P/1 – Então, senhor Branquinho, começa falando para a gente seu nome completo, local e data de seu nascimento.
R – Meu nome é José Antonio Branquinho, eu nasci em Franca, Franca é uma cidade que fica no norte do Estado de São Paulo, tradicionalmente produtora de sapatos, a data de meu nascimento é 23 de abril de 1943.
P/1 – E o nome de seus pais?
R – Meu pai chamava-se Antonio Nunes Branquinho e minha mãe chamava-se Benvinda Ferreira Branquinho.
P/1 – Onde eles nasceram?
R – Ambos nasceram em Franca também, nós somos todos francanos.
P/1 – O que eles faziam?
R – Meu pai era marceneiro e minha mãe era do lar, hoje não sei como que chama, antigamente chamava-se do lar, era dona de casa.
P/1 – E você nasceu no centro de Franca?
R – Na verdade eu nasci num distritozinho de Franca, muito próximo a Franca, mas aquela época era Franca, hoje é um município, mas como quem nasce na cidade e tem que ser registrado naquela cidade, eu nasci em Franca, num hospital, na Santa Casa de Misericórdia da época, e tive que ser registrado em Franca, embora eu nunca tenha morado em Franca, eu morei sempre nessa cidadezinha ao lado de Franca.
P/1 – Como ela chama-se?
R – Chama-se Cristais, é uma cidadezinha de uns quatrocentos a quinhentos habitantes mais ou menos, naquela época, hoje deve ter uns seiscentos.
P/1 – Como era o cotidiano dessa cidade?
R – Era muito simples, eram cidades que não tinham calçamentos de rua, não tinha água encanada, luz tinha, a vida social era muito restrita, alguma coisa em torno das igrejas, aquela época a igreja era um tipo de centro social dessas pequenas cidades, então quem não se agregasse a alguma coisa de igreja, não tinha vida social numa cidadezinha desse tipo, eu me lembro muito bem, no tempo não de criança, mas de mais adulto, um pouco mais adulto, a grande festa da gente era um bailinho que tinha todas as...
Continuar leituraP/1 – Então, senhor Branquinho, começa falando para a gente seu nome completo, local e data de seu nascimento.
R – Meu nome é José Antonio Branquinho, eu nasci em Franca, Franca é uma cidade que fica no norte do Estado de São Paulo, tradicionalmente produtora de sapatos, a data de meu nascimento é 23 de abril de 1943.
P/1 – E o nome de seus pais?
R – Meu pai chamava-se Antonio Nunes Branquinho e minha mãe chamava-se Benvinda Ferreira Branquinho.
P/1 – Onde eles nasceram?
R – Ambos nasceram em Franca também, nós somos todos francanos.
P/1 – O que eles faziam?
R – Meu pai era marceneiro e minha mãe era do lar, hoje não sei como que chama, antigamente chamava-se do lar, era dona de casa.
P/1 – E você nasceu no centro de Franca?
R – Na verdade eu nasci num distritozinho de Franca, muito próximo a Franca, mas aquela época era Franca, hoje é um município, mas como quem nasce na cidade e tem que ser registrado naquela cidade, eu nasci em Franca, num hospital, na Santa Casa de Misericórdia da época, e tive que ser registrado em Franca, embora eu nunca tenha morado em Franca, eu morei sempre nessa cidadezinha ao lado de Franca.
P/1 – Como ela chama-se?
R – Chama-se Cristais, é uma cidadezinha de uns quatrocentos a quinhentos habitantes mais ou menos, naquela época, hoje deve ter uns seiscentos.
P/1 – Como era o cotidiano dessa cidade?
R – Era muito simples, eram cidades que não tinham calçamentos de rua, não tinha água encanada, luz tinha, a vida social era muito restrita, alguma coisa em torno das igrejas, aquela época a igreja era um tipo de centro social dessas pequenas cidades, então quem não se agregasse a alguma coisa de igreja, não tinha vida social numa cidadezinha desse tipo, eu me lembro muito bem, no tempo não de criança, mas de mais adulto, um pouco mais adulto, a grande festa da gente era um bailinho que tinha todas as quintas-feiras, sexta e sábado tinha bailinho, todo dia na cidade, era alguém que fazia aniversário, era alguém que não fazia aniversário, mas que ia fazer, ou então alguém que já fez aniversário, alguém que não tinha motivo nenhum, mas achou que não tinha motivo nenhum de fazer festa então isso era motivo de fazer uma festinha também, e não ia muito longe disso não. O meu pai, embora ele fosse marceneiro, pouca cultura para a época, ele gostava muito de teatro, então ele se envolvia com aqueles teatros amadores na cidade e eu também, embora criança, me envolvia também, não como ator, não tinha nada a ver comigo ator, mas eu gostava muito de teatro, aliás é algo que eu gosto até hoje, quer dizer, eu acho que essa herança a gente ficou até o resto da vida.
P/1 – E você participou desses teatros?
R – Não, não participava não, era só ouvinte, e algo muito interessante eu até gosto de contar, o meu pai tinha uma visão de que a gente quando fosse estudar, mais tarde, teria que ter alguma forma de sustentação econômica, porque ele, num acidente tinha perdido o braço esquerdo, só tinha o braço direito, ele achava que ele não conseguiria formar os quatro filhos, então ele resolveu dar uma profissão paralela aos dois homens, a mim e ao meu irmão, eu sou músico, quer dizer, fui músico, eu vim para São Paulo, eu estudei música, eu vim para São Paulo, eu me sustentei aqui, na época de estudante, através de música, tive conjunto, toquei em orquestras, já fiz um monte de coisa em música.
P/2 – O que você tocava? Que instrumento?
R – Eu tocava saxofone e clarinete.
P/2 – Que bacana.
R – Só que eu encarava isso aí de uma forma bastante profissional, o dia em que eu não precisei mais tocar, como fonte de renda, eu fechei meu instrumento, guardei e nunca mais pus a mão nele.
P/2 – Que pena. Com que idade isso, Branquinho?
R – Eu fiz isso quando eu acabei de formar na faculdade, tinha 22, 23 anos.
P/2 – Tocou nas grandes bandas, nas jazz bands?
R – Não, nada disso, eu tocava nos conjuntinhos que se formavam aqui para aqueles bailinhos da Cidade Universitária, da escolinha de não sei onde, da escola de filosofia de não sei o quê, o curso de geologia, o curso de geografia, sempre tinha uns bailinhos naquela época, aqui em São Paulo, eu montei meu conjuntinho, a gente tocava ali e ganhava um dinheirinho que dava para sobreviver, e com isso eu estudei.
P/1 – Você começou os estudos na sua cidade?
R – Eu fiz Curso Primário em Cristais, Secundário em Franca, porque Cristais não tinha, só tinha o primário e depois eu fiz faculdade aqui em São Paulo.
P/1 – Quando você veio para São Paulo sua família veio também?
R – Não, só vim eu, a família ficou lá. Aquela época, a nossa faculdade nem era na Cidade Universitária era na Faculdade de Geologia que ficava na Alameda Glete, Alameda Glete fica ali perto do Palácio dos Campos Elíseos, era ali que era a escola, eu frequentei a escola ali, naquele lugar.
P/1 – Como você decidiu fazer Geologia?
