P/1- Então, vamos lá. Me fala seu nome completo, local e data de nascimento. R/1- Meu nome é Sandra Biasotto, nasci em Sorocaba, no dia 27 de setembro de 1975. P/2- Posso te pedir uma coisinha, se você puder encostar sua cadeira na mesa, é melhor. (interrupção) P/1- Me diga seu nome completo, local e data de nascimento. R/1- Meu nome é Sandra Biasotto, nasci em Sorocaba, no dia 27 de setembro de 1975. P/1- Nome de seus pais. R/1- Meu pai é Luis Biasotto e minha mãe Maria Célia D' ngelo Biasotto. P/1- E onde eles nasceram? R/1- Os dois nasceram em Sorocaba também. P/1- Qual a atividade dos seus pais? R/1- Meu pai é tecnólogo, formado na FATEC em Sorocaba, e trabalhou em empresas como projetista, desenhista de projetos e tudo mais. E minha mãe é professora, dava aula de português e inglês no colégio pra ginásio e colegial. P/1- Tá. Então, vamos falar agora um pouco da sua infância. Como era Sorocaba? Você passou sua infância lá, me fala um pouco da sua infância lá. R/1- Na verdade, assim, eu passei toda a minha infância em Sorocaba, né? Eu tenho uma irmã dois mais velha do que eu. Então, essa coisa de muita proximidade em função da idade, a gente sempre estudou no mesmo colégio, sempre teve as mesmas turmas, né? Tinha muito esse negócio de brincar na rua, né, que morava em casa. Na verdade, meu avô tinha uma vilinha de casas lá, de sete casas de aluguel, em Sorocaba. Então, a gente morou bastante tempo numa das casas ali, ao lado dos meus avós. Então, meu pai e minha mãe trabalhando, sempre eu e minha irmã ficávamos sob, na verdade aos cuidados da minha avó, né, até os 10 anos de idade. Depois disso, a gente começou a ficar sozinha em casa, né? Aí, nessa época, a gente já tinha mudado pra uma casa que os meus pais tinham comprado, né? Que era longe aí da região onde meus avós moravam, né? E a gente começou a ficar sozinha, então começou já a se virar com 10 anos de idade. Meio que...
Continuar leituraP/1- Então, vamos lá. Me fala seu nome completo, local e data de nascimento. R/1- Meu nome é Sandra Biasotto, nasci em Sorocaba, no dia 27 de setembro de 1975. P/2- Posso te pedir uma coisinha, se você puder encostar sua cadeira na mesa, é melhor. (interrupção) P/1- Me diga seu nome completo, local e data de nascimento. R/1- Meu nome é Sandra Biasotto, nasci em Sorocaba, no dia 27 de setembro de 1975. P/1- Nome de seus pais. R/1- Meu pai é Luis Biasotto e minha mãe Maria Célia D' ngelo Biasotto. P/1- E onde eles nasceram? R/1- Os dois nasceram em Sorocaba também. P/1- Qual a atividade dos seus pais? R/1- Meu pai é tecnólogo, formado na FATEC em Sorocaba, e trabalhou em empresas como projetista, desenhista de projetos e tudo mais. E minha mãe é professora, dava aula de português e inglês no colégio pra ginásio e colegial. P/1- Tá. Então, vamos falar agora um pouco da sua infância. Como era Sorocaba? Você passou sua infância lá, me fala um pouco da sua infância lá. R/1- Na verdade, assim, eu passei toda a minha infância em Sorocaba, né? Eu tenho uma irmã dois mais velha do que eu. Então, essa coisa de muita proximidade em função da idade, a gente sempre estudou no mesmo colégio, sempre teve as mesmas turmas, né? Tinha muito esse negócio de brincar na rua, né, que morava em casa. Na verdade, meu avô tinha uma vilinha de casas lá, de sete casas de aluguel, em Sorocaba. Então, a gente morou bastante tempo numa das casas ali, ao lado dos meus avós. Então, meu pai e minha mãe trabalhando, sempre eu e minha irmã ficávamos sob, na verdade aos cuidados da minha avó, né, até os 10 anos de idade. Depois disso, a gente começou a ficar sozinha em casa, né? Aí, nessa época, a gente já tinha mudado pra uma casa que os meus pais tinham comprado, né? Que era longe aí da região onde meus avós moravam, né? E a gente começou a ficar sozinha, então começou já a se virar com 10 anos de idade. Meio que independente, a cuidar, fazer, tinha que fazer sua refeição, tinha que fazer, uma cuidando meio da outra. Mas, mesmo assim, tinha a turma que a gente brincava na rua. Daí, tinha muita gente em casa, assim, de amigos, não sei o quê, brincava em casa, que minha mãe gostava mais que viesse em casa, do que a gente ir na casa dos outros, né? Tinha um pouco disso também. E... P/1- E as brincadeiras, o que que vocês faziam, quais eram essas brincadeiras aí de criança? Ainda na primeira casa. R/1- Na primeira casa? Na primeira casa, tinha mais assim de, tinha brincar de queimada, tinha essas brincadeiras na rua mesmo, de polícia e ladrão e de, né, essas coisas de brincadeira de criança na rua, né? De jogar, jogar bola, pular amarelinha, essas coisas de desenhar na calçada com pedaço de pedra, assim, amarelinha e brincar. Então, tinha sempre a criançada ali que se divertia e que era da turminha, né? Isso se perdeu ao longo do tempo. Na verdade, quando eu mudei de casa, isso já em 82, 86, aí já foi outra turma, né, já era fase de começando o ginásio, essas coisas todas, em 86, e aí já era outra turma, já era outra casa. Então, essas amizades também foram mudando muito, né? Minha mãe é um pouco nômade, assim. Mesmo morando em Sorocaba, a gente morou umas 20 casas. Tinha isso de morar 2, 3 anos num lugar, foi mais na infância, quando eu era pequena. Depois dos 10 anos até os meus 18, quando eu vim pra fazer faculdade em São Paulo, aí assim, a gente morou em várias casas. Era 1, 2 anos em cada casa. Então, era colégios diferentes, turmas diferentes, brincadeiras com pessoas diferentes, né? Isso aconteceu muito na minha infância. Então fui sempre acostumada a ter gente nova, a começar a fazer amizade de novo, né? Por que isso mudava muito. Então, e sempre quando eu mudava, minha mãe colocava no colégio mais perto, sempre escola estadual, né? Então, sempre mudava e colocava na escola mais próxima, né? Isso já ginásio. P/1- E com 10 anos vocês começaram já a se virar, as duas? R/1- É, com 10 anos, eu estava na quinta série, né? Minha irmã tinha dois anos a mais que eu, estava na sétima. E aí, a gente tinha horários diferentes, eu estudava à tarde e ela de manhã. Então, de manhã eu ficava sozinha, aí chegava, comia alguma coisa as duas juntas, eu ia à tarde pra escola, né? Então tinha muito isso de uma meio que cuidar da outra. E tinha muito, assim, a minha irmã já é uma pessoa mais reservada, muita brincadeira de escrever, de desenhar, de não sei o quê. Eu já não, eu já sempre fui a mais, sou a caçula e sempre fui a mais, assim, espevitada, mesmo, de brincar na rua, de querer andar de bicicleta, de querer, né? De nunca estar ali, quietinha num canto. Minha irmã já era mais assim, sei lá, mais intelectual, de desenhar, ler, escrever. Eu já era mais de brincadeiras de rua mesmo. E principalmente com os meninos também, né? Eu gostava mais de, sabe? De, na verdade, de estar com os meninos e de estar correndo, de estar ou correndo atrás de alguém, ou brincando de alguma coisa mais, assim, ativa, na verdade. P/1- E quando você ficava de manhã sozinha em casa você ficava quietinha lá ou ia pra rua, o que você fazia? R/1- Não, ia pra rua também, na verdade. Eu sempre fui meio desobediente, assim, eu diria. Minha irmã sempre foi a comportada e eu sempre fui a mais, assim, desobediente. Como os professores nossos também foram os mesmos, então sempre quem deu aula pra mim já tinha dado aula pra minha irmã, né? Tinha isso de minha irmã sentar na frente, eu já sentava no fundo da sala, né? Embora eu tirasse notas altas também, mas assim, falava: "Nossa, uma é a quieta que tem amizade com duas, três pessoas, reservada. A Sandra não. A Sandra já é a que conversa com todo mundo, tem amizade com todo mundo, com quem está na sala do lado, com quem é das outras, na verdade assim, de séries mais avançadas até do que ela." Eu conhecia absolutamente todo mundo porque é esse meio jeito de ser comunicativa e de querer, sabe, fazer amizade. Então, sempre teve muito isso, né? Na verdade, mais a turma que minha irmã saía e brincava e tudo mais eram mais amigos meus do que dela, né? Porque sempre em casa ía a galera, que eu chamava todo mundo. Então, tinha muito disso. Isso desde pequena, na verdade. Então, acho que é bem característico. P/1- E a mãe ficava brava? R/1- Não, minha mãe não ficava, não, na verdade. Eu acho que, assim, eu tenho muita, sou muito parecida com a minha mãe. Então, a minha mãe fala assim: "Ah, você não foi nem 10% do que eu fui." Então, tem muito isso. Então, minha mãe gostava. Ela preferia que tivesse gente em casa, nem que fizesse bagunça e tinha que fazer lanche pra todo mundo e não sei o quê, do que estar na rua ou na casa de alguém, assim. Então, ela preferia que a galera viesse pra casa mesmo. P/1- E na escola? Me fala desde o comecinho, assim, quando você entrou, o que que você se lembra. R/1- Tá. Eu lembro assim, na verdade assim, eu lembro mais das artes que eu fiz na escola, né? Porque eu lembro, assim, eu fiz desde, entrei no salesiano, aqueles Jardim II e III, que minha irmã já estava no prezinho. E já, tudo que era assim: "Não faça isso, não passe em frente ao balanço quando está alguém lá balançando, não suba no elevador no último andar.", naqueles negócios de ferro, não sei o quê. Eu sempre estava aonde alguém falava que não era pra estar. Então, assim, as histórias que eu tenho é sempre um machucado novo todo dia. Diretoria, quase todo dia. Aí, já no prezinho, eu fiz na EMEI, aí já na Vila Santana em Sorocaba. E aí também, já no primeiro dia de aula, já fui pra diretoria que eu tinha batido em dois meninos. Aí, não tinha diretora, aí me deram brinquedo pra brincar, me deram groselha, eu lembro disso, assim, como se fosse hoje. E aí, eu lembro que eu achei o máximo ter ido pra diretoria, porque eu cheguei lá, não levei nenhuma bronca, ainda fiquei brincando, ainda me deram groselha. Aí, minha mãe, quando chegou cinco e meia pra me pegar, né, ficou muito brava. Mas, não tinha jeito porque já, isso aconteceu várias vezes, né? Então, coisas que a minha mãe nunca passou com a minha irmã, né, que normalmente, sei lá, o filho mais velho acaba desbravando essas coisas. Minha irmã sempre foi a comportada e eu, embora eu tivesse notas boas e tudo mais, mas eu sempre fui pro lado de, sempre estava aprontando alguma coisa. A piscina dessa EMEI estava em reforma, eu fui brincar de esconde-esconde dentro da piscina, cortei o pé. Então tudo o que não era pra fazer, não era pra ir, eu estava lá, sempre. E acho que isso é uma coisa muito mais de personalidade na verdade, né? Porque a diferença de 1 ano e 10 meses que eu e minha irmã, então a gente foi criada meio que nem gêmeas. Aniversário, as duas ganham presente. Aniversário da outra, as duas ganham o mesmo presente, né, a mesma roupa, o mesmo tênis. Então, tinha esse lance de quem vai tomar banho primeiro põe a roupa porque é a que vai. Porque se a outra quiser pôr aquela roupa não vai porque quem foi primeiro escolheu, entendeu? Porque tinha tudo igual. Então, às vezes eu acho assim: não, se criou idêntica, as duas, como gêmeas quase e uma muito