P/1 – Bem, bom dia, Maria de Lourdes.
R – Bom dia, Márcia.
P/1 – Gostaria de começar pedindo que você me diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Eu, meu nome é Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca, eu nasci em Belém do Pará, em 1954, no dia 9 de setembro.
P/1 – Você cresceu em Belém?
R – Eu fiquei em Belém até 17 anos, quando eu mudei pra Brasília.
P/1 – Mas me conta um pouco como foi sua infância em Belém.
R – A minha infância foi muito boa, eu sou uma, uma de oito filhos de Mario Viana de Almeida e Maria Nair, que são pessoas que eu amo muito, meu pai já partiu, mas a minha mãe continua inclusive morando comigo, era uma família muito alegre, tranquila, feliz, oito irmãos que se amam muito.
P/1 – Você é qual na escala dos outros?
R – Eu sou a quinta.
P/1 – A quinta?
R – Primeiro quatro homens e depois eu nasci e depois mais três, então são cinco homens e três mulheres.
P/1 – Todos moram em Brasília hoje?
R – Não, três moram em Belém, um deles faleceu ano passado, né, os três que moravam, dos três que moravam em Belém um faleceu, e aqui em Brasília tem os demais.
P/1 – Como é que foi, você estudou em Belém, como é que foi a sua formação? Me conta um pouquinho.
R – Eu, na época em que eu estudei em Belém ainda era a época do segundo grau, que hoje é o ensino médio, eu vim pra cá no segundo ano do curso científico e terminei o meu curso científico aqui, terminei em Brasília e lá em Brasília eu fiz a universidade, eu cursei a faculdade de Administração e fiz minha formação lá.
P/1 – Como é que foi a mudança pra Brasília?
R – A mudança, é que o meu pai era funcionário do Ministério da Marinha, primeiro ele foi militar, depois, quando ele saiu do corpo de militares ele passou a ser funcionário civil do Ministério da Marinha e em 1974 ele foi...
Continuar leituraP/1 – Bem, bom dia, Maria de Lourdes.
R – Bom dia, Márcia.
P/1 – Gostaria de começar pedindo que você me diga o seu nome completo, local e data de nascimento.
R – Eu, meu nome é Maria de Lourdes Torres de Almeida Fonseca, eu nasci em Belém do Pará, em 1954, no dia 9 de setembro.
P/1 – Você cresceu em Belém?
R – Eu fiquei em Belém até 17 anos, quando eu mudei pra Brasília.
P/1 – Mas me conta um pouco como foi sua infância em Belém.
R – A minha infância foi muito boa, eu sou uma, uma de oito filhos de Mario Viana de Almeida e Maria Nair, que são pessoas que eu amo muito, meu pai já partiu, mas a minha mãe continua inclusive morando comigo, era uma família muito alegre, tranquila, feliz, oito irmãos que se amam muito.
P/1 – Você é qual na escala dos outros?
R – Eu sou a quinta.
P/1 – A quinta?
R – Primeiro quatro homens e depois eu nasci e depois mais três, então são cinco homens e três mulheres.
P/1 – Todos moram em Brasília hoje?
R – Não, três moram em Belém, um deles faleceu ano passado, né, os três que moravam, dos três que moravam em Belém um faleceu, e aqui em Brasília tem os demais.
P/1 – Como é que foi, você estudou em Belém, como é que foi a sua formação? Me conta um pouquinho.
R – Eu, na época em que eu estudei em Belém ainda era a época do segundo grau, que hoje é o ensino médio, eu vim pra cá no segundo ano do curso científico e terminei o meu curso científico aqui, terminei em Brasília e lá em Brasília eu fiz a universidade, eu cursei a faculdade de Administração e fiz minha formação lá.
P/1 – Como é que foi a mudança pra Brasília?
R – A mudança, é que o meu pai era funcionário do Ministério da Marinha, primeiro ele foi militar, depois, quando ele saiu do corpo de militares ele passou a ser funcionário civil do Ministério da Marinha e em 1974 ele foi convidado a compor o quadro do Ministério da Marinha em Brasília e ele veio com toda a família.
P/1 – Mas você sentiu muita diferença, como é que foi?
R – Eu senti, senti porque na adolescência a gente ama muito a terra em que vive e lá eu deixei meus amigos da adolescência, então isso foi assim, difícil não só pra mim como para os meus irmãos também. Mas nós aqui tivemos uma outra oportunidade de trabalhar, de estudar, entendeu, de crescer profissionalmente, porque o meu pai sempre passou que nós, primeiro a gente tinha que garantir o pão de cada dia, depois então a gente tinha que buscar ter onde morar e depois tudo o que viesse seria conquista, conquista pessoal de cada um. Então a gente sempre teve aquela preocupação com a segurança, com a segurança de se alimentar, de viver bem, de ter uma certa segurança também pra passar pra família que fosse, que pudesse constituir. Então nós todos, todos os filhos foram muito responsáveis em relação a estes aspectos, né, aspectos da segurança pessoal e também profissional.