R – Por acaso, foi um mero por acaso, eu, naquela época no interior a gente não conhecia São Paulo, eu nunca tinha vindo para São Paulo, existia uma historinha lá que quem saísse do Curso Científico e viesse fazer vestibular em São Paulo, ou então em outro lugar, estava perdendo seu tempo, teria que fazer um ano de cursinho obrigatoriamente que senão não entrava em faculdade nenhuma, e eu tinha essa visão, eu disse: "eu não vou, não vou nem me preocupar", terminei meu Curso Colegial, vou para São Paulo arrumar meu empreguinho lá, vou fazer meu cursinho depois vou prestar vestibular, não sabia nem para que eu ia prestar vestibular, mas aí tem um colega meu que veio a São Paulo, não sei porque razão, ele se inscreveu no vestibular para Geologia, e naquela época as coisas eram muito mais fáceis, aproveitou e me inscreveu também, então eu vim fazer o exame do vestibular e passei, daí já que passei, fiquei (risos), foi assim meu início, minha escolha profissional, foi com esse caráter.
P/2 – Você não tinha nem ideia? Você não tinha nada assim...
R – Eu tinha alguma visão de Engenharia, eu queria fazer alguma coisa vinculada a Engenharia, mas foi um mero acaso, eu não fiz a minha inscrição no vestibular, ele fez para mim, voltando a dizer, a minha inscrição, eu vim aqui, prestei o vestibular e entrei, já que eu entrei, eu vou experimentar isso, experimentei, entrei, gostei e fiquei, não tem nada de muito brilhante não.
P/1 – Como foi essa chegada sua aqui em São Paulo, já que você era do interior, uma rotina totalmente diferente?
R – Chegada em São Paulo, dia primeiro de janeiro de 1962, a data ficou marcada, aquela época não existia muito transporte rodoviário, o transporte era de trem, eu já tinha um colega que já morava aqui numa pensão em frente à Santa Casa de Misericórdia, que era lá na Rua Princesa Isabel, eu já estava fazendo cursinho no ano anterior, ele já morava ali, e eu entrei em contato com ele, ele me arrumou um lugar para ficar nessa pensão e eu cheguei de trem na Estação da Luz, que era o único transporte que existia na época, cheguei de trem, ele foi me esperar porque eu não sabia onde eu estava, me levou para pensão e aí foi essa a minha chegada em São Paulo, morei numa pensão, durante bom tempo.
P/1 – Com quantos anos você começou a trabalhar?
R – Trabalhar de que forma?
P/1 – Fora a música, sua área mesmo.
R – Como geólogo eu comecei a trabalhar aos 23 anos mesmo, me formei com 23 e comecei a trabalhar com 23.
P/1 – Aqui na Votorantim?
R – Aqui na Votorantim, eu entre aqui em 1967, no dia primeiro de abril de 1967, eu tinha 23 anos, não, espera aí, 23 não, deixa eu fazer a conta, nasci em 43, em 67, 24, ia fazer 24 anos.
P/2 – É se você entrou em primeiro de abril é no mesmo mês.
R – 23 dias depois eu fiz 24, é por aí.
P/1 – Como que foi essa entrada? Como o senhor ficou sabendo do trabalho?
R – Naquela época, em 66, os profissionais em geologia eram muito procurados porque quase não existiam, para vocês terem uma ideia, a minha turma de geólogos eram vinte pessoas e não se formou vinte, nós nos formamos em quinze, por aí, então existia muita demanda de geólogos e não existiam geólogos, então eu me lembro perfeitamente bem que eu tinha a opção de ir para a Petrobrás, eu tinha a opção de ir para uma empresa de mineração lá no Amapá, chamava-se Icomi, eu tinha uma opção de uma outra empresa que eu tinha feito estágio nela aqui no Sul de São Paulo, aqui no Vale do Ribeira, e a própria Votorantim também que, naquela época, as empresas mandavam um aviso para as escolas dizendo que existia uma vaga para tais profissionais, os tempos são outros, eu me interessei pela Votorantim porque na época era um empresa grande eu achava que eu teria melhores oportunidades dentro de um empresa grande. A Votorantim, nessa época, já era uma grande empresa, já tinha muitas fábricas de cimento, já tinha muitas áreas de pesquisas, e quem me contratou aqui foi o Doutor Ermírio Pereira de Moraes, quer dizer, ele que era, naquela época, não sei se vocês sabem, o Doutor Ermírio que é irmão do Doutor José, ele é geólogo, ele tem formação de geólogo nos Estados Unidos, então ele era, naquela época, a pessoa da empresa que era encarregada dessa área, era o diretor da área de pesquisa mineral, e eu fui direto conversar com ele, ele me contratou imediatamente dizendo que ele tinha uma vaga para trabalhar em Niquelândia e eu fui.
P/2 – Você falou uma coisa agora muito interessante agora, você tinha uma opção de ir para a Petrobrás, que era uma empresa em 67 com vinte anos, um pouco mais de vinte anos, que ela é de 53, olha que interessante, você faz a opção pela Votorantim.
R – É, eu tive a oportunidade de fazer.
P/2 – Mas deve ter te passado pela cabeça esse tipo de comparação, entre uma Petrobrás e uma Votorantim e as outras empresas que você citou.
R – Tive sim, eu sempre tive uma certa aversão pelas coisas públicas, funcionalismo público, não vou dizer que é aversão, mas nunca tive muita empolgação por serviços públicos, e a Petrobrás, especialmente, naquela época ainda era caracterizada como um serviço público, não era serviço público, mas tinha toda uma burocracia, todo um sistema de serviço público, isso não me agradava, naquela época também não me agradava.
P/2 – É interessante. Você vai para Niquelândia com 24 anos.
R – Feliz da vida.
P/2 – Feliz da vida? Mas é no meio do mato aquilo lá.
R – Mas com um espírito de aventura, um bom espírito de aventura, solteiro, não conhecia muita coisa do Brasil, tinha aquela vontade de conhecer, tinha esse espírito de aventura, já tinha ganho, não digo de aventura, mas de ir na frentes das coisas, eu já tinha ganho isso aí na própria escola que dava uma formação à gente com essa característica de “vai na frente”, eu vim a Niquelândia como um lugar que estava lá na frente.
P/2 – Quando você chegou lá, como era Niquelândia, não tinha nada?
R – Não tinha nada, a cidade de Niquelândia deveria ter uns dois mil habitantes, não tinha nem onde a gente ficar na cidade, a gente ficava lá num acampamento antigo que existia em Niquelândia, chamava-se Macedo, que era um acampamentozinho da empresa, que existe até hoje, a empresa preserva, a Níquel Tocantins preserva aquele acampamento antigo, de vez em quando eu dou uma passadinha por lá só para lembrar onde eu morei uns tempos, não tinha luz, não tinha água, era fim do mundo, a gente chamava aquilo lá de acampamento, não era nem vila, chamava acampamento mesmo, e de vez em quando, uma vez a cada dois meses, a gente vinha a São Paulo ou, às vezes, uma vez por mês, eu ia à Anápolis, que era a cidade mais próxima na época, porque Niquelândia mesmo era um cidadezinha muito pequena, não tinha nada.
P/2 – E quando o Doutor Ermírio te contratou, ele te deu as instruções, ele te fez alguma solicitação, ele fez alguma recomendação?
R – Vai para lá e se vire (risos).
P/2 – É mesmo?
R – “Vá para lá e se vire, você é geólogo, você se vira”. Eu fui lá para substituir um geólogo que tinha saído uns meses antes, então eu não tive professor não, a teoria falou: “Você é geólogo? Você se formou? Você conhece? Você formou, então você é geólogo, então você vai para lá”. E fui.
P/2 – Você foi para fazer pesquisa de minério?
