P/1 – Primeiramente bom dia para o senhor. Senhor Henrique, para começar eu gostaria de saber o nome completo do senhor, a data do seu nascimento e o local do seu nascimento.
R – Bom, meu nome é Henrique Silveira. Eu nasci no dia 28 de maio de 1940, na cidade de São José do Rio Pardo, Estado de São Paulo.
P/1 – Qual o nome dos pais do senhor?
R – Meu pai é Antônio Pimentel Silveira e minha mãe é Zelinda Mayotori Silveira.
P/1 – O que eles faziam, senhor Henrique?
R – O meu pai era funcionário público e minha mãe era doméstica.
P/1 – E onde o senhor passou a sua infância?
R – Olha, a minha infância... Eu nasci em São José do Rio Pardo, depois meu pai como era funcionário público foi transferido para trabalhar no Estado em Pirapitingui. Pirapitingui é um local pequeno, perto de Sorocaba. Então eu passei a minha infância praticamente de dez anos até dezoito anos nesta cidadezinha chamada Pirapitingui, Estado de São Paulo. Depois isto aqui foi uma infância modesta, como todo funcionário público, que as escolas públicas... Mas uma infância feliz. Jogando bola, fazendo esportes, mas muito boa.
P/1 – Qual a memória que o senhor tem, a principal memória dessa época?
R – Olha, como todo lugarzinho do interior naquela época nossa distração era jogar futebol, estudar, jogar futebol, não tinha outra, não tinha, naquela época, ir ao cinema. É tudo muito simples. E também uma vida muito difícil, de pessoa, de filho de funcionário público.
P/1 – Quantos irmãos o senhor tem?
R – Eu tenho dois irmãos. Tenho uma irmã e um irmão.
P/1 – E como que era o cotidiano na casa do senhor?
R – Era muito bom. Logicamente como eu sou o mais novo de casa, meus irmãos... Meu irmão e minha irmã já tinha saído de casa, já tinha vindo para São Paulo. Então eu não convivi muito com eles porque eles… Eu sou mais novo, então...
Continuar leituraP/1 – Primeiramente bom dia para o senhor. Senhor Henrique, para começar eu gostaria de saber o nome completo do senhor, a data do seu nascimento e o local do seu nascimento.
R – Bom, meu nome é Henrique Silveira. Eu nasci no dia 28 de maio de 1940, na cidade de São José do Rio Pardo, Estado de São Paulo.
P/1 – Qual o nome dos pais do senhor?
R – Meu pai é Antônio Pimentel Silveira e minha mãe é Zelinda Mayotori Silveira.
P/1 – O que eles faziam, senhor Henrique?
R – O meu pai era funcionário público e minha mãe era doméstica.
P/1 – E onde o senhor passou a sua infância?
R – Olha, a minha infância... Eu nasci em São José do Rio Pardo, depois meu pai como era funcionário público foi transferido para trabalhar no Estado em Pirapitingui. Pirapitingui é um local pequeno, perto de Sorocaba. Então eu passei a minha infância praticamente de dez anos até dezoito anos nesta cidadezinha chamada Pirapitingui, Estado de São Paulo. Depois isto aqui foi uma infância modesta, como todo funcionário público, que as escolas públicas... Mas uma infância feliz. Jogando bola, fazendo esportes, mas muito boa.
P/1 – Qual a memória que o senhor tem, a principal memória dessa época?
R – Olha, como todo lugarzinho do interior naquela época nossa distração era jogar futebol, estudar, jogar futebol, não tinha outra, não tinha, naquela época, ir ao cinema. É tudo muito simples. E também uma vida muito difícil, de pessoa, de filho de funcionário público.
P/1 – Quantos irmãos o senhor tem?
R – Eu tenho dois irmãos. Tenho uma irmã e um irmão.
P/1 – E como que era o cotidiano na casa do senhor?
R – Era muito bom. Logicamente como eu sou o mais novo de casa, meus irmãos... Meu irmão e minha irmã já tinha saído de casa, já tinha vindo para São Paulo. Então eu não convivi muito com eles porque eles… Eu sou mais novo, então logicamente eles vieram para São Paulo e eu fiquei mais só em casa.
P/1 – O senhor falou que ficou na cidade de Pirapitingüi...
R – É.
P/1 - Até os dezoito anos?
R – É.
P/1 – O que aconteceu depois? Para onde o senhor foi?
R – É o seguinte, naquela época nós fazíamos o Ginásio. Eu fazia o Ginásio em Sorocaba. E naquele tempo todo mundo pensava o seguinte: ficar numa cidade do interior, até após o exército, depois iriam para São Paulo continuar seus estudos e trabalho. E foi assim comigo também. Eu também, quando eu fiz dezoito anos eu fui servir o Exército em Itu, então passei lá em Itu um ano e dois meses servindo o Exército. Depois que terminei o Exército fui, eu tinha vinte anos mais ou menos, e fui para São Paulo. Fui para São Paulo e fui então trabalhar. E comecei a trabalhar num escritório de terraplanagem. Naquela época tinha muita terraplanagem em São Paulo por isso trabalhei lá. Depois trabalhei nesse escritório, acredito, mais ou menos um ano depois eu fui para a S.A Indústrias Votorantim.
P/1 – Senhor Henrique, o senhor falou algumas coisas que eu acho importante a gente retomar. Eu gostaria de saber onde o senhor começou a estudar? Foi em São José do Rio Pardo ou foi em Pirapitingui?
R – Não, não. Eu comecei a fazer meu Grupo Escolar em Pirapitingui. Eu terminei meu Grupo em Pirapitingui e fiz meu Ginásio em Sorocaba.
P/1 – Certo. E como era a escola em Pirapitingui? O que o senhor se lembra desse período?
R – Olha, a escola que eu lembro era uma escola muito modesta, as professoras vinham de Itu dar aula em Pirapitingui, mas era uma escolinha muito simples, com a primeira, segunda, terceira e quarta série na mesma sala. Não eram salas divididas. Então logicamente existiam vários quadros negros, naquela época chamava quadro negro, hoje não é mais. Então a professora dava para cada série um quadro negro e funcionava muito bem.
P/1 – E aí o senhor foi fazer o Ginásio em Sorocaba.
R – Aí eu fiz o Ginásio em Sorocaba.
P/1 – E como era essa escola?
R – Bom, em Sorocaba já era logicamente uma escola mais organizada. E eu então como antigamente nós tínhamos o Grupo Escolar e depois nós tínhamos o Exame, chamava-se Admissão ao Ginásio. Então fazia esse curso e depois prestava e você entrava no Ginásio.
P/1 – E o senhor sempre estudou? Para fazer esse curso de Admissão ao Ginásio era na escola pública?
R – Era tudo escola pública.
P/1 – O senhor sempre estudou na escola pública?
R – Escola pública. Então quando eu estive na quarta série Ginasial aí eu não pude terminar, porque eu fui para o Exército, então eu terminei a quarta série Ginasial em Sorocaba mesmo.
P/1 – Como era Sorocaba nessa época?
R – Sorocaba era uma cidade normal, não tinha violência. Uma cidade muito boa para se morar na época.
P/1 – E nessa época de escola no Ginásio, o Exército, quais eram as perspectivas profissionais de um jovem como o senhor?
R – Bom, na época minha a perspectiva de vida era primeiro sair de... Entrar no Exército, eu fiquei no Exército um ano e pouco e depois a minha época era estudar, estudar e trabalhar. Eu sempre pensei em ser advogado. A minha mente era sempre ser futuramente um advogado. Então fui para São Paulo com essa mente. Mas chegando em São Paulo eu tinha terminado o Ginásio e você para entrar para fazer a advocacia você tinha que fazer o Científico. E eu não podia, eu não tinha, porque se eu fizesse o Científico, seriam três anos, eu ia perder tempo. Então eu optei para fazer Técnico em Contabilidade. Porque eu estudando três anos eu teria um diploma na mão e com esse diploma eu poderia galgar outros degraus.
P/1 – Certo. Bom, o senhor viveu em Sorocaba até um período, veio à São Paulo. Qual as diversões da juventude? Aí eu já estou falando numa época do Ginásio, dos amigos do bairro.
R – Olha...
P/1 – A vinda para São Paulo, como o senhor se divertia?
R – Na época não tinha tanta... As nossas diversões eram mais futebol, cinema, não tinha, ninguém tinha carro. Nós íamos à São Paulo, por exemplo, numa vida tranquila, andava de ônibus, de bonde, de ônibus elétrico na época ainda. Então era uma vida normal. Não é como a vida de hoje, quer dizer, se vivia muito bem.
P/1 – Como era São Paulo logo que o senhor chegou aqui?
R – Olha...
P/1 – Qual foi a primeira impressão?
R – É. Quando cheguei em São Paulo eu fui morar na Rua Voluntários da Pátria, uma pensão, a minha tia tinha uma pensão de estudantes, na época. Hoje o nome de pensão, por exemplo, em Recife, tem outro significativo. Em São Paulo, na época, uma pensão era um lugar que se ia morar, pessoas de família. Então eu morava na Rua Voluntários da Pátria - eu lembro muito dos bondes que passavam na frente. Então os bondes passavam na frente e a gente andava bastante porque era mais barato. Muitas vezes não pagava também. Eu comecei a estudar num colégio quase em frente onde eu morava na Voluntários da Pátria, que era o Colégio São Salvador. Hoje é uma Universidade, uma coisa assim, que eu passei lá e olhei.
P/1 – E foi difícil para o senhor se adaptar em São Paulo?
R – Não, não foi difícil. Porque quando a gente quer ficar num lugar, se sente bem, nada é difícil. Então para mim foi fácil.
P/1 – Senhor Henrique, como o senhor conheceu a sua esposa?
R – Olha, a minha esposa... Eu conheci minha esposa no cinema.
P/1 – O senhor lembra que filme o senhor estava assistindo?
R – Mas foi, não... Logicamente eu casei bem mais tarde, quer dizer, não lembro, não.
P/1 – Mas o senhor se lembra como foi o casamento?
R – Ah, sim! Foi tudo muito simples também, em Sorocaba, sem luxo nenhum.
P/1 – O senhor conheceu sua esposa em São Paulo?
R – Em São Paulo. Eu morava em Recife. Eu conheci aqui em São Paulo, mas quando eu casei morava em Recife.
P/1 – E quantos filhos nasceu desse casamento?
R – Eu tenho um filho.
P/1 – O que ele faz?
R – Eu tenho um filho, ele tem 24 anos e é a minha alegria. Esse meu filho que tem 24 anos, foi campeão de natação e também estudou na Escola Americana em Recife, e com isso daí ele teve... Quem estuda na Escola Americana, quer dizer, gosta muito de viajar. Então meu menino está estudando em Boston, ele estuda em Boston faz quatro anos. Ele faz Comércio Internacional e Economia.
P/1 – E ele vai voltar para o Brasil? Tem perspectivas?
R – Olha, eu acho que ele volta para o Brasil, porque logicamente nos Estados Unidos é muito bom para estudar, mas para viver é muito difícil. Então nós, eu por exemplo, tenho um filho só e minha mulher também, nós achamos que ele deve voltar para o Brasil. Logicamente pelo trabalho, pelo que ele faz, pelo que estuda, eu não acredito que em Recife tenha lugar para ele, mas em São Paulo... Não resta dúvida que ele virá trabalhar em São Paulo.
P/2 – Agora vamos voltar um pouquinho... Quando o senhor, quer dizer, o senhor em vez de fazer o Colegial o senhor fez Contabilidade?
R – É, exatamente.
P/2 – Em vez de fazer o Colegial que era...
R – O Científico... Eu fiz Contabilidade.
P/2 – Mesmo sabendo que queria fazer Direito?
R – Certo.
P/2 – Aí o senhor estava contando para nós que o primeiro trabalho foi em terraplanagem em São Paulo.
R – Exato.
P/2 – Como foi isso?
