Memórias do Comércio da Cidade do Rio de Janeiro
Depoimento de Irany Ferreira
Entrevistado por Carlos Kessel e Paula Ribeiro
Rio de Janeiro, 22/07/2003
Realização: Museu da Pessoa
Entrevista número: MCRJ_HV037
Transcrito por Maria da Conceição Amaral da Silva
Revisado por Luiza Gallo Favareto
P/1 – Irany, boa noite. Obrigada por ter comparecido. Eu gostaria que você começasse me dizendo o nome completo, onde você nasceu, sua data de nascimento e a cidade de nascimento.
R – Meu nome é Irany Domiciano. Nascido aqui no Rio de Janeiro na antiga Favela da Praia do Pinto. E dali me mudei para a Cruzada São Sebastião.
P/1 – Qual é a tua data de nascimento?
R – 17/10/1960.
P/1 – Conhece um pouco a história do seu nome? Esse segundo nome aí, é um nome bonito.
R – Qual?
P/1 – O da…
R – O Ferreira.
P/1 – O Damace…
P/2 - Domiciano.
R – Domiciano é parte de pai. E a parte Ferreira também, parte do homem. O homem ele pega sempre a parte mais do pai. E a mulher pega a parte da mãe.
P/1 – Como é o nome dos seus pais?
R – Nerindo Domiciano Ferreira.
P/1 – E da sua mãe?
R – Maria do Carmo Rosa Ferreira, leva um pedaço do nome do meu pai. Ferreira.
P/1 – Você conhece a origem deles? Eles são cariocas?
R – Meu pai é carioca.
P/1 – E sua mãe?
R – A minha mãe eu não lembro, mas acho que ela é, não estou lembrado. Eu não me ligo muito em ver essas coisas. Então eu não…
P/2 - O senhor sabe quem foi que escolheu o seu nome, se foi o seu pai ou a sua mãe?
R – Minha mãe.
P/1 – Tinha algum motivo, tinha alguém que ela curtia? Queria homenagear?
R – Não, porque na minha família foi Irany, Alany, Irene, Ailton, Homero, Sandra e Rosangela.
P/1 – São os irmãos?
R – Uma escadinha.
P/1 – (risos) Ah, é? Você é o aonde? Mais velho, mais novo, do meio?
R – Sou o caçula dos homens.
P/1 – E avós? Você conheceu avós? Lembra deles? Conheceu a sua avó ou o seu avô?
R – Conheci.
P/1 – Qual deles você conheceu?
R – O meu avô se chamava Ieié. Foi o único que conheci. Mais ninguém.
P/1 – Ele era parte do seu pai ou da sua mãe?
R – Meu pai.
P/1 – Quais são suas lembranças do avô Ieié?
R – Muito boa. Ele tinha um sítio, tinha plantações, tinha criações. Eu curtia essas criações que ele tinha. Essas plantação que ele tinha quando ele era vivo.
P/1 – Onde era, Irany?
R – Jacarepaguá.
P/1 – Ah, é? Vocês iam muito ao sítio dos avós?
R – Não. Eu era pequeno, não me lembro muita coisa. Quer dizer, só isso.
P/1 – Você tem memória desse período que vocês moravam na Favela do Pinto? Conta para a gente onde era a Favela do Pinto? Quais são suas memórias de infância daquele lugar?
R – A Favela do Pinto era ali em frente a décima quarta DP, hoje em dia se chama de Selva de Pedra, fizeram um conjunto residencial grande lá. Aqueles prédios monstruosos que estão lá.
P/1 – No Leblon, né?
R – É, no Leblon. Ali, ao lado do Pinto, quando botaram fogo, aquilo não pegou fogo. Disseram que pegou fogo, mas botaram fogo. Ali meu pai tinha comprado uma casa na Cruzada São Sebastião e fui morar lá. E lá eu estou até hoje.
P/2 - Você tem lembranças desse incêndio? Do dia mesmo do…
R – Não tenho muita lembrança porque eu era criança. Me lembro um pouco. Mas eu era criança, não posso falar muita coisa…
P/2 - Sei. E era ali a Praia do Pinto mesmo, tinha esse nome porque era na beira da Lagoa, né? Acho que era praia.
R – É, porque a Praia do Pinto tinha aquela favela, beirando o canal tinha o Expressinha.
P/1 – Tinha o quê?
R – Um Posto Médico. Chama o Expressinha, entendeu?
P/1 – Não conhecia.
R – É, tinha um Posto Médico e dali tinha um Minhocão que era mais em cima onde consultava o pessoal. Então aqui, além do Miguel Couto tinha mais duas junta médica ali perto. Acabaram com tudo. E agora nós só temos mesmo o Miguel Couto e o Minhocão.
P/1 – Mas assim, quais são suas memórias de criança na Favela do Pinto? Como era? Como era a vizinhança? Quem eram os seus vizinhos? Você sabe? Você lembra disso?
R – Não lembro.
P/1 – Vocês brincavam de quê ali?
R – Não, ali em si não podia brincar muito, porque era muito peralta, muita barulheira, muito tiro. Muita, muito bagulho. A minha infância ali foi mais bola de gude, pião.
P/1 – Ah é, pião.
R – Entendeu? Bater na porta dos outros. Tocar campainha.
P/2 - E sair correndo (risos).
R – Quebrar a escola.
P/1 – Como todo mundo, né? (risos) Trimmm.
R – É. E rapa fora.
P/1 – E rapa fora (risos). pião.
R – É, pião.
P/1 – Ali na rua mesmo?
R – Minha maior infância: pião, bola de gude, pipas.
P/1 – Pipa? Soltava pipa onde? Ali?
R – Lá mesmo. Tinha espaço.
P/1 – Vocês faziam as pipas?
R – A gente fazia. Tanto fazia como a gente comprava nas barraquinhas vizinhas, que tinha.
P/1 – Dentro da própria favela?
R – É dentro.
P/1 – Tinha algum mercadinho?
R – Tinha.
P/1 – Como era venda de, na Favela do Pinto? Você lembra? O que vendia nessa vendinha, nessa birosca?
R – Tipo uma birosca. A birosca tinha tudo. Tinha coca-cola, cerveja, pirulito, bala, doce. Tudo em geral.
P/2 - Tudo misturado.
R – Papéis higiênico, arroz. Sempre que faltava uma coisinha a gente corria lá e apanhava.
P/2 - E, tipo assim, vendia a saca ou vendia até quantidades pequenas?
R – A varejo. Não, a varejo. A saca ou a varejo. A gente comprava sempre um quilinho. Podia comprar meio quilo. Nessa época até o mercado vendia, hoje em dia só vende tudo ensacado, é, saquinho de quilo.
P/2 – Ah, então vendia miúdo.
R – É, vendia quantidade.
P/1 – A granel.
R – É, a granel. A granel.
P/1 – Mas por exemplo, o que a sua mãe e seus pais precisavam comprar que compravam no bairro do Leblon, por exemplo, que não se abastecia lá na venda da favela? Você se lembra?
R – Na época, na época do meu pai – que Deus o ponha em um bom lugar – eu como criança eu nunca precisei de nada, porque meu pai era mestre-de-obras. Ele comprava saco fechado, comprava coisas na fartura. Nunca precisou, do que eu me lembre, não. Às vezes a gente ia na barraquinha comprar uma coca-cola, um refrigerante. Comprava por lá, mas que faltasse, eu lembro que meu pai nunca deixou faltar nada dentro de casa.
P/2 - E ele trabalhava ali por perto mesmo?
R – Não.
P/2 - Não. Trabalhava longe?
R – Trabalhava longe.
P/1 – Onde é que tinha obra nessa época na cidade?
R – É só aqui mesmo no Centro da cidade. Voluntários da Pátria, Copacabana. Estava tudo em obra.
P/2 - E nessa coisa de brincadeira de criança vocês brincavam também na Lagoa? Pescavam, tinha barquinho, alguma coisa assim?
R – Não, a gente pescava.
P/2 - Pescava.
R – Pescava. Tanto é que até hoje de vez em quando eu pesco. Pesco siri, pesco tainha, às vezes dá camarão também. E camarão do bom. Siri do bom e tainhas boas. Dá robalo e corvina.
P/1 – Ah, não. Na Lagoa? Jura?
R – Juro.
P/1 – Caramba, puxa.
R – Robalo é o peixe de qualidade mais caro que tem. Lá a gente pega muito, inclusive hoje estava dando o quê? Foi siri. Siri, o graúdo, vermelho.
P/2 - Isso tudo, quer dizer, era no canal mesmo ou na Lagoa? Porque dependendo da maré tem essa coisa.
R – O canal, não, a Lagoa é um órgão que recebe água de rede fluvial. E ali ela desemboca na praia. Direto pelo canal. A criação dali vai saindo pelo canal onde o pessoal faz, desfruta de cada coisa que sai. Tanto do siri, camarão, as tainhas e os peixe que está.
P/1 – Quer dizer, do mar entra ali para o canal?
R – Entra. O mar entra no canal. Quando o mar está baixo a onda sai de volta.
P/1 – O que mudou na sua opinião, de quando você era criança para hoje em termos de peixe, de Lagoa, de canal.
R – Não, o que mudou para mim…
P/1 – A água está mais suja, está mais alta, está mais baixa, tem mais areia menos areia.
R – Não. O que mudou de peixe é que agora eu posso ser dono de mim mesmo. Eu tenho a minha própria tarrafa.
P/2 - Ah.
R – Quando eu quero vou lá, pego os peixes. Antigamente dependia de terceiros.
P/2 - Entendi.
R – E lá o ninguém dá nada para ninguém. Cada um que pescava. No caso contrário tem que comprar.
P/2 - E muitos dos seus vizinhos, na época, quando o senhor era criança, pescavam também? Era uma coisa que todo mundo fazia de tarrafa na Lagoa?
R – Tinha muito, tem vizinho que pescava. Hoje em dia até um bocado deles são morto. Mas tinha, meu irmão principalmente, eu me lembro até hoje, pescava. Tanto pescava como fazia tarrafa.
P/2 - Fazia tarrafa também?
R – Fazia tarrafa, pescava. O vizinho de cima, o do lado. Todo mundo sempre tinha um jogo de cintura para pegar um peixinho. Porque não podia viver só de mercado, né? (risos)
P/1 – (risos) Não, o interessante é que isso é uma coisa típica de uma cidade como o Rio, que tem mar, tem canal. Faz parte quase da cultura do carioca. E você era morador do Leblon, né? Mas assim, voltando ainda um pouco a questão da Favela do Pinto, as meninas, havia uma diferença de educação? As meninas também brincavam? Como era a educação da menina e do menino, era diferente?
R – Não, bem diferente. Menina separado dos meninos. Não tem negócio de misturar. Entre os irmãos os meninos misturava. Mas se não fosse irmão não tem negócio de coleguinha, não. Menina com menina, menino com menino.
P/1 – Mas por exemplo, suas irmãs tinham que ajudar em casa? Vocês cozinhavam como, naquela época?
R – Não, gás de bujão.
P/1 – Tinha gás?
R – Tinha gás.
P/1 – E as suas irmãs tinham que cozinhar em casa, ajudar em casa? Como era?
R – Era, sempre ajuda. Quando um trabalhava o outro fazia o dever da casa, lavava uma roupa, limpava uma casa. E assim sucessivamente.
P/2 - E nadar? Você nadava ali no mar de frente?
R – Ah, cansei de nadar aquilo ali.
P/2 - Aprendeu a nadar ali em frente?
R – Aprendi a nadar e agora desaprendi a nadar de novo.
P/2 - Desaprendeu?
P/1 – Mentira (risos) não é possível.
R – Nada o suficiente só (risos) para não morrer afogado, mas não tem aquela resistência mais.
P/1 – (risos) Ah bom, isso é que mudou, foi a resistência. A resistência que mudou.