P/1 – Como foi a escolha da sua profissão?
R – Eu sempre tive um sonho de ser jornalista, inclusive eu fiz ainda quando estava em Belém, na adolescência, um curso de Jornalismo, inclusive eu recebi um diploma que me dava o direito de exercer a profissão de jornalista. Mas quando eu cheguei em Brasília eu comecei a trabalhar, eu comecei a trabalhar em uma empresa do DF, que se chamava Sociedade de Habitações de Interesse Social, eu trabalhei lá três anos, eu ingressei lá com 18 anos. Então eu fiz vestibular na UNB pra Jornalismo e simultaneamente eu fiz pra Administração na UDF, Associação do Ensino Unificado do Distrito Federal, só que antes de sair o resultado da UNB eu recebi o resultado da UDF, onde eu tinha sido aprovada pra Administração. Então eu já decidi naquele momento que eu ia fazer Administração, até porque eu já trabalhava, né, já tinha aquele trabalho na Sociedade de Habitação de Interesse Social, e quando saiu o resultado da UNB, eu não consegui ser aprovada e não quis tentar a segunda vez. Então ali eu decidi: “Vou ser administradora” e gostei muito, eu acho que o curso de Administração me deu uma base muito grande pra que eu conduzisse, administrasse não só a minha vida profissional, até como a minha vida pessoal.
P/1 – E aí você permaneceu nesse emprego, nesse seu primeiro emprego, quanto tempo?
R – Três anos, eu trabalhei com cinco advogados, até porque na infância eu sempre participei de gincanas de literatura, eu estudei no colégio, lá em Belém no Colégio Paes de Carvalho, no Instituto de Educação do Pará e eu devo, assim, eu tenho um carinho muito grande com o colégio que eu estudei quando eu era criança. Neste colégio, que era um colégio de freiras, que era o Instituto Catarina Labouré, era da ordem de São Vicente de Paula, eu aprendi a escrever, eu senti que eu tinha vocação pra redigir, pra colocar em palavras, em letras o que eu sentia, o que eu via, o que eu presenciava. Eu sempre, eu nunca fui, assim, muito expansiva, eu sempre fui um pouco introspectiva, eu introspectava as coisas, eu processava e eu já colocava no papel, já escrevia e as freiras incentivaram isso. Então eu participava das gincanas de literatura da cidade, eu tenho, eu nunca ganhei o primeiro lugar, mas eu ficava entre o segundo e o terceiro, lembro até do nome da minha amiga que tirava sempre o primeiro, Isabel Garcia, eu já até procurei no Facebook, na internet, ainda não consegui localizar a Isabel, mas eu ficava em segundo e terceiro. Bem, eu fui caminhando com isso, caminhando com isso, escrevendo poemas, contos, escrevendo discursos, tudo o que eu via que me interessava eu colocava em letras. E quando eu tinha 19 anos, já na universidade, eu resolvi que eu ia trabalhar no Diretório Acadêmico da universidade um grande concurso literário, e o reitor da UDF chegou pra mim e falou assim: “Mas, Lourdes, você acha que vai ter público?” e eu, no meu jeito tímido, eu disse: “Vai”, ele falou assim: “Então eu vou te dar tudo. O que é que você precisa pra fazer esse concurso, pra desenvolver esse concurso literário?”. Eu falei: “Eu preciso de cartazes, eu preciso do mural da universidade pra eu colocar esses cartazes e preciso divulgar nos ônibus da cidade”, na época Brasília não era tão gigante como é hoje, então ele me deu tudo isso e eu com um grupo de colegas consegui colocar esse concurso, que se chamou Primeiro Encontro dos Poetas da Nova Era. E esse encerramento foi lá no teatro da cidade, o Teatro Martins Pena, na Sala Martins Pena, e ficou lotado, e nós fizemos então a Noite da Poesia Falada no dia 12 de junho daquele ano, e lotado o auditório, colocamos um grupo de teatro pra recitar os poemas e foi assim. A partir dali a minha história com a literatura começou a ser construída, eu já participei de concursos, ganhei um prêmio pra a cadeira 35 da Academia de Letras e Música do Brasil, hoje eu faço parte do Sindicato dos Escritores e faço parte da Academia de Letras do Brasil – Distrito Federal.
P/1 – Bacana.