R – Não, é o seguinte, naquela época nós tínhamos uma empresa, quer dizer, eu conheci um pessoal, chamava Brasprev, era uma empresa de terraplanagem. Essa empresa fazia asfaltamento em ruas, e então meu pai me arranjou um dinheirinho e eu fui sócio nessa empresa na compra de um trator. Esse trator fazia-se a terraplanagem, mas nós aqui então... A firma ia muito bem, mas quando o Prestes Maia ganhou como prefeito a nossa firma afundou (risos). Nós pensávamos que se fosse, na época eu acho que era o Ademar de Barros que foi candidato, não lembro qual era agora, mas eu sei que quem ganhou foi o Prestes Maia, então com isso daqui a nossa firma foi para o buraco.
P/2 – Mas qual a relação entre...
R – Não, a relação é o seguinte, fazia, na época, asfalto em rua e as pessoas faziam corretagem nesse asfalto, corretagem dos moradores. E a prefeitura então nos pagava e recebia dos moradores. Aí entrando o Prestes Maia, ele acabou com isso aqui, mudou a fórmula e então ficou inviável. Então, eu, de proprietário de um trator, eu fui procurar emprego.
P/2 – E o que o senhor encontrou?
R – Justamente foi na Votorantim.
P/2 – Fazendo o quê?
R – Eu então fui... Eu tinha um amigo que chamava-se Ésio Ranzani. Ésio Ranzani era o contador da Votorantim. Então eu fiz um teste na Votorantim e fui admitido como auxiliar de escritório.
P/2 – Em que ano mais ou menos? O senhor lembra?
R – Foi... Eu entrei na Votorantim em dezessete do quatro de 1962.
P/2 – Bom, aí o senhor foi auxiliar...
R – É. Eu iniciei como Auxiliar Administrativo, depois eu passei para a Carteira de Cobrança, depois eu passei para mecanografia.
P/2 – O que é mecanografia?
R – É o seguinte: Mecanografia era... Não, vamos voltar um pouquinho... Então logicamente eu comecei na Votorantim como Auxiliar de escritório, depois Auxiliar de Crédito e Cobrança. Aí eu me formei em Técnico de Contabilidade. Eu tinha um CRC, então eu fui trabalhar e passei para mecanografia. Era uma contabilidade mecanizada. Era uma máquina mecanizada. Então eu trabalhava na Votorantim.
P/2 – Onde que ficava esse escritório?
R – Nós iniciamos na Rua Riskallah Jorge. Então nós trabalhamos lá vários anos, na Riskallah Jorge.
P/2 – Era para quantas empresas esta contabilidade?
R – Na época era só Votorantim.
P/2 – Mas qual?
R – S.A Indústrias Votorantim.
P/2 - Que tinha que fábrica?
R – A fábrica de cimento Votoran em Sorocaba.
P/2 – Só tinha essa?
R – Só tinha essa. Então naquela época eu trabalhava com mecanografia na Votorantim e também como eu trabalhava meio expediente na Votorantim, eu trabalhava meio expediente na Alumínio, que é a CBA, que era Votorantim também. Então tinha dois salários. E posteriormente então, quando me formei em Contabilidade, a Votorantim foi montar Auditoria da Votorantim. A Votorantim não tinha Auditoria. Então ela fez um teste com todos os funcionários para quem teria condições de ser auditor da Votorantim. Então eu fui escolhido para ser auditor da Votorantim. Então como auditor eu fui o primeiro funcionário a viajar em todos os lugares aqui do Estado de São Paulo e também fora de São Paulo. E nós fundamos a Votorantim, era eu com o Jair Maziero.
P/2 – Mas o senhor viajava para ir onde?
R – Ah, não! Naquela época nós viajávamos nas filiais da Votorantim, vendas de cimento, filiais de cimento. Íamos fazer Auditoria nessas filiais.
P/2 – Quantas eram, mais ou menos?
R – Olha, não lembro! Mas era mais de vinte.
P/2 – Sempre no Estado de São Paulo?
R – É, no Estado de São Paulo. Também viajei para Brasília. E naquela época também eu fiz Auditoria no Nordeste.
P/2 – Já tinha o que no Nordeste nessa época?
R – Nesta época o Nordeste era logicamente pequeno. Lá na época, tinha uma fábrica de cimento em Paulista, tinha uma fábrica de cimento no... Estavam construindo no Ceará e estavam construindo uma fábrica aqui em Sergipe. E tinha uma fábrica de tecidos também em Sergipe.
P/2 – Em que ano era isso mais ou menos?
R – Mais ou menos em 1982. Deve ser 1986.
P/2 – Ah, já demos um salto no tempo?
R – É, não. Fazia Auditoria. Nessa época eu fazia Auditoria nas empresas Votorantim.
P/2 – Mas quando o senhor entrou como auditor que ano era, mais ou menos? Mas se o senhor não se lembra...
R – Não me lembro bem, não lembro!
P/2 – Porque é assim: depois de contador, mecanografia, o senhor foi...?
R – Aí eu fui auditor. Fui passar à auditor.
P/2 – Isso já era no escritório na Praça Ramos?
R – Era... Não era na Praça Ramos ainda. Não, não era na Praça Ramos! O escritório era na [Rua] Riskallah Jorge. Depois da Auditoria, que eu fiquei vários anos como auditor, aí eu passei a ser a contador de várias empresas da Votorantim. E de Contador, naquela época, aí passei a ser chefe também, era o Chefe de Controle de Subsidiárias. Então eu era Contador e Chefe de Controle de Subsidiárias. Esse controle de subsidiárias era o seguinte: eu trabalhava diretamente com o diretor financeiro - o senhor José Borbolla. Então eu fazia análise de todos os balanços das empresas da Votorantim, do Brasil todo. Anualmente os contadores das empresas do Brasil todo vinham à São Paulo e nós então estudávamos o balanço. Eu estudava e passava para o senhor José Borbolla, do qual aprovava ou não.
P/2 – E aí eram muitas empresas?
R – Eram muitas empresas. E então nós trabalhamos, quer dizer, com isso aqui a minha vida foi muito... Já é mais trabalhar com a diretoria. Então trabalhava muito com o José Ermírio de Moraes, o Senador, trabalhava com o José Ermírio de Moraes Filho.
P/2 – Como eles eram? O Senador, como ele era no trato com os funcionários?
R – Bom, o Senador era uma pessoa, um espetáculo! Uma pessoa muito boa, tinha muito carisma. É uma pessoa que chegava no escritório todo o dia muito cedo. Então quando nós chegávamos - nessa época já era na Praça Ramos de Azevedo - então nós sabíamos quando ele estava lá porque tinha um carro grande Lincoln na porta. Eles usavam uns carros importados Lincoln, então nós sabíamos que ele estava lá. O Senador era uma pessoa muito boa, muito exigente, entendeu? Ele era uma das primeiras pessoas a chegar no escritório.
P/2 – Mas essa mudança para a Praça Ramos, só para explicar ali, era o quê? Por que mudou?
R – Bom, a Praça Ramos era o seguinte... Então nós estamos na [Rua] Riskallah Jorge, e eles depois compraram esse prédio da Praça Ramos. Então primeiramente foi transferido para lá a mecanografia.
P/2 – Um momento. Esse prédio que foi comprado pela Votorantim era o Hotel Esplanada?
R – Era o Hotel Esplanada.
P/2 – O senhor lembra desse momento da compra?
R – Não, eu não lembro do momento da compra do Hotel Esplanada, mas eu fui contador do Hotel Esplanada.
P/2 – Ah, foi?
R – Contador, mas havia logicamente só os passivos, porque a Votorantim comprou, ela comprou também o arquivo morto do Hospital Esplanada.
P/2 – Do Hotel?
R – Do Hotel. E eu então teria que atender todos os ex-funcionários do Hotel dando declarações que trabalhava, quando saiu, quando entrou. Então eu fui contador do Hotel Esplanada.
P/2 – E esse grupo que era do Hotel Esplanada não tinha nada a ver com o José Ermírio de Moraes?
R – Não tinha nada com o José Ermírio de Moraes, não tinha nada.
P/2 – E sabe por que eles venderam?
R – Não sei, não.
P/2 – Ou melhor, por que a Votorantim comprou?
R – Não, não lembro. Não, não sei, não.
P/2 – Bom, aí liquidou toda a coisa dos...
R – É, aí então liquidou, com o tempo o Hotel Esplanada sumiu, desapareceu. E eu continuei com os acervos do Hotel, comigo.
P/2 – Certo. E já começou a funcionar... O que começou a funcionar na Praça Ramos?
R – Primeiramente foi a Contabilidade, depois a empresa toda veio para a Praça Ramos. Eu então trabalhava na época na Praça Ramos, no andar da Diretoria, que é no sétimo andar.
P/2 – Conta a história do sétimo... Diz que o Senador gostava de sete!
R – Ah sim, sim! Então é... Que engraçado! Não, o Senador tudo o que ele tinha era sete. Então todos os carros tinha que ser o número sete. O andar também tinha que ser o sete. E então era... Por exemplo, em Recife, que eu estou atualmente, lá existe um prédio que nós colocamos também o final 27, o número do prédio é 27. E o mais engraçado também que o andar lá de Recife é o sétimo andar. Mas para dar o sétimo começou o primeiro no térreo. Então na verdade era o sexto, mas estava marcado o sétimo.
P/2 – Mas era uma superstição dele?
R – Era uma superstição dele.
P/2 – E aqui era o sete na Praça Ramos, o andar dele?
R – Também era sete.
P/2 – E o que funcionava nesse andar?
R – Olha, nessa época da Praça Ramos funcionava basicamente a Diretoria, que era o Senador José Ermírio de Moraes, o senhor Borbolla, o Doutor Antônio, o Doutor Ermírio, praticamente era quase a Diretoria.
P/2 – Como eles eram?
R – Nós tínhamos também o Setor de Valores, que tomava conta das ações particulares da Família Moraes. E quem tomava conta era o Martins Moita, da qual eu era auxiliar dessa pessoa também.
P/2 – As ações eram da família?
R – Não. As ações eram o seguinte: todas às vezes, e foi até engraçado, todas às vezes que nascia um filho, um neto do Doutor Moraes, ele então dava um "X" em ações. E sempre dava do Banco Comércio e Indústria. Eu sempre comprava essas ações, e essas ações eram entregues aos...
P/2 – Netos do Senador.
R – Netos do Senador.
P/2 – Quando nascia?
R – Quando nascia.
P/2 – E quantos eram esses netos?
R – Ah, não lembro!
P/2 – Então a família frequentava o sétimo andar. E como era a convivência com eles?
R – Bom, o Doutor Moraes era uma pessoa muito boa, mas muito exigente. É uma pessoa que nos mínimos detalhes... Para a senhora ter uma ideia, por exemplo, existia uma telefonista no prédio e essa telefonista, para você pedir as ligações diárias para as filiais, pedir essas ligações tal, tal, tal. No final da tarde o Doutor Moraes pegava a lista da telefonista e via onde as pessoas ligaram. E quem pediu mais ligações ele chamava para o seu gabinete e perguntava o motivo que tinha ligado tanto. Se nós não tínhamos malote, para que ligar tanto? Então ele controlava as ligações telefônicas. Então o Doutor Moraes fazia isso quase diariamente. E também o Doutor Moraes fazia, normalmente às oito horas em ponto ele ligava para um chefe de setor e mandava chamá-lo e se a pessoa não estivesse, ele mandava ligar mais tarde. Então a pessoa não chegava nunca tarde, porque ele ligava e a pessoa não tinha com o que explicar de atrasar duas vezes seguida (risos).
P/2 – Mas fora essas exigências assim meticulosas, tinha outras maiores, mais significativas?
