãos?
R – Tenho, só que não nasceram lá. Na época que eu nasci os meus pais estavam de transferência para Uberlândia, Minas, porque lá em Santa Rita havia a companhia de eletricidade do Agostinho Prada e ele comprou depois a concessão em Uberlândia. Ele levou muita gente que trabalhava lá em Santa Rita para trabalhar em Uberlândia, e no caso eu tive um tio que foi para Uberlândia e o meu pai também foi depois para trabalhar lá. Então eu sei que eu praticamente só fiz nascer no estado de São Paulo, com 40 dias fui para Minas.
P/1 – E o seu pai trabalhava antes com o que? Ele trabalhava com seu avô na roça?
R – Não. Isso até os 20 anos, ele trabalhava mais ou menos com o meu avô; depois, ele trabalhou num campo do Ministério da Agricultura lá da demonstração de fumo, que eles trabalhavam justamente com sementes, melhorando a produção, as coisas. Depois disso, aí quando ele foi para Uberlândia e começou a trabalhar com Agostinho Prada na companhia de eletricidade até a época que ela foi encampada pela Cemig. Foi lá que ele aposentou, ele era maquinista de usina.
P/1 – Aí o senhor mudou. O senhor tinha quantos anos quando eles se mudaram para Uberlândia?
R – Eu tinha 40 dias. E fiquei lá em Uberlândia até à véspera de eu completar 20 anos. Aí vim para Brasília, prestei vestibular na Universidade de Brasília. Na época eu consegui passar em primeiro lugar no curso de Letras daqui. E de 64 para cá, até hoje eu estou em Brasília.
P/1 – Vamos voltar um pouquinho. E o senhor lembra como era essa casa do senhor em Uberlândia?
R – Era casa boa, construída pela companhia: casa de alvenaria, tinha eletricidade, água corrente, água quente, de tudo tinha, vários quartos...
P/1 – E o senhor tem quantos irmãos?
R – Dois irmãos. Bom, todos os dois se formaram em Engenharia, um em Engenharia Elétrica, foi depois trabalhar ainda na Companhia Prada em Ponta Grossa, no Paraná, que foi encampada depois pela Copel, ele se aposentou pela Copel; e o outro como engenheiro civil – os dois se formaram em Belo Horizonte. E o outro, formado em Engenharia Civil, trabalhou até a aposentadoria dele na Companhia Andrade Gutierrez construindo usinas, represas, como aquela Usina Dois Irmãos, como a Usina de Emborcação em Minas Gerais. Depois, nos últimos tempos, ele estava trabalhando na construção de um aeroporto da Andrade Gutierrez lá em Quito, no Equador.
P/1 – Descreve um pouco como é que era Uberlândia naquela época.
R – Era uma cidade relativamente pequena, menor do que Uberaba, que era já um centro inclusive de criação de gado muito grande. E Uberlândia foi a partir da década de 50 que começou a progredir como entreposto comercial entre Goiás e São Paulo, porque o Triângulo Mineiro, ele sempre foi mais ligado economicamente ao Estado de Goiás e ao Estado de São Paulo do que a Belo Horizonte. Basta dizer que ao passo que a gente já tinha estradas asfaltadas que iam de Uberlândia até Goiânia, até São Paulo, passando por Uberaba e passando por Ribeirão Preto do que passando por Belo Horizonte, que só depois que eu mudei para cá que praticamente a rodovia passando por Belo Horizonte se completou direitinho. Antes disso... Então é como entreposto comercial, e principalmente com máquinas de arroz e grandes comércios foi que a cidade se desenvolveu a partir da década de 50. Quando eu mudei para cá em 1964, já era uma cidade mais ou menos, com mais de 50 mil habitantes. Hoje já é a segunda ou terceira cidade do Estado de Minas Gerais, muito maior do que Uberaba.
P/1 – Descreve um pouco como era a sua casa. Quem é que exercia autoridade: seu pai ou sua mãe?
R – Os dois. Normalmente o papai que trabalhava mais tempo fora, e a mamãe mais dentro de casa, então a autoridade era dos dois.
P/1 – Descreve um pouco como era seu pai.
R – Era um homem muito reto, cumpridor dos deveres, não admitia mentira, então era uma pessoa que... Tinha sido Congregado Mariano na juventude, então ele tinha uma formação religiosa que levava isso para a vida dele, a prática. Tanto é que depois que ele se aposentou, nos últimos tempos, ele trabalhava lá na igreja ajudando nas missas, ajudando os padres. Era muito religioso, ele e minha mãe. Quando eles se conheceram ele era Congregado Mariano e ela era Filha de Maria na igreja, foi onde se conheceram na igreja, por volta de 1940.
P/1 – E ela como era? Descreve ela um pouquinho. Como é o nome dela?
R – Ermínia. Ela trabalhava muito, ajudava, fazia inclusive costura, tem até a máquina antiga de costura dela aqui em casa, fazia costura, ajudava papai. Ela fazia doce, ele nos dias da folga vendia na cidade, foram fazendo economia juntos e conseguiram comprar casa, fizeram um pé de meia e deixaram para gente. Eram muito econômicos!
P/1 – E como era na sua casa? Você brincava com seus irmãos?
R – Brincava, brincava!
P/1 – Do que vocês brincavam?
R – Brincava com tudo. Tinha muitos filhos lá dos outros.
P/1 – Com a criançada da rua.
R – Não eram da rua. Eram usinas a 24 quilômetros da cidade, então, lá tinha mais ou menos umas dez, 12 crianças. A dificuldade maior nossa era a questão da escola, porque a escola era seis quilômetros longe da usina, então, a gente ia e voltava todo dia, andava seis quilômetros atravessando pasto, atravessando ponte, porteira, tudo. A gente ia e voltava todo dia. A gente almoçava cedo, gastava uma hora mais no caminho para ir e outra hora para voltar, então, a gente estudava à tarde.
P/1 – Você ia com outras crianças? Com quantos anos o senhor entrou na escola?
R – Sete anos eu entrei. Era escola municipal que nós estudamos.
P/1 – Como era o nome dela?
R – Escola Municipal Felipe dos Santos.
P/1 – E professores daquela época, o senhor lembra?
R – Francisco Gomes Filho, era o professor de todas as turmas. Ele era uma pessoa muito correta, muito culta.
P/1 – Do que o senhor gostava na escola?
R – De todas as disciplinas, principalmente, no caso, Português, História, Geografia, eram as que eu mais gostava; Matemática eu gostava, mas tinha medo de errar nas contas, meu problema de Matemática era saber das coisas e o perigo de errar nas contas, era mais medo do que não gostar. Ciências, gostava também, a gente gostava de tudo.
P/1 – E como eram os hábitos na sua casa? Se comemorava festa de Natal?
R – Natal, Ano Novo. A gente não tinha costume de fazer festa de aniversário, isso não existia muito naquela época. Quando muito ganhava um presentinho, mas não tinha essa questão de bolo, de chamar coleguinha. Só depois de grande que fiquei conhecendo essa parte.
P/1 – E religião, o senhor teve formação religiosa?
R – Católica! Na usina mais distante era difícil às vezes ir à missa, à igreja. Agora, depois que mudamos para uma usina mais próxima quando já tinha 14 anos, eu já estava no segundo ano colegial, aí então era mais fácil. A gente ia e voltava todo dia, inclusive a gente ia e voltava de bicicleta todo dia para escola. Eram seis quilômetros da usina até a cidade, então era a distância que antigamente tinha entre nossa casa e a escola.
P/1 – Vocês iam de bicicleta e não a pé.
R – Não, ia de bicicleta.
P/1 – E um bando de criança.
R – Não, aí não era mais criança. Eu já tinha uns 13, 14 anos, o outro meu irmão tinha 12 e o outro tinha dez, 11.
P/1 – E política se discutia na sua casa?
R – Discutia.
P/1 – O que se falava de política lá?
R – Política? A primeira vez que eu me lembro de política lá foi mais ou menos por volta da década de 50, quando houve aquela cassação do Partido Comunista. Papai era inimigo ferrenho do comunismo, então para ele foi a melhor coisa que teve. E ele era partidário de Getúlio Vargas, ele era getulista. Ele era Getúlio Vargas e Adhemar de Barros as duas grandes figuras que ele gostava na época. Depois ele teve uma certa decepção com Adhemar de Barros quando descobriram aquelas falcatruas todas dele, que é coisa que ele não admitia. Depois, por volta de 1950, ele era do PTB. Naquela época eu não tinha inclinação política. Em 54 foi a primeira vez que eu já fui manifestando, na época eu já participava de uma coligação que era UDN, PSB e PRB. E do outro lado tinha o PSD, o PSD era o grande partido que a gente era contra. Tanto é que na época a gente não gostava de Juscelino, eu vim gostar de Juscelino depois que me mudei para Brasília, sinceramente, depois que ele já estava fora da política, por questão partidária. Então eu era partidário da UDN. Em 1960 nós tivemos uma grande decepção quando se elegeu Jânio Quadros e ele aprontou o que aprontou. Com relação ao João Goulart, a gente era contra ele. De início apoiamos o que seria a derrubada dele, o que seria a revolução, e depois desencantamos com a revolução. Aí, nos últimos tempos papai era ligado ao PMDB. Não! Ao MDB, depois é que passou PMDB, que virou outra anarquia e ninguém...
P/1 – E a adolescência do senhor? O senhor passou em Uberlândia?
R – Passei.