diferente da outra. E a gente é muito diferente até hoje, assim. Depois, ao longo de carreira profissional e de faculdade, tudo, a gente muito diferente, né? Tudo que eu tenho, assim, de ser, sei lá, direta, objetiva, de querer fazer e de querer resolver, minha irmã já é muito mais calma, né? Eu já sou muito individualista, já vou, tento resolver e fazer as coisas. Ela já é muito mais, né, de pedir ajuda, "Ai, alguém pode ir comigo?" Eu não, eu pego e vou e encaro, resolvo e faço sozinha. Mas é uma coisa que acho que é desde criança, eu sempre fui assim, né? De encarar e de fazer. P/1- E como você, você era boa aluna? R/1- Eu era boa aluna. P/1- Apesar disso, dessa confusão. P/1- Apesar disso, eu tirava A. Tirava As em tudo, eu ia bem assim. Eu estudava tudo, estudava, fazia as minhas lições, cumpria exatamente com tudo o que eu tinha que fazer no colégio, só que eu não era esse negócio de ser a quietinha, a certinha, de ser aquela cri..., a quieta, que conversa do lado, né? Eu tirava os As, tirava 10 em tudo, né, nos boletins. Eu fui tirar nota menor que 10 na faculdade, que eu achei um absurdo, né? Mas aí é outro, é outro panorama, você tem que estar acostumado com isso também. Mas, assim, eu sempre estava em pé lá na lousa porque eu falava demais. Então, eu ficava lá em pé até esperar minha vez de fazer a leitura do texto. Eu ficava atrás da porta porque eu falava demais, aí me colocavam de castigo. Só na hora que fosse a minha vez de falar pra eu voltar. Então, tinha várias dessas, várias. Eu sempre estava, sempre estava onde não devia, na verdade. Aí, eu era, assim, eu ficava na diretoria ou com o inspetor, alguma coisa, porque eu fazia muita bagunça. Então, tinha um pouco disso, né? P/1- Só um instantinho. P/2- Está com uma machinha. R/1- Ah, estou com batom. Eu imaginei que estava. P/2- Faz assim: põe o dedo na boca e... aí, que aí não pega. R/1- Tá. P/1- Quer um papelzinho, alguma coisa? R/1- Não. Pode deixar. P/1- Faz assim ó. Lambe assim que aí não vai passar de novo. P/2- Não, acho que agora já saiu. P/1- Agora saiu. P/2- Passou o dedo. P/1- Tirou. Pronto. Espera aí, só um minuto. Bom, vamos. Isso tudo aconteceu em Sorocaba? R/1- Isso tudo aconteceu em Sorocaba. Na verdade, todo o primário, ginásio, o colegial todo eu fiz em Sorocaba. O primário e o ginásio em escolas públicas, né, estaduais. E aí, o colégio que eu fui pra uma escola particular. Até porque nessa época eu já tinha intenção de fazer engenharia, de não sei o quê, então já tinha intenção de, né? De estar numa escola mais forte e tudo mais, por causa de vestibular, né? Mas, antes, tudo em escolas públicas na verdade. O primário foi mais no Sesi, que tinha em Sorocaba. Minha mãe dava aula no Sesi, não foi minha professora, mas... então, ela já ia dar aula, então já levava uma. Depois meu avô ia buscar, levava a outra. Já tinha um esquema mais fácil, até porque minha mãe já ia para aquele colégio, né, pra aquela escola, então ficava mais fácil. Mas, foi tudo, tudo em Sorocaba. Na infância não sai de Sorocaba. P/1- E como surgiu a idéia de Engenharia? Alguém influenciou? Você falou: "Nessa época já pensava em fazer Engenharia." Como é que é isso? R/1- Não, na verdade assim, eu comecei, pra falar a verdade, eu tinha duas idéias de fazer duas coisas completamente diferentes, né? Eu com, eu fiz balé desde criança, desde 5 anos de idade, né? Então tinha muito disso também, de colocar as duas no balé, as duas no piano, as duas em artes ou artesanato e pintura. Então, eu fiz tudo isso. Sempre a minha mãe colocando as duas juntas, pras duas se desenvolverem e fazerem. E aí, cada uma seguiu um lado, né? Minha irmã seguiu a parte de artes e eu fui pra parte de balé e não sei o quê, desde os 5 anos de idade. Então, eu fiz balé, fiz sapateado, fiz jazz. Com 14 anos, eu estava dando aula pra criancinha de 3 anos. Então, era um negócio que eu gostava muito, vivia disso, vivia quase 8 horas por dia disso, né? Porque depois do colégio eu ia pra lá e fazia n aulas e dava aula e participava de concurso de dança, grupo de dança. Então, tinha duas visões assim. Uma, que eu gostava muito de química no colégio. Então, eu queria fazer alguma coisa relacionada a química. Mas que não fosse química pura, de pesquisa, não sei o quê, que eu não tenho muito paciência, muito jeito pra isso, eu acho. E outra coisa era a dança. Tinha o sonho de fazer Dança na Unicamp, por exemplo. Só que eu sou muito, assim, extremamente pé no chão. Nada esse negócio viver da arte no Brasil, esquece porque você vai ter que ser um em um milhão, de ser o super super super pra poder se destacar e ter algum, sei lá, reconhecimento, o retorno financeiro também é difícil. Então, eu fui muito nisso, né? Eu fiz, até os meus 17 anos, balé, tudo mais. Dava aula desde os 14, tinha meu dinheirinho, né? Era independente, que meu pai começava a reclamar 10 horas da noite. Então, no dia que ele reclamou, falei: "Não, agora esquece que eu vou me virar, eu venho de carona, eu venho de ônibus, eu, né?" Eu sempre fui muito assim, alguém reclamou de alguma coisa, pode deixar que eu me viro, eu vou fazer, né? E isso desde os meus 14 anos. Então, eu andava de ônibus, ia, vinha, voltava, fazia as minhas coisas. E tinha essas duas frentes que eu gostava muito, né? Só que aí cabeça, assim, muito pé no chão e muito sensata, falei: "Não, não vou pro lado de arte no Brasil, né? Vou realmente fazer química." E aí, eu não queria química pura, essas coisas, falei: "Não, vou fazer Engenharia Química, que aí vou pra um lado mais administrativo, um lado mais de projeto, né?" Um lado que eu não vou ficar lá fazendo pesquisa. E aí, decidi, na verdade. Não teve influência nem do meu pai, nem da minha mãe em nada, né? Na verdade, minha mãe não queria que eu fizesse faculdade fora e não tinha Engenharia Química em Sorocaba. Embora tenha uma faculdade de Engenharia lá, não tem Química. Aí, eu vi onde tinha. Tinha na Unicamp, tinha a Fuvest, na época, na USP, e tinha na FEI, em São Bernardo do Campo. Aí, eu prestei, terminei o colegial, terceiro colegial, prestei esses três, não fiz cursinho, nada. E aí, passei na FEI, passei na primeira fase da Fuvest, na segunda não passei, na Unicamp não passei nem na primeira fase. Daí, eu falei: "Está bom, agora é uma decisão dos meus pais." Eu falei: "Vocês que decidem. Vocês vão me pagar 5 anos de FEI ou vão me pagar algum ano de cursinho, né?" Aí, meu pai optou por: "Não, faz já. Você é nova, 5 anos, ficar 2, 3 anos tentando cursinho de repente, né? Não vale a pena. Vamos fazer direto faculdade." P/1- Que idade você tinha? R/1- Eu tinha 17 anos, nessa época. E aí, nunca tinha saído de Sorocaba. Por mais que eu andasse lá e nessa época já tinha, minha irmã de aniversário de 15 anos ganhou uma Vespa. Mas nunca saiu de casa, meu pai tinha que pôr ela pra fora pra ela andar. Então, eu andava direto, né? Fora do perímetro determinado, permitido. Então, embora eu tivesse liberdade e andasse muito em Sorocaba e fizesse minhas coisas, eu nunca tinha saído de Sorocaba. Se eu ia pra Itu à noite, que é ali pertinho, nossa, era um crime, assim, um negócio, um parto, pra conseguir alguém me deixar ir. Mas, eu ia de vez em quando. Então, quando eu vim com 17 anos pra fazer vestibular, eu lembro que nesse dia do vestibular estava uma chuva, assim, um negócio absurdo. P/1- Em São Bernardo? R/1- Era em São Bernardo e a gente vinha de Sorocaba cedinho pra eu fazer a prova que era num sábado, alguma coisa assim. P/1- Seus pais vieram? R/1- É. Meus pais vieram me trazer. E aí, assim, aquela chuva, aquela chuva. Minha mãe já acordou: "Não, está chovendo. Melhor você não ir, porque está chovendo muito, porque é perigoso, porque não sei o quê, porque não sei que lá. Acho que você devia fazer Engenharia aqui. Se você não quiser mais morar com a gente, você mora em um apartamento nosso, a gente tira um inquilino de lá. Se o problema é carro, eu te dou carro quando você fizer 18." Eu falei: "Mãe, você não entendeu, eu vou fazer Engenharia Química, não é o fato de ser aqui, ali ou lá, né?" Eu falei: "Que eu quero fazer Química. Aqui não tem Química." "Não, você faz qualquer outra coisa aqui." "Não, vocês não entenderam." Falei: "Está chovendo, eu vou assim mesmo. A chuva não tem nada a ver com isso." Aí, a gente veio, naquela super chuva, se perdemos. P/1- A família toda? R/1- É. Eu, minha irmã e meus pais. E aí, viemos pra, e aí se perdemos ali em Piraporinha até chegar na FEI. Porque a FEI fica num lugar, em São Bernardo ali, meio ruim de acesso. Aí, chegamos, aí eu fiz a prova, aí quando saiu o resultado, eu tinha passado. Eu falei: "Beleza, eu vou." Aí, definiu-se que eu ia. E eu sempre fui a filha mais companheira da minha mãe, até por ter mais o jeito o dela, minha irmã sempre foi: "Ah, vai." Minha mãe dava aula e tinha festas no salesiano, não sei o quê, a minha irmã nunca participava. Eu participava, eu ensaiava a turma, eu fazia coreografia, fazia tudo, né? Eu adorava estar no meio da galera ali, do pessoal. Então, eu era conhecida no salesiano por todo mundo, eu sempre estava lá ajudando. Então, eu tinha essa proximidade muito grande com a minha mãe, né? Então, teve isso, essa sensação de eu sair, então teve uma sensação de perda muito grande. Pra ela e pra mim também. E aí, quando eu vim pra São Bernardo, nenhuma amiga minha prestou Engenharia, ninguém, vim só eu pra FEI. Eu e Deus e, assim, vou encarar e me viro. P/1- Morar sozinha? Tudo? R/1- É. Procurar algum lugar pra morar. Não tinha nenhuma amiga minha pra fazer república, não conhecia ninguém que estava fazendo FEI. Aí, a gente viu num prédio, que é um prédio, assim, com três torres ali do lado da FEI, tinha um: vaga pra moça. Uma mulher solteira, querendo alguém pra dividir. Aí, beleza, eu fui lá, conversar, foi meu pai, ele viu, orientou, não sei o quê. Era uma senhora, tinha uns 50 e poucos anos, não sei o quê. Falei: "Está bom, né?" Aí, beleza, falei: "Ela quer um quarto só." Tinha que dividir o mesmo quarto. Falei: "Beleza, vou ficar aqui de experiência até conhecer alguém e aí eu mudo, né?" E fiquei o primeiro semestre lá. Só que teve esse lance. Aí, quando eu voltei pra Sorocaba, minhas tias, minhas primas: "Porque vai saber se a mulher vai te agarrar à noite, vai saber porque que ela mora sozinha." Sabe uma coisas assim viajantes, que você fala: "Gente, não tem nada de mais, eu só vou lá dividir, dividir despesa, vou ficar o dia inteiro na faculdade." Eu ficava estudando na biblioteca o resto do período, voltar pra dormir, tomar banho e comer alguma coisa. Falei: "Gente, vocês estão, né?" Aquela sensação de que nunca ninguém saiu, nunca nenhum primo meu tinha ido estudar fora. Até porque todos são, tem minha irmã, eu e depois é tudo mais novo. Então, teve esse negócio: "Não, a Sandra vai morar fora." Sabe? P/1- Era a primeira, que estava rompendo? R/1- Aquela primeira, isso. A desbravar um negócio que ninguém sabia. Então, vinha histórias e mais histórias, né? Então qualquer virada