R – Eu fui para fazer pesquisa mineral das áreas que estavam... Pesquisas geológicas das áreas que estavam em andamento já, uma pesquisa em andamento, curiosamente a primeira pesquisa que eu fiz, a primeira jazida que eu pesquisei lá de minério de níquel, está sendo lavrada hoje, entrou em lavra há uns três anos atrás.
P/2 – Por que demora bastante?
R – Porque tinha outras opções, coisas que foram feitas depois, entraram em larva primeiro, nem sempre se respeita uma ordem, não é porque pesquisou primeiro que vai lavrar primeiro, mas curiosamente...
P/1 – Isso tem a ver com o quê, com a questão econômica, estratégia?
R – Com estratégia da empresa, com localização, com qualidade, todo minério encontrado, com localização de onde você colocou a fábrica em relação às áreas que você pesquisou, tem várias situações que não significa que essa jazida que foi pesquisada agora vai ser lavrada agora não, é só uma curiosidade, a primeira jazida que eu pesquisei lá, tem lavra há três anos atrás.
P/2 – Você foi lá ver?
R – De vez em quando eu vou lá ver, não para ver, vou lá porque as pesquisas continuam lá em Niquelândia, não pararam, tem as coisas, é um modo contínuo, não para nunca, pesquisa geológica não para, ela sempre continua, de Niquelândia nós pesquisamos boa parte das áreas, naquela época até a década de setenta, fizemos um _____ de pesquisa, paramos um bom tempo, retomamos as pesquisas lá por volta de noventa e pouco, começamos a descobrir outros minerais ali em Niquelândia, no dia em que começamos, eu já era gerente, na época, desse setor, eu já tinha outros geólogos lá, descobrimos outros bens minerais, continuamos pesquisando e até hoje a gente pesquisa, não para, é uma fonte eterna de minério.
P/2 – Em Niquelândia como era o cotidiano, tinha telefone?
R – Que telefone! Não tinha nem luz. Não tinha água.
P/2 – Não tinha nem como se divertir, nada?
R – A cidadezinha de Niquelândia tinha os botequinhos, a gente acaba fazendo amizade com algumas pessoas, você vai jantar na casa de um, vai jantar na casa do outro, tem um casamento não sei lá onde, tem uma festinha de aniversário, a gente acaba se socializando na cidade também, embora pequena, forma um grupo de amigos, tem as namoradas, arruma alguma namorada.
P/2 – Você ficou lá quanto tempo?
R – Uma ano, um ano e pouquinho, não chegou a um ano e meio não.
P/2 – Eu só queria voltar uma coisinha aqui, que me ocorreu quando você estava falando, você participou de movimento estudantil? Porque você pegou uma fase meio...
R – Não, não peguei a fase do movimento estudantil, eu saí da faculdade em 66, os movimentos estudantis começaram em 68, eles são um pouco depois, tinha uns movimentos, mas muito incipientes ainda, não existiam, na minha época de faculdade não existia movimento, aquele movimento anti ditadura, as passeatas, isso eu já tinha saído da escola quando começou a acontecer.
P/2 – Você ficou um ano em Niquelândia e de lá você foi para onde?
R – De lá eu fui para o Sul da Bahia, fiquei quase um ano no Sul da Bahia, numa cidadezinha chamada Brumado, eu desenvolvi um projeto de pesquisa lá de um bem mineral chamado magnesita, utilizado em refratários, lá eu não fiquei assim efetivamente um ano, eu ficava lá uns quatro meses, voltava para São Paulo, ficava aqui, às vezes, um mês aqui, em outros serviços aqui no Grupo, para outros locais, voltava para lá, ficava mais dois, três meses, voltava para cá, ia para outro canto, mas a maior parte do tempo eu passava lá, em Brumado.
P/2 – Você estava contando essa pesquisa para a Ibar?
R – Eu estava fazendo essas pesquisas de magnesita para a Ibar lá em Brumado.
P/2 – E a Ibar? Descreve para a gente como era nessa época, em 68?
R – A Ibar era uma das empresas do Grupo que trabalhava na área de refratários, ela foi constituída para produzir tijolos refratários para os fornos de cimento para o Grupo Votorantim, essa é a origem da Ibar, fazer tijolo refratário que seriam usados nos fornos de cimentos ou nos fornos de gusa, na época da siderúrgica Barra Mansa, ou seja, ela foi feita para trabalhar para o Grupo Votorantim e ela, nesse campo de refratário, não se trabalha com um único bem mineral, os refratários exigem uma diversificação muito grande de insumos minerais, e isso, com a Ibar, dava muito problema porque você não tem escala de produção, você tem escala de produção de refratários, mas não dos bens minerais, era problemático para a Ibar nessa época, os custos eram altos, porque ela ia, por exemplo, produzir magnesita, uma empresa especializada em magnesita, que existia lá em Brumado também, que chamava até Magnesita mesmo, Magnesita S/A, produzia para o mercado, produziria lá quinhentas mil toneladas de (balcocitâneo?) lá, aí vai produzir para si mesmo cinquenta mil toneladas, então a escala era muito diferente. Então a Ibar tinha custos muito elevados, mas ela sobreviveu bem, ela trabalhava com muita qualidade, mas ao longo dos anos ela foi ficando para trás, quando ela resolveu entrar no mercado para vender refratários no mercado também, ela já entrou numa fase que os grandes já tinham tomado conta, eu sei que a Ibar acabou sendo vendida em 98 porque não valia mais a pena, ela não dava rentabilidade que o Grupo gostaria de ter.
P/2 – De lá você foi para o Sul?
R – De Brumado, a mais [de] quarenta [graus], eu fui para Pinheiro Machado, a menos quatro graus.
P/2 – Na área de cimento?
R – Na área de cimento, naquela época, nós estamos falando do ano de 1969, 67, 68, 69 para setenta por aí, eu me lembro perfeitamente bem que eu saí de Brumado a mais quarenta, devia ser por volta de junho ou julho, de 1969, eu saí a mais quarenta e cheguei em Pinheiro Machado a menos quatro de temperatura, e foi um belo choque, e nessa época...
P/2 – Você já tinha casado nessa época?
R – Não, ainda não. Nessa época, estava sendo planejada a construção de uma fábrica de cimento lá em Pinheiro Machado e eu fui para lá para desenvolver as pesquisas das jazidas de calcário que iriam abastecer a fábrica, eu fiquei lá por volta de um ano e pouco também, no mesmo esquema, eu ficava lá dois meses, três meses, depois eu voltava para São Paulo, ia para outro lugar, ia para a CBA fazer alguma coisa em alumínio, ia para a Votorantim mesmo, para outros serviços, entrou também uma fase de bom desenvolvimento de pesquisa, a Companhia Mineira de Metais que trabalhava com vazante, então eu já comecei a ampliar mais, a ter que atender mais coisas ao mesmo tempo.
P/2 – É o mesmo tipo de pesquisa?
R – Não, cada pesquisa é uma coisa diferente.
P/2 – Então, mas não é difícil então isso?
R – Não. Cabeça de geólogo tem que funcionar de ponta cabeça, de frente para trás, de trás para frente.
P/2 – Dá para contar assim, pelo menos, uma pequena diferença que seja entre o calcário para cimento, o níquel lá da Niquelândia, assim, falando para os leigos.
R – Falando para os leigos?
P/1 – Vamos lá. Primeiro você chega e tem que pegar uma amostrinha, é isso?