P/1 – Como é que foi a adolescência lá em Uberlândia? O que vocês faziam, quais eram os programas?
R – Cinema todo domingo, durante a semana estudar, ir para casa e voltar; durante as férias a gente normalmente nadava no rio, na represa, pescava, era mais ou menos isso. Ajudava na separação do gado, apartava os bezerros à tarde, isso tudo a gente fazia em casa.
P/1 – Vocês moravam aonde? Na mesma casa?
R – Na usina.
P/1 – Na casa da usina.
R – É. Sempre na usina, primeiro em uma usina e depois na outra. Na primeira até a época que estava, quando eu fiz o primário, a gente estava numa usina bem mais distanciada, a 24 quilômetros da cidade e seis quilômetros da escola que eu estudava. E a outra, mais recente, era a seis quilômetros da cidade. Aí papai foi para essa usina. Construíram depois, porque tinha a usina hidrelétrica e depois construíram a usina termoelétrica, porque a cidade foi crescendo e precisava de mais energia.
P/1 – O senhor frequentava festinha, bailinho?
R – Muito, muito pouco. Era muito pouco essa parte.
P/1 – Que música o senhor escutava? O senhor escutava música?
R – Escutava.
P/1 – Que música o senhor gostava?
R – De um modo geral, música popular brasileira e no início da década de 60 a música dos Beatles, música italiana, a gente gostava muito de música italiana, música francesa, aquelas que eram, vamos dizer assim, as músicas da moda.
P/1 – Fala de uma música. O senhor lembra de alguma música assim que tenha marcado a sua adolescência?
R – Tinha aquela “Sapore di Sale”.
P/1 – Qual é que é?
R – Música italiana. Tinha aquela “Dio Come ti Amo”, de Gigliola Cinquetti. As músicas dos Beatles de um modo geral, principalmente aquela Submarino Amarelo, a Penny Lane eram as que eu gostava mais.
P/1 – O senhor sabe cantar um trechinho da Penny Lane?
R – Não. Cantar eu não sei cantar música nenhuma. Eu sei ouvir bem, inclusive tenho uma quantidade muito grande de discos, ainda antigos, e tenho de CDs também aqui e ali dentro.
P/1 – Naquela época o senhor tinha algum sonho de quando crescer, algum desejo de alguma coisa?
R – Ser professor.
P/1 – Você já queria ser.
R – Já. Admirava meus professores. Naquele tempo professor era uma profissão respeitada. Não ganhava muito como outras profissões, mas pelo menos tinha um certo status. E hoje em dia nem isso tem mais.
P/1 – O senhor queria ser professor porque tinha alguém na sua família que era professor?
R – Não. Na minha família nunca teve ninguém, mas era uma vocação, uma coisa que eu gostava.
P/1 – E queria ser professor do que?
R – Na minha área, português ou história, geografia. E acabei sendo de português. E por consequência da filatelia, que eu comecei a colecionar selos em 1957, com 14 anos, e pelos conhecimentos que eu já tinha em filatelia, vim ser professor de Filatelia na Escola Superior de Administração Postal.
P/1 – Com quantos anos o senhor começou a colecionar?
R – Com 13 anos.
P/1 – Treze! Porque, como é que começou isso?
R – Juntando selo fui gostando, trocando com os colegas, então fui montando. Naquele tempo a gente não dizia fazer coleção, era "juntar os selos". Aí depois que a gente foi se especializando, mexendo.
P/1 – Da onde que o senhor pegava os selos? Como o senhor juntava os selos?
R – Tinha os selos brasileiros e tinha lá na companhia onde papai trabalhava. As cartas que chegavam, eles separavam os selos para gente. Depois a gente lavava os selos, levava os selos e trocava com os colegas. E ia juntando, os colegas traziam. Às vezes, tivemos alguns alunos, pessoas estrangeiras que vieram estudar no colégio, que traziam também selos, trocava, então começou assim. E quando vim para Brasília é que essa coleção minha deslanchou a partir de 64.
P/1 – Na sua casa vocês recebiam cartas? Mandavam cartas.
R – Recebia, recebia.
P/1 – De quem vocês recebiam?
R – Dos parentes. Parentes, amigos, parente. Toda a parentada que estava no estado de São Paulo, que estava no Paraná, a gente recebia.
P/1 – Tem alguma carta que o senhor lembra?
R – Não. Naquela época não. Eu lembro que a gente recebia, o pai lia as cartas e me dava o envelope para eu tirar o selo.
P/1 – E como o senhor juntando? Como vocês trocavam? Seus amigos também colecionavam?
R – A gente levava na escola, lá, então, na hora do recreio. A gente levava o repetido e trocava. Dependendo de algum selo que a gente gostava mais, que achava que era caro, dava muitos selos em troca de um, às vezes, era um por um e fazia as trocas.
P/1 – E aí o senhor resolveu fazer Faculdade de Letras?
R – Em 63 terminei o curso clássico e aí vim aqui para Brasília e fiz o curso de Letras.
P/1 – Por que o senhor veio para Brasília?
R – Porque a Universidade de Brasília estava abrindo, eu tinha uns colegas vindo. Então, a gente podia ou ir para Belo Horizonte, porque naquela época não havia Faculdade de Filosofia em Uberlândia. Ou fazia faculdade em Belo Horizonte, em São Paulo ou vinha para cá. Como aqui estava abrindo nova, então nós resolvemos. Darcy Ribeiro tinha começado a faculdade no meio do ano de 63, tinha começado em 63. Em 64, a segunda turma que entrou na Universidade foi a minha.
P/1 – Na Federal?
R – Na Universidade de Brasília. Começamos o curso em fevereiro, e em primeiro de abril a Universidade foi cercada e muitos professores foram presos e levados. Depois alguns foram devolvidos, outros não.
P/1 – E o senhor participou desse movimento?
R – Não. Naquela época eu era politicamente mais reacionário do que a maioria da juventude... A juventude era esquerdista, e eu tive uma formação mais o que seria democrata cristã. E tinha também um tio português e um primo, que era casado com a prima de papai aqui, italiano. O português que para ele era Deus no céu e Salazar na terra, e mesmo depois disso o outro que era partidário de Mussolini, então, não gostava de jeito nenhum dos esquerdistas. Então aqui, quando eu participei inclusive da política estudantil, em 66 quando fui presidente do diretório acadêmico Carlos Drummond de Andrade, a gente tinha na nossa chapa sete membros. Dos sete eu consegui quatro era não comunistas, e outros três eram simpatizantes.
P/1 – E como foi morar em Brasília? Qual foi a sua primeira impressão quando você veio para cá?
R – Era uma cidade completamente diferente. A gente alugava quarto na Asa Norte, que era bem próximo da Universidade. Funcionários públicos alugavam quartos e a gente alugava quartos lá, estudava na Universidade de manhã, ficava lá de tarde. Eu fiquei como bolsista, trabalhando no departamento lá no primeiro ano. Depois do segundo ano em diante que eu comecei a lecionar em cursinhos por aqui. Depois fiz concurso. Antes fiz um exame de suficiência no MEC, peguei o registro provisório, porque ainda não tinha formado na Universidade. Eu sei que quando nós formamos, da nossa turma praticamente uns cinco ou seis de 30 e tanto é que ainda não estavam empregados, trabalhando na Fundação Educacional do Distrito federal, então nós já estávamos trabalhando.
P/1 – O senhor começou a trabalhar no segundo ano da faculdade?
R – Em cursinho já comecei no primeiro ano, no final do primeiro ano eu já comecei a trabalhar. No segundo ano seguinte eu já comecei na Secretaria de Educação. Aí teve um período que era bem puxado para mim: estudava de manhã na Universidade de Brasília, à tarde lecionava na Fundação Educacional. Pegava ônibus na Universidade, almoçava... Estudava lá de manhã, pegava o ônibus, ia até a rodoviária, depois pegava o ônibus, naquela época da Aviação Pioneira, depois ia até Taguatinga, no último ponto. Lá e ia depois no Senado. Em Taguatinga lecionava à tarde. E à tarde vinha, e à noite lecionava num cursinho chamado CTM. Depois fiz outro concurso para Fundação Educacional e passei a trabalhar à noite também, então era de manhã na Universidade, à tarde em Taguatinga e à noite na Asa Norte. E foi até que eu formei. Depois de formado, aí... Antes disso, antes de formar, então, à tarde eu passei em Taguatinga a lecionar no Elefante Branco; o Elefante Branco é um dos colégios mais importante de Brasília. Os alunos nossos de lá iam direto prestar vestibular na Universidade de Brasília e passavam. Naquela época o ensino era bastante bom. Então, era de manhã na Universidade, à tarde no Elefante Branco e de noite ia para Asa Norte. Depois que eu me formei aí fiquei de manhã e de tarde na Escola Normal, e comecei a lecionar já no cursinho, seria o Pré-Vestibular do CEUB. E aí quando foi iniciado o curso de Letras do CEUB, em 68, eu já comecei a lecionar, trabalhei de 1968 até 1979. Depois, como eu já tinha mudado da Asa Norte para Asa Sul, já mudei para essa casa aqui em 79, aí fui convidado para lecionar Comunicação e Expressão na UDF. Lecionei até...
P/1 – O que é UDF?