R – Essa é a minha história com a literatura e na minha história profissional eu ingressei nos Correios em 1977, fui trabalhar na área comercial.
P/1 – Foi o seu segundo emprego já?
R – Sim, mas primeiro eu fiquei seis meses no Ministério das Comunicações, que eu passei num concurso e fui trabalhar no Ministério das Comunicações, (pausa) eu acho que eu vou ter que cortar esse pedaço.
P/1 – Não, não tem problema.
R – Não?
P/1 – Não.
R – Mas tá gravando desse jeito?
P/1 – Tá.
R – E vai ficar assim?
P/1 – Mas não tem problema.
R – Tá, depois eu fui trabalhar, uma colega falou pra mim assim: “Lurdinha, estão precisando de gente nos Correios, você gostaria de ir pra lá?”, eu disse: “Sim, mas como que eu vou entrar nos Correios?”, aí ela me indicou pra fazer uma entrevista, eu fui entrevistada lá e consegui. Eu fiquei só seis meses no serviço público e já fui trabalhar na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, na divisão central filatélica, que era da área comercial.
P/1 – Você veio emprestada também, isso pode, né?
R – Não, não, eu vim mesmo, eu deixei o ministério pra ir pra...
P/1 – Pros Correios.
R – Pra os Correios, trabalhei um ano na central filatélica, aí fiz um concurso interno e fui trabalhar no Departamento de Relações Internacionais, fiquei seis anos trabalhando no Departamento de Relações Internacionais, depois de seis anos eu fiz outro concurso e fui trabalhar na assessoria filatélica em 1984. E chegando na assessoria filatélica eu entrei com aquilo: “Mas o que é que eu vou fazer nesta assessoria? Cuidar de selos?” e quando eu entrei nos Correios eu me lembro que o chefe da divisão perguntou assim pra mim: “Ô, Lourdes, você sabe o que é um selo?” e eu respondi pra ele: “Selo é uma figurinha que a gente compra nos Correios pra colocar nas cartas”. Aí ele falou assim: “Selo é muito mais que isso, pra trabalhar com selos eu preciso de gente responsável, de gente cuidadosa, de gente extremamente crítica e eu quero que você tenha esse perfil, se você não tiver a gente vai procurar uma outra área pra você, e selo é dinheiro”, ele falou pra mim: “Lourdes, selo é dinheiro”. E eu saí dali pensando: “Nossa, selo é tudo isso?” e comecei a observar cada selinho que eu manuseava no meu trabalho e dali eu comecei a perceber que selo não era só dinheiro, que selo era muito mais que o dinheiro, que selo era cultura, que selo era arte, que selo era registro iconográfico de tudo que um país, uma nação possui como valor, como riqueza. Então eu pensei: “Selo não é só dinheiro, selo pode ser comunicação, comunicação pura de tudo o que uma nação, uma cidade, um estado, uma pessoa como personalidade, como gerador de opinião possa ter”. E ali eu fiquei encantada com a filatelia e fui eu buscando compreender melhor essa história e o que motivava as pessoas a praticar a filatelia e o que e qual a responsabilidade dos Correios em relação à filatelia. Eu me lembro a primeira exposição que eu participei ativamente, eu participei da montagem usando uma sandalinha de pé, baixinha, pregando coleções, folhas de coleções com os percevejos, porque não tinha hoje o recurso que nós temos, nós precisávamos de muito mais esforço e até sangrar os dedos de tanto pressionar os percevejos nas folhas. E dali eu fui crescendo, amparada...
P/1 – E aí nesse momento sua tarefa era o que, em consistia a sua função?
R – A minha tarefa, eu participava do grupo de montagem.
P/1 – Das exposições?
R – Das exposições e eu ficava na parte de pesquisa e programação de selos, nós fazíamos, após a reunião da comissão filatélica nacional nós passávamos a pesquisar e a definir a abordagem a ser dada a aquele tema. Vamos supor, série personalidades brasileiras, bem, a série personalidades brasileiras é uma série muito ampla, então a partir dali a gente ia pesquisar toda a personalidade que a gente gostaria de ter no selo, né? Série fauna e flora, por exemplo, qual a flora, qual a flor, qual a planta que a gente ia focalizar naquele série, então a gente começava a pesquisar não só o tema, mas como a abordagem iconográfica que a gente gostaria de representar naquela emissão. É um trabalho, assim, de muita responsabilidade, eu lembro que eu sempre fui muito bem orientada pelos meus superiores, eu sempre tive pessoas maravilhosas, eu fui muito bem conduzida por uma chefe dos Correios, a Laís Scuotto, que sempre esteve, esteve à frente da filatelia por muitos anos. O Gilberto também, Silva, que sempre me ajudou, sempre foi meu chefe, me orientou, eu fui crescendo nesta área filatélica, sempre com muita responsabilidade, valorizando, passando pras pessoas e pra quem trabalhava comigo a responsabilidade não só dos Correios, mas de quem está de fora também, em relação à filatelia. Por quê? A filatelia, ela não é só, eu digo que ela está fora da empresa, a empresa, ela tem aquela responsabilidade de lançar selos bonitos, atraentes, que atendam às necessidades deste cliente especial que é o filatelista, mas a filatelia como prática mesmo, como ciência, ela está fora, nas federações, nos clubes filatélicos nacionais e internacionais.