R – Quer dizer nadar, antigamente, eu era que nem peixe. Eu nadava, entrava ali e saia. Agora não está assim. A gente se mergulhar evita até de entrar naquela água lá agora. Porque inclusive muita gente fala que aquela água ali é poluída. Não é poluída, não é poluída porque o seguinte, aquilo é rede fluvial. Eles não sabem distinguir uma água poluída para aquilo ali. Aquilo lá tem várias saídas de redes fluviais. Inclusive, eu até admito que tenha, pode ter alguma boca de lobo, algum esgoto que possa jogar ali. Mas não…
P/1 – Onde que você está falando?
R – No canal mesmo. No canal, mas alguma coisinha que escapa. Mas o esgoto em si não joga ali. Nós temos o esgoto separado que é da Sedai, porque o esgoto mesmo é ali no mangue, aqui na Leopoldina. Porque passa ali o cheiro, é insuportável, você vê. Do jeito que a Zona Sul está agora, tão chata, uma coisinha que fede ali ele liga logo para o presidente. O presidente vai lá. quebrou um pedacinho de rua, eles ligam: “Ah, está quebrada a rua.” Eles vão lá e consertam. O pessoal de Zona Sul são muito comodista. Eles não gostam de nada fedorento. Antigamente tinha mortandade. Quando morre um peixinho liga para a Comlurb, liga para o César Maia, liga para o nosso presidente mandar tirar, resolver aquilo. E é isso aí que de vez em quando prejudica o nosso canal, porque fica aquele cheiro de quando eles tiram um peixe ou dois que morrem. E também o esgoto que fica lá. Aquele canal fechado. Dá de vez em quando o mau cheiro, mas não é da água.
P/1 – No canal do Jardim de Alá?
R – Porque o mar em si toda hora ele entra e sai. A água está sempre renovando. Não tem como aquela água ficar podre. Quer dizer, o peixe, eu como o peixe de lá, faço filé daquele peixe de lá, o peixe é sadio. Eu não posso falar.
P/1 – Você falou das mortandade. Na Lagoa sempre teve aquelas mortandades de peixe ou…
R – Teve, mas na época das mortandade dali eu ainda era menor.
P/1 – Pois é. Era antiga.
R – Não acompanhava muito aquilo não, mas sempre teve a mortandade. O canal fecha porque o mar bota água. Faz um barranco na frente, fechou, a água não sai. Esquenta a água, o lodo sobe. O lodo em si é a respiração do peixe, e faz a oxigenação da água. Não tendo isso normalmente vai ter que morrer peixe.
P/1 – Irany, agora em termos de escola, vocês frequentavam escola? Tinha primário, era onde? Existia…
R – Não, minha escola tinha, até hoje tem, é Escola dos Santos Anjo e tem a George Pfisterer.
P/1 – Ah.
R – Eu estudei um bom tempo nos Santos Anjo.
P/1 – Onde é?
R – Lá mesmo, na Cruzada São Sebastião. E depois eu fiz o ginásio no (Jorge Fischer?). E do lado do canal tem a escola do (Henrique Dosa?). As três escolas que eu já frequentei. E eu só parei o meu estudo nessa época porque eu tive que trabalhar para ajudar minha família.
P/1 – Você sabe me dizer quantos anos você tinha quando você foi para a Cruzada São Sebastião?
R – É, faz tempo. Eu já tinha meus dez anos, dez anos não, menos. Com nove anos. Nove anos porque eu lembro que eu era o boleiro de clube.
P/1 – Ah, que legal. Qual clube?
R – Trabalhei no Clube Monte Líbano, trabalhei no Caiçara.
P/2 - Tudo ali em volta, né?
R – ABB. E no Paissandu.
P/1 – O que é ser boleiro?
R – Boleiro é aquele... Os tenistas jogam bola. A gente vai lá, recolhe aquelas bolinha e devolve nas mãos deles, para eles não terem que parar o jogo e jogar. É tipo no futebol, eles só jogam, só chutam, só sabem chutar.
P/2 - (risos) Pegar…
R – (risos) Não sabem onde vai a bola. Sempre tem outra bola perto para ele jogar. É. O boleiro vai e pega a bola para eles. É isso aí.
P/1 – Ali, de reserva.
P/1 – Mas você foi boleiro dos clubes ainda estudando ou…
R – Estudando.
P/1 – Você estudando. Como era essa vida de trabalhar…
R – Não, antes…
P/1 – Como é? Você ganhava? Lembra quanto você ganhava, mais ou menos? Dava para o quê, o que você ganhava? Como que era?
R – Ah, dava só para ajudar uma coisinha de casa, porque eu de manhã eu corria, trabalhei um pouco na padaria. Da padaria eu entrava no clube mais tarde, porque o boleiro de clube tem dois turnos, tem um turno da manhã e o turno da tarde. Aí eu pegava de manhã, quando eu não pegava de manhã eu pegava a tarde. Eu tinha as minhas atividade. Eu ia da escola, chegava em casa, botava o macacão e ia para o clube.
P/1 – Macacão? Que macacão que…
R – A gente botava um macacão azul (risos) que distinguia se a gente era um boleiro do clube.
P/2 – Você jogava também no intervalo entre um jogo e outro? Tinha…
R – Eu cheguei a jogar, mas não sou tão bom nisso, não. Porque aquilo tem que ter munheca, porque dá muito problema na munheca.
P/1 – E assim, quanto tempo você ficou trabalhando como boleiro? Como que era?
R – Ah, foram uns cinco anos, seis anos só nesse negócio de boleiro. De um clube passava para o outro. Um mandava embora eu passava para o outro. Passava do Paissandu para o ABB. Do ABB para o Caiçara. E assim a gente ficava sempre…
P/2 - Tudo vizinho, né?
R – É. Do lado lá.
P/1 – É interessante isso. Porque a tua vida era toda ali.
R – Toda ali.
P/1 – Jardim de Alá e aquele cantinho ali do Leblon.
R – Perfeitamente. Tudo ali.
P/1 – Escola, trabalho, morar, pescar.
R – Escola, trabalho, tudo ali.
P/1 – E curtição de juventude? O que era? Você passeava, tinha música, tinha negócio de baile, dança? O que…
R – Não, tinha um baile.
P/1 – Pois é, como era o baile?
R – Geralmente a gente fazia o baile.
P/1 – Ah é?
R – Cada um tinha ali vitrola, tinha amplificadores. E a gente fazia nossa discoteca. Eu ia muito no Sport Club da Gávea, lá tem um clube maravilhoso. E na própria Escola Santos Anjo o final de semana a gente fazia baile lá. A gente não. Os pessoal alugava e fazia o baile. E cada um que entrava cobrava, pagava um dinheirinho para entrar no baile. E aí que rendeu um lucrozinho. Dava para ajudar também nas escola, e manutenção em geral.
P/1 – No baile, quais eram as músicas que você ouvia? Era mais funk, no tempo do Tony Tornado, James Brown. Esses tipos de cantores. Depois é que mudou um pouquinho. Surgiu agora o negócio de funk, é…
P/1 – Mudou muito, né?
R – Mudou. São funk e charme.
P/2 - Charme.
P/1 – Você dança charme?
R – Eu gosto. Eu gosto bastante.
P/1 – Bacana. Onde você vai dançar? Você sai para dançar?
R – Não, quando eu saio... Eu não saio. Eu não saio, eu prefiro mais ouvir. Não sou muito de dançar. Só quando dá uma companhia. Eu prefiro escutar um som, um charme baixinho, tomando cervejinha, no sapatinho. Até dar a hora do sono. Quando dá sono, vai lá, desliga e já.
P/1 – (risos) Bom, e em termos profissionais. Quer dizer, você trabalha como boleiro, depois assim, essa padaria que você falou, onde era essa padaria? Era…
R – Oi?
P/1 – Que padaria foi essa que você trabalhou?
R – Eldorado.
P/1 – Ah, no Eldorado.
R – Eldorado. Na Visconde de Pirajá. Eu fui entregador de pão de manhã. Aí de manhã, sete horas saía, entrava no clube. Do clube para a escola e assim uma coisa a outra, ligado uma coisa na outra. Só chegava em casa mesmo para descansar.
P/1 – Como se conseguia trabalho nessa época? Um ia batendo para o outro?
R – Não.
P/1 – Como é que se conseguia?
R – O ramo de trabalho antigamente era mais fácil. No clube... Quando eu saía do clube de boleiro a gente tentava vaga no outro clube. Através de um outro amigo, e do conhecimento dos próprios sócios do clube, porque para trabalhar lá dentro tinha que ter boa educação, tinha que saber lidar com as pessoas para gente ter um pouco de crédito, porque ele dá um crédito à gente. Falava: “Ô Fulano, arranja uma vaga para mim?”. Aí Fulano chegava e arranjava uma vaga para a gente trabalhar como boleiro. O outro, aquele mais ruinzinho, aquele mais peralta, eles já mandavam embora. Aí já entrava outro no lugar dele.
P/1 – O que faz um menino ser um bom boleiro?
R – Educação, rapidez. E não responder ao associado quando eles falam, porque tem muito associado que eles são agressivo.
P/2 - É mesmo, é?
R – Nem todos são educados. Então é de como o pessoal diz: “Não exija a minha educação. Mostre a sua.” Mas tem gente que não sabe mostrar a educação, já agride direto. Então tem que saber esses dois lados, a pessoa ser agredida e ficar quieto, porque ele tem muito mais a ganhar do que revidar aquela agressão.
P/2 - E você ficou trabalhando como boleiro até que idade mais ou menos?
R – Com quinze anos, dezesseis anos eu ainda era boleiro. Depois de boleiro já estava grande demais. A minha família sempre foi grande. Então eu falei: “Eu vou entrar no mercado, no ramo de mercado.” Houve uma oportunidade do antigo Mar e Terra. Entrei como repositor. Peguei uma vaga, estava fazendo inscrição. Entrei no Mar e Terra como repositor.
P/1 – Era um supermercado, né?
R – Mercado.
P/1 – Onde que era ele?
R – Na José Linhares, 245. E hoje em dia é uma imensa Casa Sendas.
P/1 – Onde que era?
R – José Linhares, 245.
P/2 - José Linhares é no Leblon, né?
R – É.
P/1 – Conta então, nessa época, até também do ramo de padaria, quais eram os outros supermercados, naquela época, que você foi trabalhar? No Mar e Terra... Você lembra? Supermercados do Leblon?
R – Não, do Mar e Terra eu só conheci esse da José Linhares, 245, onde eu fiz a minha inscrição. Porque logo a seguir foi comprado pela Sendas e permaneceu. Outro mercado eu não conheci.
P/1 – Você não lembra?
R – Não. Tem outro mercado, a Casa da Banha, e tem uns outros aí, mas não lembro nada.
P/1 – O pessoal que morava na Cruzada São Sebastião, onde vocês faziam compras?
R – Mais ali na Mar e Terra. Tem um outro mercado, era o Mundial.
P/1 – Vocês iam até a José Linhares para fazer compras?
P/2 - Mundial.
R – Entendeu? Tinha o antigo Mundial e o CB, é o Casa da Banha, tinha em todo ao redor. Perto da Visconde de Pirajá. Tinha umas duas ali. Agora só é Mercado Zona Sul e Casa Sendas.
P/1 – E a Ataulfo de Paiva, na sua memória, uma rua principal do bairro, o que ela tinha de comércio mais ali perto da Cruzada São Sebastião, mais na tua infância? Você lembra?
R – Comércio?
P/1 – Comércio mesmo. Tinha loja, tinha sei lá, você lembra de alguma coisa que tinha ali?
R – Não, até hoje…
P/1 – Roupas vocês compravam por ali? Como era?
R – Não, até hoje ainda tem o Mercado Rei das Tintas, vende tinta. Do lado de lá, perto mesmo da Ataulfo de Paiva tem um Ponto Frio. Mais a frente tem o Mercado Zona Sul que era antigamente era a Casa da Banha. Era o supermercado mais perto que tinha ali. O resto é botequim pros bebum.