R – O Doutor Moraes… Outras que também são muito interessante... Naquela época se fazia consórcio de carros. Então todo mundo queria ter um carro. Então eu com o Jair Maziero nós falamos: “Vamos fazer um consórcio de carros aqui. Cada um dá um valor "X", trinta pessoas e nós vamos então comprar um carro”. Todo mundo queria um carro mas ninguém tinha dinheiro para comprar. Então nós pegamos um... A Light - nem sei se chama Light hoje - tinha um consórcio e nós pegamos um modelo e levamos para a Votorantim. E esse modelo não tinha taxa, não tinha nada e se cada um dava um "X" por mês, um lance, tirava um carro. E fizemos o modelo e fomos entregar ao senhor Borbolla, que era o nosso chefe diretamente. Ele falou: “Olha Henrique, eu não posso aprovar isso aqui. Para aprovar esse consórcio você tem que conversar com o Doutor Moraes”. Eu falei: “Bom, nesse caso eu vou conversar com o Doutor Moraes”. Então chegando lá ele já estava com a minha proposta, nos chamou e foi mostrar para mim... A produção de trator naquela época, quantos tratores eram... A produção no ano, e quanto foi de carro. Então ele quis mostrar que era melhor nós comprarmos trator que comprar carro. Mas chegamos a conclusão que nós queríamos o carro e não o trator. E no final da entrevista com o Doutor Moraes ele falou: “Olha Henrique, eu aprovo o consórcio. Agora os que ganham menos têm que receber primeiro. E logicamente a Diretoria vai receber por último”. Eu falei: “Doutor Moraes, mas o que ganha menos aqui sou eu! Então eu vou receber primeiro” (risos). Ele falou: “Se você recebe, é o menor, você vai receber”. Então esse consórcio nós fizemos, na época foi um sucesso e eu então... Nós tínhamos feito um contrato com a Volkswagen aqui. Ela dava o dinheiro ou dava o carro. Mas quando eu fui tirar o meu carro aí meu pai falou: “Olha, meu filho, as pessoas primeiro tem que ter um apartamento e não ter um carro. Então eu não acho justo você comprar um carro e não ter apartamento”. Então eu deixei o carro de fora e comprei um apartamentinho na Rua Consolação, na Praça da Consolação. Então o meu dinheiro do carro foi para o apartamento, o meu primeiro apartamento, porque ainda tenho hoje lá.
P/2 – E depois o carro veio quando?
R – Não, não. Aí nós ficamos na Votorantim sem carro, sem nada! E somente… Aí eu comprei um carro. Depois na Votorantim já tinha um salário melhorzinho, eu já era chefe de setor, então meu salário... Já tinha um apartamentozinho, aí foi mais fácil comprar um carro.
P/2 – Agora, voltando nessa época do Senador conferindo horários, como era os filhos dele, quem que convivia nessa época?
R – Olha, naquela época o Diretor mais atuante era o senhor José Borbolla. Era uma pessoa espetacular, maravilhoso, era o mais atuante. E tinha o Doutor José Borbolla e também o José Ermírio de Moraes Filho. Então era os dois que eu trabalhava diretamente.
P/2 – Como era o José Filho?
R – O José Filho era muito bom, quer dizer, era uma pessoa...
P/2 – Exigente...
R – Exigente também. Mas a minha convivência era mais com o Borbolla do que com o Senador. E também tem um caso interessante com o Senador José Ermírio de Moraes, naquela época eu trabalhava na Crédito Cobrança e nós éramos obrigados a diariamente, às nove horas, entregar a posição financeira ao Senador. Então às nove horas da manhã você tinha que entregar a posição financeira do dia anterior. E nós fazíamos aquilo tudo lá à mão, não tinha máquina, não tinha nada! Você somava, fazia os bancos que está em caução, ou isso ou aquilo. E então todo dia eu pegava, minha letra sempre foi feia, como é ainda, eu fazia minha letra feia, mas colocava a posição bancária aqui e mandava para o Doutor Moraes. E o Doutor Moraes gostava e depois eu fui então para um... Quando eu saí desse setor entrou uma outra pessoa no meu lugar. E essa pessoa tinha uma letra muito bonita, e naquela época as canetas fazia assim de uma tal forma que... As letras eram bonitas. E a pessoa fazia uma letra maravilhosa e fazia rápido. Então fez aquilo tudo muito bonito e levou para o Doutor Moraes. O Doutor Moraes olhou e falou: “Essa pessoa não tem o que fazer!” (risos) “Volta para o outro”. O outro saiu. Então logicamente ele fazia aquilo muito bem feito, mas era rápido também. Mas então em São Paulo com o Doutor Moraes foi desta forma.
P/2 – E em que momento o senhor foi transferido para o Recife?
R – Bom...
P/2 – Foi nessa época?
R – Não, não. É o seguinte, então de fazer as análises de balanços de todo o Nordeste eu conhecia todos, quase todos os diretores do Nordeste, então Doutor Clóvis Scripilliti, que era o genro do Senador José Ermírio de Moraes, foi tomar conta das empresas do Nordeste. Então eu fui convidado para ir para o Nordeste. Foi em 1971. Eu fui convidado para ir para o Nordeste e de princípio não queria ir. Não queria ir porque naquela época o Nordeste… Tinha uma imagem muito ruim do Nordeste. Mas eu, sendo solteiro, fui para lá para ficar dois anos. Então eu era Chefe de Controle de SUbsidiárias aqui, e fui lá para ficar dois anos, e foi feito um trato do senhor Borbolla, com o José Ermírio de Moraes Filho que eu iria para lá, mas eu voltaria a hora que eu quisesse. Então com isso aqui eu fui transferido lá para o Nordeste. E a senhora falou do carro, não é? Eu na época então, eu tinha um carro, e Doutor Clóvis Scripilliti… Então acertei a minha transferência, eu pedi que ele me pagasse a remoção do meu carro para o Recife. Ele disse que não pagava, disse que não pagava porque eu... Eu falei: “Mas a minha mudança é só o meu carro! Não tenho mudança nenhuma! Minha mudança é o carro”. Falou: “Não, eu não pago”. “Bom, se o senhor não paga, eu não vou”. Bom, no final ele pegou e mandou meu carro (risos). Aí ele perguntou: “Qual é a marca do carro?” Eu falei: “É um Karmann Ghia”. Ele falou: “Vermelho?” Eu falei: “Vermelho”. Então ele pegou o meu carro e despachou em cima de uma carreta que chegou em Recife todo rabiscado, todo ruim. Fiquei muito chateado, mas essa foi a minha ida para Recife. E então depois de dois anos eu então não... Resolvi ficar em Recife.
P/2 – Ah, resolveu?
R – Resolvi ficar em Recife.
P/2 – Por quê?
R – É, eu tinha um salário em Recife e o salário em São Paulo. Tinha dois salários.
P/2 – Dois?
R – É. Mas não aumentava o de São Paulo, nem o de Recife. Então eu achei melhor ir para lá e suspender o de São Paulo. Isso foi 1971.
P/2 – E como foi o seu começo lá?
R – Olha, eu fui para Recife como... Eu montei lá um Departamento de Auditoria. Então eu fui lá. Lá não se chamava chefe mais, se falava gerente. Então na época eu fui Gerente de Auditoria. Fiquei vários anos como Gerente de Auditoria, depois eu passei a ser Assessor de Diretoria, depois eu passei para Diretor. Eu acho que eu fui Diretor mil novecentos e... 82, 83. Então começou a minha escala na Votorantim. Eu acho eu sou dos poucos, eu fui um funcionário de carreira, porque eu comecei do baixo e fui até o máximo de uma empresa. Aí eu fui para Recife. Chegando em Recife, existia a campanha do Senador José Ermírio de Moraes, campanha política.
P/2 – Nesse momento?
R – Nesse momento. Eu fui para lá... Então a campanha do José Ermírio de Moraes. Não nesse momento. Depois de uns seis meses, oito meses... Então eu fui trabalhar na campanha do Senador José Ermírio de Moraes também na época. E Doutor Moraes, como lá em Recife a gente chama Doutor Moraes, em São Paulo eu não sei como fala aqui, ainda não sei, senador... Chegando em Recife, quando o Doutor... O doutor Antônio Ermírio de Moraes foi para Recife e fez uma reunião com a Diretoria e dizendo que o pai dele ia se candidatar mais uma vez a Senador, que eles estavam contra, ele e os filhos... Os irmãos estavam contra, mas o pai queria todos...
P/2 – Por quê?
R – Porque acho que pela idade, também. Pela coisa... Então eles achavam então... Mas o pai queria, então vamos trabalhar! Então o Doutor Antônio Ermírio de Moraes foi para Recife juntamente com o diretor aqui, eu não sei, parece que chama Antônio Vu, se eu não me engano. Chegando lá o Antônio Ermírio de Moraes fez uma campanha para o Senador no Estado todo. Então o Doutor Antônio Ermírio de Moraes andou em todo o Estado de Pernambuco fazendo campanha para o Senador.
P/2 – Ele mesmo.
R – Doutor Antônio. Ele justamente com este Antônio Vu. Então dormiram em hospitais... Então ele fez uma campanha muito bonita para o Senador José Ermírio de Moraes. E tudo, por exemplo, que o Doutor Antônio prometeu naquelas viagens... Depois o Doutor Moraes perdeu a eleição, perdeu por... Da maneira que ele entrou na eleição. Porque naquela época você tinha um voto vinculado. Ou seja, você somava, cada partido lançava dois Senadores. Então somava os dois e ganhava um só. E o que ganhava seria eleito. E Doutor Moraes juntamente com o Senador José Farah Marinho, que era da Bahia, ele lançou, o José Farah Marinho foi sozinho em Salvador e Doutor Moraes foi sozinho também em Pernambuco. Então isso aí foi um erro estratégico: ele perdeu a eleição. E depois que ele perdeu essa eleição o Doutor Antônio cumpriu tudo o que foi prometido, depois das eleições.
P/2 – Como assim?
R – Tudo o que ele prometeu, por exemplo, na Santa Casa, no interior, naquelas vilas, então depois das eleições ele mandou comprar medicamentos, roupas e foi entregue.
P/2 – Mesmo ele tendo perdido, ele cumpriu as promessas.
R – Ele cumpriu as promessas. O que o Doutor Antônio prometeu na viagem ele cumpriu depois das eleições, mesmo tendo perdido.
P/2 – Isso. E depois disso como é que ficou o senador?
R – O José Ermírio de Moraes era uma pessoa que gostava do Nordeste. Ele amava o Nordeste! Ele chegava em Recife e chamava na sala dele, ele falava: “Olha, eu vim aqui em Recife porque não aguentava mais de saudade”. E todo mundo conhecia o senador porque ele era um homem alto. Ele só andava em Recife de terno branco, chapéu branco e gravata borboleta. Então ele era muito querido por todos, era muito, por exemplo, nas Usinas... E ele gostava mais das usinas de açúcar do que das fábricas de cimento. Logicamente a origem dele era usina de açúcar, de usineiro. Então em Recife ele ia quase somente nas usinas de açúcar. Ele não olhava muito para as fábrica de cimento. Então era dessa forma, ele ia e ajudava muito e gostava muito das usinas.
P/2 – Ele viajava muito pelo Nordeste para ver as usinas?
R – Não. Na época lá nós tínhamos duas usinas: Usina São José e Usina Tiúma. E ele ia então nas duas usinas. Mas ele gostava mais da Usina Tiúma.
P/2 – Por quê?
R – Porque a Tiúma era perto, eu acho, onde ele nasceu. Na Zona da Mata, então eu acho que ele gostava por isso, mas ele adorava. Então ele sempre acompanhou a produção das usinas de açúcar.
P/2 – E ele já se fazia acompanhar de algum filho ou não?