R – Era Associação de Ensino do Distrito Federal, universidade que hoje foi comprada pela Cruzeiro do Sul de São Paulo, mas era uma universidade independente. Naquela época era do senador lá do Espírito Santo, Eurico Rezende, não sei se você já ouviu falar dele. Então, era umas fui trabalhando faculdade dele, e eu lecionei lá até 2005, quando eu me aposentei. Então, aos pouquinhos fui trabalhando, trabalhei na Fundação Educacional do Distrito Federal, trabalhei... Em 1978 eu aposentei proporcional ao tempo de serviço na Fundação Educacional, quando eu fiz o concurso e passei para os Correios.
P/1 – Em 78?
R – Foi. Aí comecei a lecionar na...
P/1 – Mas em 78 o que aconteceu? Você parou de lecionar?
R – Não. Eu parei de lecionar no Ensino Médio e fui contratado pelos Correios para lecionar na Escola Superior de Administração Postal.
P/1 – Espera aí, vamos voltar. O senhor prestou concurso para os Correios para que? Teve concurso para que?
R – Teve concurso para professor da Escola Superior de Administração Postal.
P/1 – Era para dar aula do quê?
R – Era para dar aula de Português, passei para Português. Aí no ano seguinte, quando abriu a cadeira de filatelia, então eu comecei a lecionar filatelia também.
P/1 – No que consiste essa aula de filatelia?
R – O curso? É praticamente formar o aluno na consciência do que é a filatelia e de como a filatelia é importante para os Correios. A primeira coisa, como está no Programa: História dos Correios no Mundo, História dos Correios no Brasil, depois História do Selo, a importância do selo para o colecionismo, depois os diversos tipos de coleção, depois como trabalhar o selo dos Correios, a produção, a comercialização. Aí depois voltar e fazer as exposições filatélicas, as mostras. E paralelamente a isso, tem muito curso para formação para técnicos em filatelia, tanto primeiro na Esap, que funcionou até o ano 2000 lá.
P/1 – O que é Esap?
R – Era Escola Superior de Administração Postal. Depois, quando os Correios comprou aquele setor lá que era a antiga sede da Telebrás, aí então transferiu a escola e fundou lá o que seria a Universidade dos Correios, hoje é Universidade Corporativa dos Correios, funciona ali próxima ao lago, ao lado da UnB. Então lá eu lecionei muitos cursos de Português, muitos cursos de Técnico de Filatelia e as últimas turmas do CAP, Curso de Administração Postal.
P/1 – Onde o senhor apresentou para dar este curso de técnica postal, esta parte mais específica? Onde e como o senhor aprendeu para dar aula disso?
R – Eu aprendi com colegas, com técnicos que deram esses cursos, também no Clube Filatélico, vários membros do antigo Clube Filatélico, eles deram curso de Técnico de Filatelia. Então fui reunindo material, me preparando. E muita coisa foi autodidatismo mesmo, eu fui me preparando. E interessante foi que quando houve reconhecimento do curso, o único professor do Brasil que era autorizado a lecionar filatelia fui eu, porque era a única escola onde existia essa disciplina.
P/1 – É mesmo? É uma universidade dos Correios?
R – Primeiro era uma escola dos Correios, Escola Superior de Administração Postal, porque tinha um curso só. Agora, depois ficou Universidade Correios, porque tem vários cursos, principalmente tem MBA, tem uma série de outros cursos paralelos. Então, hoje funciona lá a Universidade dos Correios, Universidade Corporativa dos Correios. Não sei se vocês já entrevistaram alguém lá, já sabem como é que funciona a escola e etc, então seria interessante. Lá, por exemplo, tem alguns funcionários bem antigos como o Vanderlei, que foi inclusive quem organizou o primeiro curso de Técnico em Filatelia, que eu lecionei em 1984. Seria até interessante vocês procurarem lá e também fazer entrevistas, porque tem muita gente interessante lá.
P/1 – E o senhor continuava com a coleção de selos? Como é que estava, o senhor não era mais juntador, era colecionador? Como é que foi?
R – Inclusive essa coleção minha, aos poucos eu estou tentando organizá-la para exposição. Inclusive, como eu falei para sua colega, tenho um colega que trabalha com artes gráficas e ele está fazendo a montagem da coleção direitinho. Então, essa coleção minha está com ele para qualquer hora a gente colocar depois em mostras, exposições.
P/1 – Nos Correios, o senhor trabalhava na Universidade. O senhor fazia...
R – Da ESAP. De 1978 até o ano 2000 eu trabalhei na ESAP.
P/1 – Só lá?
R – É. No ano 2000, no momento não havia curso de Administração Postal, as turmas estavam interrompidas na época, aí eu fui para o Gabinete da Presidência ser assistente da Presidência, principalmente na correção de textos e trabalhos no Gabinete da Presidência. No Gabinete da Presidência eu fiquei do ano 2000 até o ano 2009, quando eu aposentei. Agora, nesse meio tempo quando havia cursos de Português, cursos de Filatelia, eu ia lá para Universidade do Correios e dava as aulas. Quando tinha palestras ou cursos que a gente dava para filatelista no Museu Postal, a gente ia lá no Museu aos sábados e dava as aulas.
P/1 – Como é que foi este convite para o senhor assessorar a presidência?
R – Foi o chefe do Gabinete, o Júlio, que eu já conhecia lá e que estava precisando de alguém para esse trabalho lá, que as correções dos textos estavam deixando a desejar, aí ele me levou para lá para justamente eu cuidar dessa parte do português.
P/1 – Você revisava o que?
R – Tudo que passava pela presidência.
P/1 – O que é que passava lá?
R – Relatórios, comunicação interna, correspondência externa.
P/1 – Discurso do presidente?
R – Tudo! Toda essa parte da presidência. Discurso, até alguns a gente ajudava a montar.
P/1 – Quanto tempo o senhor ficou nos Correios?
R – De 1978 a 2009, 31 anos.
P/1 – E o senhor sempre foi assistente técnico lá.
R – Do ano 2000 a 2009 foi.
P/1 – E antes o senhor era professor.
R – É.
P/1 – Bom, o senhor tem uma trajetória imensa. Qual foi o período mais marcante para o senhor nos Correios?
R – Bom, o início, principalmente quando a gente está começando, é o período que é ao mesmo tempo difícil e fascinante. O tempo que ainda o Presidente Botto, quando os Correios ainda era Correios. Até 1985, os Correios ainda funcionavam como devia funcionar, não tinha politicagem, não tinha sindicato, não tinha ingerência de nenhuma outra espécie alheia ao serviço postal. E geralmente os dirigentes eram militares, e eram pessoas que sabiam o que queriam e como conseguir as coisas. Tanto é que foi o período que os Correios deu lucro, que os Correios conseguiram a projeção que tiveram, principalmente durante o período anterior ao que eu entrei lá, que foi do Haroldo de Matos, que foi a formação praticamente da empresa e do Presidente Botto, que durou de 1974 até 1985. Foi um período muito bom dos Correios!
P/1 – Qual um fato marcante que o senhor lembra desse seu período nos Correios?
R – Fato marcante, tivemos algumas formaturas que...
P/1 – Lembra de algum causo?
R – Não. Específico, não. Formatura. E depois caso interessante de depois foi quando os Correios começaram a degringolar. Eu lembro até de um caso interessante quando numa formatura eu fui um pouco mais cedo para receber o Coronel Botto, que estava sendo homenageado, que ele não era mais presidente dos Correios. E na época quem era presidente dos Correios era um senhor chamado Hargreaves, que foi colocado na época já do Governo de Fernando Henrique. E aí o Hargreaves chegando para o Presidente Botto: "Botto, você vai me ensinar, eu não entendo nada de Correios" (risos), isso um presidente dos Correios falando para o outro! Eu cheguei ver um outro também, outro presidente que veio em 1970, até esqueci o nome. Em 1970 não, no ano 2000! Que ele trabalhava na Central lá de São Paulo e disse na hora que ele chegou aqui também que não conhecia nada de Correios, e começou a aprender. E hoje em dia o pessoal que está entrando lá em cima também não entende nada de Correios, principalmente aqueles que vêm lá do Banco do Brasil, aqueles que vêm com carteirinha de partido, que não querem trabalhar.
P/1 – Quando o senhor começou a dar aula, qual foi o primeiro curso de filatelia que tinha no Brasil?
R – Antes disso houve cursos não oficiais, mas cursos de formação filatélica dados por jornalistas filatélicos, por filatelistas. Nos Correios teve vários deles aqui, inclusive aproveitei muito material desses cursos para depois montar os meus cursos. Tinha o Hugo Fraccaroli, tinha o Crestana que eram grandes filatelistas, grandes escritores e jornalistas filatelistas de São Paulo, que deram os cursos anteriormente.
P/1 – O que significa ser um jornalista filatélico?
R – Que o jornalista, ele trabalha como fazer uma resenha de filatelia, trabalha com curso filatélico e prepara as revistas, os artigos nas revistas filatélicas.
P/1 – Qual é o conteúdo desses artigos?