P/1 – Tinha muito bar? Muito bar, muito café, tinha muito ali na Ataulfo de Paiva?
R – É tem, sempre teve.
P/1 – Tinha algum mais tradicional que você lembre de nome?
R – Não, não.
P/1 – Se bebia muito cafezinho na rua antigamente? Cerveja?
R – Muito café (risos), cerveja só mais a noite.
R – (risos) Cerveja só mais a noite.
P/1 – Então conta para mim como era a tua experiência de repositor em um supermercado?
R – Não, a minha experiência de mercado era…
P/1 – Era carteira assinada?
R – Carteira assinada. Lá no mercado a gente ia sempre repor os produto que os fregueses apanham. Eu trabalhava na sessão de perecíveis, é, ‘tsc’, cereais, arroz, feijão. Eu ia só repondo, repondo, repondo. Tirava, repondo. Tirava, repor. De onze horas, eu pegava de onze às dez.
P/1 – Funcionava que horas o supermercado? Você lembra?
R – Funcionava... Era das sete horas, era de seis e meia às dez. Mas tinha dois turnos, pegava o primeiro funcionário, fazia a abertura, largava às quatro. Depois tinha o segundo turno. Agora já mudou de novo, já fizeram outro turno já. Funcionário antigamente trabalhava das dez horas com duas horas extra. Agora funcionário só trabalha a base de oito horas por dia com uma hora de almoço.
P/1 – E assim, na sua opinião, o que você acha que mudou no supermercado dessa época do Mar e Terra para hoje? Hoje você entra no supermercado, mudou muito? Você tem mais produtos? A forma como se expõe mercadoria é diferente? Se você tem essa…
R – Não, não mudou nada no mercado.
P/1 – Não mudou?
R – Só a burocracia do mercado que mudou, a gerência mesmo que mudou. A burocracia que mudou. Antigamente no mercado era mais prático de se comprar as coisas, porque tinha coisa a varejo. Agora é tudo embalado. A própria sessão de açougue era carne a varejo. Agora só é carne embalada, e isso dificulta para muita gente. Para essa classe pobre principalmente, porque as bandejas são grandes. Não, os pedaço são caro. Nem todo mundo pode. Tem vários pedaços. Tem carne de segunda mais barata, que todo mundo pode pegar, mas não é vantagem. O pessoal está correndo muito hoje em dia para outro lado onde tem uma condição que você possa pegar uma carne, escolher. No caso do Mundial, aqui em Copacabana, lá vende carne a varejo. Lá você pede: “Me dá um quilo dessa.” Ele vai e corta do jeito que você quer. Na bandeja você não está vendo o que tem dentro da bandeja. Isso foi um tipo de mudança. Mudou a varejo para tudo para bandeja. Está certo que ficou mais luxo, ficou mais bonito. Mas só para quem tem. E os mais, para a classe média não, ficou…
P/1 – Você, às vezes, vem fazer compras no Mundial?
R – Direto, venho no Mundial direto. Eu venho…
P/1 – É mais em conta também o supermercado?
R – O Mundial é mais em conta. Te dá mais condições para tu escolher um produto, uma mercadoria. Porque nas Sendas a gente compra assim, mas é só mesmo uma emergência. Ah, eu não vou lá comprar só uns cinco quilos de arroz, eu não vou só comprar um sabão. Compro aqui mesmo. Aí negócio de compra de mês quando tem que fazer a gente pega, vai lá e compra, faz uma compra maior. Porque nas Sendas, uma compra que você faz no caso de 120 reais, no Mundial você dobra quase a compra. Dobra, eu não digo dobra, mas dá mais da metade. Aumenta muito mais.
P/1 – Mas quando você trabalhava no supermercado, por exemplo, você como empregado comprava as coisas dali? Você tinha algum tempo de vantagem, benefício?
R – Não. Não tinha vantagem. Quando eu trabalhava no mercado a gente fazia a nossa compra de mês. Mas eu fazia compra só do básico, do que precisava. E o resto eu dava o dinheiro à mulher, ela ia no varejo, comprava no varejo. Era melhor. Sempre foi melhor comprar a varejo. O varejo acabou a pouco tempo, não faz seis anos ou sete anos que acabou o a varejo.
P/2 - Porque aí você só compra o que você precisa mesmo, né? Não compra a mais.
R – É, é muito melhor, muito melhor.
P/2 - E essa coisa de hora de fechamento. Quer dizer, agora está cheio de supermercado 24 horas ali no Leblon, Ipanema, tem vários.
R – Hora de fechamento?
P/2 – Porque você acha que começou esse negócio de fechar muito mais tarde? Alguns nem fecham.
R – Não, tem mercado, tem mercado que eles têm condições de fazer um trabalho 24 horas. A condição do trabalho em 24 horas voga em vários turnos de trabalho. E fica melhor dentro da Zona Sul, fica melhor para eles comercializar, para a classe rica se negociar. Porque: “não quero ir hoje de manhã porque o mercado está cheio.” “Então vai a tarde.” “Não quero ir a tarde. Quando todo mundo estiver dormindo, eu vou a noite.” Por isso que ficou melhor. Mas só facilitou mesmo para eles, porque para a classe pobre não facilitou em nada.
P/1 – Agora em termos de supermercado, de embalagem. Na época que você trabalhava, já tinha sacola plástica essas coisas ou antigamente ainda era enrolava em papel. Você lembra disso?
R – Não, cheguei a pegar um pouco de saco de papel, aquele saquinho de papel. Depois começaram a botar no saco plástico, na bolsa. E foram aprimorando, aprimorando, aprimorando. Aí passou a vir o saco, quando a gente comprava, perecível principalmente, botava no saco. Do saco na caixa, no saco a outra e bota na bolsa direto.
P/1 – Você lembra qual era a marca do Mar e Terra?
R – Não, não lembro.
P/1 – Era uma baleinha. Um negócio de uma baleia? Você lembra disso?
R – Não lembro.
P/1 - E você trabalhou quanto tempo no supermercado?
R – Só de Casa Sendas eu fiz oito anos.
P/1 – Nessa mesma ali da José Linhares?
P/2 - Porque mudou de Mar e Terra para Sendas, mudou o nome mas você continua?
R – Quando eu entrei nas Sendas, logo que eu entrei ainda tinha a marca Mar e Terra, mas a Sendas tinha comprado.
P/2 - Ah, sei.
R – Só nas Sendas eu fiz oito anos.
P/1 – Você lembra que ano foi isso? Quantos anos você tinha quando você entrou?
R – Mil novecentos e oitenta e oito.
P/1 – E a tua atividade profissional era essa. Mas você continuava pescando?
R – Mil e novecentos e noventa e, não, minto. 1979. Em 88 foi a época que eu saí. 1979. Em 88 foi a época que eu saí.
P/1 – Mas quer dizer, você tinha outras atividades? Você trabalhava só ali? Ou por exemplo, você pescava. Você vendia o que você pescava, por exemplo?
R – Não.
P/1 – Ou não, era só para vocês?
R – Não. Quando eu entrei nas Sendas eu já parei um pouquinho de pesca, porque já não tinha quase tempo. Era estudo, mercado. Estudo, mercado. Não tinha quase tempo mais, dali da escola para o mercado, do mercado para escola.
P/1 – E dentro da Sendas quais foram as atividades? Você primeiro começou como repositor? Você mudou de atividade nesses oito anos?
R – Mudei.
P/1 – Qual foi a atividade que você foi?
R – Não, de repositor eu fui para encarregado de sessão, eu tomava conta da sessão de não-perecível, tomava conta também do hortifrutigranjeiro, era a sessão perecível. Nesse caso teve várias mudanças de pagamento. Porque o encarregado de uma sessão de cereais não-perecível ganhava menos que o encarregado de perecíveis, porque era mais responsabilidade. Foi onde o rapaz me botou como chefe de hortigranjeiro. Eu trabalhava em hortigranjeiro. Fui chefe de hortigranjeiro. De repositor, encarregado não-perecível, depois passei para perecível. Dali eu comecei a trabalhar aos poucos no balcão. Eu trabalhei no balcão de salgados, eu trabalhei no balcão de peixaria e trabalhei um pouquinho na padaria. Trabalhava, eu era um funcionário, como é que se diz?
P/2 - Polivalente?
R – Polivalente. Inclusive eu tenho até um papel com a minha avaliação. Esqueci de trazer.
P/1 – Ah, legal.
R – A avaliação de lá. É muito boa, excelente. Dali eu entrei na sessão de peixaria e na peixaria eu fiquei. Fui a chefe de setor de peixaria.
P/1 – E peixaria o que é? Escamar, cortar, limpar?
R – Peixaria é arrumação, limpeza.
P/1 – Do balcão?
R – Geral. Arrumação, limpeza e bom atendimento. Quer dizer, não basta só a pessoa saber limpar um peixe se a pessoa em si já é todo sujo, todo encardido, todo... Que não tem também educação.
P/2 - É.
R - Então uma peixaria que eu digo, para mim, é arrumação, higiene. Arrumação, limpeza. É a limpeza do peixe. E é a, como é que se diz meu Deus?
P/2 - Higiene, não é?
R – É, é isso mesmo. Não lembro.
P/1 – Agora assim, esse serviço de escamar, limpar peixe para o cliente, desde quando existe?
R – Ah, isso existe há muito tempo.
P/1 – É?
R – Tempo. Eu não era nem nascido quando já existia isso.
P/1 – Mas por exemplo, no supermercado quando você foi trabalhar lá já tinha esse serviço de limpar para o cliente?
R – Já tinha esse tempo. Já.
P/1 – O peixe? De descamar…
R – De descamar e cortar na hora. Já tinha. Todo mercado que botava peixe tinha que ter um limpador de peixe. Tem um balconista, e tem um que toma conta em geral, que faz a arrumação e repõe o peixe que falta.
P/2 - As pessoas que compram peixe elas entendem de peixe? Sabe qual é o bom, qual que... Ou tem que perguntar para quem está trabalhando?
R – Não, as pessoas que compram o peixe não entendem de peixe, minoria conhece um peixe, porque geralmente um freguês que compra peixe vai pelo outro, o que o outro fala. “Será que esse está bom? Como é que conhece peixe? Abre a guelra dele e vê se está vermelhinha? Aperta no rabo?” Mas não conhece peixe. Eles ficam assim, um no palpite do outro. Se ele comprar dois quilos de filé aqui e o outro falar: ‘Não leva não que está ruim”, ele vai e deixa o filé. Quer dizer, a classe brasileira, nossa classe aqui, é uma um teleguiada pela outra. Dentro do ramo do peixe. No mercado.
P/1 – Ninguém entende nada.
R – Ninguém entende. São poucos aquele que chegam: “Me dá esse peixe aqui.” O cara corta, ele bota no bolso e vai embora. O resto fica tudo assim, pega, revira. Joga para lá, joga para cá. Joga para lá, joga para cá. Mas não sabe nem o peixe que está levando. Eles compram gato como lebre.
P/1 – Você lembra de algum caso disso? De alguma cliente que comprou um peixe achando que estava levando outra coisa? Você lembra de algum cliente assim?
R – Lembro, muitos casos, muitos casos de freguesas.
P/1 – Conta.
R – A freguesa chegou e falou: “Meu amigo, eu quero comprar, eu comprei um quilo de viola na feira, mas isso aqui não é viola.” Levou para eu conhecer. Era arraia. Comprou arraia como viola.
P/1 – Ela levou para o supermercado para te mostrar isso?