R – Não. O Nordeste quem tomava conta era Clóvis Scripilliti, entendeu? Naquela época a Votorantim era dividida em regiões. Então o Doutor Clóvis Scripilliti tomava conta da região do Nordeste. E até é um pouco difícil quando o Doutor Moraes estava doente em São Paulo, então nós éramos obrigados a passar, porque as usinas fazem diariamente um boletim, então o Doutor Moraes exigia que nós mandássemos tudo bonitinho para ele em São Paulo da produção das usinas. Na época era muito difícil, muitas vezes a usina não estava muito boa, então era muito difícil mandar esse boletim para São Paulo, porque você sabe, usina, se chove muito, atrapalha, ou se quebra, atrapalha, então era uma dificuldade para nós mandarmos esse boletim para São Paulo. Se nós nos enganássemos em alguma coisa era muito difícil porque depois ele pegava o boletim do sindicato e estava o verdadeiro. Então era muito difícil passar esse boletim e quando não era muito bom ele falava com Doutor Clóvis Scripilliti.
P/2 – E o seu cotidiano lá, como era chegando no Nordeste? Como era o seu dia-a-dia?
R – Eu cheguei no Nordeste... Nós fizemos a campanha do Senador Ermírio de Moraes, e também no Nordeste, naquela época, isto há trinta e poucos anos atrás, como até hoje, se você não é doutor, você não é nada no Nordeste. Então você tinha que ser, todo mundo fala doutor, então no Nordeste eu comecei a estudar à noite. Então eu prestei vestibular para Direito em Recife, aí que eu fui fazer meu sonho. Aí eu me formei em Direito em Recife. Depois eu fiz cinco anos de Direito na Faculdade de Direito de Olinda. Se vocês não sabem, a primeira Faculdade do Brasil. Em Olinda. E depois então eu fiz, terminando o Direito, eu fiz a Faculdade de Administração de Empresas. Isto sempre trabalhando e estudando à noite. Logicamente lá em Recife o meu trabalho foi muito árido, trabalhava-se muito. Então nós trabalhávamos diariamente, de manhã até à noite e também sábado e domingo. Então eu era muito jovem, e na época a gente trabalhava demais, porque nós tínhamos o Doutor Clóvis Scripilliti que ia lá de quinze em quinze dias. O Doutor Clóvis, o horário dele era de manhã à noite. Então na época era um trabalho muito árduo, mas gostoso. Então nós tivemos no Nordeste, nós fizemos, fundamos várias empresas. Para você ter uma ideia a Votorantim, quando eu cheguei no Nordeste as filiais de cimento não eram muito... São depósitos de venda, são filiais, pontos de venda, tudo muito empírico, muito ruim, tudo muito... Nada tinha controle, um negócio muito familiar. Então nós organizamos aquilo, e também as fábricas eram muito... Nós tínhamos a fábrica Poty obsoleta, nós estávamos construindo uma fábrica em Sergipe e estávamos construindo uma fábrica no Ceará - isso quando eu cheguei lá. Então eu vi o término da construção.
P/2 – Delas três?
R – Da Sergipe, do Ceará, a ampliação das fábricas Poty e também nós construímos a fábrica de cimento na Paraíba. Então existe uma outra fábrica também. E naquela época existia muita falta de dinheiro. Então era muito difícil você construir uma fábrica com pouco dinheiro. Tinha que se fazer muitos exercícios e quem nos ajudou muito foi a Sudene. Então nós tínhamos também participação na Sudene nas nossas empresas na época.
P/2 – Ela ajudou como? Como foi isso mais especificamente?
R – É o seguinte, na época a Votorantim de São Paulo mandava pouco dinheiro para o Nordeste, muito pouco.
P/2 – Por quê?
R – É, sempre apertava porque tinha outros interesses aqui no sul. Então foi um trabalho muito árido o do Doutor Clóvis Scripilliti, muito árido. Mas ele conseguiu, fizemos empresas, tendo certos lucros, e as empresas do Nordeste ficaram muito modernas.
P/2 – A Sudene investiu?
R – A Sudene era o seguinte: você deixava de pagar um X de imposto de renda e você então aplicava na Sudene e esse dinheiro revertia para as empresas do Nordeste. A Sudene foi extinta há vários... Há três anos atrás, mais ou menos, mas está agora para voltar outra vez.
P/2 – Aí conseguiram fazer as reformas?
R – É. Aí nós fizemos as fábricas da Votorantim Nordeste, quer dizer, todas as fábricas estão produzindo. Nós criamos várias empresas, se criou várias empresas e fecharam várias empresas.
P/2 – Como seriam as características desses abrir e fechar empresas?
R – Logicamente uma abertura de uma empresa quando ela passa a dar prejuízo, você não vê perspectiva, então você fecha. Então nós tínhamos lá no Nordeste duas usinas de açúcar - são as duas usinas do Senador José Ermírio de Moraes. Então quando não estava muito viável então a Votorantim colocou essas usinas à venda. Então foi vendida, primeiramente a Usina Tiúma foi incorporada na Usina São José. E um caso muito interessante é que a Usina Tiúma tinha 1600 empregados, e nós fechamos essa empresa e dispensamos 1600 empregados. A senhora pode ter uma ideia, não houve uma reclamação trabalhista. Eu mandei 1600 pessoas embora e não houve nenhuma reclamação trabalhista. Isto não existe no mundo. O que nós fizemos? Nós doamos a todos os funcionários que moravam nas casas, nós fizemos a doação de uma casa aos funcionários. Então todos os funcionários que trabalharam na Usina Tiúma ganharam a sua casa e sua indenização. Então nós fechamos essa usina, não houve um problema sequer. E todos os funcionários estão satisfeitos e moram nas suas casas.
P/2 – Moram na vila?
R – Moram, porque normalmente quando existe uma usina de açúcar existe a vila ao lado. Essa vila tem um clube, tem um campo de futebol, tem igreja. Então nós pegamos esta vila, nós entregamos, demos aos funcionários. E nós entregamos a igreja ao padre, e nós entregamos também, nós tínhamos um convento as freiras. E nós ficamos até hoje, nós temos lá ainda umas terras na usina que estão encerrando e nós ficamos só com o nosso clube. Então nós temos um clube, e este clube é cedido à comunidade. Clube que eu digo é um campo de futebol, é um espaço para dança, mas existe ainda.
P/2 – Essa fábrica de Tiúma foi fechada, vendida?
R – Não. Esta Usina Tiúma foi incorporada na Usina São José. Depois ela foi vendida a terceiros, à Usina São José. Hoje não é mais do Grupo.
P/2 – A usina de açúcar nunca se dedicou à produção de álcool?
R – Não, sim. É, quando nós falamos em usina, ela faz álcool e açúcar. Então nós fizemos… As usinas faziam álcool e faziam açúcar, e nós fazíamos muita exportação de álcool para o Japão. Fizemos muitas exportações.
P/1 – Senhor Henrique, o senhor falou muitas coisas interessantes e uma coisa que me chamou bastante a atenção foi que o senhor deu mais ou menos uma visão de como era o Nordeste, uma coisa muito incipiente. Como que foi todo esse processo de consolidação do Grupo Votorantim no Nordeste, que o senhor acompanhou muito de perto. E o mais interessante também foi que o senhor acabou passando por várias áreas, por várias empresas dentro do Nordeste. Como o senhor avalia, como foi o trabalho do senhor nesses anos?
R – Bom, a minha vida foi tudo Votorantim. Então logicamente nós chegamos no Nordeste, tinha poucas empresas e à medida que surgiam oportunidade de negócio nós criamos uma empresa. Por exemplo, eu fui sócio-fundador da Indaiá Transportes Ltda. O que essa Indaiá fazia? Essa Indaiá fazia todo o transporte de cimento das fábrica para as suas filiais e para os clientes. Então essa empresa fazia todo o transporte de cimento. Nós tínhamos uma base de mais ou menos quatrocentos caminhões, então toda essa empresa nós criamos. Nós fazíamos todo o transporte de cimento e eu era sócio-fundador, era sócio dessa empresa. Hoje não tenho mais ações, foram vendidas. Então nós fazíamos todo o transporte de cimento e depois posteriormente nós passamos também a fazer todo o transporte de matéria-prima das fábricas. Ou seja, das minas para as fábricas. Então essa empresa de transportes foi muito importante para a Votorantim. Ela teve muito lucro para a Votorantim. E logicamente que esses lucros foram investidos nas próprias fábricas de cimento. E depois foi encerrada as atividades e nós estamos encerrando ainda. E também eu fui sócio-fundador da Trevo Indústria e Comércio. Trevo Indústria e Comércio, hoje também não sou sócio mais, sou Diretor, as ações foram vendidas para a Votorantim, logicamente. E essa empresa fazia toda a comercialização de cimento do Grupo Votorantim. Nós tínhamos inúmeras filiais e esta empresa nós passamos também, como a Votorantim usava muito pneus, então para nós termos desconto nos pneus nós passamos também a vender pneus. Então essa empresa teve várias lojas de pneus no Brasil. E com isso daqui ela cresceu muito. Nós temos lojas de pneus em São José dos Campos, nós tínhamos uma loja muito grande aqui em São José dos Campos. No Estado de São Paulo, só São José dos Campos e nós tivemos aqui uma outra no Centro, esqueci o nome da rua agora, também uma outra loja de pneus. Isso fora, quer dizer, a linha Votorantim. Então nós tínhamos lojas de pneus na Bahia, nós tínhamos em Aracajú, tínhamos em São Luís, tínhamos no Pará, temos em Manaus, tínhamos em Fortaleza. Então essa era loja de pneus e também faziam toda a revenda, além de pneus nós vendíamos rolamentos industriais. Também éramos representantes. Então era uma empresa muito grande e ela contribuiu muito para a Votorantim, para o seu faturamento, para fazer essas fábricas de cimento. Depois ela passou a ser inviável - tudo muda. Então ela também foi encerrada as atividades.
P/1 – Essa prática dos funcionários, por exemplo, o senhor é funcionário da Votorantim e num determinado momento do desenvolvimento da carreira do senhor dentro do Grupo o senhor se torna parceiro na composição de empresas, como essa que o senhor está falando, da Indaiá, da Trevo. Isso é uma coisa que foi adaptada para o Nordeste ou é alguma coisa que...?
R – Não. No Grupo Votorantim nós não temos parceiros, não! Quando nós fizemos essas duas empresas pela minha dedicação, pelo meu trabalho, Doutor Clóvis Scripilliti me colocou como acionista. Eu tinha acho que dez por cento das quotas. Mas isso na Votorantim não é normal e mais tarde essas ações foram vendidas. Quer dizer, na Votorantim não é normal. Agora também, falar em lazer. Nós tivemos na Votorantim Nordeste - quando eu falo Votorantim é só Nordeste, aqui eu vivi muito pouco - um time de futebol de salão, então este time de futebol de salão foi o orgulho do Nordeste. Este time de futebol de salão nós fomos os campeões dez anos seguidos. É um time que cresceu na Votorantim e passou a ter o nome, a Votorantim passou a ser conhecida à classe mais baixa pelo time de futebol. Então nós viajávamos para todas as cidades do interior. O nosso time era ganhador, era o melhor do Nordeste e então quando você via perguntar naquelas cidades o que é Votorantim, ele fala: “É um time de futebol!” Ninguém sabia que era o que era. Então houve um trabalho muito bonito e esse time viajou pelo Brasil todo e foi... Nós não conseguimos ganhar o Campeonato Brasileiro por falta de uma certa experiência, mas ele foi muito importante para a Votorantim. Então foi dez anos, como eu era o Diretor-Presidente desse clube, então esse clube saía diariamente nos jornais, televisão, em rádio, fazia parte. E até hoje os melhores jogadores do Brasil de futebol de salão que estão atuando é Votorantim. Então vocês podem olhar...
P/2 – A contribuição.