R – Vamos por etapas, numa pesquisa de calcário para cimento, nós temos que levar em consideração o quê? O cimento é um produto barato quando comparado com os outros metais, só um número hoje, a tonelada de cimento é cinquenta a sessenta dólares, a tonelada de alumínio é U$1400, U$1800, U$1900, começa por aí, o cimento não pode ter investimento muito alto, para não ter investimento muito alto, ele é um insumo, e os insumos para produção de cimento não podem ter alto custo senão fica inviável, então o minério para cimento tem que ter um baixo custo de produção, tudo bem. Então não pode ter uma mina sofisticada de alto custo de calcário para cimento, a pesquisa também, então também não pode ser algo muito sofisticado, tem que ser um negócio mais amplo, não pode ser muito detalhado e tem que ser geralmente coisas de superfícies, não pode, eu não imagino uma fábrica, uma mina de calcário, fazendo uma galeria com quinhentos metros de profundidade, então a fabricação de cimento também não exige que a qualidade dessas matérias primas não necessitam ser conhecidas com muito detalhe, então eu posso fazer uma pesquisa mais soft, agora quando eu vou para outros metais, por exemplo o níquel, eu vou citar um exemplo clássico, o teor de níquel, o teor de uma boa jazida de níquel, tipo Niquelândia, tem 1,5% de níquel, se eu errar de 1,5 para 1,3 meu erro é muito grande, então eu preciso muito mais precisão, o trabalho exige da gente muito mais precisão do que no caso de calcário, porque se eu tiver cinquenta por cento, 52% não vai fazer diferença nenhuma de carbonatos, veja bem, de 1,5 para 1,3 dá quinze por cento de diferença, quinze por cento é muito e, aparentemente, de 1,5 para 1,3 parece que é nada, mas é quinze por cento de diferença, meu erro é muito grande, aí a diferença está nesse critério, nesse grau de precisão.
P/ 2– Você pegou a informatização dessa área também, porque ela tem grandes novidades, não é?
R – Eu peguei, mas é bem mais recente.
P/ 2 – Bem mais recente. Foi fácil?
R – Eu comecei a trabalhar com aquela Facit que fazia cinco para frente, três para trás, aqueles manuais, manivelinhas que você jogava não sei quantas voltas para frente, três para trás, cinco para frente, aqui, quer dizer, comecei a trabalhar com isso aí.
P/2 – Aí depois pegou a mudança, e aí como foi, teve um impacto?
R – Não, essa mudança não aconteceu de um dia para o outro, ela foi sendo paulatina. Para você ter uma ideia, o primeiro PC do Grupo Votorantim foi meu.
P/ 2 – Que bacana.
R – Eu comprei. Foi uma briga para comprar o primeiro computador pessoal, por sinal era desse tamanho, era o CP quinhentos, era o primeiro computador pessoal, o Grupo já tinha, aqui no escritório, o CPD, Centro de Processamento de Dados, era uma sala que tinha aqui, precisava até tomar banho para entrar dentro dela, aquelas maquinonas enormes, e eu consegui aqui dentro do Grupo, comprar o primeiro PC, CP quinhentos para trabalhar lá na minha sala, eu me lembro perfeitamente bem que não existiam programas, então nós tivemos que desenvolver os programas, só que nós não tínhamos capacitação para isso, aquela época até existia um curso chamado Engenharia de Computação que era para desenvolver esses programas, eu bolei, eu desenvolvi aquilo que eu queria que o computador fizesse, só que eu não sabia transformar aquilo num programa, e tivemos que contratar alguns especialistas para transformar aquelas minhas ideias num programa, hoje isso aí você compra na farmácia, mas a transição foi isso aí, foi sendo devagarzinho.
P/ 2 – Mas facilitou muito o trabalho, não é, dos geólogos?
R – Eu acho que a maior evolução não foi aí ainda não, foi antes.
P/ 2 – Antes?
R – A maior evolução foi quando apareceu essas HP, as maquininhas HP, que faziam contas rapidinho, deixou de ser manual, passou a ser eletrônica, era impressionante porque você apertava duas teclas, três vezes quatro, igual... E aparecia no ato, enquanto a outra você fazia tic, tic, tic, tic, tic, tic, fazia não sei quantas operações para fazer a operação três vezes quatro, doze. Três vezes quatro é a conta mais simples, agora você imagina, três vezes quatro vezes cinco, você imagina, faz um monte de conta, quanto tempo você ficava, eu acho que a diferença de evolução foi mais forte quando saímos da mão ou então régua de cálculo, eu trabalhei muito com a régua de cálculo, acho que até hoje ninguém sabe o que é, você sabe o que é régua de cálculo?
P/2 – Eu sei.
R – Você sabe o que é régua de cálculo?
P/1 – Eu não.
P/2 – Ela não sabe.
R – Tinha uma régua de cálculo em casa, meus três filhos são engenheiros, eu tinha uma régua de cálculo guardada em casa, um belo dia eles descobriram lá em casa e me perguntaram o que era aquilo, os três são engenheiros, eles já eram engenheiros, o que era aquilo, eles não tinham a menor ideia, e eu já trabalhei muito tempo com régua de cálculo, mas eu acho que a evolução maior foi essa aí, a do computador já foi mais suave um pouco.
P/2 – Legal. Aí de Pinheiro Machado, mesmo trabalhando em outras empresas, para onde o senhor foi?
R – Pinheiro Machado foi uns setenta, por aí, aí eu comecei a trabalhar… Noventa eu vim para São Paulo, aí eu comecei a rodar esse Brasil afora para tudo quanto é lado, especialmente na área de cimento. A década de setenta foi a grande mudança no setor cimenteiro aqui da Votorantim e do Brasil inteiro, foi quando se saiu de um sistema de produção de cimento chamado de Via Úmida para um outro sistema chamado Via Seca, e junto com isso, apareceu o aumento de produção, o forno de cimento Via Úmida de grande porte produzia trezentas toneladas por dia, era um forno enorme, tinha 150 metros de comprimento, um forno de trezentas toneladas por dia, na década de setenta, no comecinho da década de setenta começou a aparecer os fornos Via Seca, o menor forno Via Seca produzia mil toneladas por dia, era bem mais curtinhos e produziam mil toneladas de cimento por dia, e a Votorantim começou a fazer todas as transformações de Via Úmida para Via Seca nos seus fornos e isso passou a exigir, em primeiro lugar, um maior volume de calcário para cimento, então aquelas jazidas que a gente tinha aqui, que a gente minerava um, dois, três, dez anos, você ia lá e parece que não tinha feito nada porque as produções eram pequenas, de um dia para o outro aquilo começou a ganhar volume, aí começou a primeira pergunta: “Será que nós temos realmente reservas suficientes para suportar um crescimento desse porte, passar de trezentos para mil, planejando para ir para dois mil, planejando para ir para dez mil toneladas?” e daí para fora, então isso aí começou na década de setenta, no comecinho de setenta, essa mudança, e foi uma época que nós implantamos dentro da Votorantim um programa violentíssimo de pesquisa para calcário através de equipamentos já mais sofisticados, sondas mais sofisticadas, exatamente para consolidar e, inclusive, até descobrir novas reservas de calcários suficientes para essas novas produções grandes, que começaram a aparecer, isso até a década de oitenta, então a década de setenta eu fiquei envolvido com cimento no Brasil inteiro, do Rio Grande do Sul até o Ceará.
P/2 – Onde você casou?