que a mulher dava na cama à noite, eu já acordava, né? Porque aquela preocupação de que: "Não, será que está vindo aqui falar comigo, vai me mexer." Sabe, aquela, né, que é uma coisa, assim, natural da inexperiência do primeiro momento, assim. Aí, nesse, durante esse primeiro semestre, conheci muita gente, tinha muita gente se Sorocaba, também. E aí, o fato de estar morando com a mulher também começou a dar alguns estresses. De eu chegar lá e tem coisas minhas mexidas e comeu coisas que não me pediu. Então, isso também começou a gerar probleminhas, assim, domésticos, vamos dizer assim. E aí, no segundo semestre, eu, tinha um orelhão lá embaixo onde todos os estudantes faziam fila pra ligar para os pais todo dia, não sei o quê. E aí, escutei uma menina falando que ia mudar pra um apartamento de dois quartos e precisava achar alguém pra dividir. Ela falando no telefone, nunca tinha visto. P/1- No orelhão? R/1- No orelhão. Falando com a mãe e eu esperando pra ligar pra minha mãe. Eu falei: "Beleza, vou ficar aqui parada, esperando, a hora que ela terminar, eu falo que eu estou procurando, né?" Porque eu sempre fui assim, eu vou direto ao ponto. Ela desligou, foi exatamente o que eu fiz. Ela: "Ah, não, a gente está procurando. Então, vamos lá conversar com a gente hoje." Beleza, fui. Era umas 10 da noite, fiquei lá até umas meia noite e meia, uma hora, mais ou menos, conversando. Aí, acertamos tudo. Aí, eu ia vir de férias porque era minhas duas últimas semanas de prova. Ela falou: "Não, no último dia, você traz todas as suas coisas pra cá e quando você voltar de férias, você já mora com a gente." Aí, beleza, fiz exatamente isso. Cheguei na mulher, deixei o cheque do que eu devia pra ela, tirei minhas coisas no último dia, sabe? Super, resolvi os meus problemas de forma bem, bem prática. E aí, morei com essas meninas 3 anos, porque elas já estavam no segundo ano, até elas se formarem. Depois mudei pra uma outra república, no mesmo, tudo no mesmo prédio, de uma outra menina que era da minha sala desde o início, que também a que estava com ela se formou, aí a gente morou junto. Então, eu nunca tive problema com isso. Assim, a maior aventura foi no começo. Até de você chegar, é tudo novo, você não conhece nada, né? Fica aquela preocupação, né? Essa senhora falava assim: "Não, não conversa com os caras no elevador, só tem estudante, não sei o quê, porque esses caras isso." Era aquela coisa de quem não está no meio de faculdade. Quando você está no meio de faculdade, você fala: "Ah, está bom. É lógico que vai ter um monte de cara, que vai ter pessoal zoando e vai ter tudo isso, né?" É faculdade. P/1- Claro. Faz parte. R/1- Faz parte do negócio, né? Então, acho que o primeiro choque foi esse primeiro semestre, depois o negócio foi muito mais tranqüilo. Mas, na faculdade eu estudava muito, muito, muito, muito. P/1- E a dança? E a dança, nunca mais? R/1- A dança nunca mais. Parei, quando entrei na faculdade parei. Até porque a condição do meu pai era essa. Tipo, você vai fazer FEI, eu vou pagar 5 anos, não vou pagar mais do que um dia. Então, você está lá só pra estudar. Você tem que passar, né? Se formar com 5 anos. E esquece academia, esquece. Vai fazer no máximo inglês. Esquece academia, esquece dança, esquece tudo isso. Até porque se eu fizesse um negócio desse, realmente, no meio periodo que eu ficava estudando na biblioteca, eu ia dedicar a ficar na academia, né? Então, ele tinha razão. E eu cumpri isso também, fiz em 5 anos, não repeti nada, fiz tudo direitinho, que eu acho que é o correto, né? Sou muito assim: está bom, estão investindo, e tão e eu, realmente, só estou estudando, a minha obrigação é no mínimo passar, né? Só que eu eu lembro do dia, também, que eu tirei o meu primeiro, putz, eu só tirava 10 no colégio, não sei o quê, tirei o meu primeiro 3. Nossa, aquele dia eu falei: "Nossa, não acredito, não é minha prova. Vou pedir uma revisão." Aí, tive a cara de pau de ir lá, pedir uma revisão. Aí, o professor, assim: "Tipo, eu te dei esses 3. Você não está entendendo. Nem tem 3 aí." Aí, assim, aí você começa a ver que faculdade é outro, é outro esquema na verdade. P/1- Não é tão fácil. R/1- Não é tão fácil. E as coisas também, as provas são completamente diferentes daquilo que você está vendo na aula. Os caras fazem uns negócios, né, uns exercícios que você fala: "De onde tiraram isso?" Mas, assim, mas eu cumpri os meus 5 anos de faculdade bem, eu diria. Depois desse susto, você começa a estudar na biblioteca todo dia, aí você fala: "Não, 3 não vou tirar nunca mais, nunca mais." P/1- E não tirou? R/1- Não tirei, não tirei. Não fechei tudo com 10, não. Mas, de 7 pra cima, que era a média, daí era mais tranqüilo. Mas estudando bastante. P/1- E trabalho, quando você começou a trabalhar? R/1- Aí, trabalho, comecei quando tinha 1 ano e meio pra me formar, né? Comecei fazendo estágio, na verdade era um estágio de férias, em Sorocaba. Cheguei, estava de férias, 40 dias, que eu tinha passado nas segundas provas. Então, tinha um tempo grande de férias. Eu falei: "Vou chegar em Sorocaba, vou começar a ver empresas e vou fazer um estágio de férias." Foi essa a minha idéia. Aí, cheguei, comecei ligar, né, ver onde que tinha. Meu pai trabalhou 30 anos em fábrica, trabalhava na fábrica de Aço Paulista em Sorocaba, então me deu, assim, os nomes, os telefones, onde eu procurar, buscar. E aí, surgiu uma oportunidade na Alcoa pra um estágio que não era de férias na época. O cara falou: "Não, mas não é estágio de férias. Tudo bem pra você fazer vai e volta São Bernardo?" Eu: "Não, tudo bem." "E você tem carro?" "Tenho carro." E assim, porque eu falei: "Não, eu tenho que pegar esse estágio de qualquer jeito." Desde criança, é uma Alcoa. Não é tão fácil entrar numa Alcoa, né? Então eu tinha aquele negócio: "Não, eu vou fazer." Depois, em casa, eu resolvo e explico. Aí, eu cheguei em casa e falei que era um estágio e não sei o quê e que era de férias e tudo mais, nananá. Falei, depois quando o cara falar, "Não, o cara não quer que eu saia de jeito nenhum." Falei: "Depois de uns 15 dias, eu resolvo a situação." E aí, meus pais ficaram super felizes de eu ter conseguido, tananá. E nessa época eu tinha tirado carta em janeiro, isso era em julho, tinha tirado carta em janeiro, meio escondido, assim, do meu pai. Minha irmã que me levava pra fazer as aulas, que me fez tirar a carta, tudo. Meu pai queria que eu tirasse carta só depois que eu me formasse, que não era pra eu ter carro em São Paulo, "Que onde já se viu, andar de carro em São Paulo, aquele trânsito, aquela loucura." E nem em Sorocaba me deixavam andar, que nessa época eu já namorava o meu atual marido hoje. E, também, precisava ir no shopping: "Eu te levo, eu vou te buscar." Ninguém me deixava ir de carro pra lugar nenhum, mesmo eu com carteira e com o carro na garagem. Aí, em função desse estágio, meu pai começou a me deixar ir, né? Então, ele ia comigo de manhã, foi uma semana. Na hora de voltar, ele ia lá com o carro, eu voltava dirigindo, pra me ver dirigindo, que pegava um trecho de castelinho ali, de estrada. Aí, depois, eu ia esse percurso sozinha. Aí, quando chegou uma semana pra terminar o estágio, eu falei: "Olha, pai, o estágio não é de férias. O pessoal quer me deixar permanente por causa disso, por causa daquilo, porque eu estou com um desempenho bom, porque o pessoal está gostando do meu trabalho e não sei o quê, só que eu vou ter que ir de carro." Aí, virou um caos de novo. Porque imagina isso nunca, minha irmã, que era mais velha, nunca tinha passado por situações dessa. Então, eu que trazia as situações novas sempre. Aí, beleza, aí ele falou: "Está bom. Tudo bem desde que você vá e volte pra São Paulo comigo uns 10 dias dirigindo." Meu pai já era aposentado nessa época. Aí, eu fiz exatamente isso. Então, ele ia lá me buscar com o carro meio dia e meio, minha aula era às duas da tarde. Ele vinha, esperava até às oito da noite, eu voltava dirigindo. Fiz isso uns 10 dias. Assim, eu já estava assim, tipo, não precisa mais, né? Já viu que eu posso dirigir, que já está tudo certo. Aí, chegou uma quarta-feira, ele chegou, me deixou lá uma da tarde, duas da tarde mais ou menos e falou assim: "Como que eu faço pra ir embora de ônibus? Porque eu vou deixar você aqui, porque você já sabe dirigir, você acha que você dirige super bem, não sei o quê, não sei o quê. Então, eu vou te deixar aqui, eu vou embora de ônibus." Daí, eu expliquei como que fazia pra pegar, né? E ele foi embora. E as meninas que moravam comigo nessa época na república, tipo: "Sandra, você é louca, você deixou seu pai ir embora de ônibus. Daqui até o Parque Dom Pedro é uma hora e meia, aquele ônibus é um horror." Eu falei: "Era a única oportunidade que eu tinha pra ficar de carro aqui. Se eu não faço isso, nunca mais ninguém ia me deixar com o carro." E a partir daí, eu comecei a fazer esse trajeto direto, né? Virei... P/1- Sorocaba, São Bernardo? R/1- Sorocaba, São Bernardo, todo dia. P/1- Todo dia? R/1- Fiquei uns quatro meses nesse processo, né? Era uma época que a Alcoa estava fazendo uma, tinha adquirido algumas plantas da Alcan, de alumínios extrudados, esses perfis de alumínio. E aí, estava fazendo várias modificações. E aí, uma das plantas era em Santo André. E esse meu gerente de lá foi transferido pra cá e aí me trouxe como estagiária porque não tinha ninguém nessa planta também. Então, aí ficou 15 quilômetros. Aí, ficou bem diferente. P/1- Pra cá, São Paulo? R/1- Pra cá, Santo André, na época. P/1- Ah, Santo André. R/1- É. Porque aí eu estudava e morava em São Bernardo e ficava em Santo André a planta que eu fui transferida. Então fiquei 4 meses nesse esquema maluco de ir 5 da manhã, volta na hora do almoço, vai à noite, né ? Nessa loucura de 200 quilômetros por dia. Depois passei para 15 quilômetros por dia, né? E aí, fiquei 1 ano e meio no estágio na Alcoa. Era em projetos de engenharia. A gente fazia essas ativações e desativações de planta, por causa dessas aquisições que estavam acontecendo. Tinham ampliações. Então, a gente falava: "Não, vamos ampliar uma planta da Alcoa que já existe e desativar essa ou vamos manter essa daqui, é uma região que, né, que a gente não tem nenhuma planta, nenhuma operação funcionando." Então, tinha um pouco disso. A gente trabalhava mais por projetos, né? Por demanda das área operacionais e era uma área de projetos de engenharia, né? E aí, foi muito legal. Na verdade, assim, acabou dando tudo certo, né? E eu virei a motorista oficial da família também. Minha mãe quer ir no shopping em São Paulo? A Sandra leva. Sua mãe quer ir no shopping em Campinas? A Sandra leva. Falei: "Ninguém me deixava dirigir, aí depois só eu dirigia, entendeu?" Isso que é engraçado, né? Porque ninguém deixava você fazer, quando você faz: "Ah, pôxa, ela consegue, então ela, agora ela faz sempre." Tem um pouco disso também. P/1- Quanto tempo você ficou na Alcoa? R/1- Fiquei 1 ano e meio. Aí, a Alcoa, em dezembro de 97, que