R – Mostrar. Era freguesa número um de comprar no mercado. Ela comprava muito. Então ela queria que eu visse. Compra filé de tira-vira como filé de pescada também. Esse está tudo bem, é um trabalho, é um profissionalismo. Uma mercadoria estando boa dá para comer. Mas o pessoal não conhece, em si, não conhece peixe. A pessoa que conhece o peixe é só pegar no peixe e fazer o trabalho do peixe. Ninguém hoje em dia, todo mundo que compra peixe não pode discriminar a classe do peixe, nem falar mal do cheiro. São eles mesmo que tem que chegar ao balconista ou ao encarregado do peixe: “Meu amigo, eu quero um peixe para assar.” Aí vão te dar um peixe para assar. “Você quer o quê? Um badejo, um cherne, um robalo? Um peixe mais em conta?.” “Qual o filé melhor que eu posso dar para o meu filho?” “Filé de linguado.” Um filé que a criança come e não passe mal. “Qual o peixe que eu posso dar para uma pessoa doente?” “Um filé de pescada.” Entendeu? Um filé de linguado. E outras qualidade. A pessoa em si quando vai ao mercado tem que saber comprar a mercadoria. Como sempre, eu faço assim. Apesar de eu já ser peixeiro, quando vou comprar um peixe eu pergunto ao balconista: “Meu amigo, dá para o senhor me dar um peixe bom aí? Essa corvina aqui? Essa aqui. Eu quero essa aqui.” Já pego o meu peixe, porque eu já conheço.
P/1 – Você tem o olho para isso.
R – É um exemplo. Outras pessoas que chegam... Salgado, eu não conheço muito salgado. Trabalhei no salgado, mas não conheço muito salgado. Então cada um que compra tem que ter, como se diz? Seu balconista.
P/1 – Ah, é. Salgado tem que ser. Porque senão você não…
R – Tem que ser. Todo mundo, todo lugar onde você vai, você tem que entender do que você vai comprar. Como é que você vai comprar uma mussarela se você não sabe se, ou vai comprar um queijo prato se você não sabe se mussarela é igual ao queijo prato. Aí o freguês: “Me dá uma mussarela?” Aí eu vou te dou outro queijo. Chega em casa você: “Ah, mas esse queijo está ruim.” Aí como fica? Aí tu vai, leva de volta. “Me dá uma mortadela Sadia.” Ele vai e dá uma Perdigão. “Me dá uma mortadela sem pimenta.” Ele vai e dá com pimenta. Então a pessoa em si tem que se comunicar mais com os balconistas do mercado pra poder sempre adquirir uma boa mercadoria.
P/1 – Aí então você fica oito anos na Sendas, é isso?
R – Trabalhei oito anos.
P/1 – Porque você saiu da Sendas?
R – Não, o que eu saí da Sendas foi uma divergência de preço errado. Eu coloquei um peixe errado, atendi um freguês. Aí nesse caso ele achava que eu estava roubando e me deram uma justa causa, da qual eu até botei na Justiça, e eu ganhei. Fiz um acordo. Mas para mim não foi bom. Foi divergência de preço errado, porque na época que eu fiz essa divergência de preço errado eu estava com uma mulher grávida em uma maternidade para ter neném. Estava para vir minha promoção para chefe-geral de peixaria, porque eu ia passar de sub-chefe para chefe, para a cabeça. Chefe número um. Quer dizer, eu estava mais que alegre. Aí houve essa pequena divergência. Na pressa, na correria eu devo ter botado o preço errado. Foi por isso que me mandaram embora. Caso contrário eu estava na Sendas até hoje.
P/1 – Já que você falou de mulher e filho, como que é? Tem filho? Quantos filhos, a idade?
R – Eu tenho dois filhos. Uma chama Aline e tem Alan Muniz.
P/1 – Quantos anos?
R – O meu filho tem dezesseis anos e ele já é encarregado de drogaria.
P/1 – Ah, é? Ali também? (risos)
R – Não. Ele já está na casa dele. É Nova Iguaçu.
P/1 – É outra turma. E a menina?
R – A menina virou dona-de-casa, caseira.
P/1 – Você já é avô, né?
R – Já sou.
P/1 – Como é o nome do neto?
R – (risos) É uma menina. Eu nem perguntei. Não tive tempo ainda, não (risos).
P/1 – Já soube que nasceu e…
R – Nasceu.
P/1 – Então vamos entrar um pouquinho assim, como entra na tua vida a história da venda do Biscoito Globo e do Mate Leão?
R – Não, o Biscoito Globo eu conheci através de amigo. Através de um amigo que eu trabalhava, depois que eu saí da Sendas eu virei camelô de praia.
P/1 – O que é ser um camelô de praia?
R – Um camelô de praia é uma pessoa que põe um produto para vender para pessoas que estão se deliciando naquele sol maravilhoso.
P/1 – (risos) Essa foi ótima. Mas só na praia? Você só vendia na praia?
R – Ou mesmo na praia, no sinal. Em festa, nos bares, ou quando tinha som na praia. Porque agora cortaram o som. Às vezes quando eles fazem o show. Em vários lugar no Arpoador, Copacabana tem ponto, tem vários pontos. Tem vários pontos que tem cantores que vão cantar. Então a gente vai e vende.
P/1 – O que você começou a vender na praia?
R – Não, eu vendi mais água, coca-cola e cerveja. Coca-cola e cerveja.
P/1 – Carregando?
R – Em um braço carregando. Ah, mate de bujão.
P/1 – Não, mas por exemplo, a coca-cola, a água como você vendia? Era parado que você vendia ou você andava?
R – Não, primeiro, antes de eu, antes… Primeiro de tudo foi quando eu trabalhei com bujão. Era um bujão mate e outro e de limão.
P/2 - E já era Leão isso ou não?
R – Levava o mate com nome de Mate Leão. Era do Mate Leão que a gente comprava, fazia. Eles faziam e botavam no bujão para a gente trabalhar.
P/2 - Eles mesmo já entregavam tudo pronto ou tinha que misturar alguma coisa?
P/1 – Fala a verdade (risos).
R – Não, mas é verdade. Misturado, a gente fazia.
P/2 - Não, eu sei. Mas é um xarope, como é isso?
R – É o chá Mate Leão, é o chá mate. Só que é grande quantidade. Fazia e enchia os galões para a gente poder…
P/2 - Com gelo já?
R – Botava o gelo depois.
P/2 - Ah, botava o gelo depois.
R – É.
P/1 – Você conta para a gente entender como era o processo. Você, existia um depósito? Onde é que ficavam os bujões?
R – Ah, tinha, tinha depósito. Tinha…
P/1 – Onde era?
R – Na época tinha dois em Copacabana, dois em Ipanema, e um no Leblon. A gente parava, mas o vendedor que saía em Ipanema não podia parar em Copacabana. O de Copacabana é Copacabana. É um depósito para cada um. Cada um tem o seu lugar de parar com a mercadoria.
P/1 – Você era um empregado, você era uma pessoa autônoma?
R – Era empregado.
P/1 – Empregado de quem?
R – Empregado assim, autônomo. Ele emprestava uma barrica para a gente trabalhar.
P/1 – Uma barrica?
R – É, a gente botava, eles botavam o mate já dava cheio. A gente ia com os copo entregar ao pessoal da praia.
P/2 - E como ele controlava depois quanto você tinha vendido?
R – Copo.
P/2 - Pelo copo, né?
R – Copo. Contagem de copo.
P/1 – Você saía com quantos copos, você lembra?
R – Ah, chegava a sair, eu já cheguei a vender até 250 copos na praia.
P/1 – Em um dia? Mas você por exemplo, você tinha que voltar ao depósito para se abastecer outra vez, não era assim?
R – Às vezes vendia até mais. Naquela época dava para vender. Agora é que…
P/2 - Quer dizer, vendia mais no verão. Todo mundo sabe disso.
R – De um modo geral, o pessoal gostava, sempre vendeu. Só que a quantidade do verão dobrava, vendia mais. Todo dia vendia, todo dia. Só que o verão a quantidade era maior. E até hoje existe. Existe o mate de bujão.
P/2 - Existe o mate de bujão? Mas é mais difícil de ver, né?
R – Mais difícil.
P/2 - Mas não é mais a Leão que faz mate de bujão?
R – Bom, agora com sinceridade a preparação eu não sei mais de quem é. Eu já saí. Eu já saí desse ramo, porque agora eu mudei de mate de bujão para o mate de copo. Porque copo o Mate Leão mesmo trás já com data, tudo. Data de validade, tudo.
P/1 – Mas não é o mesmo gosto.
R – Não é o mesmo gosto. Porque o mate de copo, tem mate natural é feito de uma coisa, de jeito. Mate com limão, tem o mate diet, é outra composição. São três composição em uma só.
P/2 - Deixa eu lhe perguntar, tinha um botijão de mate e outro de limão.
R – É.
P/2 - Vendia mais mate ou limão?
R – Geralmente o pessoal pegava um pouquinho de cada um.
P/2 - Misturava, meio a meio?
R – É. Pega mais. Quem queria tomar mais mate tomava só mate. Quem quer tomar mate misturada (risos) mate com limão.
P/1 – Irany, você anunciava? Você andava na praia, você anunciava: “Mate Limão”?
P/2 – Era uma camisa laranja, né? Do Mate Leão.
R – É, escrito Mate Limão. Mate Leão.
P/1 – Mas você gritava, você anunciava?
R – Não, a gente gritava “mate!”
P/1 – Como que é?
R – “Olha o mate. Mate limão.” E todo mundo. “Mate Leão.” E todo mundo que quisesse acenava a mão e a gente entregava à eles.
P/1 – Irany, quanto pesava isso? Você sabe?
R – Um bujão daqueles? Tem mais de trinta quilos um bujão daqueles.
P/2 - Trinta?
P/1 – Gente, como que era isso, né? Trabalhar em um Rio de Janeiro de areia quente, no verão, quarenta graus?
R – Tem que ter disposição, né?
P/1 – (risos) Tem.
R – Disposição.
P/1 – Como era isso para você profissionalmente? Você andava, qual era a distância que você percorria? Qual era a tua praia? (risos)
R – No certo quando a gente andava, no verão mesmo, quase não dava para andar. O pessoal não…
P/2 - Não deixava, ficava todo mundo pedindo?
R – É. A gente parava em um canto e ia tudo. E a areia quente em si, dava até bolha no pé.
P/2 - Trabalhava descalço mesmo?
R – É, descalço. Chinelo não dá para trabalhar, atrapalha. Tem gente que usa sapatilha. Já dá para andar, mas ela fica pesada. Ela enche de areia. Machuca o pé. É melhor descalço mesmo.
P/1 – E aqui para proteger o ombro? Tinha um pano, alguma coisa?
R – Toda camisa do Mate Limão tem um tipo uma almofada. Todo uniforme que nós ganhamos tem tipo uma almofada da qual aguenta o peso. E a gente em si já bota uma toalha para melhorar. Aquela almofada fica mais aconchegante, ,senão machuca o ombro.
P/2 - Chegava a estar calor para ter que dar um mergulho de vez em quando na água?
R – Mas isso é certo. Vira e mexe a gente para a mercadoria e dá um mergulho, senão não aguenta. Tem, agora tem ducha, tem umas torneiras. A gente tem que se molhar senão não tem condição.
P/1 – Você trabalhava de chapéu?
R – Sempre chapéu. É chapéu, uniforme completo.
P/1 – Mas o chapéu é o do uniforme?
R – Chapéu…
P/1 – Ah, o chapéu é do uniforme?
R – Também. Mate Leão, com a camisa e a bermuda.
P/1 – Mas quando você começou carregando o bujão o chapéu era…
R – Não.
P/1 – Não. Eu estou falando, eu quero falar do começo.
R – Não.
P/1 – Eu quero tentar recuperar esse começo.
R – Não, antigamente, não, depois. Não, os mais antigo, aqueles que já tinham mais tempo, o Mate Leão dava o uniforme completo. Eu que entrei, não conhecia direito. Eu trabalhava e ainda estava em experiência. Então não ganhei uniforme. Depois ganhei o uniforme completo.
P/2 - Mas esse uniforme você ganhava ou você pegava e tinha que devolver no mesmo dia?
R – Não, eles davam um par de uniforme para cada um que trabalhava.
P/2 - Mas não assinavam carteira não?
R – Não. E até hoje eles dão uniforme.
P/1 – Existia uma praia, um pedaço de cada um?
R – Não.