R – Os melhores hoje, chama o Manoel Tobias, não sei se vocês conhecem, que é futebol de salão. Manoel Tobias é o melhor jogador do mundo e está em atividade ainda. Nós temos Fininho, que é Votorantim, que está em atividade. Nós temos jogadores na Rússia, nós temos jogadores na Espanha, nós temos na Inglaterra. Todos oriundos da Votorantim. Então a Votorantim fez uma escola. Ela pegou esses rapazes novos e cresceu. A Votorantim fez uma escola, foi uma fase muito boa. E logicamente essa fase nós iniciamos... O engraçado disso aí tudo, eu vou voltar um pouquinho mais atrás: por que começou esse time de futebol? Esse time de futebol, nós temos uma fábrica lá que chama Companhia Agro-Industrial Igarassu. Essa fábrica fazia cloro, soda cáustica, e naquela época se jogava alguma, já tinha assim, escapava, porque no cloro no rio... E o Doutor Antônio Ermírio de Moraes foi se candidatar a Governador aqui em São Paulo. Então foi lá uma equipe e foi fazer lá uma matéria muito ruim, muito ruim com o doutor Antônio Ermírio de Moraes. E fez uma matéria logicamente, não é ruim, muito... Deformação, coisas que não existia, entendeu? Então essa aqui, essa pessoa fez uma reportagem e esta reportagem não foi passar na televisão porque não deixaram e eu fiz uma outra reportagem mostrando que aquilo estava errado. Contratei um pessoal lá amador mesmo e fizemos. Então aí nós tínhamos um time de futebol na fábrica, aí eu falei: “Vamos então levar o nome da Votorantim”. Então esse time de futebol chamava Cloro Esporte Clube. E o nome de cloro parece que dava assim... Contaminação não era uma coisa bonita... Então eu mudei para Sociedade Esportiva Votorantim e jogamos esse time para Recife. Então aí que cresceu esse time. Aí por isso que o nome da Votorantim ficou muito conhecido nas cidades do Nordeste. E também porque o público que não vê muita televisão, não lê muito jornal, essas coisas, ficou conhecido. Então até hoje esse… O time também foi extinto, mas eu consegui todas essas taças, essas medalhas, elas estão guardadas nesta fábrica - a Companhia Agro-Industrial Igarassu.
P/2 – Agora que nós estamos falando em clube, futebol e tal, que é um trabalho dedicado à comunidade, e reverte também para a divulgação na Votorantim. Mas existem outros trabalhos semelhantes no Nordeste?
R – Ah, não resta dúvida! Não resta dúvida! É o que acontece, o Doutor Clóvis Scripilliti, o que ele queria que os funcionários dele tivessem estudos. Então ele sempre, por exemplo, quando nós tínhamos a usinas de açúcar nós tínhamos em cada usina mais de 25 escolas! Então essas escolas tinham também professores e todas essas escolas no campo eram pagas pela Votorantim. E nós também temos, em cada fábrica existe uma escola, um colégio. Então existe um colégio muito bom na Fábrica Poty em Paulista, que é Recife. Fábrica Poty existe um colégio muito bom, chama Núcleo Senador José Ermírio de Moraes, é uma das melhores da região, ela tem até o segundo grau completo. Nós temos também a escola em Sobral, que até outra fábrica, uma outra escola muito boa que é um grupo também, nós temos em Sergipe. Então a Votorantim sempre procurou dar estudo aos filhos dos funcionários. Então isso aqui era muito... E também, naquela época, a Votorantim, todos os cursos que você fazia ela pagava cinquenta por cento aos funcionários. Então todos os funcionários que trabalhavam na Votorantim recebiam cinquenta por cento também.
P/2 – Não entendi.
R – Todos os funcionários que iriam estudar à noite a Votorantim pagava cinquenta por cento do colégio.
P/2 – Ah, tá!
R – Naquela época. E também na época o Senador Ermírio de Moraes, muitos filhos de funcionários da Fábrica Poty ele mandava para um colégio em Garanhuns, que é um Estado do Nordeste, também um colégio interno, ele pagava também.
P/2 – Cinquenta por cento.
R – Não, naquela época, não. Ele mandava, não, no colégio, isso é um colégio interno, pagava cem por cento. Ele fazia isso também, então Doutor Moraes juntamente com Clóvis Scripilliti, eles sempre procuraram dar o máximo aos funcionários.
P/2 – E quanto isso é trabalho de comunidade, escolas… Retomando, antes do intervalo o senhor estava falando das escolas, de como a Votorantim ajuda os estudantes. Aí essa parte de Votorantim e comunidade, programas sociais, tudo mais. O que mais?
R – É. A Votorantim no Nordeste sempre preservou essa parte social dos empregados. Então em cada fábrica nós tínhamos sempre o clube, com festas, nós sempre tivemos um campo de futebol, então sempre, na época, existiam vilas. Cada fábrica existia uma vila de funcionários. Hoje com a parte moderna já não tem mais isso. Os funcionários vão à fábrica de ônibus, anteriormente não era assim. Os próprios funcionários moravam nas fábricas. Você tem, por exemplo, a Fábrica Poty, você tem a Vila Poty. Essa vila tem inúmeras casas, tinha o seu cinema, tinha o seu clube. Então todas as fábricas tinham o núcleo. Então funcionava, o gerente da fábrica, além da fábrica, ele tomava conta das vilas operárias - que hoje essa concepção não existe mais, hoje se faz uma fábrica e os ônibus transportam para as fábricas. Não é mais dessa forma. Então precisava uma parte social muito bem feita.
P/2 – E a Fundação? Então o senhor tinha dito, retomando as escolas e agora as vilas. Agora então falando sobre a Fundação...
R – É o seguinte, então o Doutor Clóvis Scripilliti sempre se preocupou com os funcionários, com seus funcionários. E então lá iniciou, Doutor Clóvis, pela parte social, pela pessoa boa, ele via o trabalho que as pessoas faziam, porque semanalmente, não, de quinze em quinze dias passava uma semana em Recife e era um trabalho muito árduo. Então para compensar isso aqui, essa parte, ele então fundou, fez a Fundação Senador José Ermírio de Moraes, da qual eu sou também Diretor-fundador. Então esta Fundação foi feita para dar estabilidade a todos os funcionários do Nordeste. Então na época foi constituída a Fundação cujos estatutos já previam a entrada de todos os funcionários do Grupo Votorantim do Brasil. Então iniciou-se essa Fundação no Nordeste. Hoje todos os funcionários do Nordeste tem a sua aposentadoria garantida. Vai ter uma vida um pouquinho melhor. Foi fundada em 1994, me parece, eu acho que foi em 1994 essa Fundação. Então isso aí deu uma garantia muito grande para os funcionários.
P/2 – Ela fica sediada no Nordeste?
R – A Fundação foi sediada no Nordeste, ficou vários anos no Nordeste. Logicamente essa Fundação também aqui em São Paulo, ela foi então aberta também para os funcionários de diversas empresas ou seguimentos. Ou seja, primeiro veio a de cimento, depois veio de papel, depois veio outras, eu acho também de alumínio, não sei! Mas então, logicamente quando a população aqui do sul ficou maior que o do Nordeste, então a Fundação foi transferida do Nordeste para São Paulo. Então hoje a Fundação Senador Ermírio de Moraes é sediada em São Paulo, por núcleos. Então hoje, também todos os funcionários aqui da parte de cimento também têm sua Fundação.
P/2 – Uma dúvida, o senhor teria dito, disse agora quando aqui ficou maior que o Nordeste...
R – Não, não! É o seguinte, não é que ficou maior que o Nordeste, logicamente como o Nordeste é menor você tinha um associado, quando o sul entrou, o número de associados do sul é muito maior do que o Nordeste. Então a Fundação foi transferida onde tem a maior população de...
P/2 – Mas foi criada lá?
R – Criada no Nordeste.
P/2 – Pois é.
R – Ela foi criada no Nordeste pelo Doutor Clóvis Scripilliti.
P/2 – E também essa AACD [Associação de Assistência à Criança Deficiente], o senhor pode falar sobre ela?
R – Ah, sim! Como nas famílias do Doutor Moraes, por exemplo, Doutor Antônio toma conta do Hospital Português, Doutor José era do Hospital do Câncer e o Doutor Clóvis Scripilliti era presidente da AACD de São Paulo. Então como o Doutor Clóvis tinha sempre um sonho de montar uma AACD em Recife, então logicamente por meu intermédio nós conseguimos uma doação de um terreno da Prefeitura. E também graças ao Teleton. Então foi constituída uma AACD em Recife. E a AACD em Recife chama-se Clóvis Scripiliti. E esta AACD tem, nós temos lá, nós atendemos 470 crianças por dia. Nós atendemos 470 crianças por dia e nós temos uma fila de espera de três mil pessoas. A tendência é cada vez aumentar. Mas é um trabalho muito bonito e eu sou o Diretor de Coordenação da AACD. Ela está funcionando já há quatro anos.
P/2 – E quanto ao meio ambiente, que ações a Votorantim toma no Nordeste?
R – Não, a Votorantim sempre preservou o meio ambiente. Nós temos duas fábricas que, por exemplo, a Companhia Agro-Indústria Igarassú, que antigamente foi feito um trabalho muito bom, hoje não existe nada que ataque o meio ambiente. Nós temos também a Nordesclor, que faz HTH, você conhece? HTH é para piscina...
P/2 – Ah, sim!
R - Toda a produção é para aqui também. É muito bem feita esta parte de meio ambiente. Não existe mais problema nas fábricas da Votorantim com meio ambiente.
P/2 – Em todo o Nordeste, o senhor quer dizer?
R – Em todo o Nordeste. Todo Nordeste.
P/2 – Ah, está certo! Agora o senhor estava explicando também essa coisa de diretoria por região e diretoria por fábrica.
R – Não, é o seguinte, anteriormente a diretoria da Votorantim era feita por região. Por exemplo, Doutor Clóvis Scripilliti era o diretor, na família ele era o representante do Nordeste. Então todas as fábricas existentes no Nordeste era de sua responsabilidade. E todos os diretores também do Nordeste eram responsáveis pelas suas fábricas, ou seja, lá nós tínhamos a fábrica de cimento, a usina de açúcar, nós tínhamos a companhia... Companhia Agro-Industrial Igarassu, que produz químicos, Nordesclor, que é produtos químicos, Cerâmica Bicopeba. Então não era por produtos, mas sim por região. Então quando nós falamos Nordeste, nós não falamos de seguimento. Hoje não é mais assim, hoje a Votorantim está dividida por seguimentos, ou seja, quando fala cimentos é o Brasil todo. Quando fala produtos químicos é um setor só de produtos químicos - hoje é por seguimentos. Antigamente não era dessa forma.
P/2 – Quer dizer, no seu caso, porque primeiro o senhor era da diretoria do Nordeste. Hoje como que fica a sua...?
R – Hoje eu sou aposentado pela Fundação Senador José Ermírio de Moraes. Então eu sou diretor de três empresas. Mas essas três empresas estão em extinção, então eu estou com, para mim, Agropecuária Tiúma, eu estou com Indaiá Transporte, e Trevo. Ou seja, essa Agropecuária nós estamos dividindo em fazendas. Eu estou em fim de linha, ou seja, à medida que eu encerrar essas três empresas, eu também saio da Votorantim (risos).
P/2 – Aí encerra sua carreira.
R – A minha carreira na Votorantim. Então eu acredito que mais um ano ou dois anos.
P/2 – Mas o senhor chegou a ser de segmento antes desse momento que o senhor está vivendo agora? Diretor de segmento?
R – Não, não. Isso aqui foi há dois, três anos atrás. Eu já tinha saído dessa área.
P/2 – Ou seja, quem é o Diretor de Cimento aqui, é no país inteiro?
R – Exato, no país inteiro.
P/2 – É aquele diretor.
R – Exatamente.
P/2 – Entendi.
P/1 – Senhor Silveira, qual seria na atualidade o grande produto da Votorantim no Nordeste, a grande empresa com perspectivas de crescimento na região?