R – Eu casei em 72, no meio dessa bagunça, só que aí eu montei um outro esquema, a minha família nunca saiu de São Paulo, eu rodei para tudo quanto é lado, eles não, e nessa época também, isso até me favoreceu um pouco, essa década de setenta para oitenta, que eu andava para tanto lugar, que eu tinha que passar para São Paulo, São Paulo virou ponto de apoio, eu saía do Rio Grande do Sul e eu tinha que ir para Cantagalo, no Rio de Janeiro, aí eu passava em São Paulo, tinha que fazer um relatoriozinho aqui, passava e ficava aqui uma semana, três dias, uma semana, quinze dias aqui em São Paulo e ia para outro canto, ficava um mês lá em Cantagalo, depois mais quinze dias, daqui eu ia para Santa Catarina, Paraná, eu fiquei rodando, mas eu sempre mantive a minha família aqui em São Paulo, eu entendia que isso aí era importante, família não é para ficar cigana, cigano era eu.
P/2 – Por que você vai assumir a gerência em 75?
R – Em 75.
P/2 – Já existia o departamento?
R – Só que isso não significou, assumir a gerência não significava parar de viajar, quer dizer, a viagem continuava, é inerente a profissão viajar.
P/2 – Mas significava, de repente, um estilo de trabalho, não é?
R – É. Aí, quer dizer, em 75 eu passei a ficar mais tempo, um pouco mais de tempo aqui no escritório, um pouco mais, não muito, mas um pouco mais.
P/2 – Você coordenava uma equipe de geólogos?
P/1 – Eu coordenava uma equipe, naquela época, nós chegamos a ter só aqui na pesquisa de calcário, nós chegamos a ter 45 homens, foi o auge das pesquisas geológicas aqui, foi a década de setenta, combinado também com um aumento de pesquisa em níquel, somando tudo isso aí, talvez nós chegamos a ter 45 geólogos aqui, só trabalhando em pesquisa, eu passei a coordenar todo esse pessoal aí, em 75.
Em 74, por aí, a CBA começou um programa de pesquisa lá no Norte do Brasil, lá no Pará, as razões que levaram a CBA ir para lá são: existia uma previsão de que as jazidas da CBA de bauxita aqui de Poços de Caldas não suportariam os aumentos de produção que a CBA estava planejando fazer por um período, iriam acabar as reservas, e nós não víamos alternativas de novas reservas a não ser lá no Pará. Fomos para o Pará e desenvolvemos um projeto de pesquisa lá num lugar chamado Paragominas, eu também passei a chefiar esse programa na época, só que aí, numa escala menor de envolvimento, eu já tinha um subgerente que cuidava disso aqui, eu já tinha uma estrutura melhor, eu já tinha mais dois geólogos lá no Pará que cuidava do serviço de campo, então eu fiquei só com a parte de coordenação, e algumas viagens que eu fiz para lá, mas não tinha muito envolvimento assim, direto com o projeto não.
P/2 – Normalmente, como é que faz, a empresa, ela tem que comprar a área para você pesquisar ou você pode pesquisar antes de indicar a compra de uma área? Como funciona?
R – Tanto faz como tanto fez, existem as duas formatações, vamos partir do princípio das coisas, começar do começo.
P/2 – Não entendo nada disso.
R – As jazidas, os bens minerais são propriedades da União, ninguém é proprietário, nós não somos proprietários de nenhuma das nossas jazidas, os proprietários dessas jazidas são a União. A União concede o direito de pesquisar e depois, em se encontrando, o direito de extrair esses bens minerais, as empresas que se habilitem para tal, e tenham determinadas características, tem que ser empresa de mineração, tem que ter qualificação técnica, tem que ter condição econômica para fazer isso, e tem que ter mais alguma coisa importante, tem que chegar primeiro, existe nesse sistema todo algo chamado direito de prioridade, o primeiro que chegou, primeiro leva, então você não me viu falar na palavra proprietário de solo ainda?
P/2 – Não.
R – Ele não tem interferência nesse sistema, então o que acontece, nesse tipo de trabalho… A gente quando tem alguma informação, algum dado, alguma vistazinha da área, alguma informação qualquer de alguma jazida, de algum bem mineral que seja de interesse nosso, a primeira coisa que a gente faz é requerer isso para a gente.
P/2 – Independente de qualquer coisa?
R – Mapinha, mapa que você compra nas gráficas, mapa do IBGE, fotos aéreas que você compra em quem faz fotos aéreas, você usa de "N" mais um recurso e requer a área, você tem que ser o primeiro a chegar lá com esse requerimento, sendo assim, você começa a pesquisa, você chegou primeiro, você comprovou que chegou primeiro, requereu primeiro, então aquele direito passa a ser seu, aí você vai cuidar de executar a pesquisa, você vai cuidar de saber quem é o proprietário do solo, vai cuidar de fazer todas as infraestruturas, você não precisa comprar a terra do proprietário para isso.
P/2 – Então era isso o que eu ia te perguntar que de repente o cara não que vender, e daí? Você tem um direito de exploração?
R – O direito de exploração prevalece sobre os direitos de propriedade, evidentemente que para pesquisar e lavrar uma jazida, eu tenho que entrar na área de alguém, não dá pra entrar por baixo. Eu tenho duas formas de fazer isso, eu faço um acordo com o proprietário, eu faço três, ou eu faço um acordo com ele que ele me permite entrar, mediante algum acordo, ou eu compro dele, ou eu obtenho um ingresso judicial, eu vou sempre ganhar esse ingresso judicial, se eu não tiver um acordo com o proprietário do solo, eu vou sempre ganhar um ingresso judicial naquela área porque o direito mineral prevalece sobre o direito de propriedade.
P/2 – Você não precisa comprar…
R – Lei de Constituição do Brasil.
P/2 – Tudo bem, você não precisa comprar, mas é muito melhor quando você é dono do terreno.
R – Lógico, você evita toda uma confusão, agora quando o ingresso judicial, o juiz está ali não é para lhe dizer se vai entrar ou não, a ação vai para juízo, para definir o que você vai pagar de indenização pelos danos que você causar à propriedade daquele terceiro e qual a renda que ele deixará de ter em função de você estar na terra dele, esse é o sistema, a gente paga, não é o que o cara quer, ou é alguma coisa que você acorda com ele ou você paga algo que um juiz, que uma peritagem, definir como o correto.
P/ 2– Em geral as pessoas vendem ou não?
R – Depende muito, tem caso em que as pessoas vendem, tem caso em que as pessoas querem vender, e tem casos em que as pessoas não querem vender e num determinado momento elas tentam impedir o seu acesso a área, e tem casos onde as pessoas, os proprietários do solo, ficam brigando para você ir na terra deles, porque quando uma área tem lavra, existe também a lei, na Constituição Brasileira, quando você começa a explorar um bem mineral, você além de pagar ao proprietário do solo todo os danos, que a sua atividade vai acontecer na área dele, a renda que ele deixou de ter, porque você está ocupando a área dele, você ainda paga a ele uma espécie de royalty chamado participação do proprietário no resultado da lavra, esse valor, às vezes, é muito alto então atraí muito o proprietário do solo, nós temos casos aqui, na empresa, onde o proprietário do solo vive desesperado atrás da gente, para a gente ir lavrar na terra dele, ele dispensa até as indenizações de danos e dispensa as rendas por ocupação de terra, ele só quer o royalty, é uma fonte de renda, especialmente nessas áreas de bauxitas, é uma grande fonte de renda, para o proprietário do solo, a existência de uma mina dentro da propriedade dele.
P/2 – Você estava falando que você também fez pesquisa de zinco, não é isso?
R – De zinco em Vazante.
P/2 – Em Vazante? A Votorantim faz o melhor zinco do mundo, não é isso? O grau de pureza dele é um dos melhores?
