P/1 – Renata, pra começar, gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Renata Branco Santoro, tenho trinta e oito anos, nasci em 14 de maio de 1983, em Guarulhos, São Paulo.
P/1 – Quais os nomes dos seus pais?
R – Meu pai chama-se Letterino Santoro Neto e minha mãe, Solange Terezinha Branco.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Os dois são educadores, também. (risos)
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Hum, não sei, os meus pais são separados. Desde que eu tinha os meus sete anos de idade. Eu tive sempre o meu pai muito presente. Mas não tenho muito o início dessa história, assim. Eu sei que eles dois trabalhavam na Eletropaulo, na época. E aí talvez tenha sido lá que eles tenham se conhecido.
P/1 – E como você os descreveria?
R – Ai, eles são duas pessoas incríveis. (risos) São duas pessoas lindas. Meu pai sempre me trouxe esse ar do: “Vai pro mundo”. E a minha mãe sempre trouxe esse acolhimento. E são as duas coisas que eu uso muito no meu trabalho, no meu dia a dia, em como eu crio os meus filhos, como eu dou aula. Então, é essa questão: “Vai, acolho pra você ir”. Essa é um pouco da minha visão com a educação, assim, com os meus alunos, com os meus filhos.
P/1 – Como é a sua relação com eles?
R – Ah, é muito boa, muito boa, os dois muito presentes. Minha mãe eu perdi faz pouco tempo, faz quinze dias que ela partiu desse plano, ainda tá sendo um processo de aceitar, entender. Ela partiu com 66 anos, supernova. E o meu pai fez 63 há alguns dias. Então, eu ainda estou aprendendo a lidar com essa realidade, entendendo que a vida é muito mais do que esse corpo físico. Eu tenho treinado e experimentado uma outra forma de se relacionar, né, com a minha mãe principalmente, que agora não está mais nesse plano físico. Então, tem sido um...
Continuar leituraP/1 – Renata, pra começar, gostaria que você se apresentasse, dizendo seu nome completo, data e local de nascimento.
R – Meu nome é Renata Branco Santoro, tenho trinta e oito anos, nasci em 14 de maio de 1983, em Guarulhos, São Paulo.
P/1 – Quais os nomes dos seus pais?
R – Meu pai chama-se Letterino Santoro Neto e minha mãe, Solange Terezinha Branco.
P/1 – E qual era a atividade deles?
R – Os dois são educadores, também. (risos)
P/1 – E você sabe como eles se conheceram?
R – Hum, não sei, os meus pais são separados. Desde que eu tinha os meus sete anos de idade. Eu tive sempre o meu pai muito presente. Mas não tenho muito o início dessa história, assim. Eu sei que eles dois trabalhavam na Eletropaulo, na época. E aí talvez tenha sido lá que eles tenham se conhecido.
P/1 – E como você os descreveria?
R – Ai, eles são duas pessoas incríveis. (risos) São duas pessoas lindas. Meu pai sempre me trouxe esse ar do: “Vai pro mundo”. E a minha mãe sempre trouxe esse acolhimento. E são as duas coisas que eu uso muito no meu trabalho, no meu dia a dia, em como eu crio os meus filhos, como eu dou aula. Então, é essa questão: “Vai, acolho pra você ir”. Essa é um pouco da minha visão com a educação, assim, com os meus alunos, com os meus filhos.
P/1 – Como é a sua relação com eles?
R – Ah, é muito boa, muito boa, os dois muito presentes. Minha mãe eu perdi faz pouco tempo, faz quinze dias que ela partiu desse plano, ainda tá sendo um processo de aceitar, entender. Ela partiu com 66 anos, supernova. E o meu pai fez 63 há alguns dias. Então, eu ainda estou aprendendo a lidar com essa realidade, entendendo que a vida é muito mais do que esse corpo físico. Eu tenho treinado e experimentado uma outra forma de se relacionar, né, com a minha mãe principalmente, que agora não está mais nesse plano físico. Então, tem sido um exercício.
P/1 – E você teve irmãos?
R – Tenho um irmão, ele se chama Wagner, ele tem quatro anos a mais do que eu, então nós crescemos bem juntos. Eu vim pra Guararema e ele veio, faz dois anos que ele mora aqui em Guararema também. Ai, ele me trouxe tanto assim, aprendi tanto com ele sobre política, ele é historiador. (risos) Então, sobre política, sobre essa visão social. Ele me deu muito essa base.
P/1 – E você conheceu os seus avós?
R – Sim, a minha família é muito unida.Tanto de um lado, quanto do outro. Eu conheci os meus avós, conheci duas bisavós minhas, pude ter o privilégio de conviver com elas, um pouco. E as minhas duas avós ainda estão vivas, elas têm 86 anos. E elas são esse meu lado terapêutico, assim, vêm muito delas. Uma das avós mexe muito com ervas, a outra benze, tem ali o dom das cartas, de tarô e tal. E essas minhas avós me trouxeram muito. Os meus avôs, um deles faleceu já faz 21 anos, eu tinha uma ligação muito forte com ele, ele veio da Itália. Ele tinha muitas histórias assim: o Natal, o presépio, muitas coisas relacionadas lá, com a história dele. E o meu outro avô era um palhaço, sabe, aquele brincalhão, bem gostoso também, ele faleceu faz quatro anos, então ainda é bem recente também. Mas os tenho muitos presentes, mesmo esse que já foi há mais tempo, a minha conexão com ele é muito forte, a gente nasceu no mesmo dia. Então, assim, não passo um aniversário sem receber o parabéns dele, de um jeito ou de outro, sabe? É uma conexão bem especial.
P/1 – E antes ainda, pequena, tinha alguma atividade que você gostava de fazer com ele, você lembra?
R – Ah, sim, com esse avô que faz pouco tempo que partiu, por parte da minha mãe, a gente plantava muito, ele era muito de produzir a semente, sabe, de germinar as sementes. Então ele botava lá, eu me lembro muito dele, da gente fazendo esses processos. Ah e várias outras coisas. Com esse outro avô, era sempre o presépio, então ele montava as mesas e a gente ajudava, era um presépio maravilhoso que ele montava, uma mesa que retratava os morros da Itália. Então, ele fazia o vilarejo, fazia cada rua dos morros, fazia o lago, fazia as casinhas de remédio, eu me lembro que eu aprendi a fazer as casinhas de remédio. Então, eu cortava as casinhas, colocava lampadinha dentro, funcionava. Então, ele era muito o presépio, sabe? O Natal é muito uma lembrança dele. E as minhas outras duas avós são ainda. Elas são muito lindas. (risos) Essa coisa da minha avó: os xaropes, os remédios, a alimentação, o cuidado, muito disso meu, de ter essa aproximação com a questão ambiental, elas acho que nem sabem, mas veio delas.
P/1 – Da sua infância, além dessa do Natal, dessas datas comemorativas, você se lembra de algum cheiro ou alguma comida, que remete à essa época da vida?
R – Ah, sim, tem muitas comidas,: tem um biscoitinho que a minha avó faz só no Natal, que é um biscoitinho italiano que o meu avô gostava muito e aí me lembra muito dessa época. Ah, tem os cheiros, tem o cheiro de uma planta, é uma fênix, se eu não me engano. Ela, nossa, me desperta assim um monte de sensações da infância. Isso é forte e marcante. (risos)
P/1 – E, Renata, você sabe a história do seu nascimento?
R – Eu acho que isso vai mexer muito, não vou aguentar.
P/1 – Sem problemas.
R – E é louco, porque está muito relacionado com a vinda para cá. Quando eu fiquei procurando, para qual cidade eu vinha e eu fiquei sabendo que passava o Rio Paraíba do Sul aqui. O Rio Paraíba do Sul tem uma ligação com a Nossa Senhora Aparecida e eu tenho uma ligação muito forte com a Nossa Senhora Aparecida, embora eu não seja católica, tenho essa ligação com essa energia dessa mãe. E a minha mãe, durante a gestação, levou um tombo e estava com o risco de perder. E aí ela fez uma promessa pra Nossa Senhora Aparecida. Então, a sensação que eu tenho e o que a minha mãe falava também, é que ela é a minha madrinha, sabe? E aí, quando eu fiquei sabendo que esse rio era o Rio Paraíba do Sul e toda a história toda, do encontro, da imagem de Nossa Senhora nesse rio, porque ele é o rio que passa em Aparecida, eu falei: “Uau, que coisa forte, é lá mesmo”. E aí eu vim morar na beira do rio. E a minha questão ambiental em lutar pelo rio, não é à toa. Nunca é à toa. Tem uma história forte aí com essa relação, desse lugar, desse ambiente que me cerca aqui, com a minha história de vida, com uma gratidão que eu sinto. É isso.
P/1 – Você sabe como seus pais escolheram seu nome?
R – Meu pai queria esse nome. Minha mãe tinha até uma outra sugestão, que era Tatiana, (risos) mas ela aceitou Renata, combinou. Ela achou que sim e foi. E meu nome é renascida, né? É, renascida, renascimento, Renata. É, eu sinto que tem a ver com a minha história. (risos)
P/1 – E a sua casa, onde você cresceu, você se lembra?
R – Sim, eu me lembro. (risos) O que você quer que eu fale dela, assim?
P/1 – Como que ela era?
R – Ah, era uma casa pequena, tinha um corredor bem fundo, um portão fechado e um corredor bem fundo, que chegava em casa. Aí morava eu e minha mãe e o meu irmão nessa casa e é isso. Sempre tinha cachorro no quintal, (risos) sempre tinha gato dentro de casa, a gente era bem simples, bem simples mesmo. Minha mãe trabalhava bastante, estudava. Teve uma época da vida em que nós estávamos na escola e ela também fazia magistério na época, na mesma escola que nós estávamos, eu e o meu irmão. Então, era muito divertido e ao mesmo tempo me causava um pouco de vergonha, assim, porque adolescente e a mãe estudando na escola, pô, né, meu, queima o filme. (risos) Mas era uma aventura e hoje eu tenho muito orgulho de ver essa história da minha mãe, essa trajetória de voltar a estudar, ela foi fazer magistério então depois que nós já estávamos grandes. Ela foi recomeçar, ela prestou um concurso e passou no concurso da prefeitura, ela era professora na prefeitura de São Paulo. Então, foi toda uma história de renascer.