R – Fala sobre selo, sobre uma determinada emissão, sobre as variedades de um determinado selo, são esses estudos que eles fazem. Um selo que saiu num determinado período e depois teve uma nova tiragem dele, um selo que saiu por alguma coisa e depois foi revalorizado para outro valor, para um outro serviço. Por exemplo, no Brasil teve um selo em 1908 chamado “Próceres Republicanos”, que eram para selar as correspondências daqui do Brasil para o exterior, para as Américas. Naquela época, desde 1895 havia uma proibição da UPU de que selos comemorativos só poderiam circular internamente de cada país, não podiam circular em cartas para o exterior. Inclusive, havia até as três cores que deveriam ser usadas em selos internacionais: a cor vermelha para os selos, tinha uma cor azul para selos de impresso, sim, então eram as cores bem padronizadas. Então esse selo dos Próceres não pôde circular no exterior e depois ele foi revalorizado para correspondências expressas aqui no Brasil pelo valor dele. Agora, como selo para expressa, ele também teve pouco uso, porque quase ninguém usava carta expressa, porque a carta expressa era uma carta que tinha a velocidade de entrega de um telegrama. E na época do DCT, os telegramas demoravam muito, quase tanto quanto as cartas. Aí esse selo depois ficou sendo usado para correspondência normal. Outros selos, por exemplo, os selos que saíram em 1900 para comemorar o quarto centenário do descobrimento do Brasil, eles também só tinham circulação interna, não podiam selar correspondência para o exterior.
P/1 – E como é que fazia para o exterior?
R – Para o exterior tinha que usar os selos azul, vermelho e verde, ordinários, ou normais que eram recomendados pela UPU.
P/1 – E por que tinha essa distinção?
R – Porque a UPU queria padronizar com esse tanto de cor, para poder inclusive fazer a unificação dos Correios todos, porque havia muitas discrepâncias, ainda estava em fase de formação. Isso foi até depois da Primeira Guerra Mundial. Só em 1924, no Congresso da União Postal Universal de Estocolmo é que eles aboliram essa restrição aos selos comemorativos. Tanto é que praticamente quase não existiam selos comemorativos até 1920. Depois é que nós tivemos grandes quantidades deles, quando puderam selar também correspondências para o exterior.
P/1 – Quem é que determina essa política dos selos? Era os Correios aqui?
R – Internamente é. Agora, essa questão externa é a União Postal Universal, foi o Congresso de Washington de 1897 que tinha determinado isso.
P/1 – E aí os Correios aqui acatava.
R – Todos os Correios que eram membro da União Postal Universal tinha de acatar, porque tinha representante do Brasil que foi lá e tinha votado, ou ele foi a favor, ou ele votou contra, mas é o que tinham resolvido na reunião da UPU.
P/1 – Qual é o significado do selo? Assim, essa importância do selo enquanto símbolo?
R – Basta dizer que antes de ter selo, o serviço postal era muito deficiente. Um exemplo, eu escrevi uma carta para você, e quem ia pagar a carta era a pessoa que recebia, e nem sempre a pessoa que ia receber a carta queria receber a carta, ou queria pagar pela carta, ou tinha dinheiro para pagar pela carta. Aí os Correios então acabavam ficando no prejuízo, por isso se cobrava taxas muito altas. O selo surgiu em 1840, o Rowland Hill, que era diretor geral dos Correios na Inglaterra, resolveu baratear o preço das cartas e cobrar o porte prévio. O selo então ficou sendo o comprovante de que alguém que mandou a carta, pagou. Então, eles cobravam uma taxa, afixava o selo no valor daquela taxa ali e carimbava para que a pessoa de lá não usasse o selo de volta. Foi aí que começou o selo postado. Ele causou uma revolução muito grande no serviço postal, porque não só agilizou a correspondência, mas inclusive deu uma obrigação moral muito grande para os Correios, porque se ele estava cobrando antecipadamente para prestar um serviço, se ele já dá um recibo carimbando o selo, quer dizer, ele tinha que prestar! Então, foi aí que foi a grande revolução dos Correios, foi a partir de 1840. Houve até uma campanha que melhorou a alfabetização no Reino Unido, muitas pessoas que nunca tinha pensado em escrever carta, pela facilidade começaram a escrever. E o Brasil, três anos depois da Inglaterra, foi o segundo país do mundo a instituir o selo postal. Foi quando foi criado o “Olho de Boi” aqui no Brasil.
P/1 – Que ano?
R – Em 1843. Selos de 30, 60 e 90 Réis: 30 Réis era o porte de impressos, 60 Réis era carta normal em via superfície, 90 Réis era carta que ia, às vezes, por via marinha.
P/1 – Que época que é isso?
R – Em 1843. Depois de 1860, aproximadamente, eles unificaram todas as tarifas em, no caso, 60 Réis. Quando foi proclamada a República, o preço das cartas já estava em 100 Réis. No início da República ficou em 100 Réis, depois, lá por volta de 1910, passou para 200 Réis, 300 Réis. Passou para 400 Réis na época da Revolução de 30, quando houve aquela depressão muito grande por causa da Bolsa de Nova York. Os Correios baixaram o preço das cartas para 400 Réis em 1931. Depois, o selo, eu sei que já estava em... Quando mudou o padrão monetário em 1942, era 200 Réis o porte municipal, se você mandasse carta dentro da mesma cidade e pagava 400 Réis para mandar a carta para outra cidade. Depois o porte passou para... O que era 600 Réis passou para 60 centavos, já em cruzeiro. Passou para 40 centavos o porte urbano. E esse porte foi de 1949 até a época do governo de Juscelino. Na época do governo de Juscelino houve uma inflação muito grande por causa da construção de Brasília e outras coisas mais. Então a carta que pagava 60 centavos passou para 2,50 cruzeiros e a aérea que pagava 1,20 cruzeiros passou para 3,30. Então a partir daí, à medida que a inflação foi aumentando, os selos foram acompanhando exatamente. A gente pode até fazer uma história da inflação brasileira pelo valor facial dos selos.
P/1 – Senhor Peron, então o senhor estava falando, assim, que o selo veio nessa premência de a própria pessoa pagar já por aquela mercadoria que ela...
R – Então o selo trouxe uma grande revolução no serviço postal!
P/1 – E aí o senhor estava falando que a característica desses primeiros selos é que vinham só o valor, não é isso?
R – Nos primeiros selos geralmente aparecia só o valor, não aparecia o nome do país. Depois a União Postal Universal, ela fez a recomendação que todos os países utilizassem o nome do país e a indicação monetária. O único país do mundo que hoje tem o privilégio de não escrever o nome do país no selo é a Inglaterra, que foi o primeiro país do mundo a emitir. Tanto é que os selos ingleses até hoje não trazem o nome da Grã-Bretanha, o nome da Inglaterra nos selos.
P/1 – Por que não?
R – Foi uma distinção que eles mereceram justamente por terem sido os primeiros. Desde... Você sabe que os ingleses são muito conservadores. Como eles conseguiram que o selo deles, que foi o primeiro do mundo, não tivesse o nome do país, continua até hoje com isso. Aliás, continua com reis e rainhas até hoje.
P/1 – E aqui no Brasil quando é que eles mudam, passam de ser o valor da correspondência e passam a ter tema?
R – Não, bom, em princípio qualquer selo, dependendo do desenho dele, pode ser um tema. Se você, por exemplo, for fazer um tema de algarismo, o primeiro selo brasileiro o “Olho de Boi” já entra nesse tema. A questão de tema é variado. O que aconteceu depois da década de 20 ou 30 é de surgir selos que exploravam, por exemplo, alguma coisa relacionada com a história ou com a geografia, com a fauna, com acontecimentos, aí então foram os selos comemorativos ou selos especiais. Isso principalmente a partir da década de 30 quando começa a surgir, além daquelas coleções tradicionais por país ou por tipo de selos, começaram a surgir as coleções temáticas, justamente quando começaram a surgir esses selos. Quando a filatelia começou a descobrir o grande filão que era justamente os selos temáticos, então aí passaram a produzir selos até mais do que a necessidade normal de selar para portear as cartas, porque as pessoas comprariam selos para coleção. E um dos grandes achados para os Correios é vender selos sem precisar prestar o serviço correspondente. Porque quando os Correios vendem o selo, eles se comprometem a contrapartida de fornecerem um serviço correspondente ao transporte de uma carta com aquele selo. Se você vai aos Correios e compra um selo e leva para casa e coloca na coleção, você não está exigindo a prestação do serviço. É como se você chegasse no restaurante, pagasse a refeição e voltasse para casa sem comer. Então isso é o grande lucro dos Correios.
P/1 – Quando começaram as coleções temáticas aqui no Brasil quem é que escolhia os temas? Quem escolhe que tema vai ter o selo?
R – Primeiramente começaram de uma maneira empírica olhando aqueles que eram mais do gosto dos filatelistas, principalmente animais, fauna, flora, etc. E a partir daí, eles foram exatamente...
P/1 – Eles quem? Quem escolhia?
R – O pessoal dos Correios. Agora, a partir da República Nova, depois de 1945, 46, foi criada a Comissão Filatélica Nacional, que começou a dar sugestões para emissão de selos. Então, no final da década de 40 que surge a Comissão Filatélica, que escolhe motivo de selos para ser impresso no ano seguinte. Nós tivemos há poucos dias agora, no dia 4, a reunião da Comissão Filatélica aqui em Brasília. Foram escolhidos os temas das próximas emissões do ano que vem.
P/1 – Quais foram os temas escolhidos?