eu estava me formando, né? Era meu último semestre, concluía. E aí, a Alcoa não estava efetivando estagiário nenhum. Nada, nenhum. Fomos 10 que foram dispensados. E aí, nessa época, eu já estava buscando algumas coisas: programa de trainee ou algumas outras empresas. Então, já estava, na verdade, me mexendo no mercado, porque já tinham me avisado que não ia ter efetivação, né? E aí, assim, eu tinha uma meta, porque eu sempre fui muito focada em, não, até final do ano eu tenho que concluir isso, até... Eu sempre fui assim, eu sou até assim, hoje. Programo minha meta financeira até final do ano. Pessoal, o que que eu tenho que fazer. Viagem, o que que eu tenho fazer. Eu sempre sou assim, bem determinada. Meu marido também é, isso que dá certo. E aí, eu tinha essa meta de, minha formatura era 16 de março. Daí eu falei assim: "Não, eu preciso trabalhar até minha formatura. Se acontecer meu baile de formatura e eu não tiver trabalhando, eu vou vender o carro que meu pai me deu e vou pra fora, fico uns 6 meses, depois eu volto e procuro emprego de novo. Mas, eu vou estudar inglês, vou ficar fora, não sei o quê." Eu tinha essa idéia traçada. Ou entrava em algum lugar ou ia viajar. Aí, eu entrei na Multibras, tipo, duas semanas antes eles chamaram, fecharam todo o processo, nove recém formados que entraram na área de logística lá. E eu comecei no dia 18 de março. Meu baile foi no sábado, na segunda era meu primeiro dia de emprego. Então, eu falei: "Não, deu certo, minha meta foi cumprida, estou trabalhando. Então, agora, não vou viajar." E aí, entrei já direto na área de logística, como analista júnior, na Multibras. Era até um centro corporativo, aí já é São Paulo, né? Fiquei um tempo viajando São Bernardo, São Paulo, até mudar pra cá, né? Nesses 9 recém formados tinha uma menina de Campinas também, que nunca tinha morado sozinha. A gente acabou dividindo um apartamento bem pertinho, a gente ia a pé pro trabalho, né? P/1- Isso aqui, já em São Paulo? R/1- Aqui, já em São Paulo. E aí já morei um ano com ela, né? Meio que dando as diretrizes porque ela nunca morou sozinha. Então, eu tinha aquela sensação que era meio mãe, né? "Porque a Sandra tem carro, a Sandra faz, a Sandra leva, a Sandra, né?" Tinha um pouco disso, né? E até pelo meio jeito de pegar as coisas, encarar de frente e fazer, então ela tinha muita segurança de estar morando comigo porque ela sabia que: "Não, qualquer coisa a Sandra me ajuda, né? Me socorre." E aí, eu morei um ano com ela. E aí, depois disso, aí já estava trabalhando aqui, trabalhei 3 anos na Multibras, né? Tive duas áreas de atuação aí, dentro da Multibrás. A primeira em atendimento a cliente, dentro da logística. Era tipo uma gestão de pedidos, desde que entrava o pedido na carteira, pelo cliente, até à entrega desse produto lá. Então, eu era responsável por todo esse processo de garantir os prazos, garantir os custos, fazer uma programação de entrega desses pedidos, né? Isso eu fiquei 6 meses atuando nos clientes do sudeste. Depois, eu passei pra conta do Ponto Frio, que era o maior cliente da empresa, né? Numa célula de três pessoas, de atendimento. Fazia muito idas ao Rio de Janeiro, no Ponto Frio. Era quase que passava semanas, quase, lá, né, ajustando processo com eles e tudo mais. E aí, depois disso, eu passei pra atuar na área de fretes já. Na verdade, era uma coordenação pela função, mas eu era analista pleno, nessa época. Quatro dos nove recém formados tiveram essa promoção pra pleno e assumiram outras atividades. E aí, eu fui pra essa área de fretes. E aí, eu comecei a negociar frete com transportadora, fazer orçamento de frete, fazer toda a gestão desses custos de fretes, né? Comparado com a conta de fretes da Votorantin é uma conta pequena, né? Mas, na época, eram 20, 30 milhões de reais. Não era uma conta tão pequena pra quem estava assumindo. P/1- Isso tudo na Multibras ainda? R/1- Tudo na Multibras. P/1- Está. 2 anos você ficou lá? R/1- 3 anos. P/1- 3 anos. R/1- 3 anos. 1 ano e meio, mais ou menos, em cada área. 1 ano e meio, atendimento. Depois, 1 ano e meio nessa área de fretes. Nessa área de fretes, eu tinha uma equipe. Todo o pessoal que fazia pagamento, digitação dos conhecimentos de transporte, todos respondiam ali pra mim, assim, nessa coordenação, né? Tinha um gerente acima de mim e um diretor. Mas, esse pessoal operacional, respondia pra mim. E era um negócio que me agradava muito, assim, de ter equipe, de ter, né, de ter como fazer gestão dessas pessoas, né? Isso que, eu gostava muito disso também. P/1- Tá. E da Multibrás, você já estava morando em São Paulo, já estava casada? R/1- Não. Ainda não estava casada. Ainda não estava casada. Na verdade, eu fui casar no último ano aí meu dentro da Multibrás, né? Morei 1 ano com essa menina. Depois morei 1 ano com meu marido, que também, na época, meu marido é de BH, mas eu conheci ele Sorocaba, que ele morou 20 anos lá. E já estava num emprego em São Paulo, nessa época. Ele dividia um apartamento com um cara. Eu, dividindo com essa menina, né? Nenhum agüentando mais o outro. A gente com 6 anos de namoro. Aí, a gente, porque eu comecei a namorar na minha época de faculdade. E aí, a gente falou: "Não, então vamos morar junto." Aí, os meus pais foram os primeiros assim, tipo: "Eu não sei porque que vocês estão agüentando cada um alguém. Porque que vocês não moram juntos." Eu falei: "Nossa, era, era o meu medo de vir falar, vocês estão me propondo." Eu falei: "Não é possível isso, né?" Falei: "Está meio fora do normal." Aí, a gente morou um ano junto. Aí, depois, a gente casou. Está casado até hoje, está há 7 anos já. P/1- Têm filhos? R/1- Não. Ainda não. 6 de namoro e 7 de casamento, 13 anos junto é uma vida, já. P/1- Nossa. É uma vida. R/1- Uma vida. Eu falo isso, às vezes eu falo isso: "Nossa, não parece tudo isso." Mas é porque os dois se combinam bem. P/1- É porque está dando certo. R/1- É, porque está dando certo. P/1- E da Multibras, depois você passou por uma outra empresa. R/1- Então, aí da Multibras... Foi muito engraçado porque na época que eu fui sair da Multibras, né, meu gerente, meu diretor, ninguém queria deixar eu sair. Aí, essa área de logística que estava aqui na Nações Unidas, aqui perto, no corporativo, e eu morava muito perto, né, ia mudar pra uma unidade no Tamboré. E aí, ele veio com esse negócio: "Não, é porque vai ficar longe, é porque a gente está mudando, sabe? Acho que é por isso que você quer sair." Eu falei: "Não, você não entendeu. Não é por isso que eu quero sair. Eu quero sair porque surgiu um desafio numa outra empresa, uma oportunidade que eu não vou ter aqui dentro agora, né? E eu vou pelo desafio. Até porque eu não estou indo trabalhar aqui do lado, eu estou indo trabalhar em São José dos Campos." Eu já era casada nessa época. Então, meu marido ficou trabalhando aqui. Eu aceitei o desafio da Ericsson em São José dos Campos. Aí, eu ia de segunda de manhã e voltava de sexta. Eu ficava a semana toda fora, né? Meu marido trabalhando em São Paulo, mas viajando muito também. Então, a gente não sentia muito isso porque ele sempre estava uns três, quatro dias da semana fora, falei, então, né, não tinha esse problema, né? P/1- Como é o nome do seu marido? R/1- Meu marido chama Éderson. P/1- Éderson? R/1- Isso. E qual que é a profissão dele? P/1- Ele é engenheiro eletrônico, trabalha na área de telecomunicões, né? Nessa época aí, ele estava trabalhando na Nokia e fazia muito viagens, Brasil todo. Então, não dava essa sensação de que: "Nossa, você vai estar a semana toda fora. É um problema." A gente nunca teve muito isso. Até porque os dois estão muito focados na carreira profissional, ainda, né? E aí, na época, aceitei esse desafio, fui pra São José dos Campos. Passei uns, duas semanas em hotel lá, tentando me estabelecer, né? Aí, pra variar, de novo, me indicaram uma menina que estava com uma vaga num apartamento de três quartos, ela tinha um quarto livre. Eu fui lá, conversei e morei com elas esses dois anos quase que eu fiquei na Ericsson, lá em São Paulo, né? Voltei de novo àquele esquema de, uma era estudante, a outra só trabalhava, eu também só trabalhava, mas aquele esquema de meio de república, né? Mas foi, assim, muito legal. Não tive nenhum problema lá em São José dos Campos, Nem com as meninas, nem com nada. Mas, foi um negócio meio assim: "Eu tenho meu apartamento, eu tenho minha sala." Aquela coisa de você sentar, assistir televisão: "Nossa, eu não estou na minha sala de casa, sabe? Que eu decorei, que estão as minhas coisas." Então dava uma sensação muito, né, essa sensação de estar longe de casa, dessa frieza, assim, era estranho, né? P/1- De novo, né? R/1- De novo. Falei: "Meu Deus, já morei com tanta gente. Eu devo ser muito fácil de me adaptar porque realmente eu morei com muita gente e nunca tive, assim, discussões." República de mulher, normalmente, é mais complicado. P/1- Problema. R/1- É. Normalmente, tem esses, né, esses problemas domésticos aí, de uma ser desorganizada, a outra ser, né? Essas coisas. Normalmente, dá problema, ainda não deu. P/1- E aí, surgiu a Votorantin nesse momento? Depois da Ericsson? R/1- É. Depois da Ericsson. P/1- Então me conta um pouco dessa, desse início aí, como surgiu. R/1- Tá. Aí, na Ericsson, eu fiquei 1 ano e meio em São José dos Campos. Aí, teve uma reestruturação dentro da Ericsson, né? Já era uma área de supply chain, eu era líder de projetos lá e tinha muita interface com o comercial em São Paulo. Aí, surgiu uma vaga aqui em São Paulo, aí eu vim. Nesses últimos 6 meses meu da Ericsson, eu vim pra uma vaga em São Paulo, que era naquela unidade do lado ali do Center Norte, ali no Tietê. E aí, eu já estava em casa de volta, já estava numa área de previsão de demandas, inteligência de mercado, muito junto ao comercial. E aí, surgiu a oportunidade, através de uma headhunter que tinha, na época que eu fui pra Ericsson, ela tinha feito um processo comigo, né? E aí, lembrou de mim, achou que era o estilo meu pra essa vaga. E aí, veio conversar comigo. Eu falei: "Não, eu estou aberta. Quero entender o que que é." O fato de na Ericsson não ter equipe, eu era uma pessoa, uma área meio isolada, não tinha equipe, eu tinha que atuar dentro de projetos multifuncionais. E aí, aqui não, ia de novo assumir uma coordenação, né? Tinha um degrau que eu estava dando na minha carreira e tinha o fato de eu ter uma equipe, né? De responder direto pra um diretor, na época. Que essa coordenação não tinha uma gerência intermediária, né? Então, tudo isso tinha um fator, assim, chave pra minha decisão. E aí, eu vim, fiz o processo de entrevista, com o RH, com o próprio diretor, não sei o quê. E aí, surgiu essa oportunidade, né? Isso levou uns 2, 3 meses, né? Até, na verdade, a primeira vaga que ela conversou comigo da Votorantin era pra uma gerência na regional centro-oeste, era pra trabalhar lá em Itaú de Minas. E ela, assim: "Sandra, você tem certeza? Você acabou de voltar pra São Paulo. Você vai pra Itaú de Minas? Morar lá?" Falei: "Vou." "Mas, seu marido está morando em São Paulo. De novo, você vai morar longe?" Falei: "Mas, eu vou e volto de carro. A cada 15 dias um vai e pronto, dá tudo certo." Falei: "É só não me mandar pro Recife." Aí, eu falei: "Aí, é difícil. Aí, não vai dar pra fazer todo, volta, ida e volta de carro. Mas pra Itaú de Minas? Dá pra eu ir fazendo ida e volta de carro final de semana. Então está tranqüilo." E aí, depois dessa vaga, na verdade, acabou que essa vaga só foi se completar depois que eu estava aqui, dentro da reestruturação, que eu estava na logística. P/1- Você não entrou por essa vaga? R/1- Eu não entrei por essa vaga. Entrei pra uma vaga direto no corporativo, que na época era ali na Alameda Itu, já pra essa Coordenação de Informações Logísticas. Já voltado muito mais pro que eu tinha de experiência mesmo, que era custos, né? A parte de fretes, a parte de indicadores de desempenho, né, todo (KPIs?)