P/1 – Mas vocês têm um contato com eles?
R – Temos, temos um contato.
P/1 – Como é que se dá esse contato?
R – Esse contato, ele vem até de uma forma muito natural, porque eles sabem que os emissores de selos são os Correios, eu digo até que o selo é um produto globalizado e não tem concorrência para os Correios, só os Correios emitem, aqui no Brasil como nos outros países, então isso vem de uma forma muito natural. Quem é o produtor, o emissor do produto que eu coleciono, do produto que vai compor a minha coleção? Então nós Correios somos vistos por eles como os provedores daquele produto formador dos acervos filatélicos.
P/1 – Eles podem sugerir selos a serem lançados?
R – Sim, podem, podem, nós temos, antigamente os Correios decidiam eles.
P/1 – Sozinhos?
R – Sozinhos, até 2000 mais ou menos os Correios diziam assim, tinha uma equipe de pesquisa, eu trabalhei muito nisso, nós sabíamos como buscar o que de relevante iria acontecer, quem estaria completando cem anos, qual era a flor, qual era o animal em extinção, qual era a flor que estava sendo alvo de um estudo do IBAMA, não é, e das instituições de preservação. Nós tínhamos um domínio dos vários segmentos do que realmente iria acontecer, o que que de importante iria acontecer no país naquele ano.
P/1 – Como funciona essa periodicidade, vocês tinham esses estudos e tudo e como é que vocês, assim, as efemérides tudo bem, 50 anos ou cem anos de morte de alguma personalidade, um escritor, presidente, mas qual é a periodicidade que você lançam, assim, de fauna, flora, que não tem data?
R – Olha, não tem, depende muito do que a comissão filatélica aprova, esta comissão, ela, antes ela se reunia duas vezes por ano, agora é uma vez só. Então quando a gente sai da comissão filatélica nacional nós já saímos com aquele, com aquela determinação de fazer o que foi definido pela comissão filatélica, então não tem assim: “Ah, este ano você vai fazer fauna e flora”, não, a comissão filatélica é quem decide, entendeu, não existe essa...
P/1 – Mas é uma média de quantos selos, mais ou menos assim, por ano?
R – Hoje?
P/1 – Não, até 2000, que você falou em 2000 muda.
R – Sim.
P/1 – Você vai me contar ainda.
R – Porque, assim, hoje nós temos que olhar bem o que o mercado exige da gente, as nossas tiragens antes eram maiores, né, nos anos 70 a filatelia foi muito forte, muito, depois, com a internet, a prática de se mandar cartas foi diminuindo. Então nós tivemos que ajustar as tiragens de selos pra que elas fossem totalmente absorvidas pelo mercado, não adiantava a gente fazer muitos selos pra que depois eles ficassem estagnados nas agências, nós tentamos ajustar as nossas tiragens às demandas, hoje nós fazemos em 21 emissões, né?
P/1 – É bastante até.
R – É, 21, 15 são eleitas pela comissão filatélica e as demais são pelo Ministério das Comunicações, além das emissões regulares, como natal, que nós temos todos os anos a série natal, nós temos uma série dedicado à União Postal das Américas, Espanha e Portugal e temos uma da série Mercosul, estas emissões todos os anos a gente tem que fazer, independentemente do que a comissão filatélica aprovar.
P/1 – Isso é bacana.
R – É.
P/1 – Mas até eu acho um número, então era até maior do que isso?
R – Era muito maior, muito maior, hoje nós limitamos muito as tiragens pra que estas sejam mais ou menos o que o mercado precisa.
P/1 – Mas, Lourdes, eu tava até vendo ali o almanaque de vocês e aqui nesse espaço também, que temos a oportunidade de aprender muita coisa.
R – Sim.
P/1 – O correio brasileiro é pioneiro em muita, em muito lançamento, muito produto, né, o selo em braile, o segundo selo mundial.
R – Sim, foi o segundo selo mundial, o primeiro das Américas.
P/1 – Tinha uma outra, primeiro selo também que eu tava vendo na revistinha. Essa, vocês têm esse reconhecimento mundial também, dessa inovação?