R – Foram escolhidos na área de fauna, na área de flora, outro de personalidades, outros... Foram dez itens e desses dez itens foi escolhido um tema. Geralmente é escolhido alguma coisa na área de fauna, na área de história, de datas comemorativas. E normalmente quando é feita essa escolha, essa escolha não pode ser divulgada até que haja uma homologação, até que os Correios façam a comunicação ao Ministério das Comunicações e seja homologada pelo Ministro. A partir daí é divulgada a pauta dos selos que vão ser escolhidos no próximo ano. Agora, além desses, o Ministério pode atender a critérios técnicos, pode ainda fazer outras emissões. No ano passado, por exemplo, não tinha sido escolhidos selos para essa... Da Jornada da Juventude, que tem agora com a vida do Papa. Não tinha sido escolhido selo para essa Copa das Nações, e, no entanto, o Brasil agora fez selos, porque foi solicitado a posteriori. Então o Ministério, ele tem a faculdade de acrescentar algumas emissões e, às vezes, algumas emissões políticas. Morre alguma grande personalidade, como o caso de Niemeyer, que aí já fazem automaticamente o selo dele no ano seguinte.
P/1 – Qual é o lançamento mais importante que o Brasil já teve nessa área de selo?
R – Mais importante em que sentido?
P/1 – Uma coleção mais representativa, que marcou época...
R – Que marcou a época, por questão de preço, foi uma coleção de cinco folhinhas que o Brasil fez. Uma exposição em 1983, uma das coleções mais caras, porque foram vendidas poucas folhinhas e depois as que não foram vendidas ficaram com um preço muito alto na época, dois mil cruzeiros cada folhinha. Os selos depois acabaram sendo incinerados, então ela é uma coleção rara, cara justamente porque saíram poucos selos. Outra coleção que é muito cara é aquela dos selos de 1932 que foi feita pelo Governo Constitucionalista de São Paulo durante a Revolução. Esses selos circularam durante só três meses aqui no Brasil, então esses selos carimbados, eles valem até mais do que selos novos em muitas das tiragens. Não valem os selos, por exemplo, da Revolução de 30, que foi feito uma edição particular pela Livraria Globo de Porto Alegre, que eles fizeram em 1931, como eles circularam normalmente em grande quantidade, eles não têm o preço que tem os selos da Revolução Constitucionalista de São Paulo. Depois eu vou te mostrar aqui também.
P/1 – Qual a coleção mais curiosa que já saiu?
R – Não sei.
P/1 – Fala uma curiosa que o senhor acha.
R – Hoje em dia praticamente qualquer tema que você abordar, existe selo para ele. Há algum tempo, parece que na Coreia, fizeram um curso para ver um tipo de qualquer coisa que nunca tinha aparecido num selo, então alguém sugeriu um saco de cimento. Pesquisaram, pesquisaram e acharam que tinha um selo mostrando lá uma espécie de comemoração, alguma coisa, que trazia um saco de cimento, junto com outras coisas, mas trazia também. Então praticamente tudo!
P/1 – De que maneira através dos selos a gente pode contar a história do país? É possível através dos selos contar a história do país?
R – É! No Brasil, por exemplo, você pode contar os vultos célebres, os acontecimentos históricos, tudo isso tem em selo. A única coisa que, às vezes, fica um pouco quebrado é que tem uns três ou quatro presidentes da República que nunca saíram em selos do Brasil ainda. No caso, por exemplo, de João Goulart, é o caso, por exemplo, do Jânio Quadros, o (pausa)... Aquele que foi...
P/1 – Fernando Henrique?
R – Não! O outro que teve o impeachment, Fernando Collor! Esses não têm selos. E alguns que foram presidentes provisórios durante algum tempo, é o caso de Café Filho, é o caso de Nereu Ramos, Carlos Luz, então não existem selos. Mas até no governo provisório, que durou poucos dias, de 1930, o General Augusto Fragoso, que foi o chefe do triunvirato que tomou o governo entre a deposição de Washington Luís e a posse do Getúlio Vargas, existiu o selo dele. Não porque ele tinha sido presidente da república, mas porque era um general do Exército importante e na época de comemoração do nascimento ou morte dele, apareceu o selo, do General Tássio Augusto Fragoso. Mas dos outros dois companheiros dele, o Almirante Isaías de Noronha e o outro, não saíram selos.
P/1 – Vamos voltar para trás. Aí o senhor começou a dar essa aula na Universidade dos Correios...
R – Antes da Universidade dos Correios...
P/1 – Você dava aula na...
R – Escola Superior de Administração Postal, ESAP.
P/1 – O que significava Escola Superior de Administração Postal no Brasil?
R – Formação de administradores postais especificamente para os Correios, porque não havia essa formação. Havia administradores de um modo geral, de empresa, mas não especificamente administradores postais, então os Correios de 1971 até 1978 formou seis turmas em convênio com a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1977 criou a escola aqui, que começou a funcionar em 1978. Então de 1971 a 1977, funcionou o curso de Administração Postal na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Agora, de 1978 a 2000, funcionou o curso de Administração Postal na Escola Superior de Administração dos Correios aqui em Brasília.
P/1 – Era nessa que o senhor dava aula?
R – É. Essa escola depois, quando os Correios fundaram a Universidade dos Correios, a Escola Superior de Administração Postal foi absorvida pela Universidade dos Correios.
P/1 – Então antes de ir para Universidade dos Correios, o senhor dava aula sobre administração postal. O que ensinava essa administração, o que consistia esse ofício?
R – Todas as matérias de curso de administração mais matérias específicas de Correios.
P/1 – Quais eram específicas de Correios? O que o profissional precisava saber?
R – Tinha a questão de... Tinha estatística postal, tinha problema de transporte postal, tinha, por exemplo, custos, tinha uma série de disciplinas relacionadas exatamente com os Correios. Tinha, por exemplo, operações postais, operações telegráficas, eram essas disciplinas de um modo geral.
P/1 – Dentro dos Correios, qual era o papel do telégrafo ainda?
R – Bom, na nossa época já estava, já era época do telex. Inclusive no início dos Correios teve um problema sério, porque não sabia se a telegrafia ia ficar com os Correios ou com se ia ficar com a Telebrás. Houve a criação de uma tal de Teletel que iria absorver isso. Como não foi criada, os Correios depois tiveram que correr atrás e cuidar dessa parte telegráfica também. Hoje em dia, praticamente, é a coisa mais simples, você passa telegrama até fonado. Com a ajuda do computador é a coisa mais simples, você pode digitar pelo computador, mandar para os Correios, não precisa nem sair de casa para mandar um telegrama. Existem as centrais de captação, depois as centrais de entrega, tudo.
P/1 – O que mudou dessa Escola Superior para Universidade dos Correios?
R – Mais cursos que foram dados lá. Alguns cursos que já eram dados lá na Escola Superior de Administração Postal passaram a serem dados lá, e mais alguns cursos que foram aparecendo, convênios que eram feitos com a Universidade de Brasília. Esses cursos que eram dados pela Universidade de Brasília dentro da Universidade dos Correios, principalmente na área de pós-graduação.
P/1 – Pós-graduação nessa área?
R – É, na área postal.
P/1 – Quem fazia esses cursos? Quem eram essas pessoas?
R – Eram pessoas que tinham já doutorado, principalmente técnicos dessas universidades, Universidade de Brasília e outras universidades do Brasil.
P/1 – Eram pessoas que estavam em busca de emprego nos Correios?
R – Não, não. Os Correios faziam o convênio com a universidade e a universidade fazia os...
P/1 – Essa matéria.
R – Exatamente. Os Correios pagavam o profissional pela universidade. Agora, também muitos técnicos, muitas pessoas que não trabalhavam em universidade e que tinham formação universitária, então eles já faziam os contratos diretos com os Correios. Muitos professores de administração postal e de muitas áreas específicas, então eles já faziam esse contrato direto com os Correios.
P/1 – Ai o senhor ficava na universidade e não ficava nos Correios.
R – Não, eu fiquei na ESAP. Quando a ESAP foi absorvida pela Universidade dos Correios, eu já estava no Gabinete da Presidência.
P/1 – O que o senhor fazia no Gabinete? O senhor falou que corrigia, escrevia...
R – Escrevia, trabalhava texto e comecei fazer pesquisas também.
P/1 – Pesquisa?
R – Histórica, pesquisa sobre coisas que precisavam os Correios saber a origem do departamento, coisa, criação de um serviço, então o histórico dessa parte, eu que fazia o levantamento direitinho, sobre o Sedex, sobre uma série de coisas…
P/1 – A origem do Sedex, é isso, por exemplo?
R – Não é a origem, porque os Correios tinham primeiro era prestado por empresas particulares e pelos Correios, depois os Correios absorveram todas, houve unificação do serviço, houve serviço de CEP.
P/1 – O senhor pode contar um pouco essa história, por exemplo, de quando foram os primeiros Sedex, quando começou?
R – Justamente, foi a implantação foi no final da década de 70, inicio da década de 80, que começou exatamente o Sedex, então era correspondência agrupada, era questão do setor de encomendas, e ai, depois, o Sedex já foi uma especialização mais já em relação a esse ponto.
P/1 – Tem algum fato marcante dessa época, assim, que aconteceu de uma carta, ou com um selo, ou com o Sedex?
R – Pelo o que eu saiba assim, coisa marcante, especificamente, eu não lembro nada não.