_______________ da Votorantim Cimentos estava sendo montado nessa época. A gente tinha uma ferramenta de business intelligence que não estava estruturada, não estava, né, desenhada ainda. Então, eu vim pra entrar, pra realmente fazer esse negócio funcionar, né? Na verdade, essa ferramenta tinha 20 relatórios lá, desenhados, que ninguém usava, né? Tinha esse fato da logística ser uma área muito nova dentro da Votorantin, tinha 2 anos, eu tinha acabado de definir as caixinhas, a estrutura. Então, tinha muita coisa nesse sentido pra definir. Processos, né? O fato da Votorantin ser quatro regiões e cada uma com as suas particularidades e virar uma Votorantim Cimentos Brasil. Então, padronizar esses processos, né? Então, entrei pra atuar nessa área. E aí, eu tinha os Analistas Corporativos, né, que hoje eu ainda tenho uma equipe coorporativa. P/1- Tinha a sua equipe inteira? R/1- É. E tinha também os analistas nas pontas, então em cada regional, ainda tenho essa estrutura hoje, é uma estrutura matricial, né, tenho quatro analistas no corporativo e quatro, um em cada regional. Até pros direcionamento do corporativo, a gente conseguia atuar nas contas, né? Então, esses processos, eles avaliam e a gente cosenza e padroniza, né? Pras coisas chegarem até aí os CDs, as expedições de fábrica. Então, esse era o, assim, o grande desafio na época, na entrada, assim. P/1- Você entrou em que ano? R/1- Entrei em abril de 2003. P/1- Tá. Você se lembra do primeiro dia de trabalho? R/1- Lembro do primeiro. Não, eu me lembro da data inclusive, que foi primeiro de abril. Aí, todo mundo assim: "Não, primeiro de abril, não. Você não deve começar no dia da mentira. Não, não deve ser verdade." Eu falei: "Não, é primeiro de abril, não sei o quê, eu começo. Aí, assim, na verdade, o meu primeiro dia de trabalho nem foi esse. Teve um dia na semana anterior que teve uma reunião da Diretoria de Logística aqui, com todos os Gerentes Regionais. Então, vinha todo mundo. Aí, o Ari ____, que era meu Gerente, meu Diretor, na época, falou assim: "Não, se você puder participar desse dia de reunião, que vai estar todo mundo aqui, aí todo mundo já te conhece, você já conhece todo mundo." Aí, foi exatamente o que eu fiz. Pedi esse dia lá na Ericsson, vim pra cá, passei o dia inteiro aqui. Então, quando eu cheguei no primeiro dia, eu já conhecia, assim, o pessoal do coorporativo, né? Mas, aí começou aquela de entender os processos, né. E, assim, tem muita informação. Então, a Votorantin Cimentos é muito grande. Então, eu lembro assim que vinha uma gama de informações, e de mail, e de canal do conhecimento, e de coisas pra você entender. Então, aquela coisa que você fala: "Meu, eu não vou dar conta de assimilar tudo isso, né?" Aquela preocupação de primeiro dia. P/1- Chegada, né? R/1- É muita gente, eu não vou lembrar o nome de ninguém, eu não vou conseguir assimilar todo esse pacote de informações, né? Mas aí, ao longo do tempo, você vai, vai digerindo e vai se, né, vai se encontrando no todo. P/2- Bom, a gente estava falando do seu primeiro dia de trabalho. E você estava falando dos seus desafios logo que você entrou, o receio. Me conta um pouco dessa sensação aí. R/1- Bom, na verdade assim, você entra num mundo diferente, quando você entra numa nova empresa, né? Por mais que eu tenha, tinha experiência em logística já, de 5 anos, experiência em logística, mas eram logísticas diferentes, né, da Votorantin Cimentos. O tamanho de operação, né, na estruturação, por exemplo, de fretes daqui, que é tudo _______, o carreteiro autônomo que você paga pra ele com carta-frete, né? Com a conta de frete que é 300 milhões de reais. Então, quer dizer, é um negócio muito, de uma dimensão muito maior do que a que eu estava, né, que estava acostumada a lidar. É nessa época, na Ericsson também, era uma logística muito de instalação de gabinetes e de linhas e de centrais telefônicas. Então, um negócio muito mais específico. Aí, voltei de novo pra uma logística parecida com a da Multibrás, de produto acabado em estoque, né, de distribuição, de vários centros de distribuição, né? Não na dimensão da Votorantim Cimentos, lógico. Porque aqui a gente tem 17 expedições de fábrica, mais 38 CDs. Então, um negócio imenso dentro do que eu estava acostumada, né? E esse fato também de ter regionais respondendo era um processo novo para mim. Eu não tinha essa gestão matricial, né, aonde você tem dois gestores com aquela mesma pessoa. Então, essa pessoa vai ter que seguir as orientações corporativas e ainda vai ter tocar o dia a dia operacional dela lá, praquele gerente, daquela regional. Então, tinha esses desafios que, na verdade, você falava assim: "Não, está meio nebuloso ainda, mas a gente vai se adaptando, né?" Mas, assim, acho que aí a, a recíproca, na verdade, a reciprocidade das pessoas foi muito boa na verdade, né? Todas vieram me dar muito histórico, né, me explicar muitas coisas, conhecer os processos. Já fui direto para Rio Branco, conhecer a fábrica no sul. Já estava começando o escritório de padronização dentro da Votorantim, então já fui, já participei do treinamento, já conheci as pessoas. Então, já peguei algumas coisas no início, se formando, né? Começando a criar essas coisas. O próprio _____________ estava criando. Então, aí um analista meu estava direto nesse projeto. Então comecei muitas coisas no início, podendo desenhar, né? Então tinha, quando eu cheguei, tinha uma relação de 120 padrões listados assim, nenhum escrito. Eu disse: "Mas precisa de 120? É tudo isso aqui?" Aí, a gente foi analisando e vendo o que que era essencial, o que que realmente precisava, né? (KPIs?), tinha uma lista de 200 e tantos (KPIs?), né? Falei: "Gente, não é possível alguém conseguir encontrar 200 indicadores, né? A gente tem que focar nuns 30 estratégicos. Aí, faz uma abertura desses 30, né?" Então, eu fui conseguindo moldar e trazendo algumas experiências minhas de outros lugares, né? Porque era um negócio que ainda estava cru, começando a se desenvolver, né? P/1- E você fez toda essa padronização? R/1- Isso. P/1- E uma integração entre todas as unidades, as plantas, tudo. R/1- Isso. Fiz, na verdade, assim, porque esses analistas regionais, eles estavam muito focados no que a operação, no que o regional demandava. Não tinha uma diretriz corporativa orientando essas pessoas e demandando o que o coorporativo estava dizendo. Por exemplo, ah, nós temos que ter o escritório de padronização, nós temos que implementar essa ferramenta, nós temos que ter um business intelligence lá, que controla frete, igual pra todo mundo, né, nós temos que ter indicadores medidos da mesma forma. Você pegava um número de frete de uma regional, esse cara considerava transferência e considerava só o ensacado. O outro considerava o granel ensacado e não considerava as transferências. Cada um tinha um critério pra avaliar as coisas, né? Então, eu comecei a resgatar, sempre aí participativo, envolvendo as pontas, cada um trazendo, a gente chegando num consenso. Que não adianta você querer, também, querer implementar um negócio que ninguém concorda, né? Ainda mais chegando novo. Essa foi uma coisa que eu aprendi muito, acho que na Ericsson mesmo, né? Que não adianta você chegar e, você novo, em três meses querer falar: "Não, está tudo errado, não é assim, é de outro jeito." Você tem que trazer as pessoas que estão aqui, que conhecem, discutir e chegar num consenso, que é mais ou menos a forma que eu trabalho e sempre trabalhei, né? Não adianta você chegar com idéias brilhantes e falar: "Mas aqui não se aplica à realidade da Votorantim Cimentos." Então, eu fiz muito disso, dessa estrutura toda, né? Esse business intelligence que existia na época, ferramenta de (BI?), a gente simplesmente jogou ela fora começou do zero. Estruturou tudo de novo. Hoje é a nossa ferramenta de frete dentro da Votorantim Cimentos, né? Hoje a gente extrai dados de áreas, onde a gente faz aberturas, assim, de nível origem-destino, rota-rota, né? Então, quer dizer, ela é bem detalhada. E hoje é a ferramenta que toda a regional usa. P/1-E você cuida inclusive da ponta? R/1- É o que eu apresento pra Diretoria de, na reunião de diretoria de resultados a gente abre e entra no (BI?) e mostra os números. É uma coisa que não existia aí, quando eu entrei em 2003, né? A gente construiu e ela entrou no ar em novembro de 2003. 2004 ainda foi um ano de vários ajustes, de modificações, de melhorias, né? Mas, a partir dali, hoje ela é a ferramenta de gestão dentro da logística para custo de fretes, né? P/1- Você cuida até a ponta? Até chegar na loja? R/1- Na verdade, assim, hoje, o coorporativo, ele está mais focado em números, né, e reuniões de resultados pra diretoria e planejamento estratégico, toda essa orçamentação. Então, tudo isso está na minha área, sendo feito por aqui. A operação do dia a dia está nas regionais, aí esses analistas regionais, eles controlam todo o orçamento, todo o frete, né, da ponta. Hoje é um analista de demandas, que é uma área para a minha, que faz esse controle de: esse pedido chegou no cliente? Desde que entrou o pedido, garantir que isso está no prazo, sendo entregue pro cliente. O que que meu analista corporativo faz? Faz um relatório diário, com o status das quatro regionais, o status Brasil todo, falando o que que foi entregue, o que não foi entregue por que que não foi. Então, hoje a gente consegue chegar a isso... P/1- Ter esse controle todo, né? R/1-... e falar assim: qual que foi o problema de não ter esse produto, qual que foi o problema de eu não entregar isso. Então, você consegue rastrear hoje e ter uma visão, ainda que macro, né, porque é um trabalho manual ainda que a gente faz, né, muita planilha e tudo mais. Mas a gente tem essa informação, a gente consegue saber onde atuar, né? Antigamente, você falava: "Ah, está, não entregou pra fulano." Não sei quem, o cliente ligou reclamando, você não sabia nem, né, você tinha horas pra conseguir achar pra ver se aquela informação era mesmo, se não tinha saído o caminhão, se não tinha