P/1 – Vocês puderam acompanhar.
R – Sim, nossa. E, assim, me traz muito o que eu sou hoje, de: “Vambora, vambora”. O que mais? (risos)
P/1 – O bairro, como que era?
R – O bairro, era um bairro assim, bem legal. Eu me lembro que começou, assim, a “pipocar” prédios em São Paulo e o meu bairro ainda era um bairro bem tradicional, de bastante prédios velhinhos, quintalzão grande. A minha avó morava colada, parede com parede com ela e ela sempre teve um quintal gostoso, com várias plantas no quintal, fazia horta, composteira. Então, pra mim, eu cresci vendo isso, esse bairro mais acolhedor. Sabe aquela história de ainda você sair na rua? Eu brincava na rua com os meus amigos. Então, estudava na escola pública perto de casa, à tarde brincava com os amigos na rua. Tinha de descer de papelão na água da chuva. (risos) De brincar no salgueiro, tipo o Tarzan ali, assim, tinha muito isso ainda, as brincadeiras de rua com os amigos. Então, eu ainda tive esse privilégio - não faz muito tempo isso, lógico - de ter essa vivência.
P/1 – O que você mais gostava de fazer?
R – Nossa, eu acho que é essa brincadeira de rua. Lembrar agora, da gente descendo na água, eu brincando de skate com o pessoal. As brincadeiras mesmo, andando de bicicleta e nunca tinha bicicleta pra todo mundo, então a gente revezava e sempre criava, as ideias de brincar com táxi de bicicleta, então dava um jeito de todo mundo brincar, de todo mundo estar incluído.
P/1 – E você pensava o que você queria ser, quando crescesse?
R – Nossa, você sabe que eu brincava muito de escolinha. Eu brincava muito disso, de ser professora. (risos) Era uma coisa divertida isso, até sozinha eu brincava com isso e virei. (risos) É, eu gosto dessa coisa do: “Olha, vem cá, vamos ver como funciona”. E eu era muito assim, já desde criança, gostava de ajudar. Quando eu entendia alguma coisa porque, assim, eu não era uma aluna exemplar, mas eu gostava de ser ativa. Eu me lembro muito que, quando eu entendia alguma coisa, eu sempre estava pronta pra ajudar outra pessoa. “Ah, vamos lá, vamos ver como é que funciona, vamos entender juntos”. Isso é uma coisa minha, acho que está na minha essência, mesmo.
P/1 – Que outras recordações você tem da escola ou alguma história?
R – Ai, meu, eu curti muito a escola, eu curti muito a escola, eu sempre estava muito envolvida com jogos, coisa de contraturno que tinha. Grupo de teatro eu participava, então a gente fez várias peças muito legais. Vários outros projetos e a política. Eu me lembro assim que a gente fundou o grêmio estudantil da escola, na época, uma escola pública da cidade, do bairro e a gente foi pra manifestação na Paulista, com os professores, com os diretores. A gente foi para a Assembleia, era um grupo muito ativo. Eu acho que isso fez muita diferença pra minha ideia de mundo. Essa participação, esse envolvimento com as coisas da escola. Eu não gostava muito do estudo, em si, mas eu tinha uma coisa: “Bom, já que eu tô aqui...” - e eu não via saída mesmo, de sair antes do tempo - “... então, vamos aproveitar”. Então, foi muito assim, aproveitei muito as questões de esportes, de cultura, política, eu acho que isso foi muito válido pra mim.
P/1 – Você se lembra de algum professor ou professora?
R – Ah, vários, nossa, vários, vários deles eu tenho contato, vários deles eu pude dar aula depois, quando eu me formei, que eu comecei a fazer, comecei na escola pública onde eu estudei, comecei a fazer os estágios da escola na escola pública. E aí comecei a pegar aulas substitutas, que chamam, (risos) os eventuais, comecei como os eventuais. E aí eu pude dar aula com vários professores que deram aula comigo, aquilo pra mim era: “Nossa! Uau, onde eu tô, meu!” (risos) Muito legal, muito legal.
P/1 – Você passou a formação toda na mesma escola?
R – Não, eu mudei poucas vezes, viu? Porque, na verdade, uma escola era até tal ano, depois eu fui pra outra, que eu fiquei sempre, era uma escola muito bacana do bairro lá, escola pública de referência. Muito legal mesmo, as coisas realmente aconteciam.
P/1 – Qual era o bairro?
R – Era na Água Rasa, entre Mooca e Tatuapé e a escola, Wolny de Carvalho Ramos.
P/1 – E, Renata, você lembra da sua formatura do colégio, como foi esse período de sair da escola, decidir o que vai fazer?
R – Ah, foi tão tranquilo, eu levo de boa essas coisas de mudança de ciclo. Eu sou uma taurina meio assim: gosto das coisas de planejar, né, eu gosto de planejar as coisas, mas elas nunca saem como eu planejo. (risos) Acho que eu já fui me acostumando. E aí, quando eu saí, eu não tinha muita ideia do que eu ia fazer e tal, eu fiquei um pouco, eu me lembro que eu fiquei esperando um tempo. Mas logo também me decidi, entrei na Biologia achando que eu ia ser bióloga marinha, aí no meu primeiro mergulho, (risos) falei: “Meu Deus do céu, tô sufocada, me tira daqui! Socorro!” E aí eu falei: “Não, isso não é pra mim, não dá, não dá certo”. Só que Biologia é uma coisa imensa, né? E aí eu fui entendendo uma coisa, outra e aí eu fui indo pra área de educação ambiental. Eu caí num primeiro estágio, meu primeiro estágio foi pela Secretaria do Verde e Meio Ambiente, no município de São Paulo, muito especial, foi assim uma porta que os céus me abriram. E eu fui trabalhar com reabilitação de animais silvestres.
P/1 – Uau!
R – Incrível, incrível, passei um ano assim: recebia os animais que estavam em reabilitação, que por algum motivo tinham saído da natureza e precisavam ser colocados de novo. Então, depois que eles passavam pra parte de veterinária, que eram cuidados fisicamente, a gente fazia o trabalho de reabilitar. E aí, a gente montava os recintos, eu era uma estagiária lá, uma das estagiárias. Então, a gente montava os recintos, montava o cardápio de alimentação. Tinha que estudar sobre a biologia de cada um, sobre a vida de cada um. Então, foi um trabalho muito legal, que eu falei: “Meu, é isso que eu quero pra minha vida”. Só que eu comecei a perceber que muitos animais voltavam, a gente reabilitava e eles voltavam, anilhados. E aí eu falei: “Meu, a natureza já funciona tão perfeitamente, que a gente precisa cuidar como interferir, né?” E aí foi aí que eu caí na educação ambiental. Eu tinha que fazer um trabalho de conclusão desse primeiro ano e tinha possibilidade de renovar por mais um ano. Aí eu fiz um trabalho sobre educação ambiental, a necessidade de educação ambiental que tinha, relacionado a essa questão de captura de animais, de caça, que era uma coisa muito comum lá na região onde eu trabalhava, no Parque Anhanguera. E aí me deram a oportunidade de renovar esse um ano de contrato no Parque Ibirapuera e eu fui trabalhar com educação ambiental. Foi aí que comecei a trabalhar com crianças. Eu recebia as crianças da escola e apresentava o parque pra elas e a gente contava toda a história do parque, com as crianças andando, caminhando por ali, brincando. Foi aí a semente, sabe, aquela semente que germinou muito tempo depois, acredito que lá tenha nascido.
P/1 – Você lembra de algum dia, de algum passeio específico?
R – Lembro, lembro de vários. Ah, sabe, o despertar de cada um, o olhar das crianças sempre marcou, porque eu sempre me senti, desde essa época, como... não como: “Olha, estou te passando conhecimento”, mas como alguém que desperta essa afinidade, que todo mundo tem, essa afinidade que todo mundo tem com o ambiente, com o meio ambiente, porque nós somos meio ambiente, né? E aí, em um dado momento, a gente está tão desconectado com esse meio ambiente, que a gente não consegue perceber essa relação. Então, eu sempre me senti, desde esse momento, como assim, um portal: “Ó, vamos sentir, sente aí junto, como é que te toca?” É disso que as pessoas precisam, pra respeitar o ambiente, é isso que as pessoas precisam: se sentir parte. E acho que sentir-se parte é esse despertar, que eu via nos vários olhos das crianças: “Uau”! Então, quando a gente mostra, por exemplo, um fruto, de a gente falar assim: “Olha, você sabia que o fruto só nasce depois que a flor engravida?” “Uau”! E, assim, é esse despertar, essa conexão, é esse respeito com o outro ser que ali está. Acho que é essa a biologia que está dentro de mim, por isso que eu gosto tanto do que eu faço e eu sou muito sortuda, privilegiada, porque os alunos realmente gostam de mim, gostam da minha aula, eles falam. E eu sinto que é isso, é o amor, com o que eu faço. Tem muitas coisas que eles me perguntam: “Ah, o que é isso?” e eu falo: “Não sei, vamos pesquisar”? E eu acho que isso que está o legal, porque um professor não é aquele que sabe tudo, né? O professor é aquele que: “Vamos trilhar juntos”. Então, acho que esse despertar, essa forma como eu tive essa iniciação com a educação informal primeiro, me mostrando que é isso, assim, basta a gente se aproximar. Não importa como funciona o ciclo de Krebs, não importa como é a respiração celular. Isso é pra vestibular, mas e pra vida, o que fica? E a minha biologia é pra vida. Acho que é isso.