R – Temos, temos até porque a empresa, ela incentiva e possibilita a nossa participação nas feiras internacionais, a Brasiliana, ela foi um esforço muito grande nosso pra seguir, pra que a gente continuasse esse posicionamento no cenário filatélico mundial. Todos os grandes correios fazem, promovem e nós há 20 anos não fazíamos uma Brasiliana, então este reconhecimento é justamente por isso, porque a gente procura, as novidades são encontradas nestas exposições e nós, o selo personalizado, por exemplo, tão logo foi emitido a gente já buscou também seguir essa tendência, né? Vamos tornar o selo um veículo de comunicação porque se ele está deixando de ser gênero de primeira necessidade no corteamento, no envio de correspondências, então a nossa preocupação foi logo torná-lo objeto de desejo do colecionador, e como fazer isto? Inovando, eu costumo dizer que a filatelia precisa de investimento em tecnologia porque ela precisa mostrar o selo holográfico, o meu sonho era ter aqui nessa exposição o olho de boi piscando, um olho em movimento e nós não conseguimos porque a nossa casa impressora, ela não nos deu essa garantia e nós também não podemos procurar fora, em outra impressora fora do país.
P/1 – Vocês usam o parque da Casa da Moeda?
R – Da Casa da Moeda do Brasil, que é uma grande parceira nossa, ela tem também procurado atender as nossas necessidades, mas também tem seus limites, ela não conseguiu ainda atender, né, em todas as nossas demandas.
P/1 – A ideia é maravilhosa, o olho piscando.
R – É, era o sonho.
P/1 – Maria Lourdes, vamos então, hoje você tá, então você participou de toda essa, coordenou essa Brasiliana?
R – Sim.
P/1 – Me conta, me diga seu cargo, por favor.
R – Bem, até maio deste ano eu era chefe do departamento de filatelia e produtos, então em 2009, porque assim, tem a Federação Internacional de Filatelia, a FIF, que é a única instituição filatélica que pode dar chancela a uma mundial, a uma exposição mundial, e sempre isso começa três anos antes. E quando nós concluímos que uma Brasiliana poderia homenagear os 350 anos dos Correios e os 170 anos do olho de boi nós começamos a trabalhar com FIF esta autorização e esta autorização foi dada. Um acordo foi firmado entre os Correios do Brasil e a Federação Internacional de Filatelia e também com a Federação Brasileira de Filatelia em dezembro do ano passado e nós então começamos a trabalhar a Brasiliana. Foi um trabalho assim, que mereceu muito apoio e conseguiu ter todo o apoio da diretoria dos Correios, do presidente dos Correios, da vice-presidente de negócios, a Morgana Santos, sem este apoio nós não teríamos conseguido trabalhar uma Brasiliana como todos estão vendo aqui. Aqui nós temos mais de 750 coleções, que representam agora 66 países e temos uma interatividade, uma cenografia adequada e aderente aos valores da filatelia e aos valores culturais do nosso país. Nós temos aqui, dizem que é uma cabeça falante, né, que conta toda a história do selo, como nasceu o selo postal, nós temos o Museu da Pessoa, que está me dando a oportunidade de deixar aqui esse depoimento. Então é uma exposição muito rica, ela foi um grande desafio para a empresa de hoje, ela nos ensinou muito, muito, porque, agora eu vou falar, assim, de uma forma muito pessoal, eu sempre gostei muito de filatelia. Como eu disse lá no início, eu sou uma pessoa muito introspectiva, me considero, assim, tímida, e eu me vi diante de um desafio gigantesco, em alguns momentos eu achei que eu não ia conseguir, mas o que aconteceu? Eu tive três pessoas comigo, era um quarteto no início e depois este quarteto recebeu o apoio da diretoria regional do Rio de Janeiro e nós trabalhamos exclusivamente a Brasiliana. Um grupo de trabalho foi montado, que é o grupo de trabalho que tem o número 022/2013, alguns desse grupo de trabalho vestiram a camisa e tudo foi coordenado por este quarteto, de forma que estivéssemos aqui. Eu não vou dizer que tudo foi perfeito, mas eu digo que foi o máximo, o máximo que uma equipe pôde trazer pra cá, e contamos com o apoio do DECOE, que é o Departamento de Comunicação Estratégica da nossa empresa, DERIN, e nós todos vestindo a camisa Correios estamos aqui na Brasiliana. Só o Departamento de Filatelia e Produtos não poderia estar aqui, entendeu, foi um trabalho, embora este quarteto estivesse ali dia, em todos os momentos, nós ficamos sem almoço muitas e muitas vezes, nós ficamos sem dormir várias noites.
P/1 – Imagino, é um trabalhão.