R – Olha, no Nordeste nós temos... É o cimento. Nós temos no Nordeste três grandes fábricas, e como você sabe, o cimento no Nordeste é a matéria-prima que manda, então a Votorantim tem excelentes matérias-primas. Então o nome do cimento no Nordeste chama-se Poty. É um cimento muito forte, o nome é muito forte, então é muito conhecido na região. Quando uma pessoa vai comprar cimento, se tiver um cimento Poty ou cimento Nassau, que é de um outro, ele prefere Poty, porque o Poty tem mais nome. Então o Nordeste ainda, o cimento é o carro-chefe e eu acho que sempre será, porque tem excelentes jazidas. Estamos fazendo agora em Aracaju, por exemplo, um pólo de exportação de cimento. Isto também não começou ainda, mas acho que até o final do ano começa. Então o Nordeste para cimento, a matéria-prima é muito boa.
P/2 – Quer dizer, um pólo de exportação, não de fabricação.
R – De exportação em Aracaju. Fabrica e exporta.
P/2 – E também traz toda a outra fabricação por esse canal também?
R – Por esse canal também. Vai ser feito isso.
P/2 – Acaba sendo tudo encaminhado...
R – Então hoje em dia o forte do Nordeste será o cimento também. O que nós temos no Nordeste e poucas pessoas sabem, nós temos uma empresa chamada Nordesclor. Essa Nordesclor foi uma associação feita com Votorantim e com uma empresa americana. Então a Votorantim tem cinquenta por cento e a Arch cinquenta por cento. A Votorantim é responsável pelo comércio, pela produção e a Arch é responsável pela venda. Ela chama-se HTH, é um cloro para piscina, muito famoso nos Estados Unidos e aqui também. Então toda essa produção que é feita no Nordeste, oitenta por cento vem para o Sul e o resto, vinte por cento é do Nordeste. E também esta fábrica pega um subproduto da Companhia Agro-Indústria Igarassu, que faz o cloro. Então anteriormente quando a Companhia Agro-Indústria Igarassu tinha, não tinha Nordesclor, havia uma sobra de cloro, entendeu? E esse cloro podia dar contaminação para os rios. Então justamente foi feita esta fábrica associada com a empresa americana para acabar com esse problema do excesso de cloro da Companhia Agro-Indústria Igarassu.
P/2 – Agora eu queria um pouquinho mais de explicação, que o cimento lá é muito bom por causa das jazidas, como é? Explica um pouco melhor.
R – É o seguinte, o Senador José Ermírio de Moraes, formado Engenheiro de Minas, logicamente conhecia muito a região do Nordeste e lá no Nordeste nós sempre tivemos uma empresa de mineração. E essa empresa de mineração sempre foi com altos técnicos do Nordeste. Então essas empresas sempre trabalharam e sempre conseguiram as melhores jazidas do Nordeste. Então tendo as melhores jazidas, o cimento também é o melhor.
P/2 – E essas jazidas estão onde?
R – Em vários estados. Então nós temos uma empresa que antigamente chamava-se COPEM - Companhia Pernambucana de Mineração. Hoje essa empresa faz parte das próprias fábricas, então nós temos uma diretoria e essa empresa é uma empresa muito ativa. Então ela sempre conseguiu as melhores jazidas no Nordeste e por isso que o cimento ainda é o melhor.
P/1 – Eu gostaria de retomar uma coisa que ficou lá atrás e que acho importante, o senhor teve praticamente quase toda a sua vivência no Grupo Votorantim no Nordeste. Em algum momento da nossa entrevista o senhor falou que o Sul, São Paulo, o Sul nunca mandou nada para o Nordeste.
R – Não, eu vou explicar a vocês, é o seguinte, o senador... Eu falo muito no senador porque nós começamos, então o meu carro-chefe sempre foi o Senador Ermírio de Moraes e Doutor Clóvis Scripilliti. Essa foi a minha vida nesses 41 anos de Votorantim. Então o senador, para você ter uma ideia, ele não gostava, ele não admitia que você levasse pessoas de São Paulo para trabalhar no Nordeste. Então ele achava que o Nordeste era para o nordestino - e não você vir daqui para lá. Ele não admitia isso aqui. Ele sempre admitiu a mim porque eu era Votorantim, eu não era de São Paulo. Eu era Votorantim daqui que foi para a Votorantim de lá. Então o Senador José Ermírio de Moraes tinha esse bairrismo dele usar só pernambucano. E na época, ele, um homem de visão de uma forma, hoje a pessoa enxerga de outra forma, mas na época a visão dele era a seguinte: de forma alguma o dinheiro do Nordeste viria para o Sul. Ele achava que o dinheiro do Nordeste tinha que ficar lá! Agora, do Sul poderia mandar o dinheiro lá, você entende? Então essa era a visão do senador. Muitas vezes o Senador José Ermírio de Moraes chegava lá e precisava de um dinheiro, ele não tirava do caixa. Ele fazia um cheque e entregava ao caixa. Ele falava: “O dinheiro sai da minha conta em São Paulo, mas não sai do Nordeste!” Então ele era uma visão pernambucana, entendeu? Gostava daquilo, não é como é hoje. E ele gostava também dos funcionários de carreira. Então na época você tinha carreira, hoje já não se pensa mais dessa forma. Então lá era o seguinte: se a pessoa, por exemplo, era do Ceará, ele tinha que pegar no Ceará; se era de Pernambuco, era de Pernambuco; se era de Sergipe, era Sergipe. Ele não trazia gente de fora, e não jogava de um Estado para outro. Sempre ele conservava no mesmo Estado, essa era a política dele. Se isso é certo ou não, na época funcionava. Agora hoje já não é dessa forma, hoje não existe mais. Então se vocês pegarem doravante um funcionário de carreira como eu fui, você não existe mais. Porque para eles pegarem um diretor eles não vão pegar da empresa, pegam feito de algum lugar, traz de outro, paga mais, isso... Mas na época não era assim. Na época você tinha uma escadinha. A Votorantim, na época, aqui em São Paulo, você começava a trabalhar com quatorze anos de idade. Então todos os escritórios, você tinha, chamava-se boy as pessoas que trabalhavam. Quando ele atingia dezessete anos mais ou menos, bom, ele tinha que ser boy, mas tinha que estudar... Quando ele passava dos dezessete anos, dezoito, ele passava a ser funcionário. E você tinha uma carreira a cumprir na empresa. Hoje as novas empresas não são mais dessa forma. Hoje não é mais assim. Então eu acho que uma empresa, que uma pessoa como eu que começou com 22 anos e estou com 63 anos na Votorantim, isso não vai existir mais. Isso existia no Japão, nem no Japão está existindo mais. Então eu acho que eu sou dos últimos funcionários de carreira do Grupo Votorantim. Atualmente sou eu.
P/2 – E falando em carreira... Dentro dessa carreira tão bem sucedida e tão longa o que o senhor considera que sejam os valores que o senhor adotou da filosofia Votorantim, os valores da Votorantim em si, que estão expressos na empresa?
R – Olha, sempre que eu aprendi foi honestidade e trabalho. Eu acho que a pessoa com honestidade e trabalho, vence. E a pessoa também tem que fazer o que gosta, o que sente bem. Qualquer profissão, pela mais baixa que seja, você tem que sentir bem e fazer bem. E com a Votorantim sempre deu oportunidade para as pessoas que foram honestas e trabalhadoras. Logicamente ela teria que olhar o seu grau de estudo. Então cada função ela exigia a competência.
P/2 – E as principais dificuldades que o senhor encontrou, que o senhor possa se lembrar, que foi um pedaço difícil?
R – Bom, na época que eu fui para Recife, logicamente não é fácil você deixar São Paulo e você ir para Recife. Nós tínhamos uma imagem de Nordeste muito ruim naquela época. Hoje ainda tem, o pessoal não sabe – o paulista, a maior parte, não sabe o que é o Nordeste – mas naquela época, há 32 anos atrás era pior ainda. Todo mundo achava que aquilo era índio, que aquilo era muito pobre. Mas quando você chega no Nordeste você vê em proporção, hoje em dia se estuda mais em Recife do que se estuda em São Paulo. Hoje as pessoas estudam mais do que aqui, tem mais tempo. Agora, a minha vida no Nordeste foi difícil. Ela foi difícil porque eu fui só com o carro. Só tinha eu e meu carro, naquela época. Hoje você sai: “Eu vou morar na praia”. Naquela época ninguém pensava em praia, a pessoa morava no centro. Então eu fui num apartamentinho no centro, na Rua do Hospício, um apartamentinho mobiliado e dali eu cresci naquele apartamentinho. Quer dizer, saía de manhã, voltava à noite, mas foi muito trabalho e depois então eu comecei a estudar. Então eu não tinha muito tempo e naquela época se trabalhava no sábado também. Hoje não trabalha mais, então eu estudava, trabalhava o dia todo, à noite ia na Faculdade e ao sábado também nós trabalhávamos.
P/2 – O dia inteiro?
R – Não, até o meio-dia. Então foi uma vida de muito trabalho, mas muito bom, muita alegria.
P/2 – E como o senhor se distraía depois do trabalho, sábado e domingo, o que o senhor fazia lá no Recife?
R – Ah, você sabe, toda cidade de praia é bonita, então em Recife nós íamos para a praia. As praias mais bonitas no Nordeste são em Recife. A cidade de Recife é muito bonita. Então você tinha as praias de Porto de Galinha, você tinha a praia da própria fábrica, chama-se Maria Farinha... Então nós íamos conhecer as praias.
P/2 – Praia da fábrica? Explica melhor.
R – Não, a Fábrica Poty fica numa praia, e tem uma vila. E tem a vila dos técnicos que fica na praia. Então as pessoas, os técnicos, os gerentes, os engenheiros moram na praia. Moravam na praia, hoje não tem mais. Então eu ia nessas casas, passava o dia lá, era tudo muito bom.
P/2 – E hoje eles moram onde?
R – Não, hoje isso acabou. Então hoje essas vilas de operário e de técnicos, como fala, não existe mais.
P/2 – Moram onde quiserem.
R – Moram, mudou tudo.
P/2 – Agora, fazendo um comparativo assim entre a filosofia que regeu as atitudes empresariais do senador e a do Doutor Antônio Ermírio, existe um paralelo?
R – Tem, tem. Olha, todas as atitudes do Doutor Antônio Ermírio de Moraes com o senador são idênticas, idênticas.
P/2 – Quer dizer, existe uma filosofia que permeia a família?
R – A filosofia do Doutor Antônio com o senador são idênticas. E como o Doutor Clóvis também. Ele chamava o Doutor Moraes de pai. E também seguia a mesma cartilha.
P/2 – E os filhos do Doutor Antônio Ermírio?
R – Os filhos do Doutor Antônio Ermírio eu não tive muita convivência, porque como era a Votorantim por região, eu tive convivência com os filhos do Doutor Clóvis Scripilliti. Porque poucas vezes quando iam, iam à passeio. Mas com quem eu tenho mais convivência foi com os filhos do doutor Clóvis Scripilliti.
P/1 – Os filhos do Doutor Clóvis assumiram ou...
R – Sim, não... Hoje eles fazem parte por segmentos. Então os filhos do Doutor Clóvis, hoje, são responsáveis pela… Ele é o diretor, como se diz, da família, que coordena a família, de ações, o que seja, o patrimônio deve ser...
P/2 – E esse patrimônio está só dentro da família?
R – Sim, sim. As ações da Votorantim foram sempre ações familiares. Então todas as ações pertencem à própria Votorantim.
P/2 – Agora também falando de filosofia dos Ermírio de Moraes, existe, ainda dentro das empresas, uma cultura de valores? Existe um incentivo para continuar esses valores?