P/1 – Quanto tempo você ficou nesse estágio?
R – Um ano mais. Foi um ano em cada setor, foi um ano.
P/1 – E como que seguiu?
R – Aí, de lá foi uma porta que nunca se fechou, esse Centro de Educação Ambiental se transformou no que hoje é a Umapaz, Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, que funciona dentro do Parque Ibirapuera. É um espaço mantido pela prefeitura de São Paulo, que tem aulas, é uma educação informal, que tem muitas aulas maravilhosas e trabalha com essa cultura de paz. Esse lugar se transformou nisso. Posteriormente, eu dei muitos cursos lá de formação de professores, fizemos capacitações, parcerias entre a Secretaria do Meio Ambiente e a Secretaria de Educação de São Paulo, onde eu pude fazer a formação de vários professores, em várias escolas, sobre compostagem, por exemplo, nós trabalhamos com resíduos orgânicos, implantamos várias hortas e várias composteiras, em várias escolas municipais de São Paulo. E foi essa semente desse estágio e depois assim: “Meu, preciso de uma pessoa pra fazer um trabalho assim, vamos fazer juntos?” “Nossa, vamos”. Foram dois anos em alguns projetos, tanto de formação desse, de professores como... era um outro curso que eu dava, que eu não me lembro exatamente o nome, fazem vários anos já, mas eram não em escolas, eram com pessoas. As pessoas se inscreviam, a gente trabalhava economia local, economia solidária, composteiras, questões de consumo consciente, era um curso de alguns meses e foi lá também, né, foi por lá.
P/1 – Foi depois da faculdade ou não?
R – Foi depois da faculdade, isso foi depois da faculdade, depois que eu já estava formada.
P/1 – Você teve outros estágios durante a faculdade ou não?
R – Aí, alguns estágios em educação, mas nas escolas. Como eu fiz licenciatura, eu tinha que fazer estágios em escolas. Então, eu fiz alguns que também foram muito especiais, com o ensino formal. Aí comecei a entender a realidade do ensino formal, que é aquela coisa meio engessada, uma educação bem antiquada, (risos) uma educação do século passado. Mas é isso, eu vejo que é o que a gente tem e aí a minha luta é de transformar essa educação também, colocando muitos elementos da educação informal. Essa coisa da vivência, da realidade, da prática. Então, trazer a educação informal, para além das apostilas e dos livros. E aí acho que foram só esses estágios. No final da faculdade, eu conheci um pessoal muito legal, comecei a estudar sobre permacultura, estudar sobre bioconstrução, economia solidária, aí foi um universo que se abriu pra mim. E tinha um pessoal que estava organizando uma viagem, em que eles iam até a Venezuela, no Fórum Social Mundial, que foi na Venezuela naquele ano e eles iam montar o Acampamento da Juventude naquele fórum. Onde, dentro desse acampamento, todas as questões, além da sustentabilidade, de funcionar com resíduos, as questões do consumo lá de dentro, o cuidado com esse resíduo, tinha toda uma relação entre as pessoas, que o acampamento se sustentasse durante o tempo que tivesse ali. Então, eu conheci esse pessoal e embarquei nessa, terminei a faculdade e fui. Aí, saímos aqui de São Paulo, acho que foi no fim de novembro e a gente chegou na Venezuela em janeiro. Então, foram aí alguns meses fazendo essa viagem, vinte e cinco pessoas dentro de um ônibus, nós tínhamos desde pessoas como eu, até rastafari. Tinham muitas pessoas diferentes, vinte e cinco pessoas, mas todas elas com uma ideia em comum, que era trabalhar essa questão de sustentabilidade em várias comunidades. Então, a gente ia subindo, fomos subindo por dentro do Brasil, parando em várias comunidades, não foi uma viagem direta, nós parávamos numa comunidade, por exemplo: MST, comunidades locais ribeirinhas, várias outras. Comunidades sustentáveis ecovilas. Algumas a gente ia pra ensinar, outras a gente ia pra aprender. Quer dizer, a gente sempre aprendia muito. Oficinas para trabalhar, outras a gente ia pra fazer oficinas, para receber oficinas, então foi muito essa troca. Mas sempre a ideia de subindo e trabalhando e sustentando a viagem. A gasolina, o diesel não era o preço que está hoje, mas a gente também precisava manter essa subida, a nossa alimentação e tudo mais. Então, foi uma experiência muito incrível, teve vários contratempos no meio: ônibus que quebra, coisas que acontecem, amigo que fica perdido numa cachoeira e a gente esquece dele, vai embora e depois tem que voltar para buscar, você imagina. Então, foram muitas aventuras mesmo, e as relações, de manter uma convivência harmônica entre vinte e cinco pessoas morando dentro de um ônibus não é pouca tarefa. (risos) Foi uma tarefa bem interessante de aprender sobre o coletivo, aprender como conviver no coletivo, como trocar, como cada um se mantém no seu espaço. Muito especial, acho que foi muito especial, foi uma formação acho que humana. Foi uma formação humana. Eu tenho contato com muitas pessoas, até hoje, dessa época, muitos, irmãos assim, que nasceram.
P/1 – Algumas dessas paradas, imagino que várias devem ter sido muito significativas, mas você quer contar sobre alguma?
R – Sim. Uma das paradas foi numa ecovila na Amazônia, na ida, a gente estava indo pra Venezuela, ainda. Então, nós paramos lá e aí eu pude conviver com as famílias que ali moravam, poucas famílias, pude conviver com as famílias que ali moravam, seu modo de vida, tudo pra mim estava sendo muito “uau”. E aí, na volta nós paramos de novo. Na ida, nós fizemos um combinado com eles, eles estavam perto de montar um segundo Encontro Bio Regional da Amazônia, onde iam pessoas muito especiais ali, locais: parteiras, xamãs, sabe, indígenas, as pessoas dali mesmo, com aquele conhecimento todo, né? E nós combinamos com eles que, na volta do Fórum Social Mundial, nós pararíamos ali. Abra, Aldeia Bio Regional da Amazônia, esse era o nome da ecovila, Abra 144. E, na volta, a gente ficou lá durante mais dois meses, mais ou menos, acampados e os ajudando a montar o evento. Quando o acabou o evento, que foi maravilhoso, incrível, eu não conseguia nem fechar a boca, babando ali o tempo inteiro, com tanta gente, com tanto conhecimento, aí o ônibus decidiu levantar acampamento e ir embora e aí eu fiquei, foi ali que eu fiquei morando, na Amazônia, por um ano. Aí o ano de 2005 inteiro eu fiquei morando na Amazônia, que aí eu falei assim: “O ônibus vai embora” e aí tudo aquilo fazia tanto sentido pra mim, fazia tanto sentido aquelas pessoas, a vida delas e a forma como elas estavam desenvolvendo tudo, que eu falei: “Eu não posso ir embora daqui agora, eu tenho coisa ainda pra fazer aqui”. Daí eu me despeço, neste momento, do ônibus, que foi bem forte também, sabe, ver o ônibus partindo e tudo mais e eles seguiram e eu fiquei lá na Amazônia, fiquei morando com uma grande amiga, mãe, irmã (risos) venezuelana e aí nós pudemos, ali... eu tive uma relação muito especial, além da questão ambiental, porque não tem lixeiro, você não bota o lixo pra fora. O que você faz com todo esse lixo? Então, era isso, tinha toda uma questão de consumir coisas que podem acabar ali mesmo, serem biodegradáveis. Alimentos todos regionais e de época e dar um jeito de reciclar toda a matéria que a gente usa ali dentro. Então, isso acontecia ali dentro e aí, pra mim foi muito especial nesse sentido, né, como também ver a relação, tinha uma família lá que tinha dois filhos pequenos e eu vi nascer a terceira ali, eram duas crianças de cinco e quatro anos que não iam pra escola e tinham aula ali dentro, a mãe que ensinava. E a vida daquelas crianças, a relação que elas têm com o ambiente, é muito especial. A relação de um com o outro, o respeito entre pessoas e entre seres, o respeito entre os seres vivos. Ali, essa vivência foi muito especial pra mim, o que transformou muito a minha forma de ver a educação. Porque aí eu já era uma professora formada. Eu já tinha uma licenciatura, um diploma de licenciatura e aí eu fui entendendo. “Tá, é muito além do que essa escola está colocada aí pra gente, como que é”, né? E ali eu tive essa vivência assim, foi muito especial pra mim, muito especial.
P/1 – Como que era o seu dia a dia?
R – Ah, eu ficava muito assim... esse negócio de sábado e domingo, não tem. Todo dia é sábado e domingo, mas a gente trabalha e a relação de trabalho também, pra mim mudou, porque toda hora é um trabalho: a hora que eu vou plantar, a hora que eu vou colher e toda hora é uma diversão, a hora que eu vou tomar um banho de chuva, a hora que eu vou pro igarapé, tomar um banho de rio. Tudo é um trabalho: “Ah, então eu tenho que capinar ali, eu já vou e depois já tomo um banho de rio. Ah, vou construir...”. Então, assim, no meu dia a dia lá, eu me encontrei muito fazendo relações, porque a gente começou a desenvolver vários projetos junto à prefeitura lá, na época e eu gostava dessa... já gostava dessa coisa do contato, falar, então eu fiz muitas relações, tanto com os moradores lá, quanto com a prefeitura. Eu ia muito pra cidade alguns dias, pra fazer esses contatos e nos outros dias eu trabalhava muito ali, pro nosso próprio sustento, essa coisa do plantar, do colher, pegar a lenha pro fogão a lenha, pegar... a gente morava num quintal muito gigante, eu nem sei te dizer o tamanho daquilo, mas era muito gigante mesmo. Então, era uma área de preservação que, às vezes, a gente saía pra fazer coleta de frutas, que eram as frutas que iam alimentar a gente durante um tempo. Então, a gente sai, uma galera com os equipamentos, as bolsas, tudo e íamos colher castanha, colher buriti, colher tucumã, o que tinha na época, caju. Então, colhia tudo, trocava com os vizinhos. Tinha uma vizinha parteira, que morava a dois quilômetros de mim e aí, a casa dela eu frequentava muito, tomei muitos cafés com ela. (risos) De manhã cedo, ela já botava os filhos lá pra escola, todos iam de ônibus pra escola e muitas vezes eu chegava naquele horário, tomava um cafezinho. (risos)
P/1 – Teve alguma pessoa, assim, que você aprendeu muito, que queira destacar?