R – A preocupação foi gigante, mas o nosso ideal, né, amparado, assim, pela grande vontade de fazer, nós ignoramos tudo, corremos com a nossa área jurídica, nós corremos com a nossa área de contratação da empresa, tivemos, assim, pessoas muito especiais, eu não vou dizer o nome de ninguém porque eu posso esquecer.
P/1 – Mas vocês ficaram contentes com o resultado?
R – Ficamos, ficamos, eu quero dizer que a consciência tranquila é a nossa maior alegria, a gente ter passado por tudo isso, mas sabendo que a nossa consciência está tranquila, lutamos, não lutamos assim por lutar, a gente tinha um objetivo e o objetivo foi nosso foco, realizar uma Brasiliana, e conseguimos.
P/1 – Foi bem sucedida, né?
R – Isso.
P/1 – Maria de Lourdes, me conta, essa Brasiliana, qual é a edição dela, vocês já tiveram quantas até hoje?
R – Esta é a quinta edição de uma mundial, só que Brasiliana mesmo três, agora, a última foi em...
P/1 – Você considera quando é internacional?
R – Sim, em 1993 foi realizada a anterior lá no, aqui mesmo no Rio de Janeiro, todas foram realizadas aqui no Rio de Janeiro, e a última foi no Centro Cultural Correios do Rio de Janeiro quando estava inaugurando aquele centro, que agora está fazendo 20 anos, é mais uma comemoração, né, no ano de 2013.
P/1 – Maria de Lourdes, e assim também, nesses anos todos, são mais de 30 anos trabalhando com selo, né?
R – Sim, sim.
P/1 – O que você vê de mudanças no seu trabalho e na própria produção de selos no Brasil?
R – Eu digo assim, nós que estudamos marketing, inclusive eu fiz duas especializações em Marketing, sabemos o que é produto, produto é tudo aquilo colocado no mercado a um determinado valor pra atender necessidades e desejos de um segmento de mercado. Então eu digo que não se faz selo pra se dar de presente ou pra fazer somente o institucional, nós fazemos selos, fazemos produtos filatélicos pra vender e nós temos uma lucratividade muito grande nisso. Eu enxergo a filatelia como um grande produto porque fazemos selos pra vender, podemos inovar nos selos e vender muito. Eu fiquei aqui observando a nossa área que vende selos personalizados, eu vi clientes comprarem de uma vez só 60 folhas de selos personalizados, eu vi um outro que comprou 15 folhas. Eu lembro que quando nós lançamos o selo em homenagem ao Chico Xavier e nós fomos lançar este selo no centro de convenções na abertura de um congresso espírita nós vendemos seis mil folhas deste selo. Então o que é que eu penso? Eu não consigo imaginar a filatelia só institucional ou só cultural, eu vejo a filatelia com uma vertente institucional muito forte, não só para os Correios como também pras outras organizações que usam o selo como propagador de seus valores, como eu vejo a filatelia na área comercial, fazendo grandes receitas, mas pra isto ela precisa, a empresa, investir em tecnologia pra que se façam produtos realmente inovadores e também na comunicação. A gente tem mais que elaborar um plano de desenvolvimento pra esta área, né, onde a gente consiga ter uma logística adequada, a circulação de selo é no lugar certo pra o cliente certo, no tempo certo, entendeu, então é uma jogada de marketing muito forte que tem que ser feita.
P/1 – Desses anos eu queria que você me dissesse assim, um selo que te marcou mais, assim, acompanhar o processo, que foi lançado, tenha sido assim, mais marcante pra você.
R – Nossa, eu lembro, todos os selos pra mim, desde 84, eu acho que eu sei um pouquinho da história, né, de cada, de cada selo que a gente trabalhou.
P/1 – Qual que deu mais trabalho?
R – Mas eu lembro de um que, assim, a gente tinha que trabalhar o selo que focalizava o mico-leão dourado, então quando a gente começou a trabalhar aquele selo nós tínhamos outros também, outras espécies de macacos ali, e eu fui lá no IBAMA. E a moça que cuidava lá da parte do IBAMA, ela falou assim: “Ô, Lourdes, vamos colocar o macaquinho aqui no ombro do mico-leão pra dar a ideia de perpetuação da espécie”, aí eu falei: “Ok, vamos colocar o macaquinho”. E a gente ligou pra Casa da Moeda, o selo já estava sendo impresso e a gente segurou aquele selo: “Não, não vai porque tem que colocar o macaquinho” e a gente só falava neste macaquinho no ombro do macaco. E depois, dos três selos que figuraram na série, ele ganhou o primeiro lugar na pesquisa popular, né, mas eu lembro do esforço que foi pra gente parar aquela produção.