P/1 – Como que funciona isso no mercado da praia?
R – Ah, a praia…
P/1 – Todo mundo tem a praia inteira para todo mundo?
R – É. A praia é o que você aguenta andar. Você pega, eu por exemplo, já pego o Leblon e vou até o Arpoador. Depois eu parei o Leblon, faço só Ipanema. Ipanema do começo do canal, Arpoador, volto. Vou lá e cá e volto. Para esse tipo de comércio não dá para andar muito porque acaba a mercadoria.
P/2 - E quando você começou, quer dizer, já tinha outras pessoas vendendo outras coisas. Tinha picolé monte de outras... Você lembra o que mais vendia quando você começou? Tinha o Dragão Chinês, não tinha?
R – É, o Dragão Chinês. Tinha…
P/2 - Eram picolés.
R - O picolé da boneca.
P/2 - Como era esse aí?
R – Era um sorvetinho pequeno. Não dá para falar, explicar do jeito que era. Mas já tinha muitas outras qualidades de sorvete, sempre muda só o nome. É marketing. Um compra o outro, só muda o nome. Quer dizer, o Kibon, Nestlé, é o que vendia mais na praia.
P/2 - Certo.
P/1 – Não, mas olha só Irany, eu não sei. A minha ideia é de que aumentou muito hoje o comércio ambulante da praia, porque antigamente tinha muito menos. Antigamente você só tinha o limãozinho. O limão e o mate. Você tinha o biscoito Globo. E tinha o sorveteiro. Não era assim? Ou não? Você, quando você foi trabalhar na praia já tinha essa diversidade de coisas? Já tinha tanta gente trabalhando nessa…
R – Já. Quando eu trabalhava eu trabalhava com o bujão, mas aí já tinha outros que já trabalhavam com copo.
P/1 – Ah, tá.
R – Outros trabalhavam com outro tipo de mercadoria, coca-cola, a cerveja. E a cerveja era até de garrafa. Não era mais em lata. Foi proibido devido brigas. A gente passou só para lata. Aí depois eu larguei o bujão, comecei a trabalhar com mate, guará plus, coca-cola e água. Ice tea. Ice tea veio agora, porque não tinha.
P/2 - É.
R – E cerveja em lata.
P/1 – Sim, voltando ainda ao limão e ao mate de bujão. Assim, quem era a maior parte dos seus clientes? Quem é que consome na praia?
P/2 - Homem ou mulher que vende mais?
P/1 – Pai de família, criança, mulher, velho. Quem bebia mate e limão?
R – Geralmente o mate ele dava mais para criança, mas os barbados também tomava bastante (risos). Dava para todo mundo. Era igualado para todo mundo. Às vezes o garoto pedia: “Pai, me dá um mate?” Aí o pai: “Espera aí filho vamos comprar um mate.” Aí a mãe queria tomar um mate, tomava. “Não, eu quero tomar limão.” Aí nisso ele sempre tira uma casquinha. E pega também. É igualado a todo mundo, igual. Não tem diferente, quem consome mais são também os homens.
P/1 – É?
R – A mulher não toma muito mate. Ela só toma muita água. Mas água, por exemplo, era uma coisa que não se vendia na praia antigamente.
P/1 – Água?
R – Água. Só que a água era de copinho. Agora a água passou de garrafa.
P/2 - Agora tinha também as pessoas que vendiam coisas na praia em barraca parada?
R – Ainda tem.
P/2 - Ainda tem. Você chegou a pensar em fazer alguma coisa parecida com isso?
R – Não, eu pensei em comprar um ponto para mim. Comprar um ponto ou entrar em sociedade com alguém para poder trabalhar parado.
P/2 - Sei.
R – Porque parado a gente serve os fregueses, alugando cadeira, fazendo uma caipirinha, servindo mate. Eles pedem a cerveja, a gente só vai lá e vai servindo eles. Eles ficam mais à vontade.
P/2 - Você acha que seria melhor em termos de vender mais? É menos trabalho?
R – Não, só é menos trabalho para quem está naquele comércio parado.
P/2 - Sei.
R – Mas é melhor andando. Para mim é melhor andando.
P/1 – Por que?
R – Eu tanto suo, como tenho um... Se quiser, dá pra tomar um banho, eu tomo um banho, converso com os amigos. Eu faço mais amizade com as pessoas.
P/1 – Está mais livre? Está mais…
R – Eu sou acostumado, mais a vontade. Não gosto de coisa muito parada, não.
P/1 – Você tem algum episódio de lembrança de cliente, freguês na praia em relação a mate? Você tem uma freguesa muito antiga que compra sempre na tua mão?
R – Freguesa eu tenho muita. Tenho freguesas que só compram comigo. Ela só compra com outro se caso eu não passar. Ela só toma mate, outra só toma água, guará plus.
P/1 – Essa coisa de passar, por exemplo, é passar por ela, né?
R – É. Não, mas ela sabe que eu estou todo dia na praia.
P/1 – Pois é. como é isso? Você passa aqui, você tem uma hora certa para passar, a Farme de Amoedo, sei lá, ou lá no Leblon?
R – Não.
P/1 – Como é?
R – Não, de…
P/1 – Ou vou esperar o Irany passar?
R - Não, de manhã a gente costuma, eu pelo menos ando mais pela parte de Ipanema ali. Vou até o Arpoador e volto. A parte da manhã eu trabalho mais daquele lado, mais a tardinha eu trabalho para o lado de cá mais.
P/1 – Cá é Leblon?
R – Não. Sempre por lá por Leblon. Ipanema mesmo. Só vou até o canal e volto.
P/2 - Mais ali para a Garcia D’Ávila?
R – É.
P/1 – Por quê? Tem mais movimento?
R – A gente procura o lado que está mais movimentado.
P/2 - E como essa coisa da praia. Porque a gente sabe que cada época tem um pedaço da praia que é…
R – Mais cheio.
P/2 - ...na moda. Você lembra disso? Quer dizer, como era? Tinha Posto nove, depois…
R – Não, o pedaço da praia mais, você quer dizer assim, um pedaço da praia mais movimentado é o pedaço onde tem os barraqueiro.
P/2 - Ah.
R – Tem gente que se cola a um barraqueiro. Quer dizer, aquele ali fala assim: “Não, eu vou colar com o meu barraqueiro.” Porque ali ele bebe fiado, de repente tem sanduíches, eles comem sanduíche fiado. Depois paga em cheque. E ali não tem como a gente trocar toda hora o dinheiro. Eles pagam tudo no final. Por isso tem um lado que dá um certo tipo de clientela, outro já tem outras e tem os picadinhos. Onde a gente passa e vende também.
P/1 – Mas por exemplo, tem um lugar na praia onde tem mais ator, tem mais atriz. Você vê isso, por exemplo? Tem músico mais badalado?
P/2 - Mais turista, mais gente rica.
P/1 – Mais turista.
R – É o lugar em frente o Caesar Park tem ali tem uma barraquinha. Ali o rapaz faz sanduíche, faz caipirinha, caipivodka. Ali tem um segurança, porque tem muito turista de hotel. Então ali o pessoal prefere, às vezes ficar, ali. Esses tipos de pessoas. Porque já tem medo de algum ladrão até de praia.
P/2 - Sei.
R – Entendeu? Aí eles ficam mais ali naquele pedaço. Em frente ao hotel costuma ficar, porque eles já são em si, como é que sei diz? Eles já são instruído para isso. Até como gastar, como pagar.
P/1 – Mas por exemplo, turista bebe mais?
R – Turista?
P/1 – Turista conhece mais?
R – O turista não conhece mais. Ele toma o Ice Tea, já é outro tipo de…
P/1 – Da terra deles (risos).
R - ...de lá, porque o Ice Tea na língua deles ice é chá. Ice Tea é chá gelado.
P/1 – Você já teve o caso, por exemplo, de uma gringa, um turista querer conhecer o mate?
R – Não.
P/1 – O que é isso? Vendendo o que? Mate?
R – Não.
P/1 – Não rola isso?
R – Não. Eles só compram Ice Tea, suco Del Valle e água. Água é o que eles bebem muito, eles só conhecem isso. Alguns, às vezes, a curiosidade chama a atenção, mas eles não compram, só fica na curiosidade.
P/1 – E por exemplo um jovem que vai à praia, um surfista, essa turma consome?
R – Surfista? Só água. Água, mate, coca-cola. Mas isso tem a hora certa deles. Eles preferem o mar. Quando eles vão para a praia eles esquecem até que tem vendedor. Eles ficam lá no mar. Aí quando sai vão tomar um solzinho. Aí resolvem se vão tomar uma água, uma coca-cola.
P/1 – Mas por exemplo, dia de praia, Rio de Janeiro, janeiro, meio-dia, sol, cheio de gente. Como é isso? Carregar isso pesado, o treco põe na cabeça, põe de lado? Como é isso? Você vai gritando, andando? Tem uma tática?
R – Não sei. Não tem, não. A tática não é bem tática, já é o costume. Já se torna um costume. A gente está tão acostumado que a gente pega aquilo e anda. E não sente mais nada.
P/2 - Olha, você falou que antigamente tomava mais. Realmente as pessoas estão comprando menos na praia hoje em dia?
R – Não, não estão comprando menos. O ramo do comércio aumentou. Devido a que o comércio aumentou? Devido o desemprego. Desemprego agora é tanto que todo mundo cai na praia. O pessoal é queijo, batata frita, biscoito de outras qualidades variadas. E muitas outras coisas. Mate, coca-cola. Muitas outras coisas mesmo. Então todo mundo é bolsa, é pulseirinha.
P/2 - Canga, óculos.
R – Canga, óculos. Tudo que você pensar a praia virou um mercado ambulante. E cada um tem que levar um pão para os seus filhos dentro de casa, tem que ter, arrumar um meio onde arranjar esse dinheiro. Porque seria triste você chegar em casa, o filho falar: “pai, eu estou com fome.” Você mete a mão no bolso e não tem um dinheiro para comprar um pão para o garoto. Aí: “Meu filho, eu vou trabalhar.” Vai ver o trabalhador na praia carregando uma caixa, vendendo um biscoito, vendendo um mate, uma bala.
P/2 - Então tem mais gente vendendo, né?
R – Quer dizer, a venda não caiu. A venda dividiu. Todo mundo pode vender um pouquinho. Porque antigamente como tinha pouco vendedor você podia sair com, por exemplo, cem mates. Aqueles cem mates não davam nem para começar a trabalhar. Parava rápido. Agora não, você entra na praia tem mais de cinquenta vendedores. Só em um pedacinho assim rodando. Se contar, um batendo cabeça com o outro. Umas férias que você fazia um dinheirão. Como teve gente que já mentiu várias vezes para o jornal, que já tiveram até entrevista de televisão, eu acho um absurdo uma pessoa dizer: “É, eu já comprei televisão, eu já comprei carro, eu já, sustento um monte.” Isso aí é mentira. Praia não está isso, praia não está isso. É ilusão quem sair do, ou largar o trabalho para entrar na praia. Quem vai para a praia está aventurando um dinheiro para levar o que comer para casa ou então pagar uma conta. Porque, às vezes, a marginalidade vem daí. Porque você quer trabalhar, você não consegue chegar em casa, é gente cobrando, é filho pedindo as coisas. Você desespera. Mete a mão em uma arma: “Vou apanhar de quem tem.” Onde entra polícia, aí dá no que dá. Vocês conhecem o que acontece. Então o mercado em si não caiu.
P/2 - Mas tem mais gente disputando.
R – Entende? Tem mais gente disputando porque o nosso ramo de trabalho está muito fraco. Ninguém está dando trabalho para ninguém. Não tem condição. Eu tenho currículo espalhado. Ninguém chama. Tem outras... Muitas outras pessoas não tem capacidade. Tem advogado, tem polícia. Viu quantas pessoas foram fazer o curso da Comlurb?
P/2 - Milhares.
P/1 – Se inscrever, né?