P/1 – Alguma encomenda que foi ser entregue? Encomendas que…
R – Não, naquela época funcionava melhor, hoje em dia, possa haver mais desses. Por exemplo, mais recentemente, uma carta que foi postada no Largo Machado, no Rio de Janeiro, no dia dois de abril, eu recebi aqui dia dois de maio, então o tal do “D mais 1” que funcionava antigamente correspondeu a um “D mais 30”. Quer dizer, carta do Rio de Janeiro para Brasília, eu não sei o que aconteceu com ela, se ela ficou perdida em algum canto, eu sei que demorou trinta dias. Mas de modo geral, as cartas hoje em dia, com uma semana já estão… os Correios não estão com aquela rapidez inclusive, teve muitos problemas relacionados com a rede postal noturna, a rede aérea postal, andou fazendo algumas contingências e com isso, então, o serviço acabou sendo prejudicado ultimamente. Algumas cidades que eram servidas pelo “Sedex 10”, hoje em dia não estão sendo mais, Uberaba, por exemplo, é um exemplo disso, uma cidade que o “Sedex 10” não está atendendo.
P/1 – Em linhas gerais, o senhor consegue fazer assim, traçar um histórico do serviço dos Correios no Brasil, que nem o senhor fez do selo?
R – Bom, os Correios no século passado, ele era muito elitista e relativamente, trabalhava pouco por questão da alfabetização, a grande maioria da população brasileira era de escravos, então, os Correios funcionavam relativamente bem porque eram poucos os que precisavam e os serviços eram rápidos. Agora, do início do século até mais ou menos a década de 30, houve uma queda muito grande no serviço, com a Revolução de 30, os Correios, com a fusão dos Correios e Telégrafos, foi tomado um impulso muito grande de modernização, reformulação e uma coisa que é até triste a gente dizer: os Correios funcionaram muito bem, mas muito bem mesmo, durante o Estado Novo. Houve o modelo “daspiano” de funcionamento dos Correios, baseado na estrutura do Dasp, de eficiência de serviço, tudo e principalmente, entre 1938 a 1945, os Correios chegaram a dar lucro, ainda com todas as dificuldades na época da Guerra. De 46 em diante, o serviço começou a cair, principalmente porque os Correios começaram a virar de novo cabide de emprego. Para começar que todos aqueles censores que tinham sido usados na época da Guerra e até antes da Guerra, foram automaticamente incorporados com funcionários dos Correios. Então, houve um inchaço muito grande. E no final da década de 40, os serviços começaram a cair, década de 50, o serviço não estava bom, principalmente o problema da inflação, na década de 60, os Correios chegaram por volta de 63, por volta de 64 ao fundo do poço, dando prejuízo tremendo, porque foram tomadas muitas medidas populistas, de transformar muitos postos dos Correios em agências unipessoais com todas as despesas que isso acarretava, eu sei que depois da Revolução de 64, que eles começaram novamente a tentar melhorar o serviço postal. Então, isso foi paulatinamente. Um dos problemas mais sérios era o do transporte. O transporte marítimo, que era praticamente gratuito, os Correios levavam as cartas, demoravam meses para que as cartas chegassem. Nas ferrovias, às vezes, as cartas ficavam dias, porque eles davam prioridade para outros tipos de carga. Então, foi a partir de 1971, 72, quando os Correios começaram a usar o transporte rodoviário, ai nós tínhamos as rodovias que começaram na época de Juscelino, o transporte rodoviário com as linhas transnacionais, que as cartas começaram a fluir. E com a criação da rede postal noturna, aí que os Correios melhoraram, isso já na época do Presidente Botto, aí chegamos até de capital para capital a “D mais 1”, ou seja, você colocava a carta nos Correios num dia, no dia seguinte, a carta já chegava no destino. Então, foi um período áureo dos Correios até, podemos dizer, 1985. A partir daí houve redução de horário, pessoal veio trabalhar todo dia até às 18 e 45, passou para às 18 horas, depois de algum tempo já não trabalhar mais aos sábados, isso tudo foi acarretando perda de qualidade no serviço. E outras coisas mais. Nem sempre as contratações para os cargos de expedição, entregas e de carteiros atendia às necessidades, porque as cidades foram crescendo enormemente, os Correios tiveram que servir muito mais localidades, então, vamos dizer assim, que a coisa foi ficando mais difícil. Hoje em dia, existe uma carência muito grande de pessoal nas áreas de distribuição, nas áreas de coleta de cartas. E como acontece com o resto do governo, há um inchaço muito grande, vamos dizer assim, na superfície, na presidência, nos departamentos e os órgãos mesmo de atendimento ao público, esse então ficou carecendo de pessoal. Então, o que está acontecendo é que houve um inchaço na parte de cima e às vezes, um esvaziamento, ou uma carência de pessoal na área de baixo, então…
P/1 – Nessa época que o senhor era assessor do Botto, o senhor lembra de alguma…
R – Não, não! Eu não fui assessor do Botto, eu trabalhava na Escola de administração Postal, na época do Botto. Eu só fui lá pelo ano 2000. O Botto já tinha saído em 1985, quando ele foi ser Secretário Geral da União Postal Universal.
P/1 – O senhor lembra de algum discurso que o senhor tenha escrito?
R – Discurso de formatura na época, eu lembro quando já em 85 eu fui paraninfo da turma, eu lembro que fiz o discurso, mas não tenho esse discurso, não.
P/1 – O senhor foi escolhido para ser paraninfo? O senhor era querido pelos alunos?
R – Na época, eu dava duas disciplinas: Português e Filatelia. Todos os alunos do CAP 6 até o CAP 24, que foi o último, quer dizer, os seis primeiros que tiveram curso. O CAP 1 até o CAP 5, no Rio de Janeiro, eu não lecionei para nenhum, porque eu entrei no Correios em 78, então, todos os CAPS que formaram de 1978 até 2010, ou seja, da turma do CAP seis até o CAP 24, eu fui professor de todos eles. Algumas turmas, de Português e de Filatelia, mas de todas de Filatelia.
P/1 – E quantos alunos tem, em média, numa sala de Filatelia?
R – Lá, a gente tinha três salas de 40 alunos, tinha duas salas, às vezes, houve época que tinha apenas uma turma, teve uma época que teve seis turmas, então variava. Houve um período que nós tínhamos muitos alunos estrangeiros. Quando o Presidente Botto estava já na União Postal Universal, que ele fez uma série de convênios com outros países, então, os Correios brasileiro deram suporte aqui para países da América Latina e, principalmente, para países da África e até países da Ásia. Nós tivemos, então, muitos alunos estrangeiros! Não só de língua portuguesa, espanhola, mas até a língua inglesa e francesa, da África. Tivemos de alunos de língua árabe da Ásia, do Iêmen.
P/1 – Tem alguma característica do selo brasileiro diferente dos demais?
R – Não, de modo geral não.
P/1 – Tem alguma coisa que é tipicamente que o Brasil faz?
R – Não. O que varia, às vezes, é a questão das técnicas. Existe uma série de limitações aqui na Casa da Moeda que, às vezes, não faz o que alguns países fazem. Por exemplo, impressão calcográfica, multicolorido, às vezes, com cores, uso de tintas metálicas que no Brasil ainda há alguma deficiência nesse sentido. Questão de colocar cores, colocar cheiro nos selos. Há algumas dificuldades. Por exemplo, tem países da Ásia e da Europa que fazem selos de flor e com cheiro da própria flor ainda no selo. Aqui no Brasil a gente está tendo algumas dificuldades para fazer.
P/1 – Já teve isso no Brasil, selo com cheiro?
R – Já. Nós já tivemos um selo sobre questão de conservacionismo, questão de incêndio das matas, um selo com cheiro de queimado. Então, era a folha toda que era impregnada com aquele cheiro forte de queimado.
P/1 – Quando foi esse selo?
R – Foi mais ou menos por volta do ano 2000, por aí, um pouco antes.
P/1 – Foi o primeiro selo com cheiro?
R – No Brasil foi.
P/1 – De uma queimada?
R – Foi, foi.
P/1 – E teve outros com cheiro?
R – No Brasil? Houve muitas tentativas, foi com microletras e questão de desenhos que conseguiram, mas questão de odor assim há uma certa dificuldade nesse sentido.
P/1 – Quais são os grandes artistas que fizeram selo no Brasil?
R – Nós já tivemos um grande número de artistas, principalmente a partir da criação da Divisão Central Filatélica e da Assessoria Filatélica nos anos finais da década de 1970, década de 80, 90. Aqui o catálogo de selo você vai ter uma relação de todos esses que fizeram selos até hoje. Até um que vocês entrevistaram hoje, o nome dele aparece aqui também. Então teve, se quiser eu posso até ler o nome deles, posso ler agora?
P/1 – Pode.
R – Os principais artistas, vamos ver se estão aqui. Se não tiver nesse tem em catálogo mais antigo.
P/1 – Senão tudo bem, depois a gente pega.
R – É, os artistas aparecem em outro catálogo.
P/1 – Ao longo dos anos quais foram as principais transformações que os Correios vieram sofrendo no Brasil?
R – Os Correios?
P/1 – É.
R – Sempre acompanhando a evolução do país. Principalmente na questão de integração nacional, de transporte, de estar presente em situações, inclusive em épocas de catástrofe, os Correios transportam gratuitamente donativos para as regiões afetadas. Então, eles prestam um serviço inestimável nessa parte até hoje, os Correios procuram fazer a integração nacional.
P/1 – E a coleção do senhor ao longo do tempo? O senhor foi aumentando, o que foi acontecendo?
R – Eu fui especializando, na verdade foi até diminuindo. Porque eu juntava vários países, depois fui diminuindo, diminuindo, até que fiquei com a Alemanha praticamente de uma maneira geral juntando selos da Alemanha e depois, mais especificamente, uma coleção mais de estudo dos selos relativos ao período de ocupação interaliada, 1945-1949, que tem muita variedade, muitos selos.