P/1 – Imagino, já com o trabalho em andamento.
R – Isso, então tem muitos selos, né, que eles dão trabalho, a gente não pode pensar assim, quando nós temos o tema: “Ah, vai focalizar tal tema”, a partir dali a gente nunca sabe qual vai ser porque o artista é muito importante nisso, né?
P/1 – Como é que vocês convidam os artistas, como é que se dá esse convite, vocês abrem um concurso ou vocês já tem um artista que vocês queiram chamar, convidar, como é feita essa seleção?
R – Nós temos um banco de artistas com mais de 500 nomes, agora, nós temos aqueles artistas que já trabalham conosco há vários anos e que nós sabemos que tem uma determinada especialização, tem artista que trabalha mais com o meio ambiente, a gente já sabe. “Bem, é meio ambiente, vamos dar pra”, praquele artista que já tem, que a gente sabe que já se especializou nesta área, que vai nos dar um resultado mais rápido e melhor. Mas a regra é a seguinte, pegamos cada tema e passamos pra quatro, quatro criadores de selos, eles nos apresentam as quatro artes e ali o departamento tem autonomia pra escolher a melhor. Tem temas muito difíceis, por exemplo, a Rio+20, a Rio+20 foi um desafio muito grande e quem fez foi a própria Casa da Moeda, dois artistas da Casa da Moeda resolveram trabalhar, nós pedimos que a Casa da Moeda desenvolvesse porque a partir dos pilares da conferência Rio+20 eles teriam que desenvolver naquela folha de selos tudo o que poderia representar a Rio+20. Então dependendo do trabalho, do projeto, porque cada emissão de selo é um projeto, tem projeto mais simples, mas tem um projeto mais complexo, então este mais complexo, por exemplo, Olimpíadas é um projeto complexo, envolve autorização de direito de uso das logomarcas, né, dos jogos olímpicos. Também FIFA, Copa do Mundo, são projetos complicados, que envolvem muita, né, muito trabalho, muito esforço e cuidado, também personalidades, algumas personalidades, tem alguns que, o Garrincha, por exemplo, quando, por ocasião dos 500 anos do descobrimento do Brasil nós fizemos um concurso porque, até pela internet, a gente queria saber o que a sociedade indicava como valor pra colocar na folha dos 500 anos. E ali tinha meio ambiente, personalidades e tudo, e a sociedade escolheu Ayrton Senna e escolheu o Garrincha, quando nós fomos buscar as autorizações pra colocar essas personalidades no selo, nós não colocamos o do Garrincha porque a sua família não autorizou na época essa, não deu essa autorização. Então eu senti uma falta tão grande do Garrincha naquela folha dos 500 anos do descobrimento do Brasil, que é uma folha muito forte que diz exatamente o que o Brasil conquistou nesses 500 anos de história, nem que foi comemorado no ano 2000. Então, assim, tem projetos simples, o Dorival Caymmi, que vai completar cem anos, já o filho dele, o Danilo Caymmi disse vai dar tudo que a gente precisar, vai dar foto, vai dar elementos, ele vai nos ajudar em tudo, então já fica um projeto mais fácil.
P/1 – Uma diferença de memória também, de valorização da memória do seu parente, que é muito esquisita, as filhas do Garrincha, né, que elas só visam o lucro comercial.
R – Isso.
P/1 – A gente até viu pela questão das biografias, diferente dos filhos do Caymmi, que querem mais é que a memória do pai continue, né?
R – É.
P/1 – Deve ser complicado.
R – É complicado.
P/1 – Mesmo o lado das biografias também, é uma pena.
R – Nós não podemos colocar nada em selo postal que não seja autorizado, né, então a nossa responsabilidade é muito grande nesse aspecto. Mas eu estou falando aqui da filatelia, no momento, acabando a Brasiliana, eu não sei qual a posição que eu ocupar no departamento ou na empresa.
P/1 – Essa edição foi uma edição bem sucedida, vocês já não estão prevendo mais ou menos não deixar tanto tempo, 20 anos?