R – Ela faz um zinco que está enquadrado entre um zinco de primeira classe, não é que ela faz o melhor zinco do mundo, ela faz o zinco que elas e outros fazem dentro de um nível de qualidade, que é o de melhor qualidade.
P/2 – Então era isso o que eu queria entender, isso tem a ver com...
R – Não.
P/2 – É com o processo?
R – É com o processo, não tem a ver com a mina não, tem a ver com o processo, o processo metalúrgico que gera nisso, independente do minério, depende da sua vontade, eu quero ter um processo metalúrgico assim, que vai me gerar esse tipo de zinco, só que isso vai me custar tanto, eu vou ter que fazer isso e isso para fazer aquilo, é um negócio líquido e certo, eu quero fazer o SHG, chama super high grade, é 9,99%, para fazer esse zinco eu tenho que querer, agora não é por acaso, eu tenho que querer e montar os meus equipamentos adequados para isso.
P/2 – Qual foi a pesquisa mais bacana que você fez, que gostou mais de fazer?
R – Onde eu me envolvi mais e gostei mais de trabalhar e os resultados mais gostosos e vi a coisa acontecer foi numa pesquisa de minério de alumínio aqui no interior de Minas Gerais, numa região chamada Cataguazes, que foi a virada da mesa da CBA, a CBA pode dizer: “Bom, eu agora posso crescer do jeito que eu quiser porque eu tenho o insumo mineral que eu preciso”, foi o que mais me empolgou, foi essa aí.
P/2 – Mas conta, então, com um pouco mais de detalhes, como você ficou sabendo, como você foi para lá?
R – Não, aí já não foi só eu, já foi uma equipe, eu comandei a equipe, mas a coisa começou, ali, isso tem uma história interessante, esses dias eu contei essa história para o Doutor Antonio, ele não conhecia o começo da história, ele deu tanta risada, mas ele deu tanta risada, que eu fiquei até sem graça. Uma pessoa lá da região, ele tinha uma pequena fábrica de sulfato de alumínio, sulfato de alumínio é usado em purificação de água, era um engenheiro químico até, ele tinha essa pequena fábrica lá e, por acaso, era um curioso, ele verificou que existiam algumas ocorrências desse minério, próprio para fazer sulfato, que chamava bauxita, ali na região, ele se envolveu com aquilo e começou a requerer algumas áreas para pesquisas disso e um belo momento ele viu que o negócio ficou grande para ele, existia mais minério, mais ainda ele trabalhava de forma meio rudimentar, ele olhava lá no morro, tinha um engenheiro lá: “Ah, deve ter uns ____ de minério aí.” “Mas isso aí é muito, essa fabricazinha é desse tamanhozinho, vamos procurar alguém para a gente desenvolver alguma coisa”. E ele procurou a CBA para tocar algum projeto maior com ele, nessa altura fui eu e um outro geólogo da CBA, também bem antigo, o Doutor Carlos Parisi, nós fomos ver as áreas, olhamos, ficamos uma semana lá. “Aqui tem tamanho, aqui é grande, vai dar alguma coisa importante”. E nós resolvemos adquirir os direitos minerais, a CBA, dessa pessoa, ela estava lá, até já morreu, chama-se José Simões Silva, e durante as negociações, aquele sonho do cara lá: “Ah, agora eu vou ficar bilionário.” Mas aí devagarzinho nós fomos trazendo a pessoa para a realidade: “Olha, não é assim, minério tem custo, não existia uma montanha cheia de minério, dá trabalho.” Estava até difícil da gente negociar com ele, ele estava sonhando muito alto, um belo dia, nós trouxemos ele aqui em São Paulo, eu me lembro perfeitamente bem disso, estava o Carlos Parisi e eu, então uma reunião com o Doutor Antonio de discussão de preço. O Doutor Antonio chegou para ele e disse o seguinte: “Você quer "X" reais por tonelada desse minério que a gente vier a descobrir nas suas áreas, eu vou te fazer uma outra proposta, eu vou te ofertar "Y", esse "Y" era mais ou menos a metade de "X", só que você vai levar dois milhões de dólares adiantados agora, é pegar ou largar.”.
P/1 – O homem teve um enfarte?
R – Bom, evidentemente, estava o Parisi aqui, eu aqui e o Simão aqui no meio, ele bambeou e tal, eu falei: “Vamos esperar um pouquinho.” Ele falou: “Aceito”. O detalhe de toda essa brincadeira que depois que o Doutor Antonio falou para ele: “Então você fica lá fora, fico com o pessoal, com o Parisi e o Branquinho, eu vou mandar fazer o cheque, fazer o recibo, formalizar um documentozinho de que você está recebendo isso aí, vai demorar uma meia hora, então você espera lá”. Ele esperou e na hora que ele recebeu esse dinheiro, esse cheque, ele saiu da sala e me perguntou: “Escuta, você me faz um favor, você me leva para o aeroporto?” Ele morava em Cataguazes, liga para minha família para me esperar lá no aeroporto no Rio de Janeiro, porque eu não sei onde eu estou, eu perdi o rumo, eu não sei onde eu estou, eu não sei quem eu sou, eu não sei para onde eu tenho que ir.” Com um cheque de dois milhões no bolso, eu tive que o levar no aeroporto, daqui a secretária aqui ligou para os parentes dele lá, para eles irem até o Rio de Janeiro para pegar o rapaz e levar para casa porque ele perdeu o rumo.
P/2 – Gente, não é para menos, não é?
R - (risos) Eu também teria perdido.
P/2 – E mesmo assim foi um bom negócio, porque ele ainda tem os direitos?
R – Não, ele vendeu para a gente.
P/2 – Não, não tinha a metade?
R – Ele queria "X" por tonelada de minério, nós ofertamos um "Y", que era a metade de "X", só que com esse adiantamento de dois milhões de dólares que ia ser descontada ao longo dos apagamentos, depois disso aí nós ainda requeremos para nós um conjunto muito grande de áreas e desenvolvemos todo um trabalho de pesquisa ali muito detalhado nessa região e descobrimos um reserva de bauxita de tamanho astronômico, a descoberta dessas jazidas fez com que nós abandonássemos aquele nosso projeto de Paragominas porque, embora as reservas de Paragominas fossem grandes, a situação da região ali que é mais complicado, é muito difícil você trazer minério de lá para cá, permitiu que se reduzisse a produção de minério em Poços de Caldas, e ganhamos vida com isso, permitiu que a CBA fizesse todo esse aumento de produção que ela fez, nessa época a CBA produzia sessenta mil toneladas de alumínio por ano, hoje ela produz 340, e a base chama-se Cataguazes, eu fiquei satisfeito em participar disso, evidentemente.
P/2 – Com certeza.
R – Eu fui uma das origens disso aí, isso aí me dá satisfação.
P/2 – Com certeza, muito orgulho mesmo. Branquinho, você falou; “Ah, na hora que estava meio assim, aí nós trouxemos o cara para falar com o Doutor Antonio.” Isso era comum, isso é comum, melhor dizendo, quando está meio, trazer para conversar com o Doutor Antonio, ou foi só esse caso?
R – Não é raro não, o Doutor Antonio gosta muito de participar ativamente de todas as... Especialmente no setor de alumínio, ele gosta muito de estar na frente das coisas, do lápis até a compra de um caminhão de transporte de minérios que custam alguns milhões ele gosta de estar ciente de tudo e de participar, ele sempre foi muito participativo, com uma grande vantagem, com decisões muito rápidas, o grande trunfo dele era esse, ainda é até hoje, ele decidia em trinta segundos, hoje você tem todo esse sistema aqui de decisões que vai para lá e vai para cá, analisa isso, analisa aquilo, analisa custos, analisa vantagens, analisa risco e aprova e desaprova, passa por um grau de aprovação, outro grau de aprovação e outro, e mais outro, alguém pede mais alguma informação e começa tudo de novo, típico de empresas de grande porte, isso não muito na Votorantim, mas ainda existe uma boa escada para se subir, exceto na área do Doutor Antonio, é sim ou não.