sido entregue. Hoje, você já tem um controle muito mais rápido e respostas e fatos e dados pra conseguir atuar, né? Então, essa que foi uma evolução grande. P/1- E fora essa parte de frente, teve toda a parte de indicadores de custos, também? R/1- Isso. E aí custos e também a parte de nível de serviço. Então, aí a gente pega toda a despesa operacional, a gente pega _______ de cada (CD?), quanto me custa cada (CD?), qual que é os gastos de empilhadeiras que eu tenho, né, qual é o gasto de pessoal que eu tenho, qual que é o gasto de terceiros, né? Então toda, tudo que é de, o _______ de todas as operações, a gente controla por aqui, via analista, essas quatro na ponta, que respondem pra mim, mais o meu pessoal corporativo aqui, né? Além disso, todo o nível de serviço. Então, essas pendências, que a gente chama, porque é o que eu não entreguei, né? Se a minha tonelada programada de atendimento foi atendida, então eu tenho um índice de percentual desse atendimento, né? Então, todos os indicadores também de nível de serviço, produtos que estão pra vencer, a gente faz uma gestão disso pra que a gente não deixe o produto vencer em estoque, né? A gente garanta que esse produto está fazendo, está girando dentro do estoque, que eu estou fazendo uma ação comercial pra vender aquilo que está há muito tempo parado. Então, a gente faz várias gestões nesse sentido. E assim, o que eu enxergo é que nesse último ano, também, a logística mudou muito, né? Mudou, virou uma, está montando uma cadeia de supply chain mesmo, desde o insumo até produto final, né? Antes, a logística era só um pedacinho, só olhando do produto embalado e produto final pro cliente. Hoje não, ela olha o todo. Essa área de suprimentos veio pra logísticas, né? Ela virou uma Diretoria de Logística Integrada. Então, quer dizer, aí veio muito mais funções, veio muito mais interação, integração, né? Criou-se aí, há um ano atrás, a área de PCP, que era uma área de planejamento e controle da produção que não existia, né? Então, você tinha coisas muito assim, você não tinha uma interação entre o que o comercial está prevendo vender, o que a fábrica tem que produzir, o que a logística vai conseguir entregar. Hoje não, isso está hoje em processo integrado. P/2- Integrado. R/1- Então, a partir da previsão de vendas do comercial, a logística vai lá, vai dimensionar que (CD?), que fábrica vai atender aquele mercado, o quanto que a fábrica deve produzir disso, né? Então, a gente faz um planejamento, faz os ciclos de reuniões, aprova. Então, quer dizer, isso hoje já está em processo formal e, né, andando dentro da companhia. E isso porque é no início ainda. P/2- E isso também fora do Brasil? R/1- Fora do Brasil, a logística ainda não tem muita interação. Na verdade, o cliente controla via regional nordeste são as exportações e importações, né? Importações de coque, dos insumos estratégicos, aí coque, o mais relevante deles. E a exportação de clínquer e até de cimento, né? Clínquer até pras fábricas da América do Norte, né? Hoje, assim, a internacionalização é um fator, assim, de desafio, de oportunidade pra gente, é lógico, todo mundo que está na logística pensa assim, né? Mas, eu acho assim, a primeira fase, aí, foi muito focada no operacional, né? Na excelência operacional, em levar nossos modelos operacionais pras plantas lá fora, né, o (VCBS?), o (VCPS?), toda essa gestão de processos, padronizar isso, né? Então, isso aconteceu, essa fase aconteceu. Acho que as próximas fases que vão vir, aí com certeza a gente vai pegar operação logística, a gente vai lá conhecer como que eles trabalham, né? É uma operação muito diferente do que a gente já vê e sabe e conhece um pouco, né? A gente viu que é muito diferente da distribuição e do que a gente faz aqui, né? Mas acho que tem boas práticas pra gente levar e pra gente trazer também. Mas, isso ainda não foi, é uma expectativa de todo mundo que está na logística, na verdade, né? É levar um pouquinho disso, trazer, conhecer. Mas, isso a gente não está... P/1- Trocar um pouco. R/1- É, é. Isso está nas próximas, eu sei que tem, está nas próximas fases, né? Até porque a expansão da Votorantim está muito na internacionalização, né? No mercado brasileiro, a gente já tem uma parcela considerável, né? Já tem um share aí quase que na sua totalidade, assim, do que é possível. 40%, 42%, quer dizer, não tem muito onde crescer dentro do Brasil, né? A gente está com algumas ações de captura de clientes, de atender cada vez mais o pulverizando lá, fazer cada vez mais o varejo, né? Então, a gente... P/2- Quantos cliente mais ou menos ativos? R/1- Ativos, tem uns 25 mil mais ou menos. Mas, a gente tem uma, hoje, tem uma meta de positivação de clientes, pro comercial, agressiva pra esse ano. Então, quer dizer, conseguir ativar o máximo de clientes possíveis. É conseguir ir pro varejo. P/1- Qual é a meta? R/1- Aí é na faixa de uns 40 mil mais ou menos. P/2- Até o final do ano? R/1- Até no final do ano, né? E o pessoal do comercial está trabalhando muito forte em cima disso, né? Com produtos complementares também, com argamassa, com rejunte, com cal, quer dizer, não só levando cimento, mas levando os complementares junto pra esse varejo pequeno, né? Que era uma fatia de mercado que era muito via atacadista, via distribuidor, a gente não chegava tanto neles, né? A gente quer chegar neles agora, no micro mesmo, e fazer essas entregas. P/2- Sandra, conta pra gente como é que foi pra você, o que significou transicionar de Coordenadora pra Gerente de Logística? R/1- Na verdade, assim, quando eu entrei pro desafio de coordenador, né, eu estava diretamente respondendo aí pro diretor, já não tinha um gerente intermediário, né? Então, eu já fazia muito esse papel de, na verdade, já participava em todas as reuniões com todos os gerentes, né? Então, quer dizer, eu já nesse, inserida nesse meio, né? Aí, surgiu, na verdade, existia na verdade, vamos dizer, uma possibilidade de isso virar uma gerência, até porque a área não tinha, quando eu entrei, a área não tinha uma identidade. Era um negócio muito assim, os processos estavam muito indefinidos, os indicadores cada um fazendo de um jeito. A gente começou a construir e aí sim, falei: "Não, aqui, eu preciso ter uma área sólida, grande, que vá controlar todos os números dentro da logística, né?" E aí, acho que nesse meu, essa minha promoção, que foi há 1 ano atrás, veio muito calcada em cima disso. De assim, implementamos um (BI?), temos uma ferramenta, está estruturado, os processos estão definidos. Então, que é uma coisa que eu prego muito, na verdade. Assim, está, mostrei, tem resultado, né, acho que meu diretor na época enxergou isso, né? Conversou muito comigo disso, de que vai chegar o seu momento, né? Porque você tem uma ansiedade disso também, lógico. P/1- Claro. R/1- Eu vim na minha carreira aí, sempre mudando e sempre subindo degraus. Você tem uma e eu tinha uma meta disso também, né? Hoje eu estou 30 anos, mas eu tinha essa meta de antes dos 30 eu estar assumindo uma gerência dentro de uma organização. Era uma das, dos meus sonhos, né? Então, eu posso dizer que um deles, dentro de vários, mais um foi realizado, né? E foi muito em cima de mérito, desafio e de entrega de resultados, né? De, realmente, as coisas estarem funcionando, né? Lógico que foi, assim, foi um fato muito importante, né? Muito bom. Foi muito comemorado porque era o que eu realmente estava buscando, né? Ter uma gerência aí, com meus 29 anos de idade, que era, assim meu sonho de consumo, eu diria na época. De falar assim: "Não, eu quero antes dos 30, ter uma gerência, ter uma posição executiva dentro de uma empresa, né? Porque eu tenho muito esse sonho de carreira de, lógico, crescer dentro da organização, né? E acho que eu estou numa organização grande, sólida, com n oportunidades, né? Com o Grupo Votorantin imenso aí, cheio de oportunidades, não só dentro da Votorantim Cimentos. Então, acho que isso é uma coisa que a gente vislumbra muito, de você estar numa companhia dessa, com toda essa solidez, com todo, né, com todos esses processos, né? E empreendedora, que está olhando muito isso. Então, hoje eu olho assim: tenho muitos desafios e muitas oportunidades dentro da Votorantim Cimentos, mas tem todo um grupo também aí, que a gente faz muito, através, da (SGV?) muita interface com eles, né? Então dos (KPIs?) a gente discutiu. Tem (KPIs?) que são padrões em todas as empresas do grupo. Então, não são só da Cimentos. Então, quer dizer, você tem essas participações, interface com pessoas, né, de outras unidades, de outras negócios, isso é muito importante também. Acho que enriquece muito, assim, o profissional. P/2- Você falou um pouco sobre os valores da Votorantin agora, nesse momento. R/1- Isso. P/2- Você sente esses valores presentes no seu dia a dia, no seu trabalho, nessa integração toda. R/1- Sinto, sinto bastante. Eu acho assim, a área de logística hoje, como é uma área nova, né? A gente também foi estruturada, tem muitas pessoas novas, então a gente tem muito isso, né? Tem um ambiente muito favorável, muito transparente, né, onde as pessoas respeitam muito. Você sabe que o ambiente de trabalho é competitivo. Isso é fato. Qualquer lugar vai ser. Não tem ninguém ali que não está um competindo com o outro, mas você não sente isso dentro da Votorantim, né? Dentro da área da logística não existe isso. Entre os gerentes é uma integração muito grande, uma transparência com a diretoria muito grande. Então, assim, isso é visível, né? O clima que a gente trabalha é um clima, assim, família, no sentido que todo mundo, não é o corporativismo de amigos, mas todo mundo se entende muito bem, todo mundo está integrado, todo mundo está alinhado, né? Você consegue num projeto expor sua idéia, ela consegue ser discutida, você consegue apresentar aquilo que você quer, dar sugestões, né? E acho que isso é importante. Porque tem muita empresa que o negócio não é aberto assim, você não consegue e tem sempre alguém querendo o seu lugar ou querendo passar por cima ou querendo te dar bypass e ir direto com fulano, né? Eu não sinto isso hoje aqui. Eu sinto que, assim, eles têm um canal direto com o diretor, com o Diretor Executivo. Então, a gente tem uma abertura muito grande de qualquer coisa ligar pro celular, de ir direto na mesa, de resolver. E isso é muito importante eu acho, né, esse estilo participativo é muito importante. E que é o que as, na verdade, a Votorantim está se profissionalizando e está buscando isso, está mudando, né? Está saindo de um estilo de gestão que era mais diretivo pra um mais participativo. E isso já dá pra, na logística isso já acontece. Já é fato, já não está: "Ai, estamos mudando e caminhando." Já está no participativo. Então, acho que isso dá muita oportunidade de você desenvolver, né? De você estar atuando em projetos múltiplos, de você ter interface com outras áreas, né? Acho isso importante. P/1- Tá. E a empresa... (interrupção) R/1- Deixa eu lembrar agora o