R – Quantas pessoas foram fazer esse concurso? Se inscrever ainda para tentar uma vaga. Você vê quantas pessoas, quantas milhões de gente estão sem poder trabalhar. Quantas milhões. Agora quero ver. Se põe no lugar dessas pessoas, se eu chegar em casa, tu chega quer comer e não tem. O garoto está doentinho e não tem o dinheiro para comprar um remédio. Não tem o que comer. Como é que tu vai fazer meu Deus do céu? Pedir pro vizinho? Pede em um bar o português não dá. Ele joga água. “Sai daqui, sai daqui.” É raro uma pessoa, como eu já paguei e pago até hoje. Se uma criança me pedir em um bar: “Paga um negócio que eu estou com fome”, eu pago. Pago para comer. Mas dinheiro eu não dou. E até hoje eu não aconselho ninguém dar dinheiro. “Quer comer? Quero ver comer aqui.” Pago para ele comer ali. Para comprar não, nada de dar dinheiro. Porque é dinheiro, dá dinheiro para ele comprar um negócio para ele comer ele vai e compra um tóxico. E assim sucessivamente. Muitas mulheres, hoje em dia, estão se prostituindo por que? O mesmo ramo. Não tem como trabalhar. Querem ganhar dinheiro. “Tenho filho, o meu marido me deixou. Como eu vou fazer?” Quer dizer, o ramo do trabalho, o mate em si é uma rede mundial de mercadoria. Vende muito mais. É número um. Só que a concorrência de venda aumentou.
P/1 – E mulheres, mulheres na praia…
R – Tem.
P/1 – Tem mulher vendendo coisas?
R – Mulheres, crianças, senhores de idade. O novo, o velho. Os pais estão botando os filhos para trabalhar.
P/1 – Porque antes você não via muita mulher vendedora na praia, né?
R – Não via, mas agora tem.
P/1 – Porque também tem o sol, o peso, né?
R – Mas cada um carrega uma caixinha pequena. Bota uma caixinha pequenininha assim, você anda o dia todo, ganha dez mil réis. Dez mil réis uma diariazinha. Uma diária de dez reais por dia, sabe quanto dá? Se você juntar dá trezentos reais por mês. Mas aí eu já estou botando assim, dez reais líquido, porque tem sua despesa. Tem passagem, você tem que almoçar, tomar um café, tomar uma água. Quer dizer, para a pessoa também trabalhar tem que vender muito.
P/1 – Como é um dia seu, por exemplo, vendendo na praia? Você começa que horas? Você para pra almoçar? Você bebe água?
R – Não, eu quando... Eu só faço um tipo de refeição. Só a janta. Eu só janto. Café, eu tomo café me faz mal, de manhã. Para eu tomar um café eu prefiro almoçar de manhã cedo, mas eu não saio de casa, fico em casa. Então eu saio de manhã, pego minha mercadoria, oito horas eu já estou trabalhando. Eu não paro. Só vou parar lá para às seis horas quando o tempo não muda. Porque tem o fator do tempo mudar. Às vezes você está: “O sol é uma maravilha”, que nada. De repente aquela chuva começa a ventar sudoeste três dias, quatro dias. Fica uma semana. É aonde que a gente pega a nossa mercadoria e corremos para um sinal, corremos para um show. Uma porta de, nas calçada onde a gente não pode trabalhar, porque a Guarda Municipal atrapalha até o nosso trabalho. Cada um de nós que trabalha nesse ramo tenta defender um dinheiro para levar para casa.
P/2 - Essa coisa que você falou do sudoeste três dias, tudo. Você, quer dizer, ventou de um certo jeito você sabe que…
P/1 – (risos) Tu conhece a natureza.
R – Já conheço, já conheço.
P/2 - Se for uma lestada firme vai ficar um tempo bom.
R – Às vezes quando o sudoeste entra de uma vez só, no máximo são dois dias, dois dias e meio. Ou, às vezes, dá só aquela coisa, no dia seguinte amanhece nublado. Mas no terceiro dia já abre. Mas quando o sudoeste entra devagar são três dias. Quando calha de entrar um sudoeste em cima do outro vai uma semana, quinze dias, um mês. Tem sudoeste aí que o mar joga água na rua. Venta, chove, o mar levanta, joga água na rua. Sudoeste são três dias no máximo. Mas tem sudoeste que dá até uma semana, quinze dias. Às vezes quando está terminando um, o sol começa a aparecer, resumo: ele entra outro em cima. Mais três, quatro, cinco dias.
P/2 - Vou fazer uma pergunta mudando só um pouquinho de assunto. Por que as pessoas associaram tanto essa coisa de mate com biscoito Globo? Da onde que veio o biscoito Globo?
R – O Globo, o biscoito Globo é mais um complemento da qual, além de ser um complemento, é um produto barato que todo mundo pode consumir. Existem duas qualidades de biscoito: sal e doce. O verde é salgado, o vermelho é doce. Criança geralmente é… Uma mãe que vai para uma praia leva três reais. Aí o filho: “Mãe, eu estou com fome.” Engana a criança com biscoito Globo, entendeu? Até a hora de chegar para eles irem embora para poder pegar a refeição caseira. O biscoito Globo... A gente tem um depósito que apanha, na Rua do Senado, acho que é 275, 277, não lembro muito bem. O biscoito Globo é um produto também mundial, que nem coca-cola. Vem todo mundo. É Campo Grande, Niterói. Qualquer lugar, tudo o que pensar vai lá comprar biscoito de lá.
P/1 – Tem uma quantidade mínima para você comprar lá na Rua do Senado?
R – No verão.
P/1 – Qual é?
R – No verão é um saco para cada um.
P/1 – Quantos saquinhos vem dentro de um sacão? (risos)
R – Cinquenta saquinhos. No verão.
P/2 - Vem metade sal, metade doce, ou é um saco só?
R – Não, ele atende do jeito que a gente quer. Se a gente quiser só doce ele bota só doce. Se quiser só salgado ele bota só salgado. Porque no verão você pode acordar duas horas da manhã que já tem gente dormindo naquela fila para adquirir o saco de biscoito.
P/2 - E o negócio dele é vender, ele não é pegar devolver.
R – Não, o negócio dele não é vender, é fazer uma administração certa do biscoito. Porque se ele fosse vender... Tem gente que já chantageou ele, ele já falou para mim.
P/2 - Nossa.
R – “Eu dou, pago mais caro para o senhor me fornecer.” Ele falou: “Não, eu quero deixar assim, porque eu quero servir todos os meus vendedores.”
P/2 - Entendi.
R – Entendeu? Aí no verão como vende mais biscoito, eles vendem no trem, vendem no sinal, vendem na praia. Tem Praia do Recreio, Copacabana, Ipanema, Leblon e etc. Muitos outros lugar. Tem lugares aí que ele vende biscoito Globo a três reais cada um.
P/2 - E na praia está quanto?
R – Já falaram. Está um real.
P/1 – Mas você, por exemplo, qual é a diferença? Em janeiro quantos biscoito Globo você vende, em julho quantos biscoitos Globo você vende? Tem essa diferença?
R – Não, isso é raro de acordo com o tempo. Se o tempo não mudar, não ter nenhuma retorção, nenhuma chuva nem nada, é um dia normal. Um dia pelo outro. Vende uma base de dez biscoito, quinze, vinte.
P/1 – Quer dizer, você compra um saco grande?
R – Eu sempre compro um saco grande de cinquentas biscoitos.
P/1 – Mas você não vende um saco em um dia?
R – Não, não vendo. Hoje, por exemplo, eu vendi quinze biscoitos. Hoje eu vendi quinze porque eu parei para vim dar atenção aos meus senhores aqui.
P/1 – Viu? (risos) A gente tinha que ter pedido para trazer biscoito Globo, né?
P/2 - Fazer esse favor para a gente. E como é que, na hora que você compra como é que você distribui? É meio a meio para você? O que vende mais?
R – Não, geralmente a criança pega mais um salgado. Tem criança que prefere mais o doce. Entre os adultos mulheres, tem mulheres que gostam de sal, tem mulher que gostam de doce. No lugar onde os bebuns estão bebendo, sempre um botequinho: “Ah, vou tirar um gosto aí.” Então com o gosto, fica ressecado, eles preferem o sal. E o doce também. O doce está vendendo mais agora, porque tem um lado que um bebe, o outro fuma, o outro não sei o quê e tal. Então o doce em si já é uma glicose. Quer dizer, levanta o astral dele. Então o doce agora está vendendo mais do que o sal.
P/1 – Quantos biscoitos Globos vem dentro de um saquinho, você sabe?
R – Ah, vem a base de uns sete biscoitinhos. Sete a oito cada pacotinho.
P/1 – E o biscoito Globo tem uma característica que ele é enrolado assim, na pontinha.
R – Não.
P/1 – Ele não tem fecho, ele é um saquinho assim.
R – Não, ele é um saco que é abastecido e é fechado manualmente.
P/1 – Manualmente.
R – Não tem esse negócio de fecho.
P/2 - E a fábrica deles é ali na Rua do Senado mesmo?
P/1 – Você por acaso sabe há quantos anos existe o biscoito Globo?
R – Ah, muitos anos. São muitos anos. Não dá nem para calcular. Tem muitos anos.
P/2 - E ele tem algum imitador? Alguém que tenta fazer um biscoito parecido?
R – O biscoito que imitaram são os primos dele, são da família deles mesmo.
P/2 - Ah, é?
R – É, porque eles trabalhavam junto, tinha uma panificação. Aí eles desmembraram. Tem outro biscoito. É Sortilege, tem A Nata.
P/1 – Mas que não é igual, né?
R – É, são família. É quase igual, a mesma coisa, mas não tem o mesmo gosto, o padrão. O nome da Globo.
P/1 – Você por acaso já prestou atenção qual é o desenho que vem no saquinho do Globo?
R – É só a palavra Globo bem grande. Só isso. Não vem mais nada. O principal, um nome escrito assim: Globo. Mais desenho nenhum. E vem a especificação do jeito que é feito e a data.
P/1 – Você come biscoito Globo durante o dia?
R – Às vezes.
P/1 – Não aguenta mais (risos).
R – Às vezes (risos).
P/1 – Irany, como que funciona a compra do biscoito Globo? Você tem uma hora para chegar, você tem uma quantidade máxima que pode comprar?
R – Não, o biscoito funciona assim: na época que vende muito, no máximo que ele pode dar para cada um é um biscoito, é um pacote para cada um.
P/2 - De cinquenta saquinhos.
P/1 – É um saco daqueles transparente lá de… (risos)
R – Todos (risos). Teve uma vez que eu fui em um baile da terceira idade, aí eu saí, saí era uma e pouco, eu falei: “Ah, vou direto lá para apanhar um saco de biscoito senão vai ficar tarde.” Cheguei lá e ainda apanhei o número 196.
P/1 – Ah.
R – Já tinha gente dormindo lá na porta. Mas é gente de todo lugar.
P/1 – Quantos será que esse cara vende por dia?
R – Ah, vende muito. Vende muito.
P/1 – Milhares.
R – Perde, perde de venda. Perde contagem. Muita gente mesmo. Tu chega cedo, chega duas horas da manhã lá, você ainda sai de lá – tu pensa que vai sair sete horas, não sai sete horas, sai lá para oito, nove horas, dez horas, e quando sai.
P/1 – Que horas abre o depósito?
R – Cinco horas.
P/1 – E fecha, tem hora para fechar?
R – No verão tem.
P/1 – Ah, é?
R – Onze e meia fecha.
P/1 – Onze e meia da manhã? Ah, funciona de cinco…
R – Onze e meia ou duas horas está fechando. Ele dá número duas vezes. Muita gente briga. Tem gente que vai lá só para negociar. Eu, por exemplo, tem a época que eu chego lá, não tem número mais para mim. Aí eu já compro do outro, ao invés de comprar um preço eu já pago mais caro para poder trabalhar. Porque não dá para eu apanhar.
P/2 - E uma coisa boa de vender, porque ele é leve de carregar, né?