P/2 – Na hora?
R – Na hora. É muito rápido, mas traz algumas vantagens para a gente, de vez em quando a gente quebra a cara, de vez em quando coisas que a gente achou que seriam boas, ele diz não e morreu, ele diz não e acabou, e a gente está preocupado em que o negócio tem que sair rápido, e ele diz sim e pergunta por que não está sendo feito.
P/2 – O Doutor Ermírio continuou acompanhando vocês nas pesquisas?
R – O Doutor Ermírio que você está falando, não é?
P/2 – É, o Doutor Ermírio.
R – O Doutor Ermírio ficou uns bons tempos aí, ele acompanhava muito, mas aí depois ele passou a se dedicar mais a essa área, ele passou a se dedicar, numa determinada época, à produção de cal, numa cidadezinha chamada Itapeva, gostava muito disso aí, depois ele passou a cuidar mais dessa parte de fazendas do Grupo, mas como essa não é a minha área, eu perdi um pouco meu contato com ele, com o Doutor Ermírio, ao longo do tempo.
P/2 – Branquinho, você conheceu sua esposa onde? Em que lugar? Aqui em São Paulo mesmo?
R – Eu conheci minha esposa em algum baile de formatura, que ela foi e eu fui também.
P/2 – Começaram a namorar?
R – Começamos a conversar e a namorar e tal.
P/2 – E você contou para ela dessa vida que você tinha de viagens, e ela topou mesmo assim?
R – Ela é doida (risos), ela topou, contei sim, jogo aberto, eu fiz questão de mostrar o que eu era e o que eu continuaria a ser, mas topou, então...
P/2 – E vocês têm três filhos?
R – Temos três filhos.
P/2 – Três rapazes?
R – Não, dois rapazes e uma moça.
P/2 – E os três são engenheiros?
R – Os três são engenheiros.
P/2 – De que área?
R – O mais velho é engenheiro dessa área de eletrônica, mas não mexe com eletrônica, ele trabalha nessa área de implantação de sistemas de computação, ele é um consultor da ______, até hoje está bem de vida, é gerentão dessas coisas, a minha filha do meio é engenheira química, mas nunca engenheirou, entrou para essa área financeira e virou financista, virou financeira, ela trabalha nessa área de finanças, trabalha numa empresa, a Nextel, na área de finanças da Nextel, e o mais novo é agrônomo, esse aí está na profissão, trabalha numa fábrica de açúcar em Piracicaba, mora lá.
P/2 – E você acompanhou...
R – Os três são tranquilos.
P/2 – Que bom.
R – Graças a Deus.
P/2 – Você tem netos?
R – Tenho um neto.
P/2 – Um neto. Como chama o neto?
R – Lucas.
P/2 – Lucas? Que idade está?
R – Está com uns três meses.
P/2 – Pequetitinho o bebê, que gostoso. Você acompanhou essa formação da Votorantim Metais?
R – Acompanhei.
P/2 – Acompanhou. E como foi? Porque é uma unidade diferente, dá uma estrutura diferente, interferiu muito na tua área, melhorou, piorou?
R – Não interferiu não, a Votorantim Metais, eu sempre vivo catucando, agora está na moda falar catucar (risos).
P/2 – Que é uma expressão do interior, não é?
R – E é a correta.
P/2 – Que é correta.
R – Você já olhou no dicionário?
P/2 – Cutucar.
R – Aliás, não é nem catucar, é futucar, o que se está se fazendo aqui dentro desse Grupo, aqui hoje, essas junções, vão juntando as empresas, vão juntando não sei o quê, eu brinco muito aqui dentro, eu digo que nós estamos fazendo um negócio chamado a volta ao passado, a Votorantim já foi exatamente isso, só existiu uma empresa que se chamava S/A Indústrias Votorantim, ela era tudo, todas as decisões saíam da S/A Indústrias Votorantim, todos os projetos saíam da S/A Votorantim, todos os funcionários saíam da S/A Votorantim, você tinha as outras fábricas de cimento na época e as outras de alumínio que eram uma espécie de unidades, mas a centralização das decisões estava na S/A Indústrias Votorantim, numa primeira etapa, isso aí fez assim, unidade de negócio, unidade de cimento para cá, unidade de metal para cá, unidade química para outro lado, separou tudo, e depois começou, o negócio começou na Votorantim Cimento juntar as unidades de cimento, então passou a juntar, as fábricas de cimento começaram a se juntar dentro de determinados pacotes, a VM não é nada diferente disso aí no setor de metais, ela pegou aquilo que a Votorantim Cimentos já tinha feito no setor de cimento e trouxe para o metais, tentou juntar e está juntando até hoje, cimento, está juntando níquel, está juntando zinco, está juntando aço, eu vi isso aí, eu vi a união, o conjunto todo, vi a separação, e estou vendo agora a volta ao passado de novo, quer dizer, eu participei disso aí tudo, eu acho que é um bom negócio e que isso não é modismo não, mas é uma adaptação à situação presente, não vejo como, aliás, eu vejo o contrário, eu vejo de outra forma, que isso atende uma necessidade de momento, daqui a dez anos pode mudar tudo de novo para atender uma necessidade daquele momento, como a dez, quinze anos atrás essa separação deve ter atendido alguma necessidade tributária, societária, de momento, isso não muda muito, não muda o dia a dia da gente.
P/2 – Essa questão, já que você é bem ligado a essa questão da área de cimento, a internacionalização, como você vê isso? Essas empresas de cimento fora do Brasil?
R – Simples, curto e grosso: no negócio de cimento é mundial, muito globalizado, os grandes produtores de cimento são enormes, e eles foram centralizando tudo isso, foram comprando uns aos outros, foram juntando tudo isso aí, criando grandes organizações cimenteiras no mundo, existe uma espécie de um dogma no setor de cimentos que diz o seguinte: “Se você estiver entre os dez primeiros produtores mundiais, você é caçador, se você estiver abaixo dos dez, você vira caça dos de cima.” A Votorantim num determinado momento, num passado recente, ela chegou a nona produtor mundial, foi caindo, foi caindo, por quê? Porque não tem mercado interno, não adianta você produzir cimento, não se exporta cimento, o mercado interno foi caindo, foi caindo, a Votorantim foi diminuindo de tamanho em relação aos demais, chegou num momento que ela estava correndo o risco de virar caça no setor globalizado de cimento e não tinha como crescer aqui dentro, não adianta você fabricar cimento, se você não tiver quem compre o seu cimento nas imediações de onde você fabrica, não dá para você mandar cimento daqui, com raras exceções, não dá para mandar cimento daqui para a Europa, não dá nem para mandar do Rio Grande do Sul para cá, que dirá daqui para a Europa. Isso levou a Votorantim a ir para o exterior: “Já que não dá para crescer aqui dentro tem que crescer lá fora”. E ela aproveitou uma grande oportunidade que foi aquela fábrica no Canadá, a St. Mary's, onde a Lafarge que tinha comprado aquela fábrica a uns tempos atrás, estava sendo obrigada a vendê-la porque os canadenses estavam obrigando senão a Lafarge viria a ter um domínio maior de cimento naquela região, o CAD, o famoso CAD, o equivalente lá do Canadá, só permitiu que a Lafarge comprasse aquela fábrica de cimento ali, a Lafarge comprou porque ela tinha comprado um outro grupo mundial, a Blue Circle. Então a Blue Circle tinha essa fábrica no Canadá, então os canadenses permitiram que ela comprasse e ficasse com essa fábrica também desde que depois ela repassasse, ela tinha que vender, é o caso da Ambev aqui que teve que vender, como é que chama? Acho que é Skol, teve que vender uma das fábricas, algo semelhante a isso aí, e a Votorantim, evidentemente, foi o candidato certo, na hora certa de comprar a fábrica certa, no momento certo, e gostou, comprou primeiro, gostou, depois apareceu essa fábrica também aqui da Flórida, já que está no negócio, agora é só tocar em frente, foi essa a minha visão da entrada da Votorantim no mercado mundial de cimento.