R – Nossa! Essas três pessoas que fundaram a ecovila, que eram: a Estrela, que era a mãe; a Vanessa, que é a filha, fundadora da ecovila; a Vanessa é incrível, ela que é a mãe dessas três crianças, uma delas eu vi nascer. Acho que a Vanessa é uma pessoa que me inspira muito, desde o parto, até a forma de criar, de educar. Nunca a vi gritando com os filhos dela, mas era uma educação perfeita. E muito respeito. Ah, e a forma como ela lida com as pessoas ali, sabe, o respeito com o lugar. Ela trabalha hoje em dia com turismo e com indígenas. Então, ela tem uma questão de sustentabilidade muito legal e uma relação com eles também muito legal. Ela que fez esse cachimbo aqui pra mim, ó, ela que fez esse cachimbo aqui pra mim, esse cachimbo é feito de pau-brasil e ela que o esculpiu. É, esse cachimbo é ferramenta de poder. (risos)
P/1 – Como foi voltar, se despedir de lá?
R – Foi muito natural também, fechou o ciclo, eu senti assim, que eu tinha que ir embora, eu falei: “Gente, eu preciso ir embora”, foi muito natural. Eles, assim: “Como assim”? Eu falei: “Não sei explicar, preciso ir embora”. Eu sou muito de sentir, sabe, sentir assim, eu tenho muito essa sensibilidade e eu consigo respeitar essa sensibilidade, eu falei: “Eu preciso ir embora, eu não sei o porquê, mas eu preciso ir embora”. E aí eu peguei o avião, vim e cheguei aqui e as coisas começaram: pá pá pá, a caminharem de uma tal maneira porque eu cheguei... eu tive, durante todo esse tempo, contato com um professor muito especial da faculdade, que foi o meu orientador da faculdade na graduação, ele é um sociólogo, Cláudio Penteado e ele me trouxe essa coisa da comunidade, porque o meu TCC foi feito numa comunidade quilombola, em Itatiba. Eu já gostava dessa coisa da comunidade, do funcionamento de outras formas. E aí eu fiz um trabalho sobre educação ambiental e aquela comunidade quilombola e eu tive muito contato com ele, porque durante toda a viagem eu fui relatando pra ele o que estava acontecendo, aquela época só tinha e-mail. Ou o famoso postal. (risos) Então, eu mandava alguns postais para ele e mandava muitos e-mails. E quando eu voltei, eu falei pra ele assim: “Eu estou de volta”, ele falou: “Meu, comecei a dar aula na Universidade Federal do ABC, faz pouco tempo e a gente começou um curso agora, que eu acho que é a sua cara. É um curso de energia, interdisciplinar e eu acho que você tinha que entrar pra fazer um projeto comigo, pra gente estudar sobre a comunidade lá de Ilhabela, que não tem energia elétrica, bora”? Eu falei, sabe? “Tudo faz sentido, eu sabia que eu tinha que voltar, tá bom, eu entendi agora. Bora, vamos lá, vou prestar, mas cara, é uma universidade federal, né”? Ele falou: “Presta, quem sabe”? E eu passei. Então, eu passei num mestrado numa universidade federal naquele ano mesmo que eu voltei, no final de 2005. E comecei a fazer o mestrado, só que logo eu engravidei, eu conheci o meu marido, tudo isso foi uma loucura. Engravidei e falei: “Olha, aquele projeto lá de fazer na comunidade sem luz não vai rolar, porque eu vou estar parindo, né? Vai ser meio complicado”. A gente fez umas adaptações, estudei uma outra comunidade, estudei a relação de uma comunidade de permacultura na Mata Atlântica, em Ubatuba, a relação deles com a energia, enfim, fui, caminhei de alguma maneira ali e também, eu fui me aprofundando nessa questão: consumo consciente, geração de resíduos, dar conta desses resíduos, respeitar o ambiente que estou. É isso sempre, sempre foi, de uma forma ou de outra, essa ligação. É isso. (risos)
P/1 – Como você conheceu o seu marido?
R – Uau! (risos) Foi num trabalho xamânico, eu conheci alguns rituais xamânicos, indígenas e aí eu estava participando e aí nós nos encontramos lá, porque ele também participava. E aí a gente se relacionou, (risos) aí a gente nunca mais se separou. (risos)
P/1 – E, Renata, como foi se tornar mãe, pra você?
R – Nossa, um portal, atravessar um portal, atravessar um portal, porque é isso, é um amor que não existe em palavras. Então, quando eu tinha vinte e quatro anos, eu era nova, né? E aí, foi muito especial, muito especial, muito difícil ao mesmo tempo, muito difícil. Eu fazia mestrado ainda, eu tinha dedicação exclusiva em uma universidade federal, então eu tinha que dar conta de tirar A e B só, em tudo e era um mestrado interdisciplinar, os meus professores eram todos engenheiros japoneses do ITA, sabe? (risos) Sem didática nenhuma. (risos) E aí, eu sofri pra caramba, porque eu tinha que dar conta da faculdade, eu fui a primeira aluna grávida, bolsista, eu era bolsista. Então, eu tinha necessidade de prestar contas, né? Só que eu tinha tido um filho, então eles organizaram as regras da universidade federal do ABC em relação a gestantes, com base na minha experiência, porque eu falei: “E aí, como é que funciona agora?” Eles: “Não sei”. Falei: “Eu também não sei, vamos juntos, então.” Mas não foi tão fácil assim, não foi simples. E aí, o meu filho - eu terminei o mestrado - tinha dois anos. Uau! Então, foi assim. Me tornar mãe ao mesmo tempo que eu me tornei mestre. Foi uma experiência, assim, muito difícil de conseguir vencer, mas que me tornou, realmente, mais fortalecida. O que não mata, fortalece, dizem por aí que o que não mata, fortalece. Realmente eu senti que eu cresci. Foi um portal, acho que pra maturidade, pra essa doação. Como que a gente doa, sem ter?
P/1 – E pós mestrado, o que rolou?
R – Ai, o pós mestrado eu dei aulas, muitas aulas. Eu fui dar aula, depois do mestrado que eu entrei no Umapaz, Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, desenvolvi muitos projetos, mas sempre ligados a educação e a permacultura porque, como o meu mestrado foi um estudo mais fino da permacultura e da relação da permacultura com a energia, eu pude me aprofundar mais nessa questão da permacultura e, enfim, formações sempre. Aí eu comecei a dar aula na faculdade. Mas antes de começar a dar aula na faculdade, eu comecei a fazer uma formação em terapia, terapeuta holística. E aí, me lembro até hoje meu pai falando: “Mas o que tem a ver a terapia holística, Renata?” e eu falava: “Tudo, pai, tem tudo a ver com Biologia”. É o alinhamento do ser, sabe? É como a gente chega nesse alinhamento. A gente está tão desconectado, que a gente precisa se reconectar de novo e, às vezes, não é fácil. Nunca é fácil. Então, a terapia holística, a medicina chinesa, pra mim, foi uma forma de fazer essa reconexão, porque não deixa de ser educação ambiental, não deixa de ser. Então, eu fui fazer uma formação em terapia e, nessa formação, durante a formação eu engravidei de novo, aí foi o meu segundo filho. Hoje eu tenho dois: um que está com treze anos e o outro com quase nove, semana que vem ele faz nove. Então, essa segunda gestação foi mais um parto. Essa segunda formação foi mais um parto. Aí, eu tenho um filho que nasceu mestre em energia e outro filho que nasceu terapeuta e eles são muito característicos, assim. Eles têm muito essas características dessas formações, é incrível, é incrível. O meu filho mais novo é muito terapeuta, ele é muito terapeuta, ele está muito ligado, sabe? O mais velho já é mais engenheiro, assim, aquele quieto, analisa. Depois que eu me formei como terapeuta, aí eu comecei a atender em consultório particular, comecei atendendo amigos, porque eu não me sentia, não sei nem se a palavra é capaz, mas assim, apta. Não via isso. Hoje, sim, eu vejo, hoje é diferente, isso já faz acho que oito anos... sete anos, ele vai fazer oito, vai fazer sete anos que eu sou formada como terapeuta. E comecei brincando, assim... brincando não, era muito sério já, nunca foi uma brincadeira, mas atendendo amigos. “Tá precisando de alguma coisa? Vamos pôr uns pontinhos aí na orelha, vamos fazer tal coisa, vamos tomar um floral”. Então, comentando uma coisa ou outra, aquela visão terapêutica da coisa. “Ah, mas será que isso não está acontecendo por causa de tal coisa?” Quando a gente está de fora, é muito mais fácil olhar. Então, era essa dinâmica. Aí fui dar aula na faculdade, dei aula primeiro na Uniabc que, por sinal, foi a faculdade que eu me formei. Eu me formei lá e depois uma que era minha professora na época, me contratou. Isso que é muito legal, que eu sempre falo pros meus filhos, eu sempre falo pros meus alunos: a gente sempre deixar sementes férteis por onde a gente passa, sabe? Deixa ali uma semente fértil, porque você não sabe quando vai germinar aquilo. E na minha vida sempre foi assim: eu sempre retornei pras minhas casas, sempre retornei. Aí eu comecei a dar aula na Uniabc, depois a Uniabc se transformou na Universidade Anhanguera, aí continuei lá por um tempo. E aí teve uma época que eu fui mandada embora, teve um ano lá que eu fui mandada embora, que foi esse ano que eu falei: “Pronto, agora é a hora de sair de São Paulo, porque eu não tenho mais um vínculo aqui, eu tenho certeza que eu vou me vincular a alguma coisa, que seja em algum outro lugar”, que o período que eu fiquei em São Paulo foi esse de formações. Quando eu estava fazendo faculdade, depois com o nascimento das crianças, meus pais moravam lá. Então, é esse voltar pro ninho. E aí, depois eu senti: “Vamos, vamos sair, pra gente poder se fixar em outro lugar, porque eu não quero fazer raiz aqui em São Paulo de novo”, que eu estava bem cansada, de trânsito, muita gente, muito movimento, então isso estava me cansando, já. E aí, foi quando eu vim pra Guararema, foi assim que eu cheguei em Guararema, eu nem conhecia direito, mas aí eu comecei a procurar, primeiro eu olhava no mapa e via o que era possível, porque o meu marido tinha que trabalhar ainda em São Paulo. Então, pra onde é possível? Ele sempre trabalhando na zona leste, São Miguel, falei: “Puxa, se a gente for pra Guararema, dá pra ele vir, contando quilometragem, não sei o quê”. Aí eu comecei a pesquisar sobre a cidade, falei: “Vamos ver um pouco da cidade”, aí vi que aqui tinha uma educação legal, pra que eu colocasse os meus filhos numa escola pública e que fosse uma educação de qualidade e pronto: “É lá, vamos procurar casa”. Aí, começamos a procurar casa e eles vão, eles entram na brincadeira. Então, isso é gostoso, a minha família está sempre junto comigo. Foi aí que a gente veio pra cá.