P/1 – Por que o senhor escolheu esse período. Esse período na Alemanha?
R – Alemanha. Justamente por causa das variações, as variedades e justamente mostrando o período crítico, histórico, que passou a Alemanha. Tem selos das zonas de ocupação francesa, as zonas de ocupação anglo-americana, selos da zona de ocupação russa, depois selos da ocupação interaliada. Depois a zona de ocupação interaliada virou Alemanha Ocidental e Berlim Ocidental, e a outra zona oriental virou Alemanha Oriental. Então, tudo isso mostra a história da Alemanha. Antes disto, os estados alemães do século passado, a unificação alemã aconteceu em 1872, então, todos os selos que apareceram até essa época eram dos diversos estados alemães, depois que houve a unificação da confederação da Alemanha do Norte; e assim mesmo os selos da Baviera e de Rutemberg ficaram separados do resto da Alemanha até 1923, aí depois que unificaram tudo. E depois da Segunda Guerra Mundial houve a fragmentação da Alemanha e essas todas emissões separadas.
P/1 – Quantos selos o senhor tem hoje?
R – Ah. Geralmente a coleção a gente não mede com questão de quantidade, mas, alguns milhares, viu? Alguns milhares.
P/1 – E o que é essa associação que o senhor faz parte?
R – Esse é um clube filatélico que nós fundamos em 1967 para a prestação de serviços. É um clube de serviços filatélicos que a gente manda proposta para diversos colecionadores do mundo e eles dizem de que país eles gostariam de receber selos, se gostam de selos novos, selos usados, pode até pegar, pode ir olhando. Então, aqui, por exemplo, o nosso clube é Interphila, Internacional Philatelic Circuit. Foi fundado em 1967 em Belo Horizonte. Os primeiros criadores dele foram Joel Moreira e Misael, e depois veio aqui para Brasília. Então, depois que Joel morreu, Misael ficou à frente desse clube até 1984, depois da morte do Misael eu que estou tocando o clube até hoje junto com a colega no Rio de Janeiro, dona Helena. Então, é um clube que coloca nome, endereço, as preferências que ele quer, se é selo novo, usado, os tipos de selos que têm e depois, mediante esse arquivo a gente verifica quais países têm interesse. Então, nós montamos uma folha, colocamos em primeiro lugar o nome da pessoa, o nome em segundo lugar com quem ele vai trocar selos e o nome dele de novo. E aqui especificando, ele vai preencher dizendo. Quando ele preenche cinco folhas dessas, já completando o circuito, ele devolve ao cliente pagando uma taxa para gente ir mandando novos circuitos para ele. Então, a gente exatamente fazendo esse tipo de troca. De vez em quando, quando eles ficam contentes com as trocas, eles mandam até mais do que o valor que deveriam mandar, de um dólar.
P/1 – Qual é o valor normalmente?
R – Um dólar por circuito. Geralmente a gente gasta o equivalente a uns dois, três dólares nas cartas, então, eles mandam o equivalente a cinco dólares, até mais que isso e a gente faz aquele álbum de selo que eu mostrei para você anteriormente. A gente faz as trocas, os selos que interessam ficam com a gente e os que não interessam a gente manda, a gente faz troca ou vende com os próprios colegas.
P/1 – Quantos sócios têm?
R – Nós temos, foram registrados mais de quatro mil sócios até hoje, desde 1967 até hoje. Mas a grande maioria desses ou já desistiu, ou já morreu, então nós temos, mais ou menos, por volta de mil e 500 ativos, no momento. E de vez em quando a gente recebe notícia de alguma baixa, ou algum some por algum tempo, escreve carta lá, carta devolvida dizendo que Fulano morreu. Ou a gente não recebe mais notícias e quando existia reclamação de que ele não está respondendo as cartas a gente deixa algum tempo em quarentena e depois exclui. Então muitos, a família nem informa que eles morreram.
P/1 – Vou voltar um pouquinho lá para trás. Quando o senhor entrou nos Correios o senhor já estava casado?
R – Quando eu entrei no Correio eu já estava casado, já tinha duas filhas.
P/1 – Quando que o senhor conheceu a sua esposa?
R – Eu conheci a minha esposa em 1970 quando ela era minha aluna lá na Faculdade de Letras.
P/1 – Era sua aluna?
R – É, uma das melhores alunas, uma das mais bonitas também. Aí fiquei conhecendo...
P/1 – E como é que foi, o professor namorou a aluna?
R – É. Aí entre namoro, noivado e casamento tivemos seis meses. Entre julho de 1970 até janeiro de 71, nós namoramos e depois casamos em 71. Estamos casados até hoje.
P/1 – Tiveram quantos filhos?
R – Duas filhas.
P/1 – Qual é o nome delas?
R – Uma chama Andréia Cristina e a outra chama Carla Fabrícia. Cada uma delas tem um filho.
P/1 – E a sua esposa trabalhou fora? O que ela fez?
R – Ela foi professora. Quando eu a conheci ela era professora normalista, depois fez o curso de Letras e foi professora da Fundação Educacional do Distrito Federal até a aposentadoria dela, década de 90.
P/1 – E o que ela achava do senhor ser filatelista?
R – Ah, ela preferia que eu ficasse com ela e não com os selos (risos).
P/1 – Ela implicava com sua coleção?
R – Não, implicar não, mas nunca foi entusiasta. Este é o problema do filatelista, de modo geral eu falo que é um rival (risos). Inclusive tem aquele anedotário que diz que as pessoas que são os colecionadores, no caso os filatelistas, são fiéis, mas dão mais atenção aos selos do que as mulheres (risos). Diz que uma coisa que uma mulher nunca pode falar para o colecionador é: “Você escolhe, ou a sua coleção ou eu” (risos). Inclusive tem uma charge na Revista Filatélica da Checoslováquia que tem lá, a mulher saindo de casa com a mala na mão e: “Não sei por que que eu fui falar entre ficar com a coleção de selos ou comigo” (risos).
P/1 – Aí ela está com a mala.
R – É (risos).
P/1 – Selo brasileiro o senhor não coleciona?
R – Não, do Brasil não. Brasil eu só juntei durante algum tempo e tenho os selos brasileiros para as trocas com o exterior.
P/1 – Qual é o selo brasileiro mais procurado até hoje, que é o mais raro?
R – Os “Olhos de Boi”. Se bem que os selos inclinados que saíram depois são mais caros. Mas os mais famosos são os Olhos de Boi.
P/1 – Quanto custa um “Olho de Boi” hoje?
R – O de 30 réis por volta de 30 mil reais. O de 60 réis que era o mais comum, que era a tarifa da época, 6 mil e 500. E o 90 réis, que era mais raro e teve a tiragem menor, 36 mil. Esse é o preço deles, entre 30, 35, 36.
P/1 – E existem compradores para esse mercado?
R – Existe. Agora, dependendo do estado dele, se eles estão em grupo, se estão sobre envelope não porque o envelope pode aumentar muito mais. Tem envelopes que, selo sobre envelope tem um valor muito maior, desses circulados, do que os selos tirados.
P/1 – Selo sobre envelope tem mais valor?
R – Tem. Principalmente um envelope circulado, com carimbos nítidos de local de chegada, saída, tudo direitinho. Esses envelopes são importantes. Quando tem dois selos iguais ou três selos no envelope. Isso tudo o catálogo dá essa classificação, essa cotação.
P/1 – Que ano o senhor aposentou nos Correios?
R – 2009.
P/1 – Mas até hoje o senhor presta serviços lá?
R – Assistência, de vez em quando. Normalmente ajudo os colegas, mas nada oficial.
P/1 – Mas para que eles te chamam?
R – Dúvidas na área de filatelia, principalmente. E dúvidas na área de história dos correios.
P/1 – O senhor está escrevendo um livro sobre os Correios?
R – Estou. Já tenho mais de 300 e tantas páginas. Mas tenho que fazer uma limpeza e pegar mais alguma coisa, então, é coisa que a gente vai fazendo sem pressa.
P/1 – E quais são os marcos principais da história dos Correios?
R – O primeiro deles foi a oficialização do serviço, em 1663, que a partir teve o serviço oficial dos Correios para o Brasil. O segundo foi 1798, quando os Correios deixaram de ser prestados por particular, a quem os Correios tinham arrendado o serviço e voltou de novo para os Correios português. Esse foi o segundo marco. O terceiro marco foi o primeiro regimento postal de 1808 quando a sede dos Correios do mundo português já era aqui no Brasil com a vinda de Dom João VI. E depois nós tivemos a criação do selo postal em 1843, com a reforma postal no início do governo do Dom Pedro II. Depois, a Proclamação da República com relação aos Correios não foi um marco muito bom porque praticamente continuou e até decaiu o serviço que estava durante o império, começou uma série de injunções que não existia no império. Depois, a criação do DCT já revitalizou os Correios, no início da década de 30.
P/1 – DCT?
R – Departamento de Correios e Telégrafos, junção dos Correios com Telégrafos, isso em 1931. Na prática começou a funcionar em 32, que foi em dezembro de 31 que foi a unificação. Depois, nós tivemos o DCT a trancos e barrancos até 1969, quando então foi criada a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Aí os Correios começaram a ter um impulso que praticamente estão resistindo até hoje, apesar de todas as injunções políticas que aconteceram depois de 1985.