R – Não, agora depende de quem for conduzir a área filatélica porque, é como ontem a vice-presidente de negócios falou em seu discurso, ela colocou que esperava que as sementes aqui plantadas gerassem bons frutos, então a Brasiliana, ela não acaba aqui. Nós vamos ter todo um trabalho pra que essas sementes não se percam e pra isso a gente precisa de recurso, precisa de muito apoio da nossa empresa, e o que ela tem feito até hoje, e precisa de um projeto, um projeto mais específico que foque em alguns alvos. Aqui nesta Brasiliana nós temos o nosso, tem o Departamento de Pesquisa que fez várias pesquisas, o resultado dessas pesquisas vai nos ajudar a traçar os novos rumos porque sempre a gente precisa inovar, nós precisamos renovar a nossa base de colecionadores, nós precisamos melhorar os nossos processos, nós precisamos definir melhor os nossos resultados, os nossos objetivos, as nossas metas. Então quem conduzir o departamento agora tem a gerência de filatelia, né, a gerência de filatelia que pode começar a pensar nisso, começar a pensar a partir dessas pesquisas o que fazer daqui pra frente pra que nós não tenhamos aí uma lacuna de 20 anos. A gente precisa ser mais rápido, a gente precisa colocar os processos assim, mais, entendeu, mais acelerados, porque hoje tudo é muito acelerado. Eu tive a oportunidade de conversar aqui com um filatelista de 31 anos que começou a colecionar com dez, ele agra está terminando o mestrado dele em História e eu perguntei a ele: “Mas, Henrique, e qual o tema que você desenvolve?”, ele falou: “História postal”, eu falei: “Mas você começou trabalhando com história postal?”, ele: “Não, eu comecei com animais, mas depois eu fui pra história postal, eu gostei de trabalhar selos só contando a história dos Correios”. Então é fascinante a gente ver, eu ouvi muitas vezes alguém falar assim: “Ah, filatelia é coisa de cabecinha de neve”, então eu fico muito feliz que aqui na Brasiliana eu já conversei e vi que não tem só cabecinha de neve na filatelia, né? Que as pessoas estão, que este cliente, ele é tocado na filatelia bem mais cedo, agora, ele só atinge a maturidade, né, esse, ele só pode ser considerado um avançado lá na cabecinha de neve, mas até chegar lá nós temos um arsenal de colecionadores jovens, mas que estão aí neste Brasil todo, né?
P/1 – Cabecinha de neve é um idoso?
R – É um idoso, é, então eles brincam dizendo que a filatelia, ela é praticada por cabecinhas de neve, mas não. Tem um diretor nos Correios que falou pra mim assim uma vez: “Ô, Lurdinha, o seu maior desafio é me tornar um colecionador”, aí eu olhei pra ele e falei assim: “Então, se você tivesse sido tocado na infância, quando você era criança, hoje eu não teria nenhuma dificuldade pra tê-lo como um colecionador”, é por isso que eu acredito em colocar essa semente na criança. Porque nós, eu espero que essa pesquisa até mude isso, mas hoje o perfil é este, eles começam na criança, quando eles chegam lá pros 13, 14 anos eles começam a pensar em outras coisas, a estudar, a pensar, a namorar, o foco de interesse do adolescente é outro, e eles guardam ali a coleçãozinha deles.
P/1 – Um dia volta.
R – É, aí lá pros 35 volta e volta com força total, mas nunca, nunca uma coleção de selos, ela é descartada quando ela começa a ser montada na infância. Eu até queria registrar também nesse depoimento uma experiência recente, que o meu cunhado, ele sempre me viu trabalhar com selos, sempre, inclusive meu filho quando era pequeno, diziam assim: “Qual é a profissão da sua mãe?”, aí ele dizia: “Filatelista” (risos), que eu era filatelista, mas eu nunca fui filatelista, eu só sou uma empregada de Correios que trabalha com selos, que trabalha na produção de selos. E o meu cunhado, já com 60 anos, ele aposentou, ele é um consultor do IBAMA, uma pessoa que sempre foi muito dedicada a pesquisas ambientais, de repente eu falei pra ele assim: “Valdir, eu vou te dar uma coleção de selos”. Quando eu dei aquela coleção de selos pra ele eu não pensei que ele fosse ficar louco, hoje, um ano depois que ele ganhou essa coleção, ele já frequenta uma associação filatélica, ele chega em casa, a minha irmã diz que ele acorda às cinco horas da madrugada e vai pro computador, ele usa o scanner, ele coloca, ele está montando uma coleção dele virtual.
P/1 – Que bacana.
R – Então é assim, eu acho que a filatelia está aí disponível pra todo mundo que tem um foco em algum tema, em alguma, em algum objetivo, entretenimento ou pesquisa, ou mesmo arte.
P/1 – Eu queria perguntar se você gostaria de deixar alguma coisa mais registrada também.
R – Não, eu quero agradecer a oportunidade de vocês estarem aqui na Brasiliana e esperar que essa semente, como a Morgana falou, que ela gere bons frutos pra nossa filatelia.
P/1 – Eu queria agradecer e todas as suas explicações que você deu aqui, contou um pouco sobre esse projeto, foi muito bonito.
R – Ok.
P/1 – Obrigada.
R – Obrigada também.
FINAL DA ENTREVISTA
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