P/1 – Qual foi a primeira impressão que você teve daqui?
R – A primeira impressão que eu tive? Ah, uma cidade muito organizada, uma cidade muito limpa. E com bastante opções e calma, porque a gente tem trinta mil habitantes aqui, perto de São Paulo. Tinham várias questões que favoreciam mais.
P/1 – E aí, seus filhos entraram no colégio, na escola, seu marido continuava em São Paulo, e você?
R – E eu? E eu entrei aqui, falei: “Bom, agora eu preciso arrumar o que fazer. Agora eu preciso trabalhar essa questão”. Continuei fazendo alguns cursos lá, porque nessa época eu já fazia algumas rodas de mulheres, alguns atendimentos terapêuticos já mais sérios, já tinha um pouco mais de seriedade com os atendimentos terapêuticos, assim, não era mais um hobby. Já tinha mesmo os atendimentos. Então, quando eu vim pra cá, uma das escolhas dessa casa foi essa opção de eu ter uma sala na minha casa, entrando por fora, onde eu pudesse atender, trabalhar, com os meus filhos, mesmo em casa ou na escola, isso facilitou muito a minha vida. E eu continuei fazendo alguns cursos em São Paulo, eu dava alguns cursos, tem uma escola lá em São Paulo, chamada Escola de Botânica e aí eu fazia alguns trabalhos pra eles. Então, eu continuei indo esporadicamente para São Paulo, mas aí eu queria me fixar aqui. Então, eu comecei a procurar o que fazer. E uma das coisas é que eu consegui entrar numa escola pra dar aula como professora, educação formal e tal, entrei pra dar aula num colégio aqui de Guararema, dando aula de Biologia e de Química. E comecei a desenvolver um projeto, né, um projeto, assim, porque quando eu mudei pra cá, com esse quintal gostoso, as crianças sempre brincando no quintal, os amigos dos meus filhos vindo pra cá pra brincarem e eles sempre gostaram disso, de ter muitos amigos e tal e aqui tinha essa possibilidade. E Guararema tem uma característica: as crianças, os jovens têm esse hábito de se encontrarem nas casas uns dos outros. E aí, nossa, o meu quintal estava sempre aberto, cheio de gente, cheio de criança e eu olhava isso e falava: “Cara, preciso fazer disso algo mais”, primeiro que é um quintal muito grande e eu não conseguia manter sozinha, o cuidado com o quintal mesmo, eu não conseguia manter sozinha. E também a questão financeira do quintal, de manter esse quintal, eu pensei: “Meu, vou começar a abrir o quintal, trazendo essas crianças, um valor baixo, para que cada pai pudesse pagar e essas crianças se divertissem muito e a gente fizesse atividades direcionadas”. Foi aí que nasceu o projeto Experiências no Quintal.
P/1 – Como foram as primeiras experiências, pra você?
R – (risos) Muito especiais, muito especiais, de eu sentir assim: é esse o caminho, de ver, porque eu não fazia nada, quem faz é a natureza, que já está aqui e o olhar atento e curioso das crianças. Então, a ideia era que as crianças viessem pra cá e eu deixasse todo o quintal disponível, para que eles pudessem olhar, para que eles pudessem sentir. É aquela conexão, é aquela conexão e isso aconteceu desde o primeiro Experiências no Quintal, as crianças ficaram muito felizes, não queriam ir embora, os pais vinham para buscar as crianças e também não iam embora. (risos) Eu já estava super cansada, eu já estava toda suja de terra, mas ali aquela alegria e vendo que ninguém queria ir embora. E aí, foi muito legal porque com esse projeto eu comecei a conhecer outros pais aqui, com essa afinidade, outros educadores com essa visão, com essa afinidade. Hoje a gente tem um grupo de pessoas se juntando cada vez mais e pensando numa educação diferenciada, pelo menos aqui pra nossa região, isso está rolando hoje. Então, é isso: o Experiências no Quintal nasceu de uma prática comum do quintal, do que eu acredito e do que as crianças sempre precisaram, que é brincar e estar em contato com a natureza, o resto se constrói sozinho.
P/1 – Tem alguma criança ou alguma pergunta ou algum olhar de todas essas vezes, que você se lembra agora?
R – Hum, ai, foram tantas, tantos olhares! O dia que a gente fez aquela oficina de bioconstrução, que as crianças construíram com terra, eles puderam construir uma paredinha de pau a pique. Então, eles barrearam, eles amassaram o barro, eles barrearam depois, montaram uma estrutura e eles estavam, assim, não dava pra ver a cor deles, só a cor do olho. E era tão mágico aquilo, tão assim: “Estou feliz, estou entregue, estou conectado”. Acho que é isso, assim e cada olhar, cada descoberta, às vezes, uma simples descoberta, uma simples descoberta assim, de entender, sei lá, como nasce tal bichinho ou como vivem as abelhas: “Ah, uau!” Entender outras formas de vida, né, entender e respeitar. É muito especial.
P/1 – Antes era quantas vezes por semana, todos os dias, como funcionava?
R – Não, antes da pandemia tinham eventos pontuais, mais ou menos de uma a duas vezes no mês, sendo que, às vezes, a gente tinha oficinas mais intensas. Por exemplo: nas férias, a gente tinha uma semana inteira de atividades no Experiências no Quintal, cada dia com uma proposta, cada dia com uma dinâmica, às vezes, trazendo profissionais locais. Eu sempre tive essa preocupação, de trazer pessoas da região, mas que trabalhassem com alguma coisa. Por exemplo: um apicultor da região, ele vir com as suas caixinhas de abelhas, explicar sobre as caixinhas, ensinar algumas coisas pras crianças, mostrar o dia a dia, fazer o manejo delas junto com as crianças, permitir que as crianças abram a caixinha com todo o cuidado, com todo o respeito, como é ter esse respeito, como colher mel, como cuidar, como respeitar, o que é cada parte daquilo que tem dentro da colmeia. Então, as crianças virem aquilo tudo é muito gratificante, sabe, é muito especial. Teve vezes de virem escolas pra cá. Uma escola me ligou, uma vez: “Ó, eu vi o trabalho de vocês pela internet, eu quero levar meus alunos aí”, uma escola de Guarulhos. E aí eu recebi a escola aqui, a gente montou alguns circuitos, algumas oficinas, eles passaram por essas oficinas, sempre tudo muito livre, respeitando o que cada um queria fazer, mas dando a oportunidade de vivenciarem, assim, cada um dos cantos do quintal.
P/1 – E que ano que começou?
R – Começou em 2018, então foi o ano de 2018, 2019 e começo de 2020.
P/1 – E como você se ligou à cooperativa?