P/1 – E em termos de serviços? Qual foi sendo a evolução dos Correios? Os marcos da prestação de serviços?
R – À medida que foram evoluindo os transportes, foram evoluindo os meios de comunicação, os serviços foram evoluindo também.
P/1 – Dá para fazer um resumo de quais foram as etapas, os principais meios de transportes dos Correios?
R – Bom, entre 1500 até depois da criação dos Correios, até 1898, praticamente. São os catálogos mais antigos que têm a sigla, o nome das pessoas que fizeram o selo. É, são os catálogos mais antigos.
P/1 – A gente estava perguntando se essa evolução, se pudesse elencar os marcos do transporte?
R – Bom, o transporte. Praticamente até o final do século XVIII, o transporte praticamente era por questão de navios, aqui internamente havia alguns tropeiros, alguns comerciantes que levavam as cartas. Mas internamente havia muito pouco de correio, havia mais era a questão de Portugal até as diversas cidades litorâneas. Agora, a partir de 1801 é que começaram a fazer as grandes linhas de correios internos aqui no Brasil, ligando Rio a São Paulo, São Paulo até o Sul. Aquela grande estrada do sertão que ia do Pará, cortando Goiás, até Minas Gerais. Então foi praticamente a partir do século XVIII que nasceu os Correios. Correios a cavalo, correios pedestres. Agora, a partir de 1850, nós já tivemos, principalmente o correio já com tração animal e o correio principalmente por estrada de ferro. A estrada de ferro foi um dos grandes serviços aos Correios porque bastava as pessoas pegarem as cartas aqui, até a cidade que ia lá pro final da linha; então pegavam, aquelas cartas eram separadas e entregues nas diversas cidades por onde passava o trem, iam pegando aquelas cartas e já ia fazendo triagem. Existiam os vagões postais que faziam essa triagem itinerante. Isso agilizou muito o transporte de correspondência, praticamente entre 1860 aproximadamente, até a década de 1950, quando as linhas férreas começaram a ter aquelas ramais antieconômicos sendo erradicados. Depois, principalmente no início do século começaram a usar carros, furgões postais. Depois da Primeira Guerra Mundial começaram a aparecer muitos carros usados no transporte postal. E, então, o transporte rodoviário aqui no Brasil, principalmente depois das grandes estradas que foram abertas na década de 1960. E o transporte aéreo começou em 1927, era um serviço muito caro, mas havia certa rapidez. O transporte aéreo funcionava principalmente nas correspondências intercontinentais, principalmente da Europa para o Brasil, e do Brasil para América do Norte. Houve um progresso muito grande no transporte postal a partir da década de 1930. Nós tivemos até os Zeppelins da Alemanha transportando cartas. Tivemos aquelas companhias francesas, que depois se transformaram na Air France, aquele grande romancista francês, Antoine de Saint-Exupéry, que escreveu “O Pequeno Príncipe”, ele trabalhava nesse correio. E nos Estados Unidos um grande postalista foi aquele que fez a primeira viagem dos Estados Unidos até a Europa, sem escala, que foi o Lindbergh, ele era do correio aéreo dos Estados Unidos, ele transportava correspondência.
P/1 – E aqui no Brasil? A gente tem alguns personagens assim ligados à história, que o senhor destacaria? Dos Correios?
R – História dos Correios?
P/1 – É, que personagens o senhor destacaria, que foram importantes para o desenvolvimento dos Correios?
R – Bom, nós tivemos na época do império, principalmente no telégrafo, teve o Barão de Capanema, que foi o primeiro e o único Diretor Geral dos Telégrafos até a proclamação da República. Tivemos a criação do selo postal, quem inclusive implementou reformas postais foi o Marquês de Sapucaí, na época ainda não era marquês, mas foi ele que implementou a reforma de 43 que instituiu o selo postal. E até hoje um grande esquecido, que não apareceu em nenhum selo. Tivemos alguns ministros importantes na década de 30, 40, o Landri Sales, que foi Diretor dos Correios na época do Estado Novo. Tivemos depois, já na época do DCT principalmente o Haroldo Correia de Matos, e o presidente depois, Adwaldo Cardoso Botto de Barros, foi um dos grandes. Então esses foram os grandes nomes que a gente pode citar praticamente.
P/1 – Nessa história dos 350 anos dos Correios, o que o senhor acha importante destacar?
R – Que foi o início da oficialização dos Correios no Brasil. Destacar exatamente que antes disso não havia correio nenhum, havia só as correspondências oficiais de administração, como aquelas cartas que o rei de Portugal mandava para os governadores, para os donatários de capitanias etc. Depois disso, então, teve alguém que pegava as cartas lá, fretava navios que traziam aquela correspondência para o Brasil. Foi então o início de um serviço oficial, mas que funcionava só até as capitanias, aí são nomeados os correios locais que transportavam isso para os outros lugares, mas praticamente funcionava só quase no litoral, no interior mesmo eram os tropeiros, eram os groaqueiros, os mineradores que faziam aquele transporte, que levavam as cartas e traziam. E depois então nós tivemos, a partir de 1798 a criação do Correio Marítimo Português, há correio marítimo para o Brasil. Então o correio saía de Portugal, passava pelos Açores, Ilha da Madeira e chegava até o Brasil. Esse correio ficou mais ou menos interrompido durante a ocupação francesa de Napoleão em Portugal. Aí, os ingleses é que tomaram o correio. Mas, a trancos e barrancos, esse correio marítimo funcionou até depois da Independência do Brasil, ainda sendo a ligação com Portugal. Esse correio marítimo, inclusive, quando veio a Família Real Portuguesa pro Brasil, a grande maioria dos navios que transportaram aquela comitiva era navios do correio marítimo.
P/1 – Qual é o papel dos Correios no desenvolvimento do Brasil?
R – Integração nacional e, principalmente, transporte de notícias, encomendas, tudo. Praticamente fazer a ligação de diversas regiões. Hoje em dia, por exemplo, você tem a internet que praticamente liga a comunicação das pessoas, e quem fosse pensar até que os Correios fossem entrar em falência, os Correios hoje são o grande transportador das encomendas que você compra pela internet. Então os Correios mudam um pouco a função, mas as cartas ainda são de grande importância, nem todo mundo tem internet e nem todo mundo abandonou o hábito de escrever e receber carta.
P/1 – O senhor escreve carta ainda?
R – Escrevo. Em média de umas cem correspondências, escrevo uma média de umas cem e recebo umas cem por mês.
P/1 – Tem alguma carta que o senhor guarda até hoje que tenha sido especial?
R – Não. A gente não tem sentimentalismo com relação a cartas, não.
P/1 – E depois que o senhor se aposentou de dar aulas e saiu dos Correios, qual é o seu cotidiano? O que senhor faz?
R – Faço minhas ginásticas, faço minhas correspondências, faço minhas leituras, escrevo.
P/1 – O senhor lê sobre o quê?
R – Sobre tudo, principalmente a parte de história, que me interessa. Faço minhas pesquisas.
P/1 – Escreve seu livro?
R – Tenho pesquisado nos Correios, tenho pesquisado na Universidade de Brasília, no Museu dos Correios. De vez em quando a gente faz uma viagem, semana que vem vou fazer uma viagem, passar uns 15 dias fora. Assim.
P/1 – Eu vou caminhar para o final. Tem alguma coisa, deve ter várias porque o senhor tem um vasto conhecimento sobre história que a gente poderia ter comentado e não comentou? Tem alguma coisa que o senhor gostaria de deixar registrado?
R – Parte de história não.
P/1 – Sobre sua trajetória nos Correios?
R – Não, aí já falamos tudo.
P/1 – O que o senhor acha da experiência de contar a sua história de vida para um projeto dos 350 anos dos Correios?
R – É interessante. Muitas as pessoas que estão começando, é interessante elas saberem como as outras pessoas anteriormente fizeram, numa época que tudo era diferente. Porque os Correios modificaram bastante nesses últimos anos. Na época que eu entrei nos Correios já existia Telex, existia tudo, mas antes disso era aquela telegrafia ainda, principalmente de linhas físicas, aqueles instrumentais mais antigos. Na época de chuva era perigoso a pessoa ficar, um raio podia bater 100, 200 quilômetros por uma linha, e chegar nas pessoas. E um lugar onde às vezes não tinha uma tempestade e a pessoa podia estar levando choque ali sem saber o porquê. Às vezes, estava falando e interrompia a ligação porque caía um raio, estourou uma linha. Então, nessa integração telegráfica o Marechal Rondon prestou um grande serviço aos Correios, entre 1890 até 1910, aproximadamente.
P/1 – Ele prestou?
R – Prestou.
P/1 – O que ele fez?
R – As linhas físicas ligando o Amazonas, ligando o Mato Grosso e ligando Goiás aos grandes centros. Agora, na época em que ele já estava terminando o serviço dele, aí começou já a radiotelegrafia, ou seja, você fazia as ligações por meio de rádio, sem precisar das linhas físicas. Inclusive o mal-entendido dele com a Revolução de 30 foi que o Ministro Juarez Távora disse que o trabalho do Rondon tinha sido inócuo porque a radiotelegrafia fazia melhor o que ele tinha se esforçado para fazer durante todos os anos. Mas na época dele só existia aquilo.
P/1 – É.
R – O que mais?
P/1 – É isso, eu queria agradecer o depoimento do senhor, foi muito valioso, aprendi muito hoje.
FINAL DA ENTREVISTA
Recolher