que eu estava falando. Lembrei do que eu estava falando. P/2- Então, vamos lá. Nessa finalização, a gente estava falando de todo o processo que você passou dentro da Votorantim, existe um investimento da Votorantim no, no seu colaborador, no seu funcionário? Como é que é essa troca? Fala um pouco. R/1- Tá. Eu diria assim, o que, eu participei, né, hoje tem o SLV, que é o ferramenta nova, que está surgindo. Eu participei lá no começo, no (PAP?), que era antes do SLV, né? Que era uma ferramenta muito mais focada em ter suas metas ali e apurar resultados. Na verdade, não estava muito focada em desenvolvimento, né? O SLV já veio uma ferramenta, na verdade, nova, né? Teve o treinamento aí em março, abril desse ano. Então, é um negócio que está se iniciando pra todo o grupo, né? Para todos os gestores aí, todos os gerentes. Então, são 700 gerentes mais ou menos que estão dentro desse grupo aí, que vai participar do SLV. E o que deu pra notar nisso é que, assim, mudou um pouco o foco, né, mais pra desenvolvimento e carreira, e desenvolver essa pessoa e trabalhar no gap dela do que simplesmente ir lá e por cinco metas e apurar aquele resultado, que era o sistema antigo. Então, isso sim, foi um negócio que a gente sentiu que realmente é uma ferramenta diferente, vai ser uma gestão diferente em cima disso, né? Deu pra sentir até pelas avaliações. A gente fez o processo de avaliação e, dentro do processo de avaliação, você se auto-avalia e você tem pares se avaliando, né? Então, você escolhe pares pra te avaliar também e aí seu superior imediato vai te avaliar também. Então, quer dizer, existe um consenso entre isso. Não fica aquele negócio de: "Ai, eu pus...", primeiro que não tem uma regra numérica, né? Que já, eu acho que já isso facilita também, porque não é, você acha que sempre, se vai de um a seis, você fala: "Ah, eu não sou seis, mas também não quero ser dois, o três acaba sendo a média de quase tudo." Porque aí você fala: "Nunca está lá nem aqui." Vira um três quase geral, né? Ou você tem que chegar lá e é um negócio muito matemático. Ah, te dei quatro, você deu quatro e ele te deu seis, ah, vira cinco. Então, quer dizer, isso não vai acontecer. É isso que a gente sentiu. E o que foi passado pra gente também, no treinamento, de que isso não vai acontecer. Porque isso vai ser um consenso, vai ser uma reunião de feedback, onde você vai discutir os pontos, né? Aonde você vai ter não só o seu, só essa discussão entre você e seu imediato, superior imediato, mas você teve seus pares que te avaliaram também, né? Então, muitas vezes, se você te avaliou de uma forma, e seus pares estão te avaliando, não faz sentido você falar: "Não, mas só você está enxergando assim. Todo mundo está enxergando de outra forma." Então, acho que isso vai ajudar a balizar e a ter uma, assim, uma avaliação mais realista, sem ser um negócio tão frio e tão, vamos dizer assim, eu diria entre aspas "cumprir tabela". Que era muito do que acontece..., e o que acontece na maioria, não só, não é exclusivo da Votorantim Cimentos. Eu já vi isso em outras empresas que era aquela avaliação, você vai lá 10 perguntinhas. Um responde, nós vamos chegar no meio e fez em cinco minutos. Não, né? Até o nosso próprio diretor falou isso: "Não. Minha conversa de feedback com vocês , pode reservar umas duas horas porque a gente vai conversar muito, vai discutir, vai entrar em cada ponto." E isso eu acho importante. É importante o gestor, né? Quem está acima de você falar: "Não, eu vou investir duas horas de discussão pra entender, pra saber o que que você está imaginando, pra entender porque que você se avaliou aqui e não te avaliei." Quer dizer, acho que esse, essa reunião de feedback é muito importante, né? E logicamente a partir daí, as ações. Que muitas vezes você faz lá, você identifica cinco gaps nessa pessoa e não trata, né? Eu acho que isso também é uma coisa que o DHO aqui já está se mobilizando, né? A gente tem uns módulos do Visão e Ação que já estão direcionados pros gerentes. A gente já fez dois módulos de muita coisa do que foi solicitado em função de treinamento, em função de nivelar as pessoas dentro dos processos, né? Então, o último teve muita coisa comercial, de inteligência de mercado, né? No primeiro teve muita coisa de supply chain, quer dizer, estão nivelando todo mundo. Então, participam os gerentes de todas as áreas. São três turmas separadas, né? Vão ser três módulos ou quatro módulos, não me lembro ao certo. A gente já fez dois. Então, assim, são três dias fora e a gente mergulhando e alinhando todos esses conceitos, né? Que isso que eu acho importante. Está bom, você vai ter um sistema de avaliação que tem que ser bom e tem que ser real, não pode ser um negócio feito em cinco minutos, mas você tem que ter as ações pra falar: "Não, e os gaps, como é que eu vou tratar?" "Ah, eu não sou boa nisso. Está. Mas e o que que eu faço, né?" Eu acho que essa, assim, pelo sentimento que eu tive, essa ferramenta veio pra dar um passo nesse sentido, mesmo. P/1- Verônica. P/2- Então, você recebeu uma homenagem ano passado. R/1- Isso. P/2- Eu queria que você me contasse um pouco essa história. R/1- Tá. Essa foi outra surpresa, na verdade, que eu tive, que aí tem o 8 março, era o Dia Internacional da Mulher, a AVC fez uma homenagem aí, de mulheres de destaque, né? E aí, eu fui indicada, na verdade, pelos meus gestores, Diretor, Diretor Executivo. E aí, eu fiquei sabendo disso, na época, na hora de tirar as fotos já pro negócio final. Quer dizer, nem sabia, nem sabia que isso existia, nada, né? E foi um negócio muito interessante porque, eu acho assim, o reconhecimento não é só reconhecimento financeiro, né? O reconhecimento de alguém ver o seu trabalho, de ver o seu potencial, de ver como você está atuando, né? Da sua equipe mesmo. Então, assim, acho que isso foi muito importante, né? E aí, eu fiquei conhecida em toda a organização também, né? Fui pra todos os murais. Então, todo lugar que eu vou, todo mundo me conhece. Então, isso é bom também. Que eu acho isso importante. Às vezes, você trata uma pessoa uma pessoa por telefone um tempão, não conhece. Aí quando você conhece, aquela relação muda, né, de ter conversado, de ter participado, de estar ali junto, de a pessoa te conhecer, né? Acho que isso também me abriu várias portas, assim, um monte de gente me ligou falando, né? Teve aquela participação no _____ dos próprios valores da Votorantin, eu também tirei foto. Teve gente que recebeu em outras unidades, me ligou. Então, essas coisas eu acho importante. Você fala assim: "Pôxa, é um negócio tão..." Se você olhar em n coisas, é um negócio tão pequeno, só que marca e te dá, assim, uma motivação, você fala: "Pôxa, estão me reconhecendo, estão vendo, né?" E esse ano eu tive a oportunidade de indicar alguém da logística do centro-oeste pra ser uma mulher de destaque, né? Acho que isso é muito importante, até porque hoje as mulheres estão crescendo dentro da organização. Ainda é pouco, né? Esse Visão e Ação, por exemplo, de 30 pessoas na sala, tinha eu de mulher. No SLV, de mais 30, tinha eu de mulher, né? Então, normalmente ainda, na todo, são poucas mulheres em posições de gerência, né? Dentro da Cimentos, por exemplo, é, né? Nas outras, se pegar o Banco Votorantim, alguma coisa assim, já vai ter mais mulher, né? Mas, então, acho que isso é importante, você ver que, não, você está crescendo dentro da organização, as pessoas estão te reconhecendo, né? Você tem n desafios, n oportunidades. Eu sou muito, assim, motivada a isso. P/1- Quais foram os principais? Quais foram os principais desafios até o momento? R/1- Eu acho assim, um deles foi, na verdade, fazer toda essa reestruturação de números. Porque a gente, a gente demorava muito tempo pra ter números, pra ter análises, né? Então, implementar essa ferramenta de (BI?) e ela hoje ser a ferramenta principal e estar funcionando e todo mundo usando, né? E na reunião de diretoria a gente apresentando, quer dizer, tem números confiáveis, dados confiáveis. Isso, acho que foi o primeiro desafio, assim, vencido. Depois, eu acho que foi conhecer um pouco mais da operação e aí fazer essa integração comercial e industrial, fazer esse processo realmente caminhar, né? Lógico, aí é a minha área com a área (par?), que é a área de PCP Plan, que é de planejamento. Mas, a gente conseguir fazer isso e conseguir fazer, assim, não, hoje industrial, comercial e logística, eles se alinham e aí faz tomar as decisões do que que vai fazer, dos planos, né? Tem um planejamento. Acho que esse foi um segundo desafio, que era uma coisa que não existia, né? E acho que o terceiro, e aí também eu tenho hoje subordinados aí na área de suprimentos nessa mesma, fazendo essa mesma estrutura em suprimentos que a gente fez em logística, na parte aí de indicadores, que também foi com a entrada de suprimentos pra dentro da logística, né? Virou uma Diretoria de Logística Integrada. E aí, isso abriu muitas outras portas, deu oportunidades, quer dizer, projetos dentro da área de suprimentos, interação com as pessoas de suprimentos, né? Então isso também foi uma coisa muito interessante assim que, e que é uma coisa que tem um ano, quer dizer, é um negócio muito recente. Você olha na logística, tudo é muito novo, né? Então você fala assim: "Bom, a gente tem muita coisa pra fazer, tem muita coisa aí, na, pra você ver benchmark mercado, implementar." Eu acho que está um pouco até lembrando um pouco do SLV que tem lá o engaja, realiza, renova. Acho que a gente está muito mais nessa fase na logística, no renova. De buscar oportunidades, de buscar práticas melhores, práticas de mercado, ver benchmarks dentro do próprio Grupo Votorantin, né? E mesmo no projeto (SGV?) a gente ficou muito no tema ferroviário, transporte e fretes e fluxos de transporte. Acho que tem muito outra coisa que a gente pode ver dentro do grupo e pode trazer de outras empresas também, né? Que acho que é nessa etapa mais que a gente esta hoje na logística. É o que eu enxergo, pelo menos. Na parte, assim, de operação e de estruturação de dados, a gente está, vamos dizer assim, bem, bem já, num andamento, mas já lá frente. Num ciclo já bem estruturado, né? De só administrando, vamos dizer. Precisamos trazer coisas novas, práticas novas, né? Conhecer um pouco. Estar preparado exatamente pra uma internacionalização, pra ir lá pra for, pra ver o que que, né, o que que eles têm de bom, o que que a gente pode adaptar, né? Acho que está mais nisso. P/1- E os aprendizados? Quais foram os grandes aprendizados? R/1- Eu acho assim, que primeiro foi um pouco no estilo, na gestão da empresa, né? Nesse fato de você vai pra uma industrial, pra uma operação, tem muito aquele negócio familiar ainda, né? E assim, eu vim sempre de multinacionais, de onde as coisas num, né? As pessoas não estão lá dentro pensando em ficar 30 anos, né? Então, aqui as pessoas que eu conversava, eu lembro assim, até quando eu entrei, eu lembro de um fato que eu fui num