R – Hum, a cooperativa... bom, deixa eu pensar como é que eu posso começar essa história. Em 2019 teve uma ONG de São Paulo presente aqui em Guararema, a ONG se chama Espaço Urbano, é um projeto também pela Tetra Pak, onde essa ONG tinha o objetivo de aproximar a cooperativa de reciclagem da cidade com as pessoas da cidade. Então, com o objetivo de fazer com que todos os resíduos da cidade fossem enviados para a cooperativa, aumentando o trabalho da cooperativa. A cidade de Guararema tem uma preocupação muito grande com a questão ambiental. É uma cidade que tem o selo Município Verde Azul. E tem uma preocupação já, de praxe, então a prefeitura incentiva, dá um incentivo financeiro, um apoio também para cooperativa funcionar, de reciclagem e é uma cooperativa que funciona muito bem, muito bem-organizada. Nesse ano de 2019, eu tive mais contato com eles, então eu comecei a entender de fato o trabalho, comecei a frequentar a cooperativa, né, fazendo ações pontuais junto com eles, então eu comecei a apoiar essa ONG Espaço Urbano a fazer esse trabalho com a cooperativa. Então, a gente desenvolveu vários pequenos projetos, em vários cantos da cidade, para que as pessoas soubessem que existe essa cooperativa e para que as pessoas soubessem como fazer para enviar os seus resíduos para ela. Tive um contato e uma relação muito legal, porque a gente já se identificou, eu com os cooperados e fizemos muitos trabalhos juntos desde 2019. Foi aí que eu comecei a pensar em relacionar a questão da educação do Experiências no Quintal com a reciclagem. Então, fazendo: “De que maneira que eu, educadora, que trago as crianças pro meu quintal, pra ter esse contato com a natureza, poderia aumentar e também fomentar essa relação desses educadores que vêm aqui na minha casa, no meu quintal, com a cooperativa, para que a cooperativa também fosse um quintal”, entende? Então, a gente começou a fazer isso aos poucos, assim: colocar pras crianças o valor de um reciclável, fazer com que as crianças entendam, conheçam e entendam o trabalho da cooperativa, para que eles percebam o valor do reciclável, para que eles percebam a importância do consumo consciente, para que eles percebam a importância da gente cuidar dos nossos resíduos, fazer uma composteira em casa. Para onde vão os nossos resíduos? Qual é o aterro? Quem recebe? Quanto se paga por isso? Entender os valores das coisas, sabe? Isso as crianças começaram a fazer esse trabalho de entender. E hoje é a ideia que a gente faça, quando a gente voltar da pandemia, a gente já tem feito algumas ações pontuais e online nesse tempo que a gente ficou mais resguardado e agora a gente tem começado a se estruturar, para voltar o Experiências no Quintal presencial, né? E trabalhando com os recicláveis como uma forma de pagamento pela educação que cada criança recebe. Então, a ideia é que eles entendam o valor dos recicláveis e possam pagar os seus estudos, possam pagar a sua educação com os recicláveis. E, dessa maneira, a gente consegue fazer um tripé: juntar a cooperativa, educandos e educadores, fazendo a educação funcionar em cima de algo que já funciona na cidade, mas que poucas pessoas ainda dão valor. Quer dizer: aqui até que muitas pessoas valorizam isso, mas que deem realmente valor desse material.
P/1 – Como que é, pra você, acompanhar essa descoberta dessas crianças, pensando também nos seus filhos, do valor da reciclagem?
R – Ah, é muito interessante, muito interessante, porque as pessoas não imaginam o quanto vale o reciclável, nem pro nosso bolso, economicamente falando e nem pro ambiente, porque todo o material que a gente consome, tem um custo pro meio ambiente, um custo de onde saiu esse material e o custo para onde vai esse material e quanto tempo vai ficar ali. Então, as crianças perceberem o valor que a gente pode ganhar com esse material, economicamente falando, é muito interessante, porque a maioria deles não sabia e eles entenderem essa relação de onde saiu esse material e para onde vai, mesmo depois de reciclado. Esse material vai pra onde? O que fica? Entender a conta: quem paga essa conta? É isso.É ter essa consciência e a gente poder escolher novos caminhos, como do consumo consciente, como a escolha de certas embalagens, muito legal, porque muitas vezes eu já vi os alunos, quando conhecem a cooperativa e sabem, por exemplo, porque assim: todo material é reciclável, mas eu preciso ter uma demanda e aquilo ser rentável, pra ele ser reciclável. Tecnologia, basicamente existe, mas precisa ser rentável pra que que ele seja, de fato, reciclado, chegue até o fim da reciclagem. E aí, quando, às vezes, eles descobrem que um material ou outro, a nossa cooperativa não trabalha com ele, até pouco tempo atrás, por exemplo, eles não trabalhavam com aquelas embalagens de salgadinho, que são laminadas por dentro. E eu via as crianças, então, porque eu ia instigando: “O que é que a gente faz, então? A gente não consome mais esse, vamos consumir outro em que a cooperativa pode receber”. Ver soluções, criadas por eles, entendendo essa dinâmica toda, conhecendo o processo de reciclagem da cidade deles, que obviamente não é a mesma do que a cidade vizinha e eles conseguem ter essa visão, entender a sua realidade e fazer algo pela sua realidade. Isso eu acho muito legal, isso me marcou muito: ver alguns alunos escolhendo, ver algumas crianças escolhendo que material comprar, a partir do que a cooperativa consegue ou não reciclar, acho isso muito legal.
P/1 – E entendendo a importância em relação ao meio ambiente, né, que é uma coisa muito maior.
R – Isso.
P/1 – É algo que vocês conversam também?
R – Muito, muito: de onde vem, para onde vai? Tudo. De onde vem isso? Pra onde vai? Sempre a sua escolha tem que estar baseada nisso. E eles estão muito habituados a pensar dessa maneira. É bem interessante.
P/1 – Como a pandemia impactou a sua vida, pensando nos aspectos pessoais mesmo e também no trabalho?
R – Eu vejo um momento coletivo, muito difícil, eu não consigo ver só o meu momento. Eu vejo um momento coletivo muito complexo, muito difícil. A gente tem maior desigualdade social, a gente tem maiores impactos ambientais, a gente tem uma verdadeira pedra. E aí eu vejo que algumas pessoas conseguem, têm o privilégio, porque outras não têm esse privilégio, de conseguirem dar uma arrumada nessas pedras, pra fazer um castelo, sabe? Então, em alguns momentos eu me sinto essa privilegiada, querendo ou não eu continuei com o meu emprego, com as minhas dificuldades de educadora, porque eu tive que me reinventar online, mas o meu salário continuou acontecendo. Então, diante disso eu me vi como privilegiada e me vi na obrigação de fazer as coisas acontecerem, de uma forma ou de outra. E, assim, diante de uma crise educacional, que não é de hoje, da pandemia, a gente vive num modelo educacional do século passado. É um modelo ultrapassado, que não é funcional para o que a gente precisa hoje. Então, a pandemia só escancarou isso, ela escancarou essa dificuldade. E vejo que é com essa... sabe quando a gente tem um calo apertando, a gente tem a necessidade de mudar o sapato, né? Às vezes, o calo já estava ali, mas aí um botei um sapato apertado, que fez com que o calo doesse mais. Eu acho que a pandemia é o sapato apertado dentro de um calo, na educação. Então, a minha reação diante a pandemia é: “Arregaça a manga e vamos, gente, agora é a hora”. A gente sempre precisou dessa mudança, agora é a hora de mudar. Então, eu sinto isso, assim: em muitas coisas, a gente precisou se adaptar, em muitas coisas, a gente teve que dar um tempo, né? É a lei da sobrevivência mesmo. Muitas vezes, a gente não tinha escolha, mas é o caminhar.
P/1 – E como foi se readaptar?
R – Eu acho que eu tenho uma palavra em mim, que é resiliência, é pela forma como... a resiliência... nossa, gente, tô falando tanto, né?
P/1 – Não, está ótimo.
R – Esse é um dos meus pensamentos, assim, de fazer com que as pessoas entrem nessa forma, nesse ciclo, nessa forma circular do ambiente funcionar. Então, quando eu trabalho com as terapias é esse o objetivo: individualmente, a pessoa se reencontrando com o seu eixo. Quando eu trabalho com uma sala de aula, é esse objetivo: as pessoas se conectarem, se conectarem com a natureza a partir da Biologia, da aula de Biologia. Seja um círculo de mulheres, que, às vezes, eu faço círculo de mulheres, então é esse grupo fazer essa conexão consigo mesmo, com o que está à nossa volta, usando uma plantinha pra fazer um banho de assento ou tomando um chazinho ou fazendo escalda pés. Não é o chá em si, não é o escalda pés. Claro que aquela planta tem um poder, uma propriedade, uma capacidade muito grande, mas essa conexão dessa pessoa com esse ser, com essa planta, que vai ter levar pra uma conexão interna. E é isso: passa a viver de forma circular, de forma harmoniosa o ambiente, é isso. E é impressionante que, quando a gente está nesse ciclo, a gente consegue entrar também numa dança circular. (risos)
P/1 – Você estava contando da pandemia, não sei se...
R – A pandemia, você falou como foi pra eu me adaptar e aí eu disse pra você que eu acho que tem uma palavra que me acompanha, que é a resiliência, mesmo sem eu querer, mesmo sem eu pensar muito nisso, porque a forma como a minha vida foi sempre colocada e a forma como eu consigo me adaptar diante dessas mudanças grandes, porque foram grandes mudanças na minha vida, me ajudaram pra pandemia também. Então okay, mais uma vez eu digo: em vários momentos eu me sinto privilegiada. Eu estava em casa com o meu trabalho, o meu quintal maravilhoso. Então, mesmo nos momentos mais tensos em que a gente se fechou, eu estava em paz comigo mesma, sabe? Eu conseguia tomar um sol, eu conseguia respirar, eu conseguia andar descalça, coisas que, pra mim, sempre foram muito importantes. Então, eu continuei fazendo as coisas que eram muito importantes pra mim. É lógico que eu tive momentos de adaptação tecnológica, por exemplo, o lidar com o medo, o medo coletivo, lidar com perdas de pessoas queridas, lidar com a dor do outro, em alguns momentos eu parei os atendimentos presenciais, muitos clientes sentiram muita necessidade. Então, eu até me adaptei, eu comecei a fazer atendimento online, porque tinham clientes que estavam precisando muito: “Ai, eu não posso pôr agulha, mas por favor, eu preciso conversar”. As pessoas estavam precisando conversar. E aí a gente, por uma câmera, conseguia fazer essa conexão, né? Então, foram também várias adaptações, fiz algumas lives, foram aventuras, né? Nossa, live! (risos) Lidar com algumas redes sociais, usar as redes sociais para alguns trabalhos. Acho que todas essas foram adaptações. As crianças em casa, os meus filhos em casa, os meus alunos em casa, os meus alunos perdendo entes queridos, foi muito tenso. Ainda estamos vivendo esse momento, é claro, com um pouco menos de tensão, mas momentos muito difíceis. Eu participo de uma ONG aqui na cidade, a ONG é ambientalista, que em muitos momentos a gente saiu pra entregar marmita pra pessoas, pra famílias, alimentos pras famílias, ajudando, do jeito que a gente podia, do jeito que a gente conseguia. Então, é isso, é um momento ainda muito tenso coletivamente, é um momento muito tenso coletivamente e é claro que eu senti. Mas eu também senti muita força pra conseguir dar a mão pra quem estava precisando, assim como eu dei mão pra muitas pessoas que me ajudaram.