R – Olha, a Votorantim tem que procurar ter esses valores. Eu acho que ela trabalhando, porque como nós tínhamos lá... Eu sempre falo no Nordeste, eu não falo no Sul porque eu não sei. Como nós sempre tínhamos lá uma filosofia do Nordeste, hoje em dia as pessoas vêem muito de fora. Logicamente é um pouco mais difícil da pessoa, quer dizer, mudar uma filosofia antiga. Mas eu acho, eu acho ainda que a Votorantim deveria dar prioridade pro pessoal do Nordeste - que é mais fácil a adaptação, e tinha tudo mais fácil. Adaptação e é mais fácil de acertar também.
P/2 – O senhor já virou um nordestino ferrenho?
R – Não, não (risos). Eu sou nordestino e também eu quero falar para vocês que eu tenho a grande satisfação, eu sou Cidadão Pernambucano pela Câmara dos Vereadores de Recife e sou, Câmara Pernambucana pela Assembléia, fui eleito por unanimidade como Cidadão de Pernambuco. E também fui eleito por unanimidade como Cidadão de Recife. Então eu me sinto pernambucano e recifense.
P/2 – Com certeza.
R – Então eu acho que o Recife para mim é uma maravilha e eu defendo o Nordeste. E também lembrando vocês aqui, eu também tenho um título na Votorantim, eu tenho um título que chama Símbolo Honorífico Senador José Ermírio de Moraes. Eu acho que essa nova geração nem sabe que existe. Então esse título foi feito na Votorantim. Tinha lá uma norma, que eu nem sei se existe mais, essa norma foi feita para quem prestou bons serviços para a Votorantim. Então eu fui, eu tenho esse título.
P/2 – O senhor recebeu quando?
R – Olha, eu não sei se foi em 1994, 1996...
P/2 – Quem entregou para o senhor?
R – Quem me entregou foi o José Ermírio de Moraes Filho.
P/2 – Como foi essa cerimônia?
R – Ah, essa cerimônia foi muito, muito, muito gratificante. E as pessoas que recebiam isso aqui não era… Podia ser funcionários ou não funcionários. Não é um título para funcionários da Votorantim. Foi um título para quem fez alguma coisa para a Votorantim. Então eu me senti muito orgulhoso desse título. E eu recebi esse título também, na época recebeu o Senador Tuma, que na época não era Senador...
P/2 – Romeu Tuma?
R – Romeu Tuma.
P/2 – Recebeu?
R – Recebeu também esse título.
P/2 – Por quê?
R – Eu não sei, ele fez também, prestou serviço para a Votorantim, eu não sei qual. Mas ele também, na época que eu recebi, ele também recebeu esse...
P/2 – Que ano era esse, o senhor se lembra?
R – Eu tenho no meu currículo aí, mas eu não me lembro, não.
P/2 – Mais ou menos...
R – Não lembro, não.
P/2 – Bom, foram os anos 1970, 1960? Década...
R – Se nós olharmos aí, tem. Não lembro a época agora, não lembro.
P/2 – Não tem importância. Mas a cerimônia como foi, onde foi, como é que...?
R – Essa cerimônia foi, eu acho que foi na abertura, na Praça Ramos de Azevedo, no Salão Nobre do Hotel. Eu não sei se tem lá ainda, faz muito tempo que eu não vou lá. Pretendo ir agora nessa semana. Mas tinha uma Salão Nobre lá, onde segundo informações, na época, que casou o Senador José Ermírio de Moraes lá.
P/2 – Quem?
R – O Senador José Ermírio de Moraes casou lá.
P/2 – Casou lá.
R – Isso falam.
P/2 – No tempo que era Hotel...
R – No tempo que era Hotel. Então foi essa cerimônia que nós tivemos lá.
P/2 – Interessante. Mas acabaram... Não dão mais?
R – Olha, eu não vejo falar mais nesse título, não.
P/2 – Agora eu queria falar assim... Todo mundo sabe que a história do Grupo Votorantim caminha com a história do Brasil. Economia... Como o senhor vê isso? Esse paralelo entre a história econômica, um contribuindo para o outro, enfim, fases...
R – Olha, eu acho que, por exemplo, a Votorantim está correta porque ela tem uma empresa e essa empresa vai até quando tem condições de sobreviver - se não tem, ela fecha. Então no Brasil, hoje, não pode ter mais nada deficitário. Então eu acho que isso que a Votorantim fez de segmento é muito bom, porque as fábricas trocam muita experiência. O Sul com o Nordeste, com o Leste, quer dizer, isto é muito proveitoso. Mas eu acho que a Votorantim cresceu muito, ela colocou só agora em mãos de profissionais, que eu acho corretamente também. A família está no Conselho, que eu acho correto também, porque são outros tempos, porque cresceu demais. Então não era possível continuar a Votorantim sendo administrada por quatro pessoas, como eram no meu tempo. Então eu acho que a Votarantim está certo e o caminho está correto. A Votorantim também está partindo para o exterior, eu também acho que está correto. Então ela tem fábrica no exterior hoje em dia, também está correto. Ela tem, não pode ficar só no Brasil. Então ela já virou uma multinacional.
P/2 – Quer dizer, deixou de ter as características de uma empresa familiar.
R – Exatamente. Não é mais familiar hoje em dia.
P/2 – De que forma o senhor acha que ela está contribuindo para o crescimento econômico do país?
R – Olha, a Votorantim sempre contribui porque é uma empresa séria. E ela sempre... Os produtos dela são produtos básicos, então dificilmente a Votorantim vai cair algum dia porque ela está sempre na frente, com a administração na frente.
P/2 – Dentro da sua experiência da sua carreira, o senhor se lembra de alguma concorrência que foi muito difícil enfrentar?
R – Ah, sim, sim. Voltando outra vez na época das usinas: então o açúcar, como você sabe, ele sempre é pelo preço internacional, e sempre é manipulado por Cuba. O açúcar caía aqui, descia na África, o que seja, então o preço abaixava muito. Então nós estávamos lá em Recife numa situação muito difícil, a parte financeira. Então nós fomos fazer uma exportação de álcool. E para fazer álcool, na época, só a nossa empresa não teria condições de exportar. Então nós fizemos um pool de exportação. Nós, naquela época... Um trabalho muito bonito e nós tínhamos um diretor chamado Manoel Garcia, que é uma pessoa muito inteligente. Então ele fez esse pool de álcool com todas as empresas do Nordeste por vários anos. Então a Votorantim ganhou muito dinheiro e conseguiu, as usinas tinham um superávit graças às exportações de álcool. E o cimento, como você sabe, o cimento é uma matéria-prima que está na terra e não sofre muita oxidação, então não tem muito problema.
P/2 – É mais fácil? Agora, hoje em dia, como é seu dia a dia? Seu cotidiano de trabalho?
R – Ah, pois não! Bom, hoje meu dia está mais devagar. Então eu sou responsável pela... Eu estou fazendo encerramento da Trevo Indústria e Comércio Ltda, que tem muitas filiais. A coisa mais difícil é encerrar uma empresa, para abrir é muito fácil, mas para fechar é muito difícil. O encerramento da Trevo Indústria e Comércio e fechamento da Indaiá Transportes. E nós temos um remanescente de terras, que eram da Usina Tiúma, que eu estou negociando uma parte para o Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e a outra parte nós dividimos em pequenas fazendas. Então isso aqui nós estamos lançando agora em setembro essas vendas dessas terras. Então vendendo essas terras e o fechamento dessas empresas eu estarei fora.
P/2 – Mas essa negociação com o Incra como ela é pautada?
R – É o seguinte: no Nordeste, com as usinas, nós tínhamos muitas terras. Então eu fiz uma negociação com o Incra de ceder um "X" de terra para eles. Então eu estou vendendo essas terras para o Incra. Estamos fechando negociação e o restante nós estamos fazendo mini-fazendas.
P/2 – É venda, não é doação?
R – É. Não, não. Vendas.
P/2 – E seriam… Não são mais terras produtivas, é isso?
R – São todas terras produtivas.
P/2 - Ainda?
R – São todas terras produtivas.
P/2 – O que produzem?
R – Nós temos, uma parte é búfalo, nós temos gado nas terras.
P/2 – Certo, certo.
R – À medida que nós vamos vendendo, nós vamos vendendo também a parte de búfalo e gado.
P/2 – E estão concluídas essas negociações?
R – Eu acredito que mais um ano isso aí, no próximo ano eu acho que todas essas negociações estarão concluídas.
P/2 – E esse é o seu dia a dia hoje?
R – É, o dia a dia hoje.
P/2 – No Grupo. E na sua vida pessoal?
R – Ah bom, sim! Eu tenho lá em Recife, aqui vocês... Lá fala-se granja, aqui se fala sítio ou chácara. Então lá em Recife eu cultivo flores, jardins, eu tenho orquídeas, que estou participando também e... Isto tem uma chácara e essa chácara tem uma casa e tem uma parte de flores, jardins. Eu preservo uma mata, todos os anos planto muitas árvores. Umas quatrocentas, quinhentas árvores por ano eu planto. E dedico também à orquídea. E também tenho quatro casais de avestruz, e quero vender e não consigo (risos).
P/2 – Não? Dá muito trabalho criar avestruz, não dá lucro?
R – Dá muito prejuízo (risos). Não, não, a criação do avestruz... O Nordeste é o melhor lugar para se criar avestruz no Brasil, porque o clima é muito bom. Mas você tem que ter uma estrutura grande, você tem que ter um abatedouro. Então aqui no Sul também tem a criação de avestruz, grandes criações, mas o clima propício seria o Nordeste. Mas a minha é muito pequenininha...
P/2 – É na Zona da Mata?
R – Eu tenho na Zona da Mata, que chove mais, que não é bom lugar para avestruz. O lugar para avestruz é mais semi-árido. Então a minha vidinha sábado e domingo é nessa chácara. É plantar alguma coisa, cultivar flores, frutas, somente isso aí. É um lazer.
P/2 – Que é uma...
R – Terapia.
P/2 – É uma coisa muito boa. Nossa! É, eu vou encaminhar para o final. Você tem alguma pergunta?
P/1 – Ainda dentro desse contexto de avaliação. O senhor está há 41 anos no Grupo Votorantim, se eu não estou enganado. Qual foi o momento mais marcante para o senhor nesses 41 anos de empresa? O que o senhor se lembra que foi o...
R – Eu acho que o meu momento mais marcante da minha estada no Nordeste foi a criação da Fundação Senador José Ermírio de Moraes, porque é uma coisa que é almejada por todos. Hoje é moda se falar em aposentadoria, mas na época não era. Então na época, na Votorantim, você trabalhava, trabalhava, quando você saía normalmente saía um inimigo da Votorantim, porque você ganhava um salário "X", depois você era mandado embora, aposentava, ficava numa situação muito difícil. E depois dessa criação, a pessoa conseguiu essa aposentadoria, ele sai da Votorantim e continua Votorantim.
P/2 – Mas com o salário integral?
R – Não, não é salário integral.
P/2 – Nem tem uma complementação?
R – Não, não. A nossa Fundação é uma complementação de salário.
P/2 – Então...
R – Então você tem um "X" do INSS e você tem um "X" da Fundação.
P/2 – Que complementa e forma um salário normal.
R – Não, não. Não chega ao atual, mas chega perto. Então a pessoa tem condições de viver uma vida, uma velhice tranquila. Como vocês falam, empresas, então uma empresa vai indo mal, fecha, vende, isso muda, mas a Fundação não vai mudar nunca, porque existe um contrato, quer dizer, ela não cairá nunca. Então as pessoas que estão aposentadas elas terão até o final da sua vida a sua aposentadoria.
P/2 – E junto com a Fundação, existe alguma coisa feita para os aposentados, um lugar para se reunir que tenha atividades?
R – Não, não tem. Não tem, sabe por quê? Porque ela é muito dispersa. Uma fábrica num lugar, outra, é outra, e os funcionários não são num lugar só.
P/2 – Não existe um lugar de maior concentração?
R – Não, não. Não existe.