R – É. E não dá vazão para vender para todo mundo. Não dá. Porque muita gente, cada um quer dois sacos, outro quer três sacos. Um quer apanhar para revender. Outro quer apanhar para revender para não sei quem. Quer dizer, por isso que ele só dá um para cada um, certo?
P/2 - Ah.
P/1 – E é controlável isso mesmo?
R – É controlável. Dá certo. Aqueles que querem apanhar mais quantidade tem que entrar na fila de novo.
P/1 – Ah, sei.
P/2 - Será que ele nunca pensou em fabricar mais já que tem tanta gente para comprar?
R – A quantidade? Dobrar?
P/2 - É.
R – Não, no verão dobra direto. Dobra, quer dizer, é que não dá vazão mesmo. Não dá vazão para todo mundo. Agora no inverno se tu chegar lá, pode chegar com um caminhão lá que ele te vende um caminhão de biscoito.
P/1 – A gente pode ir na rua do Senado e comprar um saco? Um saquinho?
R – Pode, pode. Mas para ir lá apanhar um saquinho não pega bem.
P/1 – (risos) Não pega bem.
R – Pelo menos a pessoa tem que comprar uns dez saquinhos, né?
P/1 – Deixa eu fazer uma pergunta: quanto custa um saquinho?
R – No varejo?
P/1 – No varejo.
R – No varejo lá eles vendem a 33 centavos. Mas…
P/1 – Sal e doce, igual?
R – É, lá a gente pede: “Ó, eu quero um saco de cinquenta. Com vinte doce e trinta salgado.” Agora, o que eu estava falando que até esqueci?
P/1 – Que custa 33 centavos a unidade.
R – Trinta e três, mas acontece que tem gente que vem de Petrópolis apanhar biscoito.
P/2 - Petrópolis?
R – Jacarepaguá, Cidade de Deus, Cidade Universal, Universidade Rural. Aí você bota uma passagem, bota o seu desgaste físico.
P/2 - É.
R – Aquele trabalho de acordar cedo para apanhar um biscoito para trabalhar. O biscoito, no momento acaba saindo quase por um real. Quase empatado. Tem um rapaz que ele vem de Petrópolis, ele gasta oito reais de passagem. Assim, diz ele. Quer dizer, se ele descer, saltar na Central ali vem andar até o Senado, apanhar um biscoito e depois levar para a praia. Vende a um real. E tem freguês que ainda acha caro.
P/1 – E é interessante que esse preço de um real é: no sinal é um real, na praia é um real. Assim, esse preço é o que a maior parte dos vendedores usam.
R – É.
P/1 – Não é um preço imposto, existe uma lei de mercado aí entre vocês que…
R – Não, não. Geralmente dá para ganhar vendendo a um real. Agora tem lugares que não tem o produto. Além de ser difícil, tem a condução. Tem gente que paga táxi para levar. De manhã assim, por exemplo, no Leblon, tem fornecedor de biscoito, mas ele já compra para revender. Quer dizer, você compra a 33 centavos. Se quiser comprar com ele já compra a setenta centavos. Ele ganha 100%, mais de 100% em cima da pessoa. Quer dizer, a pessoa vai vender e trabalhar para ele? Ganha trinta centavos. Não vale a pena. É melhor ir lá apanhar o biscoito. Melhor ganhar setenta do que ganhar trinta.
P/2 - É.
R – Tem um que já vende mais barato. Vende a sessenta, e dá para todo mundo.
P/1 – Mas por exemplo, o preço nas praias da Zona Sul são um. Nas praias de Grumari, Recreio são outro, né?
R – Não. O biscoito tem um preço padrão. O preço quem faz é a pessoa que trabalha com ele. Devido ir para o Recreio, gasta gasolina, carro, tudo ele já bota outro preço mais caro. Porque no Recreio não tem. O carro que vai para lá já cobra mais caro. Na Barra já estão cobrando a 1,50. Outros lugares já estão cobrando a outro preço. Cada vendedor faz o seu preço. Cabe ao freguês que for comprar achar que deve. Porque, vamos dizer assim: “Você vende a um real? Lá no Leblon está um real. Aqui está a 1,50 por causa de quê?” Não tem. Tem comparação do, tem o desgaste físico, o trabalho da pessoa ir buscar, então é vendável. Pode-se cobrar até 1,50 em Ipanema. Eu já vendi muito biscoito a 1,50 e eles pagam isso. Porque tem freguês que valoriza o trabalho do camelô. Tem outros não que já quer: “vende dois por um real? Vende três por dois reais?” Não pode meu Deus. Se vender a pessoa não ganha. Prejuízo. Passou o dia todo com sol na cabeça carregando uma caixa no ombro com vários produtos: mate, guará plus, coca-cola, cerveja, Ice Tea, guaraviton, agora Del Valle, mate diet, guará plus diet, Ice Tea diet, água com gás, sem gás. Aí chega lá: “quanto é, moço?” “Três reais.” “Ih, mas isso aí está caro.” Aí eu falo: “O senhor pega a minha caixa e bota no ombro para andar para ver se você consegue.” Eu falo.
P/1 – (risos) Ih, você fala?
R – Eu falo. Mas isso não quer dizer, porque ele não valoriza. Ele chega em si quer botar um preço na sua mercadoria. Quer dizer, a mesma coisa uma cerveja. Você compra uma cerveja são 2,50. O outro já chega já cobra três. O outro já pode cobrar até dez. Cabe ao freguês se vai pagar ou não. O freguês é que tem que ver o que é melhor para ele.
P/1 – Mas por exemplo, a praia é um lugar onde se discute preço?
R – Às vezes a gente bate um preço assim: não pode vender mais barato. Porque a pessoa, o camelô novo que entra ele não sabe. No caso você vende o mate a 1,50. O mate de 1,50 a gente já apanha a noventa, ou oitenta. Você bota o gelo, mais trinta de gelo. Dá 1,20. Dá 1,10, né? Você bota uma camada e o gelo, tá, você fica com no máximo quarenta centavos de lucro em cada peça. Aí você vê. Uma coca-cola, você pega ela a noventa centavos, um real. A gente vende a dois reais, porque tem o gelo que bota. Tanto produto quente bota o gelo, gelou. Aí tem que botar de novo. Cada botada de gelo é cinquenta centavos, um real, dois reais que bota. Quer dizer, o lucro fica tudo no gelo. A não ser quando uma pessoa faz uma venda boa, aí sim que ganha alguma coisa.
P/1 – Seu gelo você pega aonde?
R – Na praia mesmo. Tem um caminhão, vários caminhões de gelo que para e deixa gelo na praia.
P/1 – Gelo já triturado, aquele tipo de…
R – Tem dois tipos de gelo: tem o britado e tem o escama. E tem o gelo cubo que é para caipirinha e vodka.
P/1 – Gelo britado e gelo escama?
R – E gelo cubo.
P/1 – Cubo.
R – O cubo é o gelo filtrado da onde pode se botar para uma caipirinha, uma caipivodka. O gelo escama é um tipo de gelo quebrado e o gelo britado é um outro tipo de gelo quebrado, mas leva sal. Conserva mais.
P/1 – E quanto tempo dura o seu gelo?
R – Isso…
P/1 – Assim, a tua mercadoria aguenta quanto tempo gelada? Quanto…
R – Não, mas isso é de acordo, varia muito porque abre caixa muito. A gente com a mão quente mexendo ali o gelo vai, já sente aquele impacto. E quando vende muito a gente tira uma mercadoria gelada vai botar outra quente já tem que botar mais gelo. Isso varia de, varia muito, meia hora, uma hora, duas horas. Tem dia que tu anda o dia inteiro com duas canecas de gelo. Mas tem dia que tu terminou tu tem que botar outro, questão assim de dez, vinte minutos, entendeu?
P/1 – Define para a gente então o seu cliente. O que é para você um banhista carioca? O cara que vai para a praia e está ali para curtir.
R – É, um banhista geralmente, um banhista que vai para a praia, vai para tomar um banho, tomar um sol, se corar um pouquinho mais e descansar. Tem gente que vai para a praia para ler um livro, descansar um pouquinho e tomar um banho para tomar um sol. Tem gente que como diz: “Ah, estou muito branco. Vou tomar um sol, tomar uma cachaça.” Já fala: “Vou tomar umas caipirinha.” É assim que eles dizem, já outros não. Já levam um livro assim: “Em casa é muito quente, quente por quente eu vou para a praia.” Sentou lá, pega uma cadeirinha, pega um guarda-sol, pega um caderninho e fica lendo. Estudando. Tem alguns que já estudam na praia.
P/1 – Você acredita que dá para estudar na praia?
R – Dá, porque na praia não tem barulho. Quer dizer, o barulho quem faz são os camelô. “Água, mate, guará plus, coca, cerveja.”
P/1 – (risos) Que ótimo.
R – “O biscoito Globo, queijo coalho na brasa.” Então é um montão. Mas isso aí eles botam tipo um walkmanzinho, escutar o sonzinho deles, ficam dormindo. E aí faz. Lá passa o dia.
P/2 - Você falou essa coisa do vento do sudoeste, que é o vento que trás tempestade. É o que mais te atrapalha?
R – Na praia?
P/2 - Na praia.
P/1 – A sua venda.
P/2 - Fora o tempo fechar. O que te incomoda?
R – Olha, para mim, geralmente, nada me atrapalha na praia a não ser assim, como se diz? O tempo quando muda. Alguns camelôs novos que entram, que não sabem dar os preços. Aí eles chegam, tira o exemplo, teve um rapaz que vendendo coca-cola de seiscentos ml a 1,50. A gente vende a latinha a dois reais. Como? Aí eu falei: “Com que ele consegue? Não dá.” Raciocina junto comigo: uma coca-cola de seiscentos ml deve estar quanto? Uma base.
P/2 - No supermercado?
R – É, bota no supermercado.
P/1 – 1,20.
R – 1,20. Ele vende a 1,50, ele ganha alguma coisa? Ele bota um bocado de gelo, garrafa, carrega aquele peso. Ele ganha alguma coisa? Não ganha. Agora a latinha já está a noventa centavos, oitenta centavos. Promoção hoje tem muita. Você tem promoção Carrefour lá na Barra.
P/1 – Você vai para lá? Você despenca para lá para comprar?
R – Não. Não vale a pena gastar passagem. Para eu ir lá eu teria que buscar muito. Mas aí acabou aqui eu tenho que botar de novo. Se eu acabar a mercadoria no Arpoador aí eu vou ter que vir vazio lá, botar de novo. Então isso é raro. Para você trabalhar um produto seu mesmo, você bota uma caixinha de coca, uma de mate, uma coisa de cada coisa, um pouquinho de cada coisa. Aí você levanta o seu dinheiro. Depois de levantar o dinheiro eu trabalho com o produto do rapaz lá da praia. Nosso fornecedor de praia.
P/1 – Mas por exemplo, acontece de você chegar na ponta do Arpoador e estar vazio e ter que vim de lá a pé com a sua caixinha sem produto?
R – Ah, acontece muito.
P/1 – Muito? Aí você volta tudo a pé sem produto para se abastecer para voltar.
R – Às vezes a gente já sobe, tem um mercado perto, Zona Sul a gente já sobe. Acabou a água, já sobe, apanha uma caixinha de água no mercado. Aí já vê um Ice Tea, já vê uma coca dependendo do preço, se estiver em conta, a gente já compra, já pede o gelo. Compra tudo. Agora…
P/1 – Essa coisa de sobe é ótimo, porque é sobe mesmo, né? Porque quando a gente está na praia a gente sobe (risos). Sobe na areia. Outra coisa assim, moda de praia. Você trabalha o quê? Vinte anos na praia?
R – É, tem mais de vinte anos. Muito mais. E o que você diz da moda?
P/1 – Eu queria assim, por exemplo, biquíni. O que mais mudou? O que te impressionou? Estilo de biquíni de menina ou alguma coisa assim que tenha te impressionado. Ou rapaz, estilo de sunga, agora é outra? Alguma coisa assim que te impressionou.