churrasco de um cara em Sorocaba e tinha um cara que trabalhava lá na Fábrica Santa Helena, né, amigo do cara. E eu tinha acabado de entrar, primeira semana. E o cara falando: "Não, porque eu trabalho aqui, porque meu pai trabalhou 30 anos aqui. Não, agora você vai sair de lá aposentada." Eu: "Gente, eu acabei de entrar, nem conheço, né?" Então, uma coisa assim que tinha muito isso, né? Esse negócio enraizado de, a gente começou a profissionalizar e vir com gente com, sei lá, oxigenar a área e trazer coisas novas e, né, e vir com um pique novo. E tinha muita gente com muito tempo de casa, né, pensando nesse fato de ser familiar, de ser uma coisa, né? Então, acho que isso foi, assim, uma adaptação minha, né? De falar assim: "Não, calma, aqui não é muito desse jeito, aqui eu tenho que me adaptar um pouco mais, ir com as coisas com mais calma, né?" Que foi uma coisa muito que eu aprendi, na verdade, na Ericsson, que era um pouco assim também. Então, eu comecei a falar: "Não, o estilo, é se adaptar um pouco ao estilo, a fazer essa parte de consenso que eu te falei." Acho que essa foi o grande aprendizado, né? De trabalhar de forma participativa, tentando fazer o consenso com as pessoas. Outra forma também foi de, vamos dizer assim, você ter um pouco não o conteúdo, né? Tem que ter o conteúdo do que você vai lá apresentar e tudo mais, você tem que ter o modo. Acho que isso eu aprendi muito, né? De ler a pessoa, de saber como é que você trata, com essa pessoa você vai por esse caminho, direto ao ponto e gasta cinco minutos. Com esse aqui, você dá um pouquinho mais de volta, vai pela bordinha e gasta uma hora. Você vai resolver do mesmo jeito, só que as pessoas são diferentes. Acho que o grande aprendizado meu foi na parte de pessoas, né? De entender o estilo da empresa, de saber como é que eu vou lidar com cada um, né? Com alguém que tem muito tempo de casa, que você tem que ir de uma forma, tratar pra conseguir o resultado que você quer. Com alguém que acabou de entrar, que está com o gás todo, que está querendo trazer mil ideias novas, você vai falar: "Calma.Você não vai mudar uma organização de 70 anos, estruturada desse jeito, chegando e querendo fazer revoluções, né? É lógico, você vai mudar, mas tem uma evolução, ao longo do tempo, disso." Então, acho que o meu grande aprendizado foi nisso. Foi, assim, de saber que forma que eu atuo, né, com cada departamento, com cada pessoa, né? Com a minha equipe mesmo, equipe é toda nova. Então, uns você tem falar: "Não, aqui calma, não vai desse jeito, né?" Essa parte de gestão de pessoas que tenho muito pra aprender, mas, assim, acho que foi meu grande aprendizado nesses anos de Votorantim também. P/1- E futuro, quais são as suas metas, o que você imagina no futuro próximo, daqui a 2 anos, daqui a 5 e daqui a 10, em 2018, quando a Votorantim fizer 100 anos? O que você, como você se vê nessa, dentro do grupo e como você imagina o grupo? R/1- Ta. Na verdade, assim, eu tenho uma ambição minha, lógico, de crescer na minha carreira profissional e chegar a uma diretoria de uma empresa, quer dizer, eu tenho isso de, né, de ambição minha e de meta minha, né? Aos meus, que nem você falou daqui 10 anos, pra daqui a 10 anos é exatamente isso que eu quero. Eu quero estar com 40 anos, numa diretoria, né? Quer dizer, eu tenho esses planos meus, pessoais. Hoje, eu enxergo assim, na Votorantim, se a gente for olhar daqui a 2, 5 anos, com certeza, essa parte internacional vai estar, quer dizer, vai estar com uma outra dimensão, né? A gente não vai estar com duas plantas fora, a gente vai estar com muito mais coisa acontecendo, né? Eu imagino que a gente vai ter uma logística muito diferente do que é hoje também, né? Porque a gente tem uma estrutura grande, pulverizada, mas vai ter que ter muito mais, né? Uma coisa,é um projeto que inclusive já está em andamento de abertura de novos (CDs?), quer dizer, a gente vai mudar toda essa organização, né? Você vai ter que ser muito mais ágil, você vai ter que ter muito mais controle, né? Eu acho que tecnologia, isso vai mudar muito também. Vai ter que implementar muito mais coisa de leitor ótico, de coisas eletrônicas, quer dizer, as coisas vão ter que ser muito mais rápidas, né? E eu acho que a gente está caminhando pra isso. Então, assim, dentro da própria Votorantim Cimentos, eu acho assim, eu almejo, lógico, crescer dentro da logística. De repente, assumir uma operação, né? Eu acho que tem que tem que ter um pouco disso, desse job de quem está no corporativo ir pra operação e quem está na operação vir pro corporativo. Até pra gente conhecer tudo. Acho que um profissional pra crescer, que nem eu que tenho uma ambição aí em 10 anos, você tem que conhecer todas as áreas, né? Você não pode estar há muito tempo e conhecer, a muito, ser muito específico. Você tem que atuar bem naquilo que você está fazendo, mas tem que conseguir ter uma visão do todo, né? E acho assim, que tem outras n oportunidades, na área comercial, na área de marketing. Quer dizer, tem muita coisa crescendo. Marketing é uma coisa muito, também, nova dentro da Votorantim, na forma que está atuando, né? De ter, realmente, merchandising, de ter convenção de vendas. A gente teve a segunda convenção de vendas esse ano. Quer dizer, um negócio novo dentro da Votorantim Cimentos. As empresas fazem convenção de vendas há anos. Quer dizer, porque o modelo de negócio mudou, né? A fidelização de cliente, né, o teu vendedor motivado, então tudo isso está diferente. Então, assim, eu participei das duas convenções, quer dizer, e foram muito bem feitas. Eu diria que a primeira ainda foi, foi muito boa, né? A segunda foi, assim, espetacular, porque já foi muito mais profissional. Porque, lógico, a gente vai aprendendo com o tempo, vai evoluindo. Então, assim, tem muita oportunidade nessas áreas hoje, dentro da Votorantin, né? No grupo, eu acho assim, que o SLV é uma porta pra isso, né? Isso foi colocado muito, foi colocado até por mim no treinamento de que, lógico, quem está no SLV também quer se mostrar pra organização como um todo, né? Você tem uma (AV Par?), tem muita gente de outras empresas que hoje estão na (AV Par?), né? Você tem uma (SGV?) que faz os grupos multifuncionais, onde participam várias pessoas de cada negócio, né? Então, tudo isso vai te abrir portas e vai te abrir oportunidades, né? Então, eu fico assim, eu acho que dentro do grupo e dentro da Votorantin Cimentos, não vão faltar oportunidades. Mas, eu tenho que estar preparada. P/2- Preparada, pronta. R/1- Tem que estar no momento certo, na hora certa, né, e preparada. É isso que eu imagino. P/1- Se você fosse deixar uma mensagem pros 70 anos da AVC, que que você falaria? R/1- Olha, eu falaria que embora eu só tenha 3 anos de Votorantin Cimentos, né? Parece que eu estou uns 50 aqui, assim. Pela bagagem, por tudo que eu aprendi, né, por tudo que eu tive, assim, de acesso de informação e de conhecimento. Eu me sinto orgulhosa de estar num grupo tão sólido e tão forte quanto esse, né? Espero, não vou estar aqui nos próximo 70 com certeza, que eu não vou chegar nos 100 anos. Mas eu espero estar nos próximos 30 aqui dentro, crescendo na organização e realizando, já realizei um sonho aqui dentro, né, que foi essa oportunidade de gerência. Mas pretendo realizar outros sonhos aqui dentro, né? Com mais equipe, com coisas novas, quer dizer, podendo implementar coisas novas porque mudança sempre vai acontecer, né? Então, acho que ela vai crescer e vai mudar e vai ter uma cara diferente, né? Vai ser reconhecida cada vez mais como uma empresa que não está só no mercado brasileiro, mas vai estar no mundo todo, em todos os lugares, né? É isso que eu imagino, eu imagino que a gente não ter só a ___________, a gente vai ter plantas no mundo todo, né, onde a gente vai poder atuar e vai fazer todas essas pontes e vai integrar esses processos, né? Eu espero estar aqui, pelo menos nos próximos 30, sim. Nos próximos 70, aí não, aí vão ser os meus filhos que vão me contar as histórias. P/1- Sandra, você conhecia já o Projeto Memória Votorantin, esse projeto nosso, que a gente está fazendo? R/1- Não. Eu conheci, na verdade, através do Linha do Tempo nos 70 anos da Votorantim, que aí veio os folhetinhos pra gente escrever, participar, né? E aí, depois disso, que veio o contato de vocês aí, via indicações que foram feitas aí, pela comunicação, mas eu não conhecia. P/1- E, na sua opinião, de que maneira o projeto poderia interagir com a sua área, o que que o projeto poderia fazer? R/1- Eu acho assim, na verdade, o que eu senti, depois, assim, eu vi vários depoimentos, eu vi história de muitas pessoas, achei muita gente de Sorocaba lá. Embora aqui eu conheça alguns, mas tem gente que eu conheci aqui no corporativo e nem imaginava. Então, eu li histórias de muitas pessoas ali. Aí, você conhece a pessoa, você, pô, você fala: "Nossa, essa pessoa deve ter..." Tem uma que eu acho que estudou com o meu marido, que falei: "Nossa, deve ter estudado na mesma época." Então, eu acho que precisava, assim, divulgar um pouco mais isso, assim, internamente, dentro dos negócios ou via (AV Par?) como um todo, né? Acho que as pessoas têm que participar mais, tem que ler, tem que conhecer. Tem muito material lá, né? Eu achei a qualidade do material muito boa, né? Mas era uma coisa assim que se eu não tivesse essa oportunidade, eu não teria visto, né? Então, eu acho assim, o que que precisaria, de que forma contribuir? Seria mais divulgando mesmo, tendo um link direto dentro do porta da AVC, né? Onde a pessoa fale: "Memória Votorantim, deixa eu ver o que tem lá dentro, né?" Eu acho que isso facilitaria, assim, porque não é uma coisa que foi, que foi divulgada assim, né, aqui na Cimentos. P/1- E me diz uma coisa, o que você achou de participar desse projeto, de dar o seu depoimento? R/1- Olha, achei, na verdade assim, achei uma excelente oportunidade, né? De novo fiquei surpresa com o fato de, falei: "Não, com 3 anos, mas eu com 3 anos de empresa, vou falar, né? Tipo assim, deve pegar gente que tem mais tempo, mais história do que eu." Mas até um pouco pra dar um pouco essa visão de futuro, que aí eu achei bem legal, bem interessante, né? Fiquei muito feliz com a participação, fiquei meio assustada no começo, tipo o que que eu vou falar? Fiz um, né, um rascunhozinho, assim, pra me preparar, você fica um pouco nervoso, mas depois dos cinco primeiros minutos, o negócio já começa a andar bem, né? Gostei muito de participar. Foi tranqüilo, assim, dentro do que eu estava imaginando. E acho, assim, que essas oportunidades, que sejam cada vez mais, assim, disponibilizadas pras pessoas. Acho que tem muita gente aí que pode estar contribuindo também. P/1- Que bacana. Você tem alguma pergunta, Fernanda? P/2- Não. P/1- Então, em nome do Memória Votorantin e do Museu da Pessoa, a gente agradece a sua participação. Obrigada. Foi um prazer R/1- Está ok. Obrigada. Obrigada vocês.
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