P/1 – Senhor Henrique, o senhor conviveu diretamente e durante toda a entrevista duas figuras marcaram muito, o Senador José Ermírio de Moraes e o senhor Clóvis Scripilliti. Qual é a melhor memória que o senhor tem deles? A melhor lembrança a que ficou dessa relação?
R – Olha, Doutor Clóvis era uma pessoa fabulosa. A memória do Doutor Clóvis, por exemplo, nós trabalhamos, para você ter uma ideia eu trabalhei com ele trinta... Ele morreu faz dois anos... Uns 29 anos. Ele diariamente ligava para mim. Então todos os dias às oito horas em ponto eu era obrigado a informar ao Doutor Clóvis a situação de todas as fábricas da Votorantim do Nordeste. Então na época você não tinha comunicação, você não tinha essa parte de computador, você não tinha nada disso aqui, era feito... As fábricas, nós tínhamos um sistema de rádio. Então os rádios tinham aqui e as fábricas passavam as produções, saídas, então eu diariamente pegava e passava para o Doutor Clóvis Scripilliti. Então isso daqui era diariamente, não existia férias, não existia nada, até quando ele estava no exterior passeando em viagem. Então era um homem que para mim marcou muito a minha vida... Tudo o que eu tenho eu devo ao Doutor Clóvis. Eu trabalhei muito, mas sou muito grato por ele, sabe? Porque é um homem que ele via a pessoa como ser humano. É um homem bravo, um homem estourado. Mas ele falava, daqui cinco minutos já não era mais aquele. Então ele não guardava rancor. Todo mundo gostava do Doutor Clóvis, está certo? Aonde ele ia - para você ter uma ideia, nós andávamos de avião, naquela época nós tínhamos um avião monomotor. Para você ter uma ideia, de Recife para o Ceará você demora quatro ou cinco horas, num aviãozinho com um motor só, eu, ele e um piloto só. Então o negócio era muito, era muita convivência, muito junto, então a gente sabia as dificuldades, sabia... Não é como hoje, um jatinho, não era assim. Então era um trabalho muito árduo. Então o Doutor Clóvis, o que eu tenho na vida, eu tenho graças ao Doutor Clóvis Scripilliti. Eu tenho um filho no exterior estudando, muita dificuldade, mas vai dar para ele se formar. Falta mais um ano, ele pretende se formar agora e fazer mais uma especialidade de mais um ano. Então tenho minha chacarazinha, tenho um apartamento - que eu moro na Avenida Boa Viagem, quem ajudou a comprar foi o Doutor Clóvis. E tenho minha aposentadoria. Então, graças a Deus, eu financeiramente, a minha situação é estável. Não sou rico, mas eu vivo uma vida tranquila.
P/2 – E você tinha perguntado também, eram duas pessoas.
R – Ah, o Senador José Ermírio de Moraes! Bom, o Senador era aquele homenzarrão, marcante. E o que eu gostava muito do Senador é o timbre de voz nordestino. Não sei se vocês conhecem.
P/2 – Ele tinha sotaque?
R – Sotaque nordestino. Você vê o Luiz Gonzaga, você conhece? Que é o maior cantador do nordeste. Então o Luiz Gonzaga sempre tem aquele sotaque nordestino e o Senador José Ermírio de Moraes um sotaque nordestino tremendo. Eu, por exemplo, estou lá há trinta anos e não peguei o sotaque... Algumas palavras somente. Mas o Senador tinha aquele sotaque pernambucano que eu não consegui pegar. O Senador era um homem muito bom. O que era gostoso do Senador era sempre a... Outra coisa, que ele sempre chegava, ele chegava muito cedo e saía cinco horas da tarde. Ele passava na minha sala e falava: “Quem não fez nada até cinco horas não faz mais nada!” Então ele exigia que a pessoa chegasse cedo e saísse cedo também. Mas era um homem muito fabuloso. Ele sempre ajudou. O que eu vejo era um homem para o Nordeste. Amava o Nordeste. Então isso que é a minha lembrança do Senador, até hoje é um homem fabuloso. E todos os que trabalharam com ele, todos estão numa situação boa. Quer dizer, se aposentou, ele não deixou neguinho na rua.
P/2 – A situação estável.
R – Estável. Estão todos estáveis.
P/2 – Agora o senhor sabe que está dando essa entrevista fazendo parte de um projeto que a Votorantim quer fazer sua história nessas 85 anos, um centro de referência, isto o senhor sabe?
R – Sei sim.
P/2 – E eu queria sua opinião a respeito.
R – Olha, eu acho que a Votorantim... Eu sempre guardei coisas antigas da Votorantim, mas muitas pessoas nunca acharam que isso valia a pena. Eu acho que esse museu é uma coisa maravilhosa. Eu acho que tem que preservar isso, essa imagem é muito boa. Eu também, lá em Recife, fiz isso numa residência, chamava-se Casa de Piedade. Então essa Casa de Piedade quem fez foi o Senador José Ermírio de Moraes, e ele fez na época que eles estavam em Brasília. Então essa casa hoje é mais ou menos no estilo de Brasília. E é uma casa que é antiga, mas parece moderna. E eu sempre achei que esta casa deveria ser transformada em museu da Votorantim no Nordeste, porque é uma casa muito grande, muito boa, ela não tem um valor comercial alto, porque fica perto de um aeroporto e nessa casa não pode construir prédios, só tem que ser casa. Então o valor comercial dela é baixo.
P/2 – Perto de que aeroporto?
R – Aeroporto de Recife mesmo.
P/2 – Guararapes.
R – De Guararapes. Então eu sempre achei que além dessa parte de Museu do Som eu acho que poderia, lá em Recife, ter um museu do Senador José Ermírio de Moraes na própria casa. Mas não seria somente um museu, mas um museu com certos trabalhos para a comunidade carente. Essa é a minha...
P/2 – O senhor já sugeriu isso ao Grupo, não?
R – Sugeri já, mas ainda até hoje não deram... E também eu sempre guardei uma locomotiva, você sabe...
P/2 – Fala das locomotivas.
R – Nós temos lá em Recife... Antigamente, o transporte de açúcar e de pedras para as fábricas eram puxadas por locomotivas. Então eu tenho lá duas locomotivas inglesas, reformadas e estão guardadas lá num depósito. E eu sempre achei que essas locomotivas tinham que ir para o museu. E houve inúmeras, vieram várias pessoas da Inglaterra para comprar essas locomotivas, na época o Doutor Clóvis nunca aceitou vender. Então eu acho que essas locomotivas deveriam fazer parte do acervo do museu. Então estão lá. Eu só pediria que se um dia pudesse fazer um museu nessa casa da residência Piedade.
P/2 – As locomotivas são de que data mais ou menos?
R – Ah, é mais de cinquenta anos atrás, sessenta anos atrás.
P/2 – E tem mais coisas além das locomotivas para poder fazer parte do acervo?
R – Olha, eu guardei... (risos). Eu guardei a sala do Senador José Ermírio de Moraes, está comigo.
P/2 – A sala?
R – A sala, que eu digo, o escritório.
P/2 – Sim.
R – Tenho a mesa dele, as cadeiras, o sofá. Isso aqui está guardado numa sala que eu também pretendo entregar ao museu. Eu guardei porque senão ninguém... Não olha valor nisso. Mas isso está guardado.
P/2 – Beleza.
R – Então a hora que o museu precisar de alguma coisa... E também eu dei para São Paulo, eu dei umas fotografias, uns álbuns, eu dei aqui também, que eu tinha lá. Mas eu acho isso um trabalho muito bom. Se vocês forem para Recife... Eu aprendi muita coisa, eu nunca imaginei... Duas moças que foram lá para descobrir o negócio do Senador Ermírio de Moraes, acho que eu aprendi muita coisa com elas também. Eu acho que isso é muito válido. Eu acho que a Votorantim está no caminho certo.
P/2 – E, particularmente, o que o senhor está achando de dar essa entrevista?
R – Olha, isso aqui, eu estou muito… Adorei. Isto aqui para mim é um desabafo para mostrar, porque ninguém nunca perguntou nada para mim... Eu ainda sempre falei: “Eu vou escrever um livro da Votorantim”. Mas devargazinho, é muita coisa. Mas eu acho que isso aqui é maravilhoso, isso gravado. Como eu acho que eu sou o último funcionário da Votorantim de Nordeste pode ser que eu seja aqui do Sul também, eu não sei, na ativa.
P/2 – Ah, na ativa. Agora dentro desse relato que o senhor fez, tem alguma coisa que faltou que o senhor gostaria de colocar, que estamos gravando ainda... Dessa memória que veio vindo, que o senhor foi lembrando... Talvez o senhor diga: “Ah, não falei tal coisa”. Tem alguma coisa?
R - Deixa eu ver... Acho que não! Acho que está mais ou menos.
P/2 – O senhor gostaria de deixar alguma mensagem para o Grupo nesse momento de resgate da memória de 85 anos? Alguma mensagem, algum recado...
R – É, eu fui no aniversário dos cinquenta anos da Votorantim...
P/2 – Onde foi?
R – Olha, eu tenho até em casa, devia trazer, eu tenho em casa, tenho o convite, até tenho o cardápio também desse aniversário. Eu não lembro onde foi. Eu sei que foi no Rotary Club.
P/2 – Em São Paulo.
R – É, em São Paulo. Mas eu não lembro onde foi.
P/2 – Mas como foi a festa?
R – É, eu guardei esse cardápio, porque eu achei... Então eu tenho lá as bebidas, tem a cerveja, tem as fotografias também, porque eu tenho as fotografias, por isso que eu sei. Mas uma festa muito bonita. Mas eu nunca achava que eu ia ficar, foi 35 anos, não, foi cinquenta anos... Eu nunca achava, eu nunca imaginava que ia chegar na outra festa de 85 (risos). Mas eu agradeço essa oportunidade, não é? E, quer dizer, que eu sempre trabalhei com a dona, depois entrou a Dona Maria Helena Moraes Scripilliti, foi uma mulher fabulosa, sempre me ajudou também. Eu devo muito à ela, Dona Maria Helena. E Doutor Antônio Ermírio de Moraes, o Doutor Ermírio, nós convivemos muito também... E nosso saudoso José Ermírio de Moraes Filho e Doutor Clóvis Scripilliti. Então fazem parte da minha vida. E eu também não sairei mais de Recife, eu acho que eu vou terminar meus dias em Recife. São Paulo para mim... Não tem mais porque eu vim para cá mais...
P/2 - Há muitos anos.
R – E a pessoa acostuma. E em Recife a gente vive uma vida mais tranquila, e eu desejo então que os funcionários da Votorantim tenham o mesmo sucesso que eu tive, porque foi gratificante. Foi muito trabalho, mas isso para mim sempre foi... Nunca foi problema. Eu sempre procurei fazer também como o senador - mais uma coisa, voltar com o senador - ele falava para mim: “Henrique, depois que eu sair daqui eu não levo um problema para casa”. Então ele saía dali, não levava um problema para casa e voltava. Isso eu aprendi com ele também. Quando eu saio da Votorantim eu simplesmente fecho, não levo problema nenhum. Então eu passo tranquilo. Eu sempre consegui fazer isso, que eu aprendi com ele também. Então para mim eu acho que esses executivos novos, que Deus ilumine, que tenham um pouquinho mais de paciência, que sejam mais humano, que eles vão vencer. E o senador sempre falava: “Você não pode falar ‘eu fiz’! Nós fazemos!” Então essa equipe, se trabalhar em conjunto, ela vai vencer! Agora se a pessoa trabalhar isolado dificilmente terá sucesso. Eu desejo aos executivos da Votorantim muito sucesso. Porque a Votorantim está no meu coração e sempre vai ficar.
P/2 – Mais alguma pergunta? Muito obrigada pela entrevista.
R – Está OK.
P/2 – Muito obrigada.
P/1 – Muito obrigado, o Grupo Votorantim e o Museu da pessoa agradecem sua presença nesse evento.
Recolher