R – Tudo ali…
P/1 – Mudou muito?
R – Não, não mudou nada. Na praia quando fica muito tempo sem praia as meninas querem se queimar. Então umas usam fio dental, umas usam aqueles maiores, grandão. Os homens, tem uns homens que não são homens, querem botar, bota biquíni. São os gays. O que me impressiona são aquelas coroas antiga…
P/1 – (risos)
R – Eu admiro. Eu admiro. Não…
P/1 – Eu?
R – Eu estou sendo franco. Eu admiro uma coroa bonitinha de biquíni com bumbunzão tremendo, é uma coisa linda. Fica ridículo uma coroa de topless.
P/1 – Você já viu topless na praia?
R – Ah, o que mais tem é topless.
P/1 – Que trecho que tem topless?
R – Varia, varia.
P/1 – Varia?
R – Varia. Geralmente quem faz mais um topless são os gringo. Eles chegam aí… Mas eu acho que geralmente o topless, hoje em dia, isso não é mais novidade. Porque um peito, hoje em dia, de uma mulher, de uma senhora, de uma criança hoje em dia não é mais novidade. O que me chama a atenção é aquele negócio (risos) durinho. O pessoal para. Algumas mulheres não tem condições de fazer um topless e faz. Mas geralmente, uma vez eu parei perto de uma cliente, aquele topless, Deus me perdoe, ridículo. Mas não falo nada. Atendi ela, virei as costas e fui embora. Eu estou acostumado a ver isso. E lá a gente não nota, nada disso. E eu…
P/2 - Mas já teve época até que as pessoas ficavam em volta, né? Todo mundo olhando, todo mundo.
R – Geralmente eu acho eles uns bobos, porque uma pessoa que nunca viu um peito na vida. Hoje em dia tu vai em um ônibus tem uma mulher dando um peito a um garoto, uma menina, um menino. Isso não é mais novidade. É novidade para você um peito hoje em dia, não? Fala para mim. Ou nunca viu um peito na vida também? Brincadeira, né?
P/2 - É.
R – Então geralmente eu acho bonito uma pessoa que tem um seio bonito para queimar mais um pouquinho. A atividade que elas fazem nós não sabemos qual é. Depende daquilo também. Então tem que estar sempre coradinho, bonitinho. Tanto os bumbum como os seios.
P/2 - Tem gente que você vê todo dia na praia?
R – Tem.
P/2 - Gente que verão, inverno, dia de semana, fim-de-semana? Tem gente que está todo dia lá?
R – Tem. Mas geralmente esses tipos de pessoas que ficam todo dia na praia são das classe melhorzinha, que já estão mais alto, porque já não…
P/2 - Que não precisa trabalhar.
R - A vida deles é essa de agora, só curtir. Então para ele, tem um que já fica só pescando, batendo um caniçozinho. Aí vai, para, toma uma coca-cola, toma uma cerveja. Toma um banho.
P/1 – E o pessoal das redes, o pessoal que joga são clientes também disso?
R – São, são. Só que tem pessoal de rede que já tem o pessoal certo de barraqueiro que serve, alguns não. Quer dizer, tem um rapaz também que serve, ensina eles a jogarem vôlei.
P/2 - Escola, né? Curso, escolinha?
R – É, escolinha de vôlei. E terminando aquilo ali eles sempre bebem alguma coisa. Só tem o lugar certo que eles apanham. Só quando o tempo está ruim que geralmente tem um ou dois que faltam. Daí a gente serve quando a gente passa.
P/1 – Só assim, para a gente ir finalizando. O mês de julho para você, como você é de trabalho? A gente está no mês de julho.
R – O mês de julho para mim, estamos no inverno, né? O inverno é um mês mais ou menos, um mês fraco. É um mês fraco.
P/2 - Apesar de ser férias?
R – Apesar. É fraco porque você não pode prever. Hoje abriu um sol lindo. De repente começou a ventar, ficou horrível a praia.
P/1 – Mas qual é a primeira coisa que você faz de manhã? Você olha, fala: “Bom, está chovendo, tem sol, vou trabalhar, não vou trabalhar.” É assim?
R – Não, a primeira coisa que eu falo: “Vou trabalhar.” A primeira venda se benze, tem que dar certo o meu dia de hoje. Faço as minhas rezas para eu poder trabalhar, que tudo dê certo. Enquanto ao tempo, só Deus é que sabe. Quando dá tudo bem, a gente vende bem. Ganha vinte, 30 mil réis, dez mil réis, quinze mil réis. E assim a gente vai levando a vida.
P/1 – Quando é um dia excelente para você comercialmente?
R – Geralmente são feriados, sábado e domingo. Dá para trabalhar melhorzinho. Vender melhor, faturar melhor.
P/1 – Tá bom. Mais alguma pergunta?
P/2 - Não.
P/1 – Então a gente está acabando, você assim, além do trabalho, o lazer hoje?
R – Lazer.
P/1 – Como é a tua vida? Você ainda sai para dançar? Você curte uma música?
R – Não tenho mais tempo para isso, não.
P/1 – Mas tem…
R – Às vezes eu só, ou no inverno, escuto um charmezinho baixinho. Dá uma namoradinha, umas bitoquinhas. Está tudo bem.
P/1 – Mas a tua turma, a tua vida ainda é ali onde você mora? Porque eu acho que isso é interessantérrimo. Você trabalha, você mora, sua família está ali naquele cantinho da cidade que é ali no Jardim de Alá.
R – E devido a idade também, não está mais nessa idade de estar com farra, dançando. Às vezes a gente curte um sonzinho da terceira idade, amassar uns esqueletozinho e tal. Fora disso é trabalho, casa, um sonzinho, uma alimentação social e tudo bem.
P/1 – Mas você vai à praia por lazer? Você vai, você um dia sai de casa e fala: “vou dar um mergulho” ou você não faz isso?
R – Não faço. Porque o mergulho em si a gente já toma todo dia quase (risos).
P/1 – (risos) Tá bom. Bom Irany, eu queria te agradecer e perguntar o que você acha de um projeto que está tentando recuperar a história do comércio da cidade, antigos ramos de comércio, antigos produtos e o mate e o biscoito Globo são produtos muito tradicionais, muito típicos do Rio de Janeiro. Eu queria saber o que você acha desse tipo de…
R – Para, primeiramente, eu acho que para recuperar o comércio brasileiro, tinha que haver mais condições de trabalho para todo mundo. Nós não temos condições de trabalho. Cada projeto que faz, cada projeto que vem da cabeça deles só vem para prejudicar a cada um de nós. Eles nunca fazem um projeto para melhorar ninguém. Ninguém. Só prejudica. Quer dizer, a classe pobre está sendo sempre massacrada. Resumo: só vai cair na praia, então não existe. Para fazer uma melhoria – e pode ver quantidade de produto, qualidade de mercadoria, preço – se não tiver preço não tem mercadoria para trabalho. Cada dia aumenta mais, cada dia aumenta mais, os fregueses vão correndo. E se fica sem opção de trabalho. Uma pessoa trabalha, sabe o que eu estava pensando já? Mudar meu ramo de trabalho. De vez de sair do mate eu estava pensando em botar, trabalhar com canga, trabalhar com biquíni no verão. Porque tem muito concorrente. Quer dizer, a venda não fica ruim. Quem diz: “Ah, a venda está ruim.” Mentira. A venda divide, dá para todo mundo. Divide. Se eu tiver de vender cinquenta, eu vendo vinte, ele vende vinte, outro vende vinte. Quer dizer, dá para todo mundo.
P/2 - E teu filho, você falou que ele trabalha em uma farmácia. O que você acha que seria uma boa para ele em termos de caminhos de trabalho? Alguma coisa relacionada com praia, com mar ou com farmácia mesmo? Você acha que ele vai seguir?
R – Não, primeiramente a farmácia que ele trabalha, ele trabalha encarregado de depósito e aos poucos ele está pegando uma promoção. E ele está estudando. Primeiramente eu queria formar ele no estudo dele. Esse é o meu sonho para amanhã ou depois, ele ser alguém na vida. Porque não adianta hoje em dia uma pessoa ter profissão, como eu já falei e repito, nós não temos ramo de trabalho. O ramo de trabalho nosso está todo fraco. Advogado, eletricista, pedreiro e muitas outras pessoas que têm contabilidade, têm estudo, são formados. Eu conheço advogado, está tudo na areia, carregando caixa. Por que eles estão na areia carregando caixa? Porque não tem condição de trabalho. O mercado de trabalho está assim. Você precisa de um trabalho, tu senta na mesa, tu enche um currículo. Ele pergunta a você: “Você trabalha do quê?” “Eu sou agente vigilante.” Olha tua carteira está com oitocentos na carteira. “Você saiu por que?” “Eu saí, fui por contenção de despesa.” Pede a sua referência. “Está aqui.” Aí: “Depois eu te chamo.” Aí você fica. Não te chama nunca. Por que? Seu salário está alto. Não é porque não precisa de você. Seu salário está alto. Aí chega um outro mais novo, eu posso pagar. Chama ele: “Ó, eu te dou um salário de trezentos reais, mais uma comissãozinha.” Ele vai pegar. Não vai dar para o outro que é sempre mais... Serviço de pedreiro. Chega um, chega um aqui: “Quanto tu faz isso para mim?” “Duzentos reais.” Aí tu vai, pergunta, o outro pega e me faz por 150, faz por cem, você vai preferir do outro. Se cobrar um preço certo x, todo mundo vai fazer o seu preço e a turma, os cabeças em si vão pagar o preço de cada um, melhora. Você viu o ônibus agora? Eles estão fazendo o ônibus agora de uma porta. Por que? Para não pagar mais um trocador. Quer dizer, é mais um desempregado na vida. A nossa classe de trabalho está muito massacrada. E é isso, se vocês fossem fazer alguma coisa e botar na pauta, tem que botar bem grande aí: “O brasileiro, tá – em si os pobres – são massacrados devido as carestias.” Além das carestias dos produto e nosso ramo de trabalho que nós não temos, eles não valorizam o trabalho de ninguém. “Você quer trabalhar? Você quer ganhar quanto? Cem? Não posso pagar cem.” Ele bota uma pessoa para ensinar. Paga cinquenta pra essa pessoa, mas não te dá o valor do teu trabalho. É isso que acontece.
P/1 – Só mais uma pergunta: a coisa do preço do biscoito Globo. Há quanto tempo se mantém esse preço?
R – Esse biscoito está há mais de quatro anos assim.
P/1 – Sem aumentar. Tanto para vocês o preço que vocês pegam quanto o preço que se vende?
R – Onde a gente apanha já tem um bom tempo que não tem um aumento. Ele aumentou uma vez para 35, mas teve um tumulto lá que ele abaixou de novo para 33 (risos). Não deu.
P/2 - Tá. Irany, eu queria te agradecer pela tua gentileza mesmo, de atender esse pedido da gente e participar desse projeto. Eu queria repetir para você o convite de participar da inauguração da exposição aqui com a gente.
P/1 – A gente manda te avisar.
R – Manda um convite para mim.
P/2 - Isso, vamos te mandar um convite e te ligar no celular.
P/2 - E te incomodar algumas vezes também, como a gente fez dessa vez. Mas obrigado mesmo pela força. Quer dizer, a gente insistiu um pouquinho, talvez tenha te incomodado, mas foi muito bom poder te ouvir.
R – Sabe que, às vezes, o pessoal... Todo mundo tem uma cabeça alta e boa querendo ajudar. Todo mundo querendo ajudar todo mundo. Mas nós temos sempre alguém em cima da gente. E você pode fazer um projeto, chega lá, eles não aprovam. Então a mesma coisa que nada.
P/2 - Só quem não tem chefe é Deus, né? O resto. (risos)
R – É isso aí.
P/1 – Tá bom. Super obrigada Irany.
P/2 - Obrigado.
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