P/1 – Vou voltar só um pouquinho, queria se você pudesse contar um pouquinho mais como foi essa experiência, pensando nas suas outras experiências como comunidade e envolver as casas, as outras famílias a começarem a reciclar, junto com o seu trabalho na cooperativa no Espaço Urbano.
R – Legal, tá. A ideia da reciclagem, de utilizar a reciclagem como uma... (risos) a ideia, a ideia, uma das ideias de trabalhar com o Experiências no Quintal é que as crianças utilizem a reciclagem como uma moeda de troca e é uma moeda que não tem um valor tão alto, né? Onde a gente identificou que as crianças precisam não só dos recicláveis delas, só os recicláveis delas não seriam suficientes para suprir o valor da educação que ela receberia. E a ideia é justamente fazer com que as crianças se tornem multiplicadoras da reciclagem na cidade, com essa moeda de troca. Então, cada criança se sente motivada para conseguir alcançar aquele valor, ela se sente motivada a despertar em outras pessoas a necessidade de separar os seus recicláveis, de separar e entregar pra cooperativa. Isso faz com que não só a família se envolva com a ideia da reciclagem, mas que os seus vizinhos também se envolvam com a ideia da reciclagem. E aí, a gente tem um trabalho de formiguinha, mas que começa a se ampliar, com as redes de troca. E como a cooperativa aqui é muito bem estruturada, a gente tem um ganho muito grande, porque nenhuma criança precisa colocar a mão no reciclável do vizinho, ela precisa ensinar o vizinho como separar, de acordo com o que é reciclar, como a cooperativa recebe esses recicláveis. Mas é esse o trabalho dela e aí a cooperativa chega pra buscar os recicláveis dela e do vizinho. Então, isso é muito legal, isso faz com que a cidade, de uma maneira, comece a se organizar, porque mesmo se a cooperativa ainda não passa naquele bairro e tem uma demanda grande daquele bairro, a cooperativa também começa a se organizar, para atender aquele bairro. E se ela não tem ainda a capacidade, a possibilidade, estrutural, física, sei lá o que, de chegar ali, eles vão começar a se organizar, porque existe uma demanda e não é uma demanda que é um dia, é uma demanda contínua, porque a educação que a criança recebe também é contínua, mesmo que seja uma educação informal, por enquanto.
P/1 – Tem alguma história marcante, que tenha te marcado, de alguma forma?
R – Eu participei de um evento que a cooperativa fez nos predinhos, que seria... como chama? Minha Casa, Minha Vida? Eu não sei como se chama aqui em Guararema, mas são os predinhos de pessoas que são mais carentes e moram ali. E aí, teve um evento que eles fizeram, a cooperativa estava envolvida, não sei exatamente quem fez o evento, talvez tenha sido a prefeitura, convidou a cooperativa e eles estavam lá, trocando brincadeiras por recicláveis. Então, tinha uns brinquedões e tal e a cooperativa estava lá recebendo os recicláveis. E aquelas crianças, entendendo o valor. Novamente, é essa compreensão do valor das coisas. Quando eu posso entregar um material que eu não uso mais e eu posso receber um ticket pra eu brincar no pula-pula. E aqueles olhinhos, se enchendo: “Está ao meu alcance”. Aquela coisa de: “Então, está ao meu alcance”. E a reciclagem proporcionando isso, eu acho que a natureza agradece e sorri.
P/1 – Como é o seu dia a dia, hoje?
R – Hoje, bom, eu dou aula na escola duas vezes na semana, duas manhãs na semana. Então, eu saio pra dar aula no colégio, que eu dou aula aqui. Em outros momentos, geralmente as manhãs, eu separo pros meus atendimentos terapêuticos, então eu atendo aqui nesse consultório individualmente as mulheres, geralmente as mulheres que me procuram. E aí, eu tenho algumas obrigações com as crianças, com a casa, com os meus bichos, né? São seis gatos e três cachorros, com as minhas plantas. Então, é um dia bem cheio. Eu participo do Conselho do Meio Ambiente da cidade, eu sou vice-presidente de uma ONG muito especial aqui da cidade, que tem vinte anos, a Pró Terra, eu participo dessa ONG, hoje eu tô como vice-presidente, a ONG não está ativa do jeito que ela normalmente foi, em outros momentos, mas temos algumas atividades. Participo de um outro coletivo, chama-se Comadres do Cortiço, que são de mulheres aqui de Guararema. Então, eu tô sempre com algumas coisas pra fazer. Às vezes, uma palestra, às vezes, um atendimento fora, às vezes, uma roda de mulheres. Agora a gente está começando, assim, a fazer eventos com pessoas, porque isso tudo ficou online, durante um tempo ficou online, agora está começando a sair.
P/1 – E o que é que você gosta de fazer, nas horas de lazer?
R – Olha, eu vou te falar que as minhas horas de trabalho são muito prazerosas, são como horas de lazer. Pra mim, quando eu tô dentro de uma sala de aula, dando aula, é um momento tão gostoso, que eu não sinto assim como uma obrigação, então já são momentos divertidos. Mas sempre que eu posso eu viajo, sempre que eu tenho tempo um pouco mais, assim, dias livres, assim, eu viajo, adoro viajar. Adoro viajar, adoro conhecer outros lugares, adoro lugares simples, adoro lugares com a natureza. Às vezes, só de estar num lugar pra me conectar ali e é isso, não gosto muito de cidades grandes, não, eu procuro não ir. Mas ir pra uma praiazinha deserta, ir pra uma montanha, eu gosto disso e os meus filhos também gostam e aí é legal, porque vai a família toda.
P/1 – Renata, o que o ato de ensinar, ainda mais voltado para uma área tão importante, representa na sua vida?
R – Representa... eu, ultimamente, não tenho usado a palavra ensinar, eu ultimamente... porque eu tenho percebido que ninguém ensina nada pra ninguém, né? É sempre uma troca. Mas é o despertar. Eu tenho percebido que a educação, pra mim, tem sido esse despertar, meu e do outro, então é um despertar juntos pra essa conexão, pra esse respeito com o planeta, com os seres que aqui habitam, é esse despertar.
P/1 – O que a natureza, esse modo sustentável de vida coletivo, significa pra você, qual que é a importância?
R – A essência, a natureza é a nossa essência, por isso é tão importante a gente estar afinado com ela, pra gente estar afinado com a nossa essência.
P/1 – Você consegue enxergar uma relação com o que você promove hoje, com essas trocas, com o que você promove, já te promoveu, pensando na sua família, pensando na sua infância, nesse contato?
R – Sim, consigo enxergar uma relação e consigo relacionar esse meu trabalho hoje com, realmente, gratidão, sabe? Gratidão às possibilidades, gratidão aos privilégios, gratidão ao que eu recebi. É uma forma de devolver pro planeta aquilo que eu tenho. Aquilo que sempre é me colocado. Acho que o universo é muito generoso comigo. (risos)
P/1 – E pensando nessa sua trajetória toda, quais foram os maiores aprendizados que você tirou?
R – Viver o hoje, viver o hoje, o que a gente tem aqui, que a gente tem aqui, o que tem aqui, agora e aproveitar, sabe? Eu vejo muito... não é fácil perder mãe, gente, todo momento vem. É, acho que eu não consegui falar essa, (risos) acho que eu não vou conseguir falar de avó.
P/1 – Quais são as coisas mais importantes pra você, hoje?
R – Acho que é dar valor pro que a gente tem, mesmo, tanto que a natureza disponibiliza pra gente, vendo também as nossas dificuldades e o quão frágil é a nossa vida. É dar esse valor pro que tem, pro que tem hoje, trazendo essa consciência de onde veio, pra onde vai e tentando respeitar, buscando esse respeito.
P/1 – Renata, quais são seus maiores sonhos?
R – (risos) Ah, é ser feliz e que outras pessoas e que outros seres também sejam felizes. É isso.
P/1 – Você gostaria de deixar alguma mensagem em relação à importância da educação ambiental, da separação de lixo pro meio ambiente?
R – Acho que a gente pode usar - nós seres humanos, que estamos tão desconectados, muitas vezes, com a nossa natureza - essa dificuldade e usar... ai, me perdi... você falou uma mensagem pras pessoas...
P/1 – Sobre a importância da reciclagem, do meio ambiente, dessa educação.
R – Sim. É a gente usar essa natureza maravilhosa, a beleza que existe aí nesse planeta, pra gente conseguir se conectar, pra gente conseguir realinhar essa essência de cada indivíduo com o seu ser, de cada indivíduo com a natureza. Esse é o caminho. (risos) A conexão, né, preta?
P/2 – A gente podia aproveitar que ela tem conhecimento técnico também como bióloga. Você poderia falar um pouco, assim, a importância da reciclagem pra gente continuar nesse planeta.
R – Sim.
P/2 – Às vezes, a gente recicla, mas, às vezes, perde um pouco o foco, assim: “O que é que eu tô conseguindo aqui, né”? Porque é... não porque é importante reciclar, mas assim: por que as pessoas precisam reciclar, em termos até mais técnicos. Ou reutilizando as coisas, usar estratégias mais inteligentes. O seu lado bióloga.