P/2 – Você acompanhou a venda de cimento lá para Itaipu também?
R – Não, venda de cimento não.
P/2 – Não assim, claro, mas você soube que foi vendido cimento para Itaipu para construção, e aí eu ia te perguntar se tem alguma pesquisa específica ou não, ou é a mesma coisa.
R – Não.
P/2 – Também é processo?
R – É processo também, o cimento de Itaipu é um cimento especial, foi produzido um cimento especial, o cimento tem muitos… A grande mudança de cimento comum para cimento especial ocorre depois do cimento pronto, são os aditivos que você coloca no cimento, mas o cimento já está pronto, é só colocar, aditivar A, B, C ou D, aí você produz o cimento especial para isso ou cimento especial para aquilo ou para outra coisa qualquer, é igual a essas argamassas, argamassa é areia e cimento, basicamente é a areia e cimento que faz o volume, agora o que faz a qualidade e faz ela servir para isso, para aquilo, para diversas unidades são os aditivos químicos que você põe, a argamassa está pronta é só o aditivo químico depois para poder diversificar os usos, os cimentos especiais têm muito a ver com esses aditivos também.
P/2 – Queria te perguntar o que mais mudou, nesse tempo todo teu de trabalho, quase quarenta anos.
R – Mudou, mudou muita coisa.
P/2 – O que mais mudou?
R – Mudou o tempo, mudou a forma de dirigir, mudou o time das coisas, mudou as necessidades da empresa, mudou o tempo que nos é concedido, que nos é dado para executar alguma coisa, foi tudo apertando cada vez mais, mudou o grau de precisão que se exige da gente num trabalho, mudou tanta coisa, pelo amor de Deus. Sempre vai apertando mais.
P/2 – Atualmente vocês estão pesquisando, dá para contar alguns lugares que vocês estão desenvolvendo? Eu sei que você disse que é uma coisa que não para, mas...
R – Olha, o setor de pesquisa mineral não é muito aberto, a gente não fala muito sobre os resultados.
P/2 – Certo, agora você viajou tanto, não tem histórias para contar para a gente, causos engraçados, pitorescos?
R – Você sabe que na Bahia, terra e uso de água são coisas distintas e vendidas separadas? Às vezes você tem um rio passando na sua propriedade, você não tem direito de usá-lo, é um causo que eu vi na Bahia, a terra é uma coisa, o uso da água do riozinho que passa naquela propriedade é outra escritura, é outro direito em separado, você compra um, vende o outro, compra o direito de uso de água que não passa nem dentro da sua propriedade e aluga para outro, são as curiosidades dessa vida.
P/2 – É assim até hoje lá?
R – Eu não sei se é assim até hoje, mas até recentemente era... Não tenho muito causo a contar, não sou ligado aos causos.
P/2 – Não aconteceu nada mais pitoresco com você?
R – De pitoresco? Deve ter acontecido sim, mas acho que não gravei não, provavelmente não tenha gravado, deve ter acontecido muita coisa estranha, muita coisa pitoresca, engraçada. Eu me lembro de um belo susto que eu passei, eu me lembro muito bem, quando eu estava trabalhando em Niquelândia, ao mesmo tempo em que eu trabalhava em Niquelândia eu também estava dando apoio a um trabalho que vinha sendo executado numa fábrica de cimento que estava sendo construída ali perto de Anápolis, do Grupo também, um lugar chamado Cocalzinho, e um belo dia me chamaram lá de Niquelândia, naquele tempo “chamar” significava pegar um recado, pôr no ônibus, dava para o motorista do ônibus e ele entregava para você lá, o sistema de comunicação era esse, me pediram para ir lá até em Cocalzinho, para ver um negócio de uma jazida, alguma coisa lá - eu não me lembro direito mais - e a cidadezinha de Cocalzinho eram aquelas vilazinhas de beira de estrada, devia ter lá umas trinta casas que ficavam ao lado de onde ia se montar a fábrica, eu me lembro de ter chegado lá, na hora que eu encostei num bar, que era o ponto de encontro da gente ali, que eu fui entrar no bar caiu uma pessoa bem em cima de mim, tinha havido uma briga, e o cara caiu com a barriga de fora assim e as tripas tudo para fora (risos), essa aí é uma das imagens que ficou, quer dizer, bem cruel, mas foi uma das que permaneceu.
P/2 – Doutor Estelita diz que lá era o faroeste.
R – O Estelita trabalhou alguns anos antes que eu lá em Niquelândia, era o advogado ali, quer dizer, e ali era terrível, era muito perigosa... Eu não lembro muito caso não.
P/2 – Vamos falar da lição, a grande lição desse tempo todo de Votorantim que você tirou para a sua vida.
R – Vivi, já é um bom ganho, não me arrependo de nada que fiz, se tivesse que fazer tudo de novo, faria tudo de novo, gostei da Votorantim tanto é que fiquei, estou chegando num momento de aposentar, estou indo feliz, e acho que cumpri minha parte.
P/2 – E sobre o Projeto Memória, o que você acha?
R – Eu acho que, desde que eu não seja colocado fisicamente dentro do museu da memória, eu acho um negócio fenomenal, acho espetacular, acho que é uma das grandes coisas que a Votorantim vem fazendo recentemente, e mais que isso, eu acho que isso aí é uma das grandes mudanças, esse Projeto Memória é uma das grandes mudanças que aconteceram na Votorantim nos últimos tempos, nós estamos passando daquela empresa que era só produzir, produzir, produzir, para uma empresa que tenha uma visão mais ampla e mais social, de coisas sociais, o Instituto Votorantim, com toda essas iniciativas da empresa em mostrar a sua imagem, antigamente não tinha, talvez não existisse essa necessidade de ter uma imagem, hoje essa preocupação com a imagem me diz e me mostra mudanças na empresa, e o Museu muito mais.
P/2 – E que eu você achou de dar a entrevista?
R – Eu achei gostoso.
P/2 – É bom, não é?
R – E por que não? Eu sou falante, sempre fui falante (risos), nunca fui de esconder as coisas não, sempre gostei de falar, não sou mineiro, mas sou quase... Então eu gosto muito de causos, gosto muito de conversar, eu converso com quase todo mundo, gostei muito daqui.
P/2 – Muito bom, então, Branquinho, muito obrigada pela entrevista, por ter dedicado esse seu tempo ao Projeto.
R – Está bom, eu agradeço.
P/2 – Obrigada.
R – Agradeço a oportunidade e agradeço a escolha também, não sei quem é que me indicou, mas agradeço também, seja lá quem for, eu agradeço a escolha.
P/2 – Está bom, obrigada.
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