R – Tá. A gente vive atualmente, numa sociedade, desde a Revolução Industrial, calcada na retirada de recursos naturais, na transformação desses recursos naturais em coisas, coisas para que a gente consuma e o consumo é o tempo inteiro enfiado na nossa cabeça, a gente consumir cada vez mais. E esse consumo tem um tempo de vida útil, né? Esse produto tem um tempo de vida útil e cada vez mais esse tempo de vida útil tem sido mais curto, dos produtos e esses produtos ficam onde? Nada se cria... (risos) como é que é? (risos) Ai, meu Deus, prô. Nada se cria... não... bom, eu não vou falar isso agora, mas as coisas não evaporam do planeta, as coisas são transformadas, os recursos são retirados, transformados, aí já é uma emissão de poluentes. E essas coisas, esses produtos são utilizados e depois descartados. Esses produtos vão ficar na natureza, eles vão ficar nesse nosso planeta, durante o tempo que eles precisarem para se decompor. E muitos deles levam muito tempo pra se decompor, né? A ideia da reciclagem é fazer com que esses produtos, ao invés de ficarem soltos aí, dispersos e a gente retirar mais matéria-prima do ambiente, para transformar de novo e produzir algo de novo, esses produtos voltam a ser matérias-primas novamente. Isso, então, alivia um pouco o planeta, no sentido de a gente diminuir a quantidade de recursos naturais que a gente tira do ambiente. E também diminui a quantidade de resíduos que ficam ali se decompondo durante o tempo que ele precisar e são muitas vidas que eles ficam ali. Às vezes, uma pessoa utiliza um produto, vários produtos X durante a sua vida, a pessoa morre e esses produtos todos que ela consumiu vão ficar ali durante muitas gerações, poluindo, liberando substâncias tóxicas, químicas pro ar, pro solo, para água, que vão pro lençol freático. Então, a ideia da reciclagem é um alívio imenso pro ambiente, quando a gente tira esse produto do ambiente, que vai ficar ali se decompondo X, aleatoriamente e a gente o leva para matéria-prima, mas é importante também a gente ter uma consciência desse processo e entender que esse processo também gera poluentes, porque eu pegar a matéria descartada e transformar em matéria-prima, eu gasto água, eu gasto energia, eu gasto transporte. Então, eu também tenho emissão de poluentes, por isso que sempre a base de tudo isso tem que ser o repensar, a consciência do quanto eu posso consumir, a diminuição de consumo, porque a gente chegou - a nossa sociedade hoje, sobretudo aqui, região de São Paulo - a um nível de consumo altíssimo, comparado a Europa e a América da Norte, que são lugares que consomem muitas coisas. Então, a gente precisa repensar essa quantidade de coisas que a gente consome, pra diminuir esse consumo. Será que eu preciso mesmo disso? Porque eu repensando essa fonte, eu diminuo a circulação dessa matéria, mas depois que eu botei essa matéria pra circular, o ideal é que eu aproveite o máximo de tempo, a vida útil desse material. Eu estendo a vida útil desse material o máximo que eu posso, depois que eu não posso mais, a melhor opção para o ambiente é a reciclagem, porque eu volto a ser matéria-prima, eu volto a transformar esse material em matéria-prima. Então, quando a gente traz essa consciência pras pessoas, a partir da educação, as pessoas passam a entender essa questão. Não é mais uma coisa pelo valor econômico, mas é porque sabem que o ambiente vai pagar essa conta. Não só o ambiente, as pessoas que também estão próximas, principalmente próximas de onde está sendo extraído essa matéria-prima, também pagam a conta e tudo em prol de economia. Então, quando as pessoas se dão conta dessa cadeia, desse caminho, para surgir algo pra que eu consuma, eu acho que passa a ter um pouco melhor a consciência de que: “Puxa, eu não posso ser tão egoísta assim, eu não posso ser tão egoísta assim. Seria ótimo eu ter tal produto, mas quem é que vai pagar essa conta?”, E aí a conta chega uma hora, a conta chega, a gente está vendo as mudanças climáticas, qual é a relação disso tudo com o consumo? Quanto mais eu consumo, mais poluente tem no ambiente, mais poluentes no ambiente e mais degradações eu tenho, com as consequências negativas não só pra minha espécie, mas como pra todas as outras. E aí, um biólogo consegue ver isso de longe, consegue ver as outras espécies sendo afetadas, porque geralmente o ser humano pensa no ser humano, né? E tantas outras espécies! Um grau que eu aumento a temperatura do mar, eu já modifico um monte de coisas ali, ou um grau a menos. Ou se eu derreto uma geleira, por conta do aquecimento global, eu tenho uma mudança na água e essa mudança vai afetar um monte de seres. É claro que até chegar ao ser humano vai demorar, o ser humano vai criar um monte de tecnologia, mas várias espécies já se foram. E aí que eu acho que é um olhar cuidadoso do biólogo, por todas as espécies, que essa tem sido também a minha preocupação. Quando eu trabalho com o ser humano, na verdade não é porque eu quero que o ser humano seja o mais bem cuidado, é porque é ele que afeta as outras espécies, são as mudanças que o ser humano causa, que acaba afetando as outras espécies. Foi aí que eu me dei conta lá, no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres, quando eu parti para educação ambiental. Não era porque eu não queria mais cuidar dos animais, porque eu estava vendo que quem estava causando aquele transtorno na vida dos animais era o ser humano e com falta de consciência. Às vezes, não é nem maldade, é falta de consciência de todo o processo, é falta de entendimento de todo o ciclo e é uma coisa que está tão natural. A gente está desde a Revolução Industrial aí, há alguns belos anos, então as nossas gerações, últimas, já estão bem acostumadas a consumir bem. Então, está tudo bem, né? É uma coisa meio óbvia, está tudo certo, está tudo bem, manda pra reciclagem ou manda pro lixeiro, amanhã já não vai estar mais aí na sua porta. E aí, a relação legal, quando eu tive a oportunidade de viver nas ecovilas, que não mandavam os seus resíduos pros lixeiros e os resíduos estavam todos num galpão: “É isso, o que a gente faz com isso, então?” O meu resíduo fica no meu espaço aqui, no meu quintal, durante muito tempo, eu lido com ele durante muito tempo, eu o reutilizo durante muito tempo e eu vejo a quantidade que eu tô consumindo muito tempo, então eu posso olhar e falar assim pros meus filhos: “Poxa, olha, vamos diminuir um pouco o consumo disso, porque já tem muito aqui”. É isso, né? É tomar para si a responsabilidade, Praticar a reciclagem é tomar para si, a responsabilidade daquilo que você mesmo produziu, daquilo que você mesmo consumiu. Então, quando a gente lida com reciclagem, a gente lida com responsabilidades, entender que a conta vai chegar pra alguém, mesmo que não seja pra mim e que eu preciso me responsabilizar por isso, de alguma maneira. Acho que a reciclagem é um caminho maravilhoso pra gente trabalhar a educação ambiental, mesmo porque um dos nossos principais problemas hoje, enquanto humanidade, tirando o coronavírus, são os resíduos, a gente não tem mais onde colocar, não tem outro planeta pra gente mandar, embora alguns cientistas ainda busquem isso, né, mas não tem, é aqui que a gente precisa trabalhar, agora, não dá pra deixar pra próxima geração também. A gente tem que, agora, fazer o que a gente consegue. A gente já tem uma quantidade imensa de micro plásticos dispersos no mar e aí uma aluna hoje fez assim pra mim: “E água que a gente consome, também tem micro plásticos?” Eu falei: “Vamos pensar no ciclo da água, como é que funciona isso? A água fica estática, só lá no mar? Quando que ela volta pra gente? De alguma maneira volta”. E esses micro plásticos, se eles estão grudados, se eles estão dispersos na água, sem conseguir tirar, porque eles são micro, sim, a gente consome micro plásticos, eles já estão na nossa cadeia e isso que o plástico existe há duzentos, trezentos anos. Significa que, se não existisse a reciclagem, o primeiro plástico ainda não se degradou, não se biodegradou naturalmente. A gente tem uma estimativa do quanto tempo eles levam, mas a gente realmente não sabe. Então, se a gente não praticar reciclagem, a situação vai ficar ainda pior do que já está. A reciclagem, eu não gosto de botar assim uma responsabilidade, dizendo que ela é a solução dos nossos problemas, porque a solução está na nossa conscientização, mas a reciclagem é um bom caminho, é um bom caminho pra gente diminuir o que a gente fez até agora e dar conta do recado aí, porque a conta já chegou. (risos) Era mais ou menos isso?
P/2 – Pô, show, prô. Foi ótimo!
R – Prô! (risos) Ai, ai, ai, gente, que bom, que bom. É isso.
P/1 – As duas últimas...
R – É isso, eu gosto de perguntas, porque...
P/1 – É só se você gostaria de acrescentar alguma coisa ou alguma passagem que eu não tenha te perguntado ou deixar alguma mensagem ou falar.
R – Acho que não, falei tanto já, (risos) acho que não.
P/1 – Então, por fim, queria saber como é que foi pra você dividir um pouco da sua história com a gente, relembrar da infância, como foi poder fazer esse balanço, revisitar todo esse caminho trilhado até agora.
R – Foi ótimo, eu agradeço, é o que eu falei: eu não tô muito acostumada a falar de mim, eu sempre tô falando aí das coisas que acontecem no mundo e de mim, às vezes, eu não falo e foi muito especial, relembrei vários momentos. Me tocou em vários momentos. Eu acho que falar sobre a minha trajetória, sobretudo, afirma o meu caminho, sabe: “O que é que eu tô fazendo aqui. O que é que eu tô fazendo aqui?”. Acho que todos nós já pararam e nos perguntamos lá pros céus: “O que é que eu tô fazendo aqui?” E é isso, assim: quando eu posso ver a minha história, eu posso sentir que eu tô no caminho certo, agradeço. (risos)
P/1 – Nossa!
R – Agradeço vocês.
P/1 – A gente que agradece, mesmo. Foi muito gostoso, muito importante.
R – Que bom, pra mim também, vocês não sabem como. (risos)
P/1 – Obrigada!
Recolher